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O Trabalho em Grupo

Psicólogos e pedagogos têm exaltado as vantagens do estudo coletivo na realização de


certas tarefas didáticas, recomendando a formação de equipes de estudo. Esse moderno
conceito de trabalho demonstrou de tal modo suas qualidades de eficiência que a maioria
das escolas já o adota como método sistemático de organização das classes. Não cabe
aqui qualquer análise teórica sobre o seu valor, mesmo porque numerosas obras de
autores abalizados defendem-no com autoridade irretorquível. Mas, por outro lado, não se
pode dispensar uma rápida apresentação do grupo funcional, já que isso ajudará bom
número de estudantes a encontrar na equipe de estudo mais um elemento para ganhar
tempo na concretização do aprendizado eficiente.
Simultaneamente, o grupo economiza tempo de estudo. Ao participar do trabalho em
grupo o estudante dedica o tempo de que dispõe ao estudo de uma parte do todo.
Contudo, através da apresentação das tarefas executadas pelos colegas e das discussões
necessárias à elaboração final do trabalho coletivo, aprende e absorve o todo – não apenas
a parte que estudou individualmente. De quanto tempo necessitaria para estudar o todo se
o fizesse individualmente como estudou a parte?
É facto notório que muitos estudantes relutam em participar de uma equipe de estudos.
Isso ocorre por dois motivos principais: total ignorância do que seja o trabalho em grupo
bem organizado e frustrações sofridas em experiências anteriores com equipes mal
organizadas. De facto, do mesmo modo que o trabalho coletivo pode ser altamente
estimulante e compensador, também pode ser uma experiência frustrante e inibidora
quando não preenche as condições mínimas para alcançar o resultado proposto.
Desde logo convém lembrar que um grupo é sempre formado por indivíduos distintos e
que essa característica deve ser compreendida por todos os integrantes. Se não há duas
pessoas absolutamente iguais, com muito menos razão haverá seis ou sete. Assim, como
toda a coletividade que deseja prosperar, a equipe de estudos deve estabelecer certas
normas mínimas de conduta que homogeneizem a ação de todos em benefício do objetivo
comum. E tais normas começam a vigorar desde o momento em que os componentes do
grupo são selecionados.
Muitas vezes a composição é feita segundo critérios pouco eficazes, resultando o grupo
em um aglomerado heterogêneo de pessoas que nada têm em comum. Nestes casos
raramente o resultado alcançado é satisfatório. A composição ideal do grupo é aquela que
reúne seis ou sete pessoas com certa facilidade de comunicação entre si e possibilidades
reais de se encontrarem fora das instalações da escola. Além disso, é ainda necessário que
todos os componentes estejam com verdadeira disposição para trabalhar, prontos a
participar ativamente das diversas tarefas que lhes couberem, compreendendo que de seu
esforço individual, de sua contribuição pessoal, depende o êxito de todos.
Uma vez formado o grupo, não se podem permitir excepções no seu seio: o trabalho deve
ser igual para todos, não se permitindo que os mais capazes realizem sozinhos tarefas que
deveriam ser equitativamente distribuídas entre todos os componentes. Com essa decisão
aceite por todos, o segundo passo é escolher o colega que se incumbirá da coordenação do
trabalho. Novamente é indispensável que cada componente do grupo use de honestidade
no julgamento que faz de cada um de seus companheiros, a fim de se eleger aquele que
será o coordenador. Este deverá ser respeitado pelo grupo, pois sua incumbência principal
será presidir e coordenar as reuniões, distribuir tarefas e cobrar a colaboração de cada no
tempo previamente estabelecido. Para isso, tem de contar com o respeito e a boa vontade
de todos, ser consciente e justo em suas decisões, não permitindo que simpatia ou
amizade interfiram na correta distribuição e cobrança das tarefas. Cabe também ao
coordenador, na sua função de líder, solucionar os problemas que eventualmente surjam

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na equipe, tanto entre os componentes do grupo como no desenvolvimento do próprio
trabalho a ser executado.
Se as condições enumeradas acima estiverem bem estabelecidas, e suas responsabilidades
forem explicitamente assumidas por todos os elementos da equipe, o grupo já terá
conseguido uma sólida base para começar a funcionar. Contudo, só isso não basta para
alcançar o melhor resultado. Vejamos como deve funcionar a equipe ideal.

A primeira reunião de trabalho

Ao receber a tarefa, a equipe tem de reunir-se para organizar e programar o trabalho a ser
executado. Se o tema não foi determinado pelo professor, o coordenador do grupo deve
liderar a discussão para que o tema seja decidido em comum acordo. Em seguida, se
possível, o grupo deve determinar as fontes que serão consultadas. Não havendo
possibilidade de selecionar de imediato as referidas fontes, o coordenador distribuirá a
tarefa de levantamento da bibliografia entre os colegas e manterá nova reunião para uma
data o mais próxima possível.
Caso o tema já esteja escolhido pelo professor, e a bibliografia de consulta definida, a
primeira reunião não deverá terminar antes que o coordenador tenha distribuído
equitativamente as tarefas de cada um. Em seguida, anotará os compromissos assumidos e
definirá claramente o local, a data e o horário da próxima reunião, quando cobrará o
trabalho de cada um.
Terminada a reunião, cada membro do grupo deverá ocupar-se de sua própria tarefa.
Tratando-se de consulta a fontes literárias, é necessário que o texto básico seja lido e
“esclarecido” durante a leitura. De nada adianta ler o texto sem que se possa depois
discorrer sobre ele na reunião do grupo. A leitura inicial, portanto, já deve ser feita com a
preocupação de esclarecer possíveis dúvidas do grupo ou, pelo menos, indicar futuras
fontes de consulta para elucidar pontos que permaneceram obscuros.
Ora, isso se faz com certa facilidade depois de se estar de posse da bibliografia
recomendada e quando se toma os necessários apontamentos durante a leitura. Mas essa
tarefa tem de ser cumprida por todos antes da reunião seguinte, ocasião em que será
apresentada. Há estudantes que tratam de desincumbir-se da leitura básica durante a
reunião de apresentação dos trabalhos, o que é lastimável. Quando isso ocorre, o colega
faltoso é obrigado a fazer uma leitura apressada que jamais alcança o objetivo previsto.
Além disso, sua atitude revela desconsideração para com o próprio trabalho e os demais
companheiros, pois certamente alongará o tempo da reunião e prejudicará o bom
funcionamento do grupo.

As reuniões subsequentes

Haverá tantas reuniões quantas sejam necessárias para o término do trabalho. No entanto,
há uma regra geral para que elas sejam objetivas e eficientes. A regra é:

Todos os componentes do grupo devem ser objetivos e eficientes.

Em outras palavras, todos devem ter consciência de que a reunião não está se realizando
como oportunidade de convívio social, mas como necessidade de trabalho. É necessário
que ninguém deixe de comparecer a ela sem que para isso haja motivo de força maior. As
conversas devem restringir-se ao tema da reunião – deixem-se para outro momento os
comentários sobre generalidades, atividades do centro académico, viagens etc. E não se

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alonguem desnecessariamente os debates. Ao defender um ponto de vista, o elemento da
equipe deve assumir uma atitude democrática e submeter-se à decisão da maioria.
A apresentação dos trabalhos ao grupo também deve obedecer a uma sequência orientada
pelo coordenador e ser feita em ordem. O coordenador dará a palavra primeiramente aos
colegas que se incumbiram de fazer pesquisas mais gerais, como, por exemplo, em
enciclopédias e dicionários. Só depois é que deverão falar, também em sequência
programada, os que se comprometeram a ler e analisar partes do texto básico.
Durante a apresentação do trabalho de um colega não deve haver interrupções, apartes
etc. Quando cada um fala em sua vez, todos escutam o que todos têm a dizer. quando se
estabelecem discussões simultâneas, ninguém aproveita as ideias expostas. E quando
alguém apresenta um trabalho, ainda que não se esteja de acordo com o que está sendo
apresentado, deve-se esperar que a apresentação cheque ao fim para se comentá-la.
Piadinhas e tiradas espirituosas são sempre de mau gosto nessas ocasiões, porque são
inoportunas e impertinentes durante uma exposição. A atitude correta no trabalho é de
seriedade e de responsabilidade. Aqueles que têm observações a fazer sobre os trabalhos
dos colegas devem anotá-las e pacientemente aguardar sua vez de expô-las no momento
oportuno, ou seja, durante os debates.
Terminadas as apresentações, os diversos trabalhos devem ser discutidos, com cada qual
expressando livremente sua opinião sobre um ponto em particular ou sobre o conjunto em
geral. Somente depois disso é que se deve tratar de elaborar um esquema do estudo.
Quase sempre o esquema dá motivo a novas discussões. Essas, porém, não têm caráter
negativo quando se propõem a explicitar as ideias principais do trabalho, estimar a
correlação entre as partes, julgar a propriedade da argumentação e assim por diante. O
resultado final do estudo será sempre mais compensador, produtivo e eficiente se, ao
debater o trabalho, o grupo não se restringir aos limites da tarefa proposta mas, tomado de
impulso, alcançar além do texto básico e adotar uma posição crítica em sua análise.
É evidente que tudo isso não passa de uma visão genérica do trabalho de grupo. Essa
orientação serve apenas de base e poderá ser adaptada às tarefas e condições requeridas
por determinadas disciplinas de diferentes áreas de conhecimento. E seja como for, as
normas de atitude e conduta aqui expostas são defendidas por numerosos autores e
resultam da acurada observação de incontáveis experiências bem sucedidas, nas quais as
reuniões de grupo demonstraram extraordinária eficiência.

RESUMO ESQUEMÁTICO

Pode-se esquematizar as condições ideais de funcionamento para um grupo de estudos


eficiente da seguinte maneira:

CONDIÇÕES PARA A EFICIÊNCIA DO GRUPO

1. O grupo deve reunir seis ou sete pessoas que tenham certa facilidade de comunicação
entre si e possibilidades reais de encontrarem-se fora da escola.
2. Todos os componentes do grupo devem ter igual disposição para a realização do
trabalho coletivo.
3. As tarefas do estudo devem ser distribuídas equitativamente entre todos os membros
do grupo.
4. O grupo deve eleger um de seus membros para coordenar suas atividades.

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QUALIDADES DE UM BOM MEMBRO DE GRUPO

1. Ter disposição para o trabalho do grupo


2. Aceitar a liderança do coordenador.
3. Cumprir todos os seus compromissos para com o grupo.
4. Ser objetivo e eficiente na realização das tarefas e durante as reuniões do grupo.
5. Ser democrático quanto à opinião da maioria dos colegas nas decisões tomadas pelo
grupo.
6. Manter seriedade e responsabilidade ante o trabalho.

ROEIRO PARA A ELABORAÇÃO DO TRABALHO DO GRUPO

1. Estabelecer o tema do trabalho.


2. Definir a bibliografia do tema.
3. Distribuir equitativamente as tarefas.
4. Planejar a elaboração do trabalho.
5. Discutir em conjunto os resultados obtidos pelos diversos membros no estudo
individual.
6. Realizar quantas reuniões forem necessárias para elaborar o trabalho e dar-lhe o
acabamento final.
Quanto ao roteiro para a elaboração do trabalho, aqui apresentamos um esquema muito
resumido a fim de que possa ser válido para qualquer tarefa. Contudo, chamamos a sua
atenção para o fato de que um bom roteiro deve sempre adaptar-se às condições
particulares de cada estudo.

In “Galliano, A. G. (1979) O Método Científico: Teoria e Prática. S. Paulo: Editora


Mosaico, pp. 61-63”

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QUESTÕES DE AUTO-AVLIAÇÃO

Se você compreendeu o que foi dito neste capítulo, tente responder às questões
apresentadas abaixo. Para melhor aproveitamento, selecione algumas como tema de um
trabalho ou de discussão com alguém.

1. Qual é o propósito deste texto?


2. Que relação se pode estabelecer entre o estudo individual e o estudo em grupo?
3. Qual é a vantagem para estudante do trabalho em grupo em termos de tempo
dedicado ao estudo?
4. Por que razão muitos estudantes relutam em trabalhar em grupo?
5. O que é necessário para homogeneizar o comportamento dos membros do grupo?
6. Qual é o número ideal dos elementos para o trabalho em grupo?
7. Quais são os atributos que devem ter os membros de um grupo?
8. É recomendável haver exceções no seio do grupo? Porquê?
9. Será que na escolha do coordenador do grupo os membros devem fazê-lo com
desonestidade? Porquê?
10. Qual é a incumbência do coordenador do grupo?
11. O que deve fazer o grupo na sua primeira reunião: a) caso em que o tema do trabalho
tenha sido determinado pelo professor? b) caso em que o grupo tenha que escolher o
tema do trabalho?
12. O que deve fazer cada membro do grupo terminada a primeira reunião do grupo?
13. Quais são as consequências em casos de colegas de grupo faltosos ao seu deve como
membro do grupo?
14. Existe um número definido de reuniões subsequentes do grupo?
15. Qual é a regra a observar nas reuniões subsequentes do grupo? Porquê?
16. Existe uma ordem na apresentação dos trabalhos de grupo? Se existe, qual é?
17. Porquê razão na apresentação de um trabalho por um colega não deve haver
interrupções?
18. Em que momento se pode apresentar opiniões dos restantes colegas sobre o trabalho
apresentado?
19. Será que o aprendizado que o texto nos dá deve ser usado mecanicamente, sem
prestar atenção às condições reais em que se trabalha em grupo?

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