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USO DA PESQUISA
O mais relevante deste livro são as pesquisas que aplicam teorias úteis para a
sala de aula. Em alguns casos, teoria e pesquisa são fortes o bastante para se
afirmar com alto grau de confiança que existem efeitos desejáveis específicos
do trabalho em grupo no comportamento dos alunos. Como professora de
educação que também é pesquisadora da área de sociologia, Elizabeth Cohen
liderou pesquisas em salas de aula por muitos anos. Sua investigação está
focada no ensino por equipes, tratamento de problemas de status em classes
interfaciais, e gestão de trabalho em grupo em salas de aula linguisticamente
heterogêneas. Muitas das técnicas para o trabalho em grupo vêm dessas
situações de pesquisa, nas quais se provaram ser altamente eficazes. Elas
foram feitas em dois tipos de escolas dos anos iniciais do ensino
fundamental: escolas dessegredadas e escolas bilíngues.
A partir da experiência de Rachel Lotan com docência nos anos finais do
ensino fundamental e ensino médio, o Programa para o Ensino para a
Equidade da Universidade de Stanford[NT] expandiu o trabalho para que as
mesmas teorias que se provaram tão úteis no nos anos inicias fossem
aplicadas nos anos finais e no ensino médio. A experiência dos professores
especialistas que usaram os resultados de pesquisas dos anos iniciais sugere
que os princípios gerais, de fato, são aplicáveis aos alunos mais velhos
(COHEN; LOTAN, 1997a). Esses professores relataram o mesmo nível de
sucesso daqueles que usaram os resultados da primeira edição deste livro.
Durante os anos de pesquisa em sala de aula, Cohen e Lotan trabalharam
muito próximas a professores que haviam deixado a sala de aula para realizar
seus estudos de pós-graduação. Muitas de suas teses de doutorado foram
fontes de evidências para este livro. Foram esses doutorandos que fizeram a
investigação relevante e prática para os professores de escolas básicas.
Transitando do laboratório para o mundo infinitamente mais complexo e
[Stanford] N. de T.: Tradução livre de Program for Complex Instruction at Stanford University.
[Professores de Stanford] N. de T.: STEP - Stanford Teacher Education Program.
OBJETIVOS INTELECTUAIS
O trabalho em grupo pode ajudar os alunos a crescerem academicamente,
como neste exemplo de Geraldo aprendendo sobre lentes de aumento:
Geraldo observa as outras crianças que terminam sua tarefa de montar uma lente com uma gota de
água. “O que você vê?” Geraldo pergunta a outra criança, enquanto tenta espiar pela lente pronta. A
outra criança ergue os olhos e deixa Geraldo olhar a lente com mais atenção. Geraldo volta muito
ansiosamente para a tarefa de montar sua própria lente. Ele parece ter problemas para grudar a fita
adesiva no plástico transparente sobre o cartão branco que tem um buraco no meio: insiste em fazer
com que o plástico fique enrugado ao colocar a fita, em vez de grudá-lo no topo do cartão. “Que
droga!”, ele diz, e se levanta para ver o que outra criança está fazendo para montar a lente. Retorna à
sua tarefa e logo se distrai com a criança ao seu lado, que diz: “Nossa, fica tudo maior!”. Geraldo se
levanta e olha na lente da colega. Ergue as sobrancelhas, rapidamente retoma a tarefa e acaba de
fazer a sua lente. Ele parece ter entendido qual era o problema, pois logo consegue usar a fita
adesiva para grudar o plástico sem qualquer problema. Agora estende a mão e pega o conta-gotas em
um copo cheio de água. Com muito cuidado enche o conta-gotas, centraliza-o sobre o cartão da sua
lente e pinga uma gota sobre o plástico onde está o buraco. Aparentemente satisfeito com o que fez,
coloca o excesso da água do conta-gotas de volta no copo. Pega um pedaço de pano para inspecionar
debaixo da sua lente. A água escorrega pelo plástico cobrindo o papel e ele grita: “Ah, não!”. Ele
põe a lente na mesa, estica bem o pano e então desliza cuidadosamente a lente em cima do pano.
Bem devagar olha para sua lente e grita: “Que irado!”. Uma das meninas pergunta: “O que você
viu?”. Geraldo diz: “Olhe como ficou grande!”. Ela pergunta: “O que você vai escrever?”. Geraldo
olha para a lente de novo e diz: “Tudo fica maior”. Então, pega outros objetos planos e coloca sua
lente de água em cima de cada um deles. Ao olhar para cada objeto com a lente, consente com a
cabeça e diz: “Sim!” E diz para si mesmo: “Todos eles ficam maiores”. Olha para a garota com
quem vinha conversando e pergunta a ela: “O seu também ficou maior?” (NAVARRETE, 1980, p.
13-14).
Aprendizagem conceitual
Muitas vezes, depois de um instrutor ter introduzido novos conceitos e
ilustrado como eles se aplicam, os alunos se envolvem em alguma atividade
prática usando essas novas ideias e aplicam-nas de várias maneiras. O
processo é tão válido para alunos em seminários de pós-graduação como foi
para Geraldo, do 5º ano. Métodos tradicionais para atingir os mesmos
objetivos incluem escrever redações, executar tarefas individuais durante o
tempo da aula, fazer exercícios no computador ou ouvir uma aula expositiva.
Às vezes, durante atividades de pergunta e resposta, os professores
perguntam e um aluno por vez tenta responder, enquanto o restante da turma
ouve.
Existem limitações óbvias na utilização dessas técnicas. Evidentemente,
quando a chamada oral é usada, apenas um aluno por vez participa da
atividade. Não há evidências de que ouvir outras pessoas assimilarem novos
conceitos é igual à experiência de fazer por si mesmo. Nem mesmo a
Desenvolvimento da linguagem
Atividades cooperativas são excelentes ferramentas para mais um objetivo de
aprendizagem: o aprendizado da linguagem e o aperfeiçoamento de
habilidades de comunicação oral. Em qualquer contexto de aprendizagem de
linguagem, em salas bilíngues e para alunos de quaisquer idades que
precisam melhorar suas habilidades de comunicação oral e escrita, praticar
OBJETIVOS SOCIAIS
A pesquisa social tem reunido provas impressionantes mostrando que pessoas
trabalhando juntas e almejando metas/objetivos para o grupo geram impacto
sobre os sentimentos de uma pessoa em relação à outra. Quando grupos se
engajam em tarefas de cooperação, é mais provável que se criem laços de
amizade, confiança e influência do que quando a atividade simula uma
competição (DEUTSCH, 1968, 1992). Johnson e Johnson (2009b)
desenvolveram teorias, recentemente, sobre os resultados positivos da
interdependência social não só no rendimento/aprendizado e na
produtividade, como também na qualidade positiva das interações sociais
duradouras e na saúde psicológica dos indivíduos. Sharan et al. (1984)
descobriram que quando os alunos são retirados da sala de aula e lhes é
oferecida uma atividade para ser trabalhada em grupo, aqueles que vieram de
salas onde existe o aprendizado de cooperação demonstraram
comportamentos mais prestativos e cooperativos, bem como uma grande
diminuição de comportamento negativo ou de competição, do que aqueles
que vieram de salas onde somente o ensino tradicional foi usado.
Desenvolver nos alunos comportamento interpessoal produtivo tem efeitos
duradouros. Gillies (2002) comparou as interações entre alunos do 6º ano,
sendo que a metade deles havia feito o treinamento sobre aprendizagem de
cooperação/cooperativa nos dois anos anteriores ao estudo, e a outra metade
não. Mesmo depois de dois anos, os alunos que fizeram o treinamento
exibiram comportamentos mais prestativos e cooperativos do que os que não
o fizeram.
Sam e sua família emigraram de Hong Kong para os Estados Unidos quando ele tinha 5 anos. As
lembranças do seu professor de 1º ano sobre o primeiro ano de Sam em sua turma descreviam um
quadro sombrio das dificuldades que ele enfrentava: falava pouco inglês, suas notas na avaliação de
linguagem do distrito indicavam que sua compreensão do idioma falado era restrita, não era um
leitor, tinha dificuldades na maioria das atividades em sala de aula, chorava frequentemente e quase
todos os dias se machucava na pracinha [...] Eu esperava que Sam recebesse a ajuda e o apoio
iniciais de que ele precisava tão desesperadamente de seu grupo. Logo ficou claro que o grupo não
tinha qualquer “mágica”. Os problemas ficaram aparentes durante a sua primeira tarefa cooperativa,
voltada para a criação de uma invenção. Eu disse à turma que cada grupo poderia criar qualquer
invenção desde que ela fosse útil. Eles tinham que fazer uma descrição da sua aparência, de como
ela seria utilizada, e fazer um desenho dela. Na primeira etapa, cada grupo decidiu o que inventar. À
medida que o grupo de Sam discutia possibilidades, Sam sugeriu que seria interessante ter um
guarda-chuva que abrisse por comando de voz. Inicialmente os outros membros pareciam
interessados na ideia, mas depois trocaram o guarda-chuva por comando de voz por um guarda-
chuva voador. A sugestão de Sam foi deixada de lado, e ele passou a ter pouco ou nenhum
envolvimento na decisão do grupo [...] Posteriormente, quando perguntei a Sam sobre isso ele disse:
“eles mudaram tudo o que eu havia dito... No início eles disseram ‘sim, sim’ e em seguida mudaram
e falaram ‘não, não’. Eles não gosta (sic) de mim”.
Depois dessa conversa, decidi prestar mais atenção à interação entre os grupos. Comecei percebendo
que, com muita frequência, quando Sam tentava explicar algo, os outros tinham dificuldade em
entendê-lo. Várias vezes Sam repetia “não, não, o que eu quero dizer é [...]”, mas os outros perdiam
a paciência e simplesmente o deixavam fora da conversa. Parecia que a incapacidade de Sam em se
fazer entender diminuiu seu status no grupo. Ao longo do tempo, surgia uma “ordem hierárquica”, e
Sam estava na parte de baixo da hierarquia. (SHULMAN; LOTAN; WHITCOMB, 1998, p. 39-40).
Um pouco magro demais e com os ombros ligeiramente caídos, Dennis era um especialista em se
sentir pouco integrado na turma e um grande mágico cujo maior truque era tornar-se invisível. Seu
livro estava aberto, seu papel e lápis prontos, mas um olhar mais atento revelaria, em vez de
anotações de história, páginas e páginas de desenhos – revólveres, pichações de gangues e heróis de
Status de especialista
Se a dominância e desigualdade emergem em grupos com membros que
apresentam um mesmo status, então não devemos nos surpreender em
encontrar esses padrões na sala de aula em grupos de alunos que conheçam
uns aos outros de modo intenso no que é frequentemente um ambiente
competitivo. Na sala de aula, é impossível construir grupos em que todos os
membros tenham o mesmo status. Os alunos em geral têm uma ideia da
competência relativa de cada um de seus colegas de turma em matérias
importantes como leitura e matemática, adquiridos pelo acompanhamento do
Status acadêmico
Agora suponha que a professora não escolha uma tarefa acadêmica
tradicional do livro ou da tarefa on-line. Suponha que ela peça aos seus
alunos que joguem um simples jogo de tabuleiro chamado Atingir a Lua.
Esse jogo foi utilizado em muitos estudos de laboratório para compreender a
interação entre crianças em idade escolar em condições controladas (para
uma revisão desses estudos, ver COHEN, 1982, 1993). No tabuleiro, são
encontrados vários caminhos para a lua; dependendo da posição em que a
Um dos garotos mais populares na escola, (Eddy) era bonito, atlético e fisicamente maduro.
Academicamente, porém, era inseguro e ansioso, costumava fazer apenas o suficiente para passar e
sempre declarava que poderia ter conseguido notas melhores se quisesse [...] Quando foram estudar
o Japão Medieval, Christi, Eddy e Roberto foram novamente colocados em grupo. As atividades
exigiam que cada equipe investigasse algum aspecto da estratificação da sociedade medieval
japonesa. Esse grupo deveria planejar e construir uma cidade com castelo, mostrando que mesmo o
desenho do castelo e o traçado da cidade refletiam considerações de hierarquia e poder. Eddy
imediatamente assumiu o comando e Christi avidamente se tornou o seu lugar-tenente, excluindo
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por completo o Roberto. Não permitiram que ele nem mesmo pegasse os materiais. Eddy se
encarregou da construção e grunhia ordens: “Onde está a fita adesiva? Dê-me alguma coisa para
colocar aqui. Encontre as tesouras”. Christi buscava tudo o que ele pedia e então ficava em silêncio
ao seu lado, entregando-lhe o que precisasse. Não havia qualquer discussão, nenhuma investigação –
apenas concentração unidirecional em concluir o produto da maneira mais rápida e indolor possível.
Roberto tentou fazer algumas sugestões valiosas sobre alguns detalhes do castelo, mas foi ignorado.
(SHULMAN; LOTAN; WHITCOMB, 1998, p. 88).
Status social
As salas de aula apresentam outro tipo de status que irá afetar a participação
dos alunos em grupos pequenos. Na sociedade em geral existem distinções de
status baseadas em classe social, raça, grupo étnico e sexo. São hierarquias
sociais gerais e a maioria das pessoas concorda que é melhor fazer parte da
classe social superior, ser branco e homem do que ser membro de classes
sociais menos favorecidas, ser negro ou pardo ou mulher (pelo menos é nisso
que as pessoas acreditam em muitas sociedades ocidentais).
Da mesma maneira que o status acadêmico e o status perante os colegas, o
status social tem o poder de afetar o que ocorre em um pequeno grupo
voltado para a realização de pequenas tarefas (para uma revisão completa dos
fundamentos teóricos e empíricos desse fenômeno, ver CORRELL;
RIDGEWAY, 2003). Em grupos inter-raciais de meninos dos anos finais do
ensino fundamental que jogavam Atingir a Lua, os alunos brancos tendiam a
ser mais ativos e influentes do que os alunos negros (COHEN, 1972). Isso
Quanto mais escura for a sua pele, menos você será respeitado... a expectativa é diferente. Eles
esperariam que eu não fosse tão bem em sala de aula e coisas parecidas. E quando as pessoas
esperam isso de você, você em certo sentido faz o que eles esperam, porque isso realmente abaixa
sua autoestima a ponto de pensar “acho que é só isso que eu consigo fazer” (RUBIN, 2003, p. 554).