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Professor Rodolfo Pamplona Filho

Aspectos Trabalhistas do Direito Médico

● Rodolfo Pamplona Filho


● Juiz do Trabalho. Professor. Doutor e Mestre em Direito pela PUC/SP
● Mestre em Direito Social pela Universidad de Castilla-La Mancha
1 Introdução: meio ambiente do trabalho e saúde do trabalhador

a) Principais Convenções da OIT:


- 148 (Contaminação do Ar, Ruído e Vibrações)
- 155 (Segurança e Saúde dos Trabalhadores)
- 161 (Serviços de Saúde)

b) CF/88, art. 7º, XXII (“redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
normas de saúde, higiene e segurança”)
c) Decreto n.º 7.602/11 (Política Nacional de Segurança e Saúde
no Trabalho – PNSST): regulamentação do art. 4º da C. 155 OIT

d) Resolução n.º 96/12 do CSJT (Programa Nacional de


Prevenção de Acidentes de Trabalho - Programa Trabalho Seguro)
2 Acidente de trabalho típico (art. 19)

Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a


serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo
exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art.
11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação
funcional que cause a morte ou a perda ou redução,
permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
* Características:

a) Evento danoso, em regra súbito

b) Decorrente do exercício do trabalho a serviço da empresa

c) Provoca lesão corporal ou perturbação funcional

d) Causa morte ou perda ou redução, permanente ou temporária, da


capacidade para o trabalho
3 Doenças ocupacionais (art. 20)

Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo


anterior, as seguintes entidades mórbidas:

I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada


pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante
da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da
Previdência Social;

II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada


em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com
ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no
inciso I.
3.1 Doença profissional (art. 20, I)
* Ergopatias, tecnopatias, idiopatias, doenças profissionais típicas, doenças
profissionais verdadeiras ou tecnopatias propriamente ditas

* “Aquela peculiar a determinada atividade ou profissão”, vindo a “produzir ou


desencadear certas patologias, sendo certo que, nessa hipótese, o nexo
causal da doença com a atividade é presumido” (Sebastião Geraldo de
Oliveira).

* Ex.: Asbestose (amianto), siderose (inalação de partículas de ferro), silicose


(sílica)
3.2 Doença do trabalho (art. 20, II)
* Mesopatias, moléstias profissionais atípicas, doenças indiretamente
profissionais, doenças das condições de trabalho, enfermidades profissionais
indiretas, enfermidades profissionais impropriamente tidas como tais ou doenças
do meio

* “Apesar de igualmente ter origem na atividade do trabalhador, não está


vinculada necessariamente a esta ou aquela profissão. Seu aparecimento
decorre da forma em que o trabalho é prestado ou das condições específicas do
ambiente de trabalho” (Sebastião Geraldo de Oliveira).

* Ex.: amplo leque, dependendo das condições do trabalho, como pneumopatias,


LER/DORT, doenças relacionadas a problemas de postura
* Caráter exemplificativo das doenças ocupacionais (art. 20, §2º)

* Art. 20, § 2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não


incluída na relação prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das
condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona
diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho.
3.3 Não são consideradas como doença do trabalho (§1º)

a) a doença degenerativa;

b) a inerente a grupo etário;

c) a que não produza incapacidade laborativa;

d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que


ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou
contato direto determinado pela natureza do trabalho.
* A questão da caracterização ou não da covid-19 como doença
ocupacional

- Situação atual da MP nº 927/20, que trazia, no Art. 29:


“Os casos de contaminação pelo coronavírus (covid-19) não serão
considerados ocupacionais, exceto mediante comprovação do nexo
causal”.

- STF, ADI 6342 (e outras): suspensão da eficácia do dispositivo

- O que muda com o fim da vigência da MP nº 927/20?


4 Acidente de trabalho por equiparação (art. 21 da Lei n.º 8.213/91)

I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua
capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua
recuperação;
* A questão da concausalidade e a necessidade de relação da concausa com o trabalho
para a configuração desta hipótese de acidente do trabalho por equiparação

* Agravamento x nova lesão: a questão da consolidação da lesão anterior


Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que,
resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às consequências
do anterior.
II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do
trabalho, em consequência de:

a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por


terceiro ou companheiro de trabalho;
* Possibilidade de exclusão da responsabilidade do empregador, de acordo
com o caso (repercussão previdenciária x repercussão trabalhista)
Art. 121. O pagamento, pela Previdência Social, das prestações por acidente
do trabalho não exclui a responsabilidade civil da empresa ou de outrem.

* A questão do fortuito interno e o reconhecimento da responsabilidade do


empregador

* Atos praticados por outros funcionários (CC/02, art. 932/933)


b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa
relacionada ao trabalho;

c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de


companheiro de trabalho;

d) ato de pessoa privada do uso da razão;

e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou


decorrentes de força maior.

* Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação


de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o
empregado é considerado no exercício do trabalho (art. 21, §1º).
III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no
exercício de sua atividade;

IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de


trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da


empresa;

b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar


prejuízo ou proporcionar proveito;
c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando
financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da
mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado,
inclusive veículo de propriedade do segurado;

* Se a hipótese for de trabalhador externo e o evento ocorrer no deslocamento


(viagem) na prestação de serviços: acidente típico
d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer
que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.

* Acidente de percurso, acidente in itinere, acidente de itinerário

* Desvio pontual x Desvio substancial


a) Possibilidade de ruptura do nexo cronológico ou do nexo topográfico
b) Necessidade de análise das circunstâncias concretas: interesse pessoal, tempo razoável
de duração do deslocamento, eventos da natureza, bloqueio de vias, greves
c) Mitigação do critério do trajeto habitual em favor da compreensão da finalidade do
deslocamento residência/trabalho e trabalho/residência
* Responsabilidade do empregador: fornecimento direto ou indireto do
transporte

- E. 187 STF. A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente


com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem
ação regressiva.

- CC/02, Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às


pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior,
sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.
Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com
o passageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação
regressiva.
“Nessas circunstâncias, o empregador, ao se responsabilizar pelo transporte de seus
empregados para que cheguem ao local da prestação dos serviços, equipara-se ao
transportador, assumindo o ônus e o risco desse transporte, para os efeitos dos artigos
734 a 736 do Código Civil, sobretudo porque tal transporte objetiva o atendimento do
negócio e interesses da empresa. Os textos legais atinentes à matéria tratam com rigor
as situações em comento, justamente em decorrência da obrigação que se deve ter em
transportar pessoas ou coisas em perfeitas condições de segurança ao seu destino,
estando a cláusula de incolumidade implícita no contrato de transporte. A empresa, ao
assumir essa responsabilidade, não obstante de maneira informal ou de forma gratuita,
gera, como consequência, a obrigação de responder pelos danos causados aos
transportados em decorrência de eventual acidente, porque tem o dever de garantir a
integridade física da pessoa transportada...
(...) Em síntese, se a empresa avoca para si tal responsabilidade, a
transportador se equipara, conforme determinam os artigos 734 e 736 do
Código Civil. Ademais, o fato de o acidente de trânsito ser provocado por
terceiro não afasta a responsabilidade do empregador porque responde o
transportador pela ocorrência de acidente, independe de culpa” (E-ED-RR
214800-41.2009.5.09.0072, SDI-I, Relator Ministro Augusto César Leite de
Carvalho, Data de Julgamento: 09/02/2017)
5 Responsabilidade subjetiva x Responsabilidade objetiva

5.1 Fundamento constitucional


* CF/88, art. 7º, XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do
empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado,
quando incorrer em dolo ou culpa;

* E. 229 STF. A indenização acidentária não exclui a do direito comum,


em caso de dolo ou culpa grave do empregador.
5.2 Responsabilidade objetiva?

5.2.1 O art. 927, p. único, do CC/02


* Art. 927, Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.

* Risco-proveito: obtenção de vantagem econômica


* Risco profissional: natureza do trabalho
* Risco criado: risco como decorrência de certa atuação, independentemente
de benefício econômico
* Enunciado n.º 37 da 1ª Jornada de Direito Material e Processual do
Trabalho:
37. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA NO ACIDENTE DE TRABALHO.
ATIVIDADE DE RISCO. Aplica-se o art. 927, parágrafo único, do Código Civil nos
acidentes do trabalho. O art. 7º, XXVIII, da Constituição da República, não
constitui óbice à aplicação desse dispositivo legal, visto que seu caput garante a
inclusão de outros direitos que visem à melhoria da condição social dos
trabalhadores.

* Enunciado n.º 377 das Jornadas de Direito Civil:


O art. 7º, inc. XXVIII, da Constituição Federal não é impedimento para a aplicação
do disposto no art. 927, parágrafo único, do Código Civil quando se tratar de
atividade de risco.
* Entendimento do TST e do STJ

“É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que a disposição


constante do artigo 7º, XXVIII, da Constituição da República não
obsta a aplicabilidade do parágrafo único do artigo 927 do Código
Civil às relações laborais” (E-RR 60400-37.2009.5.04.0451, SDI-I,
julgado em 19/10/17)
“Admitida a possibilidade de ampliação dos direitos contidos no art. 7º da
CF, é possível estender o alcance do art. 927, p. único, do CC/02, que
prevê a responsabilidade objetiva quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para
terceiros, aos acidentes de trabalho. A natureza da atividade é que irá
determinar sua maior propensão à ocorrência de acidentes. O risco que
dá margem à responsabilidade objetiva não é aquele habitual, inerente a
qualquer atividade. Exige-se a exposição a um risco excepcional,
próprio de atividades com elevado potencial ofensivo” (REsp
1067738/GO, 3ª Turma, julgado em 26/05/2009)
* STF, RE 828.040:
“O artigo 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com
artigo 7º, inciso 28 da Constituição Federal, sendo constitucional a
responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes
de acidentes de trabalho nos casos especificados em lei ou
quando a atividade normalmente desenvolvida por sua natureza
apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade
lesiva e implicar ao trabalhador ônus maior do que aos demais
membros da coletividade”.
Tese Firmada no “Tema nº 932/STF”: Possibilidade de
responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes
de acidentes de trabalho.
5.2.2 Responsabilidade objetiva por lesão ao meio ambiente de trabalho

CF/88, Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos
termos da lei: (...)
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Art. 225, § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente


sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
Lei n.º 6.938/81, art. 14, §1º Sem obstar a aplicação das
penalidades previstas neste artigo, é o poluidor
obrigado, independentemente da existência de culpa,
a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O
Ministério Público da União e dos Estados terá
legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e
criminal, por danos causados ao meio ambiente.
STJ: “A responsabilidade por dano ambiental é objetiva,
informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de
causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre
na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa
responsável pelo dano ambiental, de excludentes de
responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar”
(REsp 1374284, julgado sob o rito dos recursos repetitivos)
5.2.3 Responsabilidade objetiva por abuso de direito

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.

* E. 37 JDC. A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de


culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.
5.2.4 Responsabilidade objetiva por violação de dever
contratual quanto à segurança e à saúde no trabalho
* Violação da cláusula implícita de garantia da segurança – José
Cairo Jr.
* Trabalho em condições inseguras (Raimundo Simão de Melo)

Lei n.º 8.213/91, art. 19, § 1º A empresa é responsável pela adoção


e uso das medidas coletivas e individuais de proteção e segurança
da saúde do trabalhador.
§ 3º É dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre
os riscos da operação a executar e do produto a manipular.
CLT, Art. 157 - Cabe às empresas:
I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina
do trabalho;
II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto
às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho
ou doenças ocupacionais;
NR n.º 06, 6.6.1 Cabe ao empregador quanto ao EPI:
a) adquirir o adequado ao risco de cada atividade;
b) exigir seu uso;
c) fornecer ao trabalhador somente o aprovado pelo órgão nacional competente em
matéria de segurança e saúde no trabalho;
d) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda e conservação;
e) substituir imediatamente, quando danificado ou extraviado;
f) responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica;
g) comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada.
h) registrar o seu fornecimento ao trabalhador, podendo ser adotados livros, fichas ou
sistema eletrônico.
5.2.5 Responsabilidade objetiva no
transporte oferecido pelo
empregador ao trabalhador

* CC/02, arts. 734/735


6 Questões relevantes acerca do nexo de causalidade

6.1 Noções gerais

6.1.1 Superação da noção de ato inseguro: exposição pelo próprio trabalhador,


conscientemente ou não, a riscos de acidentes. Enfoque excessivo no comportamento
da vítima para explicação dos acidentes.

* Redação anterior:
NR-01, item 1.7. Cabe ao empregador: (...) b) Elaborar ordens de serviço sobre
segurança e medicina do trabalho, dando ciência aos empregados, com os seguintes
objetivos: I – Prevenir atos inseguros no desempenho do trabalho
• Redação a partir da Portaria n.º 84/09:

NR-01, item 1.7. Cabe ao empregador: (...) b) elaborar ordens de serviço sobre
segurança e saúde no trabalho, dando ciência aos empregados por comunicados,
cartazes ou meios eletrônicos.
6.1.2 “Árvore de causas”

* Compreensão do acidente de trabalho como fenômeno complexo.


Análise global, com identificação de todos os fatores antecedentes e
contextuais que concorreram para o evento lesivo

* Componentes:
- Indivíduo
- Tarefa
- Material
- Meio de trabalho

* Relevância para a identificação da(s) causa(s) do acidente e para a


prevenção de futuros eventos danosos
6.1.3 A prova pericial e a determinação do nexo de causalidade

a) Resolução CFM n.º 2.297/2021

b) Diretrizes sobre Prova Pericial em Acidentes do Trabalho e Doenças


Ocupacionais do Programa Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho
(Trabalho Seguro) – disponibilizadas

c) Enunciados sobre Perícias Judiciais em Acidentes do Trabalho e Doenças


Ocupacionais do Programa Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho
(Trabalho Seguro) – disponibilizados
Diretrizes sobre Prova Pericial em Acidentes do Trabalho e Doenças
Ocupacionais

Art. 7º A perícia judicial realizada nas ações indenizatórias ajuizadas perante a


Justiça do Trabalho contemplará, para a avaliação do nexo causal entre os
agravos à saúde e as condições de trabalho, além do exame clínico físico e
mental e dos exames complementares, quando necessários:

I - a história clínica e ocupacional, decisiva em qualquer diagnóstico e/ou


investigação de nexo causal;
II - o estudo do local de trabalho;

Art. 9° A omissão do perito em proceder à vistoria do local de trabalho, a


avaliação e descrição da organização do trabalho, das incapacidades e
funcionalidades, dentre outras matérias constantes das normas regulamentadoras e
dos documentos técnicos aplicáveis, notadamente os termos da NR 17 e do seu
Manual de Aplicação em se tratando de doenças osteomusculares, poderá acarretar
a designação de segunda perícia, nos termos do art. 337 e seguintes do CPC.

CPC/15. Art. 480, § 1º A segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos sobre os
quais recaiu a primeira e destina-se a corrigir eventual omissão ou inexatidão dos
resultados a que esta conduziu.
* No mesmo sentido: Resolução n.º 2.297/2021, art. 2º, inciso II, do CFM

* E. 02, item I, sobre Perícias Judiciais:


Nas perícias para avaliação do nexo causal em acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais, é necessária a vistoria no local e no posto de trabalho, a análise da
organização do trabalho, a verificação dos dados epidemiológicos, os agentes de risco
aos quais se encontram submetido o trabalhador, consoante estabelece a Resolução nº
1.488/1998 do Conselho Federal de Medicina e demais resoluções dos conselhos
profissionais.
III - o estudo da organização do trabalho;

IV - os dados epidemiológicos;

V - a literatura técnica específica atualizada;

VI - a ocorrência de quadro clínico ou subclínico em trabalhador exposto a condições


agressivas à saúde;
VII - a identificação dos riscos existentes no meio ambiente do trabalho;

* E. 02, item II, sobre Perícias Judiciais: Consideram-se agentes de risco decorrentes
da organização do trabalho, também, horas extras habituais, ritmo intenso, metas
abusivas, trabalho penoso, pagamento por produtividade, trabalho noturno, trabalho
em turno de revezamento, pressão psicológica, monotonia, dentre outros.
VIII - o depoimento e a experiência dos trabalhadores;

IX - os conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus profissionais,


sejam ou não da área da saúde;

X - A capacitação dos trabalhadores ou outros aspectos de gestão de segurança e


saúde do trabalho que influenciaram a ocorrência do evento;

XI - relatar se havia medidas de prevenção que poderiam ter evitado a agressão


e/ou lesão ao trabalhador, bem como as medidas de proteção que poderiam ter
reduzido as suas consequências;
6.2 Concausas

Fato (anterior, concomitante ou superveniente) que, aliado à causa principal,


concorre para o resultado danoso

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da
sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica
para a sua recuperação;
a) Concausa anterior: Trabalhador com hemofilia que vem a sofrer lesão cortante ao utilizar
máquina e, em razão da perda de sangue, vem a falecer

b) Concausa concomitante: Trabalhador sofre desmaio por motivo não relacionado ao


labor e se acidenta na máquina que estava operando

c) Concausa superveniente: Infecção hospitalar sofrida após cirurgia em razão de acidente


* Se a nova lesão ocorrer após a consolidação da original não será considerada
agravamento do acidente de trabalho (art. 21, §2º)
* A repercussão da concausa na seara trabalhista: fixação da
extensão da responsabilidade do empregador e quantificação da
indenização

* Uma situação prática: trabalho com mínimo desgaste


ergonômico e empregado que vem a sofrer de doença deflagrada
pelo exercício de atividades esportivas em competições
6.3 Nexo técnico epidemiológico previdenciário - NTEP (Lei n.º 11.430/06)

Art. 21-A. A perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) considerará
caracterizada a natureza acidentária da incapacidade quando constatar ocorrência
de nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e o agravo, decorrente da
relação entre a atividade da empresa ou do empregado doméstico e a entidade
mórbida motivadora da incapacidade elencada na Classificação Internacional de
Doenças (CID), em conformidade com o que dispuser o regulamento.
§ 1º A perícia médica do INSS deixará de aplicar o disposto neste artigo quando
demonstrada a inexistência do nexo de que trata o caput deste artigo.
§ 2º A empresa ou o empregador doméstico poderão requerer a não aplicação do
nexo técnico epidemiológico, de cuja decisão caberá recurso, com efeito
suspensivo, da empresa, do empregador doméstico ou do segurado ao Conselho
de Recursos da Previdência Social.

* Vide também o Decreto n.º 6.042/07


* Cruzamento de dados para associação estatística:
Classificação Internacional de Doenças – CID-10 x Classificação Nacional de
Atividade Econômica – CNAE

* Possibilidade de utilização na seara trabalhista


6.4 Excludentes do nexo causal

a) Caso fortuito / Força maior


* Atenção à questão do fortuito interno (TST: responsabilização do
empregador)

b) Fato da vítima
* Atenção ao afastamento da teoria do ato inseguro

c) Fato de terceiro
* Atenção à possibilidade de responsabilização do empregador, de acordo
com o caso. Ex.: CC/02, arts. 932/933
7 Danos decorrentes do acidente de trabalho ou doença ocupacional

7.1 Lesão corporal


Dano anatômico (ex.: fratura, amputação, ruptura)

7.2 Perturbação funcional


Comprometimento de função do organismo (ex.: redução auditiva)

* Em muitos casos, decorrência de uma lesão corporal (mas não


necessariamente, como em diversas perturbações mentais)
7.3 Dano biológico
a) Divergência doutrinária

b) Influência da doutrina italiana

c) Lesão à integridade psicofísica

d) Supremo Tribunal de Justiça (Portugal): “O dano biológico traduz-se na diminuição


somático-psíquico do indivíduo, com natural repercussão na vida de quem o sofre”

e) Na Itália, visualiza-se também o dano à saúde, que corresponderia ao aspecto


dinâmico do dano biológico, relativo à afetação da capacidade do indivíduo para o
desenvolvimento de atividades
7.4 Danos morais
* Regulamentação pela Reforma Trabalhista

* Ânimo de completude
Art. 223-A. Aplicam-se à reparação de danos de natureza extrapatrimonial decorrentes da
relação de trabalho apenas os dispositivos deste Título.

* Aplicabilidade a empregados e empregadores


Art. 223-B. Causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que ofenda a
esfera moral ou existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são as titulares exclusivas
do direito à reparação.
* Limitação dos Bens Jurídicos Tutelados?
Art. 223-C. A honra, a imagem, a intimidade, a liberdade de ação, a
autoestima, a sexualidade, a saúde, o lazer e a integridade física são os bens
juridicamente tutelados inerentes à pessoa física.

Tentativa (frustrada) de ampliação pela Medida Provisória nº 808, de 2017


Art. 223-C. A etnia, a idade, a nacionalidade, a honra, a imagem, a intimidade,
a liberdade de ação, a autoestima, o gênero, a orientação sexual, a saúde, o
lazer e a integridade física são os bens juridicamente tutelados inerentes à
pessoa natural.
* Limitação extensiva a empregadores

Art. 223-D. A imagem, a marca, o nome, o segredo empresarial e o sigilo da


correspondência são bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa jurídica.
Art. 223-G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará:
I - a natureza do bem jurídico tutelado;
II - a intensidade do sofrimento ou da humilhação;
III - a possibilidade de superação física ou psicológica;
IV - os reflexos pessoais e sociais da ação ou da omissão;
V - a extensão e a duração dos efeitos da ofensa;
VI - as condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral;
VII - o grau de dolo ou culpa;
VIII - a ocorrência de retratação espontânea;
IX - o esforço efetivo para minimizar a ofensa;
X - o perdão, tácito ou expresso;
XI - a situação social e econômica das partes envolvidas;
XII - o grau de publicidade da ofensa.
* Art. 223-G, § 1º Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a
cada um dos ofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação:

I - ofensa de natureza leve, até três vezes o último salário contratual do ofendido;

II - ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário contratual do ofendido;

III - ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do ofendido;

IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual do


ofendido.
* Art. 223-G, § 2º Se o ofendido for pessoa jurídica, a indenização será fixada
com observância dos mesmos parâmetros estabelecidos no § 1º deste artigo,
mas em relação ao salário contratual do ofensor.

§ 3º Na reincidência entre partes idênticas, o juízo poderá elevar ao dobro o


valor da indenização.
* Tentativa (frustrada) de aperfeiçoamento pela Medida Provisória nº 808, de 2017:

§ 1º Ao julgar procedente o pedido, o juízo fixará a reparação a ser paga, a cada um


dos ofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação:
I - para ofensa de natureza leve - até três vezes o valor do limite máximo dos benefícios
do Regime Geral de Previdência Social;
II - para ofensa de natureza média - até cinco vezes o valor do limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social;
III - para ofensa de natureza grave - até vinte vezes o valor do limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social; ou
IV - para ofensa de natureza gravíssima - até cinquenta vezes o valor do limite máximo
dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
* Tentativa (frustrada) de aperfeiçoamento pela Medida Provisória nº 808, de 2017:

§ 3º Na reincidência de quaisquer das partes, o juízo poderá elevar ao dobro o valor


da indenização.

§ 4º Para fins do disposto no § 3º, a reincidência ocorrerá se ofensa idêntica ocorrer


no prazo de até dois anos, contado do trânsito em julgado da decisão condenatória.
(Incluído pela Medida Provisória nº 808, de 2017, que encerrou a vigência, sem ser
votada)

§ 5º Os parâmetros estabelecidos no § 1º não se aplicam aos danos


extrapatrimoniais decorrentes de morte. (Incluído pela Medida Provisória nº 808, de
2017, que encerrou a vigência, sem ser votada)
* Cumulatividade da Reparação por Danos Morais e Materiais.
- STF, Súmula 491: “É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não
exerça trabalho remunerado”
- STJ, Súmula n. 37: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos
do mesmo fato”.
- Reforma Trabalhista:
Art. 223-F. A reparação por danos extrapatrimoniais pode ser pedida cumulativamente com a
indenização por danos materiais decorrentes do mesmo ato lesivo.
§ 1º Se houver cumulação de pedidos, o juízo, ao proferir a decisão, discriminará os valores das
indenizações a título de danos patrimoniais e das reparações por danos de natureza
extrapatrimonial.
§ 2º A composição das perdas e danos, assim compreendidos os lucros cessantes e os danos
emergentes, não interfere na avaliação dos danos extrapatrimoniais.
7.5 Dano estético
* Alteração morfológica que causa desagrado, repulsa, lesão que compromete
ou altera a harmonia física da vítima

* Discussão doutrinária sobre a exigência de percepção da alteração


morfológica pelas pessoas em geral ou se bastaria ser perceptível pela própria
vítima, em privado

* E. 387 STJ. É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano


moral.
7.6 Morte

7.7 Perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o


trabalho

* Classificação das incapacidades no Manual de Perícia Médica da Previdência


Social
a) Quanto ao grau:
a.1) Total: gera a impossibilidade de permanecer no trabalho, não permitindo
atingir a média de rendimento alcançada, em condições normais, pelos
trabalhadores da categoria do examinado

a.2) Parcial: grau de incapacidade que ainda permita o desempenho de


atividade, sem risco de vida ou agravamento maior e que seja compatível com
a percepção de salário aproximado daquele que o interessado auferia antes da
doença ou acidente
b) Quanto à duração:

b.1) Temporária: aquela para a qual se pode esperar recuperação dentro de


prazo previsível

b.2) Duração indefinida (permanente): aquela insuscetível de alteração em


prazo previsível com os recursos da terapêutica e reabilitação disponíveis à
época
c) Quanto à profissão:

c.1) Uniprofissional: aquela em que o impedimento alcança apenas uma


atividade específica

c.2) Multiprofissional: aquela em que o impedimento abrange diversas


atividades profissionais

c.3) Omniprofissional: aquela que implica a impossibilidade do desempenho


de toda e ‘qualquer atividade laborativa
7.8 Perda de uma chance
* Lesão, mediante conduta do agressor que interfere no curso
normal dos acontecimentos, a uma expectativa fundada (não
apenas plausível, mas razoavelmente esperada de concretização)
de obtenção de uma posição jurídica mais favorável pela vítima
7.9 Danos existenciais

* Dano a projeto de vida

* Divergência entre Turmas do TST quanto à


natureza in re ipsa
8 Aspectos contratuais relevantes

8.1 Garantia provisória de emprego

Lei n.º 8.213/91, Art. 118. O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida,
pelo prazo mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na
empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de
percepção de auxílio-acidente.
S. 378 TST. Estabilidade provisória. Acidente do trabalho. Art. 118 da lei nº
8.213/1991.
I - É constitucional o artigo 118 da Lei nº 8.213/1991 que assegura o direito à
estabilidade provisória por período de 12 meses após a cessação do auxílio-doença
ao empregado acidentado.
II - São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento superior a
15 dias e a consequente percepção do auxílio-doença acidentário, salvo se
constatada, após a despedida, doença profissional que guarde relação de
causalidade com a execução do contrato de emprego.
III - O empregado submetido a contrato de trabalho por tempo determinado goza
da garantia provisória de emprego decorrente de acidente de trabalho prevista no n
no art. 118 da Lei nº 8.213/91.
8.2 Plano de saúde

S. 440. Assegura-se o direito à manutenção de plano de saúde ou de


assistência médica oferecido pela empresa ao empregado, não obstante
suspenso o contrato de trabalho em virtude de auxílio-doença acidentário
ou de aposentadoria por invalidez.
8.3 Terceirização

* C. 155, Art. 17. Sempre que duas ou mais empresas desenvolverem simultaneamente
atividades num mesmo local de trabalho, as mesmas terão o dever de colaborar na
aplicação das medidas previstas na presente Convenção.

* C. 148, Art. 6º, 2. Sempre que vários empregadores realizem simultaneamente


atividade no mesmo local de trabalho, terão o dever de colaborar para aplicar as
medidas prescritas, sem prejuízo da responsabilidade de cada empregador quanto à
saúde e à segurança dos trabalhadores que emprega. Nos casos apropriados, a
autoridade competente deverá prescrever os procedimentos gerais para efetivar esta
colaboração.
* E. 44 1ª JDMPT. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DO
TRABALHO. TERCEIRIZAÇÃO. SOLIDARIEDADE. Em caso de
terceirização de serviços, o tomador e o prestador respondem
solidariamente pelos danos causados à saúde dos trabalhadores.
Inteligência dos artigos 932, III, 933 e 942, parágrafo único, do Código
Civil e da Norma Regulamentadora 4 (Portaria 3.214/77 do Ministério do
Trabalho e Emprego).
9 Competência

9.1 Reflexões históricas


a) Afastamento da competência da Justiça do trabalho para lides acidentárias em
Constituições anteriores
E. 235 STF (13/12/63). É competente para a ação de acidente do trabalho a Justiça cível
comum, inclusive em segunda instância, ainda que seja parte autarquia seguradora.
E. 501 STF (03/12/69). Compete à Justiça ordinária estadual o processo e o julgamento,
em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas
contra a União, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista.

b) Ausência de cláusula de exclusão na redação original do art. 114 da CF/88


c) A interpretação do STF e do STJ para afastamento da competência da
JT: precedentes anteriores à CF/88; aplicação do raciocínio construído em
processos entre segurado e autarquia previdenciária para ação entre
empregado e empregador; art. 109, I da CF

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública
federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou
oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as
sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
* Meio ambiente de trabalho: E. 736 do STF (aprovado em 26/11/2003)

736. Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como


causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à
segurança, higiene e saúde dos trabalhadores.
9.2 A Emenda Constitucional n.º 45/04
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da
relação de trabalho;

9.3 O Conflito de Competência n.º 7.204 (Relator Ministro Ayres Britto,


julg. 29/06/05) e a Súmula Vinculante n.º 22 (02/12/09)
A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de
indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de
trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que
ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da
promulgação da Emenda Constitucional nº 45/04.
9.4 Ação movida por sucessores
E. 366 STJ (26/11/2008). Compete à Justiça estadual processar e julgar ação
indenizatória proposta por viúva e filhos de empregado falecido em acidente de
trabalho.

“Conflito negativo de competência. Acidente de trabalho. Empregado público


municipal. Vínculo celetista. Alteração introduzida pela emenda constitucional nº
45/2004. Ação de indenização. Proposta por viúva do empregado acidentado.
Reiterada jurisprudência das Turmas e do Plenário do STF afirmando a
competência da Justiça do Trabalho. Entendimento diferente da Súmula
366/STJ. Conflito conhecido para, cancelando a Súmula, declarar a competência
do juízo suscitante” (CC 101.977/SP, Rel. Ministro Teori Zavascki, Corte Especial,
julgado em 16/09/2009)
S. 392 TST. Nos termos do art. 114, inc. VI, da Constituição da República, a
Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ações de
indenização por dano moral e material, decorrentes da relação de trabalho,
inclusive as oriundas de acidente de trabalho e doenças a ele
equiparadas, ainda que propostas pelos dependentes ou sucessores do
trabalhador falecido.
* Potencial restrição da aplicabilidade à relação de emprego na Reforma
Trabalhista

Art. 223-B. Causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que


ofenda a esfera moral ou existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são
as titulares exclusivas do direito à reparação.
9.5 Ação regressiva: competência da Justiça Federal

Lei n.º 8.213/91, Art. 120. Nos casos de negligência quanto às normas padrão de
segurança e higiene do trabalho indicados para a proteção individual e coletiva, a
Previdência Social proporá ação regressiva contra os responsáveis.

* Entendimento do Ministro Cláudio Brandão no sentido da competência da JT


Outros aspectos processuais relevantes

1 Possibilidade de afastamento das conclusões do INSS quanto ao


reconhecimento de doença relacionada ao trabalho
* Presunção relativa em favor do ato administrativo
2 Dever de documentação do empregador e ônus probatório

* E. 06 sobre Perícias Judiciais em Acidente do Trabalho e Doenças Ocupacionais


I - O órgão julgador poderá determinar sejam apresentados documentos pelo
empregador, INSS/SUS e MTE, conforme especificidades do pedido e observado
o anexo I, sendo admitida a inversão do ônus da prova, inclusive quanto aos
encargos e despesas daí decorrentes.

II - Os documentos a que se refere o Enunciado acima, serão juntados pelo


empregador ou entidade depositária, conforme relação não exaustiva abaixo:
pela empresa:
I - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, previstos na NR-9 da
Portaria n 3214/78 do MTE;

II - Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho – LTCAT, previstos na NR-


9 da Portaria n 3214/78 do MTE;

III - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO, nos termos da


NR-7 da Portaria n. 3214/78, acompanhado dos respectivos relatórios;

IV- Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP;


V - exames médicos admissional, periódicos e demissional, de que tratam o art.
168 da CLT e a NR-7 da Portaria 3214/78;

VI - cópia do Livro de Registro de Fiscalizações realizadas pelo MTE;


VII - certificados de treinamento do autor da ação;

VIII - AET – Análise Ergonômica do Trabalho (NR 17);

IX - CAT;

X - Prontuário médico (cópia integral);

XI - Relação de afastamentos inferiores a 15 dias relativos aos últimos 5


anos;

XII - Cartão de ponto e recibos de férias do período da contratualidade do


autor da ação;

XIII - Atas das CIPAS do período da contratualidade.


Pelo INSS/SUS:
I - FAP – Fator Acidentário de Prevenção referente à empresa;
II - Códigos de afastamento referentes aos benefícios previdenciários concedidos ao
autor;
III - laudos periciais produzidos;
IV - CATs expedidas nos últimos cinco anos;
V - Cópia integral do procedimento administrativo de concessão de benefícios
previdenciários.

Pelo MTE:
I - autos de infração dos últimos 5 anos
II - GFIP (número de afastamentos da empresa)
3 Perícia realizada por fisioterapeuta?

a) CPC/15, art. 156, §1º


“Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou
científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado”

b) Lei n.º 12.842/13 (Lei do Ato Médico)


Art. 4º São atividades privativas do médico:
X - determinação do prognóstico relativo ao diagnóstico nosológico;
§ 1º Diagnóstico nosológico é a determinação da doença que acomete o ser humano, aqui
definida como interrupção, cessação ou distúrbio da função do corpo, sistema ou órgão,
caracterizada por, no mínimo, 2 (dois) dos seguintes critérios:
I - agente etiológico reconhecido;
II - grupo identificável de sinais ou sintomas;
III - alterações anatômicas ou psicopatológicas.
* Veto:
“Art. 4º. (...):
I - formulação do diagnóstico nosológico e respectiva prescrição terapêutica;”
§ 2º Não são privativos do médico os diagnósticos funcional, cinésio-funcional,
psicológico, nutricional e ambiental, e as avaliações comportamental e das
capacidades mental, sensorial e perceptocognitiva”
* E. 03 sobre Perícias Judiciais em Acidente do Trabalho e Doenças
Ocupacionais

PATOLOGIA OCUPACIONAL. PERÍCIA. PROFISSIONAL COMPETENTE.


NEXO CAUSAL E DIAGNÓSTICOS POR PROFISSIONAIS DA ÁREA DA
SAÚDE. POSSIBILIDADE.
I - A perícia deve ser realizada por profissional que detenha conhecimento
técnico ou científico exigível ao caso concreto (art. 145, do CPC).
II - Os diversos profissionais da área da saúde, tem competência para realizar
distintos diagnósticos, cada um em sua esfera de atuação, bem como para
estabelecer o nexo causal.
c) TST
Possibilidade de atuação do fisioterapeuta para avaliar a existência de nexo de
causalidade, no âmbito da sua qualificação profissional

“Verifica-se que a atividade desenvolvida pelo perito que elaborou o laudo ora impugnado
relaciona-se diretamente à habilitação do referido profissional, mormente considerando
que o fisioterapeuta está apto à emissão de laudo pericial envolvendo doença ocupacional
correlata ao ambiente ergonômico do trabalho (Decreto-Lei nº 938/1969 e Lei Federal n.º
6.316/1975 c/c as Resoluções do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
n.º 318/2010, n.º 259/2003 e n.º 80/1997)” (RR 1729700-17.2004.5.09.0011, julg. em
16/10/17)
d) Regionais (exemplos)

TRT-6. S. 27. É válido o laudo pericial elaborado por fisioterapeuta para estabelecer o
nexo de causalidade entre o quadro patológico e a atividade laboral, bem assim a
extensão do dano, desde que precedido de diagnóstico médico.

TRT-19. S. 6. Não há óbice a que o fisioterapeuta, devidamente registrado no


conselho de classe, atuando como auxiliar do Juízo, examine as condições fáticas
em que prestado o trabalho, de modo a identificar possível nexo de causalidade,
desde que seja diagnosticada a enfermidade por documentação médica.
10 Reparação dos danos

10.1 Hipóteses de incapacidade transitória (ou temporária) ou permanente


(ou de duração indefinida)

10.1.1 Incapacidade transitória


CC/02, Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor
indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até
ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove
haver sofrido.
a) Despesas do tratamento

b) Lucros cessantes convalescença


* Perda do ganho esperável ou frustração da expectativa razoável de proveito
econômico.

* Obs.: Impossibilidade de inclusão no cálculo dos 15 primeiros dias de


afastamento, que já são pagos pelo empregador (Lei n.º 8.213/91, art. 59, §3º)
* Obs.: Impossibilidade de abatimento do valor do auxílio-doença acidentário
- Lei n.º 8.213/91, Art. 121. O pagamento, pela Previdência Social, das prestações por
acidente do trabalho não exclui a responsabilidade civil da empresa ou de outrem.
- E. 229 STF. A indenização acidentária não exclui a do direito comum, em caso de
dolo ou culpa grave do empregador.
- TST: Natureza jurídica distinta (civil e previdenciária). Impossibilidade de abatimento

c) “Além de algum outro prejuízo”


* Já abordados
10.1.2 Incapacidade permanente
CC/02, Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa
exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a
indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da
convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para
que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja
arbitrada e paga de uma só vez.
a) Despesas do tratamento

b) Lucros cessantes até o fim da convalescença

c) Pensão correspondente à importância do trabalho para o qual se inabilitou


ou da depreciação que ele sofreu
* Literalidade do CC/02: consideração da profissão exercida no momento do
acidente

* Importância da ponderação quanto a dois conjuntos de aspectos para a justiça da


decisão:
- Verificação da extensão da invalidez: possibilidade de exercício, sem sacrifício, de
outras atividades
- Situação concreta da vítima: idade, formação, possibilidade real de retorno ao
mercado de trabalho (e em quais condições)
* E. 09 sobre Perícias Judiciais em Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais

PARÂMETROS PARA QUANTIFICAÇÃO DA PERDA DA CAPACIDADE LABORATIVA.


CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE, INCAPACIDADE E
SAÚDE – CIF, ELABORADA PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Decreto-Lei
nº 352, de 23 de outubro de 2007, do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social de
Portugal. Direito Comparado. A Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde (CIF) e o Decreto-Lei nº 352, de 23 de outubro de 2007, do
Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social de Portugal são plenamente
compatíveis com os princípios norteadores do direito laboral.
* TST: Caráter vitalício da pensão – impossibilidade de limitação temporal considerando
sobrevida provável da vítima (reparação integral), diferentemente dos casos de ocorrência de
morte

* Art. 950, p único: Exigência de parcela única


TST: Não é direito potestativo do trabalhador. Juiz deve considerar a situação econômica das
partes, o impacto do pagamento em única parcela sobre a viabilidade do funcionamento da
empresa, assim como a capacidade do empregado de administrar a quantia devida

* Para o pagamento em parcela única, será necessário considerar expectativa de sobrevida


provável da vítima
Enunciados das JDC
48. O parágrafo único do art. 950 do novo Código Civil institui direito potestativo do lesado
para exigir pagamento da indenização de uma só vez, mediante arbitramento do valor pelo
juiz, atendidos os arts. 944 e 945 e a possibilidade econômica do ofensor.

381. O lesado pode exigir que a indenização sob a forma de pensionamento seja arbitrada
e paga de uma só vez, salvo impossibilidade econômica do devedor, caso em que o juiz
poderá fixar outra forma de pagamento, atendendo à condição financeira do ofensor e aos
benefícios resultantes do pagamento antecipado.
* Pagamento em parcela única e aplicação de redutor
- Turmas do TST normalmente aplicam redutor entre 15% e 30%

“A jurisprudência atual desta Corte tem se firmado no sentido de que a aplicação de


percentual redutor da condenação indenizatória, na medida em visa a compensar o
pagamento de forma antecipada de pensão mensal, não viola o disposto no artigo 950 do
Código Civil. Consolida-se, assim, o entendimento de que, quando o pagamento de pensão
mensal for convertido em parcela única, haverá a incidência de um percentual de deságio,
de forma que compense o pagamento de modo antecipado da indenização por danos
materiais, uma vez que o trabalhador somente teria direito ao valor total da indenização ao
final do período referente à expectativa de vida. Ademais, entende-se ...
“entende-se que a aplicação de redutor sobre o valor da indenização por danos
materiais, decorrente da conversão da pensão mensal em parcela única, tem por
finalidade atender ao princípio da proporcionalidade da condenação, nos exatos
termos do artigo 950 do Código Civil” (E-RR 47300-96.2006.5.10.0016, SDI-I,
Relator Ministro Freire Pimenta)
* Constituição de capital (CPC/15, art. 533)

Art. 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao
executado, a requerimento do exequente, constituir capital cuja renda assegure o
pagamento do valor mensal da pensão.
§ 1º O capital a que se refere o caput, representado por imóveis ou por direitos reais
sobre imóveis suscetíveis de alienação, títulos da dívida pública ou aplicações
financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a
obrigação do executado, além de constituir-se em patrimônio de afetação.
§ 2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do exequente em
folha de pagamento de pessoa jurídica de notória capacidade econômica ou, a
requerimento do executado, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser
arbitrado de imediato pelo juiz.

E. 313 STJ. Em ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a constituição


de capital ou caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão,
independentemente da situação financeira do demandado.
* Revisão do valor da pensão após o trânsito em julgado da condenação

CPC/15, Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas


relativas à mesma lide, salvo:
I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio
modificação no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte
pedir a revisão do que foi estatuído na sentença;
* Obs.: Impossibilidade de abatimento do valor do auxílio-doença acidentário

- Lei n.º 8.213/91, Art. 121. O pagamento, pela Previdência Social, das prestações por
acidente do trabalho não exclui a responsabilidade civil da empresa ou de outrem.
- E. 229 STF. A indenização acidentária não exclui a do direito comum, em caso de
dolo ou culpa grave do empregador.
- TST: Natureza jurídica distinta (civil e previdenciária). Impossibilidade de abatimento
d) Além de outros prejuízos
* Já estudados
10.2 Hipóteses de ocorrência óbito

CC/02, Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir


outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto
da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se
em conta a duração provável da vida da vítima.
a) Despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família

b) Pensão

b.1) Consideração da “duração provável da vida da vítima”


* Expectativa de vida ao nascer X Expectativa de sobrevida quando do
falecimento
Tábua de Mortalidade (IGBE)
b.2) Natureza jurídica da pensão
Reparação civil, não prestação alimentícia em sentido estrito (Direito de
Família)
* Logo, o pagamento da pensão e seu valor não seguem a regra de prova
da necessidade dos dependentes

b.3) Pagamento em única parcela?


CC/02: Previsão apenas no art. 950, p. único, com postulação pela vítima
no caso de incapacidade
b.4) Constituição de capital (CPC/15, art. 533)

b.5) Aspectos relevantes a respeito dos beneficiários

b.5.1) Não necessariamente limitada aos sucessores da vítima na forma da lei


civil, mas pessoas diretamente atingidas pela morte da vítima: necessidade de
verificação de cada situação concreta
b.5.2) Cônjuge ou companheiro(a)

* Novo casamento não afasta o direito à pensão

* Poliamorismo (direitos do(a) amante, união estável paralela): polêmica


jurisprudencial
* Repercussão geral: RE 883.168
“Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 201, V, e 226, §
3º, da Constituição Federal, a possibilidade, ou não, de reconhecimento de
direitos previdenciários (pensão por morte) à pessoa que manteve, durante
longo período e com aparência familiar, união com outra casada”
b.5.3) Filhos
“No que se refere ao termo final da pensão, a jurisprudência do STJ
firmou-se no sentido de que deve ocorrer na data em que o filho da
vítima completa 25 (vinte e cinco) anos de idade, garantido o direito de
a viúva acrescer” (AgRg no AREsp 113612/SP, julg. em 01/06/17)

* Relevância da verificação de situações específicas (ex.: conclusão de


ensino superior antes dos 25 anos; invalidez do filho que impossibilite o
provimento do seu próprio sustento)
b.5.4) Pais
* Necessidade, em regra, de demonstração da dependência econômica.
* Exceção em relação a famílias de baixa renda, em que é presumida

“A pensão a que tem direito os pais deve ser fixada em 2/3 do salário percebido
pela vítima (ou o salário mínimo caso não exerça trabalho remunerado) até 25
(vinte e cinco) anos e, a partir daí, reduzida para 1/3 do salário até a idade em
que a vítima completaria 65 (sessenta e cinco) anos” (AgInt no REsp 1287225/SC,
julg. em 16/03/17)
b.6) Valor da pensão
b.6.1) Observância da globalidade da remuneração (ex.: inclusão de gorjeta,
décimo terceiro)

b.6.2) Abatimento de 1/3, que presumidamente o falecido usaria para


despesas pessoais
* Presunção relativa, com a possibilidade de demonstração no caso concreto
da necessidade de ser observada fração superior ou inferior

b.6.3) Peculiaridades quanto a filhos e pais já abordadas


b.7) Direito de acrescer
* Presunção de que a cessação das despesas com um beneficiário importaria
na elevação das despesas efetuadas com os demais ou, de maneira geral, na
melhoria da sua condição econômica

* Aplicação analógica do art. 77, § 1º, da Lei nº 8.213/1991


“§ 1º Reverterá em favor dos demais a parte daquele cujo direito à pensão
cessar.”
c) Outras reparações (reparação
integral)
* Já estudadas
10.3 Cláusula de não indenizar

* Não cabimento no Direito do


Trabalho (CLT, art. 9º)
11 Prescrição

1 Prazo prescricional: teses


a) Imprescritibilidade (característica dos direitos da personalidade)

b) aplicação do Código Civil, podendo ser:

b.1) de vinte anos na vigência do CC/16 (art. 177) e de três anos na


vigência do CC/02 (art. 206, §3º, inciso V), por ser uma hipótese de
reparação civil, observada a regra de transição fixada no art. 2.028 do
CC/02;
b.2) de vinte anos na vigência do CC/16 (art. 177) e de dez anos na vigência do CC/02
(art. 205), uma vez que a previsão contida no art. 206, §3º, inciso V, não se refere
especificamente aos casos de violação de direitos da personalidade, observada a regra de
transição fixada no art. 2.028 do CC/02;

c) aplicação do art. 7º, inciso XXIX, da CF/88 e do art. 11 da CLT, com prazo de cinco
anos no curso do contrato, respeitado o biênio posterior à extinção do vínculo
Pacificação da matéria na SDI-I do TST: E-RR 2700-
23.2006.5.10.0005, julgado em 22/05/14

* A polêmica vinculação do prazo prescricional à competência

a) ocorrência do termo inicial da prescrição a partir da


promulgação da Emenda Constitucional n.º 45/04 (30/12/2004):
aplicação do prazo prescricional trabalhista (cinco anos no curso
do contrato, observado o biênio posterior à cessação do vínculo);
b) ocorrência do termo inicial da prescrição antes da promulgação da Emenda
Constitucional n.º 45/04 (30/12/2004):

b.1) a partir da entrada em vigor do Código Civil de 2002 (11/01/2003):


prescrição trienal (CC/02, art. 206, §3º, inciso V);
b.2) antes da entrada em vigor do Código Civil de 2002 (11/01/2003), aplicação
da regra de transição prevista no art. 2.028 do CC/02:

b.2.1) se, em 11/01/2003, houver decorrido mais de dez anos de fluência do


prazo, manutenção da prescrição vintenária prevista no art. 177 do CC/16
(contada a partir do seu termo inicial);

b.2.2) se, em 11/01/2003, não houver decorrido mais de dez anos de fluência
do prazo, aplicação da prescrição de três anos (CC/02, art. 206, §3º, inciso V),
contados a partir de 11/01/2003.
2 Termo inicial da prescrição

2.1 E. 230 STF


“A prescrição da ação de acidente do trabalho conta-se do exame pericial que
comprovar a enfermidade ou verificar a natureza da incapacidade”.

* Realização do exame antes da estabilização das repercussões do infortúnio sobre a


saúde e a capacidade laboral do obreiro, refletindo apenas um quadro inicial e precário
da doença ou dos efeitos do acidente
2.2 E. 278 STJ
“O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que
o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral”.

* No mesmo sentido:
- E. 579 JDC;
- E. 46 1ª JDMPT
2.3 O entendimento da SDI-I do TST (E-RR 92300-39.2007.5.20.0006):

a) a data concessão da aposentadoria por invalidez;

b) inexistindo aposentadoria por invalidez, a data em que o empregado


retorna ao trabalho, seja totalmente reabilitado, seja readaptado em outra função

* Existência de decisões pontuais com adoção de outros parâmetros

* Possibilidade de ocorrência da ciência inequívoca em momento anterior?


2.4 A ciência inequívoca e o STJ: REsp 1.388.030 (Recurso Repetitivo)

2.4.1 Tese
“Exceto nos casos de invalidez permanente notória, ou naqueles em que o
conhecimento anterior resulte comprovado na fase de instrução, a ciência
inequívoca do caráter permanente da invalidez depende de laudo médico”
2.4.2 Noções relevantes explicitadas no julgado
a) Nem sempre em casos de lesão imediata haverá ciência inequívoca da lesão e de
sua extensão;

b) O decurso do tempo ou a ausência de tratamento médico não são fatores


capazes, isoladamente, de conduzir à conclusão de que a vítima possui ciência da
consolidação da lesão, especialmente considerando o quadro do sistema de saúde
no Brasil, de modo que é possível que o sujeito conviva com o agravo à saúde sem
ter, ainda, conhecimento da estabilização das repercussões do infortúnio
2.4.3 E. 573 STJ
“Nas ações de indenização decorrente de seguro DPVAT, a ciência inequívoca do
caráter permanente da invalidez, para fins de contagem do prazo prescricional,
depende de laudo médico, exceto nos casos de invalidez permanente notória ou
naqueles em que o conhecimento anterior resulte comprovado na fase de instrução”
2.5 Considerações finais
a) Ciência inequívoca com a cientificação do obreiro em relação a laudo médico
(produzido, por exemplo, na ação movida em face da autarquia previdenciária ou na
reclamação ajuizada em face do empregador) que ateste a consolidação do agravo à
saúde decorrente de acidento do trabalho ou doença ocupacional

b) Possibilidade de indicação no laudo do caráter progressivo do agravo à saúde ou


tempo de latência alongado – afastamento do início da contagem do prazo prescricional
3 Suspensão do contrato de trabalho e prescrição
SDI-I, OJ n.º 375. 375. AUXÍLIO-DOENÇA. APOSENTADORIA POR
INVALIDEZ. SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO.
PRESCRIÇÃO. CONTAGEM. A suspensão do contrato de trabalho, em
virtude da percepção do auxílio-doença ou da aposentadoria por invalidez,
não impede a fluência da prescrição quinquenal, ressalvada a hipótese de
absoluta impossibilidade de acesso ao Judiciário.

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