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C.I.P.A.
COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES

APOSTILA 3
SUMÁRIO

13 INTRODUÇÃO A ACIDENTES NO TRABALHO................................................................

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14 CONCEITO LEGAL DE ACIDENTES DO TRABALHO .....................................................


14.1 Conceito Prevencionista
.................................................................................................. 14.2
14.2 Classificação dos Acidentes do Trabalho
......................................................................... 14.3
14.3 São Considerados Acidentes do Trabalho
....................................................................... 14.4
14.4 O que fazer ?
................................................................................................................... 14.4.1
14.5 Onde reclamar ?
........................................................................................................... 14.4.2
14.6 Pedidos de Indenizações
..............................................................................................

15 COMUNICAÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO ..........................................................


15.1 Requisitos Básicos
...........................................................................................................
15.2 15.2
Procedimentos
.................................................................................................................

16 BENEFÍCIOS PREVIDENCIARIOS PARA O ACIDENTADO .............................................


16.1 Benefícios Previdenciários
...............................................................................................
16.1.1 Aposentadoria por Invalidez
.......................................................................................... 16.1.2 Aposentadoria
Especial ................................................................................................ 16.1.3 Pensão
por Morte ......................................................................................................... 16.1.4
Auxílio-Doença .............................................................................................................
16.1.5 Abono-Acidente
............................................................................................................ 16.1.6 Abono
Anual .................................................................................................................

17 CAUSAS DOS ACIDENTES ..............................................................................................


18 CONSEQUÊNCIAS DOS ACIDENTES ..............................................................................

19 INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTE ........................................................................................


19.1 O desafio da heterogeneidade
......................................................................................... 19.2 Implicações da concepção
causal na prevenção de acidentes ........................................
19.3 Aceitabilidade de riscos ...................................................................................................
19.4 A investigação do acidente ..............................................................................................
19.5 A prevenção .....................................................................................................................

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13 INTRODUÇÃO A SEGURANÇA DO TRABALHO

As empresas são centros de produção de bens materiais ou de prestação de serviços


que tem uma importância para as pessoas que a elas prestam colaboração, para as
comunidades que se beneficiam com sua produção e, também, para a nação que tem
seus fatores de progresso o trabalho realizado por essas empresas.

Nas empresas encontram-se presentes muitos fatores que podem transformar-se em


agentes de acidentes dos mais variados tipos. Dentre esses agentes podemos
destacar os mais comuns: ferramentas de todos os tipos; máquinas em geral; fontes
de calor; equipamentos móveis, veículos industriais, substâncias químicas em geral;
vapores e fumos; gases e poeiras, andaimes e plataformas, pisos em geral e escadas
fixas e portáteis; etc..

As causas, entretanto, poderão ser determinadas e eliminadas resultando na ausência


de acidente ou na sua redução.

Desse modo muitas vidas poderão ser poupadas, a integridade física dos
trabalhadores será preservada além de serem evitados os danos materiais que
envolvem máquinas, equipamentos e instalações que constituem um valioso
patrimônio das empresas.

Para se combater as causas dos acidentes e se implantar um bom programa de


prevenção, é necessário conhecer a sua conceituação.

14 CONCEITO LEGAL DE ACIDENTE DO TRABALHO

De acordo com o artigo 19º da Lei n.º 8213 de 24 de julho de 1991, “Acidente do
Trabalho é aquele que ocorre no exercício do trabalho a serviço da empresa,
provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou
perda, ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”.

14.1 Conceito prevencionista

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“Acidente é a ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, que interrompe


o processo normal de uma atividade profissional, ocasionando perda de tempo, lesões
pessoais ou danos materiais.

Diferença entre o CONCEITO LEGAL e o CONCEITO PREVENCIONISTA


A diferença entre os dois conceitos reside no fato de que no primeiro é necessário
haver, apenas lesão física, enquanto que no segundo são levados em considerações,
além das lesões físicas, a perda de tempo e de materiais.

14.2 Classificação dos acidentes do trabalho

a) ACIDENTE DO TRABALHO OU SIMPLESMENTE ACIDENTE: É a ocorrência


imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício do
trabalho, que provoca lesão pessoal ou de que decorre risco próximo ou remoto
desta lesão.

b) ACIDENTE SEM LESÃO: É o acidente que não causa lesão pessoal.

c) ACIDENTE DE TRAJETO: É o acidente sofrido pelo empregado no percurso


residência para o trabalho ou deste para aquela.

d) ACIDENTE IMPESSOAL: É aquele cuja caracterização independe de existir


acidentado.

e) ACIDENTE INICIAL: É o acidente impessoal desencadeador de um ou mais


acidentes.

14.3 São considerados acidentes do trabalho

− DOENÇAS PROFISSIONAIS: produzida ou desencadeada pelo exercício do


trabalho peculiar a determinada atividade e constante da relação estabelecida pelo
MTE e MPAS. Ex: problemas de coluna, perca da audição, etc.;

− DOENÇAS OCUPACIONAIS: produzida ou desencadeada pelo exercício do


trabalho peculiar a determinada atividade e constante da relação estabelecida pelo
MTE e MPAS. são causadas pelas condições de trabalho. Ex.: dermatoses
causadas por cal e cimento ou problemas de respirações causadas pela inalação
de poeira etc.;
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− ACIDENTES À SERVIÇO DA EMPRESA: que acontecem na prestação de serviços,


por ordem da empresa, fora do local de trabalho;

− ACIDENTES EM VIAGENS: a serviço da empresa;

− ACIDENTES DE TRAJETO: que ocorram no trajeto entre a residência e o trabalho


ou do trabalho para residência.

14.4 O que fazer?

A comunicação de acidente de trabalho ou doença profissional será feita à Previdência


Social por meio do Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT - veja aqui como
preencher a CAT http://www.mpas.gov.br), preenchido em seis vias: 1ª via (INSS), 2ª
via (empresa), 3ª via (segurado ou dependente), 4ª via (sindicato de classe do
trabalhador), 5ª via (Sistema Único de Saúde) e 6ª via (Delegacia Regional do
Trabalho).

A CAT pode ser emitida pela empresa ou pelo próprio trabalhador, seus dependentes,
entidade sindical, médico ou autoridade (magistrados, membros do Ministério Público
e dos serviços jurídicos da União, dos estados e do Distrito Federal e comandantes
de unidades do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, do Corpo de Bombeiros e da
Polícia Militar) e o formulário preenchido tem que ser entregue em uma Agência da
Previdência Social.

Retomadas de tratamentos ou afastamentos por agravamento de lesão decorrentes


de acidente de trabalho ou doença profissional também devem ser comunicados à
Previdência Social através da CAT, mas, neste caso, deverão constar as informações
da época do acidente e os dados atualizados do novo afastamento (último dia
trabalhado, atestado médico e data da emissão).

Também devem ser informadas à Previdência Social por meio da CAT mortes de
segurados decorrentes de acidente de trabalho ou doença ocupacional.

A empresa é obrigada a informar à Previdência Social acidentes de trabalho ocorridos


com seus funcionários, mesmo que não haja afastamento das atividades, até o
primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência. Em caso de morte, a comunicação deve
ser imediata. A empresa que não informar acidentes de trabalho está sujeita à multa.

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Se ficar caracterizado que o acidente ocorreu por culpa do empregador ele deve
indenizar o trabalhador por danos materiais, físicos e morais. Se a empresa não emitir
a CAT, o próprio trabalhador pode procurar assistência do INSS ou solicitar ao
Sindicato que emita este documento.

14.4.1 Onde reclamar ?

Caso você sofra acidente de trabalho e não for assistido adequadamente por
sua empresa, você pode recorrer ao Ministério do Trabalho e Emprego e ao Sindicato
de sua categoria para que as providências sejam tomadas.

14.4.2 Pedidos de indenizações

O tempo máximo para solicitar indenização por acidente de trabalho é de 5


anos. O período é contado a partir da data em que foi caracterizado o acidente ou a
doença ocupacional. Após este período, há prescrição do prazo e a indenização não
será paga.

15 COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO

15.1 Requisitos básicos

• Estar em exercício efetivo no cargo ocupado e ter sofrido danos:


• Em conseqüência das atribuições do cargo exercido;
• Em decorrência de agressão sofrida e não provocada, no exercício do cargo;
• No percurso da residência para o trabalho e vice-versa.

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15.2 Procedimento

O acidentado, ou no seu impedimento pessoa que presenciou o fato, deverá


comunicar imediatamente à Chefia do servidor, que por sua vez designará servidor ou
comissão de servidores para comprovar o acidente;

A chefia ou pessoa designada por esta, deverá preencher o Comunicação de Acidente


de Trabalho – CAT em três vias, enviando para:

Unidade de Assistência ao Servidor – Setor de Medicina do Trabalho e Setor de


Segurança no trabalho;

Unidade na qual o servidor acidentado está lotado.

Caberá a Unidade de Assistência ao Servidor – UAS, representados pelo Médico do


trabalho e o Técnico de Segurança no Trabalho, a abertura de Processo e formação
de Comissão para apurar os fatos contidos na CAT, preferencialmente o Serviço de
Assistência Social e Psicologia Organizacional e Servidor (es) que porventura sejam
designados, pelo acidentado ou sua Chefia.

As conclusões e ou determinações do processo deverão ser registradas na ficha do


servidor bem como encaminhadas a Setores específicos, para que se faça
acompanhamentos e vistorias necessárias a sanar possíveis problemas identificados.

16 BENEFÍCIOS PREVIDENCIARIOS PARA O ACIDENTADO

16.1 Benefícios previdenciários

São as necessidades básicas de seguridade social previstas no sistema previdenciário


brasileiro. As prestações disponíveis pelo sistema previdenciário estão previstas no
artigo 18 da Lei 8213/91 (Lei de Benefícios da Previdência Social). Essas prestações
podem ocorrer na modalidade de benefício (valores pagos em pecúnia) e serviços
(bens imateriais postos à disposição dos segurados).

16.1.1 Aposentadoria por invalidez

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É devido ao segurado, que estando ou não em auxílio-doença, for incapaz para o


trabalho e insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a
subsistência, sendo-lhe paga enquanto permanecer nessa situação.

a) Idade mínima: não tem;


b) Carência: 12 contribuições;
c) Cálculo: 100%;
d) Prazo de pagamento: 16º dia do afastamento.

16.1.2 Aposentadoria especial

Benefício concedido ao segurado que realize seu trabalho em condições prejudiciais


à saúde ou à sua integridade física.

a) Idade mínima: 15, 20 ou 25 anos em atividades expostas a agentes lesivos à


saúde;
b) Carência: 180 contribuições;
c) Cálculo: 100%;
d) Prazo de pagamento: do desligamento ou até 90 dias do requerimento.

16.1.3 Pensão por morte

Benefício concedido ao dependente em decorrência do falecimento do segurado.

a) Requisitos: óbito do segurado;


b) Carência: não tem;
c) Cálculo: valor da aposentadoria;
d) Pagamento: do óbito se requerida até 30 dias ou, após este prazo do
requerimento.

16.1.4 Auxílio doença

Benefício devido ao segurado que ficar incapacitado temporariamente para o trabalho


por mais de 15 dias.

a) Requisitos: incapacidade temporária;

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b) Carência: 12 contribuições;
c) Cálculo: 91%;
d) Pagamento: 16º dia do afastamento para empregados e desde a incapacidade para
os demais.

16.1.5 Abono acidente

Quando decorrente de acidentes de qualquer natureza, acidentes do trabalho,


equiparados e doença do trabalho.

a) Requisitos: seqüelas de acidente;


b) Carência: não tem;
c) Cálculo: 50% ;
d) Pagamento: da cessação do auxílio-doença até a concessão da aposentadoria.

16.1.6. Abono anual

É devido ao segurado ou ao dependente que, durante o ano, recebeu auxíliodoença,


auxílio-acidente, aposentadoria, pensão por morte ou auxílio-reclusão.

17 CAUSAS DOS ACIDENTES

Os acidentes de trabalho não são uma fatalidade. Os acidentes não se dão porque o
destino assim quer, mas porque alguém ou alguma coisa o provoca. Isto significa que
um acidente é sempre a conseqüência de uma ou mais causas. A velha teoria da
fatalidade há muito que foi substituída pela teoria da causalidade.

A idéia-chave a fixar é a de que; muitos estudos sobre as causas dos acidentes de


trabalho têm vindo a dar razão ao que os psicólogos do trabalho há muito afirmam,
isto é, que é sobre o homem que é necessário agir para diminuir os acidentes.

Na realidade está estatisticamente provado que mais de 80% dos acidentes do


trabalho têm causas humanas. Assim sendo, a ação prioritária para reduzir os
acidentes deve ter como objetos os trabalhadores, nomeadamente na sua formação
e informação.

As causas humanas dos acidentes de trabalho mais comuns, são:

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Z Maus hábitos de trabalho


Z Falta de experiência
Z Falta ou deficiente formação profissional
Z Cansaço Z
Stress

Entre as causas materiais dos acidentes, as mais comuns são:

Z Materiais defeituosos
Z Equipamentos em más condições
Z Ambiente físico ou químico não adequado

Todos os acidentes de trabalho devem ser participados, podendo fazer-se sob várias
modalidades:

Z por parte da vítima ou familiares à entidade patronal;


Z pela entidade patronal à seguradora;
Z pela entidade patronal à respectiva instituição de previdência;

A participação de um acidente faz-se com o preenchimento e envio para a entidade


competente de um documento que descreve o acidente da forma mais completa,
indicando designadamente:

− nome da entidade empregadora


− companhia de seguros
− dados pessoais do sinistrado
− dados sobre o acidente
− destino do acidentado
− causa(s) do acidente
− tipo(s) de lesão (ões)
− parte(s) dos corpo atingida(s)
− conseqüências do acidente

A Portaria n.º 137/94 de 8 de Março aprovou o modelo de participação de acidente de


trabalho e o mapa de encerramento do processo de acidente de trabalho.

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18 CONSEQUÊNCIAS DOS ACIDENTES

Muitas vezes, pior que o acidentei, são as suas conseqüências.

Todos sofrem:
• a vítima, que fica incapacitada de forma total ou parcial, temporária ou permanente
para o trabalho;
• a família, que tem seu padrão de vida afetado pela falta dos ganhos normais,
correndo o risco de cair na marginalidade;
• as empresas, com a perda de mão-de-obra, de material, de equipamentos, tempo
etc., e, conseqüentemente, elevação dos custos operacionais;
• a sociedade, com o número crescente de inválidos e dependentes da
Previdência Social.
• Sofre, enfim o próprio país, com todo o conjunto de efeitos negativos dos acidentes
do trabalho.

Um acidente do trabalho pode levar o trabalhador a se ausentar da empresa apenas


por algumas horas, o que é chamado de acidente sem afastamento. É o que ocorre,
por exemplo, quando o acidente resulta num pequeno corte no dedo,e o trabalhador
retorna ao trabalho em seguida. Outras vezes, um acidente pode deixar o trabalhador
impedido de realizar suas atividades por dias seguidos, ou meses, ou de forma
definitiva. Se o trabalhador acidentado não retornar ao trabalho imediatamente ou até
na jornada seguinte, temos o chamado acidente com afastamento, que pode resultar
na incapacidade temporária, ou na incapacidade parcial e permanente, ou, ainda,
na incapacidade total e permanente para o trabalho.

A incapacidade temporária é a perda da capacidade para o trabalho por um período


limitado de tempo, após o qual o trabalhador retorna às suas atividades normais.

A incapacidade parcial e permanente é a diminuição, por toda vida, da capacidade


física total para o trabalho. É o que acontece, por exemplo, quando ocorre a perda de
um dedo ou de uma vista.

A incapacidade total e permanente é a invalidez incurável para o trabalho. Nesse


caso, o trabalhador não tem mais condições para trabalhar. É o que acontece, por
exemplo, se um trabalhador perde as duas vistas em um acidente do trabalho. Nos
casos extremos, o acidente resulta na morte do trabalhador. Os danos causados pelos
acidentes são sempre bem maiores do que se imagina à primeira vista.

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19 INVESTIGAÇÃO E ANALISE DE ACIDENTES

Neste capítulo abordaremos a investigação e analise dos acidentes comuns, não


abordando acidentes ampliados, nem acidentes de trânsito.

Inicialmente apresentaremos alguns conceitos básicos para, a seguir, enfocar


aspectos considerados importantes na investigação dos acidentes do trabalho e,
finalmente, aspectos relativos à gestão de segurança.

Os acidentes do trabalho (AT) são fenômenos socialmente determinados, previsíveis


e preveníveis. Ao contrario de constituir obra do acaso como sugere a palavra
acidente, os acidentes do trabalho são fenômenos previsíveis, dado que os fatores
capazes de desencadeá-los encontram-se presentes na situação de trabalho
(passíveis de identificação) muito tempo antes de serem desencadeados. A
eliminação / neutralização de tais fatores é capaz de evitar / limitar a ocorrência de
novos episódios semelhantes, ou seja, além de previsíveis, os acidentes do trabalho
são preveníveis.

Afirmar que os AT são socialmente determinados equivale a dizer que resultam de


fenômenos sociais, sobretudo da forma de inserção dos trabalhadores na produção e,
conseqüentemente, no consumo, expressando as correlações de forças existentes em
sociedades concretas.

Nesses termos, sua prevenção ultrapassa o âmbito das ações desenvolvidas e, ou


coordenadas por ministérios como o do Trabalho, da Saúde e da Seguridade /
Previdência Social. Em outras palavras, políticas públicas de saúde e segurança do
trabalho, necessariamente devem contemplar, dentre outros, os seguintes aspectos:

• elaboração de leis e normas (severas) acerca das condições de segurança de


máquinas e equipamentos para que possam ser comercializados;
• concessão de financiamentos a juros subsidiados a empresas, viabilizando
investimentos para melhorar suas condições de segurança e salubridade no
trabalho;
• destinação de volume de recursos (compatíveis com as características e
necessidades do país) às instituições publicas encarregadas da fiscalização
das condições de saúde e segurança do trabalho;
• criação de instituições (ou de mecanismos) capazes de aconselhar as
empresas, particularmente as micro, pequenas e medias, nas questões de
saúde e segurança do trabalho;

• destinação de recursos visando o atendimento de demandas originadas dos


problemas de saúde e segurança do trabalho prioritários nas varias macro e,

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ou micro-regiões do país, dirigidas sobretudo à busca de soluções adequadas


e com custo compatível à realidade brasileira;
• garantir que, além de assistência à saúde de boa qualidade, os trabalhadores
sejam atendidos por profissionais capacitados a suspeitar de / diagnosticar
doenças profissionais e relacionadas ao trabalho, sendo ainda capazes de
adotar as condutas adequadas exigidas pela legislação trabalhista e
previdenciária.

As mudanças das condições de saúde e segurança do trabalho passam


necessariamente pela existência de pressões sociais que, praticamente inexistem no
Brasil.

19.1 O desafio da heterogeneidade

A realidade brasileira em termos de segurança do trabalho é extremamente


heterogênea, o que constitui dificuldade adicional para os profissionais da prevenção,
uma vez que em seu cotidiano enfrentarão tanto situações cujo diagnóstico é
relativamente simples, como situações complexas que exigirão estudo, consulta a
especialistas, etc.

De modo geral, pode-se dizer que em situações de incidência elevada de acidentes


do trabalho, é possível identificar a maioria dos problemas com relativa facilidade, por
meio de inspeções de segurança. Trata-se de situações nas quais o desrespeito à
legislação é flagrante, com indicação de ações de prevenção calcadas na aplicação
das normas legais vigentes. Em boas condições de segurança, com baixa incidência
de acidentes, estes dependem da ocorrência de várias alterações, simultâneas ou
seqüenciais, na forma de desenvolvimento do trabalho que, por não estarem
presentes na situação de trabalho habitual, dificilmente são identificadas por meio de
inspeções de segurança clássicas.

Apresentamos abaixo uma possível classificação dos acidentes do trabalho que pode
auxiliar na escolha de métodos para sua investigação em condições de segurança do
trabalho heterogêneas, como as existentes em nosso Pais.

QUADRO I – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS ACIDENTES SEGUNDO O


ESTÁGIO DE SEGURANÇA DAS EMPRESAS

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CARACTERÍSTICA ANALISADA TIPOS DE ACIDENTES

1 2 3

• Taxa de freqüência elevada moderada baixa

• Estrutura do AT linear ou conjunção de conjunção de


quase linear alguns fatores muitos fatores

• Situação acidentogênica

Freqüência de aparecimento permanente/ esporádica excepcional


muito freqüente

Atividades em desenvolvimento específicas, conexas, inespecíficas


habituais, ligadas secundárias, não
ao posto de habituais
trabalho

Natureza dos problemas desrespeito relacionados a acúmulo de


flagrante à fatores da fatores que,
legislação de organização do isoladamente
segurança trabalho/ não afetariam a
gerenciamento da segurança
empresa

Diagnóstico a priori Fácil difícil muito difícil

Como diagnosticar inspeções de análise auditorias de


segurança qualidade,
método ADC,
árvore de
falhas...

Operação de máquinas com zona de operação aberta, permitindo acesso de partes


do corpo do trabalhador e trabalho em altura sem proteção contra quedas constituem
bons exemplos de situações que geram acidentes do tipo 1, observandose que a
maioria dos fatores estavam presentes na situação de trabalho habitual. Basta
pequena mudança na realização da tarefa, às vezes imperceptível ao próprio
acidentado, para que o acidente sobrevenha, verificando-se que a segurança
depende, quase que exclusivamente, do desempenho do trabalhador.

Como exemplos de acidentes do tipo 2 temos:

• O equipamento para suspensão de motores de empilhadeiras ("girafinha")


durante atividades de conserto e manutenção está quebrado. O motor de uma
empilhadeira quebra e, para consertá-lo, o mecânico apóia o motor em dois
"sarrafos" de madeira. O motor "escapa", atinge a mão do mecânico, ferindoa.

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• A furadeira de peças, com sistema que mantém imóvel o conjunto peçagabarito


quebra e é temporariamente substituída por furadeira de chapas (sem fixação).
Durante a furação, uma peça escapa, atingindo o operador.

Nesses dois casos, as condições que geraram o acidente estiveram presentes de


forma limitada no tempo e inspeções de segurança, realizadas em condições habituais
de trabalho, não revelariam o perigo, pois o conserto do motor estaria sendo
executado na "girafinha" e a peça, furada com equipamento apropriado.

Situações semelhantes – com duração limitada no tempo – freqüentemente ocorrem


durante operações de ajustes para reprogramação de máquinas, em casos de
intervenções para corrigir falhas em processo de produção e na realização de
manutenções, sobretudo corretivas.

Vejamos um exemplo de acidente do tipo 3:

• Um pega-toras entra em pane durante o turno noturno e a equipe de plantão


(reduzida) não consegue consertá-lo. Um carregamento de matéria-prima
aguardado para o dia seguinte chega à empresa e o supervisor designa o
operador do pega-toras em pane para operar um triturador raramente utilizado.
Nessa nova situação, o trabalhador sofre um acidente.

No exemplo, constata-se que as condições habituais de trabalho sofreram várias


modificações, que ocorreram de forma limitada no tempo e de forma quase
simultânea, dando origem ao acidente. Da mesma forma que nos dois exemplos
anteriores (tipo 2), uma inspeção de segurança dificilmente identificaria os fatores
envolvidos no desencadeamento desse acidente.

Se tivessem ocorrido isoladamente - pane do pega-toras, pane noturna, incapacidade


de reparação pela equipe de manutenção (noturna e reduzida), antecipação da
chegada de matéria-prima -, tais fatores não teriam sido capazes de gerar as pré-
condições representadas pela designação de um trabalhador para operar uma
máquina com a qual não estava familiarizado e que culminou com a ocorrência do
acidente.

Relatos desse tipo tem ocorrido em sistemas complexos, como usinas de energia
atômica, empresas aeroespaciais, indústrias químicas ... Nessas empresas,
consideradas seguras, geralmente a história do acidente revela tolerância pregressa
à presença de fatores que, isoladamente, não seriam suficientes para desencadeálo.
Tal tolerância provavelmente relaciona-se com o fato de cada uma das alterações,
isoladamente, não ser considerada perigosa.

É necessário salientar que, nessa classificação não existem limites estanques entre
um tipo de acidente e outro, mas toda uma gradação que vai de situações nas quais
os acidentes são fenômenos relativamente simples, com fatores causais

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diagnosticáveis por inspeções de segurança, até situações altamente complexas, que


exigem utilização de métodos que dêem conta dos múltiplos fatores envolvidos na
gênese dos casos investigados.

19.2 Implicações da concepção causal na prevenção de acidentes

Acreditar que o acidente do trabalho é fruto da fatalidade implica em aceitar que não
há como preveni-lo. Concebê-lo como castigo de Deus, em buscar a solução em
orações.

Entender que os acidentes do trabalho são fenômenos uni ou pauci-causais,


decorrentes, sobretudo, de atos inseguros praticados pelos trabalhadores, implica em
centrar as ações preventivas no comportamento dos trabalhadores. Aliada à
identificação de responsável pelo acidente, tal concepção acaba por atribuir ao
acidentado, culpa pela ocorrência de que foi vitima. Cabe salientar que o encontro de
responsável ou culpado, torna desnecessário investigar as causas do acidente,
deixando intocados os fatores que lhes deram origem.

Investigações que atribuem a ocorrência do acidente a comportamentos inadequados


do trabalhador ("descuido", "negligência", "imprudência", "desatenção" etc.), evoluem
para recomendações centradas em mudanças de comportamento: "prestar mais
atenção", "tomar mais cuidado", "reforçar o treinamento"... Tais recomendações
pressupõem que os trabalhadores são capazes de manter elevado grau de vigília
durante toda a jornada de trabalho, o que é incompatível com as características bio-
psico-fisiológicas humanas. Em conseqüência, a integridade física dos trabalhadores
fica na dependência quase exclusiva de seu desempenho na execução das tarefas.

De acordo com concepções mais recentes, os acidentes de trabalho resultam de


modificações ou desvios que ocorrem no interior de sistemas de produção,
modificações ou desvios esses que por sua vez resultam da interação de múltiplos
fatores. Concebendo a empresa como um sistema sócio-técnico aberto e o acidente
como um sinal de mau funcionamento desse sistema, investigá-lo implica em analisar
aspectos do sub-sistema técnico (instalações, máquinas, lay-out, tecnologia, produtos
...) e do sub-sistema social da empresa (idade e sexo dos trabalhadores, qualificação
profissional, organização do trabalho, relações pessoais e hierárquicas, cultura da
empresa, contexto psico-sociológico, etc.).

Um conceito básico na teoria de sistemas é o de equilíbrio ou homeostase,


considerando-se estável o sistema que, submetido a perturbações, retorna à condição
de equilíbrio devido às suas características intrínsecas ou por ação externa. Em
algumas situações de trabalho o equilíbrio precário exige intervenção de operadores /
trabalhadores que nem sempre se desenrolam com sucesso, podendo advir prejuízos
na produtividade e, ou acidentes.

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19.3 Aceitabilidade de riscos

Determinadas condições de trabalho configuram situação que pode ser


resumida como acidente esperando para acontecer (2). Elas resultam da
aceitação de situações descontroladas do ponto de vista da segurança do
trabalho, constituindo condição de risco assumido pela empresa.

Estudos recentes revelam que a aceitabilidade de riscos varia de acordo com


algumas características sociais e que sociedades afluentes (ricas) aceitam
menos os riscos que sociedades pobres. Vários fatores permeiam essa
aceitabilidade particularmente os culturais, assim como o grau de organização
dos diferentes grupos sociais. Estudo realizado na França revelou que os
acidentes do trabalho estão em 6º lugar na percepção de riscos pela população,
com 43% dos entrevistados referindo sentirem-se ameaçados pelo risco de
acidentar-se no trabalho. Nesse estudo, verificou-se que riscos de acidentes
em rodovias, de poluição das águas, de poluição atmosférica, de AIDS e de
transporte de cargas perigosas são percebidos em ordem decrescente pelos
entrevistados.

No interior de uma empresa, a aceitação de determinados riscos é decidida em


nível gerencial, porém, quem arca com os custos humanos é o trabalhador,
cabendo à sociedade como um todo, arcar com os custos sociais e econômicos
(mecanismo de socialização das perdas).

Partindo do pressuposto que as empresas operam em função de fatores como


racionalidade econômica, relações sociais e evolução cultural da sociedade,
podemos afirmar que, na ausência de movimento social em prol da prevenção
de acidentes do trabalho, acabam prevalecendo interesses dos profissionais
que planejam o trabalho, que dificilmente aceitam que houve falhas em seu
planejamento, delas resultando acidentes do trabalho.

19.4 A investigacão do acidente

A partir da informação da ocorrência de um acidente a equipe de investigação deve,


se possível, inteirar-se do tipo de caso a ser investigado, visando preparar-se
tecnicamente para conduzi-la. É da maior importância dar inicio à investigação o mais
rapidamente possível.

Recomenda-se dispor de um "kit" pronto (papel, prancheta, lápis, caneta, borracha,


trena, maquina fotográfica e, ou filmadora, e filmes).

A escolha do método de investigação depende da complexidade do fenômeno


investigado. Em situações de trabalho caracterizadas por desrespeito evidente à

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legislação e às regras básicas de segurança, a investigação é relativamente fácil de


ser conduzida. Em situações de trabalho complexas em que o acidente é fruto da
interação entre vários fatores, são necessários métodos de investigação capazes de
elucidar os vários aspectos envolvidos em sua gênese.

A coleta de dados é uma fase crucial que deve ser realizada no próprio local de
ocorrência do acidente. Uma boa coleta deve possibilitar a compreensão de como o
acidente ocorreu, quase como se fosse possível visualizá-lo passo a passo.

A sistematização da coleta de dados facilita esta tarefa, além de ajudar a evitar que
aspectos importantes deixem de ser investigados. Em nossas investigações, mesmo
quando não utilizamos o método de Árvore de Causas, realizamos a coleta de dados
com auxílio de suas categorias de análise, ou seja, atividade em desenvolvimento,
desdobrada nos componentes:

indivíduo - (qualificação, treinamento recebido, função / posto de trabalho habituais e


por ocasião do acidente etc.);

tarefa - o que o trabalhador(res) / indivíduo(s) executa(m) em condições habituais de


trabalho e por ocasião do acidente;

material - maquinas e equipamentos, matérias-primas, etc utilizados na execução da


tarefa; meio de trabalho – entendido como o meio social da empresa (relações sociais,
pessoais, hierárquicas), forma de organização do trabalho, treinamentos ministrados,
etc.

Recomenda-se:

• Tirar fotografias / filmar; fazer esquemas do cenário / máquinas... relacionados


ao acidente que ocorreu;
• descrever instalações físicas, condições de iluminação, nível de ruído, posição
de máquinas, equipamentos etc.;
• verificar o tipo de energia utilizada; se for o caso, descrever máquinas e, ou
equipamentos (tipo, forma de acionamento, de alimentação, etc.);
• descrever a forma habitual de execução da atividade em desenvolvimento no
momento de ocorrência do acidente;
• identificar, em relação às condições de trabalho habituais (trabalho real, não
trabalho prescrito), isto é, sem ocorrência de acidente, o que mudou /alterou
/variou,investigando as origens das alterações / mudanças / variações
ocorridas. É extremamente importante identificar as condições do sistema que
permitiram o aparecimento dessas mudanças (ou variações). Em outras
palavras, buscar as "causas das causas".
• Descrever cuidadosamente as mudanças que provocaram perturbações que
ultrapassaram a tolerância habitual do sistema, ou seja, aquelas que não foram

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solucionadas com as estratégias adotadas no funcionamento do sistema nas


situações sem acidente.
• Quando não for possível esclarecer como se originou determinada modificação
ou variação, explorar hipóteses possíveis acerca de sua origem e, para cada
hipótese, buscar evidências diretas ou indiretas de sua ocorrência. Por
exemplo, no caso de sistemas técnicos, a existência de componentes alterados
e, ou com marcas do ocorrido pode fornecer informações importantes, seja por
visualização direta, seja por exames em laboratórios ou serviços
especializados. Da mesma forma, os registros relativos ao histórico de
manutenção de uma máquina, inclusive aqueles relativos às mudanças
efetuadas após o acidente com vistas a sua liberação podem ser úteis.
• Buscar confirmação para todas as afirmações colhidas nas entrevistas visando
descrever os fatores que participaram do desencadeamento do acidente com a
maior fidelidade possível.

A obtenção dessas informações exigirá a realização de entrevistas com vários


interlocutores: acidentado (que não estará vivo para informar em casos de acidentes
fatais), testemunhas do ocorrido, colegas de trabalho, chefias, membros de CIPA e
SESMT (quando houver), outros acidentados que tenham sofrido acidentes
semelhantes etc. Em casos de acidentes envolvendo mais de uma empresa, incluir
seus membros na relação de pessoas a entrevistar.

Durante as entrevistas, diante de expressões como "foi um descuido", "acho que não
prestei muita atenção", "fiz uma bobeira", utilizadas pelos próprios acidentados vítimas
de acidentes não fatais para descrever os episódios de que foram vítimas, é
imprescindível indagar - e, se necessário, insistir -, como foi o tal "descuido", a "falta
de atenção" ... procurando caracterizar o sentido da expressão utilizada pelo
trabalhador (ou testemunha, ou colega ... em casos de acidentes fatais). Sobretudo, é
da maior importância investigar suas causas. Freqüentemente os "descuidos" ocorrem
em situações de pressão de tempo para execução de tarefas (urgências de varias
naturezas e origens), ao final de turnos noturnos, ao final de jornadas de trabalho
prolongadas por horas-extras, em situações de fadiga evidente do trabalhador,
durante execução de tarefas anexas / secundárias, ou de tarefas eventuais, como por
exemplo as de manutenção.

Investigações cuidadosas geralmente permitem identificar se os limites das


capacidades humanas foram ultrapassados. Mesmo em grandes empresas é
freqüente encontrar situações em que a segurança do trabalhador dependia, quase
exclusivamente, de seu desempenho na execução da tarefa.

É fundamental que durante a coleta de informações sejam descritos fatos passíveis


de constatação. Por exemplo, ao invés de registrar "expôs-se desnecessariamente ao
perigo", descrever ações, posições, etc. adotadas pelo trabalhador, sem emitir juízo
de valor. Da mesma forma, não incluir interpretações e ou conclusões do investigador
durante a fase de coleta de dados.

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Uma boa descrição de acidente é objetiva e precisa, desprovida de juízos de valor, de


interpretações, e de conclusões. Para conseguir executar uma coleta de dados que
atenda esses requisitos, é muito importante ter sempre em mente que se buscam as
"causas das causas" do acidente visando a prevenção, e não a identificação de
responsáveis e, ou culpados (objetivos de investigações com finalidades jurídicas).

Deve-se evitar:
• Interrupções precoces na coleta de dados, particularmente quando se trata de
comportamentos adotados durante a execução de tarefas - é importante
investigar suas origens, ao invés de simplesmente rotular como falha do
acidentado.
• Considerar prescrições ou normas como equivalentes à tarefa habitual e
padrão de referência para identificação de variações ou mudanças no sistema.
0 trabalho real não deve jamais ser confundido ou reduzido ao trabalho
prescrito. Procurar conhecer o trabalho real demanda tempo, entrevistas com
operadores, etc.
• Tomar como "causas" opiniões "a priori", que não foram adequadamente
investigadas, formando opiniões precoces acerca de causas do acidente que
vai ser investigado, "contaminando" e prejudicando a investigação.
• Aceitar como verdade informações sem verificar sua veracidade. A titulo de
exemplo, pode ser citado um fato ocorrido durante investigação de acidente
fatal em uma grande siderúrgica brasileira. Em reunião entre representantes
sindicais, técnicos de várias instituições, um representante da empresa afirmou
não ser possível a instalação de uma tampa no "panelão" que transportava aço
fundido para as lingoteiras. Isso porque a tampa provocaria modificações no
aço que eram incompatíveis com as especificações do produto.
Posteriormente, verificou-se que tal afirmação era falsa.

Organização e análise dos dados

Os dados coletados devem ser organizados, isto é, deve ser elaborada uma descrição
coerente do acidente, baseada em fatos passíveis de serem observados /
constatados, sem emissão de juízos de valor e, ou interpretações, e que permita ao(s)
investigador(es) "visualizar" da maneira mais completa possível, como o episódio se
desenrolou. Esta etapa é fundamental na investigação. Embora aparentemente fáceis
de serem realizadas, boas descrições exigem treinamento. Pode-se considerar
adequada uma descrição cuja leitura permita a compreensão de como o acidente
ocorreu, por profissionais que não participaram da investigação.

Somente após elaborar a descrição do acidente é que se deve analisar e interpretar


as informações registradas e que nortearão a prevenção.

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19.5 A prevenção

No caso de empresas já em funcionamento, a organização da prevenção implica na


identificação / diagnóstico dos riscos, de preferência antes que acidentes aconteçam,
por meio de inspeções de segurança. Investigações bem conduzidas de

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acidente, quase acidentes e incidentes (acidentes sem vítima) fornecem informações


valiosas à prevenção.

À fase de diagnóstico, segue-se a de correção – eliminação ou neutralização das


falhas identificadas. Nessa fase, alguns autores recomendam que se inicie pela
listagem de medidas sem levar em consideração exeqüibilidade ou custos (momento
em que a criatividade deve ser estimulada). Evidentemente, em situações de
desrespeito às normas consagradas de segurança, previstas em lei, e com medidas
de prevenção já bem estabelecidas, a listagem de medidas é mais fácil, dispensando
"exercícios de imaginação". Entretanto, algumas situações mais complexas, por
exemplo após ocorrência de acidentes de tipo 2 ou 3, o diagnóstico poderá revelar
falhas cuja correção pode envolver medidas que não as clássicas de engenharia de
segurança. Nesses casos, o "exercício de imaginação" costuma ser bastante útil.

Recomenda-se listar o maior número de medidas de prevenção possível, de tal forma


que, no momento da seleção haja um leque de medidas para escolher.

Listadas as medidas de prevenção possíveis a partir do diagnóstico realizado, a etapa


seguinte é a de seleção das medidas a serem implantadas. Nesse ponto, é importante
que critérios de seleção sejam considerados. Assim, recomenda-se que as medidas
selecionadas sejam capazes de:

• eliminar ou neutralizar riscos;


• não criar novos riscos;
• ter estabilidade ao longo do tempo;
• não aumentar as exigências para o operador;
• ter prazo de implantação compatível com o risco identificado;
• não ter efeitos negativos sobre a produtividade (se isso ocorrer, correm o risco
de ser abandonadas).

A relação custo-benefício das medidas pode ser um dos critérios de seleção. Pode ser
usada em situações em que uma das medidas dentre as várias possíveis não oferece
benefícios adicionais e apresenta custo elevado ou relação custo / benefício elevada.
Cabe assinalar que os escalões hierárquicos superiores / gerências decidem que
medidas adotar, porém ressaltando que quem se expõe é o trabalhador. Se a empresa
não arcar com o custo da prevenção, ocorrendo o acidente, o custo passa para o
trabalhador e para a sociedade.

Além das características mencionadas acima, deve-se dar preferência a medidas


automáticas, ou seja, que independam de mudanças de comportamento / adesão dos
trabalhadores e que, em geral, tendem a se enfraquecer ao longo do tempo, exigindo
reforços periódicos.

O acidente indica que as capacidades de controle do sistema foram excedidas e que,


muito tempo antes disso acontecer, era possível prever sua ocorrência. Para esses
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autores, embora o comportamento do acidentado possa ser o fator imediatamente


antecedente ao acidente, esse comportamento geralmente é irrelevante para a
prevenção.

Considera-se seguro o sistema capaz de tolerar erros do operador sem ocorrência de


acidente. Nessa condição, diz-se que o sistema foi concebido considerando-se o
princípio da falha segura.

Selecionadas as medidas de prevenção, segue-se a fase de implantação, quando é


imprescindível, por parte da empresa, a definição clara de recursos, de responsáveis
e de prazos para a implantação de cada uma das medidas selecionadas. Por parte da
equipe de fiscalização, é crucial a definição de responsável(eis) pela verificação da
execução do que tiver sido estabelecido.

Implantadas as medidas, segue-se a fase de acompanhamento da evolução para


avaliação de seu impacto, verificação de ocorrência eventual de deslocamento de
risco, de aumento de exigências para o operador etc.

A negociação com a empresa sobre as medidas de prevenção requer a criação de


condições capazes de facilitar seu desenrolar. Negociar, entretanto, não exclui os
aspectos técnicos e o conhecimento da legislação em vigor de tal sorte que, se as
condições de segurança estão em desacordo com as normas legais, não há muito que
discutir em termos da necessidade de adequá-las, cabendo, eventualmente, acordar
prazos.

Implantar medidas de prevenção, incorporando os ensinamentos obtidos durante a


investigação, é facilitado pela existência de clima favorável à negociação entre os
diferentes agentes envolvidos: na empresa, por parte dos responsáveis pela tomada
de decisões e dos responsáveis pela implantação e acompanhamento das medidas
de prevenção indicadas, entre os trabalhadores, que devem ter consciência do direito
a condições de trabalho salubres e seguras, entre os membros da equipe de
investigação, que devem estar preparados para negociar e, sobretudo para
acompanhar a implantação do que for acordado.

A presença de representantes dos trabalhadores, particularmente dos sindicatos, tem


papel fundamental nas negociações. Entretanto, nem sempre isso é possível, dada a
fragilidade e mesmo a inexistência de sindicatos em muitas regiões do pais.

Além de difíceis, as negociações freqüentemente são conflituosas e desgastantes,


sobretudo no contexto brasileiro, no qual identificam-se mecanismos de atribuição de
culpa aos acidentados, práticas autoritárias por parte de empresários, ausência de
tradição de participação dos trabalhadores e de seus representantes em discussões
de questões relativas à saúde e segurança do trabalho.

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Ainda com relação a investigação de acidentes, há no Brasil uma certa confusão e, ou


recomendação de métodos nem sempre indicados para os tipos de episódios a serem
investigados. Além disso, não é raro que a realização de treinamentos e reciclagens
seja negligenciada, acarretando utilização inadequada do método adotado.

Existem formulários / questionários (check list) capazes de auxiliar na identificação de


"situações de risco grave e iminente" e de acidentes com máquinas, e que podem ser
de grande auxílio. Entretanto, é importante salientar que tais instrumentos não suprem
as carências de treinamento visando capacitar os profissionais na investigação de
aspectos não explorados pelos questionários.

É muito importante ter em mente que a investigação de um acidente é um processo


de construção coletiva que envolve os membros da equipe investigadora e os
interlocutores da empresa. No tocante ás empresas, acidentado(s), chefias, colegas
de trabalho e, quando existentes, responsáveis pela manutenção, pela aquisição de
materiais, técnicos e engenheiros de segurança, são pessoas que detém
conhecimentos acerca de aspectos que podem ser fundamentais na identificação das
"causas das causas" do episódio investigado. É indispensável que essas pessoas
sejam ouvidas. É também importante consultar laudos e documentos diversos
eventualmente existentes a respeito de máquinas e equipamentos direta ou
indiretamente envolvidos na ocorrência do acidente.

Evidentemente, o grau de aprofundamento vai estar relacionado a complexidade


maior ou menor do episódio sob investigação. Em casos simples, que requeiram
aplicação de medidas clássicas de engenharia de segurança, previstas na legislação,
a investigação pode ser dirigida à correção de tais falhas, tomando-se o cuidado de
prescrever medidas que abranjam a empresa como um todo e não apenas a situação
/ condição que deu origem ao acidente investigado.

Qualquer que seja o tipo de acidente a ser investigado, a equipe de investigação deve
procurar instruir as empresas existentes em sua área de atuação, utilizando os meios
de divulgação adequados à realidade local, acerca da importância de receber as
informações sobre a ocorrência dos acidentes o mais rapidamente possível,
particularmente em se tratando de casos graves. Alem disso, deve divulgar a
importância de preservar o local do acidente facilitando a coleta de informações que,
com raras exceções, deve ser realizada no próprio local de ocorrência.

É aconselhável que os dados sobre as condições de segurança da empresa, a medida


em que forem sendo obtidos, sejam organizados de forma sistematizada - arquivo
/banco de dados.

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