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ACIDENTES DE TRABALHO EM AÇOUGUES: PROPOSTA PARA AUMENTAR A

SEGURANÇA NO USO DA SERRA FITA

Sidnei Alves da Silva 


Uerley Magalhães Franchi 

RESUMO

Os acidentes de trabalho com serra fita em açougues podem causar aos açougueiros diversos
tipos de lesões, implicando em afastamentos que vão desde alguns dias até a aposentadoria por
invalidez. Pensando em minimizar estes acidentes, o presente trabalho procurou identificar as
causas dos acidentes de trabalho que acabam por mutilar açougueiros, causando cortes e
amputações em seus membros superiores, com a consequente perda de dedos, mãos e até de
braço no uso da serra fita. O método utilizado foi a pesquisa de campo em açougues, com o
levantamento de dados através de entrevista a acidentados, e questionário de múltiplas respostas
apresentado aos trabalhadores que operam a serra fita, a fim de entender as peculiaridades da
atividade e a cinemática do acidente, o que possibilitou apresentar uma proposta de melhoria
no sistema de segurança e proteção contra acidentes no uso da serra de fita, que se adotado pode
diminuir o número de acidentes desse tipo e suas sequelas.

Palavras-chave: Açougueiros. Açougues. Acidentes de trabalho. Serra de fita.

Engenheiro Civil graduado pela Universidade Guarulhos, sidneialvesbm@gmail.com


Mestrando em Fisioterapia do trabalho pela Universidade Cidade de São Paulo, Especialista em Reabilitação Gerontológica
pela Universidade federal de São Paulo e Graduado em Fisioterapia pela Universidade Cruzeiro do Sul
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ABSTRACT

Los accidentes de trabajo con sierra cinta en carnicerías pueden causar a los carniceros diversos
tipos de lesiones, implicando en alejamientos que van desde algunos días hasta la jubilación por
invalidez. En el presente trabajo se busca identificar las causas de los accidentes de trabajo que
acaban por mutilar carniceros, causando cortes y amputaciones en sus miembros superiores,
con la consiguiente pérdida de dedos, manos y hasta de brazo en el uso de la sierra cinta. El
método utilizado fue la investigación de campo en carnicerías, con el levantamiento de datos a
través de entrevistas a accidentados, y cuestionario de múltiples respuestas presentado a los
trabajadores que operan la sierra cinta, a fin de entender las peculiaridades de la actividad y la
cinemática del accidente, lo que posibilitó presentar una propuesta de mejora en el sistema de
seguridad y protección contra accidentes en el uso de la sierra de cinta, que si se adopta puede
disminuir el número de accidentes de ese tipo y sus secuelas.

Keywords: Carniceros. Carnicerías. Accidentes de trabajo. Sierra cinta


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1. INTRODUÇÃO

Segundo divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 27 de abril de 2017,


entre os anos de 2012 e 2016, mais de 250 milhões de dias de trabalho foram perdidos pelos
trabalhadores brasileiros, em razão de doenças e acidentes do trabalho, sendo também gastos
com benefícios acidentários cerca de 20 bilhões de reais.
Conforme publicado em 28 de abril de 2017 na página oficial do governo “Brasil, Economia e
Emprego”, é estimado pela Organização Internacional do Trabalho que as despesas e gastos
com doenças e acidentes do trabalho alcancem 4% de nosso Produto Interno Bruto (PIB), haja
vista que nosso país registrou, nos últimos 5 anos, uma média de 710 mil acidentes de trabalho,
ocorrendo também quase 3 mil mortes e por volta de 15 mil incapacitações permanentes. O
Ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira disse que a fim de propiciar uma cultura
prevencionista, com ambientes sadios e seguros aos trabalhadores, é preciso a criação de
instrumentos que estimulem a adoção de boas práticas em saúde e segurança do trabalho. O
Ministério do Trabalho também fez o lançamento do “Prêmio 28 de Abril”, no qual pretende
premiar, na Campanha Nacional de Prevenção de Acidente de Trabalho (Canpat 2018), os
profissionais que apresentem sugestões que visem a redução de doenças e acidentes do trabalho.
Seguindo a proposta apresentada pelo Ministério do Trabalho, a presente pesquisa procura
identificar as causas dos acidentes de trabalho que acabam por mutilar açougueiros, causando
cortes e amputações em seus membros superiores, com a consequente perda de dedos, mãos e
até de braço no uso da serra fita, ocasionando ainda prejuízos financeiros e sociais ao
trabalhador que pode ter sua renda diminuída, ao empregador que pode ter que pagar
indenizações e ao governo que tem que dar toda a assistência da Previdência Social, recebendo
deste funcionário muito menos do que acaba pagando no seu tratamento ou em sua
aposentadoria precoce.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Estatística de acidentes de trabalho


Em maio de 2017 foi divulgado no site da Previdência Social, o Anuário Estatístico de
Acidentes do Trabalho (AEAT- 2015), onde se observou em relação a 2014, uma queda de 14%
no número de acidentes de trabalho. Esse número caiu de 712 mil para 612 mil registros, porém
as principais causas de afastamentos, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças
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(CID 10) foram, com quase 60 mil casos, ferimentos do punho e da mão; com 38 mil lesões,
fratura ao nível do punho e da mão, e com quase 29 mil registros, traumatismo superficial do
punho e da mão. Dentre as seis atividades econômicas responsáveis por 25% do total desses
registros de acidentes, encontra-se o Comércio varejista de mercadorias em geral, no qual se
enquadra o açougue, que é Comércio varejista de carnes, cuja Classificação Nacional de
Atividades Econômicas (CNAE) é 4722-9/01, onde a Divisão 47 diz ser Comércio varejista, o
Grupo 472 indica Comércio varejista de produtos alimentícios, bebidas e fumo, a Classe 472-9
representa Comércio varejista de carnes e pescados - açougues e peixarias, e a subclasse 01
indica ser Comércio Varejista de carnes – açougue, enquanto a subclasse 02 significa peixaria.
Analisando o Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho 2015, filtrando por ano, por CNAE,
por acidentes típicos com e sem Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e por Unidade
da Federação, é possível constatar que enquanto no país houve um total de 591 acidentes típicos
em açougues e peixarias, o Estado de São Paulo concentrou 365 casos, conforme figura 1, ou
seja, 61,7% de todos os acidentes registrados no país, que equivalem a um acidente por dia.

Figura 1 – Análise de Acidentes do Trabalho por UF e CNAE 2.0

Fonte: Site Previdência Social

2.2 Conceitos relativos a Acidente de Trabalho, Risco e Responsabilidades


Conhecendo-se as definições e os conceitos de riscos e acidentes de trabalho e
responsabilidades podemos entender claramente as consequências ao governo, ao empregador
e ao trabalhador.

2.2.1 Acidente do Trabalho


A lei 8.213 de 24 de julho de 1991, em seu artigo 19, conforme redação dada pela Lei
Complementar nº 150 de 2015, conceitua acidente do trabalho como sendo aquele que ocorre
pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício
do trabalho, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda
ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
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2.2.2 Risco de Acidente do Trabalho


A Norma Regulamentadora Nº 3, que trata de embargo ou interdição, considera risco toda
condição ou situação de trabalho que possa causar acidente ou doença relacionada ao trabalho
com lesão grave à integridade física do trabalhador.

2.2.3 Incidente
Segundo De Cicco e Fantazzini, incidente é qualquer evento ou fato negativo com potencial
para provocar danos. É também chamado “quase-acidente”: situação em que não há danos
macroscópicos, no qual os autores exemplificam citando um “quase-acidente” de trânsito, onde
havia todas as condições para se materializar, mas que não ocorreu, “foi por um fio”. Esse
conceito foi utilizado na pergunta número 12 do questionário de pesquisa de campo.

2.2.4 Boas práticas para estabelecimentos comerciais


O Diretor de Vigilância Sanitária, da Subsecretaria de Vigilância à Saúde, da Secretaria de
Estado de Saúde do Distrito Federal aprovou a Instrução Normativa DIVISA/SVS Nº 16, em
23 de maio de 2017, a qual contempla o regulamento técnico sobre boas práticas para
estabelecimentos comerciais de alimentos e para serviços de alimentação, explicitando em seu
artigo 102 que “os locais com grande volume de corte ou desossa de carnes, ou que usam
máquinas do tipo serra-fita devem ser providos de equipamentos de proteção adequados para
os manipuladores que realizam tais atividades, como luvas de malha de aço.”

2.2.4 Responsabilidade objetiva do empregador


No campo jurídico, a responsabilidade por fornecer equipamentos de proteção, fiscalizar e
cobrar o seu uso cabe ao empregador e, conforme Código Civil, a responsabilidade objetiva do
empregador está transcrita nos seguintes artigos:
"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito."
"Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes."
"Art. 927: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
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implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem."


Incumbe ainda ao empregador, nos termos do art. 157 da CLT:
"I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho;
II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no
sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais.”

2.3 Descrição normativa da serra fita


A serra de fita é um equipamento muito utilizado em açougues devido a sua praticidade e
velocidade em realizar cortes com precisão. Por esse mesmo motivo se torna um causador de
acidentes com grande potencial lesivo, podendo causar desde um pequeno corte em um dedo
da mão, ou até mesmo a amputação do braço do trabalhador.
Segundo a Norma Regulamentadora Nº 12, Anexo IV e Anexo VII, a serra fita para corte de
carnes em varejo é uma máquina utilizada em açougue para corte de carnes, principalmente
com ossos, constituída por duas polias que guiam a fita serrilhada, sendo que o movimento da
polia inferior é tracionado, tendo suas partes móveis perigosas protegidas. A serra deve ser
operada por um único trabalhador localizado em frente à máquina, deixando as partes laterais
e traseiras livres, havendo constante exposição do operador à zona de corte ao manipular a peça
de carne a ser cortada. A serra deve ter um braço articulado vertical - empurrador, com
movimento pendular em relação à serra, para guiar e empurrar a carne e impedir o acesso da
mão à área de corte. As mesas de corte das máquinas fabricadas a partir de 24 de junho de 2011
devem possuir uma parte móvel para facilitar o deslocamento da carne, com um limitador de
curso para proteger a mão do operador, exceto para as serras com altura de corte não superior a
250 mm. A serra de fita deve possuir, no mínimo, um botão de parada de emergência, sendo
que os movimentos perigosos devem cessar no máximo em dois segundos quando a proteção
móvel for acionada.

2.4 Recomendação de uso e segurança da serra fita


Verificando manuais de operação de serra fita, dos respectivos fabricantes, é possível constatar
que não há unanimidade sobre o uso ou não de luvas de malha de aço no manuseio da serra fita,
pois há manuais que não citam a obrigatoriedade ou proibição do uso e outros que determinam
o uso como equipamento de proteção, mesmo o equipamento atendendo à NR 12.
Segundo o manual de instruções da empresa CAF Máquinas, elaborado em maio de 2017, para
uso das serras-fita, modelos SFO 2,55 T; SFO 2,82 T e SFO 3,10 T, não há recomendação ou
restrição do uso de qualquer tipo de luvas no manuseio do equipamento para realização de
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cortes de carnes, haja vista ter diversas proteções mecânicas, exigidas na NR-12, conforme
figura 2: A-Encosto Protetor da lâmina, B-Empurrador Vertical, C-Limitador de Fatias, D-
Empurrador Lateral e E-Mesa Móvel, que, se utilizadas conforme orientação do manual, não
haveria motivo para o acesso da mão à serra de corte durante seu funcionamento.

Figura 2 - Proteções mecânicas conforme manual da serra CAF, atendendo a NR 12.

Fonte: Manual de instruções CAF, 2017, p. 10.

Já, conforme divulga a empresa Metalúrgica Siemsen Ltda em seu manual de instruções,
revisado em 10 de março de 2016, para a serra-fita Skymsen, com empurrador, mesa móvel,
regulador de corte, lâmina 3.150 mm, modelo SI-315HD-N, no item “1. Introdução”, e subitens
“1.1 Segurança” e “1.1.12 Utilize luvas de aço durante a operação de corte.” É possível
constatar que prevê expressamente a necessidade do uso das luvas de malha de aço para a
proteção do operador do equipamento durante o corte de carne e ossos. Há também no item
seguinte “1.1.13 Este produto foi desenvolvido para o uso em cozinhas comerciais. É utilizado,
por exemplo, em restaurantes, cantinas, hospitais, padarias, açougues e similares.”, ou seja, esta
serra é de uso indicado para açougues, demonstrando que se trata de um equipamento de uso
comercial, cujo manual de instruções indica o uso de luvas de malha de aço.

2.5 Divulgação de acidente com a serra fita


A imprensa digital “Passando na Hora” divulgou em 29 de maio de 2017, que naquele mesmo
dia, no período da manhã, um jovem de 21 anos que trabalhava como auxiliar de açougueiro
em um supermercado, na cidade de Mossoró, sofreu um acidente na serra de carne e ossos,
ocasionando a amputação de seu braço, todavia, após o devido socorro houve o reimplante do
membro decepado no acidente. Considerando que o fato ocorreu em 2017, percebemos que não
é incomum acidente deste tipo nesta área profissional, e que pode ocorrer em qualquer açougue,
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e pelos mais diversos motivos: desde a falta de EPI ou a fiscalização de seu uso, até
equipamentos sem as devidas proteções ou esbarrões durante o manuseio da serra.

3. METODOLOGIA

O método utilizado foi a pesquisa de campo, visitando açougues na Capital Paulista, a fim de
conhecer os procedimentos realizados pelos usuários da serra fita.
Foi também realizado um levantamento de dados através de questionário objetivo de múltipla
escolha aplicado aos funcionários dos açougues, focado no manuseio da serra fita, entrevistas
informais para conhecer algumas peculiaridades da atividade profissional e observação da
operação do equipamento, em quatro açougues na capital Paulista, de modo a possibilitar a
propositura de melhorias no sistema de segurança e proteção contra acidentes no uso da serra
fita, no intuito de buscar a redução de números de acidentes, além da mitigação das lesões que
possam ocorrer num eventual acidente de trabalho.

3.1 Descrição dos açougues visitados


Os locais de trabalho analisados apresentavam características semelhantes quanto à disposição
das serras fita para uso dos funcionários. Por se tratar do ambiente onde as carnes eram
manuseadas e preparadas para disposição nos balcões e para venda, o chão estava limpo livre
de obstáculos, um pouco úmido devido a constante limpeza, as paredes estavam revestidas de
azulejos, a iluminação boa e suficiente para a atividade realizada e o local arejado. As serras
fitas, modelos atuais conforme a norma, ficavam com suas partes posteriores contra a parede,
travando o movimento da mesa móvel, em desacordo com a norma, conforme foto 1.

Foto 1 - Mesa móvel travada contra a parede.

Fonte: Elaborado pelo autor.


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Os usuários da máquina ficavam com as costas voltadas para os locais de trânsito dos demais
funcionários dos açougues (em desacordo com a descrição da NR 12). Alguns funcionários se
utilizavam da luva de malha metálica no manuseio das peças de carnes na serra, outros
utilizavam luva de malha sintética ou de borracha e alguns funcionários não utilizavam proteção
alguma, inclusive aquelas disponibilizadas nos equipamentos, tal como o empurrador lateral ou
o empurrador vertical (procedimento também em desacordo com a NR 12). O foco da pesquisa
ficou no procedimento de uso da serra fita, que se mostrou semelhante em todos os
estabelecimentos visitados.

3.2 Principal motivo causador de acidente com a serra fita


Segundo alguns funcionários entrevistados, nos diversos locais visitados, a serra com os
empurradores de segurança e proteção (conforme NR 12) dificultavam o manuseio da carne,
além de deixar o serviço lento. Considerando a necessidade de tornar a atividade mais dinâmica
e prática, os funcionários não utilizam os empurradores, inclusive travavam a mesa móvel
contra a parede, mantendo também a alavanca vertical levantada, travada para cima, e nessa
condição alguns funcionários optavam por utilizar luvas de aço, acreditando estarem mais
protegidos, e outros não as utilizavam, sob o argumento de que caso a serra viesse pegar um elo
da luva acabaria puxando os outros, podendo assim causar uma lesão maior do que um pequeno
corte. Ao serem questionados, aqueles que se propuseram a falar sobre essa atividade específica,
informaram que dentre os motivos dos acidentes com a serra fita, o principal é a falta de atenção
no manuseio da carne; e outros são: o nervo da carne que eventualmente é arrastado pelos dentes
da serra, sem ser cortado, puxando a peça de carne e juntamente a mão do usuário, e também a
pele de frango resfriado que pode ser arrastada pela serra, tracionando a carcaça do frango e a
mão do açougueiro enquanto este corta frango a passarinho, conforme foto 2.

Foto 2 - Açougueiro cortando frango a passarinho.

Fonte: Elaborado pelo autor.


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3.3 Questionário aplicado de múltipla escolha


Durante a entrevista aos trabalhadores dos açougues foram expostos os motivos daquela visita,
sendo fornecido o questionário, o qual deveria ser preenchido de forma anônima e com o
máximo de sinceridade, a fim de se tentar identificar situações ligadas aos acidentes de trabalho
na serra fita. Houve a participação de 30 funcionários voluntários, com idade média de 34 anos
(sendo o mais novo com 19 e o de maior idade com 58 anos), e tempo médio de serviço de 13
anos (sendo que o menor tempo era de 5 meses e o maior era de 40 anos na profissão),
respondendo as questões em formulário de papel, conforme modelo abaixo:

Questionário sobre manuseio de carne na serra de cortar carne e osso (serra fita)

1 Você é:
( ) Açougueiro.
( ) Ajudante de açougueiro.
( ) Balconista de açougue.
( ) Encarregado de açougue.
( ) Supervisor de açougue.
( ) Outra função. Qual?____________________________________________________

2 Você manuseia carne na serra de fita:


( ) Diariamente.
( ) Semanalmente.
( ) Mensalmente.
( ) Eventualmente no ano.
( ) Neste ano ainda não.

3 Você sempre utiliza luva de malha de aço para manusear a carne na serra de fita?
( ) Sim.
( ) Não.
( ) Nem sempre.

4 Por que você sempre usa a luva de malha de aço ao manusear carne na serra de fita?
( ) Porque sou fiscalizado pela chefia.
( ) Porque é obrigatório pela norma.
( ) Porque cuido da minha segurança.
( ) Porque já me acidentei.
( ) Eventualmente não uso.
( ) Outro motivo. Explique________________________________________________
_______________________________________________________________________

5 Por que você, eventualmente, não usa a luva de malha de aço ao manusear carne na serra de
fita?
( ) Eu uso.
( ) Porque o tamanho não é adequado.
( ) Porque atrapalha manusear a carne.
( ) Porque a empresa não fornece.
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( ) Outro motivo. Explique________________________________________________


_______________________________________________________________________

6 Você recebe treinamento ou capacitação anual, a fim de corrigir eventuais erros no manuseio
da serra de carne, ou conhecer novas técnicas?
( ) Sim.
( ) Não.

7 Na serra fita, qual você considera a melhor forma de manusear a carne?


( ) Com luvas de malha de aço.
( ) Com luvas de borracha sobre as luvas de malha de aço.
( ) Com luvas bracelete (mão e braço) de malha de aço.
( ) Com luvas de borracha sobre as luvas bracelete de malha de aço.
( ) Sem luvas de malha de aço, só com luvas de borracha.
( ) Outra. Cite qual_____________________________________________________

8 Você recebeu treinamento para manusear a serra de carne?


( ) Sim.
( ) Não.

9 Você já se acidentou operando a serra de carne e osso?


( ) Não.
( ) Sim. Quantas vezes nesse açougue? ________Quantas vezes em outro? ___________

10 Você já viu alguém se acidentar na serra de cortar carne e osso alguma vez?
( ) Não.
( ) Sim. Quantas vezes nesse açougue? ________Quantas vezes em outro? ___________

11 Quais foram os motivos dos acidentes referentes às questões 9 e 10? (Pode relacionar mais
de uma resposta!)
( ) Não utilizava equipamento de proteção individual (luva de malha de aço).
( ) Falta de atenção.
( ) Falha/quebra da serra de carne.
( ) A luva de malha de aço se rompeu ao tocar a serra.
( ) Outro. Cite _____________________________________________________________

12 Você já sofreu incidente (é um acidente que não causa lesão) operando a serra de carne?
( ) Não.
( ) Sim, sem lesão. Quantas vezes?
( ) Sim, mas causou uma pequena lesão, sem afastamento do trabalho. Quantas vezes? ______

13 Se a serra de carne e osso tivesse um sistema que identificasse a presença da luva de malha
metálica para permitir o funcionamento da serra fita, desligando-a caso a luva se afastasse da
área da mesa de corte, você acredita que o açougueiro estaria mais seguro, evitando acidentes?
( ) Sim, com certeza.
( ) Não, não faria diferença.
( ) Talvez esteja mais seguro.

14 Se a serra de carne e osso tivesse um sistema automático de segurança que desligasse a serra
pelo simples contato entre os metais da luva de malha com a fita de serra, você acredita que o
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açougueiro estaria mais seguro, evitando acidentes?


( ) Sim, com certeza.
( ) Não, não faria diferença.
( ) Talvez esteja mais seguro.

15 Se a serra de carne e osso tivesse um sistema automático de segurança que só ligasse a serra
quando a carne fosse empurrada contra a fita, e desligasse ao menor recuo da carne, você credita
que o açougueiro estaria mais seguro, evitando acidentes?
( ) Sim, com certeza.
( ) Não, não faria diferença.
( ) Talvez esteja mais seguro.

16 Caso você acredite que nenhuma das opções acima tornariam o processo mais seguro, qual
sua sugestão de melhoria de segurança no equipamento ou no processo de cortar carne na serra
de fita?
( ) Não tenho sugestões.
( ) Minha sugestão é ____________________________________________________
______________________________________________________________________

4. ANÁLISES DOS RESULTADOS/DISCUSSÃO

4.1 Percentuais do questionário


Avaliando os resultados da pesquisa, respondida pelos usuários da serra fita, tivemos:
Questão 1: 60% são açougueiros, 33% são balconistas e 7% são ajudantes de açougueiro;
Questão 2: 97% manuseiam a serra diariamente, 3% semanalmente;
Questão 3: 60% utilizam sempre a luva de malha de aço, 23% não usam, 17% nem sempre;
Questão 4: 43% usa a luva porque cuida da própria segurança, 30% porque é obrigado
pela norma, 10% por fiscalização da chefia, 10% eventualmente não usa e 7% não usa;
Questão 5 (visa ratificar a questão 3): 60% usa luva, 20% não usa porque atrapalha, 10%
porque a empresa não fornece; 7% devido ao tamanho inadequado e 3% tem que atender rápido;
Questão 6: 57% não recebe capacitação anual sobre uso da serra, 43% recebe;
Questão 7: 70% considera o uso de luvas de aço como a melhor forma de manusear a carne
na serra, 20% considera somente o uso de luvas de borracha e 10% sem luvas;
Questão 8: 60% afirma ter recebido treinamento para manusear a serra, 40% não teve;
Questão 9: 63% diz não ter se acidentado e 37% diz ter se acidentado na serra, total de 24
acidentes entre os participantes;
Questão 10: 70% diz ter visto alguém se acidentar, perfazendo 64 acidentes, 30% não viu;
Questão 11: Os motivos mais indicados dos acidentes, 18 casos por falta de atenção, 07 casos
de rompimento da luva, 05 por falta da luva e 01 por quebra da serra;
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Questão 12: 77% não sofreu incidente e 23% já sofreu incidente, no total de 10 casos;
Questão 13 (propõe um sistema que identificasse a presença da luva de malha metálica para
permitir o funcionamento da serra fita): 53% acredita que estaria mais seguro evitando
acidentes;
Questão 14 (propõe um sistema automático de segurança que desligasse a serra pelo simples
contato entre os metais da luva de malha com a fita de serra): 80% acredita que estaria mais
seguro evitando acidentes;
Questão 15 (propõe um sistema automático de segurança que só ligasse a serra quando a carne
fosse empurrada contra a fita): 53% acredita que estaria mais seguro evitando acidentes;
Questão 16: Houve apenas quatro sugestões, porém, uma propõe que os equipamentos recebam
melhorias e manutenção, sem citar quais; outra para que haja treinamento contínuo aos
funcionários e duas para que o funcionário tenha atenção quando manusear a serra. Logo
nenhuma resposta apresentou sugestão de melhoria na proteção do usuário.

4.2 Principais considerações


Considerando que a NR 12 e seus anexos não determinam ou proíbem o uso de luvas de aço no
manuseio da serra fita, mas na Instrução Normativa DIVISA/SVS Nº 16, da Subsecretaria de
Vigilância à Saúde, da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, está previsto que os
locais com grande volume de corte de carne, que usam máquinas do tipo serra-fita, devam ser
providos de equipamentos de proteção do tipo luvas de malha de aço, e que alguns manuais
recomendam o uso de tais luvas, mesmo tendo essas serras recebido empurradores que
aumentaram a proteção do operador, empurradores que na prática nem sempre são utilizados.
Considerando as respostas dos questionários, cuja análise indica que a maioria dos funcionários,
97%, operam a serra fita diariamente, que 60% usa luvas de malha de aço, que 43% utiliza luvas
de aço consciente da segurança, que 70% considera o uso de luvas de aço a melhor forma de
manusear a carne, que 60% recebeu treinamento para manusear a serra, que 63% nunca se
acidentou, e 77% nunca sofreu um incidente. Considerando que dentre os motivos dos
acidentes, a maioria dos entrevistados indicou a falta de atenção, e que dentre as questões que
propõem aumento da segurança do operador da serra fita, a que recebeu 80% de aprovação foi
a proposta do sistema de desligamento da serra caso haja o contato metálico entre a luva de
malha de aço e a fita de serra, segue abaixo a descrição da ideia de seu funcionamento.

4.3 Proposta de modernização na proteção contra acidentes no uso da serra fita


Diante dos resultados da pesquisa que indicam que os usuários da serra fita acreditam estar mais
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protegidos utilizando luvas de malha de aço e, considerando a aprovação de 80% à proposta do


sistema automático de segurança que desligue a serra pelo simples contato entre os metais da
luva de malha com a fita de serra, a melhor proposta de modernização deve ser esta na qual a
fita de serra, estando eletricamente energizada, ao ser tocada pela luva metálica, fecha-se um
circuito descarregando uma corrente em um sistema elétrico, o qual desliga o motor da serra e,
no mesmo instante, determina o travamento instantâneo da fita de serra. Para isto o equipamento
necessita de um sistema onde as polias guia e de tração, juntamente com a fita de serra, sejam
componentes isolados das demais partes do equipamento, as quais recebam uma baixa carga de
corrente contínua, de baixíssima amperagem, suficiente apenas para disparar o sistema de
desligamento do motor e de travamento da fita de serra, no caso de qualquer das luvas de malha
metálica (direita ou esquerda) entrar em contato a serra. Este sistema de proteção deve ser
composto por dois cabos metálicos encapados vindos da parte inferior da base da mesa de corte,
tendo em suas extremidades garras do tipo jacaré, a fim de serem conectadas ao par de luvas
bracelete ou luvas de malha metálica, sobrepostas por luvas de borracha no momento em que o
operador fizer uso da serra. Ao ligar o equipamento, o motor que movimenta as polias fica
energizado normalmente com corrente alternada na voltagem de projeto, sendo que o conjunto
das polias e fita de serra ficam carregadas eletricamente por corrente contínua. Se em qualquer
momento o trabalhador tocar a fita de serra, haverá o rompimento da luva de borracha com o
consequente contato dos dentes da fita com a malha de aço da luva funcionando, neste
momento, como um interruptor que se fecha, dando passagem à corrente contínua que aciona
um sistema (que pode ser de relés), o qual cortará a energia de funcionamento do motor,
disparando um sistema eletromecânico de travamento da fita de serra (por mordente na fita ou
outro tipo). Além de aliviar a tensão entre a fita de serra e as polias, com o intuito de evitar
danos aos eixos das polias e ao motor do equipamento, haja vista que, no instante em que a fita
de serra é travada, tanto o motor quanto as polias podem ainda ter um pequeno movimento de
rotação, friccionando sob a fita imobilizada.
Com este sistema de segurança, qualquer que seja o fato motivador que venha causar o contato
de qualquer parte das luvas metálicas com a fita, a lesão será minimizada, sendo que a fim de
evitar o acionamento incidental do sistema de segurança pelo contato entre as luvas e a fita de
serra, o usuário deverá sempre utilizar luvas de borracha sobre as luvas de malha de aço.
Cabe ressaltar que o trabalhador não estará sujeito a choque elétrico da corrente contínua da fita
de serra, pois o equipamento só estará energizado caso a serra seja ligada e, no caso de toque
entre a luva de malha metálica e a serra, o princípio da gaiola de Faraday garantirá que a energia
passe pela malha metálica sem afetar o organismo do trabalhador, tendo em conta que a energia
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busca sempre o caminho mais fácil.


O desenvolvimento de tal modelo de proteção ativa contra acidentes na serra fita, com os
devidos testes e ensaios e consequente atualização da legislação para conceber este tipo de
proteção ativa, permitindo aos construtores eliminarem as alavancas horizontais e verticais
(pois tais sistemas de proteção por vezes são negligenciados pelos trabalhadores), tornará o
equipamento mais prático, dinâmico e seguro para o uso dos açougueiros.
Já os detalhes técnicos construtivos podem ser tratados em um projeto piloto, ou até mesmo
como um trabalho de conclusão de curso de engenharia mecânica ou mecatrônica, analisando-
se qual deve ser a voltagem especifica na fita de serra, qual a amperagem ideal de operação do
sistema de segurança, de modo a não implicar em risco de lesão ao trabalhador. Também se
verificaria a necessidade de se isolar a mesa fixa e móvel, qual o processo mais indicado para
imobilizar a fita de serra, um sistema de freio da polia ou travamento instantâneo na fita; como
projetar o sistema de alívio de tensão entre a fita e as polias; a instalação de um botão para teste
de continuidade elétrica do sistema de proteção ativa, tudo isso ao menor custo, com a máxima
eficiência possível e com manutenção simples, levando-se em consideração a constante limpeza
por água a que o equipamento é submetido diariamente.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando os resultados obtidos com a pesquisa de campo, que indicam que a maioria dos
açougueiros faz uso da luva de aço como equipamento de proteção na operação da serra fita, e
por vezes não se utilizam das alavancas de proteção; realizando-se as modernizações dos
sistemas de segurança e proteção na serra fita, com o sistema ativo de corrente contínua, é
possível que tais melhorias tragam resultados bastantes satisfatórios e significativos no aumento
da sensação de segurança e na redução dos acidentes de trabalho com a serra fita, com o
consequente aumento do dinamismo no manuseio da carne tanto nos comércios do tipo
açougue, quanto em escala industrial nos frigoríficos.
Com este sistema de segurança, mesmo em caso de mal súbito, desmaio, desequilíbrio do
trabalhador, ou outro fator que venha causar o contato de qualquer parte do corpo, revestido
pela luva metálica, com a serra, a lesão será minimizada, assim este sistema prevenirá inclusive
acidentes por escorregões, esbarrões por outro funcionário ou causado pela própria carne, que
puxada pela serra, por qualquer motivo, venha puxar a mão do açougueiro a um inevitável
acidente, diminuindo, assim, prejuízos ao trabalhador, ao empregador e ao governo.
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6. REFERÊNCIAS

BRASIL. Economia e Emprego. Vítimas de acidentes de trabalho são lembradas nesta


sexta (28). Brasília, 28 abr. 2017. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-
emprego/2017/04/vitimas-de-acidentes-de-trabalho-sao-lembradas-nesta-sexta-28>. Acesso
em: 19 nov. 2017.

BRASIL. Instrução Normativa DIVISA/SVS Nº 16 DE 23 de maio de 2017. Diário Oficial do


Estado. Brasília, DF, 31 mai. 2017. Capítulo VI, Seção III, art. 102. Disponível em:
<https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=344225>. Acesso em: 08 jan. 2018.

BRASIL. Ministério do Trabalho. Norma Regulamentadora Nº 3 – Embargo ou Interdição.


Disponível em: <http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR3.pdf>. Acesso em:
07 jan.2018.

BRASIL. Ministério do Trabalho. Norma Regulamentadora Nº 12 – Segurança no Trabalho


em Máquinas e Equipamentos. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-
no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras/norma-regulamentadora-n-12-seguranca-
no-trabalho-em-maquinas-e-equipamentos>. Acesso em: 18 nov. 2017.

BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da


Previdência Social e dá outras providências. Brasília, 24 jul. 1991. Capítulo II, Seção I, art. 19.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213compilado.htm>. Acesso
em: 07 jan. 2018.

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Capítulo V, Título III, art. 186, 187 e 927. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 07 jan. 2018.

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trabalho em 2015. Brasília, 04 mai 2017. Disponível em:
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do-trabalho-em-2015/>. Acesso em: 19 nov. 2017.
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