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PETIÇÃO INICIAL PREVIDENCIÁRIA

Você, como advogado(a) previdenciário(a), é procurado(a) pela Sra. Domingas


Aurora, que não entende por que o INSS lhe concedeu o benefício de pensão por morte
de seu cônjuge, Domingos da Silva, por apenas 4 meses.
Ela narra que conviveu em regime de união estável com o falecido por muitos
anos, e que eles residiram juntos, na casa de sua propriedade, por pelo menos dez
anos. Apenas para regularizar a situação matrimonial, conta, eles formalizaram
casamento civil em 2015, e cerca de um ano depois, seu marido veio a falecer.
Segundo ela, o servidor do INSS disse que o período de casamento foi muito
curto, e que o seu marido nunca tinha pago as contribuições, “o que é mentira, porque
está tudo aí na carteira dele, ele sempre trabalhou na mesma empresa, sempre
descontavam dele tudo certinho”.
Com base nesse relato, e nos dados informados abaixo, elabore a petição
inicial da ação previdenciária adequada à tutela integral do direito de sua cliente,
observando o procedimento cabível e os demais requisitos processuais.

--- PROCESSO ADMINISTRATIVO ---

DADOS GERAIS

Pedido(s): Pensão por morte - Tipo: Cônjuge/Companheiro(a) - NB 21/001.001.001-1


Data de entrada do requerimento (DER): 10/05/2016

Dependente: Domingas Aurora


Data de nascimento: 27/06/1956
RG: 1234567890 - CPF: 123.456.789-00
Comprovante de residência: Travessa das Flores, nº 100, Santa Cruz do Sul/RS
CNIS: contribuinte individual, recolhimentos com base em renda mensal de R$ 2.000,00
Ocupação atual: confeiteira autônoma

Segurado instituidor: Domingos da Silva


Data de nascimento: 12/01/1950 - Data do óbito: 01/05/2016
CNIS: irregular, constando um vínculo como empregado da empresa ABCD Ltda., com
admissão em 01/01/2000, sem informação de encerramento, nem recolhimento de
contribuições previdenciárias.
DOCUMENTOS APRESENTADOS

- CTPS de Domingos da Silva, com uma única anotação de vínculo laboral junto à
empresa ABCD Ltda., na função de mecânico, com admissão em 01/01/2000 e
demissão em 01/01/2016, e remuneração mensal de 1 salário mínimo;
- certidão de óbito do falecido, datada de 01/05/2016, referindo residência na Travessa
das Flores, nº 100, Santa Cruz do Sul/RS, e casamento com a pessoa de Domingas
Aurora, sem informação de filhos;
- certidão de casamento realizado em 15/05/2015;
- conta de telefone em nome de Domingas Aurora, com endereço na Travessa das
Flores, nº 100, Santa Cruz do Sul/RS, no ano de 2016;
- cupons fiscais de eletrodomésticos (ar condicionado e televisão) em nome do falecido
com endereço de entrega na Travessa das Flores, nº 100, Santa Cruz do Sul/RS, em
2013;
- guia de IPTU em nome de Domingas Aurora, relativo ao ano de 2012, quanto ao imóvel
situado na Travessa das Flores, nº 100, Santa Cruz do Sul/RS;
- uma amostra de fatura de energia elétrica, em nome de Domingos da Silva, de cada
ano, desde 2007, quanto ao consumo do endereço residencial da Travessa das Flores,
nº 100, Santa Cruz do Sul/RS;
- ficha de hóspedes de pousada em Canela/RS, preenchida pelo casal, informando o
mesmo endereço para ambos, em 2013;
- fotografias;
- cartões amorosos;
- comunicação da decisão administrativa, recebida por via postal em 28/07/2016.

DECISÃO ADMINISTRATIVA

Trata-se de requerimento de concessão de pensão por morte a


cônjuge/companheiro, devidamente instruído com a certidão de óbito do segurado
instituidor.
Em consulta ao CNIS do segurado falecido Domingos da Silva, verifica-se o
registro de apenas um vínculo laboral, como empregado, junto à empresa ABCD Ltda.,
com início em 01/01/2000, mas não há informação contemporânea acerca do
encerramento do contrato de trabalho.
Porém, a anotação da CTPS, em virtude de seus detalhamentos (indicação do
desempenho da função de mecânico, percepção de 1 salário mínimo mensal ao longo
do tempo e da rescisão do contrato de trabalho em 01/01/2016), permite reconhecer o
vínculo empregatício - e assim, a manutenção da qualidade de segurado do instituidor
na data do óbito.
A requerente Domingas Aurora se casou com o falecido segurado Domingos da
Silva em 15/05/2015. Tratando-se de cônjuge, a qualidade de dependente é inconteste.
Comprovado o óbito, a qualidade de segurado do de cujus e o enquadramento
legal da requerente como sua dependente, é devida a pensão por morte.
Para fins de fixação do prazo de manutenção do benefício, deve-se observar o
regime previdenciário alterado pela Lei nº 13.135/2015, considerando que o segurado
Domingos da Silva faleceu de causas naturais em 01/05/2016, já no período de vigência
desse diploma legal.
Nos termos do art. 77, V, “c”, da Lei nº 8.213/1991, para cônjuge/companheiro,
a duração da pensão por morte será variável conforme a idade do beneficiário apenas
se o óbito ocorrer depois de vertidas 18 (dezoito) contribuições previdenciárias e de 2
(dois) anos do início do casamento/união estável.
Não sendo preenchido algum desses requisitos, a pensão por morte será
cessada após 4 (quatro) meses, consoante o disposto no art. 77, V, "b", da Lei nº
8.213/1991.
No caso, a despeito do vínculo laboral, a empresa jamais recolheu qualquer valor
a título de contribuição previdenciária devida pelo segurado – ou seja, não houve o
recolhimento de, no mínimo, 18 (dezoito) contribuições mensais à Previdência Social
até a data do óbito.
Além disso, a dependente Domingas Aurora se casou com o segurado Domingos
da Silva em 15/05/2015, tendo sobrevindo o falecimento deste em 01/05/2016, de modo
que o vínculo conjugal foi mantido por período inferior a 2 anos.
Os documentos apresentados para demonstrar união estável em período
anterior ao casamento celebrado em 15/05/2015 não se qualificam como provas
materiais hábeis para comprovar a existência de vida em comum, bem como a
dependência econômica, nos termos do art. 22 do Decreto nº 3.048/99, que assim
dispõe:

“Art. 22. A inscrição do dependente do segurado será promovida quando do


requerimento do benefício a que tiver direito, mediante a apresentação dos
seguintes documentos:
I - para os dependentes preferenciais:
(...)
b) companheira ou companheiro - documento de identidade e certidão de
casamento com averbação da separação judicial ou divórcio, quando um dos
companheiros ou ambos já tiverem sido casados, ou de óbito, se for o caso;
(...)
§ 3º Para comprovação do vínculo e da dependência econômica, conforme o
caso, devem ser apresentados no mínimo três dos seguintes documentos:
I - certidão de nascimento de filho havido em comum;
II - certidão de casamento religioso;
III - declaração do imposto de renda do segurado, em que conste o interessado
como seu dependente;
IV - disposições testamentárias;
V - anotação constante na Carteira Profissional e/ou na Carteira de Trabalho e
Previdência Social, feita pelo órgão competente;
VI - declaração especial feita perante tabelião;
VII - prova de mesmo domicílio;
VIII - prova de encargos domésticos evidentes e existência de sociedade ou
comunhão nos atos da vida civil;
IX - procuração ou fiança reciprocamente outorgada;
X - conta bancária conjunta;
XI - registro em associação de qualquer natureza, onde conste o interessado
como dependente do segurado;
XII - anotação constante de ficha ou livro de registro de empregados;
XIII - apólice de seguro da qual conste o segurado como instituidor do seguro e
a pessoa interessada como sua beneficiária;
XIV - ficha de tratamento em instituição de assistência médica, da qual conste o
segurado como responsável;
XV - escritura de compra e venda de imóvel pelo segurado em nome de
dependente;
XVI - declaração de não emancipação do dependente menor de vinte e um anos;
XVII - quaisquer outros que possam levar à convicção do fato a comprovar.
(...)”

Ausente o preenchimento dos requisitos especiais de carência especial e tempo


mínimo do vínculo familiar, a dependente somente faz jus à percepção de pensão por
morte pelo período mínimo de 4 meses.
Assim, fica a dependente Domingas Aurora ciente do deferimento do seu
requerimento de pensão por morte do cônjuge (NB 21/001.001.001-1), pelo período de
4 meses (DIB: 01/05/2016 e DCB: 01/09/2016), findo o qual o benefício será cessado,
nos termos do art. 77, § 2º, V, “b”, da Lei 8.213/91, com a redação dada pela Lei nº
13.135/2015.

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