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Universidade Estadual Paulista – UNESP, Faculdade de Ciências e Tecnologia – FCT, Departamento de Educação,
Presidente Prudente, SP. E-mail: rafaela_reginato@hotmail.com
RESUMO
Este artigo versa sobre a concepção de Winnicott sobre a agressividade infantil, abordando suas raízes e
apontando o caráter das manifestações agressivas à medida em que o indivíduo se desenvolve, bem como
o modo como o fator destrutivo relaciona-se com o processo de amadurecimento. Para atingir os objetivos
propostos, foram realizados, nesta pesquisa de natureza bibliográfica, levantamento e análise de obras de
Winnicott. O estudo mostrou que a agressividade, conforme os pressupostos da teoria winnicottiana, não
se restringe a uma reação à frustração, sendo entendida como elemento necessário para o transcorrer do
processo evolutivo que, quando ocorre de modo saudável, culmina no desenvolvimento de características e
capacidades indispensáveis para o bem-estar psíquico e para os relacionamentos interpessoais.
Palavras-chave: Winnicott; psicanálise; agressividade infantil; desenvolvimento emocional; ambiente
facilitador.
ABSTRACT
This article concerns Winnicott's concept of infantile aggression, addressing root causes. The nature of
aggressive manifestations while the individual is developing, as well as how this destructive influence
relates to the maturing process, is discussed. A bibliographical survey and analysis of Winnicott's work was
carried out to achieve the proposed objectives. Conforming to Winnicott's theoretical assumptions, the
study shows that aggression is not solely a reaction to frustration but should be understood as a necessary
part of the course of the evolutionary process which, when it takes place in a healthy way, results in the
development of characteristics and capabilities vital for psychological well-being and interpersonal
relationships.
Keywords: Winnicott; psychoanalysis; infantile aggression; emotional development; facilitating
environment
Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 13, n. 4, p.01-05 out/dez 2016. DOI: 10.5747/ch.2016.v13.n4.h273
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Assim, a pesquisa tem como objetivo consegue reconhecer e é a partir dele que os
geral investigar as raízes da agressividade infantil alicerces para a saúde mental serão firmados. Em
e a sua influência no desenvolvimento emocional, suas obras, Winnicott utiliza o termo mãe
segundo as contribuições de Winnicott - um dos suficientemente boa para se referir à mãe que se
principais autores da psicanálise que adapta quase perfeitamente às necessidades do
investigaram o desenvolvimento infantil. bebê em seu período inicial. Para o autor, é por
meio dessa adaptação da mãe que o bebê tem a
METODOLOGIA ilusão de possuir domínio sobre os objetos
Para atingir os objetivos propostos, foram externos. Dessa forma, os cuidados maternos
realizados, nesta pesquisa de natureza propiciam a constituição de um mundo que
bibliográfica, levantamento das obras de atende aos desejos e às expectativas da criança.
Winnicott que apresentam contribuições Conforme Winnicott (2008), nessa etapa
importantes ao tema, bem como análise dessas do desenvolvimento emocional, a mãe ainda não
contribuições. é vista pela criança como um objeto
independente dela, e sua agressividade está
RESULTADOS fortemente ligada ao próprio ato de
Winnicott (2005b, p. 102) considera a sobrevivência e alimentação, ou seja, aos
agressividade algo inerente à constituição do ser impulsos implacáveis (ruthless), embora não haja
humano, possuindo dois significados: “Por um intenção de destruir.
lado, constitui, direta ou indiretamente, uma Quando a criança está excitada, ela
reação à frustração. Por outro lado, é uma das realiza um ataque imaginário ao corpo da mãe,
muitas fontes de energia de um indivíduo.” A por não perceber que se trata do mesmo corpo
agressividade, nos primórdios da vida, está que valoriza quando está tranquila, “Trata-se da
associada ao movimento corporal que o bebê realização do desenvolvimento emocional em
realiza ainda no ventre da mãe, possuindo a que o bebê experimenta pulsões eróticas e
função de estabelecer o eu (self) e o não-eu. agressivas em relação ao mesmo objeto, ao
Assim, mesmo tempo.” (WINNICOTT, 2000, p. 113)
Podemos compreender que Para o bebê, existiriam duas mães
essas primeiras pancadas distintas, denominadas por Winnicott (2000) de
infantis levam a uma mãe-objeto e mãe ambiente. A mãe-objeto seria
descoberta do mundo que aquela que satisfaz as necessidades urgentes do
não é o eu da criança e ao bebê e é alvo da destruição nos momentos de
começo de uma relação com excitação. Em contrapartida, a mãe-ambiente
objetos externos. O que refere-se àquela que recebe sua afeição e cuida
muito em breve será um ativamente do bebê, auxiliando no
comportamento agressivo desenvolvimento do sentimento de segurança.
não passa, portanto, no O bebê divide a mãe em duas entidades
início, de um simples distintas, que possuem funções também
impulso que desencadeia um diferentes. Enquanto a mãe-objeto tem a função
movimento e aos primeiros de sobreviver aos impulsos implacáveis, a mãe
passos de uma exploração. A ambiente deverá permanecer sensível às
agressão está ligada, desta necessidades da criança e criar um ambiente
maneira, ao estabelecimento acolhedor que receba os atos reparadores e se
de uma distinção clara entre mostre gratificado.
o que é e o que não é o eu. O autor acredita que esse tipo de
(WINNICOTT, 2008, p. 264) agressividade está associado ao amor, sendo
assim, a perda da mãe pela criança, nesse
Se analisarmos os primórdios do estágio, significaria, também, a perda da
desenvolvimento infantil, encontraremos uma capacidade de amar e, consequentemente, de se
estreita relação entre o amor primitivo e os relacionar com os objetos externos.
impulsos destrutivos, pelo fato de os desejos do Winnicott (1975) nos traz uma
ID nunca serem satisfeitos plenamente. importante contribuição acerca do valor positivo
Segundo Winnicott (2008), o cuidado da destrutividade que ocorre neste ponto do
físico é a primeira forma de amor que o bebê desenvolvimento humano. Para o autor, o
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REFERÊNCIAS
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