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Fichamentos dos textos da

bibliografia
Sociologia Alemã

Arthur Fiorin Ragazzi


Fábio Gonçalves da Matta
Giovanni Resano Lopes
Igor Copoli Ramazzine
Jacqueline Arantes

Araraquara
06/12/2018
Fichamentos

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo, Companhia das
Letras, 2004.
No primeiro decênio do século XX, o sociólogo alemão Max Weber publica o livro A
ética protestante e o “espírito” do capitalismo, onde o autor procura, pormenorizadamente,
analisar os tipos de conduta moral dos representantes históricos do protestantismo ascético
puritano, e suas consequências na vida secular. Weber considera que os principais
representantes do protestantismo, para a finalidade de seu estudo, são: o Calvinismo,
especialmente na forma em que assumiu na Europa Ocidental em meados do século XVII; o
Pietismo; o Metodismo; e as seitas que se derivaram do movimento Batista.

Max Weber desenvolve um estudo articulando fenômenos da economia – o


capitalismo moderno – com a tradicional teologia protestante. Seu intuito foi tentar construir
instrumentos que pudesse orientar as causas materiais a explicação da gênese e do
desenvolvimento do capitalismo moderno dentro de uma perspectiva cultural, ou seja, como
uma conduta de vida cujos fundamentos morais e éticos estão fixados na tradição dos povos
de origem protestante puritana.

Para desenvolver seu estudo, Weber concebe um meio ideal típico de orientação. Em
que as construções possibilitem determinar um local tipológico de um fenômeno histórico.
Dessa maneira será possível ver os fenômenos aproximados de um recurso técnico que facilite
uma disposição e terminologia mais inteligíveis, ou seja, modelos ideias que servem de guia a
investigação empírica.

Ao analisar os pensamentos oriundos dos movimentos religiosos que emergiram no


seio da Reforma Protestante, Weber estava interessado na influência daquelas sanções
psicológicas que, originadas da crença religiosa e da prática da vida religiosa, orientavam a
conduta e a ela prendiam o indivíduo. O luteranismo não ganha muita relevância, pois ao
luteranismo, em razão de sua doutrina de graça, faltava justamente uma sanção psicológica da
conduta sistemática que compelisse à racionalização metódica da vida.

Por outro lado, o Calvinismo, juntamente com outras seitas do protestantismo ascético,
irá ganhar bastante destaque na perspectiva levantada pelo autor, isto é, preocupar-se com o
resultado dessas sanções psicológicas, pois são elas que condicionam o caráter racional do
ascetismo protestante. Assim, Weber explica que pelo calvinismo será possível um processo
de relações da ética protestante com o desenvolvimento do espírito capitalista, pois se destaca

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na sua orientação o puritanismo. Por puritanismo, entende-se que é uma orientação espiritual
característica da Grã-Bretanha e que possui uma adesão à doutrina da predestinação, e um
repúdio total da vida mundana das frivolidades. O que Weber chama de “espírito” do
capitalismo não deve ser interpretado como uma finalidade de vida neste contexto, mas
apenas tornar claro o impacto que os motivos religiosos tiveram no processo de
desenvolvimento da moderna cultura secular.

Uma das principais características do dogma calvinista é a doutrina da predestinação.


Para os predestinacionistas, apenas uma parte da humanidade será salva e o resto condenada,
tornando a “eleição pessoal” o ponto mais importante para a ética na doutrina da
predestinação (Weber, 1996). O grande objetivo para o calvinista é a busca pela salvação
eterna (passagem do estado natural para o estado de graça). Percebe-se que a autoconfiança é
fundamental para a vida do crente e que o trabalho intensificado se torna o principal meio,
pois é o mais recomendado e adequado para cumprir sua finalidade, isto é, ser eleito por Deus
ao atingir o estado de graça. Configura-se, neste contexto, uma vida extremamente ascética,
pois o trabalho se torna o grande instrumento de ascese, levando o crente a uma ordenação
racional sistemática da vida moral. É neste sentido que o autor afirma que o calvinismo foi
historicamente um dos agentes educacionais do espírito do capitalismo.

Esta doutrina concebe uma vida eticamente sistemática onde o poder do ascetismo
protestante pode ser percebido principalmente pelo espantoso grau de disciplina desse caráter
em seus adeptos (Weber, 1996). Weber está tão interessado no impacto em que este
comportamento ascético causou na vida prática, que ele afirma ser um ponto fundamental de
sua obra o processo onde “a Reforma retirou dos mosteiros o ascetismo racional cristão e seus
hábitos, e os colocou a serviço da vida ativa no mundo” (Idem, 1996, p. 180).

Um fator que alimenta bastante a doutrina da prova é, justamente, a aparente incerteza


da salvação divina que cada crente possui em sua subjetividade. A idéia da prova emerge no
seio da doutrina da predestinação e possui uma importância prática como base psicológica
para a moralidade racional, pois estrutura a conexão entre fé e conduta.

O preceito de aumentar a gloria de Deus nunca foi levado tão a serio como foi entre os
calvinistas, onde toda a teleologia de sua conduta ética está na salvação, ou melhor, no
aumento da glória de Deus. É a santificação do homem através do trabalho ascético enquanto
vocação divina. Neste contexto, formou-se uma conduta bastante metódica, racional e
objetiva, desenvolvendo, assim, um método sistemático de conduta por parte dos crentes. Os

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calvinistas acreditam que Deus ajuda somente quem se ajuda, condenando todos os tipos de
comportamento ocioso. Dessa forma, o calvinista pode “construir” sua própria salvação, pois
o desempenho pessoal de cada um dos crentes no trabalho ascético, passa a tornar um fator
determinante em seus objetivos, uma vez que a conduta ascética do trabalho de cada um é o
grande meio para atingir sua finalidade: a divina eleição pessoal.

WEBER, M. Conceitos sociológicos fundamentais. In: Economia e sociedade: fundamentos


da sociologia compreensiva. V. 1, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 2000, ps. 3 – 35;
Weber inicia o capítulo “conceitos sociológicos fundamentais” esclarecendo seus
fundamentos metodológicos e sociológicos. Para o autor, toda a ciência busca a evidência,
sendo a evidência de caráter racional ou de compreensão intuitiva e emocional, a depender da
ciência. Haverá caráter racional na evidência caso ela seja compreendida intelectualmente e
posta de forma transparente, como visto em equações matemáticas, em que a evidência é
posta por meios racionais criados com a conexão de sentidos.

Quando os meios racionais não nos permitem ter evidência, isto é, quando nosso meio
intelectivo não é capaz de alcançar sentido no que se estuda por divergir de nossos valores
últimos, deve-se ter então este objeto enquanto dado; tornar inteligível aquilo que se estuda.

As perturbações de caráter sociológico que podem ser estudadas, por mais que
apresentem caráter em sua formação, como o estudo de conflitos militares ou crises
econômicas, é importante que o foco recaia, primeiramente, sobre o processo racional, ou
seja, o que deveria ocorrer, e o que de fato ocorreu, isto é, a perturbação.

Assim, pode-se dizer que o método compreensivo da sociologia tem caráter


racionalista, pois submete a vida à razão em busca de compreendê-la. As ações, processos e
objetos devem ser submetidos a um processo racional, para entender a sua existência.
Entende-se a razão enquanto melhor meio capaz de garantir evidências em torno destes
fenômenos, pois eles todos possuem motivos racionais de ser.

Tendo clara a forma de se atingir a compreensão no meio sociológico, tem de se


entender o seu objeto de estudo, que são as ações sociais. Não se confunde ações sociais a
qualquer ação, a ação social é aquela que ocorre levando em consideração o indivíduo ou um
grupo de indivíduos que está além da ação que se realiza. A atividade econômica só é uma
ação social quando é realizada com a expectativa de reação de um terceiro. Percebe-se então
que a ação social não só se caracteriza enquanto geradora de reação, mas tem sua existência
voltada para a expectativa desta reação. Além disso, a ação social pode ser praticada

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simplesmente por uma questão de valores, isto é, agir de forma ética por possuir valores que
foram aderidos ao comportamento e não porque se espera uma reação desta ação.

A ação social também não é toda ação homogênea, nem mesmo se tem sempre claro a
distinção se determinada ação foi social ou não. Quando todos reagem por uma questão de
preservação, por exemplo, essa ação é homogênea, mas não é social; todas as pessoas não
reagiram por fatores sociais, mas para preservarem-se. Quando o indivíduo age de acordo com
uma tendência social essa ação também pode não ser social. Por exemplo, caso a sociedade
estabeleça que todos devem acordar pela manhã, e um determinado indivíduo o faz, pode
fazê-lo por influência social ou meramente porque assim o foi; no segundo caso, a ação não é
social.

Além da ação social, Weber preocupa-se com a formulação do conceito de relação


social. A relação social pressupõe uma característica que a conceitua: reciprocidade. A
reciprocidade numa relação social pode ser de qualquer ordem, amigável, violenta, amorosa.
O que denominará uma relação enquanto social é que os que se encontram nessa relação
esperam no outro o que tem em si. Isso não significa que o conteúdo de uma relação social
não pode ser alterado, ou seja, uma relação que teve por razão de existência a amizade, passa
a ter como razão de existência a inimizade ou o amor. Na política, em que essa transição pode
ser recorrente, uma relação pautada em solidariedade pode passar a ser um embate de
interesses gerador de inimizade. Esse sentido que se dá às relações é chamado por Weber de
ordem.

As relações não estão sujeitas apenas aqueles que participam dela, está sujeita também
ao que é exterior e pode, pela motivação que for buscar o rompimento desta relação ou gerar
influência sobre ela, favorecendo certa ordem sobre a relação. Um Estado que entra em guerra
pode, muitas vezes, ter este tipo de motivação.

A ordem de uma relação ter por motivação a sustentação de uma tradição é a mais
primitiva e universal forma de ordem, isto porque, comumente, surgiram de oráculos e
entidade de caráter sagrado, a submissão à ordem da relação era uma questão de crença dos
que faziam parte dela.

As relações sociais possuem subtipos que devem ser explicitados. Weber considera
relação comunitária quando a relação tem o objetivo de gerar integração social e o sentimento
de união entre eles. Há, ainda a relação associativa, em que há um acordo racionalmente
estabelecido e declarado pelos que fazem parte da relação.
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Por fim, fica claro que, neste texto, Max Weber apresenta preocupação em explicitar
seu método de estudo sociológico e denominar seu objeto de estudo e da própria ciência na
qual se destaca; as ações sociais, enquanto ações geradas por motivação que está além do
indivíduo que age e que possui uma expectativa de reação sobre aquilo que faz. E as relações
sociais, enquanto relações que tem por princípio a reciprocidade entre aqueles que fazem
parte dela, e que pode ser de diversas ordens e cujas ordens podem se alterar ao longo da
relação.

WEBER, Max Os tipos de dominação. In: Economia e sociedade: fundamentos da sociologia


compreensiva. V. 1, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 2000, ps. 139 – 198;
Para Max Weber a dominação está na probabilidade de encontrar obediência a um
determinado mandado. Para que esse mando seja realizável é preciso um grupo de interesses
podendo ser motivados pelo afeto ou costume que legitime as relações entre dominantes e
dominados com bases jurídicas para a produção da confiança. Essas bases de legitimidade de
dominação são somente três: legal, tradicional e carismática, cada uma possui uma estrutura
sociológica fundamentalmente diversa do quadro de meios administrativos.

O objetivo do autor é discorrer sobre os principais tipos de dominação: legal,


tradicional e carismático. O método que utiliza é o comparativo-reflexivo.

A dominação legal no seu tipo mais puro é a dominação burocrática. Sua ideia básica
é: qualquer direito pode ser criado e modificado mediante um estatuto sancionado
corretamente quanto à forma. O tipo do funcionário é aquele de formação profissional, cujas
condições de serviço se baseiam num contrato, com um pagamento fixo, graduado segundo a
hierarquia do cargo e não segundo o volume de trabalho, tendo o direito de ascensão
conforme regras fixas. O dever e a obediência estão graduados numa hierarquia de cargos,
subordinados aos superiores, e dispõe de um direito de queixa regulamentado. A base do
funcionamento técnico é a disciplina do serviço.

A dominação tradicional em virtude da crença na santidade das ordenações e dos


podres senhoriais existentes. Seu tipo mais puro é o da dominação patriarcal. A associação
dominante é de caráter comunitário. O tipo daquele que ordena é o “senhor”, e os que
obedecem são “súditos”, enquanto o quadro administrativo é santificado pela tradição: por
finalidade. O conteúdo das ordens está fixado pela tradição, cuja violação desconsiderada por
parte do senhor poria em perigo a legitimidade do seu próprio domínio, que repousa
exclusivamente na santidade delas.

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No quadro administrativo, as coisas ocorrem exatamente da mesma forma. Ele consta
de dependentes pessoais do senhor (familiares ou funcionários domésticos) ou de parentes, ou
de amigos pessoais (favoritos), ou de pessoas que lhe estejam ligados por burocráticos de
“competência” como esfera de jurisdição objetivamente delimitada. O tipo mais puro dessa
dominação é o sultanato. Todos os verdadeiros “despotismos” tiveram esse caráter, segundo o
qual o domínio é tratado como um direito corrente do exercício do senhor. Os “funcionários”
típicos do Estado patrimonial e feudal são empregados domésticos inicialmente encarregados
de tarefas puramente de administração doméstica (camareiro, escanção, mordomo).

A dominação carismática em virtude de devoção afetiva à pessoa do senhor e a de seus


dotes sobrenaturais (carisma) e, particularmente: a faculdades mágicas, revelações ou
heroísmo, poder intelectual ou de oratória. Seus tipos mais puros são a dominação do profeta,
do herói guerreiro, e do grande demagogo.

Para a subsistência continuada da submissão efetiva dos dominados, é de sua


importância em todas as relações de domínio o fato primordial da existência do quadro
administrativo e de sua atuação ininterrupta no sentido da execução das ordenações e de
assegurar (direita ou indiretamente) a submissão a elas. A segurança dessa ação realizadora do
domínio é o que se designa pela expressão “organização”. Por isso o postulado propriamente
dito era: tinha que ser possível conseguir unanimidade, já que o contrário comportava erro e
debilidade. Ou seja, enquanto aspire com êxito, a confiança daqueles, agirá estritamente
segundo seu próprio arbítrio (democracia de caudilho) e não com funcionário, consoante a
vontade, expressa ou suposta (num “mandato imperativo”) dos eleitores.

WEBER, Max. Sociologia da dominação. In: Economia e sociedade: fundamentos da


sociologia compreensiva. V. 2, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1999, ps. 187 –
516;
Max Weber discorre considerações relevantes sobre o tema da sociologia da
dominação, mais precisamente sobre suas estruturas e seu funcionamento. Para o referido
autor, a dominação faz parte da composição da ação social, destacando-se como um de seus
elementos de maior importância, pois todas as suas áreas mostram-se profundamente
influenciadas por esse caso especial de poder, que é a dominação.

Retrata o poder econômico como “uma consequência frequente, muitas vezes


deliberada e planejada, da dominação”, apesar de fazer uma ressalva de que nem todo poder
econômico manifesta-se como dominação, mesmo porque nem toda dominação se utiliza de
meios coativos econômicos para sua manutenção.
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Porém, é lógico que a forma como os meios econômicos são utilizados para
manutenção da dominação, influencia decisivamente o caráter da estrutura de dominação, que
é, quase sempre, um relevante fator para a economia, além de ser condicionado por ela
também.

Weber define dominação como “a possibilidade de impor ao comportamento de


terceiros a vontade própria, pode apresentar-se nas formas mais diversas”, por exemplo, como
o direito que a lei confere a um indivíduo de fazer valer seu direito sobre um ou vários outros.

Disse ainda que dominação é “uma situação de fato, em que uma vontade manifesta
(„mandado‟) do „dominador‟, ou dos „dominadores‟, quer influenciar as ações de outras
pessoas (do „dominado‟ ou dos „dominados‟) e, de fato, as influencia de tal modo que estas
ações, num grau socialmente relevante, se realizam como se os dominados tivessem feito do
próprio conteúdo do mandado a máxima de suas ações („obediência‟)”.

Temos de um lado a dominação resultante da situação de monopólio e, de outro lado, a


dominação em virtude da autoridade. Nesta há um poder de mando de alguém e o dever de
obediência de outrem, naquela o detentor do monopólio pode obrigar outros indivíduos,
mediante sua ação, a praticarem um comportamento que lhe convém, apesar de não lhes
impor nem mesmo o simples dever de sujeitar-se a esta dominação, sendo que uma situação
monopolizadora, em virtude da situação de interesses, pode gradualmente se transformar em
dominação autoritária.

Em um sentido mais amplo, não apenas as trocas no mercado, como também as


relações de troca da vida social produzem dominação, assim como não somente nas relações
ou mercados privados existem situações de dominação.

Weber ressalta que justamente pela falta de regulamentos, a dominação condicionada


pelo mercado, ou por situações de interesses, pode ser algo muito mais opressor do que uma
autoridade expressamente regulamentada na forma de deveres de obediência.

A dominação pode ser uma relação bilateral, como aquela que se estabelece entre os
funcionários de departamentos diferentes dentro de uma mesmo organização, onde existe, em
verdade, uma subordinação recíproca quanto ao poder de mando para cada grupo dentro da
área de atuação do outro.

Weber conclui dizendo que toda administração necessita, de alguma forma, da


dominação, pois para gerenciar uma organização se faz necessário de algum poder de mando

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esteja concentrado nas mãos de alguém. Contudo, é válido ressaltar que hodiernamente, na
administração democrática, em contraponto à teoria acima descrita, o chamado "dominador" é
considerado servidor dos demais indivíduos que compõem a comunidade da organização.

Como foi possível observar, as leituras das obras de Weber são absolutamente
indispensáveis para aqueles que pretendem aguçar seu senso crítico diante da vida cotidiana,
mais precisamente, ter consciência sobre os aspectos políticos e sociais que circundam a
ciência da administração e a sociologia.

SIMMEL, Georg. A sociabilidade: (Exemplo de sociologia pura ou formal). In: SIMMEL,


Georg. Questões fundamentais da sociologia . 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. cap. 3, p.
59-82. v. 1.
A sociedade é definida por Simmel como a soma dos indivíduos em interação. A
sociabilidade encontra-se conectada a tudo aquilo que existe no individuo: como vontades,
objetivos e finalidades. Esse ponto tem a função de causar efeitos sobre o outro e receber
esses efeitos dos outros, como por exemplo: a raiva, por isso ela é uma característica da
sociedade.

Para o entendimento da sociabilidade, Simmel propõe o conceito de sociação que


analisa o que está exterior ao conteúdo, pois diante da forma com que os indivíduos dissolvem
seus interesses para a união dos demais interesses para realiza-los. Para que não seja
comparado como sinônimo de interação é importante ressaltar que a sociabilidade procura
autonomia nas suas interações, pois tem objetivos gerais e procura solucioná-los independente
da realidade existente. As interações que aqui se traduz são as que determinam os impulsos
que buscam as finalidades individuais que gerem uma relação de convívio-atuação com
referência ao outro, ou seja, um estado de correlação com os outros.

A sociabilidade, que é parte lúdica da sociação, seria apenas para os associados dentro
de um espaço e tempo, não poderia haver compartilhamento entre terceiros, por isso não se
pode acumular. O egoísmo deverá ser regulamento, pois “o individuo que tem interesses fora
do círculo associado não entra no processo de sociabilidade”. Portanto para haver
sociabilidade não pode existir em consonância com as características individuais.

Essa proibição de existência do individualismo gera o entendimento que as formas


criadas pelas finalidades e pelas matérias da vida se desprendem dela e se tornam finalidade e
matéria de sua própria. Colocando em exemplos, o jogo em que ações podem ser sintetizadas
em caçar, conquistar, comprovar forças físicas e espirituais e competir assimilam das

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realidades da vida somente o que pode se conformar à sua própria natureza e ser absorvido em
sua existência autônoma.

O sentido do tato tem um grande significado na sociedade, uma vez que leva
autorregulação do indivíduo em sua relação com os outros, e num nível em que nenhum
interesse egoísta, externo ou imediato, possa assumir a função reguladora. Assim, esse caráter
objetivo, que gira em torno da personalidade, precisa se separar de sua função como elemento
da sociabilidade. O mesmo se dá com o que há de mais puro e profundo na personalidade:
tudo o que representa de mais pessoal na vida, no caráter, no humor, no destino, não tem
qualquer lugar nos limites da sociabilidade, pois é um lugar superficial e mediador.

Além da sociabilidade que se abstrai em formas que giram em torno de si mesmas e


fornece a elas uma existência nebulosa é necessário compreender também a conversa, pois no
âmbito da vida social ela também é um elemento em si, pois possui a arte de conversar e as
suas próprias leis artísticas e possui a finalidade e entretenimento. A discussão torna-se
objetiva e sociável quando se coloca a importância no meio de comunicação.

Portanto, de acordo com Simmel, a arte revela o mistério da vida: viver intensamente
os sentidos e as forças da própria realidade sem se preocupara se a realidade é a mesma que
procuramos. Por isso, é exatamente o homem mais serio que colhe da sociabilidade um
sentimento de liberação e alívio. Porque ele desfruta, das representações artísticas e
concentração de trocas dessas representações da vida ao passe que as dissolve por completo
em detrimento as forças da realidade carregadas de conteúdo que convertem tudo a estímulos.

SIMMEL, Georg. Indivíduo e sociedade nas concepções de vida dos séculos XVIII e XIX
(Exemplo de sociologia filosófica). In: SIMMEL, Georg. Questões fundamentais da
sociologia . 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. cap. 3, p. 83-118. v. 1.
O problema verdadeiramente prático da sociedade reside na relação que suas forças e
formas estabelecem com os indivíduos e se a sociedade existe dentro ou fora deles, por isso o
conflito é importante para a superação das divergências entre o arsenal de interesses
individuais. Um dos pontos de intriga está na sociedade percorrer o caminho de ser uma
totalidade e uma unidade orgânica, de maneira que cada um de seus indivíduos seja apenas
um membro dela.

Saindo do espaço de saber que interage com as categorias de egoísmo e altruísmos o


conflito de maneira impositiva que a sociedade estabelece tem o intuito de que o individuo
aspire a se tornar pleno em si mesmo. Parafraseando Simmel, a sociedade contribui na
construção do ideal objetivo que encontra a felicidade a partir do sucesso conjuntamente com
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interação pessoal, pois é a partir do mundo suprapessoal que a personalidade pode se realizar.
Portanto a sociedade o quer para si e deseja lhe atribuir uma forma que seja adequada ao seu
conjunto.

Sobre essa relação individuo e sociedade Nietzsche é o primeiro que sente os diversos
interesses diferentes dentro dessa relação. Esse filósofo interpela que o homem se eleva
gradativamente à altura do gênero humano uma vez que o individuo torna-se um ser social,
pois essa transformação é tida como condições prévias ou consequências da própria natureza.
Com isso a humanidade torna-se síntese totalmente peculiar dos mesmos elementos que
resultam em uma sociedade que unifica os indivíduos nos seguintes aspectos: interesses
religiosos, científicos, interfamiliares, internacionais, o aperfeiçoamento estético da
personalidade, a produção puramente material que não partisse de nenhum princípio
utilitarista.

No século XVIII desperta com o acontecimento histórico da Revolução Francesa e


com grandes Filósofos como Kant, Fiche a busca da verdadeira liberdade. Como a natureza
não conhecia nenhuma daquelas amarras, o ideal de liberdade parecia ser o do estado
“natural”- compreendendo-se por natureza o ser original de nossa espécie e de cada ser
humano individual, no qual se consolida o processo cultural.

Nesse sentido, portanto, esse século procurou, em uma síntese violenta, articular o
ponto final ou culminante desse processo novamente com seu ponto de partida. A liberdade
do indivíduo era mais vazia e fraca para suportar a própria existência. Como as forças
históricas não a completavam e apoiavam então o indivíduo só tinha a ideia de eu essa
liberdade precisava ser conquistada de maneira íntegra e correta, para que se encontrasse
então novamente no fundamento primordial de nosso ser pessoal e próprio de nossa espécie,
que seria então tão seguro e rico quanto à natureza em geral.

A liberdade só foi posta de maneira duradoura à sociedade que possui os indivíduos


com a mesma força e mesmo privilégio. Para Goethe, citado por Simmel, percebe que
antinomia colocada para esse alcance de desejo que está na igualdade exigir a subordinação a
uma norma universal e a liberdade anseia por uma condição pré-estabelecida. Ou seja, para
garantir a liberdade e igualdade juntas é preciso um meio de coação de propriedade e poder,
logo a liberdade deve ser cerceada. Mesmo que essa regulamentação, a liberdade e a
igualdade poderiam ser harmonizadas para o ideal humano.

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Sobre o aspecto do homem natural, desaparece a individualidade autêntica individual e
há somente a lei universal. Assim provoca o pensamento sobre a liberdade e a igualdade
estarem desde o início conectadas entre si. Pois se o universalmente humano, por assim dizer,
se a lei da natureza do homem existe como o núcleo essencial em cada homem por meio de
qualidades empíricas, posição social e formação ocasional, então bastariam libertá-lo de todas
essas influências e desvios históricos que encobrem sua essência profunda para que apareça
nele o que é comum a todos, o ser humano enquanto tal.

A liberdade significa que o eu central se expressa sem barreiras e reservas em toda a


amplitude da existência, significa que o ponto do si mesmo incondicional no homem possui o
domínio exclusivo sobre sua existência. Com tudo isso, a antinomia sociológica da qual
inicialmente partiu se transforma em um paradoxo da moral: ela é o dinamismo interno e
autêntico do ser humano e, ao mesmo tempo, exige a renúncia a si mesmo; é também a
antinomia da religião: quem perde a sua alma, haverá de conquista-la.

A contribuição que Kant nos dá é a sublimação intelectual mais elevada do conceito de


individualidade. É uma expressão daquele individualismo que vê em tudo o que é humano
absolutamente o mesmo núcleo que deve considerar o que é em nós mais produtivo como
igualdade homogênea- mesmo que nem sempre se desenvolva e apareça da mesma maneira.
Assim, para esse filosofo, a identidade dos eus resulta na identidade de seus mundos, e
também é aí que se encontra arraigada à liberdade.

Argumentando também com o Rousseau a relação individuo e sociedade, o individuo


quanto mais se encontra com os seus desejos e as necessidades de seu coração, mais ele
entende-se feliz. Por conseguinte, somos mais eticamente valorosos, mais compadecidos e
bondosos quanto mais cada um for ele mesmo, isto é, quanto mais cada um deixar soberano
aquele núcleo interior que é idêntico em todos os seres humanos, para além da obscuridade de
seus laços sociais e das máscaras ocasionais. O conceito de natureza forma, aqui, ao mesmo
tempo, o ponto nodal entre natureza e ética; seu duplo papel no século XVIII atinge expressão
máxima em Rousseau.

De acordo com Schiller, cada ser humano individual traz em si, de acordo com sua
tendência e sua determinação, um ser humano puro, ideal; a grande área de sua existência é
fazer com que todas as suas alterações se ponham de acordo em uma unidade inalterável. Esse
ser humano puro se manifesta, com maior ou menor clareza, em cada sujeito.

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No século XIX há uma discussão de separar a igualdade da liberdade. Sobre as bases
do socialismo, em síntese, feita por Simmel, pode-se refletir da seguinte maneira: Se a
liberdade, no sentido social, se refere à expressão adequada de qualquer media individual de
força e importância na configuração de líderes e seguidores no âmbito de um grupo, então ela
está excluída de antemão. O conflito entre a totalidade individual do ser humano e sua
natureza como elemento de grupo torna impossível à proporção harmoniosa entre qualificação
pessoa e social. Também impossibilita a síntese entre liberdade e igualdade. Esse conflito
também não pode ser eliminado numa ordem socialista, mesmo porque não faz parte dos
pressupostos lógicos da sociedade.

Por fim, é necessário pensar sobre o novo individualismo e a incomparabilidade do


individual. Para Schleiermacher a tarefa moral consiste exatamente no fato de que cada um
represente a humanidade de uma maneira específica. Continuando com a exposição de
Simmel, se cada indivíduo é um “compêndio” de toda a humanidade, e, olhando-se para mais
adiante, uma síntese das forças que formam o universo, no entanto, cada um dá forma a todo
esse material comum em um afigura totalmente única, e aqui, tanto como na concepção
anterior, a realidade é ao mesmo tempo uma prescrição do dever fazer: o ser humano não é
incomparável somente como um ser que já existe, posto em uma moldura que só pode ser
preenchida por ele, mas visto por outro lado, é a efetivação dessa incomparabilidade, e
preencher seu próprio limite é sua tarefa ética, e cada um tem vocação para realizar sua
própria e exclusiva imagem originária.

A individualidade é a expressão e o reflexo do absoluto e não uma limitação do


infinito. Assim, pode denomina-lo qualitativo com relação ao individualismo quantitativo do
século XVIII, ou ainda chamá-lo de individualismo da unidade em contraposição ao
individualismo da solidão-, o Romantismo, propicia as bases do sentimento e da vivência, foi
o canal mais amplo através do qual fluiu a consciência do século XIX.

A doutrina da liberdade e da igualdade é o fundamento histórico-espiritual da livre


concorrência; e a doutrina das diferentes personalidades é o fundamento da divisão do
trabalho. O liberalismo do século XVIII põe o individuo sobre seus próprios pés, e ele deve
progredir a medida que se sustenta. A teoria afirmou que a constituição natural das coisas
cuidaria para que a livre concorrência entre os indivíduos levasse à harmonia de todos, que o
todo se sairia melhor numa situação em que os indivíduos buscassem vantagens sem qualquer
parcimônia; esta foi a metafisica com a qual o otimismo natural do século XVIII justifica a
livre concorrência.
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Os dois grandes princípios: divisão do trabalho e livre concorrência em conjunto com
a economia do século XIX surgem então com projeções de aspectos filosóficos do meio
social; ou, ao contrario, como sublimação daquelas formas reais de produção econômicas; ou
o que talvez seja mais correto e mais pertinente no que diz respeito à possibilidade de
fundamentar essa dupla direção das circunstâncias,

Simmel acredita que o trabalho da humanidade ainda irá gerar, cada vez mais, formas
novas, mais variadas, com as quais a personalidade se afirmara, comprovando assim o valor
de sua existência. Se, em períodos felizes, essa multiplicidade vier a ser coordenada
harmonicamente, a contradição e a luta daquele trabalho não representarão apenas um
obstáculo, a algo que ira conclamar os indivíduos a um desenvolvimento de suas forças e as
novas criações.

Referência Bibliográfica

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo, Companhia das
Letras, 2004.
____________Conceitos sociológicos fundamentais. In: Economia e sociedade:
fundamentos da sociologia compreensiva. V. 1, Brasília, Editora Universidade de Brasília,
2000, ps. 3 – 35;
____________Os tipos de dominação. In: Economia e sociedade: fundamentos da
sociologia compreensiva. V. 1, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 2000, ps. 139 –
198;
_____________ Sociologia da dominação. In: Economia e sociedade: fundamentos da
sociologia compreensiva. V. 2, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1999, ps. 187 –
516
SIMMEL, Georg. A sociabilidade: (Exemplo de sociologia pura ou formal). In: SIMMEL,
Georg. Questões fundamentais da sociologia . 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. cap. 3, p.
59-82. v. 1.
______________ Indivíduo e sociedade nas concepções de vida dos séculos XVIII e XIX
(Exemplo de sociologia filosófica). In: SIMMEL, Georg. Questões fundamentais da
sociologia . 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. cap. 4, p. 83-118. v. 1.

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