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Prezados responsáveis, diretor, colegas de trabalho e principalmente os meus queridos alunos aqui

presentes (já que, eu acho que dei aulas pra quase todo mundo aqui presente no 8º ou no 9º ano) e, mais
especialmente ainda, aos meus amados “canibais” da 904 de 2018:

Uma cerimônia como esta é parte de um exercício que nós, enquanto sociedade, praticamos há muito
tempo. Uma formatura é uma fração de um universo mais amplo de cerimônias que podem ser classificadas
enquanto “rituais”. São através deles, dos rituais, que celebramos coletivamente alguma forma de
passagem ou mudança de estado coletiva, enquanto grupo, ou mesmo alguma mudança individualmente,
enquanto pessoa. É comum, por exemplo, na época de Natal, enfeitarmos uma árvore com bolas coloridas e
luzes, celebrando coletivamente o nascimento de Cristo para os cristãos, ou ao menos o principal encontro
familiar do ano, e que, para comemorar esta data e mostrar sua importância, colocamos nossas melhores
roupas pra ficarmos ali, impassíveis, sentados no sofá no canto da sala esperando a hora da ceia e a
chegada do bom velhinho, de macacão vermelho num calor de 44C em Bangu. Existem inúmeros outros
exemplos de rituais como o aniversário, ano novo, festa de 15 anos, chá de bebê, cantar o hino, a tabuada,
etc, etc, etc. Quando eles são vistos por quem está de fora, ou seja, por quem não participa do ritual, eles
parecem algo estranhíssimo, ou até sem sentido. Vejam vocês, que acordaram cedo num sábado
ensolarado (e não qualquer sábado, é um S2!), com tanta coisa pra fazer e decidem vir à escola junto com a
sua família para ouvir o que? Discursos! E discursos estes que dizem o quão estranho nós podemos parecer
no nosso dia-a-dia quando não damos sentido para as coisas que nós fazemos e que acabam dando a cara
que a nossa própria vida tem.

Minha relação, com vcs, “canibais”, sempre foi se enchendo de muito sentido a cada novo encontro nosso:
seja pelo pátio, no SESOP (quando algum de vocês, volta e meia, tomava advertência), na hora das provas,
pelos rodizíos de pizza aí pela vida e, claro, em sala de aula. Começamos muito mal, é verdade, quando um
simples piquenique no bosque se transformou numa balbúrbia que acabou servindo somente para batizar
vossa turma com este singelo apelido. Mas terminamos também muito bem, através do maior ritual
possível que simboliza a união entre indivíduos, ou, quem sabe, entre um professor e uma turma em nome
do amor: o casamento. Tenham certeza que esses últimos dois anos me proporcionaram um aprendizado
enorme com cada um de vocês, não somente enquanto professor, mas enquanto sujeito também. Não
pense que vocês se livraram de mim! Em 2021 em volto pra escola e torço para encontrar vocês novamente,
só que agora em outro ritual: a formatura do terceirão!

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