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A nossa escolha incidiu sobre este tema dado que nos despertou muito interesse
e o próprio vídeo cativou a nossa atenção. Consideramos que este tema tem
repercussões globais a nível de toda a prática psicológica. A comunicação é uma
questão que tem suscitado várias investigações e estudos ao longo dos anos, por
diferentes autores, emergindo várias perspetivas, algumas das quais iremos abordar ao
longo deste trabalho.
Entendemos que uma boa definição de comunicação é a de “processo social que
integra múltiplos modos de comportamento (tais como a palavra, o gesto, a mímica, o
olhar)” (Alarcão, 2000, p.64). Não podemos, assim, restringir a comunicação a um ato
verbal, pois há comunicação para além daquela que é verbalizada. “ Todo o
comportamento, não só a fala, é comunicação; e toda a comunicação – mesmo as pistas
comunicacionais num contexto impessoal – afetam o comportamento” (Watzlawick,
Beavin & Jackson, 1993, p.19).
A comunicação é o único modelo científico que nos permite explicar os aspetos
físicos, intrapessoais, interpessoais e culturais dos eventos dentro de um sistema e “não
se refere apenas à transmissão verbal, explícita e intencional de mensagens”, de facto,
“deveria incluir ainda todos os processos que as pessoas usam para influenciar os
outros” (Bateson & Ruech, 1951, p.5-6). Ocorre num contexto social e pode ocorrer no
contexto interpessoal que se caracteriza pela: a) presença de ações expressas da parte de
uma ou mais pessoas; b) perceção consciente ou inconsciente das ações expressas dos
outros; c) feedback de que esses atos foram percebidos pelos outros, ou seja, de que os
emissores foram percecionados pelos recetores (condição esta que é fundamental ao
comportamento humano), ou no contexto intrapessoal, que basicamente se refere aos
eventos que ocorrem dentro do próprio indivíduo e que são fulcrais para a comunicação
intrapessoal, influenciando-a (Bateson & Ruech, 1951).
A comunicação pode ter várias funções, como: a) receber e transmitir mensagens
e reter informação; b) realizar operações com a informação existente de modo a gerar
novas informações que não foram imediatamente percecionadas e para reconstruir
eventos passados e prever eventos futuros; c) iniciar e modificar processos fisiológicos
dentro do indivíduo; e d) influenciar e direcionar outras pessoas e eventos externos. A
EXERCÍCIO 3 – VÍDEO DE TOM SAWYER
Palo Alto eram notórias. Conceitos como: diferentes níveis de complexidade, múltiplos
contextos e sistemas circulares, formam parte da teoria.
Neste modelo orquestral voltamos a ver na comunicação o fenómeno social que
expressa muito bem a etimologia da palavra comunicar, pôr em comum. A analogia da
orquestra pretende mostrar que cada indivíduo participa na comunicação contrapondo a
ideia de que o indivíduo está na sua origem ou resultado (Bateson, 1990). A partitura
invisível faz-nos lembrar uma gramática do comportamento que usamos nos vários
intercâmbios que fazermos com os outros (Bateson, 1990). Neste contexto entrar numa
orquestra significa reproduzir um certo código e aceder a uma relação compatível com
os meios de comunicação, canais e redes (Porcar, 2011). Deste ponto de vista a
comunicação é considerada um fenómeno social integrado que através da sua lógica e
gramática constrói pontos de ligação entre aspectos organizacionais e relacionais, entre
mecanismos que controlam as relações interpessoais e aqueles que controlam as ordens
sociais (Porcar, 2011). O principal foco desta teoria está nas regras constitutivas de
várias situações de comunicação (Porcar, 2011), isto é, o contexto dá significado à
comunicação, aspecto central na teoria ecossistémica da comunicação que também
constitui objecto de análise neste trabalho. O modelo orquestral pressupõe uma
comunicação permanente de múltiplos canais no qual o actor social participa
comunicando, não só, através das suas acções conscientes mas também através de
gestos, olhar, silêncio e mesmo a sua ausência. Constata-se portanto uma diferença
substancial em relação ao modelo analítico.
da comunicação (modelo do telégrafo) mas participa nela, criando, com os outros e com
o próprio contexto, essa comunicação (modelo da orquestra) ” (Alarcão, 2000, p. 64),
verificamos que tanto o Tom como os outros membros da família participam nesta
comunicação e que o problema primordial se encontra na falta de informação
contextual. Se nesta ótica orquestral Tom e a família são vistos como membros da
orquestra em si, o contexto é então a partitura a que todos os membros têm acesso, de
tal modo que se algum dos membros não a possui, este não irá então compreender e
acompanhar esta sinfonia que é a comunicação. Segundo Bateson, o contexto é
importante para darmos um significado à comunicação – neste caso ao comportamento
do Tom. Deste modo, a família não compreendia as acções de Tom pois não tinham
noção de qual o contexto para ele estar a ter aquele comportamento, e passaram a
percebe-lo como patológico.
que são imediatas e outras que demoram algum tempo a ocorrer (Bateson & Ruech,
1951).
Bateson afirma que «É impossível abster-nos de comunicar e como seres
humanos e membros da sociedade estamos biologicamente forçados a comunicar»
(Bateson & Ruech, 1951, p.7). E é com o intuito de reter alguns aspetos essenciais das
mensagens, que permitem o desenvolvimento da capacidade de lidar e resolver
problemas e a capacidade de prever acontecimentos e comportamentos, que os seres
humanos estão habilitados a conseguir deter características comuns num grande e
diversificado conjunto de situações.
Bateson designa por matriz social os «constantes e repetitivos bombardeamentos
de estímulos» (Bateson & Ruech, 1951, p.8) que os indivíduos estão expostos em
eventos interpessoais e que têm origem em comportamentos sociais de outras pessoas e
nos objetos, plantas e animais que fazem parte do ecossistema dos indivíduos,
afirmando ainda que os indivíduos nem sempre estão conscientes da existência e
pertença a esta matriz social. Assim, «Comunicação é a matriz na qual todas as
atividades humanas estão inseridas; Na prática, a comunicação liga pessoas a objetos e
pessoas a pessoas; Cientificamente falando estas inter-relações são melhor
compreendidas em termos de sistemas de comunicações» (Bateson & Ruesh, 1951,
p.13).
Para além deste aspeto e, tal como anteriormente referenciado, Bateson
considera que o contexto é fundamental para estudar a comunicação, isto é, o modo
como os indivíduos se relacionam e interagem, ou seja, para estudar o ecossistema dos
indivíduos: «sem contexto, as palavras e ações não têm qualquer significado. Isto é
verdade não só para a comunicação humana verbal, mas também para todo o tipo de
comunicação, todos os processos mentais, para a mente, incluindo aquilo que diz à
anémona-do-mar como crescer e à amoeba o que fazer a seguir» (Bateson, 1988, p.15).
Definiu ainda contexto como o rótulo que os indivíduos dão a situações sociais
específicas (Bateson & Ruesh, 1951, p. 23).
O contexto tem sido perspetivado de diferentes maneiras, consoante os
diferentes autores, e pode englobar perspetivas biológicas, psicológicas e
comportamentais (Casmir, 1994).
Tal como Watzlawick, Beavin e Jackson declararam «todo o comportamento,
numa situação interaccional, tem valor de mensagem» (Watzlawick, Beavin & Jackson,
1967, p.45) e as mensagens só têm sentido quando compreendidas no contexto em que
EXERCÍCIO 3 – VÍDEO DE TOM SAWYER
si mesmo, o homem precisa ser entendido por um outro. Para ser entendido por um
outro, ele precisa entender o outro” (Hora citado por Watzlawick, 1993).
Nós podemos conhecer as regras da comunicação sem saber que as conhecemos,
pois apesar de estarmos em constante comunicação, temos por vezes dificuldade em
comunicar sobre a comunicação.
Para um observador de fora é relativamente simples ir vendo redundâncias ou
repetições, dos quais se poderão retirar conclusões, numa interação. Watzlawick e
colaboradores (1993) dão o exemplo de um observador de um jogo de xadrez, que não
conhece o jogo nem as suas regras ou objetivos, e aos poucos vai dando conta, através
das repetições e redundâncias, que há um padrão de alternância nas jogadas e até
algumas regras, sendo umas mais difíceis de inferir do que outras.
Conclusão
Referências