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Exercício 3 - Vídeo de Tom Sawyer

Joana Antunes 2012146758

Maria Inês Freitas 2012147979

Mariana Francisco 2012139876

Sara Santos 2012139986

Sofia Teixeira 2012144199

Tiago Gonçalves 2012156617

Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra


EXERCÍCIO 3 – VÍDEO DE TOM SAWYER

Exercício 3 – Vídeo de Tom Sawyer

A nossa escolha incidiu sobre este tema dado que nos despertou muito interesse
e o próprio vídeo cativou a nossa atenção. Consideramos que este tema tem
repercussões globais a nível de toda a prática psicológica. A comunicação é uma
questão que tem suscitado várias investigações e estudos ao longo dos anos, por
diferentes autores, emergindo várias perspetivas, algumas das quais iremos abordar ao
longo deste trabalho.
Entendemos que uma boa definição de comunicação é a de “processo social que
integra múltiplos modos de comportamento (tais como a palavra, o gesto, a mímica, o
olhar)” (Alarcão, 2000, p.64). Não podemos, assim, restringir a comunicação a um ato
verbal, pois há comunicação para além daquela que é verbalizada. “ Todo o
comportamento, não só a fala, é comunicação; e toda a comunicação – mesmo as pistas
comunicacionais num contexto impessoal – afetam o comportamento” (Watzlawick,
Beavin & Jackson, 1993, p.19).
A comunicação é o único modelo científico que nos permite explicar os aspetos
físicos, intrapessoais, interpessoais e culturais dos eventos dentro de um sistema e “não
se refere apenas à transmissão verbal, explícita e intencional de mensagens”, de facto,
“deveria incluir ainda todos os processos que as pessoas usam para influenciar os
outros” (Bateson & Ruech, 1951, p.5-6). Ocorre num contexto social e pode ocorrer no
contexto interpessoal que se caracteriza pela: a) presença de ações expressas da parte de
uma ou mais pessoas; b) perceção consciente ou inconsciente das ações expressas dos
outros; c) feedback de que esses atos foram percebidos pelos outros, ou seja, de que os
emissores foram percecionados pelos recetores (condição esta que é fundamental ao
comportamento humano), ou no contexto intrapessoal, que basicamente se refere aos
eventos que ocorrem dentro do próprio indivíduo e que são fulcrais para a comunicação
intrapessoal, influenciando-a (Bateson & Ruech, 1951).
A comunicação pode ter várias funções, como: a) receber e transmitir mensagens
e reter informação; b) realizar operações com a informação existente de modo a gerar
novas informações que não foram imediatamente percecionadas e para reconstruir
eventos passados e prever eventos futuros; c) iniciar e modificar processos fisiológicos
dentro do indivíduo; e d) influenciar e direcionar outras pessoas e eventos externos. A
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comunicação facilita a especialização, diferenciação e maturação do indivíduo e, no seu


decurso, podem surgir algumas perturbações na comunicação, que são vulgarmente
conhecidas como anormalidades comportamentais (Bateson & Ruech, 1951).
Explicitaremos alguns dos conceitos chave que orientam o estudo da
comunicação humana, analisados tendo em conta o vídeo da série norte-americana Tom
Sawyer.

1. O modelo orquestral da comunicação


Para conhecer a dinâmica das interacções entre as pessoas (sistemas) é
fundamental a análise do eixo matricial que estrutura essas interacções, esse eixo é a
comunicação. A comunicação é, com efeito, uma “condição sine qua non da vida
humana e da ordem social” (Watzlawick, 1973), pelo que há uma multiplicidade de
trabalhos neste campo extremamente prolífico no estudo das relações humanas.
Há no estudo desta temática, uma divisão teórica sobre como decorre essa
comunicação, que regras subjazem ao processo comunicativo. Desta divisão emergem
duas perspectivas, uma analítica, com uma analogia a matemática e outra, que surge por
oposição à primeira, categorizada como interacionista, com uma analogia orquestral que
iremos expender neste trabalho. A título ilustrativo perpassamos superficialmente a
primeira, também conhecida como o modelo telegráfico da comunicação. Este modelo,
inspirado na engenharia das telecomunicações, opõe-se ao modelo orquestral pela sua
linearidade e pela comunicação bipolar (emissor-receptor) (Bateson, 1990). Note-se
também que os autores deste modelo falam-nos numa comunicação que não é
permanente, isto é, passível de ser desligada e ligada. Neste modelo um emissor passa a
mensagem a um transmissor que a coloca num canal (sujeito a ruído) que a leva a um
receptor passando-a depois a um destinatário (Fidalgo, 2004). Shannon e Weaver
atribuíam preponderância ao conceito de informação que veiculava, sobretudo, uma
“magnitude estatística abstracta que qualifica a mensagem independentemente do seu
significado (…) a informação de Shannon é cega” (Bateson, 1990). Acresce ainda como
uma das principais diferenças entre estas duas perspetivas o facto de o modelo de
Shannon “um acto verbal, consciente e voluntário” (Bateson, 1990, p.21).
A escola de Palo Alto, através de um grupo de estudos particular (o colégio
invisível), afirma-se no seio da comunidade científica estudando a comunicação
interpessoal e propondo um modelo, fundado no contexto construtivista e sistémico, o
modelo orquestral. As influências da cibernética nas ideias propostas pela escola de
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Palo Alto eram notórias. Conceitos como: diferentes níveis de complexidade, múltiplos
contextos e sistemas circulares, formam parte da teoria.
Neste modelo orquestral voltamos a ver na comunicação o fenómeno social que
expressa muito bem a etimologia da palavra comunicar, pôr em comum. A analogia da
orquestra pretende mostrar que cada indivíduo participa na comunicação contrapondo a
ideia de que o indivíduo está na sua origem ou resultado (Bateson, 1990). A partitura
invisível faz-nos lembrar uma gramática do comportamento que usamos nos vários
intercâmbios que fazermos com os outros (Bateson, 1990). Neste contexto entrar numa
orquestra significa reproduzir um certo código e aceder a uma relação compatível com
os meios de comunicação, canais e redes (Porcar, 2011). Deste ponto de vista a
comunicação é considerada um fenómeno social integrado que através da sua lógica e
gramática constrói pontos de ligação entre aspectos organizacionais e relacionais, entre
mecanismos que controlam as relações interpessoais e aqueles que controlam as ordens
sociais (Porcar, 2011). O principal foco desta teoria está nas regras constitutivas de
várias situações de comunicação (Porcar, 2011), isto é, o contexto dá significado à
comunicação, aspecto central na teoria ecossistémica da comunicação que também
constitui objecto de análise neste trabalho. O modelo orquestral pressupõe uma
comunicação permanente de múltiplos canais no qual o actor social participa
comunicando, não só, através das suas acções conscientes mas também através de
gestos, olhar, silêncio e mesmo a sua ausência. Constata-se portanto uma diferença
substancial em relação ao modelo analítico.

Uma possível análise do caso de Tom à luz do modelo do telégrafo, seria


considerarmos os restantes membros da família como emissores a tentar comunicar com
Tom, sendo este o receptor, tornando-se então numa comunicação sem sucesso pois
Tom interrompia essa linha comunicativa e consequentemente a família não conseguia
comunicar com o mesmo. Essencialmente a comunicação da família, neste prisma
telegráfico definida como “o acto verbal, consciente e voluntário” (Bateson, 1990,
p.21), dirigida a Tom não estava a ser recebido, como se um dos polos desta linha
estivesse incontactável.
Porém ao analisarmos o vídeo mais atentamente percebemos que Tom
comunicou algo, nomeadamente com os seus gestos, que levou a família a pensar que
este teria enlouquecido e deveriam chamar um médico. Assim sendo sob o ponto de
vista do modelo orquestral, que defende que “o sujeito está não tanto no início e no fim
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da comunicação (modelo do telégrafo) mas participa nela, criando, com os outros e com
o próprio contexto, essa comunicação (modelo da orquestra) ” (Alarcão, 2000, p. 64),
verificamos que tanto o Tom como os outros membros da família participam nesta
comunicação e que o problema primordial se encontra na falta de informação
contextual. Se nesta ótica orquestral Tom e a família são vistos como membros da
orquestra em si, o contexto é então a partitura a que todos os membros têm acesso, de
tal modo que se algum dos membros não a possui, este não irá então compreender e
acompanhar esta sinfonia que é a comunicação. Segundo Bateson, o contexto é
importante para darmos um significado à comunicação – neste caso ao comportamento
do Tom. Deste modo, a família não compreendia as acções de Tom pois não tinham
noção de qual o contexto para ele estar a ter aquele comportamento, e passaram a
percebe-lo como patológico.

2. Porque falamos em teoria ecossistémica da comunicação


Existe um nome indissociável da Teoria Ecossistémica da Comunicação, sendo
ele Gregory Bateson (1904-1980), o qual contribuiu com várias noções básicas para o
desenvolvimento da teoria (Benoit et al., 1988). No entanto, se tivéssemos que definir
um conceito-chave da Teoria Ecossistémica da Comunicação, esse conceito seria o de
contexto.
O contexto diz respeito a «todos os seres vivos - o ecossistema - constituído pelo
organismo e seu meio ambiente, inter-relacionados e ligados por uma "regularidade no
relacionamento"» (Benoit et al., 1988, p.88).
O ecossistema, dum ponto de vista biológico, é o todo constituído por partes
(vivas e não vivas) que interagem e se relacionam entre si, formando um sistema
estável. Esta interação pode ser biológica, física, social, etc. Como os indivíduos se
relacionam através da comunicação, podemos definir esta ideia como a Teoria
Ecossistémica da Comunicação, sendo que a origem das suas bases se deve à «descrição
das relações de simetria e das relações de complementaridade, permitindo a integração
recíproca dos comportamentos, baseando-se quer na semelhança, quer na diferença»
(Benoit et al., 1988, p.156).
Todos os objetos, plantas, animais e pessoas enviam sinais que, quando
percecionados, constituem uma mensagem ao recetor. Esta mensagem alterará a
informação no recetor e poderá alterar o seu comportamento. Estas mudanças no
comportamento podem ou não ser percecionadas pelo emissor, sendo que há alterações
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que são imediatas e outras que demoram algum tempo a ocorrer (Bateson & Ruech,
1951).
Bateson afirma que «É impossível abster-nos de comunicar e como seres
humanos e membros da sociedade estamos biologicamente forçados a comunicar»
(Bateson & Ruech, 1951, p.7). E é com o intuito de reter alguns aspetos essenciais das
mensagens, que permitem o desenvolvimento da capacidade de lidar e resolver
problemas e a capacidade de prever acontecimentos e comportamentos, que os seres
humanos estão habilitados a conseguir deter características comuns num grande e
diversificado conjunto de situações.
Bateson designa por matriz social os «constantes e repetitivos bombardeamentos
de estímulos» (Bateson & Ruech, 1951, p.8) que os indivíduos estão expostos em
eventos interpessoais e que têm origem em comportamentos sociais de outras pessoas e
nos objetos, plantas e animais que fazem parte do ecossistema dos indivíduos,
afirmando ainda que os indivíduos nem sempre estão conscientes da existência e
pertença a esta matriz social. Assim, «Comunicação é a matriz na qual todas as
atividades humanas estão inseridas; Na prática, a comunicação liga pessoas a objetos e
pessoas a pessoas; Cientificamente falando estas inter-relações são melhor
compreendidas em termos de sistemas de comunicações» (Bateson & Ruesh, 1951,
p.13).
Para além deste aspeto e, tal como anteriormente referenciado, Bateson
considera que o contexto é fundamental para estudar a comunicação, isto é, o modo
como os indivíduos se relacionam e interagem, ou seja, para estudar o ecossistema dos
indivíduos: «sem contexto, as palavras e ações não têm qualquer significado. Isto é
verdade não só para a comunicação humana verbal, mas também para todo o tipo de
comunicação, todos os processos mentais, para a mente, incluindo aquilo que diz à
anémona-do-mar como crescer e à amoeba o que fazer a seguir» (Bateson, 1988, p.15).
Definiu ainda contexto como o rótulo que os indivíduos dão a situações sociais
específicas (Bateson & Ruesh, 1951, p. 23).
O contexto tem sido perspetivado de diferentes maneiras, consoante os
diferentes autores, e pode englobar perspetivas biológicas, psicológicas e
comportamentais (Casmir, 1994).
Tal como Watzlawick, Beavin e Jackson declararam «todo o comportamento,
numa situação interaccional, tem valor de mensagem» (Watzlawick, Beavin & Jackson,
1967, p.45) e as mensagens só têm sentido quando compreendidas no contexto em que
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ocorreram, sendo que o contexto é um elemento constituinte da comunicação. «Tudo é


determinado pelo contexto» (Cohen & Stewart, 1995, p. 354).
É o contexto que permite avaliar algo como normativo, cultural, familiar, social,
patológico, “estranho”, “bizarro”, “engraçado” (as piadas só têm graça tendo em conta o
contexto em que se inserem). Tal como Bateson afirmou, «Os seres humanos usam o
contexto como método de discriminação» (Bateson, 1956, p. 3). O comportamento
ilustrado no vídeo de Tom Sawyer é um bom exemplo desta afirmação, pois como os
restantes elementos não estavam a par das razões do comportamento de Tom, ou seja,
não estavam dentro do seu contexto, consideraram-no como “bizarro” e como se algo de
errado e doentio se passasse com Tom. Mas, se por exemplo, o «velho Sam», que falou
a Tom acerca do feitiço, estivesse presente com a família conseguiria interpretar a
situação de uma outra forma e não julgaria o comportamento de Tom como se algo de
errado se passasse, mas conheceria as razões do seu comportamento, da mesma forma
que se Tom tivesse realizado o «ritual» após ter tido conhecimento dele ainda na casa
com o senhor e o amigo, ambos os observadores iriam compreender o comportamento
de Tom, pois tinham noção do contexto em que estava inserido aquele comportamento e
compreenderiam o facto de Tom não querer comunicar (pois era necessário não falar
com ninguém para o feitiço resultar).
Um outro exemplo muito semelhante ao de Tom Sawyer é o ilustrado por
Watzlawick na sua obra Pragmática da Comunicação Humana, onde Konrad Lorenz
apresenta um episódio de felicidade vivida com os seus patinhos mas que foi
interpretado como um ato «delirante» por quem o observava, apenas por uma questão de
contexto:
No jardim de uma casa de campo, à vista de quem transitar pelo passeio
fronteiro, pode ser observado um homem barbudo, rastejando, agachando-se,
espiando entre os arbustos e percorrendo as veredas em forma de oito, olhando
constantemente por cima do ombro e grasnindo sem interrupção. Assim é como
o etologista Konrad Lorenz descreve o seu necessário comportamento durante
um dos experimentos de impressão (imprinting) com os seus patinhos, depois
que se substitui à mãe pata. «Eu estava me felicitando», escreve Lorenzo, «pela
obediência e exatidão com que os meus patinhos me seguiam quando levantei os
olhos, de súbito, e vi a cerca do jardim coroada por uma fila de rostos de uma
palidez funérea: um grupo de turistas plantara-se ao longo da cerca e
observava-me, de olhos arregalados». Os patos estavam ocultos pela grama alta
EXERCÍCIO 3 – VÍDEO DE TOM SAWYER

e tudo o que os turistas viam era o meu comportamento totalmente inexplicável


e, de facto, aparentemente louco (Lorenz, 1952 citado por Watzlawick, Beavin
& Jackson, 1967).

Deste modo, podemos denominar o estudo da comunicação, em que o contexto é


fundamental, de teoria ecossistémica, pois é a comunicação que permite a interação e
relacionamento entre os seres humanos.

3. Premissas da Teoria Pragmática da Comunicação Humana


A comunicação humana pode ser estudada segundo três dimensões: sintaxe,
semântica e pragmática, sendo a última a que nos importa neste trabalho, e que estuda
os efeitos da comunicação no comportamento.
Relativamente às premissas podemos enunciar cinco, que se encontram
relacionadas com o valor comunicacional do comportamento, o ecossistema, a
redundância, a metacomunicação e a relação.

Todo o comportamento tem um valor comunicacional. Mesmo que não se queira


comunicar, comunica-se sempre alguma coisa. Podemos ver no caso de Tom Sawyer
como o seu comportamento de não querer comunicar por si só comunicou algo. A
família percebeu não só que ele não queria comunicar com eles, pois até foi para fora de
casa, para o telhado, mas também deduziram que havia algo de errado com ele.
«Todo o comportamento numa situação interaccional tem valor de mensagem,
isto é, é comunicação; (…) (por isso) por muito que o indivíduo se esforce é-lhe
impossível não comunicar» (Watzlawick et a, 1993, citado por Alarcão, 2000, p. 64).
Ou seja, a comunicação não acontece apenas quando é intencional ou consciente,
ou bem-sucedida (com compreensão mútua). «Atividade ou inatividade, palavras ou
silêncio, tudo possui um valor de mensagem; influenciam outros e estes outros, por sua
vez, não podem não responder a essas comunicações» (Watzlawick, 1993, p. 45).
Como exemplificam Watzlawick e colaboradores (1993, p. 45):

O homem, que num congestionado balcão de um café, olha


diretamente em frente ou o passageiro de avião que se senta de olhos
fechados, estão ambos a comunicar que não querem falar com ninguém
EXERCÍCIO 3 – VÍDEO DE TOM SAWYER

nem que falem com eles; e, usualmente, os seus vizinhos “recebem a


mensagem” e respondem adequadamente, deixando-os sozinhos.

Portanto, o comportamento tem sempre um valor de mensagem,


independentemente do seu carácter verbal ou não. O indivíduo envia constantemente
sinais comunicacionais aos que se encontram à sua volta.
Não deixando de comunicar temos várias formas de tentar evitar o compromisso
que a comunicação solicita, entre as quais: a aceitação passiva (a pessoa tenta não se
envolver na comunicação; pode não resultar se a outra pessoa está de facto empenhada
em manter aquela comunicação) e a desqualificação da comunicação (o parceiro que
pretende não comunicar pode fazê-lo de um modo que invalida a sua própria
comunicação e a do outro. Ex: através da incoerência do discurso, mudanças bruscas de
assunto, etc.).

Ecossistema ou contexto é o que dá sentido e significado à comunicação e ao


sistema. Sem o conhecimento do contexto, a família do Tom deduziu que ele estaria
doente pois estava a ter um comportamento atípico. Muitas vezes há comportamentos
que são atípicos num determinado contexto mas considerados normais e adequados em
outro. Tom fazia aquilo pois tinha-lhe sido dito que se repetisse um certo número de
vezes, virado de costas para a lua, um desejo ele iria realizar-se. A sua família ao não
conhecer o contexto do comportamento tirou conclusões precipitadas, não encontrando
um sentido no comportamento de Tom, nem o significado do mesmo.
Pode entender-se por ecossistema um meio complexo, vasto e dinâmico, no qual
os sistemas se inserem, do qual fazem parte e com o qual interagem reciprocamente,
estabelecendo relações regidas por um fluxo de matéria e de energia, numa lógica
circular e multideterminada (Doron & Parot, 2001).
A Escola de Palo Alto refere que cada indivíduo constitui um organismo que
funciona como sistema aberto, cuja estabilidade e ascensão a estados mais complexos é
conseguida através de uma troca constante de energia e informação entre o meio
interno e o meio externo, tendo esta comunicação um papel essencial na formação da
consciência do eu.
Watzlawick e colaboradores (1993) defendem que, devido à permanente
interação e influência, é impossível estudar qualquer organismo sem ter em conta a sua
relação com o meio circundante.
EXERCÍCIO 3 – VÍDEO DE TOM SAWYER

O contexto não é simplesmente um lugar onde as interações ocorrem. Dito de


forma geral, contexto é «toda e qualquer coisa que precisa de ser tida em conta para se
chegar à compreensão» do significado de comportamentos e padrões de
comportamento, visto estes não ocorrerem num vazio e poderem estar inseridos em
múltiplos contextos (Leeds-Hurwitz, 1992 citado in Fisher & Adams, 1994, p.16). O
importante papel do contexto na comunicação levou Bateson a formular uma teoria da
comunicação que integrasse os conceitos de biologia, evolução e ecologia, designada
por Teoria Ecossistémica da Comunicação Humana, que já foi abordada anteriormente
neste trabalho.
A pragmática não isola a comunicação, ela estuda-a no seu contexto. «Quando
não se apercebe da complexidade das relações entre um evento e a matriz em que ele
acontece, entre um organismo e o seu meio, o observador ou depara-se com algo
“misterioso” ou é induzido a atribuir ao seu objeto de estudo certas propriedades que o
objeto não possui» (Watzlawick, Beavin & Jackson, 1993).

Redundância refere-se aos padrões repetitivos da comunicação: a forma como


comunicamos com determinadas pessoas são constantes, sendo que estes padrões
podem ser mais ou menos funcionais. Esta redundância existe para com uma pessoa,
para com um sistema. A comunicação feita por Tom não era similar à que ele
costumava ter com a família, nem o seu comportamento normal. Daí o carácter
patológico concedido pela família ao seu comportamento.
Quanto a esta premissa, apesar de existirem vastos estudos relativamente à
redundância no campo da semântica e da sintaxe, Watzlawick (1993) refere que até à
data o estudo da redundância no que toca à pragmática foi muito baseado nos efeitos de
uma pessoa sobre a outra, esquecendo que a segunda pessoa influencia igualmente o
movimento seguinte da primeira, sendo ambas influenciadas pelo contexto.
“Nesta esfera possuímos uma vasta soma de conhecimentos que nos habilitam a
avaliar, influenciar e prever o comportamento” (Watzlawick, 1993, p. 32).
Ao contrário do que ocorre na semântica e na sintaxe, na pragmática, os erros
cometidos impressionam-nos muito mais. No entanto, apesar disto ocorrer é nesta área
que estamos mais inconscientes das regras para uma comunicação bem-sucedida.
Estamos constantemente a ser afetados pela comunicação, estando até a nossa
consciência de nós-próprios dependente disso (Watzlawick, 1993). “Para entender-se a
EXERCÍCIO 3 – VÍDEO DE TOM SAWYER

si mesmo, o homem precisa ser entendido por um outro. Para ser entendido por um
outro, ele precisa entender o outro” (Hora citado por Watzlawick, 1993).
Nós podemos conhecer as regras da comunicação sem saber que as conhecemos,
pois apesar de estarmos em constante comunicação, temos por vezes dificuldade em
comunicar sobre a comunicação.
Para um observador de fora é relativamente simples ir vendo redundâncias ou
repetições, dos quais se poderão retirar conclusões, numa interação. Watzlawick e
colaboradores (1993) dão o exemplo de um observador de um jogo de xadrez, que não
conhece o jogo nem as suas regras ou objetivos, e aos poucos vai dando conta, através
das repetições e redundâncias, que há um padrão de alternância nas jogadas e até
algumas regras, sendo umas mais difíceis de inferir do que outras.

Metacomunicação diz respeito a comunicar sobre comunicação, isto é, ascender


ao nível da relação da comunicação, falamos da forma como comunicamos. É
conseguirmos compreender como é que habitualmente comunicamos com o outro. É
sair do nível dos conteúdos e conseguirmos atingir o nível da comunicação. A família
do Tom começou a comunicar acerca da comunicação que ele estava a travar, tentando
perceber o que se passava, e nesse sentido desenvolveram uma metacomunicação.
Designa-se por metacomunicação qualquer comportamento ou ato de comunicar
sobre a própria comunicação. Em 1951, Gregory Bateson utilizou o termo
“Metacomunicação” para se referir a todas as informações trocadas sobre: a codificação
de mensagens e as relações entre a comunicação. Também usou o termo para se referir
às mensagens que se encontram subjacentes ao que um indivíduo diz ou faz
(metamensagem) e que são indicadas por fatores não-verbais como, por exemplo: o tom,
a ressonância, a expressão facial e os gestos, cujos significados poderão estar em
congruência ou não com as palavras ditas (Benoit et al., 1988). No entanto, outros
autores defendem a integração de todos os fatores não-verbais e verbais que participam
numa atividade de comunicação, na definição de metacomunicação (Doron & Parot,
2001).
Alarcão (2002, p.70) refere que: “A mensagem metacomunicativa tem como
objetivo verificar a interpretação feita sobre o comportamento ocorrido e clarificar o
nível relacional do comportamento do parceiro comunicacional.”. Dito de outro modo, a
metacomunicação conduz a uma clarificação e congruência comunicacionais,
diminuindo a ambiguidade do contexto da interação
EXERCÍCIO 3 – VÍDEO DE TOM SAWYER

“Quando deixamos de usar a comunicação para comunicar mas a empregamos


para comunicar sobre comunicação, como inevitavelmente acontece na pesquisa de
comunicação, então recorremos a conceptualizações que não são parte da comunicação
mas sobre esta” (Watzlawick et al, 1993).

O nível superior da comunicação é o nível de relação e não o nível dos


conteúdos da mensagem. O facto de Tom estar perante a família fez com que ficasse
envergonhado e irritado e por isso mesmo foi a muito custo que foi conseguindo não
falar e manter o feitiço válido, mas não conseguiu cumprir até ao fim. Uma possível
hipótese para a interrupção do seu ritual é a importância que ele atribui à preocupação
demonstrada pela família, sendo que esta importância se deve à relação que ele
estabelece com os outros membros da sua família.
A comunicação tem o nível do conteúdo mas também o nível de relação – obriga
à definição da relação que une os interlocutores. Watzlawick (1993) fala de um
compromisso implicado pela comunicação, sendo que a mesma não só transmite
informação, como também define a relação e impõe um comportamento.
O conteúdo transmite os dados da comunicação e a relação transmite como a
comunicação deve ser entendida. O aspeto relacional da comunicação, sendo uma
comunicação sobre a comunicação, é idêntico ao conceito de metacomunicação.
“A capacidade de metacomunicar adequadamente é não só a condição sine qua
non da comunicação bem-sucedida mas está intimamente ligada ao grande problema da
consciência do eu e dos outros” (Watzlawick, 1993, p. 49).
Pode haver ambiguidade na interpretação das mensagens, sobretudo quando são
escritas.
Duas mensagens podem ter o mesmo conteúdo, mas diferentes relações. As
relações só raramente são definidas de um modo deliberado e com plena consciência
(Watzlawick et al, 1993).
EXERCÍCIO 3 – VÍDEO DE TOM SAWYER

Conclusão

A realização deste trabalho possibilitou-nos aprofundar os nossos conhecimentos


acerca da problemática da comunicação, que é uma atividade inerente à condição
humana e de extrema importância na nossa futura prática profissional. Através deste
vídeo e, à luz dos conceitos aprendidos sobre a comunicação humana, é-nos possível
aceder a um nível superior de abstracção e aprofundar a análise que fazemos da
problemática, tornando-a mais holística.
No desenvolver deste trabalho, tornou-se claro que a comunicação não se
restringe ao ato verbal e, sendo inerente a todos os nossos comportamentos, é
impossível não comunicar. Estaremos sempre sujeitos à leitura por parte dos outros.
Por essa mesma razão, torna-se importante compreender o contexto em que se
insere o comportamento/ comunicação, para não existirem interpretações erróneas, dado
este ser definidor do próprio significado do comportamento/ comunicação. De facto, tal
como foi observado anteriormente, o contexto é um conceito fundamental para a
compreensão da comunicação.
Foi-nos também possível constatar que existem várias leituras para esta
problemática, estruturadas em vários modelos que proferimos. Destes modelos o
modelo orquestral é, na nossa perspectiva, aquele que melhor ilustra a construção
comum da comunicação e participação ativa dos intervenientes, estando neste modelo
plasmados os princípios orientadores da cibernética.
Outro conceito que julgamos ser importante destacar é o de metacomunicação.
Ao ascendermos a um nível superior na comunicação estaremos a metacomunicar, ou
seja, comunicar sobre a comunicação, e daí podemos depreender aspectos como, por
exemplo, a relação que une os indivíduos que nela participam e que habitualmente
partilham um padrão de comunicação, definido segundo a pragmática da comunicação
como redundância.
EXERCÍCIO 3 – VÍDEO DE TOM SAWYER

Referências

Alarcão, M. (2002). (Des) Equilíbrios Familiares. Coimbra: Quarteto Editora.


Bateson, G., Jackson, D. D., Haley, J. & Weakland, J. (1956). Toward a theory of
schizophrenia. Behavioral Science, 1, 251-264
Benoit, J.-C. (1988). Dictionnaire clinique des thérapies familiales systémiques. Paris:
Les éditions ESF
Casmir, F. L. (Ed.). (1994). Building communication theories: A socio/cultural
approach. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates.
Cohen, J., & Stewart, I. (1994). The Collapse of Chaos. London: Penguin
Doron, R. & Parot, F. (2001). Dicionário de Psicologia. Lisboa: Climepsi Editores.
Fisher, B., & Adams, K. (1994). Interpersonal communication: Pragmatics of human
relationships (2nd ed.). New York: McGraw-Hill.
Ruesch, J. & Bateson, G. (1951). Communication: The social matrix of psychiatry.
New York: W. W. Norton
Watzlawick, P., Beavin, J. H. & Jackson, D. (1993). Pragmática da Comunicação 7
Humana. S. Paulo: Editora Cultrix.

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