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Crise

econômica,
escândalos de
corrupção,
desencanto
Votar ainda
com a política? é o melhor
caminho
para
retomar a
confiança
no Brasil.

EDIÇÃO ESPECIAL | ELEIÇÕES 2018 Edição 140


Dsnovmno 
 os rdço
A CMPC Celulose Riograndense é a maior produtora de celulose do Rio Grande
do Sul e uma das maiores do Brasil, com uma produção média diária superior
a 4 mil toneladas. Produzir celulose, que é a base para muitos produtos que
consumimos no nosso dia a dia, como papel, produtos de higiene pessoal e
muitos outros, não é suficiente. Ter uma atuação voltada para o
desenvolvimento e a sustentabilidade também são prioridades. Quase 50% das
propriedades da empresa são cobertas por vegetação nativa, portanto,
protegida e preservada, paralelo às áreas de plantios de eucalipto, cujo manejo
florestal visa preservar a fauna e a flora dos locais onde a empresa atua. Além
disso, a empresa é 100% sustentável na geração de energia, disponibilizando
um excedente à rede pública, quantidade suficiente para abastecer uma cidade
com mais de 100 mil habitantes.
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DIRETORA EXECUTIVA COORDENAÇÃO EDITORIAL E


Karim Miskulin DIAGRAMAÇÃO
karim@revistavoto.com Critério

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marcio@revistavoto.com Caren Mello
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EDITOR Julia Machado
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4 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


política, cultura e negócios
Edição 140

CAPA ECONOMIA
10 O valor do voto 52 Entrevista Andrés Velasco
Votar ainda é a melhor escolha 56 Quanto custa Igor Morais

MULHERES DE PODER

60 Luiza Trajano
Empreendedora, líder e cidadã

64 Raquel Dodge Com o rigor da lei

MUNDO E HISTÓRIA
66 O exemplo da Suíça O campeão do
mundo nas urnas
70 Visão Gunter Axt

VOTO
72 Confraria de Economia Visões de
POLÍTICA economia para o Brasil
16 Os extremos Aprendendo com os 76 Brasil de Ideias Geraldo Alckmin
excessos 80 Brasil de Ideias Jair Bolsonaro
18 Centrão O grande bloco
84 Brasil de Ideias Candidatos ao governo do
30 Radar mundial Marcos Troyjo Rio Grande do Sul
32 Eleições 2018 O pleito imprevisível 88 Pense nisso Percival Puggina

Movimentos não partidários Um por


36
todos e todos por um CULTURA E LAZER
44 Direito eleitoral Antônio Augusto Mayer 92 Entre páginas A explicação para o que
dos Santos quase ninguém esperava
48 Entrevista ACM Neto 96 Sétima arte Marco Antônio Campos
EDITORIAL

A RETOMADA DEPENDE
DE TODOS NÓS
O
Brasil que vai às urnas em ou- Todos nós, em algum momento, fi-
tubro é um país completamen- zemos opções que influenciaram esse
te diferente daquele de 2014. A cenário. Por isso, é tão importante que
economia foi à ruína e começa lenta- ao menos façamos as escolhas certas
mente a engrenar. As revelações de cor- no dia da eleição. A transformação
rupção demoliram a confiança sobre a necessária virá de um consciente mea
classe política. culpa.
A nação sofre com a insegurança e é Olhemos para frente e com cuida-
sacrificada com a precariedade dos ser- do, votando com coerência e critério.
viços básicos. O ódio, antes restrito aos Carecemos de líderes preparados para
bate-bocas nas redes sociais, foi para a conduzir reformas tão urgentes quan-
rua. A intolerância vocifera. A ordem to fundamentais para a retomada da
jurídica é questionada. esperança e do crescimento. Também
Como chegamos até aqui? De quem é nossa culpa não fomentar novas lide-
é a culpa de atingirmos o fundo do ranças.
poço? Sim, parte expressiva desse ce- Há 14 anos, a VOTO mantém um
nário se deve aos últimos inquilinos do compromisso com o Brasil. Dar ampli-
Palácio do Planalto. Foram 13 anos no tude a boas práticas empresariais, fo-
KARIM MISKULIN poder insuflando uma visão totalitária mentando o exemplo e a melhoria do
DIRETORA EXECUTIVA
de aparelhamento da máquina pública. ambiente de negócios, tem sido o nosso
DA VOTO
O resultado: uma indignação coletiva mantra. Por outro lado, ressaltamos o
contra tudo e contra todos. que dá certo no setor público. Há líde-
Mas a conta por tudo isso não é só res de verdade e que inspiram em to-
deles. É culpa também da visão estrei- dos os campos de atividade. O desafio é


ta de uma mídia pouco comprometida resgatar a importância de cada cidadão
com o desenvolvimento da sociedade neste processo. O desafio é não desistir
brasileira. Descumpriram sua missão, do Brasil.
AS ESCOLHAS QUE dando amplo espaço a fake news e líde- As escolhas que faremos nas elei-
FAREMOS NAS ELEIÇÕES res mentirosos. ções serão as mais importantes desde
É culpa da classe empresarial que, a redemocratização. Qual o Brasil que
SERÃO AS MAIS em tempos de bonança, aplaudiu Lula queremos? Um país que, depois de
ou ficou em silêncio. E quando o castelo tudo pelo que passamos, ainda dê vez
IMPORTANTES DESDE A de cartas ruiu, virou a chave e passou a ao populismo e à demagogia? Uma na-
REDEMOCRATIZAÇÃO. reclamar. O espírito crítico naufragou. ção que insiste em não aprender com
É culpa da academia, ensimesmada o passado?


e que pouco contribui para fora de sua Temos a chance de mudar o desti-
bolha. Com honrosas exceções, sequer no. Se não for agora, a culpa será nossa.
apoia o setor público e tampouco conec- Vá e vote por nosso futuro – para que,
ta-se com a vida real. Há muito tempo, em 2022, quando reencontrarmos as
dentro de seu baú de certezas ideológi- urnas, tenhamos um Brasil que nos or-
cas, viraram de costas para o propósito gulhe, que nos traga de volta o amor de
de formar quadros capazes para enfren- ser brasileiro. Nós, da VOTO, temos fé
tar os grandes desafios do país. no Brasil. Boa leitura!
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JEFFERSON BERNARDES, AGÊNCIA PREVIEW



Deixo os historiadores pra lá. Eu fico com
Roberto Marinho e com o que ele declarou
no dia 7 de outubro de 1984.


JAIR BOLSONARO (PSL)
na sabatina do Jornal Nacional, ao ser questionado sobre o regime
militar e citando editorial favorável do jornal O Globo
JEFFERSON BERNARDES/AGÊNCIA PREVIEW


Eu não vou mudar. O Brasil não precisa de
showman. Não precisa de gritaria, berro, murro
na mesa. Precisa é de governo que funcione.


GERALDO ALCKMIN (PSDB)
no Twitter, retrucando aqueles que defendem que o
tucano assuma uma postura mais firme

MÁRIO MIRANDA/AMCHAM/DIVULGAÇÃO

Querem resolver a eleição nos
gabinetes ou em celas, o que é até
pior em certos aspectos.


CIRO GOMES (PDT)
desferindo ataques ao Centrão e às articulações feitas
pelo ex-presidente Lula na cadeia
WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL


Hoje, com as informações que vieram com a Lava
Jato, não teria declarado apoio.


MARINA SILVA (REDE)
ao ser questionada sobre o apoio a Aécio Neves no segundo
turno das eleições de 2014

8 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


MARCOS NAGELSTEIN/AGÊNCIA PREVIEW

Meu patrimônio não me coloca junto à
elite, me torna independente.


JOÃO AMÔEDO (NOVO)
candidato mais rico entre os que disputam a Presidência,
com R$ 425 milhões, respondendo a críticas de adversários


JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

Reclamam até que eu quero o Sergio Moro como


ministro da Justiça. Eu posso querer, eu tenho o direito
de querer. E eu posso convidá-lo. Outros não podem.


ÁLVARO DIAS (PODEMOS)
em evento promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA), ironizando as críticas que tem recebido


JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL
Vamos baixar imposto de pobre, taxar os mais ricos e tocar
obras paradas. Os banqueiros estão esfolando o povo.


FERNANDO HADDAD (PT)
abandonando o estilo prolixo para se conectar
ao povo, em roteiro por João Pessoa (PB)
MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL


Não aceito demagogos de esquerda ou direita que
querem trazer de volta as políticas que destruíram
empregos e trouxeram pobreza ao Brasil.


HENRIQUE MEIRELLES (MDB)
em artigo recente, alfinetando o governo Dilma ao afirmar que a
“política econômica cedeu lugar à incompetência e ao populismo”

9
CAPA | O VALOR DO VOTO
TRE-RJ/DIVULGAÇÃO

10 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


VOTAR
AINDA É A
MELHOR
ESCOLHA
Uma tempestade perfeita formada por crise econômica,
desemprego, violência, escândalos de corrupção e
desencanto com a classe política transformou a eleição
em um emaranhado de pontos de interrogação.

A única certeza é a de que votar ainda é o melhor


caminho para a mudança.

11
CAPA | O VALOR DO VOTO

U
m denso nevoeiro de incertezas pela falta de confiança dos brasileiros nas
paira sobre o Brasil neste mo- instituições políticas tradicionais”, avalia o
mento. A desconfiança generaliza- professor.
da nos políticos, a constante judi- Somos uma nação formada por 208,5
cialização de decisões do Poder Legislativo, milhões de pessoas, segundo dados do Ins-
o aumento da sensação de insegurança, o tituto Brasileiro de Geografia e Estatística
desemprego, a retração econômica e a in- (IBGE) divulgados em agosto deste ano.
delével burocracia atrapalham a visibilidade Destes, 147,3 milhões são eleitores, distribu-
dos eleitores quanto aos candidatos e suas ídos pelos 5.570 municípios do país – além
propostas, às vésperas do pleito do dia 7 de de 171 localidades de 110 países no exterior.
outubro. Porém, com a esperança de dias melhores
Isso é especialmente preocupante em escondida em algum lugar em meio à né-
um país que, em pouco mais de um quar- voa, é grande o contingente de brasileiros e
to de século desde a retomada das eleições brasileiras, do Oiapoque ao Chuí, que ace-
diretas, passou por episódios traumáticos nam com a possibilidade de simplesmente
como dois impeachments de presidentes e abrir mão do mais importante instrumento
inúmeros escândalos de corrupção. “O voto popular de uma democracia: o voto.
é a principal ferramenta que o eleitor tem Em seu artigo intitulado Desalento elei-
para influir na vida política do país. Infe- toral e democracia no Brasil, o professor Ho-
lizmente, grande parte da nossa população mero de Oliveira Costa, titular da área de
não sabe o significado e o poder do voto. A Ciência Política do Departamento de Ciên-
nossa escolha pode representar uma me- cias Sociais da Universidade Federal do Rio
lhor ou pior qualidade de vida, pois são os Grande do Norte (UFRN), faz um alerta: “É
eleitos que irão criar e gerenciar os impos- fato que as eleições vão ocorrer num cená-
tos que pagamos. O que, por si só, já apon- rio de profundo desalento, que pode ajudar
ta a necessidade de selecionar candidatos a criar as condições para o êxito eleitoral
com propostas direcionadas à melhoria de de algum ‘salvador da pátria’, com partidos
vida da coletividade”, avalia o presidente do sem representatividade e sob profunda des-
Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio crença e rejeição”.
Grande do Sul, desembargador Jorge Luís Na avaliação do cientista político e co-
Dall’Agnol. ordenador do curso de pós-graduação em
Diretor do Instituto de Ciência Política Ciências Sociais da Pontifícia Universidade
da Universidade de Brasília (UnB), o pro- Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Ra-
fessor Paulo Carlos Calmon destaca alguns fael Madeira, os questionamentos ao siste-
fatores que contribuem para um desinteres- ma não são uma exclusividade brasileira. “O
se eleitoral. “Além do cenário de incertezas voto de protesto, o chamado voto cacareco,
normais do período, esta é uma campanha é algo presente nas democracias liberais e
atípica, tanto pela mudança nas regras, no não acontece só no Brasil e nem somente só
financiamento das campanhas, no tempo agora. Há o exemplo de outros países, como
de duração, no modo de condução, como o caso emblemático dos Estados Unidos,

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MAXWELL FERREIRA/PEXELS

EM POUCO MAIS DE UM QUARTO DE SÉCULO, O PAÍS PASSOU


economia forma um perverso cír-
POR EPISÓDIOS TRAUMÁTICOS DE IMPEACHMENTS E INÚMEROS culo vicioso: as famílias ficam mais
ESCÂNDALOS DE CORRUPÇÃO. O VOTO AINDA É A PRINCIPAL endividadas, o consumo diminui,
a indústria produz menos, mais
FERRAMENTA QUE O ELEITOR TEM PARA INFLUIR NA POLÍTICA pessoas são demitidas, menos in-
vestimentos são feitos, baixam as
contribuições para a Previdência
onde parte significativa dos eleito- cional. O desemprego, de acordo Social, mais pessoas ficam sem
res fez o seu protesto e acabou por com pesquisas recentes, supera a proteção social, aumenta a infor-
eleger Donald Trump, para sur- casa dos 13 milhões de brasileiros. malidade do trabalho, o Produto
presa mundial”, recordou o pro- O número sobe para espantosos 65 Interno Bruto (PIB) cai e o ciclo se
fessor, que também é membro do milhões de pessoas quando se en- fecha.
Centro Brasileiro de Pesquisas em tra no tópico daqueles que não es- Para Calmon, a desconfiança
Democracia da PUCRS. tão trabalhando e nem procuram dos investidores com relação ao
emprego – neste cálculo estão in- resultado pós-eleição contribui
CRISE POLÍTICA POTENCIALIZA cluídos idosos, jovens, estudantes e bastante para o cenário negativo.
A ECONÔMICA aqueles que simplesmente desisti- “O nosso sistema eleitoral tem
A falta de confiança dos brasilei- ram da busca por oportunidades. uma idiossincrasia: a grande for-
ros no setor político também tem O reflexo dessa legião de au- mação de alianças é feita depois
reflexos nefastos na economia na- sentes do mercado de trabalho na das eleições e não antes. Na maior

13
CAPA | O VALOR DO VOTO

ENEAS DE TROYA/FLICKR

A EVOLUÇÃO DO NÃO VOTO


Após um pico em 2002, o número de brasileiros que votou em
brancos, nulos ou se absteve foi recorde em 2014:

30%

25%

18,1% 19,7%
17,7%
20% 16,7%

15%

10%

7,4%
5,5% 5,8%
5% 5,7%

3,0% 2,7% 3,1% 3,8%


0%
2002 2006 2010 2014

Votos em branco Votos nulos Abstenções

Fonte: TSE

parte das democracias contem-


porâneas, as coalisões são forma-
das e expostas aos eleitores antes NAS ELEIÇÕES DE 2014, QUASE 40 MILHÕES DE
do pleito. No Brasil, é depois. Por
isso corremos sempre o risco de BRASILEIROS NÃO EXERCERAM O SEU DIREITO DE
ver um presidente eleito sem tan-
ESCOLHER O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
ta representação no Congresso, o
que prejudica a governabilidade e
o obriga a fazer acordos nem sem- ção dos recursos públicos, carga o presidente da República. Dessa
pre lógicos aos seus eleitores. Hoje tributária mais justa, diminuição legião, aproximadamente 27 mi-
o risco político é maior do que o dos impostos e da burocracia, me- lhões não compareceram aos lo-
risco econômico”, conclui. lhoria da infraestrutura e logística, cais de votação, enquanto outros
valorização e melhoria na educa- 13 milhões anularam seu voto ou
OMISSÃO QUE ATRAPALHA ção, dentre tantos outros desejos, a apertaram a tecla branca na urna
Mas a omissão eleitoral – em- resposta parece ser óbvia: não. eletrônica. Os resultados dessa la-
bora legítima e parte integrante Um dado estatístico de quatro cuna de opiniões não foram os dias
do jogo eleitoral – ajudará o país a anos atrás ajuda a elucidar isso. De melhores que todos desejavam.
superar seus problemas? Para uma acordo com números do Tribunal O cientista político, sociólogo
nação que ainda sonha e busca Superior Eleitoral (TSE), nas elei- e pesquisador Alberto Carlos Al-
coisas básicas – mas não simples ções nacionais de 2014, quase 40 meida, sócio do Instituto Brasilis,
ou menos relevantes – como efi- milhões de brasileiros não exer- acredita que a democracia brasilei-
ciência e transparência na aplica- ceram o seu direito de escolher ra está consolidada e não há moti-

14 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


COMO FAZER UMA BOA ESCOLHA
Mais participação e engajamento dos brasileiros são fundamentais país passa pelo do desempenho da
para aprimorar o processo democrático. Fontes consultadas pela VOTO
destacam cinco maneiras para fazer isso: economia. “Quando a economia
vai bem, está todo mundo satisfei-
to. Mas qualquer governo em um

1 Acompanhe a propaganda eleitoral, as redes sociais


e tente participar das atividades de campanha dos
mundo democrático depende do
voto para ter legitimidade”, sinte-
candidatos para conhecer melhor suas propostas e suas
visões sobre diferentes temas tiza o cientista político.
Já Calmon projeta que estará

2
Procure checar os projetos e as informações divulgadas
nas mãos do próximo presidente
nas redes sociais, sejam elas favoráveis ou contrárias ao
seu candidato de preferência eleito a reunificação. “As eleições
por si só não vão resolver a po-

3
Investigue o passado do seu candidato, veja se ele já foi larização. Vai depender do que o
alvo de algum processo ou possui alguma condenação candidato que vencer irá fazer. O
que me traz um certo otimismo,
Antes de passar adiante alguma informação recebida apesar da zona de turbulência
4 em um grupo ou em suas redes, busque averiguar a
veracidade da mesma. Isso evitará que você seja usado
que ainda deveremos ter em 2019
e, talvez, até 2020, é que come-
como um multiplicador de fake news
ça a haver a discussão sobre uma

5 Não deixe para conhecer os candidatos e suas


propostas na última hora. Isso poderá levar você
reforma política e institucional
mais profunda”, diz o professor
a uma escolha superficial e aumentará o risco de
da UnB.
frustração após a eleição
O desembargador Jorge Luís
Dall’Agnol lança um olhar para
o futuro político nacional. “Para
reverter esse cenário de falta de
confiança, penso que o caminho
vo para pânico. Mas ele concorda dos brasileiros no processo demo- mais apropriado seja o diálogo.
com o risco de propostas populis- crático. Evidentemente que fazer Amplo diálogo entre sociedade e
tas se sobressaírem. “As críticas ao a correta seleção dos candidatos instituições. Ampliar os meios de
sistema político e à liberdade de – seja a deputado estadual, depu- participação política do cidadão.
imprensa são sintomas do corre- tado federal, senador, governador Criar mecanismos que possibi-
to funcionamento da democracia. ou presidente – também não é ta- litem e assegurem práticas que
Assim como também é a alternân- refa fácil diante do grande volume procurem de fato solucionar os
cia de poder. As pessoas exageram de informações e, para piorar, do problemas que afligem a popula-
com a previsão de um cenário de crescente alcance e rapidez de di- ção. É preciso que o desencanto
catástrofe, abrindo assim espaço fusão das fake news. ceda lugar à possibilidade de se
para falsos salvadores da pátria”, Com uma população que, em tirar lições desse quadro desalen-
defende Almeida, que é autor dos sua grande maioria, não teve aces- tador. E tais lições devem servir
livros A cabeça do brasileiro, A cabe- so a uma educação de boa qua- de aprendizado para aprimorar-
ça do eleitor e, em junho deste ano, lidade, principalmente nas fases mos nossa participação política
lançou sua mais recente obra, O iniciais de aprendizado, saber in- desde já. Políticos, partidos, insti-
voto do brasileiro. terpretar, reconhecer ou separar o tuições e eleitores. É como se diz
que é fato do que é falso se tornou com frequência: se não podemos
SAÍDA PELA PARTICIPAÇÃO um grande desafio para o Brasil refazer o que já foi feito, ponha-
Autoridades e especialistas acre- como sociedade. mos um final no ocorrido para
ditam que o caminho para o Bra- Alberto Carlos Almeida acredi- dar início ao que está por vir. Ini-
sil se reencontrar é justamente a ta que, além das escolhas corretas ciemos já!”, conclama o presiden-
maior participação e engajamento na hora de votar, a pacificação do te do TRE-RS. V

15
POLÍTICA | OS EXTREMOS

JUCA VARELLA/AGÊNCIA BRASIL

APRENDENDO
Embates diretos vêm
se acirrando desde
o impeachment da

COM OS EXCESSOS
presidente Dilma
Rousseff, em 2016

O limite entre as discussões típicas de uma campanha


eleitoral e a barbárie tem sido frequentemente
ultrapassado. Mas, mesmo diante de um cenário tão
revolto, há o que aprender e evoluir como nação

16 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


S
e para os cargos no Poder maturidade ao condenar, de forma infraestrutura, economia e desen-
Legislativo a profusão de unânime, o crime contra Bolsona- volvimento, não tiveram o prota-
candidaturas e de vagas aca- ro. Álvaro Dias (Podemos), Henri- gonismo que mereciam ao longo
bam por, naturalmente, acalmar que Meirelles (MDB), Ciro Gomes dos 45 dias de campanha. O debate
os ânimos, uma vez que não há (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), esvaziou.
um único adversário direto e nem Marina Silva (Rede), João Amoêdo
apenas um único lugar ao sol, para (Novo), Fernando Haddad (PT) e PARTICIPAÇÃO DOS ELEITORES
as funções no Executivo a realida- Guilherme Boulos (PSOL): todos PODE NÃO SER TÃO BAIXA
de da campanha eleitoral brasileira se uniram para criticar a violência. Mas, mesmo em um período tão
é outra: embates diretos e ríspidos, conturbado, é possível lançar um
troca de acusações e disputa acir- TEMAS IMPORTANTES olhar positivo para o momento?
rada por espaços costumam elevar EM SEGUNDO PLANO Sim, desde que sejamos otimistas a
a temperatura das campanhas. Em editorial sobre a campanha ponto de acreditar que todos esses
Mas o que se viu este ano trans- política brasileira e o atentado, o acontecimentos ajudaram o país a
passa qualquer limite aceitável jornal francês Le Monde falou so- perceber que o radicalismo e a vio-
para uma sociedade pacífica e or- bre “o naufrágio de uma nação”. lência só pioram as coisas e atrasam
ainda mais a mudança e a melho-
ria de vida com que todos sonham.
ATENTADO A BOLSONARO INSUFLOU Em outras palavras, o aprendizado
da campanha eleitoral de 2018 não
AINDA MAIS OS RADICAIS DE DIREITA E pode ser esquecido.

DE ESQUERDA. A GRANDE VÍTIMA, NESSE Coordenador do curso de pós-


graduação em Ciências Sociais da
EPISÓDIO, FOI A DEMOCRACIA BRASILEIRA PUCRS, Rafael Madeira também
acredita que a participação dos
eleitores nas urnas não será tão
deira. Tenha ele sido movido por Lembrando que, meses antes do pequena quanto inicialmente pre-
ideologia ou por qualquer razão, início do período eleitoral, uma visto por alguns especialistas. “O
o ato praticado por Adélio Bispo caravana com o ex-presidente Lula cenário desta eleição, com todos
de Oliveira contra o presidenci- foi alvo de tiros, o periódico euro- os fatos recentes que aconteceram,
ável Jair Bolsonaro (PSL) na tar- peu ainda apontou que “a agres- desde 2016, tende a fazer com que
de do dia 6 de setembro, em Juiz são de faca contra o candidato de a esquerda e a direita se mobilizem
de Fora (MG) atingiu em cheio as extrema direita marcou mais um mais e um número maior de pes-
eleições brasileiras. passo nesta escalada descontrolada soas compareça aos locais de vota-
Como não há nada tão ruim que e feriu a imagem de país cordial ção em outubro”, avalia o cientista
não possa piorar, o atentado à faca que o Brasil possui”. político.
também insuflou ainda mais os ra- Porém, além de um arranhão Queiram os deuses das urnas
dicais, de direita e de esquerda. A na imagem do país, outra séria que os brasileiros possam, com
grande vítima, nesse episódio, foi a consequência direta do radicalis- sabedoria, paz e – por que não –
democracia brasileira. O ferimento mo foi que a fundamental discus- uma pitada de sorte, fazer no dia 7
só não foi mais grave – no regime são de ideias e a apresentação de de outubro a melhor escolha pos-
democrático – pela reação dos de- projetos que realmente importam sível para o futuro do Brasil. E que
mais candidatos à presidente, que e em áreas relevantes, como edu- esse futuro encontre uma nação
agiram com responsabilidade e cação, saúde, segurança pública, desenvolvida e próspera. V

17
POLÍTICA | CENTRÃO
ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

Líderes do centrão
definiram apoio a
Geraldo Alckmin nas
eleições presidenciais

O GRANDE BLOCO
Com tempo expressivo de TV e influência política, o
popularmente chamado Centrão foi cortejado por vários
candidatos. O escolhido foi Geraldo Alckmin, do PSDB

E
m uma campanha eleitoral
de apenas 45 dias, com uma
série de restrições para pu- COM A DISPUTA, FOI ALCANÇADO O
blicidade e atos políticos, qual-
quer segundo a mais de exposição PRINCIPAL OBJETIVO DESSA UNIÃO DE
no rádio ou na televisão tem uma
SIGLAS: AUMENTAR A INFLUÊNCIA POLÍTICA
grande relevância. O que dizer,
então, da importância para um
candidato em somar à sua campa-
nha quase 15 minutos diários em muitos postulantes à presidência suas demandas futuras por parte
programas no Horário Eleitoral da República. Com isso, também do Palácio do Planalto.
Gratuito e inserções? foi alcançado o principal objetivo Disputados por Ciro Go-
Esse poder em forma de tem- dessa união de siglas partidárias, mes (PDT), Henrique Meirelles
po de mídia levou um bloco de que é o de aumentar a influência (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e
partidos formado por DEM, Pro- política. Não somente para a ob- pela cúpula do PT, o mais eficaz
gressistas, PR, PRB e Solidarieda- tenção de espaços como também em sua persuasão pré-eleitoral
de a ser cortejado e disputado por na busca pelo atendimento de foi Geraldo Alckmin (PSDB). Na

18 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


costura, a vaga para vice-presi- pelo Tribunal Superior Eleitoral têm menos de 30 segundos em
dência do tucano esteve em foco. (TSE) – nesse cálculo estão in- cada bloco.
Cogitou-se a nomeação de Josué clusos programas e inserções dos
Gomes (PR), filho do ex-vice-pre- candidatos a todos os cargos em MUITO ALÉM DAS URNAS
sidente José Alencar. Com a recu- disputa –, relevantes 62 minutos Mas a influência do popular-
sa do empresário, o nome veio do e 22 segundos são destinados aos mente chamado Centrão vai mui-
Progressistas: a senadora gaúcha partidos que compõem a aliança to além do período eleitoral. O
Ana Amélia Lemos. com Alckmin. Num comparati- bloco de partidos foi decisivo em
episódios marcantes e recentes da
política nacional. Na votação do
A INFLUÊNCIA DO CENTRÃO VAI MUITO ALÉM DO PERÍODO impeachment da presidente Dilma
Rousseff, em 2016, essas siglas vo-
ELEITORAL. O BLOCO DE PARTIDOS FOI DECISIVO EM taram majoritariamente contra a
petista. O Democratas, por exem-
EPISÓDIOS MARCANTES E RECENTES DA POLÍTICA NACIONAL plo, contribuiu com 28 votos fa-
voráveis à destituição, e nenhum
contra.
A partir da formação da coli- vo direto, Marina Silva (Rede), Já no governo de Michel Temer,
gação, o tempo de televisão do Cabo Daciolo (Patri), José Maria o posicionamento do Centrão foi
ex-governador de São Paulo dis- Eymael (DC), Guilherme Boulos igualmente determinante, po-
parou. Dos 121 minutos diários (PSOL), Vera Lúcia (PSTU), João rém para que fossem arquivadas
de Propaganda Eleitoral Gratuita Amoêdo (Novo), Jair Bolsonaro as denúncias contra o presiden-
previstos pela divisão apontada (PSL) e João Goulart Filho (PPL) te e os ministros Eliseu Padilha e

OS LÍDERES DO ATUAL CENTRÃO


Congressistas e expoentes partidários influentes ajudam a movimentar o tabuleiro político
em Brasília. Conheça os principais nomes que encabeçam o grupo:

Rodrigo Maia Ciro Nogueira Antônio Carlos


presidente da Câmara Rodrigues
WALDEMIR BARRETO/AGÊNCIA SENADO E REPRODUÇÃO

presidente nacional
dos Deputados e principal da agremiação presidente nacional
liderança do bloco na do partido
atualidade

Marcos Pereira Paulinho da Força


presidente nacional presidente nacional da
do partido sigla e da Força Sindical

19
POLÍTICA | CENTRÃO

ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

Presidente da Câmara,
Rodrigo Maia tornou-se um
dos mais influentes líderes
políticos brasileiros

Moreira Franco. Uma amostra da


importância desse amparo é o PP:
nas duas votações da admissibi- NO GOVERNO TEMER, O POSICIONAMENTO DO CENTRÃO
lidade das denúncias, dos 44 de-
FOI DETERMINANTE PARA QUE FOSSEM ARQUIVADAS
putados do partido, 37 votaram a
favor de Temer. DENÚNCIAS CONTRA O PRESIDENTE E MINISTROS
Quando se analisa os números
totais das duas votações, o impac-
to desse apoio fica mais nítido: na
primeira denúncia contra o presi- rante a Assembleia Constituinte, dentro do Congresso Nacional,
dente, em agosto de 2017, o placar um ano antes, como um grupo su- naquele momento dividido quase
contabilizou 263 votos a favor do prapartidário e conservador, vol- que somente pela polarização en-
governo e 227 contrários. Na épo- tado a restringir ideias de esquer- tre PT e PSDB. A primeira grande
ca, dois deputados se abstiveram e da no texto da nova Carta Magna. prova de poder do bloco foi jus-
19 estavam ausentes. No segundo Era formado por PFL (atual DEM), tamente a eleição do deputado
processo, em outubro de 2017, no PMDB, PL (atual PR), PDS (atual Eduardo Cunha para presidir a
total foram 251 votos para barrar o Progressistas), PTB e PDC (atual Câmara – impondo uma derrota
processo, 233 a favor da denúncia DC). ao governo Dilma, que defendia
e duas abstenções. Para outros, no entanto, o sur- que Arlindo Chinaglia (PT-SP).
gimento deu-se em 2015, sob a Atualmente, o bloco totaliza
ORIGEM TEM DIFERENTES liderança do então deputado Edu- 164 deputados federais e 21 sena-
INTERPRETAÇÕES ardo Cunha (MDB). A aliança era dores, além de duas governadoras
A data de nascimento do Cen- formada por PP, PTB, PSC, PRB, – Suely Campos, de Roraima e
trão gera discordâncias. Para al- SD, PT do B, PR, PEN, PTN, PSD, Cida Borghetti, do Paraná. E nes-
guns pesquisadores e cientistas PHS, PSL e Pros. Com isso, legen- tas eleições, terá mais um teste de
políticos, ele é anterior à Consti- das de médio e pequeno porte fogo para verificar sua influência e
tuição de 1988. Teria surgido du- criaram um novo ponto de poder seu futuro. V

20 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


21
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27
RADAR MUNDIAL | MARCOS TROYJO

CHINA: A GRANDE AUSENTE


DAS ELEIÇÕES BRASILEIRAS

N
o período 2015-2016, quando dustriais para a China, caso o México
republicanos e democratas rea- viesse a perder seu diferencial de per-
lizavam preparativos para defi- tencer ao bloco com EUA e Canadá.
nir quem seriam seus candidatos à Casa Foi nesse contexto que, há pouco
Branca, assisti nos EUA a alguns deba- tempo, conversei com um grande gru-
tes interessantes sobre política externa. po de pesquisadores chineses prestes a
Assessores dos dois partidos eram as embarcar para o Brasil, com o objetivo
estrelas de discussões sobre qual seria de estudar como seu país está sendo
a “China Policy” (política para a China), abordado no debate presidencial. Para a
caso seu “candidato a candidato” fosse o surpresa deles, o assunto China é sole-


escolhido à corrida presidencial. nemente ignorado.
Essa centralidade que a nação asiática Num primeiro levantamento que
ocupou na mais recente disputa presi- realizaram, excetuando-se a referência
OS PRESIDENCIÁVEIS dencial americana está longe de ser um ao apetite pela compra de nióbio ou ao
fenômeno observado apenas nos EUA. interesse mais amplo pela aquisição de
BRASILEIROS NÃO Claro que Washington tem importantes terras no Brasil, os pesquisadores chine-
CONTAM SEQUER COM e multidimensionais interesses quando ses concluíram que nenhum dos prin-
o assunto é Pequim, mas muitos outros cipais candidatos ao Planalto até agora
OS RUDIMENTOS DO QUE países trataram a China como item pri- tem qualquer noção de como abordar a
mordial de atenção em eleições presi- China.
SERIA SUA ‘CHINA POLICY’ denciais. Em uma frase: os presidenciáveis


Na caminhada que levou Mauricio brasileiros não contam sequer com os
Macri à Casa Rosada, a questão China rudimentos do que seria sua “China Po-
foi item recorrente, sobretudo porque, licy”. Ora, por que o assunto China – ao
no final do governo Cristina Kirchner, contrário da experiência de pleitos re-
os argentinos assinaram um acordo que centes em outras democracias ociden-
oferecia aos chineses prioridade no in- tais – ainda é um grande ausente nas
vestimento em áreas estratégicas como eleições brasileiras?
petróleo e gás, logística e transportes. Parte da explicação vem da própria
Quando Emmanuel Macron, ainda configuração “ensimesmada”’ da eco-
candidato ao Eliseu, defendia a moder- nomia brasileira. Como resultado do
nização das regras trabalhistas na Fran- protecionismo comercial e de seu tra-
ça, o fazia como forma inescapável de dicional foco de desenvolvimento no
combater a hipercompetitividade chi- mercado interno, não ocorreu uma mi-
nesa. gração tão forte de empresas para ope-
MARCOS TROYJO Nas recentes eleições mexicanas, o rar a partir do território chinês.
DIRETOR DO BRICLAB eventual desmantelamento do Acordo No caso de companhias americanas
DA UNIVERSIDADE DE
de Livre Comércio da América do Nor- ou europeias, essa transferência de ati-
COLUMBIA E PROFESSOR
DO IBMEC te (Nafta) sempre foi acompanhado do vidades manufatureiras para a China,
marcos.troyjo@gmail.com fantasma da transferência de hubs in- deixando algumas cidades e regiões

30 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


CHUTTERSNAP/UNSPLASH

para trás na condição de “desertos


industriais”, foi muito mais inten-
sa. A desindustrialização — e seus
impactos sociais — como efei-
to colateral da ascensão chinesa
é tema obrigatório em qualquer
eleição em países da Organização
para a Cooperação e Desenvolvi-
mento Econômico (OCDE), que
congrega nações de elevada renda
per capita.
Para o Brasil, tal isolamen-
to não foi necessariamente bom.
Desperdiçamos oportunidades de
internacionalização empresarial,
ganhos de eficiência e custo, pla-
taformas de exportação para ter-
ceiros mercados a partir de uma
base na China. E, por conseguinte,
continuamos ainda bastante afas-
tados das grandes cadeias globais
de valor.
A indiferença dos postulantes
à Presidência no Brasil quanto ao
tema China simplesmente não vendas para os EUA. Trata-se de Guide Investimentos, Rio Bravo,
pode continuar. Embora, a bem da uma remessa importante em ter- Banco BBM e BicBanco.
verdade, nenhum presidenciável mos de volume, mas baixa no que Além disso, a grande extro-
até agora tenha dito quais são suas diz respeito à agregação de valor. versão chinesa como agente de
ideias para relações com EUA ou Continuamos essencialmente a investimentos em infraestrutura,
União Europeia. vender as commodities soja e miné- sua liderança em constituir uma
Não se trata, portanto, de so- rio de ferro. nova família de instituições finan-
mente ignorar a China, mas perce- De 2015 a 2017, bancos chine- ciadoras do desenvolvimento e
ber quão incipiente é o foco dado ses de fomento – como o Banco os planos da China para a Quarta
pela política brasileira aos grandes de Desenvolvimento da China, Revolução Industrial são todas de
temas internacionais. Elaborar o maior do mundo – realizaram imensa relevância para o Brasil.
um mínimo de estratégia para li- US$ 42 bilhões em empréstimos A presença da China como pro-
dar com o gigante asiático é im- para o Brasil. E a China move-se tagonista do mundo contemporâ-
prescindível. E as razões para tal rapidamente para ocupar as pri- neo oferece ao Brasil um delica-
atenção de forma estruturada são meiras posições como fonte de do balanço. Em especial porque
óbvias. A China é o principal des- investimentos estrangeiros dire- os chineses, sempre meticulosos,
tino de nossas exportações e, no tos ao Brasil. E, claro, os chine- sabem muito bem o que querem
conjunto, nosso principal parceiro ses são a ponta compradora de de nós. Com os candidatos à Pre-
comercial. vigorosos processos de fusões e sidência da República desatentos
De janeiro a junho de 2018, as aquisições. Exemplos disso são e desprovidos de uma “China Po-
exportações brasileiras à China as transações envolvendo enti- licy”, fica mais difícil ao Brasil afas-
totalizaram quase US$ 30 bilhões, dades chinesas e conhecidos no- tar-se dos riscos e abraçar as opor-
mais do que o dobro de nossas mes financeiros no Brasil, como a tunidades.

31
POLÍTICA | ELEIÇÕES 2018

MARCELO CAMARGO, DIVULGAÇÃO E RAFAEL BARROSO


O PLEITO
IMPREVISÍVELQuadro eleitoral complexo desafia analistas e põe em xeque
conceitos e tendências dos últimos pleitos, tornando complicado
prever quem será o próximo presidente do Brasil

WENDERSON ARAÚJO, RICARDO STUCKERTE E MARCELLO CASAL JR

O
que acontecerá nas noites “desafiador”, em meio a uma go, queda dos principais nomes da
de 7 e 28 de outubro, quan- disputa eleitoral “fragmentada”, política tradicional e insatisfação
do forem abertas as urnas? com incertezas sobre os nomes geral da população. O quadro tam-
Em resumo, a resposta de muitos que estarão no segundo turno. bém foi alterado pela redução do
analistas políticos é que tudo pode Também apontou dúvidas sobre tempo de campanha e novas re-
acontecer. Há um consenso: esta é como se dará a governabilidade a gras de financiamento.
a eleição mais imprevisível desde a partir de 2019. “O instrumental que você ti-
redemocratização. As imprevisibilidades são ge- nha à mão para análise, a partir da
Em recente avaliação, a agência radas por um complexo cenário, observação de várias eleições, fica
de risco Fitch considerou o que congrega lenta retomada da limitado frente a todas essas con-
ambiente político brasileiro como economia, alto nível de desempre- dições”, justifica o cientista políti-

32 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


PESQUISA GANHA ELEIÇÃO? co Leonardo Barreto, da Factual
Nas últimas eleições brasileiras, quem estava na dianteira das pesquisas a um Análise, ao comentar o intrincado
mês do pleito acabou sendo confirmado como presidente. Mas a distância do quadro eleitoral de 2018. Ele acres-
segundo lugar é quase sempre menor quando as urnas abrem
centa outro fato novo deste pleito,
na comparação com as últimas
2002
décadas: um governo federal sem
9 de setembro 6 de outubro
(fonte: Datafolha) (resultado final) chances de dar sequência ao seu
50% projeto político.
46% Lula (PT)
“Normalmente, o governo que
40% 40%
está terminando tenta exercer o
30% controle de sua sucessão, buscan-
20% 21% 23% Serra (PSDB) do a reeleição ou indicando o su-
15% 18% Garotinho (PSB)
cessor, agregando as legendas em
10% 13% 12% Ciro Gomes (PPS)
torno dele. Como o governo Te-
0% mer está sem capacidade para isso,
houve uma pulverização das can-
2006 didaturas”, diz Barreto.
9 a 11 de setembro 1º de outubro
(fonte: Ibope) (resultado final)
50% 50% 49% Lula (PT) HÁ UM FATO NOVO DESTE
42% Alckmin (PSDB)
40% PLEITO, NA COMPARAÇÃO
30% 29% COM OS ÚLTIMOS: UM
20%
GOVERNO FEDERAL
10% 9%
7% Heloisa Helena
0%
(PSOL)
SEM CHANCES DE DAR

2010 SEQUÊNCIA AO SEU


24 a 26 de agosto
(fonte: Ibope)
3 de outubro
(resultado final)
PROJETO POLÍTICO
50% 51% 47% Dilma (PT)

40%
33% Serra (PSDB) O FATOR HADDAD
30%
27% Talvez a principal incógnita do
20% 19% Marina Silva (PV) pleito esteja na situação do Partido
10% dos Trabalhadores (PT). Condena-
7%
do por corrupção passiva e lava-
0%
gem de dinheiro, o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva teve sua
2014
tentativa de candidatura enqua-
9 de setembro 5 de outubro
drada na Lei da Ficha Limpa pelo
(fonte: Ibope) (resultado final)
50%
Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
42% Dilma (PT)
não podendo disputar as eleições.
40%
37% Com pouco tempo pela frente,
30%
33% 33% Aécio (PSDB)
fica a dúvida se Lula será capaz de
20% 21% Marina Silva (PSB) transferir seu potencial eleitoral
15% para Fernando Haddad e levá-lo a
10%
um segundo turno contra Jair Bol-
0% sonaro (PSL). Caso isso não ocorra,
ganham Marina Silva (Rede) e Ciro

33
POLÍTICA | ELEIÇÕES 2018

REGIÃO GANHA ELEIÇÃO?


A eleição de 2002 foi a última em que um candidato venceu no
segundo turno em todas as regiões do país. Depois daquele pleito, o
Brasil dividiu-se entre “vermelhos” e “azuis”

2002 2006
Região Vencedor Percentual Região Vencedor Percentual
Norte Lula 58,18% Norte Lula 65,59%

Nordeste Lula 60,87% Nordeste Lula 77,13%

Centro-Oeste Lula 57,29% Centro-Oeste Lula 52,38%

Sudeste Lula 63,01% Sudeste Lula 56,87%

Sul Lula 58,84% Sul Alckmin 53,51%

Brasil Lula 61,27% Brasil Lula 60,83%

2010 2014
Região Vencedor Percentual Região Vencedor Percentual
Norte Dilma 57,43% Norte Dilma 56,55%

Nordeste Dilma 70,58% Nordeste Dilma 71,69%

Centro-Oeste Serra 50,92% Centro-Oeste Aécio 57,42%

Sudeste Dilma 51,88% Sudeste Aécio 56,18%

Sul Serra 53,89% Sul Aécio 58,90%

Brasil Dilma 56,05% Brasil Dilma 51,64%

Gomes (PDT), que podem ser be- de 2002, o candidato petista esteve pesquisas. Com uma chapa extensa
neficiados pelo chamado “voto útil”. à frente em praticamente todas as e mais de 40% do programa e das
“Tem o candidato preferido e o pesquisas, seguido por um oponen- inserções nos intervalos, o tucano
que você odeia. Então, o preferido te do PSDB. Somente em 2014 hou- aproveita o espaço para tornar-se
não se mostra viável e você prefere ve uma terceira via que quase colo- mais conhecido. Mas enfrenta suas
votar no mais viável. Está se confi- cou fim a essa série — justamente próprias fragilidades.
gurando para que isso aconteça”, Marina Silva, então candidata pelo Para o cientista político Leonar-
avalia Barreto, que aposta em Ma- PSB. Em segundo lugar nos levan- do Barreto, o cenário é “bem di-
rina como uma forte concorrente tamentos, foi superada na última fícil, até dramático” para o PSDB,
para alcançar o segundo turno nes- semana pelo tucano Aécio Neves em virtude do desgaste do parti-
se cenário. [confira mais na página anterior]. do, de sua ligação com o chamado
Outra convenção em xeque “Centrão” e das denúncias de cor-
FIM DA POLARIZAÇÃO neste pleito é o horário eleitoral rupção.
Caso isso aconteça, será a que- no rádio e televisão. A propaganda Caso PT e PSDB fiquem de
bra de uma série de quatro eleições é a grande esperança de Geraldo fora do segundo turno, outra ten-
polarizadas entre PT e PSDB. Des- Alckmin (PSDB) para crescer nas dência será quebrada. Nas últimas

34 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


TV GANHA ELEIÇÃO?
Petistas e tucanos concentram mais de 70% da
programação desde 2002. Pleito deste ano terá
menos tempo para todos os candidatos.

2002 2006

Serra 10min 23s 11% Alckmin 10min 22s


17,2%
8,9%
Lula 5min 19s Lula 7min 21s
41,6% 9,8% 42,7%
17,2%
Ciro 4min 17s Cristovam 2min 23s
30,3%
Garotinho 2min 13s 21,3% Outros 4min 11s

Outros 2min 46s

2010 2014

Dilma 10min 38s Dilma 10min 24s


22,5%
28,6% Aécio 4min 35s
Serra 7min 18s
42,6% 43,6%
5,6%
Marina 1min 23s Marina 2min 3s
8,6%

Outros 3min 37s


29,3%
19,2% Outros 6min 50s

quatro eleições, os dois candida- 2014, Aécio Neves (PSDB) ganhou de fogo do PT”, pondera Barreto.
tos que avançaram tinham mais em 12 estados, configurando um Enquanto isso, até o fechamento
de 55% do horário eleitoral. Mais mapa de quase perfeita divisão do desta edição da VOTO, nas regiões
bem posicionados nas pesquisas Brasil entre um Centro-Sul tucano Sul e Sudeste, o PSDB amarga a perda
de 2018, Bolsonaro, Ciro e Marina e um Norte e Nordeste petistas. de seu eleitorado para Jair Bolsonaro,
têm juntos 1 minuto e 7 segundos Ainda com enorme força no que supera Alckmin até mesmo
de 12 minutos e 30 segundos dos Nordeste, Lula teria mais de 50% em São Paulo. Nos antes redutos
programas presidenciais. dos votos em todos os estados da tucanos, o deputado fluminense
região, segundo pesquisas do Ibo- atinge índices que superam os 30%
O FATOR NORDESTE pe de final de agosto. Todavia, há das intenções de voto.
As diferenças regionais também dúvidas se isso se transferirá para Essas questões só serão dirimidas
terão papel preponderante na de- Fernando Haddad, político pau- quando as urnas apresentarem a voz
finição do segundo turno. Desde lista e pouco conhecido pelo país dos brasileiros. Até lá, seguirão vivas
2002, quando não venceu em ape- afora. “Há ainda um candidato e intensas as especulações da eleição
nas um estado, o PT vem perden- competitivo no Nordeste, o Ciro mais complexa e imprevisível desde
do terreno no país. Na disputa de Gomes, que deve reduzir o poder a redemocratização. V

35
POLÍTICA | MOVIMENTOS NÃO PARTIDÁRIOS

UM POR TODOS E
TODOS POR UM
Indignados com os escândalos de corrupção, a ineficiência
pública e a falta de preparo dos agentes públicos,
muitos brasileiros decidiram não jogar a tolha. Criaram
movimentos com perfis diversificados, mas com o mesmo
propósito: melhorar a política – e, assim, o país

36 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


MOVIMENTO BRASIL LIVRE RS/DIVULGAÇÃO

bandeiras e de agremiações, par- O movimento Agora! se apre-


te dela está se organizando com o senta disposto a contribuir e
propósito de melhorar a política. congrega jovens com capacidade
Na grande maioria, esses movi- intelectual e econômica. O nú-
mentos são compostos por jovens cleo propõe uma nova agenda
com boa formação que comun- de políticas públicas, baseada em
gam da mesma ideia: a nação pre- expertises colhidas pelo mundo.
cisa sair do labirinto. Os grupos in- As propostas foram repassadas
dependentes – sem interferências a todos os candidatos à Presi-
partidárias ou verba pública – têm dência da República. Enquanto
instigado mobilizações, proposto isso, o Renova Brasil nasce com
a qualificação da vida pública e se- a proposta de ser uma escola que
meado esperança. Não há líderes ensina a boa política. Parte da

NA GRANDE MAIORIA, OS MOVIMENTOS SÃO


COMPOSTOS POR JOVENS COM BOA FORMAÇÃO
QUE COMUNGAM DA MESMA IDEIA: A NAÇÃO
PRECISA SAIR DO LABIRINTO

isolados. Cabe a frase de Alexandre premissa de que não há transfor-


Dumas, escrita em 1844: “um por mação sem conhecimento. O cur-
todos e todos por um”. so de 220 horas conta com 49 pro-
Para ganhar notoriedade, to- fessores e seleciona com critério
dos têm apostado nas redes sociais pessoas capazes de mudar o Brasil.
como o canhão para disseminar as
convicções. O Movimento Brasil EMPATIA SOCIAL
Livre (MBL), por exemplo, tem Para a cientista política Elis
quase 2,8 milhões de seguidores Radmann, os movimentos ga-
no Facebook. A audiência é muito nham corpo com as frustrações
superior à de qualquer sigla polí- e descrenças da sociedade. “A
tica. Nas manifestações que derru- sensação de ineficiência faz com

S
baram o governo Dilma, foram o que pessoas com discernimento
ão 35 partidos políticos no megafone da indignação de muitas e capacidade pensem em reagir.
Tribunal Superior Eleitoral pessoas. O Brasil Paralelo também Há uma conexão muito grande de
(TSE), e 73 estão na fila aguar- aposta na web para se fortalecer empatia social, por isso há unida-
dando autorização para se formar como plataforma de educação. de de pensamento e força de ex-
no país. No Congresso Nacional, Desde 2016, difunde ideias liberais pressão. Não existe um cacique”,
estão presentes integrantes de 25 e clareia a história a partir de séries avalia. Elis crê que o caminho
siglas. Nenhuma delas tem mais audiovisuais. A proposta nasceu de para esses blocos é se tornarem
do que 11,25% de representação jovens inconformados com a igno- agremiações políticas, pois são ni-
no Parlamento. No outro lado da rância da sociedade sobre temas chos que comungam das mesmas
rua, está a sociedade. Descolada de relevantes. convicções.

37
POLÍTICA | MOVIMENTOS NÃO PARTIDÁRIOS

AGORA!/DIVULGAÇÃO

a políticos e governos ideias para tica deve ser exercida em todos os


consertar o país. O grupo se con- lugares”, defende. Melina vê o mo-
sidera independente, plural e sem vimento como um espaço de con-
rotulação partidária. Nesta eleição, vergência e de circulação de ideias
propôs a todos os presidenciáveis que apresenta uma agenda simples
uma série de reformas em áreas e sustentável para melhorar a vida
como saúde, educação, segurança das pessoas.
e abertura econômica. Doutora em Administração
O time é heterogêneo. Anapuaka Pública e Governo, ela afirma
Tupinanbá, por exemplo, trabalha que toda proposta está ancorada
com etnomídia e coordena a Rá- sob o mesmo propósito: redução
dio Yandê, a primeira indígena do de desigualdades. “Nascemos de
país. Ele é da nação Tupinambá. um encontro de amigos em 2016.

SOB A LIDERANÇA DA COFUNDADORA MELINA


RISSO, O MOVIMENTO AGORA! SE ENCONTRA
NO MÍNIMO UMA VEZ POR MÊS PARA DEBATER
PROPOSTAS DE TRABALHO E AÇÕES

A cientista aposta ainda no flo- Seu colega de classe é Carlos Jereis- Quando percebemos que estáva-
rescimento de novos movimentos sati Filho, presidente da rede de mos todos pensando em atualizar
ou que os existentes sejam encor- shoppings centers Iguatemi e re- o Brasil, decidimos pôr a mão na
pados. “Pesquisas apontam que conhecido como jovem líder global massa”, explicou. Eles se encon-
70% das pessoas concordam com em 2007. Luciano Huck, apresen- tram no mínimo uma vez por mês
a indignação popular, com os mo- tador de TV e recorrentemente co- para debater propostas de trabalho
vimentos que vão às ruas. Porém, tado para concorrer ao posto mais e ações.
apenas 7% de fato vão para o pro- alto da nação, também faz parte
testo ou mergulham na ação”, ex- do movimento. Outro membro é FORMAÇÃO DE ELITE CULTURAL
plica. “As pessoas se reconhecem Octávio Nassur, uma das principais Imagine um Netflix de séries
pelos seus machucados sociais. referências de cultura e de dança apenas sobre política. O Brasil Pa-
Mazelas são bandeiras, há uma contemporânea da América Latina. ralelo é isso – ou quase. Apresenta
empatia comum e coletiva”. Na visão de Melina Risso, co- produções de viés educativo sobre
fundadora e porta-voz, o Agora! a história nacional e mundial. O
CONVERGÊNCIA A PARTIR veio à luz diante do sentimento de time reúne historiadores, comuni-
DAS DIFERENÇAS que o modelo político está esgota- cólogos, juristas, cientistas políticos
Eles são mais de cem e estão em do, sem alternativas e com serviços e sociais. Além de ver capítulos e
17 estados do Brasil. A maior par- péssimos. “O cidadão abandonou poder reacessá-los quando quiser,
te com menos de 40 anos, e todos a política por muito tempo, mas o assinante participa de videoaulas
robustos conhecedores de agen- ela não se resolverá sozinha. Não e discussões sobre pautas como a
das públicas. Juntos, apresentam precisa ser político formal, a polí- Operação Lava Jato, Mensalão e

38 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


POLÍTICA | MOVIMENTOS NÃO PARTIDÁRIOS

impeachment. A plataforma é um opinião, não existem narrativas rela e pauta a redução da maiori-
modelo de negócio inédito. neutras. É preciso ter posiciona- dade penal, a liberação do porte de
Um dos criadores do projeto, mento”, defende. arma, corte de privilégios e priva-
Henrique Viana crê que as men- Sem um modelo pronto, a pro- tizações.
sagens didáticas ofertadas na web posta é talhada a partir da valida- O movimento nasceu da indig-
nasceram de uma demanda evi- ção do mercado. Com estética con- nação causada pela situação do país
dente. “Detectamos que estudiosos vidativa, o Brasil Paralelo totaliza e pelo excesso de Estado, agravado
e formadores de opinião estavam mais de 800 audiovisuais exibidos. com a reeleição de Dilma Rousseff. É
sozinhos na internet, mas já tinham E o que antes demorava seis me- o que afirma o coordenador nacional
despertado. Então, decidimos fazer ses para ser entregue hoje se ma- Rubens Nunes. Parte dos fundado-
o trabalho de organização, curado- terializa em até 30 dias. Conforme res integravam um grupo local cha-
ria e produção”, explica. A ideia é Henrique Viana, os maiores espe- mado Renova Vinhedo (SP) e, in-
100% financiada pelos assinantes e cialistas do país falam sobre vida, dignados, conclamaram a primeira
não recebe nenhuma verba públi- liberdade e experiências exitosas manifestação contra o governo em
ca. Mais de 10 milhões de pessoas já pelo mundo. “Estamos formando 1º de novembro de 2014. Foi quan-
beberam da fonte de ensino com- uma elite cultural”, entusiasma-se. do surgiu o MBL.
partilhada e digital. Questionado se o grupo pode
Um vídeo institucional do Bra- MISSÃO NAS RUAS E NAS REDES se tornar uma sigla partidária no
sil Paralelo afirma que a proposta Eles são tantos que já não são futuro, Nunes afirma que a in-
é “pavimentar um futuro sólido e mais quantificáveis – ultrapassam tenção é se manter como está: “O
promover uma revolução intelec- milhões. Agitam a nação e saem às movimento possui ramificação
tual no país. Perfurar camadas da ruas para pedir mudança. Fizeram em todo país e atuação suprapar-
sociedade e reverter mazelas”. In- em 2016 e, pela internet, uniram o tidária, o que nos dá liberdade
dagado sobre a postura política do país num só grito: impeachment. para pautar o debate e defender
canal, Viana avalia que a isenção é O Movimento Brasil Livre (MBL) causas importantes, de acordo
impraticável. “Todo mundo tem se veste com bandeira verde-ama- com nossos ideais.” O MBL vê na

BRASIL PARALELO/DIVULGAÇÃO

COM TIME DE
HISTORIADORES,
COMUNICÓLOGOS,
JURISTAS, CIENTISTAS
POLÍTICOS E SOCIAIS,
BRASIL PARALELO
APRESENTA PRODUÇÕES
DE VIÉS EDUCATIVO
SOBRE A HISTÓRIA
NACIONAL E MUNDIAL

40 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


POLÍTICA | MOVIMENTOS NÃO PARTIDÁRIOS

RENOVABR/DIVULGAÇÃO

RENOVA BRASIL NASCE


COM A PROPOSTA DE
SER UMA ESCOLA QUE
ENSINA A BOA POLÍTICA

internet um megafone das frus- veio da observação da sociedade. tar a ideia de político é tudo igual.
trações sociais e faz da plataforma “Nunca antes se desejou tanto a re- Na democracia o voto é o principal
seu principal canal de mobiliza- novação. A população quer novos instrumento de garantir direitos e
ção e divulgação. “Na web, temos nomes, mas não sabe muito bem o defender interesses. Isso acontece-
rapidez e agilidade de informa- caminho. Iniciativas como o Reno- rá na medida em que o eleitor vo-
ção, quebramos a hegemonia da va BR nasceram por isso”, explica o tar com critério, estudar propostas
imprensa tradicional.” fundador, Eduardo Mufarej. e acompanhar o mandato”, avalia.
Hoje, muitos dos líderes do mo- Mais de 5 mil pessoas se ins- A proposta da escola vem ao en-
vimento de 2016 participam do creveram para o processo no ano contro de inserir talentos na vida
pleito eleitoral. “Optaram por se passado. Eles passaram por testes pública e prepará-los para os desa-
candidatar em razão da necessi- online, vídeo de apresentação, en- fios coletivos.
dade de ocupar espaços que antes trevistas e banca avaliadora com es- “Acredito que hoje temos a me-
eram utilizados pela velha política. pecialistas em gestão e política. Em lhor safra de candidatos a depu-
É uma forma de trazer mudanças dezembro de 2017, foram seleciona- tado federal e estadual que o país
pelo exemplo, apresentar propos- das 133 pessoas. A formação de 220 viu em muito tempo, com pessoas
tas e defender pautas essenciais horas durou seis meses. Para que formadas em Harvard e Yale, com
para o país, algo extremamente os aprovados pudessem se dedicar projetos sociais relevantes, com
complexo se não houver represen- à formação, receberam uma bolsa histórico de honestidade e reali-
tantes com mandato”, argumenta. mensal entre R$ 5 mil e R$ 12 mil. zação”, crê Mufarej. Ele diz ainda
O custeio é oriundo de doações de que entrar para a política não é a
ESCOLA PARA POLÍTICOS pessoas físicas, patrocinadores do decisão mais óbvia para pessoas
O Renova Brasil é uma escola programa. As inscrições para próxi- capacitadas e atuantes, por isso
de formação política que ensina a ma turma já estão abertas e podem muitas vezes a política é ocupada
acertar no mandato. Prepara líde- ser feitas pelo site do projeto. por pessoas despreparadas. “Pre-
res de diferentes visões e partidos Para Mufarej está na hora de o cisamos olhar com carinho para
que compartilham a convicção de Brasil fazer as suas escolhas, pois jovens lideranças e fazer com que
que a vida pública requer honesti- o Estado cobra muito e entrega consigam desenvolver seu reper-
dade, diálogo e ação. O movimento muito pouco. “Precisamos derro- tório”, conclui. V

42 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


DIREITO ELEITORAL | ANTÔNIO AUGUSTO MAYER DOS SANTOS

SOBRAS ELEITORAIS
E PARTIDOS MENORES

P
ara o preenchimento das ca- existência de 35 partidos políticos
deiras de deputados federais habilitados a concorrer no territó-
e estaduais, quando as divi- rio nacional, o Parlamento tinha o
sões realizadas nos cálculos efetu- dever de corrigir a incorreção que
ados a partir dos quocientes não vigorava.
apresentam números exatos, em Petrificada no tempo, a disci-
quase todos os pleitos ocorrem as plina anterior não solucionava
denominadas sobras. Entretanto, harmonicamente a questão dos
somente concorriam à distribui- lugares restantes ao descartar dos
ção dos poucos lugares restantes os cálculos os partidos e coligações
partidos e coligações que tivessem com melhores resultados nas so-
obtido um índice mínimo. bras do que aqueles que haviam
Com a modificação do Código alcançado o quociente. A persistir
Eleitoral em outubro de 2017, to- aquele cenário, um voto continua-
dos os partícipes da eleição pode- ria a não ter valor igual para todos,
rão concorrer ao rateio. Na prática, o que degradava a Carta Magna na
mesmo alijadas da primeira conta- medida quem que não é da essên-
bilidade, as candidaturas agora po- cia do regime democrático descar-
dem alcançar mandatos pela via das tar votos legítimos. Foi assim em
referidas sobras, fator este que pode várias eleições para deputados.
beneficiar os partidos menores, ou- Era inadiável o ordenamento
MARRI NOGUEIRA/AGÊNCIA SENADO

trora descartados duplamente. evoluir para favorecer, e não as-


Elogiável, a nova regra baniu fixiar ainda mais o já cambaleado
do cenário jurídico-político uma sistema representativo. Diante da
perversidade, um resquício ex- ascensão de votos brancos e nulos,
DIANTE DA ASCENSÃO cludente que reduzia a nada votos é cada vez mais necessário valori-
atribuídos a partidos e coligações. zar a escolha do cidadão, especial-
DE VOTOS BRANCOS E Afinal, todos aqueles sufrágios so- mente no tocante ao sufrágio des-

NULOS, É CADA VEZ MAIS friam uma espécie de extermínio, tinado aos legislativos.
eram esterilizados e tornados inú- A democracia não é uma reali-
NECESSÁRIO VALORIZAR A teis. Em outras palavras, tratava-se dade estática. Na quadra atual, em
de uma exigência que deformava a que o eleitorado está em progres-
ESCOLHA DO CIDADÃO verdade eleitoral estabelecida pe- sivo aumento e já superou mais de


las urnas ao expressar um idealis- 2/3 da população, os votos devem
mo jurídico soterrado. traduzir a vontade da massa votan-
Em verdade, a providência efe- te. Na prática, a adequação intro-
tivada no plano normativo, objeto duzida pode impedir a ocorrência
de inúmeras propostas ao longo de de paradoxos como a eleição de
sucessivas legislaturas na Câmara candidatos com poucos votos na
dos Deputados e no Senado Fede- esteira daqueles mais bem vota-
ANTÔNIO AUGUSTO
ral, adequou o Código Eleitoral aos dos, ou a derrota de outros, mes-
MAYER DOS SANTOS
ADVOGADO parâmetros contemporâneos da mo amparados em estrondosas
aamsadv@gmail.com representação popular. Diante da votações.

44 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


POLÍTICA | ENTREVISTA

No mínimo três vezes por


semana, o prefeito anda por
locais públicos para ouvir
pessoas e mostrar o que está
sendo feito

GOVERNANDO
PELAS RUAS
Prefeito de Salvador, ACM Neto é visto como uma
das jovens promessas da política brasileira. Com perfil
agregador, não gosta de ficar apenas no gabinete e
prefere o contato direto com a população

U
m dos prefeitos mais bem De acordo com duas pesquisas se-
avaliados do Brasil, ACM guidas da Vox Populi, de 2013 e
Neto faz política na rua. Aos 2014, você foi considerado um dos
38 anos, é avesso às agendas dentro prefeitos com melhor avaliação do
do gabinete. No mínimo três vezes país. Em 2015, alcançou aprovação
por semana, dedica-se a andar pe- popular de 84% – dado do Instituto
las calçadas, praças e locais públicos Paraná. Um ano depois, na reelei-
para ouvir as pessoas e mostrar o ção, venceu no primeiro turno, com
que está sendo feito. 75% dos votos. Diante do esgota-
Herdeiro de uma tradicional mento de crenças na política e nos
família de políticos do Nordeste, políticos, qual a fórmula para essas
está no segundo mandato à frente demonstrações de confiança? Como prefeito, pelo menos três
da Prefeitura de Salvador (BA). Foi A fórmula é trabalhar com serie- vezes na semana estou nas ruas
reeleito, em 2016, com 75% dos vo- dade, transparência, planejamento, inaugurando obras, assinando or-
tos. Com posições bem definidas, dedicação e ouvindo a população dens de serviço ou vistoriando in-
consegue também ser reconhecido para aplicar bem os recursos pú- tervenções da Prefeitura. Quando
pelo perfil aglutinador. Para ele, a blicos. Antes mesmo de ser eleito assumi, em 2013, a gente começou
capital baiana é uma cidade plural para o primeiro mandato, em 2012, a transformar Salvador: arruma-
e, portanto, requer um governo assumi o compromisso, durante a mos a casa, colocamos as contas
com essa mesma característica. campanha, de governar nas ruas, em dia, equilibramos o nosso caixa.
Atual presidente do Democratas ouvindo os soteropolitanos, sem Depois, começamos a investir em
e um dos principais articuladores ficar preso em gabinete. Isso para obras e ações estruturantes, aplica-
do Centrão, o jovem prefeito falou mim sempre foi natural, pois, des- mos quase 80% dos recursos da Pre-
com exclusividade para a Revista de que ingressei na vida pública, feitura nos bairros mais carentes da
VOTO sobre a sua forma de fazer tenho me dedicado exclusivamente cidade. Isso tem mudado a vida das
política e compartilhou sua visão a fazer isso, a servir, buscando me- pessoas. Por conta desse trabalho,
quanto ao futuro do país. lhorar a vida das pessoas. mesmo em momentos de turbu-

48 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


FOTOS: VALTER PONTES/SECOM PREFEITURA DE SALVADOR

Eu me sinto realizado, por


exemplo, quando entrego uma casa
reformada pelo nosso programa
Morar Melhor, que recupera habi-
tações populares em bairros mais
pobres. Ou quando entrego um
título de posse de terra do municí-
pio – ocupado por uma família que
passa a ter a segurança da proprie-
dade de sua residência. Gosto de
andar nas ruas e ser bem recebido
como sinal de aprovação pelo tra-
balho. A minha ideologia política
é servir, e essa também é a minha
prática política e cotidiana. Quem
tem esse mesmo espírito público
tem tudo para estar e continuar ao
meu lado, e é esses que eu busco
como aliados.

Qual a principal característica que


mantém de pé um arco de tantas
alianças, como é no caso de Salva-
dor? Com tanta pluralidade, as di-
“GOSTO DE SABER QUE ESTOU COLABORANDO PARA vergências somam de que forma?
Sempre construí alianças funda-
TRANSFORMAR DE FATO A VIDA DAS PESSOAS, SOBRETUDO mentadas em compromissos pro-
DAQUELAS QUE MAIS PRECISAM DO AMPARO” gramáticos, e nunca no velho to-
ma-lá-dá-cá que infelizmente é tão
comum na política e que acaba por
lência política e econômica no ce- exige dedicação exclusiva. Por isso, aparelhar as instituições públicas.
nário nacional ou regional, Salva- quando decidi que queria ser políti- Procuro sempre governar ao lado
dor continuou crescendo porque a co, abri mão de qualquer atividade dos melhores. Por isso, antes de
Prefeitura seguiu com seus inves- privada para fazer apenas isso. É o aceitar qualquer indicação de par-
timentos na cidade, com recursos que gosto e sei fazer bem. Desde tidos aliados para um determinado
próprios e com responsabilidade. pequeno que gosto e acompanho a cargo, o que primeiro faço é avaliar
política, a exemplo das campanhas o currículo e a competência do in-
Moderado, de reconhecido perfil do meu avô Antonio Carlos Maga- dicado para exercer aquela função.
conciliador e aglutinador de parti- lhães. E uma das minhas maiores É normal que um partido polí-
dos para viabilização de importan- realizações na vida pública foi ter tico indique membros para um go-
tes obras, qual sua visão da ideolo- alcançado a Prefeitura de Salvador. verno, mas o que sempre levo em
gia política e da prática política? E, Me sinto realizado como prefeito. conta é a qualificação e o mérito.
ainda, elas podem ser dissociáveis Gosto de saber que estou colabo- Quem trabalha comigo sabe que
para o bem comum? rando para transformar de fato a sou assim. Comigo não tem lotea-
A política é a capacidade de servir. vida das pessoas, sobretudo daque- mento de secretaria ou órgão pú-
É algo que, como dizia meu avô, las que mais precisam do amparo. blico. Acredito que por isso temos

49
POLÍTICA | ENTREVISTA
DIVULGAÇÃO

mantido as alianças e, ao mesmo


tempo, transformando Salvador,
que é uma cidade plural, e como tal
precisa de uma gestão plural.

Quais são os principais legados nes-


tes seis anos à frente da Prefeitura?
Acredito que a palavra que melhor
resume esse legado que queremos
deixar após o fim dos oito anos de
governo é: transformação. Quando
assumimos, Salvador sofria bastan-
te. Era uma cidade desacreditada,
condenada a viver de esmolas e da
Herdeiro de uma tradicional família de políticos do Nordeste, ACM Neto foi reeleito, em 2016,
boa-vontade dos governos fede- com 75% dos votos
ral e estadual, como desejavam os
meus adversários, sobretudo do PT.
O povo estava triste, com a estima
baixa. Com muito trabalho, con- vida ao Centro Antigo com várias O recuo à candidatura ao governo
seguimos resgatar a autoestima de obras, equipamentos culturais e ca- do Estado da Bahia tem algum moti-
Salvador, que voltou a andar com as lendário de eventos. vo pessoal ou de ordem estratégica?
próprias pernas. Estamos transformando a cidade Não houve recuo porque nunca me
Na campanha eleitoral de 2012, socialmente com a entrega da nova posicionei como candidato. O que
o PT dizia que isso não seria possí- comunidade Guerreira Zeferina e já disse em diversos momentos, in-
vel, que a primeira capital do Bra- os programas Morar Melhor, Casa clusive no período pré-eleitoral, é
sil não seria capaz de andar com as Legal e Primeiro Passo. Vamos ter que eu tinha, e ainda tenho, o de-
próprias pernas, e provamos o con- requalificado, até o fim do mandato, sejo de ser governador, mas nunca
trário. Salvador é hoje a capital do todas as escolas e unidades de saú- assumi uma pré-candidatura. Sem-
país que mais investe com recursos
próprios, mesmo sendo uma ci-
dade com uma arrecadação baixa. “TORÇO E TRABALHO PARA QUE O BRASIL DE
Esse é um legado que vamos deixar 2019 SEJA UM PAÍS COM MENOS ÓDIO, MENOS
no sentimento das pessoas, que tal-
vez seja muito mais importante do EXTREMISMOS E MAIS UNIÃO”
que as inúmeras obras e realizações
desse tempo de governo.
Assumimos até responsabili- de. Investimentos na prevenção de pre dei declarações ponderadas
dades que não eram nossas, como tragédias, com o uso de tecnologia; sobre isso, afirmando que no mo-
um hospital municipal ou o novo por conta das chuvas, ampliamos mento certo, e após ouvir a popula-
Centro de Convenções, diante do as obras de contenção de encostas; ção de Salvador, tomaria a decisão
descaso do governo do PT no esta- além das inúmeras obras de mobi- definitiva. Parte da imprensa, e até
do com a saúde pública e o turismo lidade, construção e requalificação alguns aliados, é que me colocavam
na cidade. Estamos ousando com a de praças e áreas da lazer, o novo como candidato, mas isso nunca
implantação do BRT e viabilizamos Parque da Cidade, os novos museus partiu de mim. E o que aconteceu
o metrô. Requalificamos a nossa e, claro, os maiores Carnaval e Ré- foi isso: fizemos pesquisas e con-
orla, antes considerada a mais feia veillon do Brasil. Fizemos demais versei bastante com a população
do Brasil, e estamos devolvendo para caber em uma só resposta. nas ruas, e a maioria das pessoas

50 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


desejava que eu terminasse o meu cial que o país precisa – acabando
segundo mandato para concluir com privilégios e resguardando as
um legado de transformação para a instituições democráticas.
nossa cidade. É isso que farei. O clima instaurado no país, em
que até a violência tem sido marca
Como presidente nacional do DEM, de campanha eleitoral, não pode
como enxerga o rumo desta eleição continuar. O debate político deve
presidencial? se dar no plano das ideias e dos
O partido Democratas está ao conteúdos. Espero que o Brasil de
lado de Geraldo Alckmin, pois 2019 seja o país da união dos bra-
acreditamos que ele seja o nome sileiros, e dos políticos, em prol
“É PRECISO ARRUMAR A CASA PARA mais preparado para fazer com da construção de uma nação com
que o Brasil saia de uma vez por menos corrupção, crescimento
QUE O PAÍS VOLTE A CRESCER, todas dessa crise e volte a crescer econômico, geração de empregos,
ATRAINDO INVESTIMENTOS E com responsabilidade social, se- investimentos e menos desigualda-
gurança e inovação. Estamos vi- de social.
GERANDO EMPREGO” venciando uma eleição disputada,
embora, lamentavelmente, tam- Para a política retomar sua legitimi-
bém marcada pelo ódio e pelo ex- dade e o país voltar pro trilho, quais
tremismo, o que não é bom para as principais medidas a serem ado-
a democracia. Como também não tadas pelo próximo governo?
é bom para a democracia o fato de Não existem soluções milagrosas.
que está em curso uma verdadeira Não há um salvador da pátria que
tentativa de estelionato eleitoral vá chegar e mudar o Brasil de uma
sendo tocada pelo PT, que busca hora para outra. Para que o país
enganar a população ao insistir volte a crescer, é preciso que o pró-
em uma candidatura já rejeitada ximo presidente promova as refor-
pela Justiça Eleitoral. mas necessárias para que voltemos
É preciso que o eleitor brasilei- a crescer. É preciso que esse presi-
ro esteja atento e consciente de seu dente seja experimentado e tenha
voto para que o Brasil possa dar um um projeto para o país, como é o
passo à frente. A solução do país caso do meu candidato.
passa pela boa política, e não pelo A reforma tributária, por exem-
sentimento antipolítico, raiva ou plo, é fundamental, promovendo
rancor. a simplificação fiscal e revendo
o pacto federativo. É preciso re-
Como vê a polarização dos extremos distribuir melhor os impostos ar-
da direita e esquerda, e a fragilida- recadados entre União, estados
de de confiança do atual governo? e municípios. A reforma política
Como enxerga o Brasil de 2019? também é extremamente impor-
Torço e trabalho para que o Brasil tante, assim como o próximo pre-
de 2019 seja um país com menos sidente terá de encarar de frente a
ódio, menos extremismos e mais questão do déficit previdenciário e
união, tendo um governo com cre- da segurança pública. É preciso ar-
dibilidade e sustentação política rumar a casa para que o país volte
para realizar as reformas e promo- a crescer, atraindo investimentos e
ver o crescimento econômico e so- gerando emprego. V

51
ECONOMIA | ENTREVISTA

O BRASIL
PATINA
E PODE PATINAR
AINDA MAIS
Um dos maiores economistas da
América Latina, Andrés Velasco
teme a vitória do populismo nas
próximas eleições do Brasil. E afirma
que o futuro do país depende de
ajuste fiscal e investimento

V
oz reconhecida no cenário Club sob a curadoria da Revista o país começa a crescer, a demanda
mundial, Andrés Velasco es- VOTO, no dia 7 de agosto. O pro- interna puxa mais importações, o
teve em São Paulo para falar fessor da Universidade Colum- que aumenta o déficit externo e, a
a 200 empresários sobre o com- bia, nos Estados Unidos, também partir disso, a dívida sobe, o merca-
portamento do mercado e a difícil alertou para o risco do populismo do fica nervoso e os investimentos
tarefa do próximo governo brasi- diante da profunda falta de credibi- começam a cair, freando a econo-
leiro: fazer o país crescer. O painel lidade das instituições daqui. mia”, disse.
com o ex-ministro das Finanças do “O problema número 1 do Bra- Outro dado trazido à luz pelo
Chile abriu a Confraria de Econo- sil tem sido o baixo nível de pou- economista foi o encolhimento de
mia promovida pelo Experience pança. Historicamente, sempre que produtividade e geração de traba-

52 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


Ex-ministro das Finanças
do Chile abriu a Confraria
de Economia promovida
pelo Experience Club sob a “A PRIMEIRA COISA QUE O BRASIL PRECISA
curadoria da Revista VOTO
FAZER É RECONSTRUIR A CONFIANÇA DO
BRASILEIRO NO GOVERNO. ISSO PERMITIRÁ
FAZER AS REFORMAS ECONÔMICAS CAPAZES
DE DESENVOLVER NOVOS PRODUTOS E
ABRIR NOVOS MERCADOS”

lho na América Latina. Enquanto internacional. Obviamente, a pri-


esse índice cresceu em média 1,7% meira coisa que o Brasil precisa
ao ano na Ásia, os países latinos fazer é reconstruir a confiança do
apresentaram queda de 0,2% ao brasileiro no governo. Isso permi-
longo dos últimos 57 anos. Nações tirá fazer as reformas econômi-
desenvolvidas registram percen- cas capazes de desenvolver novos
tual médio de 0,8%. Para Velasco, produtos e abrir novos mercados.
esse entrave precisa ser atacado de Mas, primeiro, é preciso recons-
frente pelo próximo governo, pois truir a relação dos brasileiros com
se trata do freio principal da eco- o seu governo.
nomia.
Com o período eleitoral, Velas- O Brasil é um grande exportador
co assume que o maior desafio do de soja e de proteína animal. A
país é estrutural e requer um longo agricultura puxa a economia para
e duro trabalho de fortalecimento cima. O senhor percebe que existe
das instituições, bem como refor- aqui capital humano qualificado
mas fiscais. “Se aparecer algum capaz de guinar outras áreas de
político e disser que resolverá tudo exportação?
rápido e sozinho, é mentira. Arma- Claramente a agricultura no Brasil,
dilha populista”, enfatizou. na Argentina ou no Chile é alta-
Após o painel – que posterior- mente tecnológica. Não é a agri-
FOTOS: MARCOS MESQUITA

mente teve a presença dos eco- cultura tradicional. Seja na soja, no


nomistas de três presidenciáveis: açúcar, na carne, se requer conhe-
Persio Arida (de Geraldo Alckmin), cimento técnico de agricultura e,
Gustavo Franco ( João Amoêdo) e também, conhecimento de marke-
Mauro Benevides Filho (Ciro Go- ting, dos mercados, de transporte,
mes) – Velasco concedeu entrevista de logística. Creio que o Brasil,
exclusiva à Revista VOTO. Confira: como a Argentina, o Uruguai e o
Chile, começou a desenvolver os
Essa crise de confiança e de legi- talentos e o capital humano neces-
timidade que o brasileiro tem no sários. Acredito que ainda nos fal-
governo, indicado por várias pes- ta, em todos os países da América
quisas de opinião, influencia na do Sul, dar mais atenção ao ensi-
abertura de novos mercados inter- no técnico. Prestamos demasiada
nacionais? atenção somente à educação uni-
Creio que não. A crise política versitária. Quando se der mais ên-
brasileira é um problema apenas fase ao ensino técnico, outras áreas
brasileiro. Não é um problema crescerão.

53
ECONOMIA | ENTREVISTA

Consultores econômicos dos presi- bais. E, por isso, o mundo político,


denciáveis afirmam que a econo- o mundo empresarial e o mundo
mia do setor público frustra, e a do corporativo têm de demonstrar
setor privado inspira. O que as em- que podem esperar os resultados.
presas têm a ensinar para a política Se há um político que diz “vote em
brasileira? mim porque sou capaz de mudar
O setor corporativo no Brasil – e tudo em 24 horas”, esse político
“ACREDITO QUE O SETOR em qualquer parte do mundo – está mentindo.
depende do clima político e das
CORPORATIVO PODERIA TER políticas públicas. Evidentemente Como os passos e as decisões do
UM PAPEL MAIS PROATIVO, que, no Brasil, o problema prin- presidente Donald Trump influen-
cipal é político, e o problema eco- ciam a economia brasileira direta-
PRÓ-REFORMA E PRÓ- nômico principal é o desequilíbrio mente?
nas contas públicas. Mas aí o setor Diretamente, não. Talvez o mer-
MORALIZAÇÃO DA POLÍTICA” corporativo também tem um pa- cado da soja, porque a China é um
pel a ajudar. Primeiro como fonte grande comprador, e se os Estados
de debate e informação, como vi- Unidos vendem menos ao país asi-
mos aqui. E, segundo, colaboran- ático ou se há restrições na China
do com as reformas. As reformas para a compra dos americanos,
se fazem a partir da política, mas isso poderia ser benéfico para o
envolvem atores sociais, empresa- mercado brasileiro. Esse é o úni-
riais e sindicais. E acredito que o co impacto direto. Mas, evidente-
setor corporativo poderia ter um mente, também há impactos indi-
papel mais proativo, pró-reforma retos, que têm a ver com os preços
e pró-moralização da política e, das commodities e com a velocidade
também, pela atividade empresa- de crescimento da economia mun-
rial. dial. E é mais ou menos claro que
há um certo impacto das políticas
Se estivesse à frente do Ministério protecionistas de Trump – e da
da Fazenda do Brasil, quais seriam resposta da China – no crescimen-
as medidas emergenciais a serem to mundial. E isso, indiretamente,
tomadas? E quanto tempo poderí- afeta o Brasil e afeta a América La- C

amos prever para que o Brasil en- tina. M

trasse num rumo diferente? Y

É mais ou menos evidente que há Alguns candidatos à Presidência de-


CM
duas prioridades urgentes, imedia- fendem que o Brasil foque em acor-
tas. Uma é a reforma fiscal, global, dos internacionais mais assertivos. MY

tributária, e a segunda é a reforma Hoje, o que vale a pena? CY

da Previdência. Obviamente uma Todas as aberturas de mercado são


CMY

e outra estão muito relacionadas. importantes. Portanto, não se trata


K
Agora, ninguém pode pensar que de dizer “esta sim, esta não”. Evi-
os resultados de uma ou de outra dentemente que a América do Sul
reforma serão imediatos, porque é importante, o Mercosul deveria
são reformas grandes, caras, tec- ser um bloco muito mais aber-
nicamente difíceis, politicamen- to ao resto do mundo. Me parece
te difíceis. E, portanto, há que se muito importante a convergência
entender que os efeitos serão glo- do Mercosul com uma parte da

54 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


OECD/DIVULGAÇÃO

Aliança do Pacífico, com México,


Colômbia, Peru e Chile. Mas tam-
bém é possível pensar em conver-
gência e integração com o bloco da
América do Norte, especialmente
com México e Canadá. E também
a Europa. Se olharmos para o caso
do Chile, o Chile tem acordos com
China, Índia, Coreia do Sul, Pacto
do Pacífico, onde estão Indonésia,
Malásia, Filipinas, Tailândia. Quer
dizer, há muitas oportunidades
no mundo para abrir mercados. O
Brasil é um país grande, influente, Economista serviu ao Chile
e por isso a decisão está do lado do como ministro das Finanças
entre 2006 e 2010, durante o
Brasil. Se o Brasil quer participar
primeiro mandato presidencial
do processo de abertura, o mundo de Michelle Bachelet
irá acompanhá-lo.
anuncio_press.pdf 1 V
14/10/10 17:48

55
QUANTO CUSTA | IGOR MORAIS

JÁ SABE COMO ESCOLHER SEU


CANDIDATO A PRESIDENTE?
DIVULGAÇÃO

A
eleição presidencial de 2018 car- A metodologia utilizada foi dar uma


rega uma grande dose de respon- nota de 0 a 100 para cada um dos as-
sabilidade para os eleitores que, suntos abordados, sempre tendo como
ao definirem o ocupante da cadeira no pano de fundo uma visão liberal. Fo-
AS DIFERENÇAS DE VISÃO
Planalto, estarão escolhendo o mode- ram criados nove temas (economia,
SOBRE ECONOMIA E lo de Brasil a partir de então. Para fazer política fiscal, política monetária, co-
essa escolha, precisamos acompanhar os mércio exterior, reformas, educação,
MODELO INSTITUCIONAL debates, as discussões nas redes sociais saúde, segurança e outros), cada um de-
e, também, ler as propostas de governo les contendo diferentes subtemas que
IRÃO MOLDAR O BRASIL
que os candidatos registraram no Tribu- totalizam 178 assuntos. Por exemplo,
DOS PRÓXIMOS ANOS nal Superior Eleitoral (TSE). O problema no tema política fiscal, temos o subte-
é ter paciência para ler todos os planos ma “manter o teto dos gastos”, a famo-


de governo, sendo que alguns ultrapas- sa EC 95. Para quem defende manter
sam as 200 páginas. Para te ajudar nes- essa regra, importante para conter a
sa decisão, fiz a leitura das propostas de evolução da dívida pública e gerar se-
sete candidatos e apresento aqui uma gurança e estabilidade, a pontuação é
comparação. São eles: Guilherme Bou- 100; quem defende acabar com ela leva
los (PSOL), Fernando Haddad (PT), Ciro 0. Um outro exemplo importante para
Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Ge- essa análise é o tema economia: con-
raldo Alckmin (PSDB), Jair Bolsonaro tém 42 subtemas e envolve a ideia de
(PSL) e João Amoêdo (Novo). Destaco incentivar o mercado de capitais, ter ou
IGOR MORAIS
PÓS-DOUTORANDO EM
que a escolha do Boulos e do Amoêdo, não uma política industrial, privatizar
ECONOMIA APLICADA E DATA apesar de pontuarem pouco nas pesqui- estatais, vender propriedades da União,
SCIENCE NA UNIVERSIDADE sas feitas pelos institutos, é para caracte- fazer PPPs, fechar o BNDES, intervir na
DA CALIFÓRNIA – RIVERSIDE
igoracmorais@gmail.com
rizar os dois principais extremos de visão política microeconômica, dentre ou-
para o Brasil. tros. Vamos aos resultados.

56 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


UMA VISÃO GERAL Estado. No plano do Haddad, por independência das instituições e
O gráfico ilustra bem como seria exemplo, está considerado que o aumento da transparência. O tema
o resultado dos planos de governo governo deve definir o calendário segurança é outro que gera uma li-
para o Brasil, em que os círculos do futebol no Brasil, citando que geira diferença de visão. Todos que-
verdes representam a média de “o futebol é importante demais rem valorizar a polícia, mas Boulos
pontuação para cada um. O menos para continuar à mercê de inte- quer ela desmilitarizada. Ciro, Had-
liberal, como era de se esperar, é o resses meramente privados”. As dad e Marina defendem o controle
plano do Boulos (30), enquanto o propostas dos dois candidatos que de armas, enquanto Alckmin não
mais liberal é do Amoêdo (90). Po- se posicionam como mais liberais, se posiciona claramente, Amoêdo
demos ainda avaliar como se tivés- Bolsonaro e Amoêdo, são comple- relativiza e Bolsonaro defende que
semos a ocorrência de dois grupos tamente antagonistas a essa visão, a população tenha o direito de ter
de candidatos. No primeiro, estão deixando Marina e Alckmin com o armas e propõe ações mais enérgi-
aqueles que apresentam propostas meio termo. O candidato tucano e cas no combate à criminalidade. A
abaixo da média 50, configurando- a presidenciável da Rede não des- clareza desse tema é relevante, pois
-se como bem à esquerda. São eles: cartam a intervenção estatal, mas é um dos que mais chama atenção
Boulos, Haddad e Ciro. O grupo acreditam que seja possível uma do eleitorado preocupado com a es-
acima da média tem, inclusive, a maior convivência com o setor calada da violência no Brasil e a sen-
presença de Marina (53). privado. sação de insegurança e impunidade.
Um outro tema que gera diver-
gências pontuais é a educação. Ape-
MEU CANDIDATO É LIBERAL? nas dois candidatos se posicionam
VISÃO GERAL DO PLANO DE GOVERNO contra a ideia de uma base curricu-
Ao analisar o posicionamento das candidaturas sobre diversos temas, lar nacional: Bolsonaro e Amoêdo.
foram dadas notas de 0 a 100. Os gráficos mostram a variação das Os demais querem que as decisões
notas de cada presidenciável. Em verde, sua nota média.
sobre o tema permaneçam centra-
Guilherme Boulos (PSOL)
lizadas em Brasília. Na parte de ide-
ologia, de um lado vemos Boulos e
Fernando Haddad (PT) Haddad contra o projeto Escola
Ciro Gomes (PDT)
Sem Partido, e o único a se dizer
abertamente a favor é o Bolsona-
Marina Silva (Rede) ro. Felizmente, todos defendem a
Geraldo Alckmin (PSDB)
priorização da educação básica e do
ensino fundamental e técnico, mas
Jair Bolsonaro (PSL) apenas Bolsonaro e Amoêdo pro-
João Amoêdo (Novo)
põem a descentralização do ensino
e o uso de vouchers.
0 50 100
Na questão da saúde, há muita
convergência entre os candidatos.
Há, fundamentalmente, uma Essa análise geral deixa clara a Todos se mostram preocupados
diferença de visão importante en- visão de país conforme o olhar de com os cuidados com a criança
tre esses dois grupos no tocante cada candidato. Todos falam da ne- pelo menos até os mil dias. Defen-
a aspectos sobre como o Estado cessidade de reformas, o que não dem mais tempo para a mãe cui-
deve se comportar. Os localizados significa que sejam boas. Todos dar dos filhos e aplicação de novas
mais à esquerda defendem mais citam a importância de combater tecnologias de gestão e que gerem
intervenção na economia, criação a corrupção, mas com o Haddad transparência no SUS. Porém, di-
de diversas regras que limitam a propondo rever o Judiciário e, com vergem quando o assunto é política
concorrência e a liberdade empre- o Boulos e Ciro, criar um controle social para minorias. Nesse ponto, a
endedora, são contrários a qual- social sobre essas instituições. Nes- visão dos candidatos Boulos, Had-
quer tipo de privatização e acre- se ponto, a Marina se coloca mais dad, Ciro, Marina e Alckmin é que
ditam que tudo deve passar pelo “dove”, salientando a questão da sejam criadas políticas específicas

57
para mulheres, negros, comuni- Somente o Amoêdo (91) defende a do espectro de esquerda até o libe-
dades como quilombolas e públi- venda de todas as estatais, incluin- ral. Já Boulos mantém uma visão
co LGBT. Na visão de Bolsonaro do a Petrobras e os bancos públicos. puramente de esquerda, enquanto
e Amoêdo, que tratam pouco do Já Bolsonaro (73) quer privatizar Bolsonaro e Amoêdo seguem uma
tema, as políticas sociais devem ser quase tudo, menos bancos e Petro- linha liberal. Por fim, o Haddad é
gerais, e não com objetivo de criar bras, onde pretende manter o “core” o único que fala abertamente em
divisões por gênero ou qualquer da empresa, mas abrir o mercado abater a dívida dos estados. Essa
outro tipo. para concorrência. proposta deve resultar em mais
Os temas apontados acima mos- Porém, o que preocupa inves- subsídios cruzados e penalizar os
tram para o eleitor que há bastante tidores atualmente é justamente a que são menos endividados e que
convergência quando o assunto é proposta de Boulos, Haddad e Ciro serão chamados para pagar a conta
educação, saúde, segurança e polí- de usar os bancos públicos para fa- dos demais.
tica social, com as diferenças sendo zer o mais do mesmo na política Outro tema que gera divergên-
pontuais. Mas quando o assunto é econômica dos últimos anos: man- cia em economia é a política fiscal.
economia o problema é maior. ter a ideia de conteúdo nacional Apesar de todos falarem da neces-
com reforço do BNDES e dar sub- sidade de cortar gastos, os candida-
O QUE PENSAM PARA A ECONOMIA? sídios para crédito. Nesse ponto, a tos Boulos, Haddad e Ciro querem
Não há um ponto sequer em Marina (46) vai de forma mais sua- acabar com a EC 95, que limita os
economia que une os candida- ve, direcionando a instituição para gastos públicos. Marina pretende
tos aqui avaliados, o que reforça a infraestrutura e pesquisa e propon- manter a ideia de superávit primá-

MEU CANDIDATO É LIBERAL? MEU CANDIDATO É LIBERAL?


VISÃO SOBRE ECONOMIA VISÃO SOBRE REFORMAS

Boulos (PSOL) Boulos (PSOL)

Haddad (PT) Haddad (PT)

Ciro (PDT) Ciro (PDT)

Marina (Rede) Marina (Rede)

Alckmin (PSDB) Alckmin (PSDB)

Bolsonaro (PSL) Bolsonaro (PSL)

Amoêdo (Novo) Amoêdo (Novo)

0 50 100 0 50 100

necessidade de o eleitor entender do mais concorrência no setor. Mas rio, assim como Alckmin, Bolsona-
muito bem essas propostas, pois irá nem por isso consegue passar da ro e Amoêdo. Mas percebe-se que
afetar diretamente o seu bolso. Os linha divisória de 50 quando o as- será difícil para Marina e Alckmin
planos mais à esquerda, com notas sunto é economia. Chega a propor, conseguirem cumprir o prometido
médias menores na visão liberal, por exemplo, a criação de “moedas diante da apresentação de tantas
são Boulos (23), Haddad (36) e Ciro sociais”. Por outro lado, Alckmin políticas de aumento de gastos, em
(39). Eles não querem privatizar, (média de 57) carece de uma visão especial na área social.
com Ciro salientando, inclusive, mais definida e objetiva aqui, a des- Por fim, vale uma comparação
que irá rever privatizações ante- peito da assessoria de diversos eco- na política monetária. O tema Ban-
riores e criar uma agenda mundial nomistas de que dispõe. Aliás, as co Central independente apare-
que permita ultrapassar o dólar propostas do Alckmin e da Marina, ce de forma clara na proposta do
como moeda de reserva do mundo. em economia, são as únicas que vão Amoêdo e apenas operacional com

58 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


LEANDRO NEUMANN CIUFFO/FLICKR

custos de contratação. No plano do


Alckmin, não consta seu posiciona-
mento sobre esse tema, muito me-
nos sobre a questão da contribuição
sindical obrigatória. Já Bolsonaro e
Amoêdo se posicionam a favor da
reforma trabalhista. Nesse espec-
tro, a proposta do Bolsonaro de
criar uma carteira verde e amarela,
com regramento fora da CLT, se
constitui no mais ousado de todos.
A reforma política também en-
trou no radar dos candidatos. To-
dos querem reduzir privilégios.
Bolsonaro, Alckmin e Marina pre-
tendem reduzir o número de mi-
nistérios. Enquanto Haddad quer
convocar uma Assembleia Nacio-
nal Constituinte para debater esses
temas, Marina defende o voto dis-
trital misto, candidaturas indepen-
dentes, fim da reeleição para car-
gos executivos (Boulos e Amoêdo
Bolsonaro e Marina. Por outro lado, Social (RPPS) e criar um regime também), mandato de 5 anos, fim
Boulos quer um Banco Central in- de repartição/solidariedade, posi- do foro privilegiado (assim como
dependente do mercado financei- cionando-se frontalmente contra a Amoêdo) e fim da suplência para o
ro, e não da interferência do gover- ideia de capitalização. Ou seja, uns Senado. Mas apenas Amoêdo de-
no. A meta de inflação parece ser irão pagar por outros. Haddad sa- fende o fim do fundo partidário,
um consenso, mas com ajustes no lienta que a Previdência pode ser e somente Bolsonaro cita que vai
indicador para Ciro e Marina. No equilibrada apenas com gestão e aprovar as 10 medidas contra a cor-
câmbio, vemos que a volatilidade não discorre sobre possíveis refor- rupção. Por fim, Marina, Alckmin,
incomoda as visões mais à esquer- mas estruturais. Já Ciro apresenta Bolsonaro e Amoêdo citaram a im-
da, que propõem intervenções. um modelo com três pilares, onde portância de se ter menos Brasília
Em resumo, podemos ver que as entraria o regime de capitalização, e mais Brasil, em uma alusão a um
ideias liberais entraram, pela pri- também citado pelos demais. No processo de federalismo que redu-
meira vez na história, nos debates entanto, apenas Amoêdo aponta a zisse a concentração de poderes na
dos candidatos a presidente da Re- possibilidade do trabalhador ter li- União.
pública. Se o brasileiro conseguirá vre escolha na aplicação dos recur- Por mais que seja possível apon-
assimilar os benefícios aqui é outra sos do FGTS, o que poderia ajudar tar diversos pontos em comum
questão. Mas não dá para pensar a formar a previdência individual. nas propostas dos candidatos aqui
economia sem citar as reformas. Outra importante fonte de di- avaliados, o fato é que as diferenças
vergência em economia está na de visão sobre economia e modelo
E SOBRE AS REFORMAS? reforma trabalhista implementada institucional irão moldar o Brasil
Nesse ponto, todos concordam recentemente no Brasil. Os can- dos próximos anos. A escolha do
com a necessidade de implementar didatos Boulos, Haddad e Ciro se seu representante, em especial na
mudanças na Previdência, na área colocam contra e prometem re- Câmara, deve ser pautada nessa
tributária e também na política. ver essa reforma. Marina fala mais visão de país, e não de classe ou
Mas nem tudo é como imagina- da questão das desigualdades de partido procurando atender apenas
mos. Na primeira, vemos que Bou- salários no mercado de trabalho as necessidades particulares. Não
los quer unificar o Regime Geral e exploração dos animais do que anule seu voto e tenha certeza da
de Previdência Social (RGPS) com dos pontos da reforma trabalhista, sua escolha. Assuma essa responsa-
o Regime Próprio de Previdência mas salienta que pretende reduzir bilidade.

59
MULHERES DE PODER | LUIZA TRAJANO
FOTOS: DIVULGAÇÃO

EMPREENDEDORA,
LÍDER E
CIDADÃ
Para a empresária que comanda a Magazine Luiza, não basta ter
sucesso nos negócios. É preciso contribuir para um país melhor.
Com esse propósito, ela encabeça um grupo diversificado e
suprapartidário de mulheres

A
paixonada pelo Brasil, in- a romper limites e barreira, sem
tuitiva e com os ouvidos temer fracassos.
cerrados para o pessimis- Luiza Trajano continua com
mo. A dona de uma das maiores o sotaque interiorano: é natural
operações de varejo do país, com de Franca, distante 400 quilôme-
mais de 800 lojas em 16 estados, tros da capital paulista. Não atenta
define-se também como uma “vi- muito a regras de português, mas
ciada em criar empregos”. Luiza se tornou uma show woman em
Helena Trajano, a líder por trás da palestras motivacionais, lotando
Magazine Luiza, comanda a rede auditórios com interessados nos
desde 1991, tendo criado mais de seus segredos de sucesso. Quando
20 mil vagas diretas e 20 mil indi- questionada sobre quais seriam
retas. O sucesso, garante ela, está eles, exemplifica citando alguns
em ser otimista, focar na solução valores pessoais, como ética, sim-
– e não no problema – e ter cari- plicidade e paixão pelo que faz.
nho em servir, com o mesmo em- Um olhar mais atento, no en-
penho, o cliente, a comunidade e tanto, revela a extraordinária e
a nação. nata capacidade de liderança, cal-
Dona de uma personalidade pe- cada na atenção permanente ao
culiar, a empresária herdou da tia cliente e na motivação ao colabo-
Luiza Donato o gosto pelas vendas. rador. Luiza já comprou briga com
Porém, o que a impulsionou de sindicatos quando, no início da dé-
forma definitiva a se destacar foi cada de 90, decidiu alinhar salários
a inteligência emocional da mãe. aos lucros. Há alguns anos, surpre-
Desde pequena, ela foi estimulada endeu ao alcançar aos pais homos-

60 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


Luiza Trajano: dona
de uma das maiores
operações de varejo do
país, com mais de 800
lojas em 16 estados

tem atenção especial, responden-


MINISTROS E PRESIDENTES JÁ BUSCARAM do, muitas vezes, pessoalmente
CONSELHOS E O APOIO DA EXPOENTE ao consumidor – ou dos centros
de convenções lotados para suas
DO VAREJO. LUIZA TRAJANO VIROU UMA palestras. Ela também virou uma
HABITUÉ EM BRASÍLIA habitué em Brasília.
Pela rampa do Palácio do Pla-
sexuais benefícios historicamente uma só vez, 50 lojas em São Paulo. nalto, a “caipira”, como faz questão
fornecidos às mães que trabalham O investimento foi alto, mas o im- de definir-se, passou por diversas
na rede. As decisões voltadas a, pacto dos caminhões circulando e vezes e mandatos. Ministros e pre-
como ela diz, “fazer o empregado a mídia espontânea geraram um sidentes já buscaram conselhos e o
sentir-se dono da empresa”, valeu retorno ainda maior. apoio da expoente do varejo. Tudo
em 2017 o prêmio Great Place to graças à sua influência entre os
Work. PARA ALÉM DAS PRATELEIRAS grandes empresários. Luiza é uma
A perspicácia nas estratégias de A liderança de Luiza Trajano agregadora também entre seus
mercado é outro atributo seu. A vai bem além das gôndolas das pares: foi uma das fundadoras do
Magazine Luiza chegou a abrir, de lojas, do SAC – serviço pelo qual Instituto para Desenvolvimento

61
MULHERES DE PODER | LUIZA TRAJANO

de todos os segmentos, que têm


em comum a vontade de construir
um Brasil melhor.
Intitulado Mulheres do Brasil,
o que seria uma confraria ganhou
o respeito de políticos de todas
as estaturas e siglas. As demandas
ouvidas nos bairros de diversas
cidades são levadas diretamente
em forma de sugestões aos ga-
binetes do Planalto. “O grupo é
organizado e pensado pela socie-
dade, não levamos pedidos para
as administrações públicas. Pelo
contrário, levamos fatos e pro-
postas concretas e possíveis, sem
ficar pedindo ou solicitando”, ex-
plica Luiza. Esse perfil indepen-
dente fez com que o Mulheres
do Brasil passasse a ser visto com
credibilidade, já sendo conside-
rando o maior grupo supraparti-
dário do país.
O movimento colaborativo
também busca despertar o espírito
de cidadania, desempenhando um
papel político propositivo. A sede
no bairro paulista de Paraíso rece-
be, por dia, de 100 a 150 interes-
SÃO 18 MIL do Varejo (IDV), criado para forta- sadas em abrir núcleos. Já foram
lecer o setor. “Se no quarteirão nós instalados 18 no país e um em Por-
MULHERES brigamos, no avião para Brasília tugal. Educação, violência contra a
DE TODOS OS temos de nos unir”, defenda ela, mulher, cotas, saúde e infância são
para explicar a importância da en- alguns dos temas discutidos em
SEGMENTOS, QUE tidade como interface dos interes- cada local.
TÊM EM COMUM ses do setor. A força do movimento é capaz,
inclusive, de produzir cenas nunca
A VONTADE DE MULHERES DO BRASIL antes imaginadas. Seria um tanto
CONSTRUIR UM O IDV foi a semente para um peculiar, para não dizer impossí-
novo movimento. Em 2012, sur- vel, um momento descontraído
BRASIL MELHOR giu a ideia de criar um novo grupo, entre os candidatos à Presidência
com o mesmo perfil, mas reunin- da República de mãos dadas can-
do apenas mulheres para discutir tando Raul Seixas. Pois Luiza fez
temas importantes para o país. O isso. Há poucas semanas, o Mu-
quer era para ser um petit comité foi lheres do Brasil organizou um
ganhando mais e mais adeptas. De evento com os concorrentes, que,
lá para cá, já são 18 mil mulheres em meio ao debate, receberam

62 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


ÂNGELA REZE

Perfil independente
de Luiza fez com que o
Mulheres do Brasil ganhasse
corpo e influência

as sugestões. Sete deles estiveram


presentes e se comprometeram a O MOVIMENTO COLABORATIVO TAMBÉM
levá-las adiante.
“Só as mulheres para consegui-
BUSCA DESPERTAR O ESPÍRITO DE
rem essa urbanidade entre nós. Isso CIDADANIA, DESEMPENHANDO UM
não é comum, não”, chegou a co-
mentar o tucano Geraldo Alckmin.
PAPEL POLÍTICO PROPOSITIVO
“Foi um ambiente mais tranquilo
e, de fato, as mulheres têm essa ca- Mais do que as causas das mu- potencial de consumo e emprego
pacidade de acolher as diferenças”, lheres, Luiza Trajano é decidida- para gerar. Os últimos anos foram
disse Ciro Gomes, prometendo mente uma apaixonada pelo país. marcados por uma longa e pro-
que metade de sua equipe na Pre- Há cerca de quatro anos, ela deu funda crise econômica, política e
sidência será composta por mu- diversas entrevistas falando do ética. Passada a eleição, espero que
lheres. Já o emedebista Henrique Brasil, de um futuro promissor, o país encontre um cenário de ge-
Meirelles garantiu 30% das vagas com maior consumo e empregos ração de empregos para retomar o
em conselhos de administração de a gerar. O cenário acabou não só crescimento.”
estatais. Luzia é uma defensora das não se concretizando como houve Se as previsões da empresária se
cotas femininas. “Existem apenas uma das maiores crises da nossa concretizarão, ainda não sabemos.
7% de mulheres em conselhos de história. A única certeza é ela não pretende
administração. Se tirarmos mães e Mas ela rebate: “Não se trata de assistir ao processo atrás de sua
filhas, que são comuns em casos de otimismo, mas sim de uma cabeça mesa, na sede da empresa. “Nunca
empresas familiares, cai para 3%”, voltada para a solução. Ainda acre- quis ser espectadora. Sempre quis
revelou aos presidenciáveis. dito que o Brasil tem um enorme ser protagonista”, garante. V

63
MULHERES DE PODER | RAQUEL DODGE
JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

COM O
Atuação da procuradora
tem confirmado seu objetivo
de mostrar que não deve

RIGOR DA LEI
obrigação a ninguém

Procuradora-geral da República,
E
m setembro do ano passado, o posto mais alto na hierarquia do
o discurso de posse da jurista Ministério Público Federal (MPF)
Raquel Dodge chega à metade goiana Raquel Dodge para o completa a metade do mandato.
do mandato superando polêmicas comando da Procuradoria-Geral Contrariando a desconfiança

e com atuação fortalecida. da República (PGR) já apontava a


linha de trabalho: “Dirijo-me ao
instaurada no país pelas possíveis
circunstâncias da escolha da se-
Discreta e técnica, está no topo da povo brasileiro, de quem emana gunda colocada na lista tríplice
hierarquia do Ministério Público todo o poder, para dizer que estou para suceder Rodrigo Janot, Ra-
ciente da enorme tarefa que está quel Dodge resistiu. Ela superou
diante de nós e da legítima expec- a polêmica de ter sido conduzida
tativa de que seja cumprida com à Procuradoria-Geral da Repúbli-
equilíbrio, firmeza e coragem, com ca em meio a suspeitas de que o
fundamento na Constituição e nas presidente Michel Temer poderia
leis”. E é cumprindo com a palavra estar tentando se livrar das inves-
que a primeira mulher a assumir tigações por corrupção.

64 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


MARCOS CORRÊA/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

FIRMEZA E DISCRIÇÃO
A atuação firme e contunden-
te da procuradora-geral também
fez esquecer o impacto inicial do
constrangimento causado pela vi-
sita fora da agenda ao Palácio do
Jaburu e, também, pela posse rea-
lizada às pressas dentro do Palácio
Planalto.
Dando sinais concretos de que
tais deslizes não se repetiriam, Ra-
quel Dodge ainda frustrou as ex-
pectativas de quem esperava um
Dodge superou a polêmica de ter
esfriamento da Operação Lava Jato.
sido conduzida à PGR em meio a
E, ao contestar atos do governo que suspeitas de que Temer
a indicou e fazer andar medidas estaria tentando se livrar de
que atingiram políticos de todos os investigações por corrupção
partidos, confirmou o perfil descri-
to por amigos e colegas. Rigorosa,
técnica e discreta, é uma mulher
que não se deixa abater se tiver que sília (UnB) e mestre em Direito a zelar. Seria uma frustração ver o
enfrentar poderosos nos casos de pela Universidade de Harvard, nos contrário”.
combate à corrupção. Estados Unidos. Ingressou no Mi- Sua atuação, aliás, tem confirma-
Dodge encontrou investigações nistério Público Federal em 1987, do seu objetivo de mostrar que não
engatilhadas e com potencial para classificada em segunda lugar, e foi deve obrigação a ninguém, nem
gerar novas ações da Lava Jato, promovida por mérito aos cargos está disposta a livrar qualquer pes-
que analisou e deu andamento de procuradora-regional da Repú- soa ou grupo partidário de respon-
com cautela. Agentes públicos blica e de subprocuradora-geral da der aos ditames da lei. Os atos de
sob suspeita, independentemente República. Raquel Dodge, há um ano no cargo,
da sigla ou posição, não têm sido No comando da PGR, até ago- estão quebrando a resistência e a
poupados. ra, a magistrada não fugiu dos desconfiança de quem, porventura,

CASOS DE IMPACTO
A trajetória de Raquel Dodge é A MAGISTRADA NÃO FUGIU DOS
marcada pela participação em ca-
sos importantes do Judiciário na-
ENFRENTAMENTOS E DEMONSTRA
cional. Ela coordenou a força-tare- QUE SUA GESTÃO NÃO VAI ENTRAR NA
fa da Operação Caixa de Pandora,
que investigou esquema de cor-
HISTÓRIA ENGAVETANDO PROCESSOS
rupção com participação do então
governador do Distrito Federal, enfrentamentos e demonstra que ainda não acredita na sua qualifica-
José Roberto Arruda. Também sua gestão não vai entrar na histó- ção e capacidade de conduzir a PGR
fez parte da equipe que apurou o ria engavetando processos, como com independência. É preciso reco-
esquadrão da morte liderado por projetou no dia da sua posse o ex- nhecer: suas decisões não têm o in-
Hildebrando Pascoal, que ficou co- -ministro da Justiça Eugênio Ara- tuito de agradar gregos ou troianos.
nhecido pela alcunha de “deputa- gão, contemporâneo de Raquel no E, assim, fortalecem a imagem da
do da motosserra”. MPF: “Quem apostar que Raquel procuradora para seguir cumprindo
Raquel Dodge é bacharel em será leniente, vai errar. Ela é am- o dever da instituição com a popula-
Direito pela Universidade de Bra- biciosa e sabe que tem um nome ção brasileira. V

65
MUNDO | O EXEMPLO DA SUÍÇA

MARC SCHLUMPF

O CAMPEÃO
DO MUNDO
NAS URNAS
Primeira democracia a introduzir processos
de participação direta do cidadão, a Suíça vai
muito além das eleições regulares. A cada
ano, os eleitores são chamados a decidir
sobre diversos assuntos

O
eleitor suíço não se cansa ca. Pelo contrário, a liberdade de
de votar. Além das elei- participar ou não garante ainda
ções regulares, há até mais legitimidade ao processo.
quatro consultas populares por No Brasil, a ausência de eleito-
ano. Sem obrigatoriedade, a pre- res nas urnas e a ameaça de ele-
sença varia de 40% a quase 80% vado percentual de votos nulos e
– dependendo do tema em dis- brancos a cada eleição causa pre-
cussão. Nas eleições, metade dos ocupação entre políticos e estudio-
cidadãos em idade para votar (18 sos quando um pleito se aproxima.
anos) comparece. Essa proporção “Suíça e Brasil apresentam uma
não preocupa nem aponta qual- situação bastante distinta no que-
quer sinal de fragilidade políti- sito dos votos nulos e brancos, mas

66 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


insuficientes melhorias à vida do
brasileiro. Um cenário desses, de
certa forma, faz o eleitor concluir
que a participação faz pouca dife-
rença depois de passados quatro
anos de uma legislatura.
“Parte da população não quer
votar porque não se identifica
com a política e com os candi-
datos. E, então, quer mostrar que
não concorda com a votação op-
tando por branco ou nulo”, avalia
Rauschenbach. Ele é conhecedor
da realidade nacional porque le-
cionou e pesquisou durante qua-
tro anos na Faculdade de Filoso-
fia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo (USP).
Na última eleição para o Par-
lamento suíço, em outubro de
2015, a presença dos eleitores
chegou a 48,5% – patamar seme-
lhante às votações anteriores, em
2011 e 2007, e um pouco maior
A assembleia cantonal do que 2003 e 1999. Em relação
(Landsgemeinde, em
às consultas, a maior participação
alemão) é uma das
formas mais antigas foi em dezembro de 1992, com
de democracia direta 78,7%, na decisão sobre a adesão
ao Espaço Econômico Europeu.
A proposta foi rejeitada – entre
DESDE 1989, OCORRERAM 106 DECISÕES outros motivos – porque havia
a preocupação que, se aprova-
OBRIGATÓRIAS E 122 DECISÕES A PEDIDO DO da, resultaria, ao longo do tem-
ELEITORADO, DAS QUAIS 99 FORAM INICIATIVAS po, no ingresso na Comunidade
Europeia (hoje União Europeia).
POPULARES PARA EMENDAS CONSTITUCIONAIS A tendência seria a redução nas
consultas populares com muitas
bem simples de entender pelo fato pleta em processos de democra- decisões passando a sair do Parla-
de que o suíço não é obrigado a cia direta. No Brasil, a política, mento europeu.
votar”, afirma Rolf Rauschenbach, com um rastro interminável de Sem a obrigatoriedade de ir
cientista político com pós-douto- corrupção e um leque de mais às urnas, brancos e nulos ficam
rado na área. de 30 partidos políticos – como em torno de 1%. Conforme Raus-
É de longe a nação com a ex- se houvesse tantos campos ideo- chenbach, que trabalha em Zuri-
periência mais duradoura e com- lógicos diferentes –, proporciona que como consultor em estraté-

67
MUNDO | O EXEMPLO DA SUÍÇA

PARTICIPAÇÃO DOS SUÍÇOS NAS


ELEIÇÕES PARA O PARLAMENTO
(em %)
gias para governos, os votos nulos
derivam de cidadãos que não
50
preencheram as cédulas correta-
mente. Os votos brancos podem 48,5% 48,5%
48,3%
ser interpretados como indicativo
48
de que o eleitor quer se mostrar
participante, mas entende não ter
elementos suficientes para tomar
uma decisão. 46
45,2%

DEMOCRACIA DIRETA
O país europeu é a primeira 44
43,3%
democracia moderna que intro-
duziu processos de participação
direta do eleitor. A Constituição 42
de 1848 entrou em vigor somente
depois de uma decisão popular e
atribuiu ao eleitorado o poder de 40
convocar uma Assembleia Cons- 1999 2003 2007 2011 2015
Fonte: Instituto Federal de Estatística
tituinte.

SEM A OBRIGATORIEDADE DE IR
CONSULTAS POPULARES RECENTES
ÀS URNAS, BRANCOS E NULOS Garantia alimentar

FICAM EM TORNO DE 1%
com produção local APROVADO 78,7%
e sustentável

Financiamentos
Apesar da população (8,3 mi-
através de aumento 50% REPROVADO
de imposto
lhões) bem menor do que a do
Brasil (208 milhões), a Suíça tem
Reforma da
maior diversidade em seus 26
Previdência
47,3% REPROVADO
cantões (estados). O multicultu-
ralismo já começa pelos quatro
Limite salarial
idiomas oficiais em seus 41,3 mil para executivos 34,7% REPROVADO
quilômetros quadrados – exten-
são territorial pouco menor do
Compra de 22
que o Espírito Santo. caças Gripen 46,6% REPROVADO
“Forma-se um ciclo virtuoso
pelo fato de que a população pode
Salário mínimo de
participar de todos os processos, e
R$ 9 mil para todos 47,3% REPROVADO
existe interesse. Há motivação de
se informar sobre os assuntos. Isso
Olimpíadas
é extremamente importante para
de Inverno 47,3% REPROVADO
a renovação na política”, descreve
o especialista. Outra característica 0 50 100
do país europeu é que o baixo ní-

68 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


VOLLGELD INITIATIVE/FLICKR REPRODUÇÃO/WIKICOMMONS

Participação democrática: acima, exemplo


de cédula depositada nos correios; ao
lado campanha “Nur echte Franken für
mein Konto!” (“Apenas francos na minha
conta!”, em alemão)

vel de corrupção eleva a confiança


dos eleitores na política. SE O BRASILEIRO CONTA COM A URNA
VOTO PELO CORREIO
ELETRÔNICA, O SUÍÇO TEM A FACILIDADE DE
A iniciativa popular permite ENVIAR O VOTO PELO CORREIO
a apresentação de modificações
constitucionais introduzindo
um artigo ou suprimindo outro. emendas constitucionais. Anali- ram em nova legislação, como a
Para uma iniciativa ser submeti- sando um período maior, desde Lei da Ficha Limpa.
da ao voto popular, é necessário 1848, mais de 600 consultas no Se o brasileiro conta com a
coletar 100 mil assinaturas entre plano federal contaram com a urna eletrônica, o suíço tem a
eleitores no prazo de 18 meses. participação dos eleitores. facilidade de enviar o voto pelo
A aprovação de uma mudança No Brasil, a partir da promul- correio. Semanas antes da vota-
na Constituição requer a maio- gação da Constituição de 1988 ção, o eleitor recebe em casa o
ria dos votos globais e ao mesmo foram realizados um plebiscito kit para votar, com justificativas
tempo a aprovação na maioria sobre a forma e o sistema de go- descritas para o “sim” e o “não”.
dos cantões. verno (em 21 de abril de 1993) e Outra opção é levar o voto à urna
Dessa forma, são organizadas um referendo sobre a proibição no fim de semana da eleição. Seja
consultas com frequência bas- da comercialização de armas e qual for o caminho, o suíço não
tante elevada. Desde 1989, ocor- munição (23 de outubro de 2005). se cansa de votar porque vê que
reram 106 decisões obrigatórias No mesmo período, houve a o ritmo acelerado das mudanças
e 122 decisões a pedido do elei- apresentação de cinco iniciativas globais exige um país atualizado,
torado, das quais 99 foram para populares de lei. Quatro resulta- e não parado no tempo. V

69
VISÃO | GUNTER AXT

O ÚLTIMO PRESIDENTE MILITAR E A


REDEMOCRATIZAÇÃO
DO BRASIL
E
m 15 de março de 1979, o ge- agentes dos serviços de segurança
neral João Batista Figueiredo suspeitos de torturar o jurista Dal-
chegou à Presidência da Re- mo Dallari, sequestrado em julho
pública. Nunca foi popular, mas do mesmo ano em São Paulo.
consolidou o processo de aber- Cerca de 6 mil pessoas foram
tura iniciado pelo seu antecessor, ao enterro de Lyda, que se tornou
general Ernesto Geisel. Apesar do palco para uma manifestação em
ceticismo reinante, no dia 7 de defesa do processo de abertura


setembro daquele ano, depois de política. Suspeitou-se, à época, de
uma intensa campanha popular, que o atentado partira da extre-
o Congresso aprovou uma anistia ma-direita abrigada nos serviços
NAS GRANDES CIDADES parcial, permitindo o retorno de de informação, contrária à rede-
cerca de 10 mil exilados ao país. mocratização do país. O momento
REGISTRAVAM- Em dezembro, a Lei Federal n. era crucial, pois se preparavam as
SE SAQUES COM 6.767 extinguiu o bipartidarismo. eleições diretas.
No início de 1980, começou a sur- Com a oposição dividida em
FREQUÊNCIA, E A gir uma plêiade de novos partidos: quatro partidos e os governistas
PMDB, PTB, PDT, PT, PP, PDS e concentrados no PDS, Figueire-
VIOLÊNCIA COTIDIANA outros que seriam organizados na do adiou por dois anos as eleições
SOBRESSALTAVA A sequência. municipais marcadas para novem-
Aquele foi o “Verão da Aber- bro de 1980, estendendo o manda-
POPULAÇÃO tura”, cujo símbolo foi a tanga de to dos prefeitos e vereadores que
crochê que o ex-guerrilheiro Fer- estavam no poder, na sua maioria,


nando Gabeira desfilou na praia de identificados com a antiga Arena.
Ipanema, no Rio de Janeiro. O país O grande teste dos novos par-
sonhava com a mudança. A juven- tidos veio em novembro de 1982.
tude, os artistas, a intelectualidade Era a primeira vez, desde 1965, que
e os políticos ansiavam por reto- a população elegia os governado-
mar o fio da história interrompido res dos estados pelo voto direto.
em 1964. Mas um pacote eleitoral proibiu
Mas nada seria tão fácil. No dia as coligações e estabeleceu o voto
27 de agosto de 1980, explodiu vinculado: assim, um vereador e
uma carta-bomba na sede da OAB um prefeito puxavam o voto para
no Rio de Janeiro, ferindo mortal- outros candidatos do partido. O
mente a secretária Lyda Monteiro estratagema beneficiou os gover-
da Silva. O ataque, cuja autoria nistas.
nunca foi esclarecida, ocorreu no Figueiredo alcançou o final de
GUNTER AXT
HISTORIADOR momento em que a OAB fazia uma seu mandato desgastado. Uma ex-
gunter@terra.com.br campanha pública para identificar plosão no estacionamento do Rio-

70 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


REPRODUÇÃO

Presidência. Os grandes comícios


voltavam à cena nas principais ci-
dades brasileiras. Afinal, o movi-
mento frustrou-se no seu objetivo,
mas indiretamente logrou êxito ao
aglutinar o Colégio Eleitoral em
torno de uma alternativa viável de
oposição, a do mineiro Tancredo
Neves, que bateu o candidato go-
vernista, Paulo Maluf, em 15 de
janeiro de 1985. O empresário Ma-
luf, que governara São Paulo até
1982, vencera as prévias eleitorais,
mas não conseguira unificar o PDS,
provocando uma cisão interna que
centro, num show que comemora- mente durante as paralisações dos desaguou seus votos em Tancredo
va o Dia do Trabalho, em 1981, foi metalúrgicos em São Bernardo do e fundou o PFL.
o último atentado da extrema-di- Campo. Luiz Inácio Lula da Silva Tancredo Neves, que deveria ser
reita contra o processo de abertura. surgia como liderança do “novo empossado no cargo em 15 de mar-
Os suspeitos não foram punidos e sindicalismo”, parecendo enfrentar ço, foi hospitalizado com grave en-
ministros caíram. O episódio sin- a ditadura e a classe patronal, mas fermidade e faleceu em 21 de abril.
tetizou a falta de popularidade do também divergindo da esquerda Houve profunda consternação. Foi
último presidente de uma ditadura revolucionária. No campo, a Pas- uma decepção em dose dupla, pois
derrotada, mas ainda ameaçadora. toral da Terra organizava-se, e de- Tancredo havia sido eleito com
Durante a década de 1970, o país senhava-se o surgimento do Mo- grande expectativa, depois da ma-
crescera em média 8,7% ao ano. vimento dos Trabalhadores Sem lograda campanha das Diretas Já!,
Mas nos anos 80 esses índices des- Terra (MST). quando os brasileiros tomaram as
pencaram para raquíticos 2,9%. Em O chamado “milagre brasilei- ruas, entre 1983 e 1984.
1985, a inflação alcançava a casa ro” chegava ao ocaso, deixando Com a morte de Tancredo, o
dos 211%. A relação entre salários e ressaca. A economia exigia ajustes vice José Sarney assumiu o manda-
preços estava totalmente desequi- severos, a dívida externa atingia ci- to, não sem apreensão, pois muitos
librada, enquanto o desemprego fras esmagadoras, o déficit público temiam que a “linha dura” aprovei-
urbano atingia proporções alar- era brutal, a estrutura do Estado tasse o pretexto para inviabilizar a
mantes. clamava por reformas, a questão transição do poder aos civis. Sar-
Nas grandes cidades registra- social explodia. A sociedade pre- ney assumiu com cautela, como
vam-se saques com frequência, e cisava reconquistar a autodetermi- se estivesse pisando em ovos. Um
a violência cotidiana sobressaltava nação política. dos grandes desafios seria assegu-
a população. Em São Paulo, o fe- O primeiro passo para os no- rar a reconstitucionalização. Em 1º
nômeno das greves tornou-se en- vos desafios era o reencontro com de fevereiro de 1987, foi instalada a
dêmico: só no ano de 1979 foram a democracia. Em torno da divi- Assembleia Nacional Constituinte,
mais de 400! Houve vários enfren- sa Diretas Já!, a nação foi às ruas, que nos deu, em outubro de 1988,
tamentos com a polícia, especial- exigindo eleições diretas para a uma nova Constituição.

71
VOTO | CONFRARIA DE ECONOMIA
FOTOS: MARCOS MESQUITA

VISÕES DE O
equilíbrio fiscal do Bra-
sil reuniu em debate os

ECONOMIA
gurus econômicos de três
presidenciáveis. Pérsio Arida (Ge-
raldo Alckmin – PSDB), Gustavo
Franco ( João Amoêdo – Novo)

PARA O BRASIL
e Mauro Benevides Filho (Ciro
Gomes – PDT) falaram para 250
executivos durante a Confraria de
Economia, em São Paulo, sob a
Em parceria da Revista VOTO com o Experience Club, evento curadoria da Revista VOTO. Me-

reuniu economistas de Geraldo Alckmin, João Amoêdo e Ciro diados pelo diretor do BRICLab
da Universidade Columbia, Mar-
Gomes. Debatedores expuseram medidas que o país deve cos Troyjo, o evento ocorreu dia 7
adotar para retomar o desenvolvimento de agosto e foi uma parceria com
o Experience Club.

72 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


Debate explorou
algumas das questões
fundamentais para o
crescimento do Brasil
nos próximos anos

Ex-presidente do
Banco Central,
Gustavo Franco
representou o
candidato João
Amoêdo (Novo)

Economista de
Geraldo Alckmin
(PSDB), Persio Arida
também comandou
o Banco Central

Ex-presidente do Banco Cen-


tral e um dos criadores do Plano Mauro Benevides
Real, Pérsio Arida apontou que o Filho foi secretário
da Fazenda do
país precisa abrir sua economia,
Ceará e lidera área
consolidando acordos comerciais econômica do
com quem interessa, como a Co- presidenciável Ciro
munidade Europeia e a Aliança Gomes (PDT)
do Pacífico. Também defendeu
que o Estado precisa se voltar
menos para si e mais para socie-
dade. Segundo ele, o próximo GURUS ECONÔMICOS DOS PRESIDENCIÁVEIS
governo deve aproveitar o início
do mandato para reformas neces-
CONCORDARAM COM NECESSIDADE DE
sárias, como a tributária. “Não dá AJUSTE FISCAL E AGENDA DE REFORMAS
para diminuir a carga de impos-
tos, mas dá para deixá-la melhor. ESTRUTURAIS PARA O BRASIL

73
VOTO | CONFRARIA DE ECONOMIA

Luiz Felipe Trevisan, do Itau BBA, e Fabio Camargo, Giovanna Maschietto e Luiz Henrique Teixeira, da Delta Air Lines
da Delta Air Lines

Não podemos vender ilusões”, re-


sumiu o coordenador econômico
tucano.
Mauro Benevides Filho, ex-
-secretário da Fazenda do Ce-
ará, ressaltou a necessidade de
medidas de ajuste fiscal. Citou
a revisão da carga tributária, o
Colunista da Revista VOTO, Marcos Troyjo moderou o debate acompanhamento da despesa e
o controle da Previdência como
ações necessárias. Também de-
fendeu alocar mais recursos para
investimento: “Vivemos o menor
nível da história. Isso representa
diminuição do PIB, amarrando o
desenvolvimento”, enfatizou. O
economista destacou ainda a ne-
cessidade de indicadores e metas
no serviço público, a exemplo das
práticas adotadas no mundo cor-
porativo.
Para Gustavo Franco, presi-
dente da Fundação Novo, a maior
esperança do país é o setor em-
presarial, enquanto sua maior
Paula Soares e Michele Cohonner, da FM Logistic; Anderson frustração é ver o serviço públi-
Cardoso, da Souto Correa Advogados; Karim Miskulin e Laura co da forma como está. “Parece
Regenin, da Revista VOTO que aqui quem gera emprego é

74 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


Ricardo Natale,
Gustavo Franco,
Karim Miskulin,
Persio Arida,
Mauro Benevides
Filho e Marcos
Troyjo

menor do que o outro lado”, afir-


mou o também ex-presidente do
Banco Central e um dos formu-
ECONOMISTAS DESTACARAM
ladores do Real. Ele defendeu a IMPORTÂNCIA DO SETOR PRIVADO
privatização de grande parte das
150 estatais da União, inclusive
PARA SUPERAR A CRISE, APONTANDO
do Banco do Brasil. E concluiu: A NECESSIDADE DE INDICADORES E
“Não há necessidade de estrutu-
ras pertencentes ao governo para
METAS NO SERVIÇO PÚBLICO
efetivação de políticas públicas
assertivas”.
Na avaliação do CEO da Ex- manho do Estado, por exemplo,
APROXIMAÇÃO ENTRE perience Club, Ricardo Natale, a precisa ser enfrentado. Ou se re-
PÚBLICO E PRIVADO confraria auxiliou líderes empre- solve com inflação ou se resolve
Publisher da Revista VOTO, sariais a encontrarem consensos com correções fiscais; ou se resol-
Karim Miskulin avaliou o con- para o futuro. “Ouvimos e apren- ve com reformas, ou pelo contrá-
fronto de ideias como uma opor- demos muito a partir do debate. rio, vai-se criar acirramentos ain-
tunidade para reflexão na emi- Foi um encontro clareador e en- da maiores do discurso do nosso
nência do período eleitoral. “O grandecedor”, sintetizou. versus o deles”, afirmou o cientis-
Brasil vive uma profunda crise ta político e economista.
econômica e de legitimidade. É SOLUÇÕES VITAIS No prisma de Troyjo, as pers-
vital que se encontrem soluções INDEPENDEM DE IDEOLOGIA pectivas do Brasil ainda estão
capazes de mudar o país”, disse. Na visão de Marcos Troyjo, distantes de realidades como a
Para ela, é imprescindível que a também colunista da Revista da Venezuela tendo em vista a li-
iniciativa privada se aproxime do VOTO, há questões que precisam berdade de imprensa, a situação
setor público, pois só o amadure- ser encaradas de frente por qual- institucional do país e, sobretudo,
cimento dessa relação fará o Bra- quer candidato, independente do o comportamento de ativismo do
sil andar em frente. lado, esquerda ou direita. “O ta- coletivo social. V

75
VOTO | BRASIL DE IDEIAS

FOTOS: JEFFERSON BERNARDES/AGÊNCIA PREVIEW

FOCO EM REFORMAS
Ex-governador
de São Paulo
apresentou suas
propostas para

E EDUCAÇÃO BÁSICA
diversas áreas

Candidato do PSDB, Geraldo Alckmin


apontou a urgência de uma agenda de
competitividade para o país. Ele revelou
que a meta é zerar o déficit primário em
dois anos e que enxugará despesas

76 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


Prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin; Lu Alckmin Jorge Gerdau Johannpeter e Aod Cunha
e deputada federal Yeda Crusius

A
s quatro reformas prioritá-
rias para o País – política,
tributária, previdenciária e ALCKMIN LAMENTOU QUE O BRASIL
do Estado –, atenção à educação TENHA 440 MIL CRIANÇAS FORA DA
básica e simplificação tributária
foram o destaque da participação PRÉ-ESCOLA, E DISSE QUE PRIORIZARÁ
do candidato à Presidência da Re- CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS
pública pelo PSDB, Geraldo Alck-
min, no Brasil de Ideias. O evento,
que ocorreu no dia 27 de agosto
em Porto Alegre, faz parte do Es-
pecial Presidenciáveis.
No evento, promovido pela Re-
vista VOTO e com a presença de
políticos, empresários e forma-
dores de opinião, o ex-governa-
dor de São Paulo apresentou suas
propostas para diversas áreas e
respondeu perguntas de convida-
dos e enviadas pelas redes sociais.
O tucano esteve acompanhado da
senadora gaúcha Ana Amélia Le-
mos (Progressistas), candidata a
vice-presidente de sua chapa.
A urgente necessidade de reto-
mada da economia brasileira foi
ressaltada pelo ex-governador de Karim Miskulin; Geraldo Alckmin; Fernando Bomfiglio, da Souza Cruz;
São Paulo. O desenvolvimento, se- Ana Amélia Lemos; e André Roncatto, da Fecomércio

77
VOTO | BRASIL DE IDEIAS

gundo o candidato, também passa devolver. O que deve ser o novo


pela agenda da competitividade, nesta eleição é o interesse com o
com estímulo aos investimentos a coletivo. Temos de inverter a ló-
partir da simplificação tributária e gica e enfrentar as corporações”,
da redução da burocracia. “O pró- acrescentou.
“O BRASIL É INJUSTO
ximo ano será o sexto de déficit Ao responder os questiona- AO ARRECADAR
primário. Nossa meta é, em dois mentos dos convidados, o candi-
anos, zerá-lo. E isso sem aumen- dato do PSDB se comprometeu
E INJUSTO AO
tar impostos, apenas diminuindo a dar especial atenção à educa- DEVOLVER. TEMOS DE
despesas e fazendo as reformas ção básica. “O Brasil tem 440 mil
necessárias”, disse. crianças fora da pré-escola. Nossa
INVERTER A LÓGICA
Alckmin também defendeu a prioridade serão as crianças de 0 a E ENFRENTAR AS
renegociação das dívidas com a 3 anos”, salientou.
União e garantiu que será parceiro A candidata a vice-presiden-
CORPORAÇÕES”, DISSE
do Rio Grande do Sul. “Os estados te Ana Amélia Lemos reforçou a O TUCANO
precisam resgatar a capacidade de importância da atração de investi-
investimento”, observou. “O Brasil mentos. Referindo-se ao prefeito
é injusto ao arrecadar e injusto ao de Bento Gonçalves, Guilherme

Alckmin
defendeu
renegociação
das dívidas do
RS com a União

78 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


Tucano tem a gaúcha Ana Amélia Lemos como companheira de chapa

Pasin (Progressistas), presente no


evento, lembrou que mais de mil
empresas estão abrindo no mu-
nicípio, fruto de um trabalho de
Presidenciável tenta pela segunda vez a eleição ao gestão.
Palácio do Planalto O candidato ao governo do Es-
tado pelo PSDB, Eduardo Leite,
fez a apresentação do convida-
ALCKMIN AFIRMOU QUE SUA META É ZERAR O do, lembrando que tem Alckmin
DÉFICIT PRIMÁRIO BRASILEIRO NO PRÓXIMO ANO, como uma inspiração, pela sua
trajetória política e pela busca de
APÓS SEIS ANOS NO VERMELHO serenidade em meio à crise polí-
tica.

BRASIL DE IDEIAS
Os 14 anos da Revista VOTO e
o trabalho de oportunizar que as
pessoas acreditem na política fo-
ram sublinhados pela publisher
Karim Miskulin. “Temos fé na
transformação do País pelos bons
políticos. Queremos que o próxi-
mo presidente diminua as diferen-
ças sociais, valorize o empreende-
dorismo e, principalmente, traga
de volta a paz que o Brasil tanto
necessita”, observou.
Há sete anos estimulando o de-
bate, o Brasil de Ideias tem o pa-
trocínio das empresas Safeweb,
Alckmin falou para público formado por empresários, políticos e Carrefour, FM Logistic, Celulose
formadores de opinião Riograndense e Souza Cruz. V

79
VOTO | BRASIL DE IDEIAS

FOTOS: JEFFERSON BERNARDES/AGÊNCIA PREVIEW


Candidato do
PSL falou sobre

MENOS ESTADO
seus planos
para o país no
palco do Brasil
de Ideias

E MAIS ÉTICA
Em evento da Revista VOTO, Jair Bolsonaro descartou
a possibilidade de aumentar impostos e reafirmou que
privatizará e extinguirá estatais. Se eleito, se comprometeu a
formar equipe com especialistas e romper com a velha política

80 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


Karim Miskulin;
Fernando Bomfiglio,
da Souza Cruz;
Jair Bolsonaro;
André Roncatto,
da Fecomércio; e
Carmen Flores

Deputado Federal Onyx Lorenzoni; Karim Miskulin; Jair Bolsonaro Presidenciável do PSL concedeu entrevista coletiva
e Secretário-chefe da Casa Civil do RS, Cleber Benvegnú para jornalistas de todo o país

O
candidato à Jair Bolsona- brasileiro. Questionado sobre as
ro (PSL) apresentou suas privatizações que pretende fazer,
propostas para um auditó- Jair Bolsonaro destacou que toma-
rio lotado no Brasil de Ideias – Es- rá as decisões com base em estudo
pecial Presidenciáveis. No evento elaborado por Paulo Guedes, co-
promovido pela Revista VOTO no ordenador econômico de seu pro-
dia 29 de agosto em Porto Alegre/ grama de governo e nome aponta-
RS, ele detalhou seus planos para do como ministro da Fazenda em
economia, segurança, agronegó- seu eventual governo.
cio e comércio exterior caso seja “Vamos extinguir de imediato as
eleito. 50 estatais que o PT criou ao longo
Para um público formado por de 13 anos. A mais importante, que
empresários, políticos e jornalistas, vem até de antes desse período, é
o deputado federal fluminense de- a Empresa Brasil de Comunicação
fendeu uma série de medidas para (EBC), que gasta R$ 1 bilhão por
a redução do tamanho do Estado ano para acomodar jornalistas de

81
VOTO | BRASIL DE IDEIAS

esquerda aposentados”, reforçou ponderando que as medidas não Posição frequente em suas ma-
o candidato. “Pode ter certeza: dá dependem só do presidente, mas nifestações, Jair Bolsonaro argu-
para se desfazer de dois terços da também das legislações estaduais e mentou que o Estado brasileiro
estatais e aliviar o peso do Estado municipais. deve ser mais firme no combate
em quatro anos”. Bolsonaro avaliou que o Brasil à violência. “Não quero dar carta
Porém, afirmou ter ressalvas “vive ainda de extrativismo”, com branca para o policial matar, mas
em adotar essa medida para de- uma prejudicial predominância de para ele não morrer. Se o outro
terminadas empresas. “Quanto às commodities entre os itens exporta- lado, que está fora da lei, tem po-
estratégicas, não podemos jogar dos. “Não agregamos valor ao que tencial de fogo, nós precisamos
para cima e ‘quem pegar, pegou’”, produzimos. Qual o país que mais ter no mínimo o dobro disso do
expressou, acrescentando que não ganha café no mundo? É a Alema- lado de cá”, declarou. “Não quero
concorda em transferir o comando nha, que não planta um pé de café”, que ninguém sofra na cadeia. Mas,
do Banco do Brasil e da Caixa Eco- apontou. Em defesa da proprieda- se o Brasil não tiver recursos para
nômica Federal à iniciativa privada. de privada, foi taxativo ao criticar fazer novas penitenciárias, depen-
O presidenciável do PSL tam- sobre as invasões: “Temos de iden- dendo de mim, vamos encher as
bém descartou a possibilidade de tificar as ações do MST [Movimento que existem”.
subir os impostos como forma de dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] Questionado sobre como re-
equilibrar as contas, mencionando e do MTST [Movimento dos Traba- verter os índices negativos do país
os exemplos do presidente ameri- lhadores Sem Teto] como terrorismo, na educação, ele analisou que o
cano Donald Trump e da ex-pri- buscando inibi-las na lei”. problema não será superado em
meira-ministra britânica Margaret
Thatcher, que diminuíram a carga
tributária e geraram resultados po-
“DÁ PARA SE DESFAZER DE DOIS TERÇOS DA
sitivos na economia. “Temos de fa-
cilitar a vida de quem quer abrir e, ESTATAIS E ALIVIAR O PESO DO ESTADO EM
também, fechar empresas. Precisa-
QUATRO ANOS”, DISSE O CANDIDATO
mos avançar na desburocratização
e na desregulamentação”, propôs,

Karim Miskulin; Clenir Wengenowicz, da Tok; Público conheceu propostas de Bolsonaro durante
Jair Bolsonaro; e Otelmo Drebes, da Lebes o Brasil de Ideias – Especial Presidenciáveis

82 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


raram seus planos de governo e
dividiram diretorias de bancos e
comandos de estatais e ministé-
rios para “atender interesses de
seus partidos, e não da população
brasileira”.
Ao ser perguntado como pre-
tende superar o alto índice de re-
jeição e vencer as eleições, foi taxa-
tivo: “Não vou ser o Jairzinho paz e
amor. As cartas estão na mesa”. No
encerramento do Brasil de Ideias,
Jair Bolsonaro salientou que é pos-
sível mudar o destino do país. “Nós
somos a maioria, os verdadeiros
trabalhadores. Somos conservado-
res e respeitamos a família”.
O deputado federal Onyx Lo-
renzoni (DEM), que introduziu o
candidato, destacou que ele está
conectado com uma demanda his-
tórica da população brasileira. “Há
mais de 40 anos, este país espera a
chance de poder ver as ideias libe-
rais e conservadoras fazerem uma
aliança e ter alguém que as simbo-
lize. Nós, brasileiros, descobrimos
que essas ideias têm um líder”, afir-
mou o parlamentar.

BRASIL DE IDEIAS
A publisher da Revista VOTO,
Karim Miskulim, ressaltou que
o Brasil de Ideias é um “espaço
BOLSONARO DECLAROU QUE “NÃO VAI SER O plural sempre aberto para ouvir,
JAIRZINHO PAZ E AMOR” PARA SUPERAR O ALTO aprender e, principalmente, para
construir”. “Um dos nossos maio-
ÍNDICE DE REJEIÇÃO E VENCER AS ELEIÇÕES res princípios é acreditar na políti-
ca como instrumento de transfor-
mação. Ao longo da nossa história,
apenas quatro anos. “Temos de Buscando se diferenciar de sempre entendemos que não é ne-
desfazer muita coisa. Precisamos seus adversários, o presidenciá- gando a política que avançaremos
reestabelecer a autoridade do pro- vel se comprometeu a escolher como sociedade próspera”, disse
fessor na sala de aula e expulsar [a pessoas competentes para sua Karim.
visão de] Paulo Freire”, respondeu, equipe, “sem a velha política do Há sete anos estimulando o de-
denunciando um processo de toma-lá-dá-cá”. Segundo ele, ao bate, o Brasil de Ideias tem o pa-
doutrinação de esquerda entre as término das eleições, os presi- trocínio das empresas Carrefour,
escolas. dentes anteriores desconside- FM Logistic e Souza Cruz. V

83
VOTO | BRASIL DE IDEIAS

Ao lado de
Karim Miskulin,
postulantes
ao Piratini
concordaram
sobre
importância de
equilíbrio de
contas
FOTOS: JEFFERSON BERNARDES/AGÊNCIA PREVIEW

SUPERAR A CRISE
EM PRIMEIRO LUGAR
Candidatos ao governo do do Rio Grande do
Sul, Eduardo Leite, Jairo Jorge, José Ivo Sartori
e Mateus Bandeira detalharam seus planos no
Brasil de Ideias – Especial Eleições

C
om propostas diferentes RETOMADA DA CONFIANÇA
entre si, quatro candidatos Prefeito de Pelotas entre 2013
ao governo do Rio Grande e 2017, Eduardo Leite destacou
do Sul concordam sobre a im- que acumulou a experiência de
portância de equilibrar as contas governar em situação de dificul-
do Estado. Eduardo Leite (PSDB), dade. “É a terceira maior cidade
Jairo Jorge (PDT), José Ivo Sartori gaúcha, mas ao mesmo tempo a
(MDB) e Mateus Bandeira (Novo) nona economia. Tem muitos pro-
expuseram seus planos para o blemas e poucos recursos. Porém,
RS no Brasil de Ideias – Especial em quatro anos, mostramos resul-
Eleições, promovido pela Revis- tados concretos para a população”,
ta VOTO, em 3 de setembro, em afirmou. “Com soluções claras, as
Porto Alegre/RS. O evento reuniu pessoas passam a confiar no futu-
empresários, políticos e jornalistas. ro. Precisamos dar à população um

84 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


sentimento de rumo, com ações do Sul possui: estagnação econô-
concretas”. mica; fuga de cérebros; burocracia
Para o candidato tucano, o de- estatal; perda de excelência nos
sequilíbrio entre receitas e despe- serviços públicos; déficit de infra-
sas exige a atuação nas duas fren- estrutura; desigualdades regionais;
tes. “Precisamos discutir a folha e paradigma do conflito, marcada
de pagamento, encargos sociais, pelo enfrentamento constante en-
vantagens que se incorporam nas tre adversários políticos.
carreiras e licenças-prêmio. Tam- De acordo com candidato pede-
bém teremos de debater com res- tista, para enfrentar essas questão,
ponsabilidade a privatização das não basta uma mudança incre-
estatais”, propôs. mental, “fazendo mais do mesmo”. Eduardo Leite (PSDB) foi vereador, secretário e
Leite defendeu que o Estado “Precisamos de uma mudança dis- prefeito de Pelotas. Em 2017, assumiu a presidência
deixe de ser operador direto e pas- ruptiva. Para que tenhamos um estadual do PSDB gaúcho. Bacharel em Direito,
se a atuar como regulador. “É pra- ambiente de inovação, precisamos estudou Gestão Pública na Universidade Columbia,
nos EUA. Faz mestrado em Gestão e Políticas Públicas
ticamente impossível que empre- de convergência política. Se eu ati-
na Fundação Getulio Vargas
sas sejam bem geridas nas mãos do rar pedras em alguém, não vou tê-
Poder Público, pois precisam ser -lo como parceiro no futuro”, justi-
respeitadas as amarras burocráti- ficou, acrescentando que pretende
cas, como licitações, concursos pú- reduzir o número de secretárias
blicos e estabilidade de servidores”, para dez.
sustentou o ex-prefeito de Pelotas. Para que o Rio Grande do Sul
No Brasil de Ideias, Eduardo retome o desenvolvimento, Jairo
Leite apontou quatro medidas es- revelou que aposta no binômio
senciais a serem tomadas pelo pró- menos burocracia e menos impos-
ximo governador: investimento tos. Quanto ao licenciamento am-
em infraestrutura, com um amplo biental, ele expressou que “temos
programa de concessões e parce- de inverter o ônus”. “Hoje, todo
rias com setor privado; redução mundo é desonesto até que se pro-
da burocracia, a exemplo do que ve o contrário. O empreendedor
já fez Santa Catarina; revisão do é visto como bandido, quando na
sistema tributário; e aplicação de verdade é a solução. É quem gera
recursos em educação. emprega, renda e crescimento”.
O ex-secretário executivo do
ENFRENTAMENTO DE Ministério da Educação também
PROBLEMAS ESTRUTURAIS salientou que é necessário “fazer
Jairo Jorge ressaltou que visitou funcionar bem o que já existe”,
todos os 497 municípios gaúchos, como os serviços de educação,
com o objetivo de “conhecer pro- saúde e segurança. Jairo Jorge disse
fundamente o Estado, seus proble- ainda que fará parcerias público-
mas e potencialidades”. Para o ex- -privadas e concessões na área da Prefeito de Canoas por dois mandatos, Jairo Jorge (PDT)
também foi vereador e secretário executivo do Ministério
-prefeito de Canoas, a partir dessa infraestrutura. “Temos de quebrar
da Educação. Atuou na criação do Programa Universidade
proximidade com os municípios, esse preconceito”, comentou. Ele para Todos (Prouni) e do Fundo de Manutenção e
foi possível detectar sete proble- ainda sublinhou que governará Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
mas estruturais que o Rio Grande com participação da sociedade e dos Profissionais da Educação (Fundeb)

85
VOTO | BRASIL DE IDEIAS

com olhar para cada região. “Va- “Todo mundo fala [da importân-
mos retomar os Coredes, com cia de investir] em segurança, saúde
escritórios regionais de governo. e infraestrutura. Todos nós dese-
Buscaremos soluções para os gar- jamos um Estado eficiente, equi-
galos de cada local”. librado e sustentável. Mas como
vamos fazer isso sem as condições
PRIORIDADE PARA mínimas?”, questionou. O gover-
REGIME DE RECUPERAÇÃO nador trouxe à tona que o Estado
O governador José Ivo Sartori tem folha de pagamento de 56% de
destacou que um Estado em crise aposentados, enquanto na Brigada
precisa de “agregação e aproxima- Militar o índice chega a quase 70%.
Candidato à reeleição, José Ivo Sartori (MDB) é ção”. “Não é só o governo que re- “Qual ativo vai sustentar isso”, per-
formado em Filosofia. Foi vereador e prefeito em solve as dificuldades. É preciso que guntou novamente.
Caxias do Sul por duas gestões, deputado estadual a sociedade entenda e participe”,
por cinco mandatos e deputado federal. Em 2014, frisou. Ele exprimiu que “não se APOSTA NA RENOVAÇÃO
foi eleito governador com 61,2% dos votos válidos,
pode gastar mais do que se arre- Para o candidato do Novo, a
vencendo Tarso Genro (PT)
cada”, pontuando que, em 48 anos, eleição deste ano é uma das mais
o Rio Grande do Sul teve apenas definidoras da história do Rio
7 em que a receita ficou igual ou Grande do Sul. “Nunca fomos às
superior às despesas. “Essa prática urnas com um nível de insatisfa-
não dá certo em lugar nenhum, ção e de indignação tão grande,
seja uma família, empresa, cida- devido à crise moral e política
de, Estado ou país”, exemplificou, que vivemos nos últimos anos,
mencionando que a prioridade é a com escândalos intermináveis
adesão ao regime de recuperação de corrupção”, disse Mateus Ban-
fiscal. deira. De acordo com ele, esse
Se reeleito, o candidato do MDB sentimento pode levar a dois ca-
afirmou que seguirá no esforço de minhos: o não voto ou um movi-
redução da máquina pública. “Sem mento de renovação.
receio e sem medo, vamos continu- “O Novo é a única novidade
ar a luta pela federalização ou pri- das últimas décadas na política. É
vatização de empresas que o Estado um partido formado por pessoas
não precisa controlar. Encaminha- de fora da política, que não acre-
mos para a Assembleia o projeto ditam que as soluções possam vir
ainda em 2016, e nem o plebiscito de partidos tradicionais”, afirmou,
foi aprovado. Sem o regime, não acrescentando que a agremiação
vai existir equilíbrio fiscal”. só aceita pessoas com ficha limpa
Sartori concordou com seus ad- e não utiliza o Fundo Eleitoral.
versários ao dizer que o Estado não “Aqueles que dizem que saúde,
deve ter amarras e burocracia, mas educação e segurança são priori-
Mateus Bandeira (Novo) possui 30 anos de experiência ressalvou que isso leva tempo. “A dades estão usando R$ 2,5 bilhões
profissional na iniciativa privada e no setor público. transformação da estrutura públi- este ano para financiar suas cam-
Nascido em Pelotas, foi diretor do Tesouro do RS,
ca não é uma questão de direita ou panhas e seus partidos”, criticou.
secretário estadual de Planejamento e presidente do
Banrisul. Entre 2011 e 2017, atuou como CEO da Falconi, de esquerda. Ela serve ao futuro e Mateus Bandeira recordou sua
maior consultoria de gestão do país às próximas gerações”. atuação como diretor do Tesouro

86 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


NOEL PORTUGAL/FLICKR

O QUE SANTA CATARINA ENSINA?


Durante o painel, os quatro candidatos responderam a convergência. Precisamos de maturidade. Hoje, quando
uma mesma pergunta, elaborada pelo público: o que o Rio troca de governo, troca tudo”.
Grande do Sul tem a aprender com os governos de Santa Mateus Bandeira destacou que o estado vizinho tem
Catarina? iniciativas que podem ser inspiradoras para o RS. “Há 20
Eduardo Leite citou o case de licenciamento ambiental, anos, federalizaram seu banco, que depois foi privatizado.
feito por adesão e compromisso. “São novas formas de tec- Hoje não faz falta para Santa Catarina, que está melhor do
nologia incorporadas para reduzir o processo burocrático, que nós. O Rio Grande do Sul tem um apego ao controle de
dar mais celeridade e liberar energia para quem quer em- seu banco”, afirmou o ex-presidente do Banrisul.
preender. Por aqui, ainda temos um governo pesado, que José Ivo Sartori fez um alerta: “A partir do ano que vem,
limita a capacidade da nossa população”. outros estados vão entrar na rota da crise financeira que
Para Jairo Jorge, SC tem um Estado mais leve e mais existe por aqui”. E, aproveitando a comparação, relatou
rápido. Outro aspecto levantado por ele foi a continuidade que o RS está “enfrentando a mudança burocrática, tanto
administrativa, com um ciclo de 16 anos. “Nós não temos na questão ambiental como na ciência e tecnologia e no
isso. Temos de criar uma pactuação, pois há ausência de desenvolvimento econômico”.

do Estado e secretário do Plane- seguimos investir, principalmente a realidade, Bandeira expôs que irá
jamento, com o objetivo de colo- em segurança”. introduzir no Rio Grande do Sul
car as contas em ordem. Foram Para o ex-CEO da consultoria dois modelos que deram certo no
os três anos em duas décadas em Falconi, os péssimos índices de mundo. O primeiro é o programa
que o Rio Grande do Sul teve su- qualidade da educação compro- de vouchers, que funcionará como
perávit. “Na minha passagem pela vam que “não é possível apostar o Prouni para o ensino básico. O
administração pública, entreguei no mesmo sistema”. “O modelo segundo são as escolas comunitá-
resultado em um período de cri- estatal não está dando certo, e nós rias, que terão financiamento do
se com a mesma magnitude que estamos produzindo analfabetos Estado, mas contarão com admi-
enfrentamos hoje. Com isso, con- funcionais”, apontou. Para reverter nistração privada. V

87
PENSE NISSO | PERCIVAL PUGGINA

PRESIDENCIALISMO
DE COALIZÃO,
A IDEIA E OS FATOS
P
enso ser impossível encon- • reiteração da síndrome
trar maior evidência dos quadrienal do presiden-
males inerentes ao nosso cialismo brasileiro, com
sistema de governo do que na ob- os habituais sintomas de
servação direta, empírica, da atua- redução das atividades, de-
lidade nacional. Temos diante dos preciação da moeda e das
olhos, a poucos dias da eleição, a ações ante um cenário de


escrachada nudez de um arranjo incertezas, e dores de cabe-
institucional desmazelado. Ele se ça nacionais;
caracteriza por: • quadro eleitoral eviden-
TEMOS DIANTE DOS • desorientação da sociedade ciando a crescente perda
perante o aleatório voejar de influência dos partidos,
OLHOS, A POUCOS dos partidos, em torno do a personalização das deci-
DIAS DA ELEIÇÃO, A pote de mel republicano; sões de voto e a pequena
• candidatos presidenciais relevância de ideias e pro-
ESCRACHADA NUDEZ com rejeição superior à gramas.
aceitação, exceto aquele Por outro lado, olhando-se
DE UM ARRANJO que se apresenta na inusi- para 2019, seja quem for o pre-
INSTITUCIONAL tada condição de presidiá- sidente eleito, parece impossível
rio; escapar da armadilha montada
DESMAZELADO • desequilíbrio financeiro na frequentada esquina onde a


na disputa por cadeiras necessidade de compor maioria
parlamentares, com recur- parlamentar se encontrará com
sos públicos privilegiando os meios disponíveis para obtê-la.
quem já tem mandato; gra- Ali, como a pegar raposas, a fer-
ças a tal vantagem, nunca ragem dos fatos tem capturado
foi tão elevado (quase 80% a perna de eventuais boas inten-
do total) o número de de- ções. As ditas coalizões vão fican-
putados federais buscando do cada vez mais parecidas com
reeleição; “exigir vantagem indevida, para si ou
• isolamento do presidente para outrem, direta ou indiretamente,
e de seu governo, que atra- ainda que fora da função, ou antes de
PERCIVAL PUGGINA
MEMBRO DA ACADEMIA RIO- vessam o ano de 2018 sem assumi-la, mas em razão dela” (art.
GRANDENSE DE LETRAS, É ARQUITETO,
o apoio necessário à apro- 316 CP). Não é assim que, siste-
EMPRESÁRIO E ESCRITOR E TITULAR DO
SITE WWW.PUGGINA.ORG, COLUNISTA vação de quaisquer medi- maticamente, o Brasil vem sendo
DE DEZENAS DE JORNAIS E SITES NO
das de interesse nacional governado? Não é precisamente
PAÍS. AUTOR DE CRÔNICAS CONTRA O
TOTALITARISMO; CUBA, A TRAGÉDIA DA (como esvair-se assim, não a inevitabilidade dessa armadilha
UTOPIA; POMBAS E GAVIÕES;
aproveitado, um ano intei- que tem motivado a ampliação
A TOMADA DO BRASIL. INTEGRANTE DO
GRUPO PENSAR+. ro?); do número de partidos no Brasil?

88 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


CAMILA F./FLICKR


Não parece impróprio haver-se
um governante majoritário com
miríade de fragmentadas mino- OS FINS PARTICULARES DAS LEGENDAS
rias? Coisas do presidencialismo
de coalizão.
DA ‘COALIZÃO’ DEVORAM O FIM COMUM
Talvez convenha recuarmos EM TORNO DO QUAL DEVERIAM
um pouco no tempo. Nos man-
datos imediatamente posteriores CONVERGIR AS AÇÕES DO GOVERNO


à Constituição de 1946, os presi-
dentes Dutra (PSD/PTB), Getúlio
(PTB/PSD), Juscelino (PSD/PTB) e
Jânio (PTN, UDN, PDC, PL e PR) própria base do governo, quando fato. A primeira pode ser resumi-
eram eleitos dentro de coligações não da oposição. da como a legitimidade da eleição
e com elas governavam. Esse mes- O mencionado acima não se direta do governante com ações
mo sistema de governo chegou a refere a uma ou outra situação mediadas pelo parlamento; o se-
nossos dias numa prática enfer- excepcional, mas a uma rotina gundo como a ilegitimidade de
ma, onerando a sociedade com decorrente da mera aplicação da operações comerciais custosas,
acordos instáveis, frequentes re- regra do jogo ao jogo jogado. Em que permitem a captura do go-
marcações nos preços dos apoios política, diferentemente do que verno e do Estado por partidos,
partidários, negociações especí- possa parecer, idealismo e realis- fragmentando verbas e ações em
ficas para viger na aprovação de mo são gêmeos bivitelinos, filhos prejuízo da sociedade. Os fins
projetos relevantes e – sua mais da vida como ela é. Dado que a particulares das legendas da “coa-
escabrosa face – negociação in- vida pública não é moça muito lizão” devoram o fim comum em
dividual, voto a voto, caso a caso, recatada, o pai resulta sempre in- torno do qual deveriam convergir
diretamente com membros da certo, mas a mãe dá à luz ideia e as ações do governo.

89
PATROCÍNIO DIAMANTE PATROCÍNIO PR ATA

AGENDA 2018
JOIAS DO TOUR ESPECIAL
8 BALLET RUSSO 9 O PAPAI É POP
OUT Teatro do Bourbon Country
Teatro do Bourbon Country
OUT Teatro do Bourbon Country

CALLAS IN CONCERT IRA!


18 THE HOLOGRAM 18 LUIZA POSSI 19
OUT TOUR OUT Teatro do Bourbon Country OUT Teatro do Bourbon Country
Auditório Araújo Vianna

VANESSA DA MATA E
23 GIPSY KINGS 26 EU COMIGO MESMO 26 OMARA PORTUONDO
OUT Auditório Araújo Vianna OUT Teatro do Bourbon Country OUT Auditório Araújo Vianna

90 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


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TEATRO FEEVALE - ALVARÁ DE FUNCIONAMENTO INSCRIÇÃO MUNICIPAL Nº 100554. VALIDADE: INDETERMINADA. CERTIFICADO DE CONFORMIDADE DE PPCI Nº 5266/1. VALIDADE 19/10/2019
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18 SOBRE O
OUT Teatro do Bourbon Country
NOV 1 NOV - Teatro Feevale NOV CASAMENTO
2 NOV - Teatro do Bourbon Country Teatro do Bourbon Country

DADO VILLA-LOBOS MARIA BETHÂNIA E LULU SANTOS


24 & MARCELO BONFÁ 28 ZECA PAGODINHO 7 E8
NOV Auditório Araújo Vianna NOV Auditório Araújo Vianna DEZ Auditório Araújo Vianna

LA LA LAND
19 CAETANO, MORENO, ZECA, 21 IN CONCERT
DEZ TOM VELOSO DEZ Auditório Araújo Vianna
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Bilheteria do Teatro do Bourbon Countr y
 /OPUSPROMOCOES
91
NOVO HAMBURGO
Bilheteria do Teatro Feevale  /OPUSPROMOCOES
CULTURA E LAZER | ENTRE PÁGINAS

GAGE SKIDMORE

A EXPLICAÇÃO
PARA O QUE
QUASE
NINGUÉM
ESPERAVA
Contra parcela esmagadora das pesquisas e
expectativas, Donald Trump superou Hillary
Clinton e se elegeu presidente dos Estados
Unidos. Voz isolada durante toda a campanha, o
criador da tirinha Dilbert apostava na vitória do
republicano. E, em livro, explica o que muita gente
até agora não entendeu

E
ra noite de 8 de novembro de cas enquanto os votos começavam
2016. Os brasileiros acompa- a ser contabilizados.
nhavam o início das apura- Porém, tudo mudou naquela
ções das eleições americanas e fo- madrugada. E, na manhã de 9 de
ram dormir com a certeza de que novembro, acordamos com uma
Ganhar
Hillary Clinton seria a ungida pe- notícia inesperada: o próximo ocu-
de lavada:
las urnas. Afinal, era o que todas as pante da Casa Branca seria Donald persuasão em
pesquisas mostravam – e com lar- Trump. Embora tenha perdido no um mundo
guíssima margem. Divulgado na voto popular, com 46,09% contra onde os fatos
véspera, o levantamento da Reu- 48,18%, o republicano conseguiu o não importam
Scott Adams
ters/Ipsos cravava que a candidata necessário para ganhar de acordo
do Partido Democrata tinha 90% com as regras dos EUA. No colégio 322 páginas
de chances de se tornar presidente eleitoral, obteve 304 delegados, su- 1ª edição
dos Estados Unidos. O favoritismo perando com certa folga a base dos Record
absoluto se manteve nas estatísti- 270 necessários para vencer.

92 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


DICAS DE PERSUASÃO
Ao longo do livro, Scott Adams compartilha mais
de 30 orientações. Confira as 10 principais:

1 Exiba confiança (real ou simulada) para


aumentar seu poder de persuasão

2 Adivinhe o que alguém está pensando


e diga em voz alta

3 Repetição é persuasão. Repetição é persuasão

4 Deixe de fora qualquer detalhe que seja


desimportante

5 Quando você ataca crenças de alguém, é mais possível


que ela enrijeça suas crenças do que as abandone

6
Se estiver vendendo, peça a seu potencial
cliente que compre de forma direta

7 Imite o estilo de fala de sua audiência

8 Explicações simples parecem mais críveis


que explicações complicadas

9 A persuasão é efetiva mesmo quando


o receptor reconhece a técnica

10 Encontre um meio-termo entre desculpar-se


demais e jamais se desculpar

Não foi apenas por aqui que o


resultado caiu como uma bomba. CONHECIDO POR SER O CRIADOR DA
Jornalistas e cientistas políticos de TIRINHA DILBERT, SCOTT ADAMS AFIRMOU
todo o mundo buscaram expli-
cações para o que parecia inex- PUBLICAMENTE QUE TRUMP SERIA ELEITO E
plicável. Algumas que surgiram: SE ENGAJOU NA CAMPANHA
fracasso do Facebook em coibir
fake news, ressentimento de ho-
mens brancos, atuação de hackers motivaram protestos, que toma- ser o criador da tirinha Dilbert,
russos, reação ao politicamente ram as ruas de grandes cidades Scott Adams afirmou publicamen-
correto, conexão de Trump com dos EUA. te, lá atrás, que Trump seria eleito
o povo americano, principalmen- Enquanto isso, um sujeito al- e se engajou na campanha. Passan-
te os esquecidos. Os descontentes cançava o auge após fazer uma do de cartunista a analista político,
viveram um misto de ressaca e aposta de alto risco e sair vitorioso. foi zombado por sua previsão e
luto. O inconformismo e a revolta Não foi nada fácil: conhecido por atacado por uma multidão nas re-

93
CULTURA E LAZER | ENTRE PÁGINAS

des sociais. Tornou-se persona non UMA FIGURA ÚNICA Para Scott Adams, aquela ques-
grata em muitos círculos sociais O livro é uma prazerosa viagem tão poderia ter encerrado, ali mes-
e perdeu amigos de longa data. pela campanha presidencial ame- mo, o sonho de Trump ser eleito
Passado o tumulto, deixou de ser ricana e resgata algumas passagens presidente. “Considere como um
considerado como louco para se marcantes daquela disputa. Uma político normal e convencional
tornar um visionário. delas envolve o primeiro debate teria lidado com a armadilha. A
republicano, quando Trump ain- maioria teria declarado coisas po-
A RAZÃO DE TUDO da tinha de superar adversários sitivas sobre as mulheres e tentado
Mas, afinal, o que ele viu que poderosos – como Jeb Bush, Mar- mudar de assunto. Mas essa estra-
passou despercebido pela grande co Rubio, Ted Cruz. A mediadora tégia era falha, porque havia mui-
maioria dos veículos de comu- começou a fazer a pergunta dire- tos registros públicos das declara-
nicação, institutos de pesquisa e tamente a ele: “Você já chamou as ções passadas de Trump sobre as
ditos especialistas? A história toda mulheres das quais não gosta de mulheres”. E conclui: “Trump ga-
é contada em Ganhar de lavada: ‘vacas gordas’, ‘cadelas’, ‘porcas’ e rantiu que toda a atenção da mídia
persuasão em um mundo onde os fatos ‘animais nojentos’...”. Foi quando o estaria nele porque a menção a
não importam, lançado este ano no então pré-candidato interrompeu: Rosie O’Donnell era simplesmente
Brasil pela Editora Record. O livro “Só Rosie O’Donnell”, referindo-se interessante (e engraçada) demais
oferece uma explicação consisten- a uma controversa personalidade para ser ignorada. E retirou toda a
te e desapaixonada dos motivos americana. atenção de seus dezesseis competi-
que levaram à eleição do polêmico
empresário e apresentador de TV. IBMPHOTO24/FLICKR

Scott Adams defende que a


maior parte das decisões toma-
das no dia a dia por nós não tem DICIONÁRIO
qualquer base racional: “Somos Na obra, o autor explica alguns conceitos
programados para responder à importantes para entender o fenômeno Trump e
emoção, não à razão. Podemos ou- outros líderes que se destacam pela persuasão. Veja:
vir 10% de um discurso – um gesto
ali, uma frase aqui – e, se os botões • Dissonância cognitiva: condição mental
certos forem apertados, decidir na qual a evidência conflita tanto com a
que concordamos. Em seguida, visão do mundo de uma pessoa que ela
inventamos razões para justificar espontaneamente gera uma alucinação
para racionalizar a incongruência
nossa decisão”.
• Manobra do terreno elevado: método de
O autor demonstra convic-
persuasão que envolve elevar o debate dos
ção ao afirmar que o republicano detalhes sobre os quais discordam para
pertence a uma rara categoria de um conceito superior sobre o qual todos
seres humanos: é um mestre per- concordam
suasor. Consegue, apesar de todas • Mestre persuasor: alguém com tal
as suas vulnerabilidades e defei- maestria das ferramentas de persuasão
que pode mudar o mundo. Mestres
tos, convencer as pessoas e vender
persuasores são raros
com sucesso a sua visão de mun-
• Tiro linguístico certeiro: é um apelido ou
do. “Poucas pessoas achavam que
conjunto de palavras tão persuasivo que
Donald Trump venceria a eleição pode encerrar um argumento ou criar um
para a presidência em 2016. Parte resultado específico
da razão foi o fato de não compre- • Viés de confirmação: é a tendência
enderem o poder da persuasão. humana de acreditar irracionalmente que
Trump é o melhor persuasor que novas informações apoiam sua visão de
mundo, mesmo quando não o fazem
já encontrei”, escreve, acrescentan-
do que o atual presidente tem uma
“notável pilha de talentos”.

94 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


dores, tornando-os desinteressan- mas que tinham um fundo de ver- para aumentar a segurança nas
tes por comparação”. dade reconhecido pelos eleitores, fronteiras, ele era direto: “Vamos
se popularizaram. E foram minan- construir um grande e belo muro”.
APELIDOS E APELO VISUAL do a reputação de um por um. Era o que precisava para pautar
Um aspecto que impulsionou a Outra habilidade demonstrada o debate, mostrar atitude e gerar
campanha, segundo Scott Adams, foi o uso adequado da persuasão imagens na cabeça das pessoas.
foi a estratégia de colocar apelidos visual. Trump repetia, sempre que
em seus adversários. Eles eram podia, que construiria um muro LIÇÕES QUE FICAM
usados nos comícios e debates, entre os Estados Unidos e o Mé- Nem sempre Donald Trump
destacando defeitos de quem es- xico. Ele não dava detalhes, e isso se saiu bem, cometendo alguns
tava em seu caminho. Hillary foi era suficiente para cada um ima- deslizes que colocaram em risco
chamada de “a torta”; Jeb Bush, de ginar como seria na vida real. En- sua caminhada. Ele demorou, por
“desanimado”; e Ted Cruz, de “o quanto outros candidatos falavam exemplo, para repudiar a Ku Klux
mentiroso”. As alcunhas maldosas, que empregariam diversos meios Klan. Em alguns casos, foi lon-
ge demais ao adotar uma postura
grosseira contra a imprensa e seus
PARA QUEM GOSTA DE POLÍTICA, concorrentes. Também pegou mal
A OBRA TRAZ INSIGHTS QUE SE sua imitação ridicularizando Ser-
ge Kovaleski, jornalista que tem
APLICAM ÀS ELEIÇÕES BRASILEIRAS deficiência. O vazamento de um
áudio dele dizendo que “quando
você é uma estrela, você pode fazer
qualquer coisa com as mulheres”, e
outras falas piores, foi desastroso.
Mas nada disso foi suficiente para
que perdesse a eleição para Hillary
Clinton – que, assim como ele, era
uma figura controversa e registrou
grandes erros durante a campanha.
Ganhar de lavada pode ser lido
como um guia, até mesmo por
pessoas que não atuam nem se in-
teressam por política. Em alguns
momentos, o autor é demasiada-
mente autorreferente e se torna
prepotente, como se tivesse aces-
so a uma sabedoria superior e ina-
cessível aos demais mortais. Po-
rém, as dicas de persuasão [confira
algumas no quadro da página 93],
que permeiam o livro, oferecem
ensinamentos valiosos para o dia
a dia, de forma acessível e práti-
ca. Para quem gosta de política, a
obra traz insights que se aplicam
às eleições brasileiras. Enfim, o
público tem à sua disposição um
estudo que propõe respostas para
um evento que, até hoje, muita
gente não entendeu. V

95
CULTURA
SÉTIMA E LAZER
ARTE | ENTRE
| MARCO PÁGINAS
ANTÔNIO CAMPOS

GAGE SKIDMORE/FLICKR
ELEIÇÕES NAS
TELAS DE CINEMA
O cinema já abordou as eleições em filmes que MARCO ANTÔNIO CAMPOS
ADVOGADO E SÓCIO DA CAMPOS
se tornaram clássicos e, também, em produções ESCRITÓRIOS ASSOCIADOS
campos@terra.com.br
mais ou menos permanentes. O certo é que os
pleitos eleitorais provocam emoções nas telas dos
cinemas quase tão reais como na vida.

MERA COINCIDÊNCIA (1997)


Direção: Barry Levinson
Com: Dustin Hoffman, Robert de Niro e Anne Heche

Traz um presidente americano premido por um


escândalo sexual às vésperas da eleição. Ele resolve
inventar uma falsa guerra com a Albânia, através de
um produtor de Hollywood, para criar um fato que
una a população em torno dele. Era um antepassado
das modernas fake news. Essa comédia maravilhosa –
que reúne Robert de Niro e Dustin Hoffman – mostra
o poder da mídia e a falta de limite dos políticos e
governantes.

96 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


IMAGENS: REPRODUÇÃO

MILK, A VOZ DA IGUALDADE (2008)


Direção: Gus van Sant
Com: Sean Penn, Emile Hirsch e Josh Brolin

Conta a história real de Harvey Milk. Ativista dos direitos


dos homossexuais, fez história nos Estados Unidos ao
ser o primeiro deputado abertamente gay eleito. Anos
depois, ele foi assassinado por um colega. É um filme
excelente, com um trabalho antológico e premiado de
Sean Penn.

O CANDIDATO (1972)
Direção: Michael Ritchie
Com: Robert Redford, Peter Boyle e Melvyn Douglas

Espetacular drama sobre um jovem agricultor da


Califórnia que resolve enfrentar, quase sem chances, o
senador há anos eleito em seu distrito. Robert Redford
e Peter Boyle estão impecáveis como o candidato e seu
mentor nesse filme político de primeira grandeza sobre
os meandros de uma campanha.

NO (2012)
Direção: Pablo Larrain
Com: Gael García Bernal, Alfredo Castro e Antonia Zegers

Filme chileno sobre a Campanha do Não no plebiscito


convocada pelos militares sobre o apoio da população
ao governo do Chile em 1988. Gabriel Garcia Bernal faz
o publicitário que comanda – com ideias geniais e sob
forte perseguição – o “não”. Emocionante.

97
MEU QUERIDO PRESIDENTE (1995)
Direção: Rob Reiner
Com: Michael Douglas, Annette Bening e Martin Sheen

Um presidente americano viúvo vai enfrentar a


campanha para a reeleição sob forte oposição de seus
inimigos políticos. E com a dificuldade adicional de
ter se apaixonado por uma ativista ambiental que faz
forte resistência às políticas de seu governo. O charme
de Michael Douglas e Anette Benning e a beleza das
imagens na Casa Branca valem o filme.

TUDO PELO PODER (2011)


Direção: George Clooney
Com: Ryan Gosling, George Clooney e Philip Seymour Hoffman

O idealista assessor de um governador candidato à


Presidência dos Estados Unidos se depara com os
conchavos mais escabrosos, feitos na calada da noite,
para assegurar a possibilidade de eleição de seu chefe.
Ele tem de optar entre seus princípios ou a vitória. Filme
com um elenco excepcional, no qual se salientam Ryan
Gosling, George Clooney, Paul Giamatti, Phillip Seymour
Hoffman e Evan Rachel Wood.

NIXON (1995)
Direção: Oliver Stone
Com: Anthony Hopkins, Joan Allen e Ed Harris

Anthony Hopkins dá vida a Richard Nixon, talvez o


presidente mais controvertido dos EUA, ainda mais na
visão do sempre polêmico cineasta. O filme tem uma
câmera nervosa e o roteiro cheio de provocações. No
elenco, os ótimos Joan Allen, Bob Hoskins, Ed Harris e
James Woods.

98 VOTO - política, cultura e negócios - Edição 140 | setembro e outubro - 2018


www.jornaldocomercio.com

NO MUNDO
DAS REDES SOCIAIS,
A VERDADE ANDA
UM POUCO RAREFEITA.
MAS, HÁ 85 ANOS, A VERDADE DOS FATOS
É ESSENCIAL PARA QUE
VOCÊ SIGA CONFIANDO NO JC.

Em que mundo você vive?


Vivemos no mundo do jornalismo ético e de credibilidade,
abordando com profundidade todos os pontos de vista do mundo
dos negócios, da política, da cultura, do empreendedorismo,
da tecnologia e de tantos outros segmentos, porque vivemos
no mundo dos valores. Não importa a plataforma,
não importa o canal, nosso objetivo segue sendo a informação
relevante com ética, imparcialidade, clareza e confiabilidade.
Esse é o nosso mundo, esses são os nossos valores.

UM MUNDO
PARA CADA UM,
NA PLATAFORMA
DA SUA ESCOLHA.
VOCÊ JÁ
COMPARTILHOU
NOTíCIA
FALSA? Você sabe de onde vêm as notícias que
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