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A dieta moderna mata mais do

que o cigarro, alerta estudo


A má alimentação aumenta o risco de obesidade, doenças
cardiovasculares, diabetes tipo 2 e câncer - problemas que somam 11
milhões de mortes por ano
Por Redação
access_time5 abr 2019, 18h32 - Publicado em 5 abr 2019, 17h46

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O estudo alerta que dietas que incluem bebidas açucaradas, gordura trans e carnes processadas
aumentam o risco de morte por diversas causas. (Thinkstock/VEJA)

A alimentação diária seguida por grande parte da população mundial é


responsável por mais mortes do que o cigarro, alerta estudo publicado na quinta-
feira no periódico científico The Lancet. O relatório indica que uma em cada
cinco mortes ocorridas em 2017 estava associada ao consumo excessivo de sal,
açúcar ou carne, ou por carência de cereais integrais e frutas. Os pesquisadores
ainda destacaram que a má alimentação aumenta o risco de obesidade, doenças
cardiovasculares, diabetes tipo 2 e câncer – problemas que juntos somaram 11
milhões de mortes em 2017.
A pesquisa está alinhada com outros dois estudos publicados em janeiro que
ressaltaram o vínculo entre alimentação, meio ambiente e mudança climática.
“Estes três fenômenos interagem: o sistema alimentar não é apenas responsável
pelas pandemias de obesidade e desnutrição, como também gera entre 25% e
30% das emissões de gases do efeito estufa”, escreveram os cientistas. Mas, ao
contrário do estudo sobre a dieta da saúde planetária que insistia na redução
drástica no consumo de carne e ovos, por exemplo, o novo relatório está longe da
privação, indicando apenas a adição de alimentos mais saudáveis à dieta.
Para chegar a esses resultados, a pesquisa analisou quase vinte anos de dados
dietéticos de 195 países, além de estudos epidemiológicos sobre riscos e
benefícios para a saúde relacionados à nutrição, rastreando também morte
prematura e deficiências provocadas por mais de 350 doenças.
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Demais

Apesar de não estar voltada para a redução de alimentos, o estudo alerta para o
fato de que dietas que incluem bebidas açucaradas, gordura trans e carnes
processadas aumentam o risco de morte por diversas causas. Esse dado é
preocupante já que a investigação descobriu que, em geral, nenhum continente
mantêm uma dieta equilibrada e, portanto, há consumo excessivo de alimentos
nocivos à saúde.
“A dieta é uma assassina cega. As pessoas – independentemente da idade, sexo,
nacionalidade e status socioeconômico – são afetadas, até certo ponto, pelos
hábitos alimentares inadequados. Essa falta de equilíbrio entre saudável e não
saudável é a principal causa de mortalidade no mundo”, ressaltou Ashkan Afshin,
coautor do trabalho, à revista Time.
O relatório ainda mencionou que a alta ingestão de sódio foi a maior causa de
morte associada a dieta em nível global, com 3 milhões de óbitos em 2017. O sal
está associado à hipertensão, doença que aumenta o risco de ataques cardíacos e
AVC, além de ter impacto direto no coração e vasos sanguíneos, podendo
causar insuficiência cardíaca. Apesar disso, os pesquisadores insistem que o
principal problema dos resultados é a baixa ingestão de alimentos saudáveis,
como frutas e legumes.
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De menos

De acordo com a equipe, a melhor maneira de evitar os riscos de saúde


relacionados à dieta é adicionar mais grãos integrais – como aveia, granola e
quinoa – e nozes. Também é importante aumentar as porções de frutas, legumes,
sementes e gorduras insaturadas, como ômega 3 e 6. O estudo verificou que esses
são os ingredientes que mais faltaram na alimentação: globalmente, as pessoas
comem apenas 12% do total recomendado de nozes e 23% de grãos integrais.
Esses alimentos estão associados a taxas mais baixas de condições
crônicas, incluindo câncer, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, além de
fornecer muitas vitaminas e minerais.
“Historicamente, frutas e legumes têm sido o centro das atenções. Eles são
importantes, mas há maiores lacunas no consumo de nozes, sementes e grãos
integrais”, comentou Afshin. Isso não significa que as pessoas devam comer
apenas mais de um ou mais de outro. A dieta precisa ser equilibrada, de modo a
proporcionar as quantidades necessárias para uma alimentação saudável. Essas
pequenas mudanças podem evitar cerca de 6 milhões de mortes por ano.
No Brasil

Os pesquisadores revelaram também que em países como Estados Unidos, Brasil


e Alemanha, a falta de grãos integrais foi o maior fator de risco. Mas não é a falta
de consumo que cria este cenário, é a escolha por grãos processados com pouco
valor nutricional e altas contagens calóricas.
Além disso, em 2011, levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) revelou que os hábitos alimentares de 90% dos
brasileiros, quando o assunto é o consumo de frutas, verduras e legumes, estão
fora do padrão recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Já o
estudo Análise de Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, da Pesquisa de
Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, mostrou que a dieta brasileira é
composta principalmente de arroz e feijão associados a alimentos calóricos e de
baixo teor nutritivo.
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Consumido versus recomendado


O relatório ainda divulgou a quantidade recomendada das principais categorias
alimentares e o quanto eram consumidas na realidade. Começando por nozes e
sementes, o consumo diário é de 3 gramas quando a recomendação é 25 gramas.
A mesma disparidade foi encontrada nos grãos integrais: 126 gramas
(recomendados) contra 29 gramas (consumidos).
Outro alimento pouco consumido é o leite: 71 gramas ingeridas diariamente,
contra 443 gramas diárias recomendadas. Enquanto isso, a carne processada é
consumida quase em dobro: 4 gramas quando o ideal é apenas 2,1 gramas. A
carne vermelha não fica atrás: consomem-se 29 gramas, 7 gramas a mais que o
sugerido (22 gramas). Por último, o grande ‘matador’: o sal. O consumo diário é
de 6 gramas, mas as diretrizes dizem que não deveria ultrapassar 3,2 gramas.

“A qualidade da dieta é importante, não importa seu peso. O mais importante é


que as pessoas aumentem sua ingestão de grãos integrais, frutas, nozes, sementes,
legumes e verduras. E reduzam o sal, se puderem”, recomendou Christopher
Murray, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, à BBC. Portanto,
para evitar os perigos à saúde, vale a pena investir em uma dieta equilibrada, que
não necessariamente precisa ser restritiva.
(Com AFP)

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