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Mecânica dos Fluidos – Prof.

Bruno Valente
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REVISÃO MECÂNICA DOS FLUIDOS

Prof. Bruno Valente

CAPÍTULO 1
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS

O estudo da disciplina Mecânica dos Fluidos exige que se faça incialmente uma
revisão dos conceitos fundamentais que terão uma importância marcante no
processo de assimilação do conteúdo.

1.1 Definição de fluido

Para definir o que é um fluido deve-se pensar nos três estados físicos da matéria:
sólido, líquido e gasoso. Outro conceito que precisa estar claro é o da Tensão de
cisalhamento.

Quando uma força é aplicada tangencialmente em um certo corpo é produzida uma


tensão de cisalhamento (𝜏), resultando em diferentes consequências de acordo com
o estado físico em que ele se encontra. A Figura 1 mostra como se dá origem a
tensão de cisalhamento em um corpo genérico:

Figura 1– Diagrama de forças num corpo de área “A.

Se for aplicada uma tensão de cisalhamento em um sólido, veremos que o sólido


assume uma deformação definida, podendo as forças contidas nesse corpo estarem
em equilíbrio entre si.

Portanto, ao aplicarmos uma força e tentarmos retornar ao estado inicial, como


consequência o sólido pode ou não retornar a este estado. Pode-se encontrar um
estresse que alivia o sólido formado e com isso o sólido não pode recuperar sua
forma original ou somente retornar em parte da sua forma original. A Figura 2 ilustra
como a tensão de cisalhamento afeta um determinado corpo:
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Figura 2– Comportamento de um corpo quando submetido a uma Força Tangencial ou Tensão


de Cisalhamento.

Analogamente, considerando no caso de um líquido ou um gás, após a aplicação de


uma força tangencial percebe-se que eles se comportam de maneira muito distinta
em relação ao sólido.

Neste caso é causada uma deformação contínua de modo que quando estiver em
repouso este fluido não retorna ao estado inicial. A Figura 3 abaixo ilustra como um
fluido se comporta quando submetido a uma tensão de cisalhamento:

Figura 3– Comportamento de um fluido quando submetido a uma Força Tangencial ou Tensão


de Cisalhamento.

Portanto, a partir da comparação entre as duas situações podemos chegar à


conclusão que a diferença entre sólido e líquido/gás é que o sólido pode resistir a
tensão de cisalhamento com uma deformação finita podendo recuperar sua forma
original ou parte dela.

Já com o fluido isso não ocorre, significando que ele resiste a forças apenas na
condição dinâmica e por não resistir a força tangencial terá como consequência um
movimento contínuo.

Outra característica importante é que se você aliviar a força aplicada, o fluido não
pode voltar a sua forma original, exceto em casos especiais como a classe de fluido
conhecida como fluido elástico ou parcialmente elástico que não será estudado aqui

De maneira sintética na literatura, Brunetti (2008) pontuou que: “Fluido é uma


substância que se deforma continuamente, quando submetida a uma força tangencial
constante ou, em outras palavras, fluido é uma substância que, submetida a uma
força tangencial constante, não atinge uma nova configuração de equilíbrio estático”.
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Este conceito é uma abordagem simplificada que visa a obtenção de algumas


propriedades físicas encontradas em substâncias que apresentam características em
comum.

Para uma maior compreensão deve-se tomar por base uma substância que ocupe
um determinado volume do recipiente no qual ela se encontra. No caso dos sólidos,
quando em um recipiente eles não assumem, na grande maioria dos casos, a forma
do recipiente. Isso quer dizer no caso dos líquidos eles assumirão um volume definido
e quanto aos gases eles ocuparão todo o volume disponível.

Isso nos permite como simplificação prática categorizar estes dois estados da
matéria apenas como fluido, pois apresentam esta característica. Isso nos permite
diferenciá-los dos sólidos e assim facilitando o estudo desta disciplina focando
apenas nos fluidos.

Portanto, a partir de agora podemos considerar um fluido como qualquer substância


que esteja no estado líquido ou gasoso. Vale ressaltar que estes dois estados serão
o foco de estudo dos fenômenos encontrados em Mecânica dos Fluidos.

Observação: Entende-se como Tensão de Cisalhamento ou Força de corte como a uma força
𝐹𝑡
tangencial aplicada por uma determinada área. É representado pela expressão: 𝜏 = , sendo
𝐴
𝑁
dada no Sistema Internacional de Unidades (S.I.) em
𝑚2

1.2 Propriedade dos fluidos

Aqui serão abordadas as seguintes propriedades: massa específica, peso específico,


peso específico relativo, viscosidade, compressibilidade e tensão superficial.

1.2.1 Massa específica

A massa específica é uma das propriedades físicas mais importantes na mecânica


dos fluidos e que possui aplicabilidade em diversas áreas da engenharia.

Define-se massa específica de um determinado fluido como a massa por uma


unidade de volume analisada, representada pela letra do alfabeto grego ( 𝜌). Essa
massa é a total por volume de um corpo homogêneo.

Neste caso, referindo-se aos fluidos teremos uma diferença considerável em relação
aos líquidos e gases. Nos líquidos temos uma variação pequena da massa específica
sendo considerada constante na maioria dos casos enquanto nos gases temos uma
variação considerável de acordo com a pressão em que ele se encontra.
𝑚
Portanto, a massa específica é representada por: 𝜌 = 𝑉 . A unidade dessa
𝑘𝑔
propriedade é dada em: 𝜌 = .
𝑚³
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Observação :Não confundir massa específica com densidade, apesar de ser expressa na mesma
unidade a densidade se difere por relacionar a massa média pelo volume de um corpo
heterogêneo. A densidade é mais utilizada em estudos de hidrodinâmica.

1.2.2 Peso específico

Analogamente a massa específica, o peso específico (𝛾) é a razão entre o peso


(massa x aceleração da gravidade) por volume. Esta propriedade está relacionada
diretamente com a massa específica de um fluido (𝜌).

Na representação da fórmula, e suas etapas de simplificação lembrando que massa


𝑚 𝑚·𝑔
específica é: 𝜌 = 𝑉 , logo o peso específico será dado por: 𝛾 = 𝑉 = 𝜌 · 𝑔.

𝑘𝑔∙𝑚/𝑠 2 𝑁
A unidade dessa propriedade é expressa por: 𝛾 = =
𝑚³ 𝑚³

1.2.2.1 Peso específico relativo para líquidos

É definido como a relação entre o peso específico do líquido em questão com o peso
específico da água, considerado em condições padrão (𝛾𝐻2𝑂 = 10.000 𝑁/𝑚 3 ).

1.2.3 Viscosidade

Esta propriedade requer uma atenção especial no estudo desta disciplina, pois terá
grande importância no cálculo da maioria de casos que representam os escoamentos
apresentados aqui.

A viscosidade é definida como a aderência interna do fluido, ou seja, a resistência a


tensão de cisalhamento contida no fluido e que assim determina a capacidade de
escoamento. Exemplo: a água possui viscosidade baixa e o óleo vegetal possui
viscosidade um pouco maior, isso já mostra que teremos uma maior dificuldade para
escoar o óleo numa tubulação comparado com a água devido à resistência interna
do fluido ao movimento.

A viscosidade está diretamente ligada com a maneira que o fluido se deforma. Esta
deformação, que é feita a partir de uma certa tensão de cisalhamento mostra o
comportamento do fluido e caracteriza de que maneira ele escoará. Por exemplo: um
fluido altamente viscoso por ter resistência maior a deformação, apresenta uma taxa
menor de deformação o que dificulta o escoamento comparado a fluido pouco
viscoso.

Com o conhecimento desta propriedade teremos uma maior capacidade de prever


cenários de como transportar um determinado fluido quando submetidos a diversas
condições de pressão e temperatura.

A lei de Newton da viscosidade define que para uma dada velocidade de deformação
angular, em que é ocasionada por uma tensão de cisalhamento será proporcional a
viscosidade do fluido. Por variar de acordo com a velocidade, a viscosidade (𝜇) é
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proporcional a deformação causada pela tensão de cisalhamento representada na


𝑑𝑉
seguinte equação: 𝜏 = 𝜇 𝑑𝑥

Em que:

𝜏 = Tensão de cisalhamento (N/m²)

𝜇 = Viscosidade do fluido

𝑑𝑉 = Variação da velocidade (m/s)

𝑑𝑥 = Variação da distância (m)


𝑁.𝑠
Portanto, a viscosidade será dada por: 𝜇 = 𝑜𝑢 𝑃𝑎 ⋅ 𝑠
𝑚²

Neste caso em que a variação da viscosidade é diretamente proporcional a


deformação submetida, o fluido é chamado de Newtoniano. Alguns exemplos de
fluidos Newtonianos são: água, óleo vegetal, leite e soluções de sacarose.

Agora no caso em que a viscosidade não é proporcional a tensão aplicada, o fluido


é chamado de não-Newtoniano. Exemplos: creme dental, ketchup, asfalto, entre
outros.

CAPÍTULO 5
1 EQUAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO PARA REGIME PERMANENTE

Este capítulo exige a prévia compreensão de alguns conceitos abordados na


disciplina fenômenos de transporte, dentre os conceitos se destacam: as equações
da continuidade e da energia as quais capacitam realizar os balanços de massa e
energia de um determinado escoamento.

Os escoamentos podem ser classificados como regime permanente ou estacionário,


quando, apesar de o fluido estar em movimento, o valor das suas propriedades não
varia com o tempo. O outro tipo de escoamento é o regime transiente, em que cada
ponto do escoamento possuirá valores diferentes, muito utilizado para projetos
avançados e simulações de processos mais complexos e que não será abordado
aqui.

Segundo Brunetti (2008), o regime permanente é aquele em que as propriedades do


fluido são invariáveis com o passar do tempo, ou seja, as propriedades do fluido
podem variar de ponto a ponto, desde que não haja variações com o tempo. Em
outras palavras, apesar de um certo fluido estar em movimento a configuração de
suas propriedades em qualquer instante permanece a mesma.

A quantidade de movimento é regida pela 2° Lei de Newton e explica diversos


fenômenos dentro da temática da mecânica dos fluidos, por isso é importante que
tenhamos este conceito de maneira clara.
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A segunda Lei de Newton é expressa pelo comportamento de uma força resultante,


a partir da aceleração de uma partícula. Em mecânica dos fluidos este conceito é
adaptado para expressar o escoamento em dutos e condutos, tornando-se uma base
importante para entender os outros tópicos seguintes.

Agora, entrando em detalhes dos tipos de forças contidas nos pontos (1) e (2) da
Figura 4, as componentes são separadas da seguinte forma:

• Força da gravidade (𝐺⃗ ): Ocasionada pelo campo gravitacional, força peso;

• Forças de pressão (𝑝 ∙ 𝐴 ∙ 𝑛⃗): Forças aplicadas a montante e a jusante do


escoamento, produzindo uma componente normal que por convenção e
facilidade de compreensão, considera-se sempre no sentido de fora do
tubo;

• Força tangencial (𝜏⃗): Forças que causam a tensão de cisalhamento no


escoamento na superfície lateral devido a ação do movimento;

• Força resultante (𝐹⃗ ): Componente resultante das forças de pressão e


cisalhamento na superfície correspondente a parte lateral do escoamento.

Vale lembrar que esta força resultante se divide em duas, devido ao princípio da ação
e reação:

o Força resultante (𝐹⃗𝑠 ): causada pelo sólido no fluido;

o Força resultante (𝐹⃗𝑠1 ): causada pelo fluido no sólido.

Figura 4 – Distribuição de forças e suas resultantes conforme a equação da continuidade


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Uma vez apresentadas as forças atuantes no escoamento em questão, e sabendo


que a força atuante no fluido entre a entrada e a saída é dada pela soma das
componentes apresentada na Figura 6, a equação será descrita como:

𝐹⃗ = 𝐹⃗𝑠 + (−𝑝1 ∙ 𝐴1 ∙ 𝑛⃗1 ) + (−𝑝2 ∙ 𝐴2 ∙ 𝑛⃗2 ) + 𝐺⃗

Porém, sabendo que: 𝐹⃗ = 𝑄𝑚 ∙ (𝑣⃗2 − 𝑣⃗1 ), substituindo na equação acima e


rearranjando os termos deixando em evidência o termo da força resultante na
superfície sólida do fluido, tem-se:

𝐹⃗𝑠 = (𝑝1 ∙ 𝐴1 ∙ 𝑛⃗1 ) + (𝑝2 ∙ 𝐴2 ∙ 𝑛⃗2 ) + 𝑄𝑚 ∙ (𝑣⃗2 − 𝑣⃗1 ) − 𝐺⃗

Neste momento, o que nos interessa é a força causada pelo fluido na superfície
sólida, ou seja, 𝐹⃗𝑠1 = −𝐹⃗𝑠 pelo princípio da ação e reação. Substituindo esta
igualdade na equação acima, teremos que:

𝐹⃗𝑠 = −[(𝑝1 ∙ 𝐴1 ∙ 𝑛⃗1 ) + (𝑝2 ∙ 𝐴2 ∙ 𝑛⃗2 ) + 𝑄𝑚 ∙ (𝑣⃗2 − 𝑣⃗1 )] + 𝐺⃗

Para efeitos de simplificação e resolução de exercícios, considera-se que 𝐺⃗ = 0,


devido a muitas vezes a força peso ser desprezível.

1.1 Aplicações da equação

A equação da quantidade de movimento em regime permanente possui diversas


aplicações em situação comuns de problemas que envolvem escoamentos em
tubulações. Aqui serão dados três exemplos de aplicações mais comuns.

1.1.1 Condutos com redução de seção

A suposição inicial neste caso e os outros são: fluido incompressível e regime


permanente conforme foi descrito no início do tema. Antes de iniciar a análise da
Figura 5 abaixo, deve-se ter claramente que as forças intermediárias nesta seção
não serão consideradas.

As coordenadas adotas são apenas nas direções de x e y, correspondentes a


componentes horizontal e vertical, respectivamente. Vale ressaltar que a
necessidade de se obter a força resultante é de se dimensionar um sistema capaz
de suportá-la como sustentação.
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Figura 5 – Conduto com redução de seção e a distribuição das suas componentes

De acordo com as suposições realizadas anteriormente para a aplicação de forças


em um duto conforme a equação do movimento para regime permanente, teremos
que:

𝐹⃗𝑠 = −[(𝑝1 ∙ 𝐴1 ∙ 𝑛⃗1 ) + (𝑝2 ∙ 𝐴2 ∙ 𝑛⃗2 ) + 𝑄𝑚 ∙ (𝑣⃗2 − 𝑣⃗1 )]

Projetando no sentido do eixo y (verticalmente), podemos notar que não há a


componente força peso (𝐺⃗ ) e que nos pontos (1) e (2) a componente também será
igual a zero. Por isso, a componente deverá ser projetada na direção de x
(horizontal):

𝐹𝑠𝑥 = −[𝑝1 ∙ 𝐴1 ∙ (−1) + 𝑝2 ∙ 𝐴2 ∙ (+1) + 𝑄𝑚 ∙ (𝑣2 − 𝑣1 )]

Aqui nesta situação, como a normal no ponto (1) está oposta ao movimento ela
tem o sinal negativo, assim como no ponto (2) que está no mesmo sentido do
movimento com o sinal positivo. Sendo assim, com a mudança de sinal a equação
final para este tipo de aplicação será:

𝐹𝑠𝑥 = 𝑝1 ∙ 𝐴1 − 𝑝2 ∙ 𝐴2 + (𝑣1 − 𝑣2 ) ∙ 𝜌 ∙ 𝑄

Lembrando que: 𝑄𝑚 = 𝜌 ∙ 𝑄 , descreve a representação da vazão mássica.

1.1.2 Condutos com redução de seção e mudança de direção

As mesmas considerações do item anterior são adotas, no entanto, quando há


mudança de direção teremos a consideração agora das componentes vertical e
horizontal. Apenas é necessário ter cuidado com qual eixo cada ponto terá a projeção
para o cálculo da sua componente.

De acordo com a Figura 69, a seção (1) possui apenas a componente no eixo x
(horizontal), pois a componente vertical é nula. Já na seção (2) teremos as duas
componentes a serem consideradas.
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Figura 6 – Conduto com redução de seção e mudança de direção com a distribuição das suas
componentes

Novamente utilizando a equação básica utilizada no exemplo anterior, teremos que:

𝐹⃗𝑠 = −[(𝑝1 ∙ 𝐴1 ∙ 𝑛⃗1 ) + (𝑝2 ∙ 𝐴2 ∙ 𝑛⃗2 ) + 𝑄𝑚 ∙ (𝑣⃗2 − 𝑣⃗1 )]

Projetando no eixo x, teremos a seguinte distribuição de forças:

𝐹𝑠𝑥 = −[𝑝1 ∙ 𝐴1 ∙ (−1) + 𝑝2 ∙ 𝐴2 ∙ 𝑐𝑜𝑠𝜃 ∙ (+1) + 𝑄𝑚 ∙ (𝑣2 − 𝑣1 )]

Rearranjando os termos e aplicando a regra dos sinais, teremos que:


𝐹𝑠𝑥 = 𝑝1 ∙ 𝐴1 − 𝑝2 ∙ 𝐴2 ∙ 𝑐𝑜𝑠𝜃 + 𝑄𝑚 ∙ (𝑣1 − 𝑣2 ∙ 𝑐𝑜𝑠𝜃)
Aplicando a equação básica projetando no eixo y, teremos que as componentes do
ponto (1) serão nulas:
𝐹𝑠𝑦 = −[0 + 𝑝2 ∙ 𝐴2 ∙ 𝑠𝑒𝑛 𝜃 ∙ (+1) + 𝑄𝑚 ∙ (𝑣2 ∙ 𝑠𝑒𝑛 𝜃 − 0)]
Rearranjando os termos e aplicando a regra dos sinais, teremos que:
𝐹𝑠𝑦 = −𝑝2 ∙ 𝐴2 ∙ 𝑠𝑒𝑛 𝜃 − 𝜌 ∙ 𝑄 ∙ 𝑣2 ∙ 𝑠𝑒𝑛 𝜃
Para obter a força resultante que o fluido exerce no conduto (a total), você deve a
partir das resultantes no eixo x e y calculadas por projeção utilizar a seguinte relação:

𝐹𝑠 = √𝐹𝑠𝑥2 + 𝐹𝑠𝑦2

1.1.3 Condutos com jato incidente numa placa plana

Neste caso teremos um aumento da velocidade provocada pela diminuição brusca


da seção e após atingir essa velocidade ela atinge um atalho chamado de anteparo.
Ao atingir esta estrutura, o escoamento muda bruscamente sua direção o que
ocasiona numa nova configuração deste escoamento.
Como consequência, ao observar a Figura 7 abaixo nota-se que o escoamento no
ponto (2) se mostra uniforme só que no sentido apenas vertical, ou seja, no eixo y. A
consequência deste fato é que apenas teremos no eixo x a componente da
velocidade no ponto (1) o que simplifica a aplicação da equação da quantidade de
movimento.
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Figura 7 – Conduto do jato incidente numa placa plana com a distribuição das suas componentes

Retomando o desenvolvimento da equação, observa-se que a pressão no ponto (2)


é atmosférica o que anula o componente da força de pressão no ponto (2). Assim,
teremos apenas como componente as forças projetadas no ponto (1) apenas no
sentido do eixo x:

𝐹𝑠𝑥 = 𝜌 ∙ 𝑄 ∙ 𝑣1

CAPÍTULO 6

1 ANÁLISE DIMENSIONAL

Alguns fenômenos relacionados a tipos de escoamento podem se apresentar


bastante complexos, pois não permitem uma solução analítica nem a partir de
fórmulas matemáticas. Para solucionar este inconveniente, experimentos são
realizados para que obtenha expressões com variáveis possíveis de se explicar a
realidade por meio de modelos matemáticos.

No entanto, o número excessivo de experimentos pode tornar os custos muito altos


além de exigir bastante tempo para solucioná-los. Vale lembrar que nem sempre é
possível conseguir reunir corretamente variáveis capazes de explicar um
determinado fenômeno de escoamento devido ao grande número de variáveis
disponíveis.

Uma das maneiras de se enfrentar este inconveniente é a utilização da análise


dimensional, pois fornece uma metodologia matemática embasada em grandezas
físicas fundamentais. Neste tópico abordaremos as bases regem a análise
dimensional, seus principais fundamentos e a apresentação do “Método Pi”, bastante
importante dentro desta temática que é de grande utilidade.

Quando se deseja obter uma explicação sistemática de um determinado fenômeno


podemos ter três caminhos possíveis: numérico, analítico e experimental que são
escolhidos de acordo com a complexidade do objeto de estudo.
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A realização de experimentos é uma maneira bastante útil, pois fornece variáveis


possíveis de mensurar, só que ao mesmo tempo em que temos muitas variáveis
disponíveis se faz necessário que se selecione de maneira criteriosa as quais
realmente influenciam o estudo.

Dentro desta situação, a fim de eliminar este inconveniente, a análise dimensional se


insere como uma ferramenta bastante importante para o estudo de diversos
fenômenos dentro da temática na mecânica dos fluidos.

Para se iniciar os procedimentos da análise dimensional, deve-se ter em mente a


noção do que são as grandezas que dão origem a todas as outras que são as
chamadas grandezas fundamentais. Elas têm o papel de facilitar o ponto de partida
da análise e são simples de compreender como: massa, comprimento e tempo, no
caso das grandezas mecânicas. Estas grandezas são expressas por: [M], [L] e [T],
respectivamente.

Por exemplo: a velocidade é a composição entre duas grandezas fundamentais que


são a distância e o tempo, ou seja, se você dividir o tempo pela distância será obtida
a velocidade. Esse conceito pode ser extrapolado para todas as outras grandezas
nos fenômenos que descrevem os escoamentos.

1.1 Números adimensionais

Com grande utilidade em diversas aplicações na engenharia os números


adimensionais são considerados como fundamentais para descrever diversos
fenômenos importantes em muitas áreas do conhecimento.

O conceito de número adimensional de acordo com Brunetti (2008): “É considerado


adimensional um número quando ele independe de todas as grandezas
fundamentais, isto é, sua equação dimensional apresenta o expoente zero em todas
grandezas fundamentais: (𝑀0 ∙ 𝐿0 ∙ 𝑇 0 )”.

Um exemplo clássico em mecânica dos fluidos é o número de Reynolds, bastante


disseminado na bibliografia e de extrema importância para descrever escoamentos
viscosos. Conforme já apresentado no curso básico, o número de Reynolds é dado
por:

𝑣∙𝐷∙𝜌
𝑅𝑒 =
𝜇

1.2 Teorema do Pi

O chamado teorema Pi é um dos vários métodos disponíveis que trazem bases da


física para reduzir um conjunto de variáveis dimensionais a um conjunto menor de
grupos adimensionais. O início da utilização foi proposto por Buckingham no início
do século XX, sendo conhecido hoje como “Teorema Pi de Buckingham”.
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Os grupos adimensionais, determinados por meio do teorema, são produtos de


potências representados por: 𝜋1 , 𝜋2 , 𝜋3 e etc. O método aplicado permite que os
grupos pi sejam determinados em ordem sequencial com expoentes.

A primeira parte do teorema de pi afirma, de acordo com White (2011): “Se um


processo físico satisfaz o Princípio da Homogeneidade Dimensional e envolve 𝑛
variáveis dimensionais, ele pode ser reduzido a uma relação entre apenas 𝑘 variáveis
adimensionais ou 𝜋´𝑠”.

A redução 𝑗, representada pela subtração 𝑗 = (𝑛 − 𝑘): sendo 𝑛 = número variáveis


dimensionais e 𝑘 = número de adimensionais. Esta redução representa ao número
máximo de variáveis que não formam um pi entre elas e deve ser sempre menor ou
igual ao número de dimensões que descrevem as variáveis.

A utilização do método pi nos traz a possibilidade de reduzir os números de variáveis


quando organizada é capaz de realizar uma análise apurada de fenômenos.
Conforme afirma White (2011), se um fenômeno depende de 𝑛 variáveis
dimensionais, a análise dimensional reduzirá o problema a apenas 𝑘 variáveis
adimensionais, em que a redução (𝑛 − 𝑘) = 1, 2, 3 ou 4, dependendo da
complexidade do problema.

A teoria de pi de pode ser explicada seguindo alguns passos de maneira lógica e


sequencial como uma receita. Se inicia pensando num fenômeno físico que possui n
variáveis: 𝑧1 , 𝑧2 , 𝑧3 , … ., atreladas a uma determinada função: 𝑓(𝑧1 , 𝑧2 , 𝑧3 , … ) que seja
igual a zero.

A intenção será demonstrar que esta função pode gerar outra que é equivalente de
maneira a descrever precisamente um determinado fenômeno representada por:
Χ(𝜋1 , 𝜋2 , 𝜋3 , … ) = 0, em que as seguintes variáveis são representadas por:

• 𝜋 → Variáveis adimensionais independentes: são montadas para se


adequar ao número de “n” variáveis ou as grandezas que interferem
diretamente no fenômeno estudado;

• 𝑗 → Quantidade de números adimensionais contidos no fenômeno: é


representada por: 𝑗 = (𝑛 − 𝑘)

• 𝑛 → Número de variáveis presentes no fenômeno;

• 𝑟 → Número de grandezas fundamentais presentes no fenômeno;

A partir da obtenção dessas quantidades iniciais, os adimensionais são obtidos por


meio da seguinte expressão para este caso genérico:
𝛼 𝛼 𝛼
• 1-) 𝜋1 = (𝑧1 1 ∙ 𝑧2 2 ∙ 𝑧3 3 … )
𝛽 𝛽 𝛽
• 2-) 𝜋2 = (𝑧1 1 ∙ 𝑧2 2 ∙ 𝑧3 3 … )
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𝜔 𝜔 𝜔
• m) 𝜋𝑚 = (𝑧1 1 ∙ 𝑧2 2 ∙ 𝑧3 3 … )

As letras que correspondem as bases são: 𝑧1 , 𝑧2 , 𝑧3 ,..., etc., são correspondentes as


grandezas fundamentais, ou seja, dependerá do número de 𝑟.

Como temos apenas 3 grandezas fundamentais consideradas neste estudo (podem


existir outras dependendo da área de estudo) que são: massa [M], comprimento [L]
e tempo [T], ou seja, 𝑟 ≤ 3. Vale ressaltar que as bases serão iguais, porém os
expoentes diferentes devido a variação de cada grandeza envolvida.

A etapa seguinte será escolhida por você, por isso esta decisão poderá interferir no
resultado obtido podendo tornar mais trabalhoso o processo de obtenção dos
adimensionais. Não existe caminho certo, mas sim uma certa familiaridade com o
fenômeno a ser descrito o que pode encurtar bastante os procedimentos.

1.3 Principais adimensionais

A mecânica dos fluidos aborda em todo seu conteúdo algumas grandezas de extrema
importância e a partir delas pode-se deduzir diversos adimensionais. As principais
grandezas já abordadas anteriormente são: viscosidade, massa específica (𝜌),
comprimento (𝐿), velocidade (𝑣), aceleração da gravidade (𝑔), velocidade do som
(𝑐), diferença de pressão ou queda de pressão (Δ𝑃), entre outras.

Munido dessas grandezas aplica-se a regra dos adimensionais tomando como base,
por exemplo, as três principais variáveis: 𝑣, 𝜌, 𝐿. A importância dessas relações entre
estas grandezas dá origem a quatro importantes adimensionais muito utilizados
nesta disciplina e na engenharia em geral.

1-) Número de Euler (E u): indica a relação entre as forças de pressão e as forças de
inércia no escoamento de um fluido. Este número também é chamado de coeficiente
de pressão. Muito utilizado para descrever o estudo de escoamentos em tubos,
máquinas hidráulicas, escoamentos aerodinâmicos com fluidos incompressíveis.

𝛥𝑝
𝐸𝑢 =
𝜌 · 𝑣2

2-) Número de Froude (Fr ): indica a relação entre as forças de inércia e das forças
da gravidade no escoamento de um fluido. Muito utilizado para descrever fluxos em
que efeitos de superfícies livres são significativas como o estudo da formação de
ondas numa superfície de um fluxo, vertedores e orifícios. A representação da
equação segue abaixo:

𝑣2
𝐹𝑟 =
𝐿·𝑔

Em que:
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𝐿 → Comprimento de referência que corresponde a profundidade do fluido no canal.


Em casos de estudos de resistência hidrodinâmica de barcos o comprimento de
referência é substituído pelo comprimento do barco na linha d'água.

3-) Número de Mach (ℳ): indica a relação entre velocidade local do fluido com a
velocidade do som. Muito útil para fins de escoamentos compressíveis, ou seja, onde
existe a variação da massa específica deste fluido.

É bastante utilizado principalmente em estudos aerodinâmicos para classificação de


regimes de escoamentos tanto de maneira qualitativa como quantitativa. Por
exemplo:

ℳ > 1 = Escoamento supersônico

ℳ = 1 = Escoamento sônico

ℳ < 1 = Escoamento subsônico

Vale ressaltar que um estudo mais aprofundado deste adimensional e suas


aplicações serão abordados em outro momento neste curso.

3-) Número de Reynolds (𝑅𝑒): é um adimensional que relaciona forças de inércia (𝑣 ∙


𝜌) por forças de viscosidade (𝜇/𝐷) de um escoamento. É importante ressaltar que a
variável (𝐷) que representa o diâmetro, pode ser utilizada também como qualquer
comprimento que caracteriza o escoamento.

𝜌·𝑣·𝐿 𝑣·𝐿
𝑅𝑒 = =
𝜇 𝜈

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