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INTRODUÇÃO

Buscando tecer algumas reflexões, em linguagem acessível ao público da


educação básica e dos discentes iniciantes em cursos de graduação, sobre como está
sendo abordado o trabalho pedagógico da EMEF Galdino Antônio da Silva –
Carrapateira/PB, quanto à formação cidadã de seus alunos, é fundamental apresentar
ponderações que explique, de forma sucinta, a respeito da política, ética pública e
estética na educação básica.
Pelo enfoque midiático nos tempos atuais e, tentando ter uma visão crítica dos
objetivos que envolvem todo o aparato de noticias sobre os acontecimentos,
principalmente políticos, no país, chegamos a perceber que, não só a sociedade
brasileira, mas todas as demais que foram ou estão enraizadas na cultura capitalista,
distorceram profundamente seus valores humanos, apreciando atitudes que resultam em
injustiça, miséria, poder excessivo, etc. Neste contexto, a política também está sofrendo
de mudanças em sua ética, quanto a sua proposta, sua concretização e sua execução, em
diferentes esferas que buscam oferecer serviços públicos à população. Nestas, estão
enquadradas também a escola pública, a qual deverá ser instrumento de ponderação
entre o sujeito e sua postura ética junto à sociedade, como é exigido pelo Parecer da
CEB nº 4/98 e a Resolução nº 2 de 1998, as quais propõem sete diretrizes como
referência para a organização do currículo escolar. Segundo esses documentos, “(...) as
escolas deverão fundamentar suas ações pedagógicas em princípios éticos, políticos e
estéticos.”.
Neste contexto, o presente trabalho se embasará em uma entrevista junto à
supervisora pedagógica da referida escola, que buscará apresentar de forma sucinta, o
processo pedagógico utilizado pela escola para desenvolver nos seus alunos a
responsabilidade, a solidariedade e o respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às
diferentes culturas, gerando neste os valores sociais, a construção da ética social/pública
e a postura de cidadão participativo, a partir de questionário de perguntas subjetivas, as
quais direcionará a construção de opiniões sobre os temas estudados. Para tanto,
teremos como fundamento algumas referências bibliografia, com as quais, procurar-se-á
fundamentar as opiniões descritas como produto de análise às respostas dadas aos
questionamentos.
1. A concepção política abordada na educação básica

A ideia de política ensinada na educação básica deve ser fundamentada na


preparação do sujeito para exercer seu papel de cidadão na vida civil. Assim, o que se
instituiu como direitos humanos, bem como, o exercício dos direitos e deveres da
cidadania deve ser à base do ensino na educação básica, quando estes se propõem a
construir no sujeito, um conhecimento de política social, que deve ser compreendida
como uma política de igualdade.
Neste sentido, a escola pesquisada diz que desenvolve nos seus alunos a
responsabilidade, a solidariedade, o respeito pelo bem comum, ao meio ambiente e as
diferentes culturas, através de atividades extracurriculares durante todo o ano letivo,
que de acordo com a servidora entrevistada, está sempre

(...) buscando fundamentar o cotidiano escolar, em uma educação de


valores, de acordo com o que é vivenciado na sociedade local, [...]
que, explícita ou implicitamente, estão presentes no conteúdo das
matérias, nos procedimentos e atitudes dos professores, nas relações
entre colegas em sala de aula, nas relações familiares e nos
conhecimentos acumulados (...).

De acordo com as colocações, nos deparamos com um ensinamento que


realmente procurar doutrinar valores no âmbito escolar, capazes de desenvolver a
consciência política dos alunos. E isso, para Sousa (2012, p.143) é “(...) pensar na
política de outro modo e procurar romper com as práticas socialmente estabelecidas
(...) para construir outras lógicas políticas com maior penetração nos espaços
públicos.”.
Nessa perspectiva, a postura política, ensinada no ambiente escolar, procura
criar um cidadão que deverá assumir perante a sociedade, uma nova forma de lidar com
aquilo que seja público, diferenciando-o daquilo que é privado. Para esta relação, a
política passa a ser associada à ética pública, porque, de acordo com Sousa (2016,
p.47),
(...) a noção de público é comum à ética e a política, e centra-se a
atenção naquilo em que o Estado, como Governo do Povo, reivindica
de cada um de seus cidadãos como conduta social aceitável no espaço
da vida partilhado e/ou compartilhado publicamente.

Tal postura alude a uma mudança de comportamento social que se opõe a


realidade vivenciada na contemporaneidade, a qual apresenta estruturas enrijecidas de
poderes que não atendem ao ideal de respeito ao bem comum, apresentado a política
desassociada da ética, passando a apresenta-la como sinônimo de corrupção. Nesta
perspectiva, Sousa (2012, p.146) afirma que ela “(...) ganha novo significado que
expressa o seu inverso, o seu oposto, ou seja, significa a própria negação da política.”.
Portanto, formar cidadão críticos e participativos é essencial para retornarmos
ao real significado da política e da ética pública no nosso país. Cabe,
consequentemente, maior responsabilidade à escola construir, a partir do seu dia-a-dia
pedagógico, tarefas que levem os alunos a construir um novo pensar e uma nova
postura, quanto sua participação como sujeitos capazes de romper com esses valores
antissociais vivenciados pela sociedade atual, em relação à política e a ética.

2. A ética pública como resultado da aprendizagem escolar

A escola deve buscar metodologias que possibilitem a seus alunos


conhecimentos capaz de intervir nos valores políticos e éticos vivenciados pela
sociedade atual, tornando-a mais justa e solidária. No entanto, para Sousa (2016, p.50),

(...) na prática, construir outro olhar e perceber novas possibilidades


éticas e políticas, ou seja, reconstruir as nossas formas de pensar,
sentir e agir já cristalizadas em nossa sociedade é uma tarefa
humanamente impossível [...] porque [...] há uma enorme distância e
espaço-tempo entre a academia com seus sujeitos pensantes [...] e os
políticos [...].

Sabemos que os valores éticos vivenciados pela nossa sociedade, sofreram


profundas modificações quanto a sua essência conceitual defendida por diversos
filósofos no decorrer da nossa história. Contudo, a escola não pode deixar de trabalhar
na perspectiva de ser capaz de mudar o pensamento individual de cada sujeito que
dependa de suas orientações, com o objetivo de mudar o todo. O drama vivenciado
pelos educadores atualmente, quando se propõem a ensinarem princípios éticos a seus
alunos, é equivalente à metamorfose que sofrerá uma lagarta para se tornar borboleta.
Ao ficar no casulo, estará vulnerável a qualquer tipo de perigo e terá enormes chances
de não ver-se no resultado final (como uma borboleta); no entanto, o papel da escola
(ou do professor) é acreditar que o resultado será positivo (a borboleta voará
livremente), mesmo que a grande maioria tenha opinião contrária a esta crença.
Neste sentido, a escola pesquisada busca oportunidades para que seus alunos
exerçam sua criticidade e o respeito à ordem democrática. Que, segundo a opinião da
entrevistada, quanto à criticidade, trabalha-se atividades que permitam a eles
observarem suas atitudes no dia-a-dia, e depois construírem um relatório que é
discutido e definido pelo grupo, aquilo que está bom, o que deve mudar ou as atitudes
que devem melhorar. Já quanto à ordem democrática, a servidora entrevistada, acredita
aborda-la nas ações em que “(...) o professor permita haver diálogo e questionamento
entre ele e os alunos”, o qual deve assumir

(...) uma postura de liderança para com seus alunos, gerando neles
uma necessidade de respeita-lo, que ocorre numa oscilação entre o
medo e o mérito, mas que, de alguma forma contribui na formação
conceitual e social do aluno quanto à existência da necessidade de se
respeitar ordens dentro de uma democracia.

Sabemos que é bastante complexo se chegar a uma “fórmula mágica” que


padronize a postura ética de todos os sujeitos a uma única ação coletiva, pois como
expõe Sousa (2016, p.54),

(...) por pensarmos, sentirmos e agirmos diferente de muitas das


pessoas com as quais interagimos, seja qual for o motivo, torna-se
bastante complicado construir, especialmente no campo da ética, algo
em comum acordo que seja posto em prática espontaneamente por
todos ou até mesmo com o apoio do Estado e de outras organizações
não governamentais.

Portanto, a ética é uma aprendizagem interminável quanto à postura de


pensamento, de maturação e construção, cujo processo deve ser trabalhado pela escola
no intuito de formar sujeitos capazes de julgar com autonomia e tomar parte nessa
construção, articulando com clareza uma ética-política para a transformação.

3. A estética no ambiente educacional

Atualmente há uma classificação da estética como sendo característica da


sensibilidade. Essa categorização contemporânea procura substituir a estética de
repetição e padronização proveniente do pensamento reinante no período da revolução
industrial. “Ela estimula a criatividade, o espírito inventivo, a curiosidade pelo
inusitado, a afetividade, para facilitar a constituição de identidades capazes de suportar a
inquietação, conviver com o incerto, o imprevisível e o diferente.”
(FUNDAMENTOS..., 2013).
Tais características são também legitimadas pelo pensamento educacional,
quando Freire diz ser da competência da educação a construção de uma visão global do
discente, quanto aos seus sentimentos e emoções, a partir da importância de se abordar
as questões de dimensões ética e estética, fundamentando-as em uma ética infundida na
afinidade do homem com o mundo, ou seja, estar no mundo, e na construção de ser
individual e construir coletivamente o ambiente físico e social ao qual estar inserido,
isto é, ser capaz de se relacionar com as pessoas e com a sociedade (FREIRE, 2001).
Neste contexto, a servidora entrevistada expõe que a escola procura estimular o
pensamento criativo, sensível e a liberdade de expressão dos alunos, através de
atividades curriculares e extracurriculares que ajudam a eles no processo de criações
artísticas, e no aproveitamento dos seus questionamentos, buscando promover, a partir
desses, o gosto pela pesquisa e resoluções de problemas, quando o “(...) professor
valoriza a produção do aluno, porque é dessa produção, mais os conceitos mentais que o
educando tem (sua fala-discurso), que poderá acontecer a ajuda necessária ao
desenvolvimento de sua criatividade.”.
E essa interação, de acordo com a entrevistada, acontece principalmente em dois
momentos: as festividades culturais das festas juninas (geralmente realizada no mês de
junho) e a Mostra de Cultura, que ocorre entre os dias 07 a 11 de dezembro de cada ano
(culminando no dia da Emancipação Política do Município).
Na primeira há apresentações de quadrilhas, casamento matuto – geralmente
criado pelos alunos através da orientação do professor, comidas típicas, danças típicas
do sertão (xote, xaxado, forró, etc.) e a interação da escola com a sociedade local. Já na
segunda, os alunos expõem um resumo, como resultado, de suas atividades realizadas
durante o ano letivo. Este ano será a 11ª Mostra de Cultura. Nas anteriores já houve
apresentações de stands com produções literárias feitas pelos alunos, diversas
apresentações teatrais, de danças, recitais de poesia, exibição de filmes, etc. O melhor
desse momento é que, a partir das atividades escolares com os alunos, no ano inicial em
2006, esse evento cresceu e acabou chamando a atenção de todo a estrutura
administrativa para fazer algo parecido. Podemos afirmar que isso é algo que condiz
com o pensamento de Freire (1996, p.17), quando assegura que “a ética e a estética
pressupõem uma mudança para enriquecer conceitos já estabelecidos, mas também para
introduzir os novos que respondem a uma nova relação estética com a realidade.”.
A partir dessa ação escolar, hoje estão envolvidas atividades do setor da
Secretaria de Saúde, Ação Social, Agricultura e, lógico, da Secretaria de Educação,
mostrando como é possível modificar a sociedade através da educação. De um simples
projeto escolar para expor resultados de trabalhos dos alunos, modificou-se para um
evento cultural de importância municipal.
Finalmente, compreendemos que a estética no ambiente escolar deva
caracterizar-se pela sensibilidade é aglutinação; não excludente dos diversos outros
conceitos humanos de estética de outros lugares ou períodos históricos, mas como
expressão humana, deva assumir a todos, procurando explicar, entender e
contextualizar, porque não é sua característica ser excludente, intolerante ou
intransigente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos dados orais da entrevista e da bibliografia de apoio, foram


analisados conceitos sobre a política, a ética e a estética como abordagens necessárias
ao ambiente escolar.
Quanto à abordagem de uma postura política do sujeito, observou-se que a
escola ora pesquisada, procura formar alunos que possam desempenhar se papel de
cidadão participativo perante a sociedade, o qual deverá por em prática, uma nova
forma de lidar com aquilo que seja público, diferenciando-o daquilo que é privado.
Já no ensinamento da ética como valor social, a escola possibilita entre o cuidar
da formação e a preparo do sujeito para esta interação com a sociedade, mas que essa
educação é bastante dependente da moral praticada pelos membros que compõem a
sociedade, a qual o sujeito está inserido, bem como, da família e os meios de
comunicação.
O que se chega a ver é que a estética também estar ligada a ética. Em outras
palavras, acopladas a outros conhecimentos, a estética e a ética adquirem a competência
de modernizar a educação escolar originando a construção de um sujeito criativo, capaz
de distinguir sua realidade vivencial e, individualmente ou coletivamente, fazer opções
pela construção permanente da dignidade da vida humana.
Assim, podemos concluir que o modelo pedagógico que procura abordar a
política, a ética e a estética na EMEF Galdino Antônio da Silva, busca preparar seus
alunos a viverem como cidadãos participativos na sociedade a qual estão inseridos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação.


Câmara da Educação Básica. Resolução n. 2, de 7 abril de 1998. Institui as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Diário Oficial da União.
Brasília, DF, 15 abr. 1998a. Disponível em: <<
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rceb02_98.pdf>> Acessado em 29/08/2017

______. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação.


Câmara de Educação Básica. Parecer CEB n. 4/98. Diretrizes Curriculares Nacionais
para o Ensino Fundamental. Brasília, DF: MEC/CNE, 1998b. disponível em:
<<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/1998/pceb004_98.pdf>> Acessado em
29/08/2018.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.


Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

______. Educação como prática da liberdade. 25ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2001.

Fundamentos estéticos, políticos e éticos do novo ensino médio. Disponível em:


<<http://www.escolasesc.com.br/fundamentos-esteticospoliticos-e-eticos-do-novo-
ensino-medio/>> Acessado em 28/08/2017.

SOUSA, Francisco das Chagas de Loiola. POLÍTICA, ESPAÇO PÚBLICO,


DEMOCRACIA E CIDADANIA: uma reflexão necessária. in: Ditos e interditos em
educação brasileira / Francisco Ari de Andrade, Jean Mac Cole Tavares Santos
(organizadores) – 1.ed. – Curitiba, PR: CRV, 2012.

______. Ética política e democracia política no Brasil contemporâneo. in: Filosofia:


um olhar sobre a educação, a ética e a linguagem / Manoel Dionízio Neto, Valter
Ferreira Rodrigues (organizadores) – Campina Grande: EDUFCG, 2016.
ANEXO I

QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA ESCOLAR

1. Como são desenvolvidos nos alunos a responsabilidade, a solidariedade e o respeito


ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas?

2. Sobre a cidadania, os direitos dos alunos são respeitados na instituição escolar?


Como?

3. Que oportunidades os alunos tem de exercerem a criticidade na escola?

4. Como os alunos são incentivados a respeitarem a ordem democrática?

5. Os alunos tem a oportunidade de desenvolverem a criatividade, a sensibilidade e a


liberdade de expressão? Como?

6. Em que momento a escola convoca os alunos para expressarem suas diferentes


manifestações artísticas e culturais?

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