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ALIENAÇÃO PARENTAL- ASPECTOS PSICOLÓGICOS E A NOVA

LEI DA GUARDA COMPARTILHADA

Brenno Antônio Macedo Nogueira|Elizangela do Socorro de Lima Noronha

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É possível que o matrimônio fracassado não prejudique a saúde psicológica dos filhos?

INTRODUÇÃO

No presente estudo analisar-se-á a Síndrome de Alienação Parental (SAP), seus aspectos


psicológicos, bem como a Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010 (lei de alienação
parental) [4] frente à nova Lei nº 13.058, de 22 de dezembro de 2014 [5] que estabelece
o significado da expressão “guarda compartilhada” e dispõe sobre sua aplicação.

O método utilizado foi o dedutivo e a técnica de pesquisa fez-se através da documental


indireta, realizando-se pesquisas em livros, doutrinas, leis e em sites referentes aos
temas abordados, trazendo para este trabalho os dados científicos e as pesquisas insertas
nestes instrumentos.

O objetivo do presente estudo se pauta na análise da síndrome de alienação parental, os


malefícios psicológicos causados ao genitor, vítima da alienação, bem como os traumas
causados às crianças e aos adolescentes vítimas desta prática, traçando ainda as origens
do estudo referente a tal síndrome. Buscamos ressaltar também a importância do
princípio da igualdade entre os genitores consagrado na Constituição Federal de 1988
[3], princípio este de grande importância nas relações conjugais e nas relações entre pais
e filhos. Passamos à análise da Lei 12.318/10 [4] que versa sobre a síndrome de
alienação parental e as medidas legais cabíveis quando se constata este fenômeno no
ambiente familiar. Desenvolvemos também uma breve referência sobre a Lei 13.058/14
[5] que alterou os artigos do Código Civil brasileiro referentes à adoção do regime de
guarda compartilhada pelos genitores e a adoção pelo ordenamento jurídico pátrio da
guarda compartilhada como regra. Explanamos ainda como a nova lei de guarda
compartilhada deve ajudar na forma com que a alienação parental se instaura no
ambiente familiar evitando, assim, que esta cause seus malefícios.

Por serem dois institutos relativamente novos no Brasil, necessário se faz que algumas
considerações a respeito sejam elaboradas, a fim de esclarecer os temas ou, pelo menos,
criar algumas perspectivas futuras de como serão trabalhados em nosso ordenamento
jurídico.

ALIENAÇÃO PARENTAL

Sabemos que o Estado tem o interesse em manter a família unida permanentemente,


tanto é que a Constituição Federal trouxe em seu bojo, no capítulo referente à família,
mais especificamente no artigo 226 [3], como sendo esta a base da sociedade e tendo
especial proteção do Estado. Desta forma, o Estado busca uma efetiva proteção da
Família como instituto fundamental de desenvolvimento social por seu papel
imprescindível no aprimoramento do indivíduo como ser social em busca de sua
dignidade quanto princípio.

Mas, nem sempre isso ocorre da forma pretendida pelo Estado, dado que hodiernamente
o desfazimento do vínculo matrimonial é cada vez mais corriqueiro, o que acaba
acarretando ruptura da entidade familiar tradicional.

As separações, que dificilmente ocorrem de forma consensual, trazem turbulência e


conflitos para a relação familiar. Como resultado destes conflitos, temos o início do
processo chamado de Síndrome de Alienação Parental (SAP) como uma
possibilidade que consiste na circunstância em que a mãe ou o pai de uma criança à
instrui contra o outro genitor com o intuito de provocar o rompimento dos laços de afeto
existentes entre eles, ou simplesmente impedindo que se forme afeição entre a criança e
este, criando assim fortes sentimentos de aflição, ansiedade e temor em relação ao pai
ou mãe difamado ou mesmo caluniado. Desta forma, aquele companheiro (a), ou ex-
cônjuge, que não suporta o fim da relação, passa a utilizar os filhos, sejam eles crianças
ou adolescentes, como “arma” para “ferir”, com o intuito de obter vingança daquele
outro genitor que não detém a guarda dos filhos.

EVOLUÇÃO CONCEITUAL DA SINDROME DE ALIENAÇÃO


PARENTAL

Síndrome da Alienação Parental foi apresentada em 1985, pelo médico e professor de


psiquiatria infantil da Universidade de Colúmbia nos Estados Unidos Richard Gardner
(1931-2003). Através de estudos sobre as ações de guarda de filhos nos tribunais norte-
americanos, Richard constatou que a mãe ou o pai de uma criança a induzia a romper os
laços afetivos com o outro cônjuge. Gardner pesquisou o fenômeno SAP através da
observação pessoal em seu consultório particular para explicar o que ele considerava ser
uma epidemia de falsas acusações de abuso sexual infantil. Gardner constatou que a
SAP é um distúrbio da infância e adolescência que aparece quase exclusivamente no
contexto de disputas de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar se dá com o
esforço feito por um dos pais, que visa denegrir a imagem do outro genitor, numa
campanha feita pela própria criança sem que se tenha nenhuma justificativa. Como
resultado da combinação das instruções de um genitor (que pratica uma verdadeira
"lavagem cerebral”, "programação", “doutrinação") e contribuições da própria criança
para caluniar o genitor-alvo. [15]

O genitor alienante "usa" a criança como uma arma para ferir seu antigo companheiro.
Como na maioria das vezes a mãe e que detêm a guarda dos filhos estas são as
principais alienantes.

Com bem observa Roberta Palermo [13]:

Embora ainda não haja números precisos sobre o tema, alguns dados ajudam a entender
por que a mãe tem mais chance de se tornar alienadora. De acordo com as Estatísticas
de Registro Civil, divulgadas em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em 87,3% dos casos são elas que detêm a guarda dos filhos em
casos de separação. Nesse contexto, ainda segundo o IBGE, cerca de 1/3 dos filhos
perde contato com os pais, sendo privados do afeto e do convívio com o genitor
ausente. (PALERMO, 2012, p. 12).

Dito isto, com base nos dados suso citados, por um processo lógico temos 12.7% de
homens que provocam a síndrome de alienação parental em seus filhos. Mesmo com
esta discrepância de números, fica claro que a alienação parental é praticada por
qualquer dos genitores, mesmo aqueles que não possuem a guarda da criança. Sendo
maléfica para o desenvolvimento do indivíduo, a alienação parental tende a desenvolver
na criança problemas psicológicos e transtornos psiquiátricos por toda a vida. Alguns
dos efeitos sobre a saúde emocional, já constatados, em vítimas de Alienação Parental,
enumerados pelos psicólogos Larissa Tavares Vieira e Ricardo Alexandre Aneas Botta,
são [16]:

[...]vida polarizada e sem nuances; depressão crônica; doenças psicossomáticas;


ansiedade ou nervosismo sem razão aparente; transtornos de identidade ou de imagem;
dificuldade de adaptação em ambiente psicossocial normal; insegurança; baixa
autoestima; sentimento de rejeição, isolamento e mal estar; falta de organização mental;
comportamento hostil ou agressivo; transtornos de conduta; inclinação para o uso
abusivo de álcool e drogas e para o suicídio; dificuldade no estabelecimento de relações
interpessoais, por ter sido traído e usado pela pessoa que mais confiava; sentimento
incontrolável de culpa, por ter sido cúmplice inconsciente das injustiças praticadas
contra o genitor alienado. (TAVARES, ANEAS. Acesso em: 23 fevereiro 2015.).

Devido a tão graves consequências na vida e desenvolvimento da criança e do


adolescente fez-se necessário à criação de dispositivos de combate e conscientização à
Síndrome de Alienação Parental. O que ocorreu com a edição da Lei nº 12.318, de 26 de
agosto de 2010 (lei de alienação parental) [4].

LEI Nº 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010 (LEI DE ALIENAÇÃO


PARENTAL).

A mutabilidade do direito de família confere um caráter dinâmico a sua legislação, por


este motivo, os anseios das sociedades são periodicamente levados a valimento pelos
legisladores que, entendendo existir uma demanda social específica, tendem a editar leis
com o intuito de suprir tai demandas, no caso especificamente os casos de alienação
parental e o prejuízo trazido à sociedade. Com isto, Em 26 de agosto de 2010 foi
sancionado o texto da Lei 12.318 (lei de alienação parental) com o seguinte teor quanto
ao seu conceito [4]:

Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica


da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós
ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância
para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de
vínculos com este. (BRASIL. Lei nº 12318, 2010, art. 2º).
Agora, com embasamento legal, o genitor que se sentir prejudicado pode pleitear seus
direitos com base em fundamentos jurídicos. Havendo indícios sobre a existência de
alienação parental, o genitor que se sentir prejudicado poderá, a requerimento, por meio
de ação autônoma ou incidental, pedir ao juiz que provoque em caráter de urgência o
Ministério Público para que este seja ouvido a respeito das medidas provisórias
cabíveis, visando a preservação da integridade psicológica da criança ou do
adolescente. Também serão buscada formas de assegurar o direito à convivência com o
genitor vítima da alienação parental, bem como intentar uma reaproximação entre o
genitor e a criança ou adolescente em visitas acompanhadas por profissionais, se tal
reaproximação causar risco à integridade física ou psíquica do alienado.

O juiz determinará de oficio, quando necessário, a qualquer momento do processo


perícia psicológica ou biopsicossocial, sendo, assim, elaborado laudo profissional por
equipe multidisciplinar em um prazo de 90 dias, podendo este ser prorrogado, desde
que baseado em justificativa circunstanciada por decisão judicial. O laudo conterá
ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial, entrevista pessoal com as partes,
histórico do relacionamento do casal e da separação, exame dos documentos dos autos,
avaliação da personalidade dos envolvidos, cronologia de incidentes que possam
demonstrar a ocorrência de alienação parental ou outros abusos e exame da forma como
a criança ou adolescente se manifesta sobre as acusações contra o genitor.

Sendo, através da perícia, reconhecidas condutas de alienação parental, atos típicos de


alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou
adolescente com o genitor, o juiz poderá [4]:

Art. 6º. I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar


o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao
alienador; IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V -
determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI -
determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a
suspensão da autoridade parental. (BRASIL. Lei nº 12.318, 2010, art. 6º).

Assim, a Lei 12.318/10 tem um caráter mais educativo do que sancionatório,


apresentando as consequências que podem trazer à criança, e, em último caso, como a
forma de punir o que pratica alienação parental é suspender o direito de visita ou a
guarda da criança, o juiz pode determinar o tratamento psicológico do que pratica a
alienação.

Também se observa que a Lei nº12.318 de 2010 ajuda de certa forma a coibir a prática
da alienação parental, contudo, por ser ainda uma lei recente, e por isto desconhecida
por muitos pais, operadores do direito e entidades de proteção à criança e adolescente
(ex. conselho tutelar), faz-se necessária uma maior publicidade sobre as formas como o
genitor que sofre com esta situação pode se defender, essa é a conclusão de especialistas
que participaram de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado em
audiência realizada em 09 de setembro de 2013 [6]. Os especialistas avaliaram, também,
que alguns juízes, escolas e membros de conselhos tutelares não estão preparados para
lidar com o problema. Além de maior capacitação de operadores do direito e das
entidades de proteção à criança e ao adolescente, os especialistas presentes na comissão
do Senado julgaram que a lei precisa ser mais divulgada para a população.
A conscientização é de longe a melhor solução, pois os genitores precisam deixar suas
frustrações de lado para darem espaço aos sentimentos da criança e do adolescente,
assegurando a eles o direto ao um lar saudável, harmonioso, procurando manter uma
relação amigável de cordialidade e respeito. Não é pelo fato do matrimônio não dar
certo que será obrigatório o rompimento e o eventual desenvolvimento da Síndrome de
Alienação Parental, bullying familiar ou órfão de pai/mãe vivo. Devido a toda
repercussão social que o tema provoca foi com grande otimismo que se recebeu a
notícia da sanção da Lei Nº 13.058/14, que trouxe mudanças referentes à aplicação da
guarda compartilhada, pois emerge daí a possibilidade de se mitigar os Efeitos da
Síndrome de Alienação Parental.

GUARDA COMPARTILHADA COM O ADVENTO DA LEI Nº 13.058,


DE 22 DE DEZEMBRO DE 2014

Foram percebidos novos e relevantes aspectos com a sanção da Lei 13.058/2014 [5] que
estabelece o significado da expressão guarda compartilhada e dispõe sobre sua
aplicação, sendo uma das principais mudanças no que tange a aspecto comportamental
onde se desfez a “tradição” de que a guarda dos filhos automaticamente pertencia a
mãe, restando ao pai o ônus de provar ser apto ao convívio com o filho(a).

A Lei 13.058/2014 (lei da guarda compartilhada) [5] traz um bem-vindo entendimento


radicado em preceitos constitucionais, pois nossa Constituição de 1988
constitucionalizou vários princípios e institutos próprios do direito de família.

Neste sentido, Simone Tassinari Cardoso, preleciona [7]:

Às vésperas do século XXI ergueu-se no sistema jurídico brasileiro um divisor de


águas. A Constituição Federal de 1988 avança como resposta social às necessidades dos
indivíduos, até então excluídos da tutela jurídica. A família permanece como base de
sociedade civil, merecendo especial proteção estatal, todavia altera sua essência,
devendo apresentar-se de modo convergente com o Estado Social Democrático, tendo
como princípio fundamental o da dignidade da pessoa humana. (CARDOSO, 2004, p.
91).

Além do princípio da dignidade da pessoa humana, foi efetivado, por meio da lei em
comento, o princípio da igualdade que como bem observa Celso Antônio Bandeira de
Mello “interdita tratamento desuniforme às pessoas. Sem embargo, consoante se
observou, o próprio da lei, sua função precípua, reside exata e precisamente em
dispensar tratamentos desiguais” [12] (MELLO, 1984, p. 17-18), sendo ainda
constitucionalizado a igualdade de direitos e obrigações entre homens e mulheres no
Direito de Família (art. 5º, inciso I da CF/88) [3], além dos direitos da criança (a quem
se deve ter maiores preocupações), tem-se assegurado o direito do pai, pois este lutava
anos a fio contra algo já incutido em nosso ordenamento jurídico que paulatinamente
feria os direitos tanto da criança como do pai, atacando princípios constitucionais a todo
momento. Com a entrada em vigor da lei em comento, vemos a efetivação de princípios
constitucionais e no sentido legal a norma se tornando eficaz no ordenamento jurídico e
em nossas relações sociais.
Por ser quase sempre traumático o desfazimento do vínculo conjugal, em menor ou
maior proporção, se faz importante entender como minorar os prejuízos causados à
prole advinda desta união; como bem observa Maria Berenice Dias [1]:

No momento em que há o rompimento do convívio dos pais, a estrutura familiar resta


abalada, deixando eles de exercer, em conjunto, as funções parentais. Não mais vivendo
os filhos com ambos os genitores, acaba havendo uma redefinição de papéis. Tal resulta
em uma divisão dos encargos com relação à prole. O maior conhecimento do
dinamismo das relações familiares fez vingar a guarda conjunta ou compartilhada, que
assegura a maior aproximação física e imediata dos filhos com ambos os genitores,
mesmo quando cessado o vínculo de conjugalidade. (DIAS, 2011, p. 443).

Pode-se afirmar que, em razão do desfazimento do vínculo conjugal entre os genitores,


a melhor forma de minorar o “prejuízo” causado pelo rompimento é a adoção da guarda
compartilhada, que, com o advento da lei em comento, se tornou a regra em nosso
ordenamento.

Faz-se necessário, antes de tecer considerações sobre o que muda com a nova lei da
guarda compartilhada e definir no que consiste este instituto.

Existem dois tipos principais de guarda no que tange à proteção da pessoa dos filhos, a
saber, a guarda unilateral e a guarda compartilhada.

Na redação do artigo 1.583, § 1º do Código Civil de 2002 [2], em sua primeira parte,
está exposto o conceito de guarda unilateral: “Compreende-se por guarda unilateral a
atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua [...]” (BRASIL. Lei nº
10.406, 2002, art.1583, § 1º) [2]. Este tipo de guarda era regra anteriormente à lei
13.058/14, e consiste basicamente em conceder a um dos cônjuges a guarda dos
filhos, regulamentando as visitas do outro cônjuge ao filho(a). Como bem posiciona
Carlos Roberto Gonçalves [9]: “Tal modalidade apresenta o inconveniente de privar o
menor de convivência diária e contínua de um dos genitores.” (GONÇALVES, 2014 p.
492).

Em sua segunda parte, o artigo 1.583, § 1º do Código Civil de 2002 [2] guarda
compartilhada é conceituada como “[...] responsabilização conjunta e o exercício de
direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao
poder familiar dos filhos comuns” (BRASIL. Lei nº 10.406, 2002, art.1583, § 1º) [2].
Partindo daí, entende-se que o legislador teve a preocupação de incluir como
possuidores do poder familiar ambos os genitores, de modo a criar deveres e
responsabilidades solidárias, reequilibrando papéis parentais, propiciando o melhor
ambiente possível para que se crie os filhos sem prejuízo às relações afetivas, ao
desenvolvimento psicológico da criança e aos direitos recíprocos dos cônjuges após o
desfazimento da sociedade conjugal ou separação.

Para Maria Helena Diniz, guarda compartilhada [8]:

“é o instituto que visa prestar assistência material, moral e educacional ao menor,


regularizando posse de fato” (DINIZ, 2002, p.503.)
Já José Antônio de Paula Santos Neto preleciona que guarda compartilhada se trata de
[14]:

Guarda de menor é o conjunto de relações jurídicas que existem entre uma pessoa e o
menor, dimanados do fato de estar este sob o poder ou a companhia daquela, e da
responsabilidade daquela em relação a este, quanto à vigilância, direção e educação”.
(SANTOS NETO,1994, p. 138-139).

Waldyr Grisard Filho conceitua guarda compartilhada como [10]:

Significa que ambos os pais possuem os mesmos direitos e as mesmas obrigações em


relação aos filhos menores. Por outro lado, é um tipo de guarda no qual os filhos do
divórcio recebem dos tribunais o direito de terem ambos os pais, dividindo de forma
mais eqüitativa possível, as responsabilidades de criarem e cuidarem dos
filhos”(GRISARD FILHO, 2002, p. 79)

Para o jurista Eduardo Leite [11]:

[...]guarda conjunta quer é conservar – em princípio – os mesmos laços que uniam pais
e filhos antes da ruptura. [...] o exercício alternado da autoridade parental [...]. Pode
passar por um período com a mãe e, igualmente, com o pai [...]. A residência continua
sendo única, o que não impede os deslocamentos da criança. (LEITE, 1997, p. 270 e
283)

Guarda compartilhada ou guarda conjunta refere-se, em resumo, à possibilidade dos


genitores separados assistirem aos seus filhos, “no exercício em comum da autoridade
parental” [11] (LEITE, 1997, p. 261). Dado o exposto, o objetivo da guarda
compartilhada consiste em assegurar que o tempo de convivência com os filhos seja
dividido de forma "equilibrada" entre os genitores.

As mudanças trazidas pela nova redação dada pela Lei 13.058 [5] se concentraram nos
artigos 1.583 § 2º, do qual foram revogados seu incisos I, II e III; artigo 1.584 §2º, §3º,
§4º, §5º, e §6º; artigo 1.585; e artigo 1.634 todos do Código Civil de 2002 [2].

Basicamente o que mudou foi a regra geral referente a guarda dos filhos, pois com a
edição da lei em comento a guarda compartilhada torna-se a regra quando não houver
consenso entre os genitores no que se refere a detenção da guarda dos filhos, sendo
descartada somente em casos excepcionais.

Assim, os genitores deverão de forma responsável decidir conjuntamente a forma de


criação e educação da criança, bem como o tempo de convívio entre aqueles e a criança
deve ser dividido de forma igual entre ambos os genitores, tendo em vista o melhor
interesse da criança e também levando em consideração a situação fática a qual o caso
concreto esta inserido. O juiz deverá, ainda, firmar em qual local será o de moradia
“sendo aquela que melhor atender aos interesses dos filhos” [2] (BRASIL. Código
Civil, art1.583§ 3º).

A guarda compartilhada não é obrigatória "se um dos genitores declarar ao magistrado


que não deseja a guarda do menor” [2] (BRASIL. Código Civil, art. 1584§ 2º).
O juiz levará, ainda, os aspectos fáticos do caso concreto em consideração, decidindo
qual a forma mais adequada de guarda. Em tese, se os cônjuges apresentam condições e
após a consulta prévia de uma equipe interdisciplinar de profissionais, “o juiz, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em orientação técnico-
profissional ou de equipe interdisciplinar, que deverá visar à divisão equilibrada do
tempo com o pai e com a mãe” [2].(BRASIL. Código Civil, art.1584, § 3), para assim
“[...] estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob guarda
compartilhada,[...] [2](BRASIL. Código Civil, art. 1584, § 3).

Vale ressaltar que guarda compartilhada não se confunde com guarda alternada, pois
esta, como o próprio nome expõe, trata do exercício exclusivo e alternado da guarda da
criança por cada um dos cônjuges (não possui previsão legal), enquanto aquela se
caracteriza pela manifestação do poder familiar e da guarda da criança de forma
simultânea por ambos os genitores ao mesmo tempo.

Esclarecido este ponto, adentaremos em outra celeuma. Existe a possibilidade do


pagamento de alimentos por um dos cônjuges à criança independente do regime de
guarda compartilhada, pois pode haver disparidade econômica entre os cônjuges. Sobre
este tema Berenice Dias esclarece [1]:

A guarda compartilhada não impede a fixação de alimentos, até porque nem sempre os
genitores gozam da mesma condições econômicas. Muitas vezes não há a alternância da
guarda física do filho, e a não cooperação do outro pode onerar sobremaneira o genitor
guardião. Como as despesas dos filho devem ser divididas entre ambos os pais, a
obrigação pode ser exigida por um deles por via judicial. (DIAS. 2011, p. 445).

Mesmo com todos os benefício trazidos pelo regime de guarda compartilhada, existe a
possibilidade de revisão, mas o regime deve ser alterado por um juiz, por meio de um
processo judicial, desde que se comprove a ocorrência do descumprimento das cláusulas
da guarda compartilhada, pode, assim, ocorrer a mudança de regime ou a redução de
prerrogativas atribuídas ao seu detentor.

CONCLUSÃO

O presente estudo verificou a ocorrência da síndrome da alienação parental no âmbito


das relações conjugais desfeitas e o prejuízo causado à psique da criança que vivencia
esta prática.

Tomando por base esta premissa, aferiu-se que para que a criança tenha um
desenvolvimento psicológico saudável se faz necessário que o ambiente de convívio
afetivo esteja livre da prática de alienação parental, seja por um dos genitores ou
parentes que venham a ter a guarda da criança. Deve-se frisar também que além da
criança existe uma outra vítima, a saber, o outro cônjuge ou parente, o qual foi
direcionado à alienação. Como se verificou no presente estudo, os transtornos
psicológicos causados pela alienação parental se apresentam como depressão crônica,
ansiedade, tendência para o uso em excesso de álcool e drogas e, em alguns casos,
tendência para o suicídio, dentre outros transtornos suso citados.

Com base nestas informações, vemos com bons olhos a edição da lei que trata da
síndrome de alienação parental. Mesmo que tenha mais um caráter educativo, a Lei
12.318/10 [4] trouxe uma “solução” àqueles que são vítimas da alienação parental.
Trazendo benefícios tanto à criança alienada quanto ao genitor ou parente vítima da
alienação, a Lei 12.318/10 [4] tende a equilibrar o ambiente socioafetivo, procurando
um ponto de convergência comum aos envolvidos na síndrome de alienação parental, de
forma que estes encontrem um entendimento e se conscientizem dos prejuízos que esta
prática traz a vida de todos os envolvidos.

Mesmo com todos os benefícios trazidos com sua edição, a Lei 12.318/10 [4] se
mostrou insuficiente para coibir a prática da alienação parental, por este motivo a edição
da Lei 13.058/14 [5], que trata do novo regime de guarda compartilhada, trouxe em seu
bojo uma nova perspectiva ao tema. Esta lei inovou ao tornar regra o regime de guarda
compartilhada, possibilitando uma criação e uma educação mais participativa por ambos
os pais. Isto, a nosso ver, trará o benefício de minorar paulatinamente os casos de
alienação parental, pois a guarda conjunta cria a possibilidade de educação dos filhos de
forma concorrente por ambos os genitores na assunção de suas respectivas
responsabilidades, o que acaba por dificultar a incidência da prática da alienação
parental, já que o contato e a convivência familiar são mantidos da forma mais
semelhante possível àquela relação existente antes do rompimento conjugal nesta
modalidade de guarda.

Assim, a aplicação conjunta dos dois dispositivos tratados no presente artigo traz um
sopro de esperança àqueles que são ou serão vítimas desta prática tão perversa, que traz
tantos prejuízos à sociedade, que é a síndrome de alienação parental.

REFERÊNCIAS

[1] BERENICE DIAS, Maria. Manual de Direito das Famílias. 8º. ed. rev. atual. São
Paulo: Editora Revista do Tribunais, 2011.

[2] BRASIL. Código Civil. Disponível


em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/110406.htm>. Acesso em: 23
fevereiro 2015.

[3] BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
Acesso em 22 de fevereiro de 2015.

[4] BRASIL. Lei nº 12.318 de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação


parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Diário Oficial
[da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, v. 147, n. 165, 27 de ago. 2014.
Seção I, p. 3.

[5] BRASIL. Lei nº 13.058, de 22 de dezembro de 2014. Estabelece o significado da


expressão “guarda compartilhada” e dispor sobre sua aplicação. Diário Oficial [da
República Federativa do Brasil], Brasília, DF, v. 151, n. 248, 23 de dez. 2014. Seção I,
p. 2-3.
[6] BRASIL. Senado Federal. Audiência Pública Interativa. CDH: Alienação Parental
no Núcleo da Família: pais ‘não’ separados. 09/09/2013. 10:00 – Anexo II, Ala
Senador Nilo Coelho, Plenário nº 2, Senado Federal. Disponível em:
<http://www12.senado.gov.br/ecidadania/visualizacaoaudiencia?id=661>. Acesso em:
23 fevereiro 2015.

[7] CARDOSO, Simone Tassinari. Do Contrato Parental à Socioafetividade. In:


ARONNE, Ricardo (Coord.). Estudos de Direito Civil – Constitucional. v. 2. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2004.

[8] DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito de Família. vol.
V. 17ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

[9] GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Esquematizado. v. 3. São Paulo:


Saraiva, 2014.

[10] GRISARD FILHO, Waldyr. Guarda Compartilhada: um novo modelo de


responsabilidade parental. 2º ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista do Tribunais.
2002.

[11] LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias Monoparentais. 2ª. ed. ver. at. ampl. São
Paulo: RT, 1997.

[12] MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O conteúdo jurídico do princípio da


igualdade. 2ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1984.

[13] PALERMO, Roberta. Ex – Marido, Pai Presente. Dicas para não cair na
armadilha da alienação parental. São Paulo: Mescla Editorial. 2012.

[14] SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do pátrio poder. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 1994.

[15] SOUSA, Analícia Martins de; BRITO, Leila Maria Torraca de. Síndrome de
alienação parental: da teoria Norte-Americana à nova lei brasileira. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98932011000200006#*a>. Acesso em: 23 fevereiro 2015.

[16] TAVARES VIEIRA, Larissa A.; ANEAS BOTTA, Ricardo Alexandre. O Efeito
Devastador da Alienação Parental: e suas Sequelas Psicológicas sobre o Infante e
Genitor Alienado. Disponível em:<https://psicologado.com/atuacao/psicologia-
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o-infante-e-genitor-alienado >. Acesso em: 23 fevereiro 2015.

https://jus.com.br/artigos/39297/alienacao-parental-aspectos-psicologicos-e-a-nova-lei-da-
guarda-compartilhada/2

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