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É possível que o matrimônio fracassado não prejudique a saúde psicológica dos filhos?
INTRODUÇÃO
Por serem dois institutos relativamente novos no Brasil, necessário se faz que algumas
considerações a respeito sejam elaboradas, a fim de esclarecer os temas ou, pelo menos,
criar algumas perspectivas futuras de como serão trabalhados em nosso ordenamento
jurídico.
ALIENAÇÃO PARENTAL
Mas, nem sempre isso ocorre da forma pretendida pelo Estado, dado que hodiernamente
o desfazimento do vínculo matrimonial é cada vez mais corriqueiro, o que acaba
acarretando ruptura da entidade familiar tradicional.
O genitor alienante "usa" a criança como uma arma para ferir seu antigo companheiro.
Como na maioria das vezes a mãe e que detêm a guarda dos filhos estas são as
principais alienantes.
Embora ainda não haja números precisos sobre o tema, alguns dados ajudam a entender
por que a mãe tem mais chance de se tornar alienadora. De acordo com as Estatísticas
de Registro Civil, divulgadas em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em 87,3% dos casos são elas que detêm a guarda dos filhos em
casos de separação. Nesse contexto, ainda segundo o IBGE, cerca de 1/3 dos filhos
perde contato com os pais, sendo privados do afeto e do convívio com o genitor
ausente. (PALERMO, 2012, p. 12).
Dito isto, com base nos dados suso citados, por um processo lógico temos 12.7% de
homens que provocam a síndrome de alienação parental em seus filhos. Mesmo com
esta discrepância de números, fica claro que a alienação parental é praticada por
qualquer dos genitores, mesmo aqueles que não possuem a guarda da criança. Sendo
maléfica para o desenvolvimento do indivíduo, a alienação parental tende a desenvolver
na criança problemas psicológicos e transtornos psiquiátricos por toda a vida. Alguns
dos efeitos sobre a saúde emocional, já constatados, em vítimas de Alienação Parental,
enumerados pelos psicólogos Larissa Tavares Vieira e Ricardo Alexandre Aneas Botta,
são [16]:
Também se observa que a Lei nº12.318 de 2010 ajuda de certa forma a coibir a prática
da alienação parental, contudo, por ser ainda uma lei recente, e por isto desconhecida
por muitos pais, operadores do direito e entidades de proteção à criança e adolescente
(ex. conselho tutelar), faz-se necessária uma maior publicidade sobre as formas como o
genitor que sofre com esta situação pode se defender, essa é a conclusão de especialistas
que participaram de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado em
audiência realizada em 09 de setembro de 2013 [6]. Os especialistas avaliaram, também,
que alguns juízes, escolas e membros de conselhos tutelares não estão preparados para
lidar com o problema. Além de maior capacitação de operadores do direito e das
entidades de proteção à criança e ao adolescente, os especialistas presentes na comissão
do Senado julgaram que a lei precisa ser mais divulgada para a população.
A conscientização é de longe a melhor solução, pois os genitores precisam deixar suas
frustrações de lado para darem espaço aos sentimentos da criança e do adolescente,
assegurando a eles o direto ao um lar saudável, harmonioso, procurando manter uma
relação amigável de cordialidade e respeito. Não é pelo fato do matrimônio não dar
certo que será obrigatório o rompimento e o eventual desenvolvimento da Síndrome de
Alienação Parental, bullying familiar ou órfão de pai/mãe vivo. Devido a toda
repercussão social que o tema provoca foi com grande otimismo que se recebeu a
notícia da sanção da Lei Nº 13.058/14, que trouxe mudanças referentes à aplicação da
guarda compartilhada, pois emerge daí a possibilidade de se mitigar os Efeitos da
Síndrome de Alienação Parental.
Foram percebidos novos e relevantes aspectos com a sanção da Lei 13.058/2014 [5] que
estabelece o significado da expressão guarda compartilhada e dispõe sobre sua
aplicação, sendo uma das principais mudanças no que tange a aspecto comportamental
onde se desfez a “tradição” de que a guarda dos filhos automaticamente pertencia a
mãe, restando ao pai o ônus de provar ser apto ao convívio com o filho(a).
Além do princípio da dignidade da pessoa humana, foi efetivado, por meio da lei em
comento, o princípio da igualdade que como bem observa Celso Antônio Bandeira de
Mello “interdita tratamento desuniforme às pessoas. Sem embargo, consoante se
observou, o próprio da lei, sua função precípua, reside exata e precisamente em
dispensar tratamentos desiguais” [12] (MELLO, 1984, p. 17-18), sendo ainda
constitucionalizado a igualdade de direitos e obrigações entre homens e mulheres no
Direito de Família (art. 5º, inciso I da CF/88) [3], além dos direitos da criança (a quem
se deve ter maiores preocupações), tem-se assegurado o direito do pai, pois este lutava
anos a fio contra algo já incutido em nosso ordenamento jurídico que paulatinamente
feria os direitos tanto da criança como do pai, atacando princípios constitucionais a todo
momento. Com a entrada em vigor da lei em comento, vemos a efetivação de princípios
constitucionais e no sentido legal a norma se tornando eficaz no ordenamento jurídico e
em nossas relações sociais.
Por ser quase sempre traumático o desfazimento do vínculo conjugal, em menor ou
maior proporção, se faz importante entender como minorar os prejuízos causados à
prole advinda desta união; como bem observa Maria Berenice Dias [1]:
Faz-se necessário, antes de tecer considerações sobre o que muda com a nova lei da
guarda compartilhada e definir no que consiste este instituto.
Existem dois tipos principais de guarda no que tange à proteção da pessoa dos filhos, a
saber, a guarda unilateral e a guarda compartilhada.
Na redação do artigo 1.583, § 1º do Código Civil de 2002 [2], em sua primeira parte,
está exposto o conceito de guarda unilateral: “Compreende-se por guarda unilateral a
atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua [...]” (BRASIL. Lei nº
10.406, 2002, art.1583, § 1º) [2]. Este tipo de guarda era regra anteriormente à lei
13.058/14, e consiste basicamente em conceder a um dos cônjuges a guarda dos
filhos, regulamentando as visitas do outro cônjuge ao filho(a). Como bem posiciona
Carlos Roberto Gonçalves [9]: “Tal modalidade apresenta o inconveniente de privar o
menor de convivência diária e contínua de um dos genitores.” (GONÇALVES, 2014 p.
492).
Em sua segunda parte, o artigo 1.583, § 1º do Código Civil de 2002 [2] guarda
compartilhada é conceituada como “[...] responsabilização conjunta e o exercício de
direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao
poder familiar dos filhos comuns” (BRASIL. Lei nº 10.406, 2002, art.1583, § 1º) [2].
Partindo daí, entende-se que o legislador teve a preocupação de incluir como
possuidores do poder familiar ambos os genitores, de modo a criar deveres e
responsabilidades solidárias, reequilibrando papéis parentais, propiciando o melhor
ambiente possível para que se crie os filhos sem prejuízo às relações afetivas, ao
desenvolvimento psicológico da criança e aos direitos recíprocos dos cônjuges após o
desfazimento da sociedade conjugal ou separação.
Guarda de menor é o conjunto de relações jurídicas que existem entre uma pessoa e o
menor, dimanados do fato de estar este sob o poder ou a companhia daquela, e da
responsabilidade daquela em relação a este, quanto à vigilância, direção e educação”.
(SANTOS NETO,1994, p. 138-139).
[...]guarda conjunta quer é conservar – em princípio – os mesmos laços que uniam pais
e filhos antes da ruptura. [...] o exercício alternado da autoridade parental [...]. Pode
passar por um período com a mãe e, igualmente, com o pai [...]. A residência continua
sendo única, o que não impede os deslocamentos da criança. (LEITE, 1997, p. 270 e
283)
As mudanças trazidas pela nova redação dada pela Lei 13.058 [5] se concentraram nos
artigos 1.583 § 2º, do qual foram revogados seu incisos I, II e III; artigo 1.584 §2º, §3º,
§4º, §5º, e §6º; artigo 1.585; e artigo 1.634 todos do Código Civil de 2002 [2].
Basicamente o que mudou foi a regra geral referente a guarda dos filhos, pois com a
edição da lei em comento a guarda compartilhada torna-se a regra quando não houver
consenso entre os genitores no que se refere a detenção da guarda dos filhos, sendo
descartada somente em casos excepcionais.
Vale ressaltar que guarda compartilhada não se confunde com guarda alternada, pois
esta, como o próprio nome expõe, trata do exercício exclusivo e alternado da guarda da
criança por cada um dos cônjuges (não possui previsão legal), enquanto aquela se
caracteriza pela manifestação do poder familiar e da guarda da criança de forma
simultânea por ambos os genitores ao mesmo tempo.
A guarda compartilhada não impede a fixação de alimentos, até porque nem sempre os
genitores gozam da mesma condições econômicas. Muitas vezes não há a alternância da
guarda física do filho, e a não cooperação do outro pode onerar sobremaneira o genitor
guardião. Como as despesas dos filho devem ser divididas entre ambos os pais, a
obrigação pode ser exigida por um deles por via judicial. (DIAS. 2011, p. 445).
Mesmo com todos os benefício trazidos pelo regime de guarda compartilhada, existe a
possibilidade de revisão, mas o regime deve ser alterado por um juiz, por meio de um
processo judicial, desde que se comprove a ocorrência do descumprimento das cláusulas
da guarda compartilhada, pode, assim, ocorrer a mudança de regime ou a redução de
prerrogativas atribuídas ao seu detentor.
CONCLUSÃO
Tomando por base esta premissa, aferiu-se que para que a criança tenha um
desenvolvimento psicológico saudável se faz necessário que o ambiente de convívio
afetivo esteja livre da prática de alienação parental, seja por um dos genitores ou
parentes que venham a ter a guarda da criança. Deve-se frisar também que além da
criança existe uma outra vítima, a saber, o outro cônjuge ou parente, o qual foi
direcionado à alienação. Como se verificou no presente estudo, os transtornos
psicológicos causados pela alienação parental se apresentam como depressão crônica,
ansiedade, tendência para o uso em excesso de álcool e drogas e, em alguns casos,
tendência para o suicídio, dentre outros transtornos suso citados.
Com base nestas informações, vemos com bons olhos a edição da lei que trata da
síndrome de alienação parental. Mesmo que tenha mais um caráter educativo, a Lei
12.318/10 [4] trouxe uma “solução” àqueles que são vítimas da alienação parental.
Trazendo benefícios tanto à criança alienada quanto ao genitor ou parente vítima da
alienação, a Lei 12.318/10 [4] tende a equilibrar o ambiente socioafetivo, procurando
um ponto de convergência comum aos envolvidos na síndrome de alienação parental, de
forma que estes encontrem um entendimento e se conscientizem dos prejuízos que esta
prática traz a vida de todos os envolvidos.
Mesmo com todos os benefícios trazidos com sua edição, a Lei 12.318/10 [4] se
mostrou insuficiente para coibir a prática da alienação parental, por este motivo a edição
da Lei 13.058/14 [5], que trata do novo regime de guarda compartilhada, trouxe em seu
bojo uma nova perspectiva ao tema. Esta lei inovou ao tornar regra o regime de guarda
compartilhada, possibilitando uma criação e uma educação mais participativa por ambos
os pais. Isto, a nosso ver, trará o benefício de minorar paulatinamente os casos de
alienação parental, pois a guarda conjunta cria a possibilidade de educação dos filhos de
forma concorrente por ambos os genitores na assunção de suas respectivas
responsabilidades, o que acaba por dificultar a incidência da prática da alienação
parental, já que o contato e a convivência familiar são mantidos da forma mais
semelhante possível àquela relação existente antes do rompimento conjugal nesta
modalidade de guarda.
Assim, a aplicação conjunta dos dois dispositivos tratados no presente artigo traz um
sopro de esperança àqueles que são ou serão vítimas desta prática tão perversa, que traz
tantos prejuízos à sociedade, que é a síndrome de alienação parental.
REFERÊNCIAS
[1] BERENICE DIAS, Maria. Manual de Direito das Famílias. 8º. ed. rev. atual. São
Paulo: Editora Revista do Tribunais, 2011.
[8] DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito de Família. vol.
V. 17ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
[11] LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias Monoparentais. 2ª. ed. ver. at. ampl. São
Paulo: RT, 1997.
[13] PALERMO, Roberta. Ex – Marido, Pai Presente. Dicas para não cair na
armadilha da alienação parental. São Paulo: Mescla Editorial. 2012.
[14] SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do pátrio poder. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 1994.
[15] SOUSA, Analícia Martins de; BRITO, Leila Maria Torraca de. Síndrome de
alienação parental: da teoria Norte-Americana à nova lei brasileira. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98932011000200006#*a>. Acesso em: 23 fevereiro 2015.
[16] TAVARES VIEIRA, Larissa A.; ANEAS BOTTA, Ricardo Alexandre. O Efeito
Devastador da Alienação Parental: e suas Sequelas Psicológicas sobre o Infante e
Genitor Alienado. Disponível em:<https://psicologado.com/atuacao/psicologia-
juridica/o-efeito-devastador-da-alienacao-parental-e-suas-sequelas-psicologicas-sobre-
o-infante-e-genitor-alienado >. Acesso em: 23 fevereiro 2015.
https://jus.com.br/artigos/39297/alienacao-parental-aspectos-psicologicos-e-a-nova-lei-da-
guarda-compartilhada/2