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Habilitação em Radialismo
Folha de Aprovação
“Volver”
(A Almodóvar e às mulheres)
Agradecimentos
Resumo
Abstract
Sumário
Introdução.................................................................................................................pg 06
Filmografia (listagem)...............................................................................................pg 17
Desenvolvimento......................................................................................................pg 21
Conclusão.................................................................................................................pg 67
Bibliografia................................................................................................................pg 77
Anexos......................................................................................................................pg 81
Introdução:
Pedro Almodóvar
Aos dezesseis anos rompe com a família, contrariando o futuro que lhe
projetavam de funcionário do banco do povoado em que nascera. Muda-se
para Madrid, a grande cidade. Sozinho e sem dinheiro, mas com um projeto
muito concreto: estudar e fazer cinema. Não foi possível matricular-se na
Escola Oficial de Cinema, pois o General Franco havia acabado de fechá-la. Já
que não pode aprender a linguagem (formal) do cinema, decide aprender a
fundo, na prática, e dedica-se a viver. Ao final dos anos sessenta, apesar da
ditadura, Madrid é, para um adolescente, a cidade dos toureiros, da cultura
contemporânea e a liberdade nos momentos sombrios ou efervescentes. “Me
acostumei (aceitei, como se aceita a enfermidade de um ente querido) à
realidade. Em Madrid, nem tudo é luxo e diversão. As cidades têm o subúrbio,
poluição, ruídos e miséria, mas também nessas imperfeições mora, às vezes,
sua grandeza”.
Para comprar sua primeira câmera de Super Oito acaba por conseguir
um “emprego sério” na Compañia Telefônica Nacional de España, onde
permaneceu trabalhando como auxiliar administrativo durante doze anos. Nas
horas vagas, se entretinha fazendo colagens com documentos. Seus
experimentos cinematográficos vêm desta época.
Pela manhã, tem contato com uma classe social que, não fosse outro
modo, não teria conhecido mais a fundo: a classe média espanhola no início da
sociedade do consumo. Seus dramas e misérias foram um grande filão para o
futuro narrador. Não se conformando somente em sobreviver, alterna o trabalho
com sua paixão.
montón” (Pepi, Luci e as Outras, 1980) que nasceu originalmente de uma foto
novela encomendada pela revista “El Vibora”. Seu nome era “Erecciones
Generales”, retrato da Espanha não convencional, que desconfia das
instituições como a família. O trunfo de seu primeiro longa foi justamente o
aspecto autoral do diretor autodidata, que aprendeu através da prática
driblando a falta de recursos. A técnica é um caminho para seu processo
criador, não uma expressão acadêmica. Ele interpretava quando faltava um
ator, escolhia os figurinos e chegou a pintar alguns cenários, alterava o roteiro,
que ele mesmo havia escrito, se fosse necessário para terminar o filme. No
último caso, quando isso não era possível, filmava ele mesmo explicando o fim
do filme, afinal de contas, o papel principal do diretor/autor deve ser o de um
bom contador de histórias.
abordando pela primeira vez o tema da religião, que voltará a estar presente na
maioria de seus filmes posteriores. Ele cria a representação de um convento
onde circulam drogas e onde a madre superiora assedia sexualmente as
freiras. É neste filme que estréia sua colaboração com a atriz Chus Lampreave.
Em 1984, ainda em parceria com Tesauro, roda o filme naturalista de grande
cunho social, "¿Qué he hecho yo para merecer esto?" (O que eu fiz para
merecer isto? 1984), história da dona-de-casa que se sente explorada pela
família com os intermináveis afazeres domésticos, o casamento e a angústia
da busca de alguma realização pessoal, tão inerente ao ser humano.
começado a rodar “Tacones Lejanos” (De Salto Alto, 1990) com Marisa
Paredes e Victoria Abril numa delicada história entre mãe e filha, traição,
sucesso e assassinato de grande intensidade melodramática.
Para Belidson Dias, autor de uma tese de mestrado sobre gêneros dos
personagens do diretor:
Filmografia:
Películas:
2006 - Volver
2004 - La mala educación
2002 - Hable con ella
1999 - Todo sobre mi madre
1997 - Carne trémula
1995 - La flor de mi secreto
1993 - Kika
1990 - Tacones lejanos
1989 - Átame
1987 - Mujeres al borde de un ataque de nervios
1986 - La ley del deseo
1985 - Matador
1984 - ¿Qué he hecho yo para merecer esto?
1983 - Entre Tinieblas
1982 - Laberinto de Pasiones
1980 - Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón
Produções:
Yo adivino el parpadeo
De las luces que a lo lejos
Van marcando mi retorno...
Son las mismas que alumbraron
Con sus palidos reflejos
Hondas horas de dolor..
Volver (Voltar)
Eu pressinto o piscar
das luzes que ao longe
vão marcando o meu retorno
São as mesmas que iluminaram
com seus pálidos reflexos
profundas horas de dor
Voltar...
<http://vagalume.uol.com.br/estrella-morente/volver-traducao.html>
Desenvolvimento:
O Filme:
Raimunda, revela que foi demitido – desviando do olhar das duas. A notícia
leva a uma discussão. Paula se retira e Raimunda atesta: “- Somos uma família
pobre e viveremos como uma família pobre. Acabou a TV a cabo! Paula, larga
esse celular!”. A seguir, a seqüência em que Raimunda lava a louça é repleta
de cenas importantes: a faca após o jantar, simboliza Raimunda no seu
cotidiano, como mãe, esposa, cozinheira, faxineira, chefe-de-família. Este
objeto aparece como uma premonição, em que o diretor nos indica que os
elementos de tensão apresentados na família poderão piorar. Para reforçar a o
contexto, o padrasto passa sorrateiramente pela porta do quarto e vê a menina
se trocando através de uma fresta. Na cena seguinte, vemos que Raimunda
está cansada e preocupada com sua tia e Paco, por outro lado, deseja fazer
sexo com ela. O casal tem problemas na cama, ela explica que está cansada,
que tem que acordar cedo e rejeita a investida dele. Ele a repreende por ter
chamado-o de “chato”. Ela pede desculpas, como quem assume que é um
direito dele querer sexo no casamento, mas vira para o outro lado reforçando
que não é de sua vontade naquele momento. Paco, ainda que contrariado,
masturba-se ao lado de Raimunda, que chora, disfarçadamente, ao sentir que
o marido simplesmente não a compreende ou que a trata como objeto sexual.
No dia seguinte, ela volta à cansativa rotina de trabalho. Lava pratos na
cozinha de um restaurante, cuida de roupas numa lavanderia e faz faxina para
sustentar a família. Durante o dia faz inúmeras ligações e não consegue
resposta.
bastasse, o telefone toca. É Sole. Raimunda pede a Paula que diga que ela
está muito ocupada para atender. Mas o assunto é urgente: –“Tia Paula
morreu”. Raimunda fica ainda mais abalada, mas responde que não pode
ajudar, e que um dia Sole vai entender. A porta se abre. Mãe e filha dão
continuidade à decisão que tomaram à força e carregam o corpo de Paco
enrolado em uma manta. Levam-no até o restaurante. –“Fique na porta e vigie.”
Raimunda esconde o cadáver enrolado numa manta dentro do freezer da
dispensa do restaurante.
novamente sente o cheiro. Comenta com Sole como a mãe delas costumava
soltar muitos puns. As duas caem no riso. Irene, escondida debaixo da cama, ri
também. “– Quase posso ouvir ela rindo entre nós também” estranha
Raimunda; Sole ri um pouco mais alto para disfarçar a presença de Irene. No
guarda-roupa, vê as coisas da mãe e da tia Paula. As bonecas antigas, porta-
jóias. Ao ver que Sole estava guardando as jóias de família sem ter lhe
avisado, acusa-lhe de ter tentado apropriar-se delas injustamente e vai embora.
Sole sente-se péssima pela má interpretação da irmã, mas não diz nada para
proteger a mãe.
Paula, sabendo de todo o trabalho que a tia tem tido para esconder a
mãe, diz à sua própria: “- Devíamos ter avisado a tia que viríamos (...) Não é
educado aparecer sem avisar mesmo que seja sua irmã” Raimunda, já
impaciente: “- O que há com você e Sole?”. Mais uma vez Sole as recebe aos
berros: “ – o que faz aqui RAIMUNDA!?” A irmã já estranha o comportamento:
“- Porque está gritando? Está surda? Vim falar com você sobre a papelada da
casa da tia Paula”. Uma das clientes reclama a desaparição da ajudante russa
que a havia deixado com o cabelo por lavar e falando sozinha. Sole tem que
explicar a Raimunda que havia acolhido uma ajudante na rua (...) Raimunda
acha estranho e reclama que tenha dado tal abertura a uma estranha. Sole
desconversa e pergunta de Paco. Raimunda responde que ele havia pegado as
roupas e achava que ele estaria com outra, “- Mas não sei aonde, e nem quero
saber”. Logo em seguida as duas escutam a voz de Agustina, que não resiste
aos apelos da irmã, e aparece no programa de televisão “Donde quiera que
estés”, de pessoas que procuram amigos e parentes desaparecidos. Almodóvar
inclui aí, uma crítica apropriada à exploração costumeira que os programas de
televisão fazem de dramas pessoais, apelando para a baixaria em busca de
audiência.
Apresentadora: “- Mas não fique nervosa. Você está entre amigos. Uma
salva de palmas para Agustina”, num típico deboche de mal gosto do programa
falso acolhedor.
Raimunda pergunta o que a mãe faz debaixo da cama, lhe cobra “- você
não estava morta?”. E, na primeira resposta de Irene, está implícito o segredo
entre elas. De que Raimunda insiste em fugir e a mãe, além de voltar de uma
falsa morte, lhe responde, contundente: “- Eu voltei para pedir o seu perdão. Eu
não sabia, minha filha. Eu não podia imaginar.” Num ataque de choro e raiva
pelo choque emocional da visão da mãe e lembrança do passado, Raimunda
deixa a casa da irmã, levando a filha junto. Simplesmente não sabia como
reagir a tantos sentimentos. Sole, que também viu o encontro, estranha que a
mãe tenha falado em perdão e pede para que conte a verdade a ela também.
Irene promete contar depois. Quase chegando perto de casa, Paula insiste que
Raimunda volte e converse com a mãe. Raimunda titubeia um pouco e volta.
Numa bela cena, Irene e Raimunda olham-se nos olhos uma da outra.
Caminham juntas até o banco da praça. Almodóvar faz nesta cena uma citação
ao filme Belíssima de Luchino Visconti. A mãe, sobrevivente, nos contará seus
segredos apenas através do olhar e do abraço e lhe dispensa, com a palavra e
o colo, o cuidado que não agüentava mais esperar para dar à filha:
Irene: “- Não sei por onde começar. Mesmo que estivesse morta eu
voltaria para pedir perdão por não perceber o que lhe aconteceu. Eu estava
cega. Eu soube no dia do incêndio”
Irene: “- E você tinha toda a razão. Quando soube, você não imagina
como fiquei. Eu fui até a cabana pronta para arrancar os olhos dele. Eu o achei
dormindo nos braços da mãe de Agustina, ambos exaustos. Eles não me viram.
Eu ateei fogo na cabana. Ventava muito. Logo o fogo devorou tudo. Eles nem
tiveram tempo de acordar”
Irene: “- Sim. Depois andei perdida pelo campo não sei por quantos dias.
Escondida. Como um animal. Eu decido me entregar. Mas antes, fui visitar sua
tia Paula. Ela estava tão mal. Quando me viu, ela não me estranhou. Eu vim do
passado que era onde ela estava vivendo. Ela me recebeu como se eu tivesse
acabado de sair pela porta. A tragédia a fez perder a pouca razão que lhe
sobrava. Eu não podia deixá-la sozinha, então fiquei cuidando dela até que ela
morreu”
que geralmente acontece com filhos nesta situação. Geralmente, eles vivem
com medo que algo de pior lhe possa lhes acontecer se denunciarem a
violência doméstica, como é comum até por parte das autoridades questionar a
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2 - http://anodaorquidea.blogspot.com/2006/09/volver.html
agora de vingança. Esta é uma das faces do cinema do diretor que nunca
faltam nos seus filmes. Se nos comovemos com uma injustiça sofrida, um
personagem não fica sem demonstrar a sua maneira de reagir ao mundo.
Quase sempre interferindo em questões de ordem simbólica profunda nas
sociedades. Assim o fez com os protagonistas de Matador; com o amável
enfermeiro Benigno, que nos brinda com intensa sensibilidade com as
mulheres mas nos surpreende ferindo a ética médica em Fale com Ela; com o
marginal Ricky de Ata-me que ama demais porém seqüestra seu amor; com a
Manoela que tem que superar a morte de um filho e assumir outro do mesmo
pai que antes odiou em Tudo Sobre Minha Mãe, e assim restaura a contradição
de seus personagens e heróis que estão geralmente certos e errados ao
mesmo tempo, mas nunca menos intensos.
É claro que Irene mata para se livrar daquele que perturbou a sua vida
até as raias da loucura, mas não poderá viver em sociedade. Não haverá
cúmplice ou vítima de seus atos que a defenda no meio das beatas católicas
do povoado de interior. Até mesmo Agustina desconfia da verdade mas insiste
em manter a imagem de Irene como a de um fantasma, irreal e intangível.
Irene: “- Sim, até o final. Agustina está muito mal. Depois do que fiz à
mãe dela, o mínimo que posso fazer é cuidar dela até que morra”.
Raimunda: “- Tenho muito o que lhe contar. Eu não contei sobre Paco,
sobre o que eu fiz”.
Irene: “- estou doida para saber, mas você deve ir agora. Nos veremos
todos os dias. Daremos um jeito”.
Raimunda: “- Não sei como pude viver todos esses anos sem você”.
Sobre as filmagens:
Até o último momento foram considerados dois roteiros, duas idéias para
o argumento do filme. E a escolha final, segundo Almodóvar, nem sequer foi
sua. "Foram as mulheres (da produtora). Intuíram que era este o que precisava
ser feito. Eu vinha de um filme de homens muito difícil (Má Educação). Foi a
2 – idem a 1
paixão que teve pelas histórias anteriores novamente? Ao que responde: “Com
“Volver” a resposta é afirmativa, claro. De novo tenho a sensação de ter nas
mãos uma história (fábula, tesouro e segredo) onde anseio me abismar”.
“Apesar de ser o diretor”, diz, “isso não significa que não me dê trabalho
quebrar o gelo. Mas nisso consiste, entre outras coisas, ser diretor (num país
europeu, ao menos). Sou (...) a chaminé que esquenta o ambiente, a mãe-pai-
psiquiatra-amante-amigo que com uma palavra sensível lhe faz recuperar a
segurança. A questão consiste em que o diretor conduz um trem sem freios e
seu trabalho é conseguir que o trem não descarrile. Assim o veria Truffault.”
Almodóvar nos conta uma das observações que definiram a escolha dos
enquadramentos para filmar a história dessas mulheres:
para ser uma comédia (isso disse a equipe) se chora muito”. Ao deixar os
personagens masculinos para a ação de coadjuvantes, o cineasta abre uma
porta e cria um espaço para a idealização de um mundo feminino com leis
próprias. O diretor pode se deter por mais tempo nas belas interpretações que
as atrizes fazem da vida emocional das personagens também porque a maioria
dos homens está morta, como, já do começo, observava Sole: “As mulheres
aqui vivem mais que os homens”.
O roteiro nos remete a uma região espanhola onde a morte não tem um
caráter trágico; as pessoas convivem tranqüilamente com o desaparecimento
das pessoas: elas mantém os seus familiares presentes de tal forma nas
conversas e objetos, que dão a impressão de que eles nunca morrem. Trágico
é o que acontece entre os vivos: o choque entre o desejo e o direito sobre o
próprio corpo, a violência, medo, traição, abandono, exploração, omissão,
defesa, vingança, doença, assassinato; e, ao mesmo tempo, nunca deixará de
existir o lado do bem, apresentado aqui na forma de redenção, respeito,
cumplicidade, perdão, conciliação.
Almodóvar conta-nos em seus Diários, assim como esta naturalidade
com que convivem os vivos e mortos, o real e o irreal, o fantástico com o
cotidiano, o imaginado com o real, o sonho com a vigília, gostaria que enquanto
assistisse o filme, o espectador se sentisse invadido por uma sensação onírica
permanente. Durante as filmagens, refere-se a si mesmo e à atrizes como
sonâmbulos ou hipnóticos, talvez com o sentido de entrar em contato com o
inconsciente, movimento que as personagens fazem através de seus medos e
fantasmas:
núcleo familiar: como verde, roxo, rosa, amarelo, principalmente nas cores
vivas das roupas da filha adolescente. Embora possamos reparar com mais
atenção que alguns dos figurantes ou objetos ao fundo são ou estão de
vermelho e azul, como num intertexto com filmes anteriores (a exemplo de Ata-
me e Tudo Sobre Minha Mãe, repletos de azul e vermelho, dos cenários aos
figurantes, protagonistas e objetos). Uma verdadeira obsessão. Podemos
perceber que o vermelho e azul compões as cores das cenas fortes
emocionalmente: Raimunda liga do trabalho para casa, preocupada; veste azul
ao transportar o corpo de Paco; Paula está de azul e vermelho enquanto
esconde Irene; mãe e filha estão vestem as cores no monólogo na praça, são
alguns dos exemplos. A estamparia das roupas das mulheres de Volver
acabarou tornando-se o material gráfico de fundo com que trabalhou a
divulgação e identidade visual do material do filme (posters, cartazes, fotos).
Como exemplo, podemos citar o principal pôster do filme que tem o rosto de
Penélope Cruz adornado pelas flores da saia que usa numa das cenas mais
fortes do filme: a visão do corpo de Paco na cozinha.
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8 – ARANTES, Silvana FOLHA DE S. PAULO disponível em <http://cinemeto.zip.net/>
9 – idem ao 8
Segundo ele, a seqüência foi escrita “ao longo de seis intensas páginas
e seis não menos intensos planos”. E nos revela: “Esta (...) é uma das razões
pelas quais eu queria rodar Volver, chorei todas e cada uma das vezes que
corrigi o texto. (Me sinto como a personagem que Kathleen Turner interpretava
em Tras el corazón verde, uma ridícula escritora de novelas, muito kitsch, que
chorava enquanto as escrevia)”.
Ficha Técnica
[autor - personagem]
3 – idem ao 1
entre as conseqüências, o fato dela ter engravidado, exigia uma ação. Ela
acaba por romper com a família, afastando-se do lar. Como nos diz Cristina
Camões, “frequentemente as crianças permanecem silenciosas por não
desejarem prejudicar o abusador ou provocar uma desagregação familiar ou
_______________________________________________________________
Ao sair de casa, Raimunda sofre uma divisão do ego. Por um lado lida
com a realidade (foi abusada e deu à luz uma filha) e por outro, nega esta
realidade (não diz quem é o pai da criança). Se outras ações poderiam ter sido
possíveis como ter denunciado o pai à mãe ou irmã, junto às autoridades ou
mesmo conseguido ferir o pai para evitar a agressão, Cristina Camões aponta
sobre a realidade dos jovens nesta situação:
“Têm-se assistido a problemas de várias ordens
relacionados com o tratamento que muitas vezes se dá aos
menores vítimas de violência sexual, nomeadamente a demora da
justiça, a insensibilidade de magistrados e polícia. A justiça
representa um papel importantíssimo na violência sexual praticada
em menores, e no combate ao flagelo social. Esta garante às
vítimas a reparação e a ratificação de que não existem razões para
se sentirem culpados, já que são simplesmente vítimas dessa
violência.” (pg 2). E ainda, “São vários os fatores que poderão levar
o menor a silenciar a violência sexual. O silêncio vai permitir que a
violência contra o menor se perpetue no tempo, desta forma será
importante que os adultos estejam atentos aos sinais e sintomas
que poderão evidenciar a existência de violência sexual. (...) estas
crianças alimentam por vezes um sentimento de culpa e vergonha
temendo a desagregação familiar. (...)A instabilidade psico-social
5 – Idem ao 4, pg 5 / 6 – Idem ao 4 pg 13
7 - VIDAL 1989:59
Márcio intitula uma das partes de sua análise como “A questão do olhar
– a dor de ver e de não ver”.
EU ADIVINHO O PISCAR
2) A reaparição de Irene”
Com o passar do tempo, depois de ter cuidado de sua irmã, a tia Paula,
até o fim, Irene passa por completa metamorfose para reencontrar as filhas. Na
ânsia de se reconciliar, principalmente com Raimunda, “passará de uma
emanação sobre-humana, impessoal, assexuada e anestesiada – um fantasma
– a uma emanação humana, singular e incontrolável, na forma de um pum,
uma risada, chegando às lágrimas, sendo assim inconfundível para as filhas”,
nas palavras do psicanalista.
JOHNSON, Márcio Antônio – Algumas idéias em torno do filme “Volver” de Pedro Almodóvar,
disponível em <http://www.npc.org.br/volver.html> mjohnsson@sbpsp.org.br
Conclusão:
que se tenha, porque a certeza de que um filme vai se sair bem não
é dada pela experiência nem pelo dinheiro. (...) Há um ciclo de
ascensão e queda. Os cantores falam em saber a hora de parar.
Mas não se sabe quando termina o ciclo. Talvez eu já tenha feito
meus melhores filmes e agora resta uma ladeira abaixo. Porém,
penso que não é assim, mas estou consciente de que a ladeira
aparecerá. E isso me atemoriza". ¹
personagens com histórias fortes e bastante reais, mais reflexivas, talvez. Ele
nos conta hoje e sempre sobre a condição humana e suas contradições.
O conjunto da obra de Almodóvar nos inspira uma fusão de sensações e
idéias, um grito de liberdade às paixões, desejos e a multiplicidade de pontos
de vista humanos. Um ensaio acerca de todos os gostos, todas as escolhas,
todos os sexos, interpretações e vivências. É uma homenagem ao desejo que
move seus atores e atrizes, que circula na trama dos filmes, que atropela todo
e qualquer tabu e transgressão. Amantes que desejam se matar, amarrar-se
uns aos outros, uma história de amor de um homem numa cadeira de rodas, de
um enfermeiro pela paciente, de uma mãe pela filha, pelo filho ou pelo pai, o
2 – Fragmento do livro no site da editora Azougue; disponível em:
http://www.azougue.com.br/detalhes.php?codigo_interno=5487&codigo=102
4 - SÁNCHES VIDAL 1988:9 Sobre a “poética da família”, podemos dizer que foi
inaugurada na Espanha pelo documentário “Lãs Hurdes de Deus” de Luis Buñuel, em 1932.
Sua fórmula fundamental é o resgate da terra, a mancha de conflitos que o ser humano
derrama sobre o mundo enquanto vive.
jamais permitirá que nada de errado aconteça com Raimunda, Irene, Sole ou
Paula.
“Como em todas as relações apaixonadas, minha relação com o público
passará por etapas muito diferentes, desde a graça até o abandono. Quando o
público não quiser mais saber de mim, cantarei para ele uma canção de
Bambino que diz: Quando ninguém te quiser, quando todos te esquecerem,
voltarás ao caminho onde fiquei. Voltarás como todas, com a alma em
pedaços, buscar em meus braços um pouquinho de fé. Quando de teu orgulho
já não restar uma gota e a luz dos teus olhos começar a se apagar, estarei no
caminho onde me deixaste, com os braços abertos e um amor imortal.” Pedro
Almodóvar
Bibliografia:
CONRAD, Peter (The Observer) “Um senhor meio sisudo” tradução de Luiz
Roberto Mendes Gonçalves, revista Carta Capital, ano 13 nº 418, pg 54-6, de 8
de Novembro de 2006, São Paulo, ed. Confiança;
http://www.65anosdecinema.pro.br/Belissima.htm
http://www.clubcultura.com/clubcine/clubcineastas/almodovar/esp/home.htm
http://www.clubcultura.com/clubcine/clubcineastas/almodovar/volverlapelicula
ANEXOS
Página 81-2:
Lista de ilustrações
Página 83:
Cenas do filme
Página 84-6:
Sinopse de “Belíssima”, de Luchino Visconti
Lista de Ilustrações:
Página 8:
Pedro Almodóvar na primeira comunhão, com sua mãe, foto de Francisca Caballero (Madrid,
Collection Pedro Almodóvar) Imagem disponível em: <
http://www.revistacinetica.com.br/obrasalmodovar.htm>
Foto com Fábio McNamara: disponível no site oficial na seção “Su Vida (1980-85)”
<http://www.clubcultura.com/clubcine/clubcineastas/almodovar/esp/cronologia3.htm>
Fotonovela Patty Diphusa en Toda tuya, publicadas nos números 32-33 da revista Vibora
(1982). Roteiro de Pedro Almodóvar, fotos de Pablo Pérez Mínguez. Fabio McNamara
interpreta Patty Diphusa (Madrid, Collection El Deseo). Imagem disponível em: <
http://www.revistacinetica.com.br/obrasalmodovar.htm>
Cartazes:
“Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón”
“¡Átame!”
“La ley del deseo”
“¿Qué He Hecho Yo Para Merecer Esto?!!”
“Tacones Lejanos”
“La Mala Educación”
“Todo Sobre Mi Madre”
Disponíveis em www.allmodovar.com.br ( menu “filmografia”)
Foto de Almodóvar com negativos: disponível no site oficial na seção “Su Vida (1995-2002)”
<http://www.clubcultura.com/clubcine/clubcineastas/almodovar/esp/cronologia6.htm>
Página 18:
Partitura de “Volver”, tango de Carlos Gardel e Alfredo le Pera, 1ª página. Retirado de: “Todo
Tango. La Biblioteca” Partituras. Disponible em: <http://
www.todotango.com/Spanish/biblioteca/partituras/images/volver1.gif>
Penélope Cruz em “Volver”, foto de Ardizzoni e Emilio Pereda dos bastidores das filmagens de
Volver. Disponível em
<http://www.clubcultura.com/clubcine/clubcineastas/almodovar/esp/diario06.htm#>
Don Quixote de La Mancha: “Revista Nossa América”, Crônica: “Don Quixote da America”
http://www.memorial.sp.gov.br/revistaNossaAmerica/22/port/12-quixote_da_america.htm
Mulher española
Ilustrações de Toureiros: blog “Fatos e fotos de viagem” de INTERATA, Arnaldo, disponível em:
< http://interata.squarespace.com/jornal-de-viagem/2006/9/26/uma-tourada-em-barcelona.html
>
Página 22:
Cenas do filme:
Página 41:
Fotos de Paola Ardizzoni e Emilio Pereda dos bastidores das filmagens de Volver, disponíveis
no site oficial de Pedro Almodóvar, seção “Especiales”: “Diario de rodaje de ‘Volver””
<http://www.clubcultura.com/clubcine/clubcineastas/almodovar/esp/diario06.htm#>
Página 66:
Mapa de Castilla-La Mancha; disponível em: < http://
europa.eu/abc/maps/images/regions/spain/mancha.gif&imgrefurl=http://europa.eu/abc/maps/reg
ions/spain/mancha_it.htm>
Página 83:
Cenas do filme:
Itália, 1957
Sinopse
...
Críticas
País: Itália
Gênero: Drama