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Capı́tulo 7

Grafos Planares

7.1 Introdução
Considere o problema de unir três casas a cada um dos três utilitários separados, como
mostra a Figura 7.1. É possı́vel unir essas casas e utilitários para que nenhuma das conexões
seja cruzada? Este problema pode ser modelado usando o grafo bipartido completo K3,3 . A
questão original pode ser reformulada como: O K3,3 pode ser desenhado no plano de modo que
não haja duas de suas bordas cruzadas?

Figura 7.1: Três casas e três utilitários.

Nesta seção, estudaremos a questão de se um grafo pode ser desenhado no plano sem cruzar
as arestas. Em particular, responderemos ao problema das casas e utilidades. Há sempre muitas
maneiras de representar um grafo. Quando é possı́vel encontrar pelo menos uma maneira de
representar este grafo em um plano sem nenhuma borda cruzando?

Definição 1. Um grafo é chamado planar se puder ser desenhado no plano sem nenhuma aresta
cruzando (onde um cruzamento de arestas é a interseção das linhas ou arcos que os representam

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em um ponto diferente de seu ponto final comum). Esse desenho é chamado de representação
planar do grafo.

Exemplo 2. Note que K4 e Q3 são planares.

Figura 7.2: Grafos planares.

A planaridade dos grafos desempenha um papel importante no projeto de circuitos eletrônicos.


Podemos modelar um circuito com um grafo representando componentes do circuito por vértices
e conexões entre eles por arestas. Podemos imprimir um circuito em uma única placa, sem co-
nexões cruzadas, se o grafo que representa o circuito for plano. Quando esse grafo não é plano,
devemos nos voltar para opções mais caras. Por exemplo, podemos particionar os vértices no
grafo que representa o circuito em subgrafos planares. Em seguida, construı́mos o circuito
usando várias camadas. Podemos construir o circuito usando fios isolados sempre que as co-
nexões se cruzarem. Nesse caso, é importante desenhar o grafo com o menor número possı́vel
de cruzamentos.
A planaridade dos grafos também é útil no projeto de redes rodoviárias. Suponha que
queremos conectar um grupo de cidades por estradas. Podemos modelar uma rede viária
conectando essas cidades usando um gráfico simples com vértices representando as cidades e
as arestas representando as rodovias que as conectam. Podemos construir essa rede rodoviária
sem usar passagens subterrâneas ou viadutos caso o gráfico resultante seja plano.
Uma representação planar de um grafo divide o plano em regiões, incluindo uma região
não limitada. Por exemplo, a representação planar do grafo mostrado na Figura 7.3 divide o
plano em seis regiões. Estas são rotuladas na figura. Euler mostrou que todas as representações
planares de um grafo dividem o plano no mesmo número de regiões. Ele conseguiu isso encon-
trando uma relação entre o número de regiões, o número de vértices e o número de arestas de
um grafo planar.

Teorema 3. Seja G um grafo simples planar conectado com e bordas e v vértices. Seja r o
número de regiões em uma representação planar de G. Então r = e − v + 2.

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Figura 7.3: As regiões da representação planar de um gráfico.

Exemplo 4. Suponha que um grafo simples planar conectado tenha 20 vértices, cada um de
grau 3. Em quantas regiões uma representação deste grafo planar divide o plano?
Solução: Este grafo tem 20 vértices, cada um de grau 3, então v = 20. Como a soma dos graus
dos vértices, 3v = 3 × 20 = 60, é igual a duas vezes o número de arestas, 2e, temos 2e = 60,
ou e = 30. Consequentemente, da fórmula de Euler, o número de regiões é r = e − v + 2 =
30 − 20 + 2 = 12.

Corolário 5. Se G é um grafo simples planar conectado com e arestas e v vértices, onde v ≥ 3,


então e ≤ 3v − 6.

Corolário 6. Se G é um grafo simples planar conectado, então G tem um vértice de grau que
não excede cinco.

Exemplo 7. Mostre que K5 não é plano usando o Corolário 5.


Solução: O grafo K5 tem cinco vértices e dez arestas. No entanto, a desigualdade e ≤ 3v − 6
não é satisfeita para este grafo porque e = 10 e 3v − 6 = 9. Portanto, K5 não é planar.

Corolário 8. Se um grafo simples planar conectado tiver e arestas e v vértices com v ≥ 3 e


nenhum circuito de comprimento três, então e ≤ 2v − 4.

Exemplo 9. Use o Corolário 8 para mostrar que K3,3 não é plano.


Solução: Como K3,3 não possui circuitos de comprimento três (isso é fácil de ver porque é
bipartido), o Corolário 8 pode ser usado. K3,3 tem seis vértices e nove arestas. Como e = 9 e
2v − 4 = 8, o Corolário 8 mostra que K3,3 é não plano.

Teorema 10. Um grafo não é plano se, e somente se, contiver um subgrafo homeomórfico para
K3,3 ou K5 .

Exemplo 11. Determine se o grafo G mostrado na Figura 7.4 é plano.


Solução: G tem um subgrafo H homeomórfico a K5 . H é obtido excluindo h, j e k e todas as
arestas incidentes com esses vértices. H é homeomórfico a K5 porque pode ser obtido a partir

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Figura 7.4: Grafo não orientado G, um subgrafo H homeomórfico para K5 e K5 .

de K5 (com vértices a, b, c, g e i) por uma sequência de subdivisões elementares, adicionando os


vértices d, e e f . (O leitor deve construir uma sequência de subdivisões elementares.) Portanto,
G não é planar.

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