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Fls.

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Poder Judiciário da União
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Órgão : 5ª TURMA CÍVEL


Classe : APELAÇÃO
N. Processo : 20120111848634APC
(0009780-21.2012.8.07.0018)
Apelante(s) : AMANDA MARIA DE LACERDA
Apelado(s) : DISTRITO FEDERAL
Relator : Desembargador SEBASTIÃO COELHO
Revisor : Desembargador SILVA LEMOS
Acórdão N. : 892679

EMENTA

ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. SUBJETIVA.
OMISSÃO. CIRURGIA. HOSPITAL PÚBLICO. INFECÇÃO.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AFASTADA.
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO NEXO DE
CAUSALIDADE. SENTENÇA MANTIDA.
1. Constituem pressupostos necessários para a
configuração da Responsabilidade Civil do Estado, uma
conduta comissiva ou omissiva, a ocorrência de um evento
danoso, o nexo de causalidade e ausência de causa excludente
da responsabilidade do Estado. Nos casos de responsabilidade
civil por omissão é necessário ainda a demonstração de culpa
ou dolo.
2. As deformidades e danos experimentados foram
gerados do infortúnio sofrido e de intercorrências do pós-
operatório.
3. Ausente o nexo causal entre a demora na prestação
do atendimento médico e os danos noticiados não há que se
falar em dano moral.
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4. Recurso conhecido e desprovido.

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ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 5ª TURMA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, SEBASTIÃO COELHO -
Relator, SILVA LEMOS - Revisor, JOSAPHA FRANCISCO DOS SANTOS - 1º
Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador ANGELO PASSARELI, em
proferir a seguinte decisão: CONHECER. NEGAR PROVIMENTO. UNÂNIME, de
acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasilia(DF), 2 de Setembro de 2015.

Documento Assinado Eletronicamente


SEBASTIÃO COELHO
Relator

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RELATÓRIO

Cuida-se de Apelação Cível interposta por Amanda Maria de


Lacerda (autora) contra a sentença de fls. 127/131 proferida pela 2ª Vara de
Fazenda Pública do Distrito Federal, na ação de Indenização por Dano Moral nº
2012.01.1.184863-4, que julgou improcedente o pedido em razão da ausência
de demonstração do liame causal.
Irresignada a autora apelou (fls.135/140) expondo que é dever do
Distrito Federal prestar satisfatório atendimento à saúde dos cidadãos e que, desde
o início da prestação dos serviços hospitalares, a apelante/autora foi prejudicada,
tanto na falha da primeira cirurgia feita, quanto na demora da segunda cirurgia.
Em se tratando da responsabilidade civil objetiva alega estar
comprovado o dano e o nexo causal por conta da conduta da ré. Diante disso pede a
reforma da sentença monocrática com a condenação da apelada/ré.
Recurso interposto sem preparo, em face da gratuidade de Justiça
(fl.41).
Em contrarrazões (fls.144/147), o apelado/réu afirma que ausente o
nexo causal não há responsabilidade civil, portanto pede a manutenção integral da
sentença recorrida.
É o relatório.
Brasília-DF, de agosto de 2015.

Desembargador SEBASTIÃO COELHO


RELATOR

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VOTOS

O Senhor Desembargador SEBASTIÃO COELHO - Relator

O Senhor Desembargador SEBASTIÃO COELHO - Relator


Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.
Sem preliminares para análise, passo ao mérito.
A sentença deve ser mantida integralmente.
AMANDA MARIA DE LACERDA propôs ação de reparação de
danos morais em desfavor de DISTRITO FEDERAL por conta da demora do
apelado/réu em realizar a cirurgia para implantação de fixador externo que lhe
causou intenso constrangimento e prejuízo.
No dia 28 de julho de 2010 a apelante/autora sofreu um acidente
automobilístico onde houve fratura exposta na tíbia esquerda. Submeteu-se a
cirurgia para implantação de fixador interno, no entanto seu organismo rejeitou o
fixador, razão pela qual foi solicitada uma cirurgia para que fosse implantado um
fixador externo. A cirurgia de reconstrução óssea com fixador externo ocorreu
apenas no dia 23 de janeiro de 2012. A apelante/autora pede uma indenização de
vinte mil reais pelos danos morais sofridos.
O Distrito Federal alega a inexistência de erro grosseiro, negligência
ou omissão. Afirma que a demora da cirurgia não agravou a sequela sofrida, sendo
ela consequência do acidente automobilístico.
O Juízo sentenciante julgou o pedido improcedente por não estar
demonstrado o liame causal, uma vez que, embora constatado o retardamento na
prestação do serviço, não há elemento que indique que as sequelas tenham
decorrido do atraso na entrega do atendimento adequado.
A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito público
ocorre tanto em atos omissivos como atos comissivos e está prevista na
Constituição Federal em seu artigo 37, § 6º, in verbis:

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito


privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o

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responsável nos casos de dolo ou culpa.

Constituem pressupostos necessários para a configuração da


Responsabilidade Civil do Estado, uma conduta comissiva ou omissiva, a ocorrência
de um evento danoso, o nexo de causalidade e ausência de causa excludente da
responsabilidade do Estado. Nos casos de responsabilidade civil por omissão é
necessário ainda a demonstração de culpa ou dolo. Conforme entendimento desse
egrégio Tribunal:

ADMINISTRATIVO, CONSTITUCIONAL E PROCESSO CIVIL.


APELAÇÃO CÍVEL. PROCEDIMENTO ORDINÁRIO.
FALECIMENTO DO NEONATO. FALTA DE LEITO EM UTI NA
REDE PÚBLICA. PERMANÊNCIA EM UNIDADE DE
CUIDADOS INTENSIVOS PEDIÁTRICOS. CARDIOPATIA
CONGÊNITA CIANÓTICA. TRATAMENTO. DEMORA NO
CUMPRIMENTO DE ORDEM JUDICIAL DE TRANSFERÊNCIA
PARA LEITO DE UTI EM HOSPITAL DA REDE PRIVADA.
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO NEXO DE
CAUSALIDADE ENTRE A ALEGADA OMISSÃO E O ÓBITO.
NEGLIGÊNCIA NO ATENDIMENTO NÃO COMPROVADA.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AFASTADA.
SENTENÇA MANTIDA.
1. Consoante a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
em se tratando de atos omissivos, não se aplica a regra do
artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, que determina a
responsabilidade objetiva do Estado, havendo de prevalecer a
regra geral da responsabilidade subjetiva.
2. Quando proposto pedido indenizatório em desfavor do
Distrito Federal, fundamentado em suposta negligência do
serviço público prestado por hospital da rede pública - demora
na transferência de neonato para leito de Unidade de
Tratamento Intensivo - UTI, determinada por ordem judicial, a
responsabilidade do ente público é de cunho subjetivo (faute du
service).

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3. Não havendo elementos de provas capazes de demonstrar


que o atendimento do Estado foi ineficiente e, ainda
considerando a gravidade do neonato, não há que falar em
responsabilidade subjetiva do Estado de reparar o dano sofrido,
eis que não se comprovou o nexo causal, consoante assim
exige o artigo 333, I, do CPC.
4. Dano moral não configurado.
5. Recurso conhecido e desprovido.
(Acórdão n.861057, 20130111202690APC, Relator: CARLOS
RODRIGUES, Revisor: ANGELO CANDUCCI PASSARELI, 5ª
Turma Cível, Data de Julgamento: 25/03/2015, Publicado no
DJE: 22/04/2015. Pág.: 259)

Conforme se extrai dos autos, não é possível associar os danos


sofridos pela autora com a omissão perpetrada por agentes do réu. Do relatório
(fl.31) e depoimento (fls.117/118) observa-se que o quadro da paciente, à época, era
estável, não havendo complicações caso o procedimento não ocorresse de imediato.
O caso da autora/apelante era de fratura exposta, o que por si só
gera o risco de infec ção. De fato houve a infecção óssea, porém não há indícios de
que esta decorreu de erro médico, negligência, imprudência ou imperícia. As
deformidades e danos experimentados foram gerados do infortúnio sofrido e de
intercorrências do pós-operatório.
Dessa forma, ausente o nexo causal, um dos pressupostos para a
configuração da responsabilidade civil, entre a demora na prestação do atendimento
médico e os danos noticiados pela autora/apelante, escorreita a r. sentença que
julgou improcedente o pedido inicial e negou a indenização por danos morais.
Em reforço, trago à colação a seguinte ementa deste TJDFT:

DIREITO ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO


ESTADO. HOSPITAL DA REDE PÚBLICA. ATENDIMENTO.
INFECÇÃO HOSPITALAR. NEXO DE CAUSALIDADE. NÃO
COMPROVAÇÃO. I - A Constituição Federal adotou o caráter
objetivo da responsabilidade do Estado, de modo que é
dispensável a demonstração do elemento subjetivo culpa, para

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que haja reparação dos danos causados pela atividade


administrativa, desde que o administrado logre comprovar o
nexo de causalidade entre o evento e o dano deste advindo
(CF, art. 37, § 6º). II - Incabível a responsabilização se não
comprovada a conduta de seus agentes e o necessário nexo
causal com os dano sofridos pelo autor. III - Negou-se
provimento ao recurso. (Acórdão n.842254,
20120110601368APC, Relator: JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA,
Revisor: VERA ANDRIGHI, 6ª Turma Cível, Data de
Julgamento: 10/12/2014, Publicado no DJE: 23/01/2015. Pág.:
5) (g.n.)

Deste modo, não merece reparos a r. sentença vergastada.


À vista do exposto, CONHEÇO da apelação NEGO PROVIMENTO,
mantendo integralmente a r. sentença combatida.
É como voto.

O Senhor Desembargador SILVA LEMOS - Revisor


Com o relator.

O Senhor Desembargador JOSAPHA FRANCISCO DOS SANTOS - Vogal


Com o relator.

DECISÃO

CONHECER. NEGAR PROVIMENTO. UNÂNIME

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