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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 60ª VARA DO

TRABALHO DO FORO DA COMARCA DE SÃO PAULO – TRT 02ª


REGIÃO.

Processo nº: 00066-2010-060-02-00-2

LL BERRINI CONFECÇÃO LTDA., devidamente


qualificada no Instrumento de Procuração, por seus advogados, nos autos da
RECLAMAÇÃO TRABALHISTA que lhe promove MAGNÓLIA CRUZ DE SOUZA,
em trâmite perante esse MM. Juízo, vem, respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, apresentar sua defesa na forma de

CONTESTAÇÃO

com fundamento nos artigos 297 e seguintes do Código


de Processo Civil e pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:

I. Da Ação e Seus Fundamentos:

1.- A Reclamante afirma em sua peça inaugural, que


laborou na primeira Reclamada durante o período de 05 de novembro de 2.009
a 17 de dezembro de 2.009, na função de vendedora. Sua jornada era de
segunda-feira a sexta-feira, das 10:30 às 19:00, e aos sábados, da 10:00 às
17:00, sempre com 01 (uma) hora de almoço. Percebia, á título de salário, o
valor de R$ 725,00 (setecentos e vinte e cinco Reais).

2.- Alega que foi demitida imotivadamente, após


comunicar ao empregador seu estado gravídico, deixando de receber o saldo
salarial, bem como, os demais direitos inerentes da relação empregatícia.

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Afirma que o empregador deixou de assinar sua Carteira de Trabalho,
frustrando-lhe com isto, todos os direito trabalhistas decorrentes.

3.- Requereu a reintegração no emprego – após os


pagamentos das verbas e multas fundiárias devidas, ou alternativamente,
indenização por danos morais e materiais, com o pagamento das verbas
salariais durante todo o período em que lhe seria garantida a estabilidade.

4.- Pleiteou ainda, o pagamento das verbas honorárias,


bem como, a condenação solidária da segunda Reclamada, apesar de não ter
esclarecido qual o vínculo existente entre as Requeridas, nem tampouco, a
relação entre ela – Reclamante – e a co-Reclamada.

II. Preliminarmente:

1. Da Inépcia da Petição Inicial:

5.- A petição inicial, não obedece aos requisitos do


artigo 282 e seguintes do Código de Processo Civil, razão pela qual deve ser
declarada sua inépcia.

6.- Ora MM. Juízo, a Reclamante não demonstrou, em


nenhum momento, nem através dos parcos documentos acostados com a peça
inaugural, nem em sua narrativa, qual seria a responsabilidade de cada uma
das Reclamadas, impossibilitando portanto, a individualização das defesas.

7.- Observa-se que, em não esclarecendo a Reclamante


qual a responsabilidade de cada uma das Reclamadas em relação ao seu
requerimento, impossível a elaboração da defesa, não havendo outra alternativa
senão a declaração da inépcia da peça inaugural.

8.- Da simples leitura da petição inicial, não decorre


logicamente a conclusão, nos termos do artigo 295, parágrafo único inciso II do
Código de Processo Civil, utilizado subsidiariamente nesta Especializada,
impossibilitando, conseqüentemente, a ampla defesa por parte das reclamadas.

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9.- A jurisprudência pátria é uníssona no entendimento
de que a inépcia da petição inicial pode ser conhecida mesmo depois de
contestada a ação:

“A inépcia da inicial pode ser reconhecida mesmo depois da contestação.” (STF –


RT 636/188; STJ – 3ª Turma, Resp. 39.927-0- ES, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j.
26.9.94, não conheceram, v.vu.; DJU 17.10.94, p. 27.892; RT 501/88; 612/80;
RJTJESP 45/195; JTA 105/286; 107/415)

10.- Assim, requer, desde já, seja reconhecida a inépcia


da petição inicial desta Reclamação Trabalhista, com seu conseqüente
indeferimento, extinguindo-se o processo nos termos do artigo 295, inciso I do
Código de Processo Civil.

2. Da Ausência de Pedido Individualizado:

11.- Do mesmo modo que, na narrativa de sua causa


de pedir a Reclamante não individualizou a responsabilidade de cada uma das
Reclamadas, no tópico destinado ao pedido, a Reclamante cometeu o mesmo
equívoco.

12.- Nota-se que a Reclamante, em nenhum momento,


individualizou o requerimento, sendo este genérico e desprovido de qualquer
fundamentação, restringindo-se a requerer a condenação solidária da Segunda
reclamada, sem sequer, especificar a relação que manteve com esta.

13.- Assim, em não especificando a Reclamante a qual


Reclamada refere-se cada pedido, bem como, em não havendo solidariedade
entre ambas – a qual não se presume, decorrendo apenas, de expressa
disposição em lei ou em contrato – mister se faz a extinção da presente lide por
ausência de pedido.

14.- A Lei processual determina que o pedido deve ser


certo e determinado, o que não ocorre no caso em análise.

15.- Dessa forma, requer desde já, pela extinção da


presente demanda por ausência de requerimento.

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3. Da Ilegitimidade Passiva da segunda Reclamada:

16.- Da simples leitura da peça inicial que inexiste


qualquer vínculo empregatício entre a Reclamante e a segunda Reclamada, não
podendo esta portanto, participar do pólo passivo da presente demanda.

17.- Ora, a única relação entre ambas as empresas é o


fato de comercializarem a mesma marca, não sendo nenhuma delas, sequer, a
titular dos direitos da marca, mas sim, simples revendedoras.

18.- Verifica-se pelo “catálogo” anexado (doc. 01), que a


marca é comercializada por diversas “filiais”, não havendo qualquer relação
entre estas. Aliás, faz-se mister frisar que, cada uma das lojas tem um
proprietário diferente, sendo inexplicável a inclusão da loja “Brás” no pólo
passivo desta lide.

19.- A Reclamante realmente prestou serviços a


contestante, sendo demitida por justa causa, conforme restará a seguir
demonstrado, não havendo razão para ter elegido, aleatoriamente, a segunda
reclamada para participar do pólo passivo desta lide.

20.- Assim, ante a absoluta ausência e relação entre


ambas as empresas, requer desde juá, seja declarada a ilegitimidade passiva da
segunda reclamada, com sua conseqüente exclusão da lide.

III. Do Mérito:

1.- Da Ausência de Comunicação da Gravidez ao Empregador:

21. – Inicialmente faz-se mister ressaltarmos que a


Reclamante, em nenhum momento, informou ao empregador, seu estado
gestacional, em prova inequívoca de má-fé.

22.- Conforme se pode ver pela peça inaugural, a


Reclamante trabalhou pouco mais de um mês na empresa Reclamada, ocasião
em que tomou ciência da gravidez.

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23.- Ocorre que, maliciosamente, deixou de informar
este fato ao seu empregador, vislumbrando um enriquecimento sem causa
decorrente da propositura de uma Reclamação trabalhiosta.

24.- Ora, impossível ao empregador, como a qualquer


homem médio, atestar visualmente uma gravidez na 04ª (quarta) semana, razão
pela qual, não há como imputar a Reclamada a obrigação de constatar o estado
gestacional da Reclamada, garantindo-lhe a estabilidade no emprego.

25.- Aliás, prezando pelo bom senso, nossos Tribunais


assim vêm se posicionando:

“GESTANTE - ESTABILIDADE – LICENÇA – A empregada despedida sem justa


causa não tem direito à garantia de emprego ou à indenização correspondente se
não informa seu estado de gravidez ao empregador e somente ajuíza a ação após
o parto. (TRT 12ª R. – RO-V . 8291/2001 – (02877/2002) – Florianópolis – 1ª T. –
Relª Juíza Sandra Márcia Wambier – J. 18.03.2002)”

“ESTABILIDADE GESTANTE - ABUSO DE DIREITO - A regra contida no art. 10o,


alínea "b" do ADCT deve ser interpretada em consonância com os demais
princípios insertos na Carta Magna, resultando lícita a conclusão e no sentido de
que a estabilidade visa garantir o nascituro, limitando o exercício do jus variandi
do empregador em relação à dispensa arbitraria da empregada gestante a partir
do momento em que se confirma a gravidez. Entretanto, dúvidas não restam e no
sentido de que a obreira, no momento da demissão, não tinha ciência de que
estava grávida, operando verdadeiro abuso de direito, ao deixar transcorrer a
quase totalidade da gestação para buscar o direito previsto no art. 10, "a" do
ADCT. (TRT/SP - 01995200831902000 - RS - Ac. 2aT 20090527199 - Rel. Odette
Silveira Moraes - DOE 28/07/2009”

26.- Resta claro que os julgados cujas ementas foram


transcritas prezam pelo bom senso, já que, não há como se falar em
estabilidade, se não há ciência da razão hábil a lhe dar causa.

27.- Merece ser destacado que ambos os julgados


mencionam a dispensa “sem justa causa”, o que efetivamente não foi o caso
dos autos, conforme restará a seguir demonstrado.

2.- Da Recusa da Entrega da CTPS:

28.- Deve-se ressaltar que a Reclamante foi contrata


em experiência, para exercer a função de vendedora.

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29.- Como ocorre com todos os funcionários que
iniciam o trabalho na Reclamada, foi solicitado à Reclamante,a apresentação de
sua Carteira de Trabalho, para registro e consignação expressa do período de
experiência.

30.- Ocorre que a Reclamante recusava-se a apresentar


o documento para registro, o que ocasionou sua demissão.

31.- Apesar da solicitação diária da Reclamada para


que a Reclamante apresentasse sua Carteira profissional, esta se esquivava,
com desculpas como “esquecimento”, o que ocasionou, após o primeiro mês de
trabalho, sua demissão.

32.- Posteriormente, após análise do autos, a


Reclamada constatou, através de consulta ao “Site” do Ministério do Trabalho,
que a Reclamante vinha recebendo o seguro desemprego mesmo tendo sido
admitida para prestar serviços na Reclamada (doc. 02).

33.- Ora, a Reclamada não pode ser punida péla


conduta criminosa da Reclamante, que buscou vantagens indevidas tanto da
Reclamada, quanto da Seguridade Social.

34.- Nota-se que, em 03 de dezembro de 2.009, a


Reclamante recebeu da Reclamada o valor de R$ 605,00 (seiscentos e cinco
Reais), devidos pelo período trabalhado(doc. 03).

35.- No entanto, em 20 de novembro de 2.009, ocasião


em que já estava trabalhando na Reclamante, recebeu o seguro desemprego.

36.- É sabido que é bastante comum o empregado


apresentar uma desculpa qualquer e recusar-se a entregar ao empregador a
CTPS, para fins de registro, posto que está recebendo o benefício do seguro-
desemprego.

37.- O Empregado com esta ação visa receber dois


salários, em um mesmo período, o relativo ao seguro-desemprego e o salário do
novo emprego, o que é totalmente ilegal.

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38.- Tal situação, se descoberta pela justiça, pune
tanto o trabalhador quanto o empregador, por ser conveniente. As penalidades
são de ordem administrativa, civil e criminal, razão pela qual, requer desde já,
seja oficiado o Ministério Público para apurar eventual fato criminoso por parte
da Reclamante.

39.- O E. Tribunal regional do Trabalho da 10ª Região,


já pacificou o tema, ao esclarecer no acórdão prolatado nos autos do Recurso
Ordinário nº 00738-2006-001-10-00-2, que o “A recusa da obreira em
apresentar a CTPS para os devidos registros, ergue-se justo motivo para
rompimento do pacto laboral,fundado na insubordinação do empregado à ordem
patronal de apresentação da carteira de trabalho para a anotação dos registros
exigidos por lei (artigos 13 e 29 da CLT).”(docs. 04/05)

40.- Dessa forma, resta demonstrada a má-fé da


Reclamada, além de comprovada a demissão por justa causa da mesma, razão
pela qual, deve ser a presente ação julgada totalmente improcedente.

3.- Do Contrato de Experiência e da Ausência de Estabilidade:

41.- Conforme já informado, a Reclamada estava em


período de experiência na Reclamada, razão pela qual, não há como se pleitear
estabilidade.

42.- O contrato de experiência caracteriza-se por ser de


prazo determinado, razão pela qual, inexiste a estabilidade pleiteada.

43.- Posiciona-se o contrato de experiência como uma


das modalidades excepcionais de contrato por prazo determinado que lhe
empresta a qualificação e a natureza jurídica, de tal sorte que todas as regras
aplicáveis ao contrato por prazo determinado também o são ao contrato de
experiência, afastando a necessidade da dação de aviso prévio e do pagamento
de indenização compensatória sobre o FGTS.

45.- Em que pese a Constituição federal ter garantido a


empregada gestante, estabilidade e garantia do emprego e do salário,
excepcionou-se que, em se tratando de contrato de experiência a jurisprudência
tem se encaminhado no sentido de não garantir o emprego à gestante,
cristalizando-se no entendimento da Súmula TST 260, assim redigida: “

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"No contrato de experiência, extinto antes do período de quatro semanas que
precedem ao parto, a empregada não tem direito de receber do empregador, o
salário-maternidade."

46.- Neste sentido, os Tribunais assim vem decidindo:

“Salário-Maternidade - contrato a prazo determinado - "em se tratando de


contrato por prazo determinado, a disposição de o empregador não mais
contar com os serviços da empregada, após o termo final respectivo, não dá
a esta o direito de reclamar salário-maternidade". (TRT- 1ª R., 2ª T., Ac.
Unân. RO 4.907/79 - ADCOAS-, 73.886).”

”Salário-Maternidade - "Término de contrato a prazo afasta o direito ao


salário-maternidade, pois não houve intuito fraudulento por parte do
empregador" (TRT, 1ª R., 2ª T., RO 9658/81, julgado em 14-09-82,
Repertório Jurisprudência trabalhista Lima Teixeira Filho, vol. 2º, ementa
3.379).”

“Contrato de Experiência - "Contrato de experiência é espécie do gênero


contrato por prazo determinado, que atinge seu termo final sem
interferência de qualquer das partes. A legislação voltada à proteção da
gestante procurou coibir a dispensa injusta, aquela decorrente de iniciativa
do empregador. Assim, inexistindo a dispensa sem justa causa, e existindo
sim, o termo final de contrato a prazo, não se justifica a condenação em
salário-maternidade, estabilidade provisória ou projeção do período no
contrato de trabalho. Revista conhecida e provida para restabelecer a
sentença de 1º grau" (Ac. TST - 1ª T (RR 4.255/85.3), DJ 19-12-85).”

“Contrato de Experiência - "Extinto o contrato de experiência, indevido o


salário-maternidade, pois neste caso está afastada a má-fé patronal na
rescisão do contrato de trabalho da gestante, hipótese que é presumível
apenas nos contratos por prazo indeterminado. Inaplicabilidade do
Enunciado n.º 142. Revista conhecida e improvida" (Ac. TST - 2ª T (RR
1.832/85.4), DJ 29-11-85).”

“Contrato de Experiência. "Desde que seja cumprido integralmente, não há


que se falar em salário-maternidade, posto que não houve dispensa
imotivada, mas, sim, término de contrato de experiência" (Ac. TRT 1ª R. 1ª
T. RO 9.946/85, proferido em 4-2-86.”

34.- Resta claro que estamos diante de uma tentativa


do Reclamante de locupletar-se indevidamente em detrimento das Requeridas,
já que requereu nesta demanda, verba que já lhe havia sido paga, posto que se
comprova pelos contratos ora juntados que o frete pago abrange também o
valor do pedágio.

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47.- Resta claro portanto, que a Reclamante não faz jus
a estabilidade requerida, já que, quando do término do contrato de trabalho,
por sua exclusiva culpa, estava vigindo seu contrato de experiência.

4.- Dos Honorários Advocatícios:

48.- No processo do trabalho, a condenação em


honorários advocatícios não decorre pura e simplesmente da sucumbência,
ante a vigência do ius postulandi, consoante decidiu o Supremo Tribunal
Federal (ADI 1127-8 - DF). A verba honorária é devida apenas nas hipóteses
previstas no artigo 14 da Lei 5584/70, segundo Enunciados 219 e 329, do
Tribunal Superior do Trabalho, o que não se verifica na demanda em questão.

IV. Do Requerimento Final:

49.- Desta forma, restam rebatidos todos os pontos


trazidos com a peça inaugural, requerendo seja acolhida a preliminar de
inépcia da petição inicial, extinguindo-se a ação sem análise do mérito.

50.- Requer sejam acolhidas as preliminares, com a


extinção da presente ação sem análise do mérito, contestando-se todos os
argumentos trazidos com a peça inicial, o qual não guardam relação alguma
com a veracidade dos fatos, conforme restou demonstrado

51.- Assim, “ex positis", tem a aduzir que improcede a


reclamação em todos os seus termos requerendo que seja a presente
Reclamatória julgada IMPROCEDENTE, restando contestados todos os termos
e documentos apresentados com a peça inaugural, como medida da mais lídima
JUSTIÇA!!!!

52- Por fim, requer sejam as intimações do presente


feito realizadas, a contar da data da juntada aos autos desta petição somente
em nome dos patronos AIRTON E. SOARES – OAB/SP 26.437 e CRISTIANE
R. F. BONIFAZI – OAB/SP 178.150., todos com endereço na Rua Madre
Teodora, nº 126, Jardim Paulista, São Paulo, SP.

Termos em que,
requer deferimento.
São Paulo, 28 de abril de 2.010.

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Cristiane Bonifazi – OAB/SP 178.150

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