Você está na página 1de 6

MÓDULO DE ELASTICIDADE – A VISÃO

DA CONCRETEIRA

Nos dias atuais é comum encontrarmos


especificações de projeto contendo exigências
de módulo de elasticidade. Na maioria das
vezes o valor adotado é obtido, simplesmente,
com o uso da fórmula contida na NBR
6118:2003

Uma simples e rápida análise da formulação


proposta pela NBR 6118:2003 nos leva a
concluir que a relação única, direta e
proporcional com a resistência características
(fck) pode e geralmente induz a erros, por
vezes significativos, de estimativa do módulo.

A própria Norma, de modo indireto, em seu


item 8.2.8 Módulo de Elasticidade, reconhece e
admite essa possibilidade ao afirmar:

“O módulo de elasticidade deve ser obtido


segundo ensaio descrito na ABNT NBR 8522,
sendo considerado nesta Norma o módulo de
deformação tangente inicial cordal a 30% fc, ou
outra tensão especificada em projeto. Quando
não forem feitos ensaios e não existirem dados
mais precisos sobre o concreto usado na idade
de 28 d, pode-se estimar o valor do módulo de
elasticidade usando a expressão.”
Eci = 5600 √fck (módulo tangente Inicial)

“O módulo de elasticidade secante a ser


utilizado nas análises elásticas do projeto,
especialmente para determinação dos esforços
solicitantes e verificação de estados limites de
serviço, deve ser calculado pela expressão:

Ecs = 0,85 Eci

A livre interpretação do texto normativo nos


leva a concluir que o módulo adotado deve ser
preferencialmente obtido por meio de estudos
experimentais e na impossibilidade de estudos
laboratoriais a norma admite o valor
encontrado de modo teórico.

Ora, como é possível para o responsável


técnico pelo projeto definir o módulo real do
concreto se a obra ainda nem começou e, na
maioria das vezes, não tem conhecimento se o
concreto será virado em obra ou será pré-
misturado, passando pelas condições de
armazenamento, mistura, transporte,
lançamento, adensamento, acabamento e
cura, tipo e dimensões dos materiais
componentes. Desconhecendo, também, o
nível do controle de qualidade a ser adotado?

Neste caso não resta outra opção para o


projetista a não ser adotar o valor do módulo
teórico.

Alguns tecnologistas, mesmo não


concordando, aceitam o fato até com certo
alívio visto que o texto da famosa NB-1-78 era
ainda mais irreal que o atual por adotar uma
formulação ainda mais distante da realidade:

Eci = 6600 √fcj

A revisão bibliográfica de diversos


pesquisadores demonstra um elevado nível de
concordância nos parâmetros que podem
influenciar para mais ou para menos os valores
de módulo, a saber:

 Teor de argamassa do concreto;

 Dimensão máxima do agregado graúdo;


 Composição mineralógica da rocha;

 Porosidade do concreto;
 Fator A/C;
 Resistência Característica;

 Uso de adições;
 Uso de aditivos;
 Condições de cura;

 Condições de ensaio.

Por sua vez os especialistas em Ciência dos


Materiais não abrem mão da densidade como
um parâmetro que não pode, em nenhuma
hipótese, ser omitido em formulações
envolvendo módulo de elasticidade.

Considerando-se o grande número de variáveis


que podem interferir, com maior ou menor
intensidade, na definição do módulo de
elasticidade, seja tangente seja secante, e na
falta de uma formulação teórica que possa
contemplar essas variações. Considerando-se
que os valores de rigidez dos elementos de
uma estrutura são fortemente impactados pelo
módulo de elasticidade secante e o momento
de inércia da seção bruta do concreto e,
também, por aspectos de fissuração e fluência
do concreto.

Apresentaremos a seguir, para garantir uma


maior rigidez das estruturas e minimizar os
casos de deformação excessiva das peças,
apenas como sugestão, fatores de minoração
que poderiam ser adotados durante o
dimensionamento das estruturas:

Fck (MPa) Fator de Eci (GPa) Eci (GPa)


Minoração Proposta NBR
6118:2003
20 0,950 23,8 25,0
25 0,925 25,9 28,0
30 0,900 27,6 30,7
35 0,875 29,0 33,1
40 0,850 30,0 35,4

A adoção dos valores propostos poderia, além


de garantir uma maior estabilidade das
estruturas, evitar conflitos comerciais
existentes entre empresas de serviços de
concretagem e construtor. Os primeiros não
aceitando associar automaticamente
resistência caraterística e módulo na
formulação em suas planilhas de custo e os
segundos não aceitando propostas comerciais
que façam distinção entre fck e módulo.

Eng.º Esdras Poty de França

Consultor Técnico em Tecnologia do Concreto

Você também pode gostar