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DISLEXIA

Segundo SELIKOWITZ (2001,p. 3), para melhor entender a causa da dislexia, é necessário
conhecer, de forma geral, como funciona o cérebro. Diferentes partes do cérebro exercem
funções específicas. A área esquerda do cérebro, por exemplo, está mais diretamente relacionada
à linguagem; nela foram identificadas três sub-áreas distintas: uma delas processa fonemas, outra
analisa palavras e a última reconhece palavras. Essas três subdivisões trabalham em conjunto,
permitindo que o ser humano aprenda a ler e escrever. Uma criança aprende a ler ao reconhecer e
processar fonemas, memorizando as letras e seus sons.

Ela passa então a analisar as palavras, dividindo-as em sílabas e fonemas e relacionando as letras
a seus respectivos sons. À medida que a criança adquire a habilidade de ler com mais facilidade,
outra parte de seu cérebro passa a se desenvolver; sua função é a de construir uma memória
permanente que imediatamente reconheça palavras que lhe são familiares.

À medida que a criança progride no aprendizado da leitura, esta parte do cérebro passa a dominar
o processo e, conseqüentemente, a leitura passa a exigir menos esforço.

O cérebro de disléxicos, devido às falhas nas conexões cerebrais, não funciona desta forma. No
processo de leitura, os disléxicos recorrem somente à área cerebral que processa fonemas. A
conseqüência disso é que disléxicos têm dificuldade em diferenciar fonemas de sílabas, pois sua
região cerebral responsável pela análise de palavras permanece inativa. Suas ligações cerebrais
não incluem a área responsável pela identificação de palavras e, portanto, a criança disléxica não
consegue reconhecer palavras que já tenha lido ou estudado. A leitura se torna um grande
esforço para ela, pois toda palavra que ela lê aparenta ser nova e desconhecida
(SELIKOWITZ,2001, p. 4).

No disléxico a idade de leitura costuma inferior à idade cronológica e esse déficit se traduz em
dificuldades e demora para ler; observa-se também grafia ruim e erros ortográficos ao escrever,
assim como omissão de letras e espelhamento.

A dislexia não tem cura, mas existem tratamentos que permitem que as pessoas aprendam
estratégias para ler e entender. A maioria dos tratamentos enfatiza a assimilação de fonemas, o
desenvolvimento do vocabulário, a melhoria da compreensão e fluência na leitura. Esses
tratamentos ajudam os disléxicos a reconhecer sons, sílabas, palavras e, por fim, frases.

Embora a maioria dos estudos recentes mostre que o déficit do processamento fonológico é a
causa mais comum de dificuldades específicas de leitura, nem todas as crianças com esta
condição têm este problema específico. Algumas crianças têm dificuldade na maneira como o
cérebro percebe as formas das letras, um déficit de percepção visual. Os cérebros destas crianças
“não são bons” em reconhecer ou interpretar as formas das letras, isto pode acontecer porque as
crianças com dificuldade específica de leitura freqüentemente confundem letras com “b” e “d”.
Algumas crianças agregaram a dificuldade fonológica à dificuldade da percepção visual. As
crianças disléxicas apresentam confusão com letras com grafia similar, mas com diferentes
orientações no espaço, como: “b-d”, “d-p”, “b-q”, “d-b”, “d-p”, “d-q”, “n-u” e “a-e”. A
dificuldade pode ser ainda para letras que possuem um ponto de articulação comum e cujos sons
são acusticamente próximos: “d-t” e “c-q”, por exemplo.

É aconselhável que a criança disléxica leia bastante em voz alta para que possa ser corrigida no
ato. Como os disléxicos costumam ser muito inteligentes, tendem a ativar outras áreas do cérebro
para compensar suas perdas de memória e concentração.
Muitos especialistas sugerem, inclusive, que pessoas disléxicas, por serem forçadas a pensar e
aprender de forma diferente, se tornam mais criativas e têm idéias inovadoras que superam as de
não-disléxicos. Pode não ser determinante, mas vale lembrar que algumas personalidades que se
tornaram célebres também eram portadoras desse distúrbio, entre elas o desenhista Walt Disney,
a escritora Agatha Christie, o inventor Thomas Edison e o ator Tom Cruise (que diz ter sofrido
muito no início da carreira para memorizar seus roteiros).

Estratégias de ensino:

 A consciência fonêmica consiste na capacidade de ouvir, reconhecer e usar os sons


individuais de uma palavra. Uma criança capaz de identificar que as palavras “paz”,
“parque” e “pão” começam com o mesmo som, por exemplo, está demonstrando essa
consciência fonêmica na prática.

 Semanalmente, dê aos alunos cartões de memória com letras e palavras. Elogie o bom
desempenho em memorizá-los.

 Dicas visuais ajudam indivíduos com dislexia a compreender materiais escritos. Faça uso
de cores ou marcadores no quadro-negro. Nos exercícios de matemática, escreva números
decimais em cores diferentes.

 Escreva cartões de notas. Isso dá aos estudantes algo tangível para ver e tocar. Pedir a
eles que leiam o cartão em voz alta também exercita suas habilidades motoras e auditivas.

 Você pode fazer uso de músicas, sons e cantos para ajudar as crianças a aprender.

 Se você está usando métodos de ensino explícito para explicar o que é a letra “s” a uma
criança, comece afirmando claramente o que ela aprenderá nesse dia. A seguir, demonstre
o som produzido por uma letra “s” e peça a ela que o repita. Você passará a demonstrar
algumas palavras diferentes que também começam com essa letra, pedindo a ela que as
diga em voz alta. É possível usar músicas, canções ou imagens de objetos que comecem
com a letra “s”. Por fim, você pedirá a ela que pense em alguns exemplos de palavras que
começam com essa consoante.

 Repita-se com frequência. Uma vez que crianças disléxicas podem apresentar
dificuldades com relação à memória de curto prazo, elas têm dificuldade para lembrar
daquilo que você diz. Repita instruções, palavras-chaves e conceitos para facilitar a
lembrança dos estudantes quanto ao que é falado em aula por tempo suficiente até, pelo
menos, poderem escrevê-lo.

 Ao desenvolver novas habilidades, continue a incorporar informações aprendidas no


passado. A repetição reforçará os conhecimentos anteriores e criará uma conexão entre os
conceitos existentes.

 Com frequência, estudantes com dislexia precisam de mais tempo e de instruções mais
intensas para aprender um conceito.
 Atenha-se a uma rotina diária. Agendas ajudam as crianças disléxicas a saber o que
esperar e o que virá a seguir. A sua rotina diária também deve incluir uma revisão diária
de informações passadas. Isso ajudará os estudantes a conectar lições anteriores àquela
que está ensinando no momento.

 Faça com que o estudante sente perto do professor. Colocá-lo nessa posição elimina
quaisquer distrações presentes e permite que a criança se concentre em suas tarefas. Se
ela for mantida perto de crianças que conversam muito ou de um corredor barulhento,
será ainda mais difícil para ela se concentrar.

 Use dicas visuais, como asteriscos e flechas, para destacar diretrizes ou informações
importantes. Anote instruções relativas aos deveres de casa diretamente na folha, para
que a criança saiba o que é esperado dela.

 Estudantes disléxicos precisam de mais tempo para copiar informações do quadro, fazer
anotações em aulas e escrever instruções para tarefas de casa.

 Os estudantes também devem ser estimulados a usar agendas pessoais e calendários, para
estarem sempre cientes das datas relativas à entrega de trabalhos, provas e outras
atividades.

 Use linguagem direta, clara e objetiva quando falar com o aluno. Muitos disléxicos têm
dificuldade para compreender uma linguagem excessivamente simbólica e metafórica.
Use frases curtas e concisas ao passar instruções.

 Fale olhando diretamente para o aluno. Isso ajuda, e muito.

 Reserve bastante tempo para a leitura, o disléxico precisa de tempo extra para ler e reler
os textos.

 A leitura deve ser feita por parágrafos, seguida de pequenas pausas.

 Peça ao aluno que faça um resumo oral do que leu.

 Se o disléxico perde a linha, utilizar um cartão ou régua para orientar a leitura e evitar
distrações

 Incentive-o a usar audiolivros e a assistir filmes. Alunos disléxicos precisam de estímulos


multissensoriais.

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