Você está na página 1de 48

Cagece

R E V I S T A

1
Ano I
Abril
Maio
Junho
Publicação da Companhia 2016
de Água e Esgoto do Ceará

As perspectivas
do reúso de água
no Ceará
A adoção de sistemas
de reutilização da água,
tanto por cidadãos quanto
por empresas, traz novos
pontos de vista em relação
ao consumo e busca fôlego
para o meio ambiente.

Estação de reúso do
complexo turístico
Beach Park.

Curta no Facebook Siga no Twitter


/cageceoficial @cageceoficial
Cuidar do meio ambiente.

Acesse o Site
www.cagece.com.br

Curta no Facebook
/cageceoficial

Siga no Twitter
@cageceoficial
Tá na hora.

Se nada for feito, com o tempo, os recursos naturais que tanto


necessitamos podem acabar. A Cagece tem feito a sua parte com
projetos como o Coleta Seletiva e o Reciclocidades, que, além de
preservar e proteger o meio ambiente, gera renda a pessoas carentes.
Não desperdice tempo. Faça você também a sua parte.

5 de junho. Dia do Meio Ambiente.


Cagece
R E V I S T A

Diretoria Executiva Assessoria de Comunicação


Diretor-presidente Superintendente
Neuri Freitas Josy Amaral

Diretor de Operações Assessora


Josineto Araújo Dalviane Pires

Diretor de Planejamento Comunicação Interna


e Captação de Recursos Aryane Barreto, Eva Silva e Jilwesley Almeida
Francied Mesquita
Imprensa
Diretor Jurídico Edilene Assunção, Érica Bandeira e Leonardo Costa
Sileno Guedes
Ambiente Web e TV Cagece
Diretor de Gestão Corporativa Aurélio Cavalcante, Bruna Moura, Guilherme Lima,
Dario Perini Luis Fernandes e Silvelena Gomes

Diretora de Mercado Publicidade


Claudia Caixeta Flávio Moura, Leandro Bayma, Liana Oliveira
e Tatiana Brígido
Diretor de Engenharia
José Carlos Asfor Fotografia
Deivyson Teixeira
Conselho de Administração
Presidente Patrocínio
Lucio Ferreira Gomes Joyna Sampaio

Conselheiros Administrativo
Neuri Freitas Alef Lima e Denyse Tomaz
José Elcio Batista
João de Aguiar Pupo REVISTA CAGECE
Manuel Gomes de Farias Neto Coordenação editorial
Alceu de Castro Galvão Júnior Dalviane Pires
André Macêdo Facó
Edição e Revisão
Conselho Fiscal Eva Silva e Liana Oliveira
Membros Titulares
Leandro Puccini Secunho (presidente), Projeto Gráfico e Diagramação
Ítalo Alves de Andrade, Karla Cardoso Leandro Bayma
de Alencar Forte, Bruno César Braga Araripe
e Eduardo Fontes Hotz Fotografia
Deivyson Teixeira e Marcos Studart
Membros Suplentes
Fábio José Pereira, Raíssa Pessoa Silva e Ruivo, Tiragem
Marcelo de Sousa Monteiro, Wilson Vasconcelos 1.000 exemplares
Borges Brandão Júnior e Ronaldo Moreira Lima Borges

Revista Cagece é uma publicação trimestral da Companhia de Água e Esgoto de Ceará – Cagece
Av. Dr. Lauro Vieira Chaves, 1030 – Vila União – CEP: 60.420-280 – Fortaleza - CE
www.cagece.com.br | facebook.com/cageceoficial | twitter.com/cageceoficial
Fale com a gente: revista@cagece.com.br

Distribuição Gratuita. Venda Proibida.


Editorial

Novos caminhos,
uma ÚNICA DIREÇÃO:
sustentabilidade

N
ossa revista tem novidades! A primeira delas vem logo na
capa: Revista Cagece. Antes denominada “Cagece da Gente”,
seu novo nome não é porque ela deixou de ser “da gente”,
colaboradores da Cagece, mas também porque passou a ser para
“mais gente”. Leitores que estão direta ou indiretamente ligados à
companhia, agora podem acompanhar um pouco do que vivemos.
Por isso, nesta edição, trazemos matérias mais abrangentes. Dis-
cussões que vão da sustentabilidade à qualidade de vida, passando
por mais uma importante batalha a qual o Ceará está travando: o
combate ao mosquito Aedes aegypti. Sobre esse assunto, conversamos
com o secretário de Saúde do Estado, Henrique Javi, que faz uma
avaliação deste cenário e nos fala sobre as ações de enfrentamento
ao mosquito que estão sendo realizadas pelo Estado. Neste embate,
alertamos para a importância da utilização da rede coletora de esgoto,
destaque na campanha “Mais saneamento, menos mosquito.”, do
Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), na diminuição das
doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
E como a escassez de água no Ceará não tem dado trégua, pelo
quinto ano consecutivo, a matéria de capa nos apresenta novos cami-
nhos a se percorrer no consumo de água: o reúso. Alternativa para
amenizar os efeitos da seca que se mostra cada vez mais urgente. Em
contrapartida, podemos nos emocionar com histórias de famílias que
mudaram de vida após a chegada de água encanada em suas casas.
Você pode conferir, ainda, as dificuldades que a Cagece tem enfren-
tado para garantir o bom funcionamento da rede de esgoto, frente aos
indícios de mau uso do sistema por parte dos usuários. Problemas
com o despejo de lixo e direcionamento incorreto de águas das
chuvas na rede são os principais causadores de ocorrências. Frente
a esta realidade, com a palavra, operários de obras de esgotamento
sanitário falam para a Revista Cagece e destacam a importância do
saneamento básico para a população.
E quem disse que do esgoto não sai coisa boa? Ainda nesta dis-
cussão, você conhecerá sobre um projeto desenvolvido pela Cagece,
em parceira com a UFC, que visa produzir energia renovável a partir
de subprodutos do esgoto gerado no município de Quixadá. E ainda
tem artigos com interessantes temas sobre economia e sustentabi-
lidade. Uma instigante crônica que nos faz refletir sobre mobilidade
urbana. E muito mais.

Boa leitura!

Assessoria de Comunicação Cagece


14
ponto de vista
Trabalho convertido
em qualidade
32
de vida pela visão ÁGUA EM
dos operários.
CASA
Histórias que se
cruzam com a
chegada de água
encanada em
comunidade
de Itapipoca.

19
desafio
Como garantir a
sustentabilidade do
sistema frente aos
indícios de mau uso
da rede.
08 sumário
COCÓ
SANEADO
Rede coletora de
esgoto do Cocó
deve ser concluída
e liberada ainda
este ano.

24
desafios do reúso
As possibilidades do uso de
37 água tratada para o consumo
industrial e as projeções para o
aproveitamento humano.
energia
limpa
Subprodutos do esgoto
serão reaproveitados
na geração de energia
renovável em Quixadá.

SEÇÕES

13 Artigo | O Brasil não


está para amadores

30 36 Artigo | Sustentabilidade:
um desafio constante

CHAT ON-LINE
Novo canal de comunicação
40 SANEAMENTO | Mais Saneamento,
menos mosquito

oferece contato direto e


instantâneo com a Cagece.
41 Entrevista | Henrique Javi,
secretário de Saúde do Ceará

45 Crônica | Exercício de paciência


ou novo estilo de vida
Com a conclusão das obras,
cerca de 54 mil pessoas
passarão a ter acesso
à coleta e tratamento
de esgoto nas novas áreas
atendidas pela Cagece
por LEONARDO COSTA fotos DEIVYSON TEIXEIRA

8 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
COCÓ
SANEADO
Cagece 9
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
Intervenção
na avenida
Washington Soares
para implantação
de nova rede
coletora de esgoto
em Fortaleza.

Os moradores da área leste de


Fortaleza, situados à margem direita
do rio Cocó, receberão, ainda em 2016,
nova rede de esgotamento sanitário
na região. É que a Companhia de
Água e Esgoto do Ceará (Cagece) tem
avançado na implantação da nova
rede coletora que irá beneficiar
os bairros localizados na área.

A
o todo, 75% da obra está de 57,10%. Com a nova rede em funcio-
concluída, e a expecta- namento, esse percentual passará para
tiva é que o restante do 65,10% de cobertura na cidade.
serviço seja finalizado Diversos trechos desta obra já pas-
até outubro de 2016. saram por intervenções na área leste. Os
Com investimento de R$ 111,3 milhões, serviços integram as ações da Cagece no
a nova rede vai contemplar diversos sentido de universalizar o esgotamento
bairros da área leste de Fortaleza. Os sanitário em Fortaleza.
recursos para execução do serviço Além das obras relacionadas às sub-ba-
foram captados por meio do Programa cias do Cocó, a Cagece ainda tem empreen-
de Aceleração do Crescimento (PAC) e dido esforços no sentido de captar recursos
do Tesouro Estadual. para atender às metas estabelecidas no
 Após a conclusão das obras, a nova Plano Municipal de Saneamento Básico
rede coletora possibilitará em torno de de Fortaleza, que visam a universalização
13,5 mil ligações intradomiciliares, o que do esgotamento.
significa dizer que, aproximadamente, Para garantir a universalização do ser-
54 mil pessoas passarão a ter acesso à viço, ainda é necessária a implantação
coleta e tratamento de esgoto nas novas de 28 das 48 sub-bacias localizadas no
áreas atendidas. município de Fortaleza. Para isso, seria
Atualmente, a cobertura de esgota- necessário investimento na ordem de
mento sanitário na capital cearense é R$ 1 bilhão de reais.

10 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
Obras do
macrossistema
de esgoto em
fase de conclusão

Outra importante obra que também


causará impactos positivos no esgo-
tamento sanitário de Fortaleza, é a
implantação do macrossistema de
esgoto. Orçada em R$ 97,5 milhões, a
obra está em fase final de execução, com
99% concluída. A tubulação implan-
tada será responsável por interceptar
a demanda de esgoto produzida pelos
bairros localizados nas duas margens
(esquerda e direita) do rio Cocó.
Com o macrossistema e as bacias da
margem direita do Cocó concluídos,
a Cagece ainda terá pela frente o
desafio de sensibilizar a população
para a importância da interligação à
rede de esgotamento, a fim de evitar
a contaminação de mananciais pelo
descarte inadequado do esgoto pro-
duzido pelos imóveis.
A companhia tem se empenhado para
aumentar a cobertura e a utilização da
rede de esgoto em Fortaleza, reduzindo
o uso de fossas sépticas e sumidouros
que podem contaminar os lençóis
freáticos e os corpos hídricos da capital.
Para se ter uma ideia, na capital,
63.642 imóveis não estão interligados
à rede disponível. Como forma de
reduzir esse número, a companhia
tem realizado, por meio da Gerência
de Interação e Responsabilidade Social
(Geris), visitas de sensibilização às resi-
dências, alertando sobre a importância
da interligação à rede.
Somente em 2015, a gerência rea-
lizou 57.392 visitas de sensibilização
às residências de todo o estado. Deste
total, 13.933 domicílios que ainda não
utilizavam o serviço passaram a se
ligar à rede. 

Cagece 11
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
Bairros beneficiados
Com o avanço das obras de esgotamento anos como: Parque Manibura, Cocó,
sanitário em Fortaleza, a Cagece garante Edson Queiroz, Cambeba, Salinas, Gua-
mais saúde e qualidade de vida para rarapes, Luciano Cavalcante, Cidade
a população da capital. As obras, que dos Funcionários, Cajazeiras, Parque
caminham para ampliar o acesso ao ser- Iracema, Barroso, entre outros. Veja no
viço em Fortaleza, vão beneficiar bairros mapa os bairros contemplados pela nova
que tiveram considerável crescimento rede de esgotamento das sub-bacias do
populacional e imobiliário nos últimos Cocó e macrossistema.

BARRA DO CEARÁ CRISTO


REDENTOR
VILA PIRAMBU FAROL
VELHA
SERVILUZ
ÁLVARO CAIS DO
JARDIM CARLITO PORTO
WEYNE PAMPLONA MOURA
IRACEMA
BRASIL PRAIA DE
JARDIM FLORESTA JACARECANGA
VILA MONTE IRACEMA
GUANABARA ELLERY CASTELO MUCURIPE
CENTRO MEIRELES VICENTE
ALAGADIÇO PINZON
QUINTINO PRESIDENTE
CUNHA KENNEDY SÃO GERARDO VARJOTA
PADRE FARIAS
ANDRADE PQ. BRITO ALDEOTA
PARQUELÂNDIA ARAXÁ JOSÉ PRAIA DO
ANTÔNIO BONIFÁCIO PAPICU FUTURO I
BEZERRA AMADEU BENFICA
PICI FURTADO RODOLFO JOAQUIM
TEÓFILO TÁVORA DIONÍSIO
BELA TORRES COCÓ CIDADE
AUTRAN DOM JARDIM FÁTIMA
NUNES LUSTOSA VISTA 2000
DAMAS AMÉRICA
PANAMERICANO BOM SÃO JOÃO DUNAS
GENIBAÚ DO TAUAPE PRAIA DO
COUTO FUTURO
CONJUNTO DEMÓCRITO FERNANDES PARREÃO FUTURO II
HENRIQUE ROCHA
CEARÁ I JORGE MONTESE SALINAS GUARARAPES
ALTO DA
JÓQUEI VILA BALANÇA
CLUBE UNIÃO
CONJUNTO JOÃO XXIII
CEARÁ II ITAOCA
AEROLÂNDIA
PARANGABA ENG° LUCIANO
AEROPORTO CAVALCANTE EDSON
BOM JARDIM DAS QUEIROZ
SUCESSO SERRINHA OLIVEIRAS
GRANJA PLANALTO
GRANJA PORTUGAL VILA MARAPONGA ITAPERI
DIAS
LISBOA PERI MACÊDO
PARQUE
MARAPONGA MANIBURA
CIDADE DOS SABIAGUABA
PARQUE DENDÊ FUNCIONÁRIOS SAPIRANGA/COITÉ
SÃO JOSÉ CASTELÃO
BOM JARDIM
JARDIM CEARENSE
MANOEL CAMBEBA
SÁTIRO MATA
PARQUE PARQUE
SIQUEIRA DOIS GALINHA CAJAZEIRAS IRACEMA
PASSARÉ ALAGADIÇO NOVO
CANINDEZINHO IRMÃOS
CONJUNTO
ESPERANÇA
MONDUBIM LAGOA REDONDA
PARQUE
SANTA
ROSA BARROSO
CURIÓ
PRESIDENTE
VARGAS PLANALTO MESSEJANA
AYRTON SENNA
PREFEITO JOSÉ GUAJERU
WALTER

JANGURUSSU COAÇU

Bairros atendidos ANCURI


PAUPINA
pelas três sub-bacias

PEDRAS

12 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
ARTIGO

O Brasil
não está
para amadores
por AURINEIDE LEMOS
aurineide.lemos@cagece.com.br

O
cenário não está favorável para a economia brasileira. Qual o impacto dessa taxa de juros para nós
O momento requer a combinação de medidas de curto consumidores?
prazo para estimular o crescimento com reformas Redução dos postos de trabalho: quanto mais alto o juro, maior
estruturais de longo prazo, principalmente no âmbito fiscal. o esforço do comércio e da indústria para manter seus níveis
Em nosso país (ou sobre ele), diversos fatores têm aumentado o de venda e produção e, com isso, elevando o grau de preocu-
nível de incerteza na economia: a perda do grau de investimento pação com o emprego, afetando a criação de vagas de trabalho.
pelas agências classificadoras de riscos; os juros altos (Selic); a Consumo: esse item é o estimulador do PIB – Produto Interno
inflação em níveis elevados; a crise política; a volatilidade do Bruto. O consumo das famílias é afetado diretamente pelo
câmbio; a depreciação da moeda brasileira e a queda na bolsa aumento da taxa de juros, pois o comportamento também
de valores. Tais eventos dificultam a tomada de decisões no é influenciado pelo desemprego, pelo endividamento, pela
setor corporativo e na vida do consumidor brasileiro. redução do crédito e pelo aumento da inflação que corrói os
Fatores externos também provocam ebulições, e um dos ganhos das famílias.
principais é a taxa básica de juros dos EUA, que tende a elevar Empréstimos: com o aumento dos preços dos bens e serviços,
as taxas de financiamento ao redor do mundo. o crédito fica mais caro também, freando o ímpeto de adquirir
bens e serviços. O juro do cartão de crédito vai “às alturas” e,
O que o Governo tem feito para controlar a consequentemente, ocorre o aumento da inadimplência.
alta da inflação? Investimentos: esse é o lado bom. Quem compra títulos do
O governo estabeleceu, em 1999, um sistema de metas de governo recebe mais quando a taxa de juros está com tendência
inflação. Esse modelo tem por objetivo diminuir e manter de alta. Os fundos de renda fixa ficam mais atraentes, princi-
a inflação em níveis baixos. No Brasil, a meta de inflação é palmente em relação à poupança, contudo, incidem imposto
de 4,5% ao ano, com intervalo de tolerância de dois pontos de renda e taxa de administração do banco.
percentuais para cima ou para baixo. A expectativa do Banco Inflação: a Selic é utilizada pelos bancos como um parâ-
Central é de encerrar o ano de 2016 em 7,31%. metro. A partir dela, os bancos definem quanto cobrarão por
Em um cenário de retração da economia e inflação alta, o empréstimos às pessoas e às empresas, elevando a prestação
Banco Central utiliza o principal instrumento de curto prazo do financiamento.
que é a política monetária, ou seja, a política de juros. A Selic, Um outro instrumento para controle da inflação no curto
segunda menor taxa de juros da economia brasileira, é usada prazo é o próprio controle de gastos do governo. Quando a
nas negociações de títulos públicos e serve como referência inflação está mais alta o governo deve gastar menos para não
para as demais taxas de juros da economia. expandir a demanda.
No longo prazo, o melhor instrumento para inflação é a
O que acontece quando o Banco Central expansão da capacidade produtiva, que aumenta a oferta de
aumenta ou diminui a taxa básica de juros-Selic? produtos e reduz os preços dos mesmos.
Ao aumentar a Selic, o Banco Central contém o excesso de A taxa básica de juros, Selic, é o instrumento utilizado pelo
demanda que pressiona os preços, porque os juros mais altos Banco Central para conter a inflação no curto prazo. Garantir
encarecem o crédito e estimulam a poupança. Em outras as condições para crescimento mais acelerado e inflação mais
palavras, diminui o consumo e o investimento fica mais caro, baixa no longo prazo depende de políticas e instrumentos
a economia desacelera, evitando que haja inflação, e há menos que estão fora do controle do Banco Central, e que devem
dinheiro circulando no mercado financeiro. Quando reduz os ser da responsabilidade de todo o governo, em especial dos
juros básicos, o crédito fica barato e incentiva a produção e o Ministérios da Fazenda e do Planejamento.
consumo, ou seja, tem mais dinheiro circulando.
A taxa básica de juros, a Selic, está em 14,25% ao ano, con-  AURINEIDE LEMOS é graduada em Contabilidade –
forme última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), Unifor; Especialista em controladoria – UFC e Mestre
realizada no início do mês de março deste ano. em Economia – UFC; Gerente financeira – Cagece.

Cagece 13
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
José Willame Pereira
Marcelino, 29,
exerce a função de
servente no setor
de saneamento e
tem cinco anos de
experiência.

14 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
benefícios do
saneamento pelo

olhar
dos operários
Trabalhadores de obras de esgoto
em Fortaleza falam para a Revista
Cagece e destacam a importância
do saneamento básico para a
qualidade de vida da população.

por EVA SILVA fotos DEIVYSON TEIXEIRA

Cagece 15
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
Leonardo
Alves da
Silva, 63, tem
40 anos de
experiência
no setor de
saneamento.

S
exta-feira, 14h30! Hora de responsabilidade de trabalhar. Acho a obra vai ser instalada. “Muitas
recolher equipamentos e bom. Foi por meio do meu trabalho que vezes ouvimos reclamação por
guardar ferramentas e mate- conheci quase todo o Ceará e já tive causa dos transtornos, por inter-
riais para encerrar o expe- oportunidade de trabalhar em outros ditar parte da rua ou pelo barulho,
diente de mais um dia de estados”. O Sr. Leonardo disse que já exe- mas sabemos que isso é passa-
labuta nos canteiros de obras da Compa- cutou muitas obras. Tantas que não sabe geiro, não será para sempre. O
nhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). contabilizar. “Os colegas ficam brincando benefício é bem maior”. Para ele,
O sol não dá trégua, e chega aos 37 graus comigo por causa da idade avançada, outro grande retorno do seu tra-
em Fortaleza. Apesar de usar capacete mas também brinco com eles: vocês não balho é a oportunidade de fazer
ou chapéu com proteção, a pele é bem vão chegar aonde eu cheguei”. Finaliza amizades. “Já fiz muitos amigos,
bronzeada do sol, mas não esconde o repetindo a frase já citada anteriormente: conheci muita gente, trabalhei
semblante de satisfação do dever cum- me sinto muito feliz! em várias cidades. É gratificante.”
prido em mais uma semana de trabalho. Com menos da metade da idade de O chefe de equipe, José Miguel
Leonardo Alves da Silva, 63 anos, tra- Leonardo, o servente José Willame Pereira da Silva, 57 anos, está no setor de
balha como pedreiro desde os 18 anos Marcelino, 29 anos, trabalha no setor há saneamento há 32 anos. Ele disse
de idade. São 45 anos de experiência. cinco anos. A experiência ainda é pequena que se sente realizado. “Saber que
Destes, 40 só no setor de saneamento. se comparada à do colega pedreiro, mas
Seu trabalho é desafiador. Na obra de uma suficiente para imprimir na mente de
das sub-bacias da margem direita do Rio Willame a importância de uma obra de
Cocó (CDs) é ele quem desce a três metros saneamento básico para uma cidade. Com Em todo esse
de profundidade para fazer a calha dos um jeito tímido, o olhar escondido por tempo, na minha
Poços de Visitas (PVs), na rede coletora trás de um chapéu, ele reconhece esse
de esgoto. “É um trabalho difícil. Se o fato e destaca: não estamos servindo só profissão, nunca
calor aqui fora é grande, lá embaixo é três a população, mas a nós mesmos. Uma ocorreu nenhum
vezes maior, mas me sinto feliz e agradeço
muito a Deus pela minha profissão e por
obra dessas tem a sua importância porque
evita esgotos escorrendo na rua. Por meio
acidente nos
trabalhar numa área que traz benefícios do nosso trabalho a empresa preserva a trechos que já
para a vida das pessoas”, disse. saúde das pessoas”, disse Willame. trabalhei.
E continua. “Foi com o meu trabalho Ele lembra que o início da obra é sempre
que criei meus seis filhos, hoje todos mais difícil, pois gera um certo constrangi-
independentes, mas ainda me sinto na mento para os moradores dos trechos onde José Miguel da Silva, 57

16 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
José Miguel
da Silva, 57,
é chefe de
equipe e está
no setor de
saneamento
há 32 anos.

Se o calor aqui fora é grande,


lá embaixo é três vezes maior,
mas me sinto feliz e agradeço
muito a Deus pela minha
profissão e por trabalhar
numa área que traz benefícios
para a vida das pessoas.

Leonardo Alves da Silva, 63

as pessoas recebem água em casa ou que o


esgoto está sendo coletado me deixa feliz,

Desafios para a
pois contribuo com a obra”. Ele comenta
que trabalha com muita dedicação, e por
isso já recebeu elogios.
“Em 2009, quando executava uma
obra na rede de esgotamento sanitário universalização
da SD6 (sub-bacia da margem direita do
Siqueira), onde trabalhava como chefe de Com base nos índices de cobertura na capital e 26,20% no interior.
turma de escoramento, o engenheiro da de água, pode-se considerar que Porém, a Cagece está buscando
Cagece, Maurílio Banhos, disse que eu o atendimento com os serviços de soluções. Vários empreendimentos
era o melhor nessa área. Isso marcou a abastecimento de água no Ceará estão em andamento e outros
está praticamente universalizado, previstos para iniciar. Com isso,
minha vida e me motivou ainda mais. Pro-
mesmo com a escassez hídrica que a companhia prevê alcançar uma
curo sempre dar o meu melhor. Em todo atualmente assola nosso estado. cobertura de esgoto de 65,10% na
esse tempo de profissão, nunca ocorreu De acordo com o diretor José capital e 28,09% no interior.
nenhum acidente nos trechos que traba- Carlos Asfor, com relação ao “Com o objetivo de universalizar
lhei”, disse emocionado e apressando-se abastecimento de água, o desafio a prestação de serviços de
para encerrar a entrevista. “Pronto, posso maior é a convivência com a seca. esgotamento sanitário na capital,
liberar meu pessoal?”. “Nesse caso, a solução é termos foram contratadas operações junto
Para o diretor de engenharia da Cagece, diferentes fontes alternativas de ao Ministério das Cidades para
José Carlos Lima Asfor, o saneamento água para atender a população, elaboração dos projetos executivos
se caracteriza como o conjunto de ações envolvendo o aspecto humano, referentes às bacias remanescentes
socioeconômicas que têm por objetivo industrial e agrícola. Entre essas do Cocó, Siqueira e Miriú.
alternativas, podemos destacar a Entretanto, para a execução
alcançar salubridade ambiental. “Dessa
dessalinização e o reúso”, disse. das respectivas obras, é
forma, toda vez que a Cagece realiza
Com relação à oferta dos serviços fundamental que haja ampliação
alguma intervenção em água e esgoto de esgotamento sanitário, o do nível de investimento atual
está prevenindo doenças, principalmente grande desafio é a universalização para que possamos atingir a
as de veiculação hídrica, preservando o desses serviços. Atualmente, a universalização dos serviços de
meio ambiente, protegendo os recursos cobertura para esgoto é de 57,10% esgoto na capital e no interior”.
hídricos e gerando melhores condições de
vida para a população”, destaca.

Cagece 17
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
O caminho das obras
Encaminha projeto,
documentação
institucional,
regularização de área,
licença ambiental
e projeto de
Recebimento Sim Projeto apto Submete a processo trabalho social
Projeto existe? para captar de seleção de
da demanda para análise do
recurso captação de recurso órgão financiador
Não

Entra na matriz Não Sim


Projeto
de priorização de
Selecionado?
elaboração de projeto

Projeto
Não Aprovado?

Sim
A Cagece possui um plano de
investimento onde congrega
todos os projetos que pretende R$ 1 bilhão de reais Elaboração do
processo de
executar para universalizar os licitação
serviços de água e de esgoto, que
é a busca maior da empresa, além Valor do investimento atual da Cagece em obras,
das demandas que ela recebe considerando os empreendimentos concluídos Licitação é realizada
da sociedade, do governo, dos em 2015, somados aos que se encontram em na Procuradoria
municípios, entre outros. Confira, andamento e aos que estão previstos para iniciar Geral do Estado
acima, o fluxo simplificado do esse ano. Este portfólio de obras engloba,
caminho das obras.  aproximadamente, 90 empreendimentos.
Licitação
concluída
Algumas obras em andamento
Saneamento da Margem Bairros beneficiados: Edson Queiroz, Guararapes, Emissão da
Direita do Rio Cocó Jardim das Oliveiras, Cidade dos Funcionários, Ordem de Serviço
(CD 1, 2 e 3) Parque Manibura, Parque Iracema, Engenheiro
R$ 103,5 milhões Luciano Cavalcante e Cajazeiras.

Execução
Macrossistema de Coletar e transportar os efluentes das da Obra
esgoto de Fortaleza sub-bacias do Rio Cocó (CE-4, CE-5, CE-6,
CD-1, CD-2, CD-3) até o seu destino final
R$ 82 milhões (Estação de Pré-condicionamento – EPC). Conclusão
da Obra
Ampliação do Sistema de
Esgotamento Sanitário Ampliação da cobertura de esgotamento Prestação de contas
de Horizonte sanitário de 13,41% para 48,98%. com o órgão financiador
e encerramento
R$ 23 milhões do contrato

Ampliação do Sistema Tansferência de


Adutor do Complexo ativos para
a operação
Integrado Jaburu - Ramal Incremento da capacidade operacional
Principal e Norte – Serra dos sistemas de Tianguá e Viçosa.
da Ibiapaba
Liberação
para utilização
R$ 20 milhões

18 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
Con
esgoto
ges
tio
nA
do
por lEonARDo coSTA e BRunA mouRA
fotos DEIVYSon TEIxEIRA
ilustrações SIlVElEnA GomES

Cagece
Cagece 29
19
R E VRI ES T
VAI SD
T A
A

Abr-JuN 2016
Com a implantação da
nova rede de esgotamento
sanitário, cerca de 54 mil
pessoas serão beneficiadas
e passarão a ter acesso
à coleta e tratamento de
esgoto nas novas áreas
atendidas. Com a obra
concluída, a cobertura de
esgotamento sanitário na
capital passará para 65,10%.

P
revenir, monitorar e atuar Para manter o pleno funcionamento
em todas as ocorrências de da rede coletora de esgoto, a Cagece
extravasamento de esgoto. tem realizado, diariamente, manutenção
É essa a meta da Compa- preventiva e corretiva, além de ações
nhia de Água e Esgoto do rotineiras de desobstrução, desasso-
Ceará (Cagece) para manter e garantir reamento, substituição de trechos de
o bom funcionamento da rede de esgo- tubulação, entre outras medidas para
tamento sanitário, frente aos indícios evitar transbordamentos.
de mau uso do sistema que prejudicam Durante os trabalhos, é comum encon-
a passagem do fluxo de esgoto na rede trar nas tubulações de esgoto panos,
coletora. Aliado a isso, a companhia plásticos, pedaços de madeira, garrafas
ainda enfrenta dificuldade na renovação pet, absorventes, preservativos, óleo de
dos ativos, uma vez que a tarifa prati- cozinha e outros materiais que são des-
cada não permite investimentos nesse cartados de forma inadequada na rede.
sentido, o que impõe outro desafio, o de “O esgoto doméstico deve ser com-
garantir a sustentabilidade do sistema. posto por 99% de água. É esse tipo de
 “Atualmente, a tarifa praticada pela material (descartado de forma inade-
Cagece mal dá para cobrir a manutenção quada) que acumula e provoca inter-
do sistema. Recentemente, passamos por rupções e barramento do fluxo normal
uma recomposição da tarifa, mas, como do efluente, gerando obstruções e extra-
o próprio nome diz, teve o objetivo de vasamentos em vias públicas. Isso sem
recompor o que já havia sido investido falar que a presença deles na rede pro-
pela companhia em anos anteriores”, porciona maiores custos na operação
destaca Josineto Araújo, diretor de ope- dos sistemas”, explica Rômulo Amado,
rações da companhia. supervisor de macrocoleta da Cagece.

20 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
Somente em 2015, a companhia
realizou cerca de 90 mil
desobstruções de esgoto, uma
média de 250 por dia. Desse total,
cerca de 81 mil foram executadas
somente na capital, e outras nove
mil nos municípios do interior,
operados pela companhia.

Somente em 2015, a companhia rea- a colapsar. É exatamente o incremento


lizou cerca de 90 mil desobstruções de desta água que promove o transborda-
esgoto, uma média de 250 por dia. Desse mento do efluente”, ressalta Rômulo.
total, cerca de 81 mil foram executadas Josineto explica também que ligações
somente na capital, e outras nove mil de esgoto realizadas clandestinamente
nos municípios do interior, operados na rede de drenagem pluvial provocam
pela companhia. danos graves ao meio ambiente. Isso
Além do descarte inadequado de mate- ocorre porque os resíduos são descar-
riais, outros fatores ainda interferem tados sem tratamento, poluindo rios,
no funcionamento da rede de esgoto. lagos, mares e outros mananciais. O
Entre eles, a conexão de águas pluviais diretor esclarece que há penalidades para
no sistema de esgotamento. A ação, que quem utiliza a rede de forma incorreta,
parece comum e quase cultural, acaba geridas entre a Cagece e as secretarias
sobrecarregando o sistema e provocando de meio ambiente de cada município ou
transbordamentos de esgoto, não só em órgãos do ministério público.
vias públicas, como nas próprias calçadas Diante disso, a Cagece também espera
dos usuários, onde estão localizadas as contar com a colaboração da população
caixas de inspeção, que interligam os para garantir o bom funcionamento da
imóveis à rede da Cagece. rede. Constantemente, a companhia tem
“O sistema de esgotamento sanitário buscado, pelos diversos meios de comu-
não foi projetado para receber o volume nicação, assim como ações de sensibili-
de águas pluviais. Desta forma, sempre zação de porta em porta, fazer com que
que estas águas são lançadas na rede de a população utilize a rede corretamente,
esgoto, temos que enfrentar uma situ- como forma de evitar ocorrências de
ação onde o sistema fica mais propenso esgoto nas cidades atendidas.

Cagece 21
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
Conjunto
de peneiras
rotativas
da EPC que
separam
os resíduos
sólidos.

600 toneladas de lixo são


acumuladas na rede de
esgoto em Fortaleza
Somente em Fortaleza, a Cagece já chegou a retirar aumento da demanda pelo serviço de coleta de
cerca de 600 toneladas de resíduos sólidos, em um esgoto, especialmente, motivada pelo crescimento
único mês, na Estação de Pré-Condicionamento de populacional e imobiliário em Fortaleza. Para
Esgoto (EPC). A estação recebe, por mês, cerca de execução da obra, a Cagece investiu, com recursos
648 mil m³ de efluente coletado em toda a cidade. próprios, cerca de R$ 871 mil.
Na capital, a companhia tem investido em ações Devido à localização geográfica da área, muita
preventivas e corretivas para garantir o bom fun- areia acaba sendo carreada para a tubulação, con-
cionamento da rede de esgotamento sanitário. Este tribuindo ainda mais para as obstruções. Por isso,
ano, a companhia realizou intervenções pontuais além da intervenção de melhoria com implantação
de melhoria em áreas onde a rede disponível já da nova tubulação, a área também passa por cons-
apresentava insuficiência para a demanda. tantes medidas preventivas como desassoreamento
Nos bairros Mucuripe e Praia do Futuro, por das tubulações de esgoto.
exemplo, a Cagece realizou instalação de nova “Com a nova tubulação em funcionamento e as
tubulação na rede de esgoto, que teve por objetivo medidas preventivas adotadas pela Cagece, temos
a melhoria do funcionamento da rede coletora conseguido melhorar o funcionamento da rede
da área. A intervenção foi necessária devido ao nessas áreas tidas como críticas”, diz Josineto Araújo.

Materiais mais comuns Materiais inusitados


encontrados na rede de também são encontrados
esgotamento sanitário

Sacolas Plásticas Absorventes Ratos Mortos Cone de Trânsito

Preservativos Garrafas Pet Capacete Cocos

22 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
Rede de Rede de
Esgoto Drenagem
Esgoto transbordando na rua? A
quem recorrer para solucionar o
problema? Antes de acionar um
órgão para o reparo, compreender a
diferença entre rede de esgoto e rede
de drenagem pluvial é fundamental.
Parte da população costuma con-
fundir as redes coletoras de esgoto
com as redes de drenagem pluvial e,
por essa razão, utilizam os sistemas
de forma errada. O sistema de esgoto
no Brasil é definido como separador
absoluto. Mas o que isso quer dizer?
Que o sistema de esgotamento
sanitário foi criado com o objetivo
de separar os esgotos domésticos e
industriais das águas pluviais, ou
seja, cada material deve ser dire-
cionado para um sistema inde-
pendente. Assim, a rede coletora
de esgoto, mantida pela Cagece,
recolhe o esgoto das residências e
indústrias e o direciona até uma rede
coletora. Já a rede de drenagem, de
responsabilidade do município, per-
mite o escoamento direto das águas
das chuvas para os mananciais.
Saber identificar as diferenças
entre rede coletora de esgoto e rede
de drenagem pluvial é essencial para
garantir a boa utilização de ambas.
Os conhecidos bueiros, por exemplo,
pertencem à rede de drenagem, e
situam-se sempre paralelos às cal-
çadas. Já os poços de visita (Pvs),
integrantes da rede coletora de
esgoto, ficam mais distantes das
calçadas, são redondos e fechados,
e possuem a inscrição da Cagece.

Cagece 23
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
24 Cagece ABR-JUN 2016
R E V I S T A
RE
Ú caminhos a
se percorrer

SO
no consumo
de água
por CAIO FAHEINA
fotos DEIVYSON TEIXEIRA
ilustrações SILVELENA GOMES

Cagece 25
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
O convívio dos cearenses com a
seca não é novidade. E mesmo
enfrentando as dificuldades
com a falta de recursos hídricos,
a população sempre buscou
alternativas para reaproveitar o
pouco que tinha. Durante 2016,
quando se registra o quinto ano
consecutivo de seca, o desafio
de conjugar o verbo reutilizar se
ampliou não só para o cidadão,
mas se estende para as empresas.
O projeto de reúso na estação
da Cagece em Tianguá aplica
água tratada no plantio de
maracujazeiros amarelos.

N
Os frutos são doados,
posteriormente, a ONG's.
unca se falou tanto em pela companhia, em parceria com o
água nos últimos cinco Instituto Federal de Educação, Ciência
anos no Ceará. Ou e Tecnologia do Ceará (IFCE) e com o
melhor, na pouca quan- Conselho Nacional de Desenvolvimento
tidade do recurso. Depois Científico e Tecnológico (CNPq).
de meia década convivendo com a falta O coordenador do programa, Cleyan-
de chuvas, principalmente nas regiões derson Freitas, ressalta que o reúso de
interioranas do estado, possibilidades água é uma importante estratégia hídrica
de reutilização de água tornam­-se uma para evitar o desperdício. O maior desafio
opção viável para driblar o agravamento da adoção da técnica pelas empresas ainda
da escassez hídrica – que já se espalha é a falta de informação e, consequente-
pelos centros urbanos. mente, o preconceito. “Se um jardim for
Diante de um cenário em que as difi- regado com água de esgoto tratada, ou se
culdades apenas vão sendo amplificadas, a fruta for proveniente de plantação que
algumas empresas têm apostado em alter- use este método, as pessoas têm nojo”.
nativas. E estão sendo eficientes. Desde De acordo com o engenheiro agrônomo,
janeiro de 2015, por exemplo, a Compa- outro fator que dificulta a adesão a pro-
nhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) jetos de reúso de água por instituições
desenvolve um projeto piloto em reúso de é a falta de empresas especializadas em
água no município de Tianguá, distante garantir e dar sustentabilidade ao serviço.
335 km da Capital. “A maior parte da demanda hídrica, quase
No local, a água de esgoto doméstico é 70%, é utilizada na irrigação. Se a água
tratada e aplicada no cultivo de maracuja- utilizada para o trabalho fosse a de reúso,
zeiros amarelos, que, posteriormente, são com certeza, haveria economia”, resume.
doados a organizações não governamen- Além deste trabalho, a Cagece, como
tais. O projeto foi aprovado e financiado participante de uma Sociedade de

26 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
Praticando o reúso
dentro de casa de
forma simples

Novos projetos 1
Com recursos captados da no município de Caucaia.
Agência Nacional das Águas Inaugurada em 2013, a água
(ANA), a Cagece requalificará tratada pela estação foi utilizada Durante o banho, pode-se aparar a água
o Centro de Pesquisa sobre para regar canteiros e praças do – que seria direcionada no ralo – com
Tratamento de Esgoto e Reúso município até o fim de 2014. uma bacia. A água coletada pode ser
das Águas, no município de Hoje, o serviço é usado para reaproveitada na lavagem do banheiro,
Aquiraz, no fim deste ano. abastecer caminhões a jato, por exemplo.
Desativado desde 2011, pela operados pela companhia para
não renovação do convênio desobstruir a rede de esgoto.
com a Universidade Federal do Em média, são economizados
Ceará (UFC), o prédio retomará
as atividades de pesquisa e
permitirá visitas, principalmente
300 m³ de água por mês por
cada caminhão em atividade.
Para garantir a sustentabilidade
2
de agricultores, para atividades e o aprimoramento do
voltadas à educação ambiental. tratamento de esgoto, a ETR
Além deste centro, a utiliza tecnologia alemã. A Na cozinha, a água proveniente do
Cagece atua efetivamente vantagem encontra-se no cozimento de legumes, por exemplo,
com o sistema da Estação de baixo custo de implantação e é extremamente rica em sais minerais
Tratamento de Reúso (ETR), no funcionamento em espaços e vitaminas. Utilize essa água para
localizada no bairro Guadalajara, pequenos. cozimento de outros alimentos ou mesmo
no preparo de pratos, tais como sopas.

Propósito Específico (SPE) – uma


organização restrita, podendo
ter prazo de existência determi-
nado –, estuda a possibilidade
de tratamento da água residual
3
da Estação de Pré-Condicio-
namento de Esgoto (EPC) para
ser utilizada especialmente em A água das chuvas, que escoa de
indústrias do Complexo Indus- pavimentos domésticos, tal como o
telhado, pode ser direcionada por uma
trial e Portuário do Pecém (Cipp).
calha para uma cisterna ou para uma bacia
Segundo Ronner Gondim, ou balde. Assim, é possível aproveitar essa
superintendente de sustentabili- água para diversos afazeres, como regar
dade da companhia, a proposta irá plantas ou lavar uma área.
diversificar as fontes e aumentar
a garantia de fornecimento de
água, já que a única forma de
o complexo garantir o recurso
é por meio da compra de água
bruta da Companhia de Gestão
4
dos Recursos Hídricos (Cogerh).
“Reutilizar beneficia não só o meio
ambiente, evitando o lançamento A água que sai da máquina de
de poluentes, como favorece a lavar também pode ser reutilizada,
principalmente na descarga de bacias
disponibilidade de água para o
sanitárias e lavagem de banheiros.
abastecimento humano. E, claro, Para isso, basta armazená-la.
há ganhos econômicos”, completa.

Cagece 27
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
Bate-papo
Saiba mais Com estudos voltados à prática
do reúso, o engenheiro civil,
Na tentativa de combater – ou amenizar – o quinto ano pesquisador e professor da
consecutivo de estiagem, um pacote de medidas foi Universidade Federal do Ceará
encaminhado à Assembleia Legislativa pelo governador (UFC), Suetônio Mota, conversou
Camilo Santana (PT) em março deste ano. com a Revista Cagece para
Além da adoção de sistemas de reutilização de água por
explicar os desafios da prática
órgãos estaduais, o plano inclui incentivos tributários e um
programa de apoio à pesquisa científica para a área.
de reutilização de água no Ceará,
A ideia é fazer com que o Governo possa servir de mostrar os preconceitos que ainda
exemplo e promover o consumo consciente da água. cercam a atividade e prospectar o
futuro do reúso. Confira!

Cases de sucesso
Revista Cagece – Não é novi-
dade a adaptação do cearense à

em reúso de
estiagem. Porém, ultimamente,
estamos ouvindo o termo “reúso”

água no Ceará
com mais frequência, embora a
prática já seja utilizada há muito
tempo, principalmente por quem
mora no interior do estado. Por
Um dos maiores parques aquáticos do mundo, sendo o maior que, agora, a reutilização da água
da América Latina, o Beach Park optou por reduzir o consumo está mais evidente?
de recurso hídrico há 7 anos, quando foram implantados 800 Suetônio Mota – Na realidade, o
metros de rede coletora para atender ao complexo turístico, que reúso de água é algo que já se pra-
compreende o parque aquático e três hotéis. Antes, operando tica no mundo há muito tempo.
com água comprada de carros-pipa, o sistema já reutiliza 100% Há uns 30 anos, eu tive a oportu-
da água proveniente de esgoto tratado. nidade de ir aos Estados Unidos
De acordo com a coordenadora de meio ambiente do com- para visitar dois grandes sistemas
plexo, Raíssa Bisol, mesmo com a capacidade total de reúso, de reúso: um de irrigação, usando
o parque só utiliza 80%. “Conseguimos gerar mais do que a o esgoto tratado, e outro de injeção
demanda, isso é ótimo”. Cerca de 1.200 m³ da água tratada de esgoto tratado no solo para pos-
são usados para regar jardins e fazer a limpeza da frota de terior captação e, inclusive, abaste-
ônibus da empresa. Raíssa alerta, ainda, para a sensibilidade cimento humano. Isso era no fim da
ambiental, que, segundo ela, as instituições visam o gasto em década de 70. Voltando (ao Brasil),
vez da sustentabilidade. “A gente não tem outro lugar para nós fizemos uma pesquisa – uma
habitar”, preocupa-se. das primeiras pesquisas feitas no
Outra empresa que também aderiu à ação foi a M Dias país, inclusive, foi feita por mim
Branco. A companhia de alimentos instalou um sistema de com o apoio da Cagece. Naquela
reutilização do efluente tratado em setembro de 2015 para época, não havia um interesse da
evitar a retirada de água de mananciais. A gerente de meio população sobre a necessidade
ambiente da indústria, Aricelma Ribeiro, conta que já consegue do reúso. Com o agravamento da
utilizar 40% da água reaproveitada. “Buscamos o uso total, mas crise hídrica, principalmente no
precisamos readequar o sistema de aspersores”. Sudeste, uma vez que é de lá que
A técnica em saneamento ambiental diz, ainda, que é impor- vem a grande mídia, houve uma
tante o papel das empresas em mostrar um olhar mais atento à discussão em nível nacional sobre
escassez hídrica que assola o estado. “As condições climáticas o reúso, que se refletiu nas outras
estão difíceis. E percebemos que, fora da capital, a situação é partes do Brasil, embora estivés-
mais complicada. Diante deste cenário, é preciso uma educação semos lutando (contra a falta d’água)
ambiental”, conclui. há alguns anos. Esse despertar é

28 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
o retorno paga este gasto. Um
exemplo: se uma edificação faz
o reúso das águas cinzas (prove-
nientes de chuveiros, pias, que
não contêm fezes), ela econo-
miza cerca de 30% do consumo
de água. Obviamente, pagará
menos na conta de água, dimi-
nuindo, também, a taxa de esgoto.
Mas ainda existe o preconceito,
que faz a população pensar que
usar água de esgoto (tratada) pode
trazer algum risco. Outro fator é
a falta de conhecimento de que
é possível fazer. Infelizmente, há
uma resistência.

RC – Temos avanço em pesquisas


consequência de dois aspectos: o RC – O pacote de propostas para nesta área?
primeiro é o agravamento na crise que os órgãos públicos adotem SM – Sim, estamos avançando.
hídrica, principalmente no Ceará, sistemas de reutilização de água, Isso se deve, principalmente, com
que já vem entrando no quinto ano encaminhado pelo governador o envolvimento da Universidade
de seca; e pela divulgação em massa Camilo Santana à Assembleia Federal do Ceará com a Cagece,
da crise que ocorreu no Sudeste Legislativa, pode incentivar a que, há mais de dez anos, tem
dois anos atrás. população? colocado à disposição esse sis-
SM – Eu acredito que é um meca- tema. Já implantamos um centro de
RC – A população, então, vem nismo bastante forte, que é uma lei pesquisa em Aquiraz, especifica-
praticando o reúso de água de que obriga as entidades públicas a mente pra irrigação e piscicultura.
forma mais intensa a partir destes fazerem esse reúso. Porém, acho Isso (a implantação) gerou muitas
aspectos? necessário que isso seja ampliado. informações, que encontram-se
SM – Sim! Hoje há uma consciência Em outros lugares do Brasil, nós disponíveis. O que falta é partir
maior tanto pela população quanto vemos que já existem leis que da pesquisa para a prática. Assim,
pelos empresários, que já aplicam obrigam a rede privada a fazer o teremos água o ano inteiro, porque
o reúso nas indústrias, principal- reúso, como é o caso das grandes todos os dias nós produzimos
mente em construtoras, implan- edificações que produzem maior esgoto, independendo de chuva
tando (o sistema) nas edificações. volume de esgoto. ou de gestão hídrica, em termos
Eu sinto falta é de um envolvimento de armazenar e transportar água.
mais forte do setor público. Embora RC – A resistência por parte das
nós tenhamos desenvolvido muitas empresas, que, hoje, ainda evitam RC – Enquanto pesquisador,
pesquisas, basicamente, elas fica- implantar um sistema desse porte, como o senhor enxerga a prática
ram só no papel. Há uma necessi- é motivada pelo custo ou pelo do reúso no futuro?
dade dessa intervenção, principal- preconceito com água tratada? SM – Não é um processo tão
mente, nas duas maiores linhas de SM – O custo é alto, na realidade, rápido, pois há a necessidade de


estudo: irrigação, usando esgoto no início. Já existem trabalhos uma formação junto aos empre-
tratado, e piscicultura. que mostram que, com o tempo, sários. Mas, se compararmos com
o que já existia, há uns dez anos,
hoje são muitos os sistemas que já
Ainda existe o preconceito, que faz operam com o reúso – alguns até,
a população pensar que usar água que nem conhecemos. Eu acredito
que o processo será crescente. E
de esgoto (tratada) pode trazer possível. 
algum risco. Outro fator é a falta
de conhecimento de que é possível
fazer (o reúso).
Cagece 29
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
Tecnologia no
atendimento
ao cliente
por EDILENE ASSUNÇÃO fotos DEIVYSON TEIXEIRA

N
a busca por estreitar o “Foi uma ótima iniciativa. Pelo chat,
relacionamento com consegui resolver tudo o que precisava de
os clientes e agilizar o forma quase imediata, sem precisar me
atendimento prestado, locomover até uma loja ou usar o telefone,
a Companhia de Água e tudo pela internet”, ressalta Mariana
Esgoto do Ceará (Cagece) tem investido Barbosa, cliente da Cagece.
em novos canais de comunicação, onde A praticidade promovida pelo novo ser-
o público pode manter contato direto e viço também foi percebida pelos próprios
instantâneo com a companhia com total atendentes. De acordo com Leydiana da
comodidade e segurança. Desde março Rocha, colaboradora do atendimento pelo
deste ano, o portal da Cagece conta com chat, “É interessante porque podemos rea-
uma nova ferramenta de atendimento, lizar vários atendimentos simultâneos. Isso
o chat on-line. sem falar que os clientes se mostram mais
O novo canal da companhia torna a compreensivos. Quando há solicitações
comunicação entre a empresa e o cliente que não podem ser realizadas pelo chat,
mais próxima e interativa. Por meio do por exemplo, repassamos o procedimento Pelo chat,
chat, é possível realizar e solicitar mais de e o cliente fica satisfeito. O atendimento
25 serviços de forma on-line, diariamente, virtual, sem dúvida, torna a relação com consegui
das 8h à meia-noite. O atendimento é rea- o cliente mais rápida e até mais próxima". resolver tudo
lizado de forma rápida e com a garantia
de um protocolo durante o contato.
De qualquer região é possível manter
contato com a companhia por meio do
o que precisava
Dentre as solicitações, os clientes têm chat on-line. O atendimento virtual con- de forma quase
acesso a serviços como, consulta de templa também aos clientes que residem imediata, sem
falta de água, solicitação de conserto em outros estados ou países. A relação
de vazamento e desobstrução de esgoto, do cliente com a empresa se torna menos precisar me
verificação de serviços não executados, burocrática, as solicitações são realizadas locomover até
entre outros. de forma simples e em menos tempo.
Caso seja necessário, a ferramenta De acordo com Agostinho Moreira,
uma loja ou usar
também permite troca de arquivos, em superintendente comercial da Cagece, a o telefone, tudo
diversos formatos, entre cliente e aten-
dente. Ou seja, por meio do chat on-line
nova ferramenta "permite um estreita-
mento ainda maior da companhia com o
pela internet.
é possível apresentar documentos que cliente, uma vez que se trata de um canal
antes só eram possíveis na forma de com acesso facilitado em ambiente no qual Mariana Barbosa,
atendimento presencial. as pessoas têm familiaridade: a internet".  cliente Cagece

30 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
Antes de entrar no
ar, por exemplo, os
colaboradores do
chat on-line passaram
por capacitação
com profissionais
de comunicação da
própria companhia. O
treinamento abordou
diversos temas como
alinhamento de discurso,
apresentação de
linguagem adequada para
o meio digital, cuidados
para evitar ruídos de
informação na hora de
responder ao cliente,
entre outros.

Não precisa nem ligar,


basta clicar
No ano passado, a empresa já havia reforçado um cadastro com os dados do CPF ou CNPJ e criar
o atendimento por meio do aplicativo Cagece login e senha de forma simples e rápida.
Mobile e do atendimento virtual no portal da Outra forma de comunicação direta com a Cagece
companhia. O aplicativo, disponível para os é por telefone, pela Central de Atendimento. Por
sistemas operacionais Android e iOS, pode meio do número 0800 275 0195, o cliente pode
ser baixado de forma gratuita em qualquer entrar em contato com a companhia, 24 horas por
smartphone ou tablet. dia, para realizar solicitações, reclamações e obter
Além de permitir um contato direto, disponível esclarecimentos sobre assuntos relacionados à
na palma da mão, o Cagece Mobile apresenta empresa. Os chamados de ocorrências realizados
layout e usabilidade simples e intuitiva, com pelos clientes também são repassados imediatamente
diversas funcionalidades. Por meio dele, o para as unidades de negócio da companhia para que
cidadão pode registrar ocorrências de falta de possam proceder com a solicitação.
água, vazamentos, além de denúncias de fraudes, Pelas redes sociais (facebook e twitter) também
esgotamento sanitário, entre outros. As demandas é possível entrar em contato com a companhia e,
são registradas imediatamente, inclusive, com foto ainda, obter informações, conhecer as campanhas
capturada no próprio aplicativo ou armazenada no promovidas e ações realizadas nos municípios
smartphone. atendidos pela Cagece, além ter acesso a conteúdos
A ferramenta ainda traz informações educativas exclusivos como séries temáticas e educativas criadas
de combate ao desperdício e outros mecanismos especialmente para o meio on-line.
como simulação de conta e até emissão de 2ª via Pelos perfis virtuais, a Cagece tem se aproximado
de fatura. Já no atendimento virtual, disponível no e dialogado diretamente com os clientes,
portal da Cagece, o cliente pode realizar, 24 horas compreendendo melhor suas necessidades e
por dia, o autoatendimento para mais de buscando, internamente, desenvolver melhorias
25 serviços. Para isso, é necessário apenas realizar que possam otimizar ainda mais a relação.

Cagece 31
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
Com um sorriso largo
no rosto, Geralda
conta a dura trajetória
que enfrentou até
conseguir água
encanada na sua casa.

32 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
“agora tenho

água em casa

Em Itapipoca,
a Revista Cagece
acompanhou histórias
de famílias que
mudaram de vida após
a chegada de água
encanada em casa.

por GUILHERME PAIVA fotos MARCOS STUDART

Cagece 33
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
Cercada pela
família, Geralda
compartilha a
alegria que é
ter água tratada
em casa, saindo
diretamente
da torneira.

N
a comunidade da Man-
gueira, no município de
Itapipoca, moradores
passavam por um luta
diária para ter abasteci-
mento em casa – não havia água encanada.
Essa realidade é bem diferente da vivida
por Regina Cavalcante, 45, moradora do
bairro Messejana com suas duas filhas.
Questionada sobre a sensação de ter água
à disposição na sua torneira, a moradora
da regional VI não soube, de fato, o que
responder: sempre teve o líquido ao alcance
das mãos, assim como as suas filhas. A
viagem de pouco mais de 130km até Man-
gueira apresentou uma realidade até então
desconhecida por Regina e por muita gente:
o desafio de colocar água em casa.
“Tinha que ir buscar água no rio e trazer permitiu o alívio sentido por Maria e seus
em uma lata furada. Trazia mais ou menos vizinhos há, aproximadamente, um ano. A
cinco latas d’água por dia. Botava na cabeça água que chega até Mangueira é captada
e vinha. Saía de casa às 4h da manhã e em Uruburetama, no rio Mundaú, e chega
voltava às 5h com água. Cada lata era até as residências graças ao Sistema de Sempre eu
uma viagem”, nos conta Maria Rodrigues Saneamento Rural (Sisar). Atualmente, sonhava com
de Sousa, 76 anos. Agora dona de casa, a são 72 famílias que podem contar com
agricultora teve 15 filhos e batalhou para água tratada no conforto de casa. água aqui em
garantir qualidade de vida para toda a sua Distante a alguns metros da casa de casa, até que
família em um cenário completamente
contrário à prosperidade. “Eu trabalhava na
Maria, Geralda de Oliveira, 51, com-
partilha a mesma história da vizinha.
deu certo. Antes
roça. Quando chegava com a água e colo- Para manter abastecida a casa com oito eu tinha que ir
cava o almoço no fogo, ia pro meu roçado parentes, eram necessárias várias viagens pegar no rio.
capinar ou pro roçado dos outros, pra poder diárias até o rio para buscar água - até seis
comprar coisas para os meninos comerem. por dia. Bicicletas, animais, cabeças. As Não é melhor
Era assim a minha peleja”, relembra. formas de transporte variavam de acordo assim?
Na região, o investimento de pouco mais com a disponibilidade – de locomoção e
de R$ 184 mil, como parte do Projeto São de coragem. “Agora tudo mudou! Não vou
José III, e financiado pelo Banco Mundial, mais pro rio depois que chegou água por Maria Rodrigues, 76

34 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
Sisar: avanços
na área rural
No início de 2016, o Sistema Integrado de
Saneamento Rural (Sisar) completou 20 anos de
fundação. Presente em 144 municípios, o Sisar
leva água tratada a cerca de meio milhão de
pessoas. O sistema propicia condições viáveis
para que os habitantes da área rural possam viver
com qualidade de vida no seu próprio local de
origem. Contando com apoio técnico da Cagece,
por meio da Gerência de Saneamento Rural
(Gesar), o programa possibilita o desenvolvimento
e a manutenção dos sistemas implantados pela
companhia de forma autossustentável.
Na comunidade da Mangueira, José Nilson
Braga, ou apenas Zé Nilson, como é conhecido
por lá, é o presidente da Associação dos
Moradores de Mangueira há 14 anos e operador
do sistema de abastecimento de água da região.
Ciente do seu papel de multiplicador de boas
atitudes na população, Zé Nilson aproveita para
conscientizar acerca do uso consciente da água,
reforçando que a população unida pode evitar
que aquele drama de outrora volte a visitá-los. "A
gente sofreu muito tempo, então já basta tanto
sofrimento!", finaliza o presidente.

aqui, porque agora a gente tem água em a mãe de seis filhos lavava roupa sentada de que é necessário tratá-la com
casa. A gente não se preocupa mais com em um banquinho de madeira. A água carinho, mais do que nunca.
água de jeito nenhum. Agora tenho água era direcionada para as bacias por meio Voltando para Messejana e
em casa!", exalta Geralda. Pelo discurso de uma mangueira ligada ao registro no apresentando as histórias de
da dona de casa, engana-se quem pensa pé da parede. A pergunta sobre como era Maria, Geralda e Antônia à
que, agora que o abastecimento está dis- a atividade antes da água encanada em Regina, a dona de casa passou
ponível, a falta de cuidado faz parte da casa não tardou, e a resposta veio acom-
rotina. Para aqueles que passaram tempo panhada de uma lembrança não muito
demais sem água, a presença do líquido agradável. "A roupa a gente ia lavar no rio Olhaí, tá vendo?
é um lembrete diário do uso consciente. mesmo. Quando o nível do rio começou a
"A pessoa tem que ter cuidado mesmo, ficar mais baixo, foi o tempo que chegou É uma lindeza abrir
porque se a pessoa for gastar água sem a água encanada por aqui, uma benção a torneira e cair
precisão, vai faltar água mais pra frente.
A pessoa tem que economizar o máximo
medonha. Se fosse pra ir buscar água no
rio, nem tinha mais", relembra Antônia.
água desse jeito.
que pode pra não faltar. Faltando água Se a água para as atividades domésticas É uma vitória!
pra mim, tudo faltou. Porque água é era difícil, para o consumo a situação era
tudo", explica Maria. É o mesmo discurso ainda mais delicada. Além da escassez, a
de Geralda, que manda até conselho pra falta de tratamento adequado era porta Geralda de Oliveira, 51
quem é "gastador": “olha, criatura! Não de entrada de diversas doenças. Hoje, a ter uma nova visão sobre qual
tinha água antes e agora que tu tem, após alguns meses da “chegada da água”, o sentimento que, de fato, define
gasta mais pouco. Gasta de mais não, Antônia pode beber, na tranquilidade do ter água em casa e garante: “se
senão vai faltar!”. seu lar, um copo de água tratada sem todo o combate ao desperdício era
No fim de um pequeno trecho de terra o sofrimento de épocas passadas. Essa palavra de ordem aqui em casa,
batida, encontramos Antônia Rodrigues água tem até um novo sabor: tem gosto depois de tantas histórias o sen-
de Freitas, 40. Bem em frente à sua casa, de vitória, de dignidade e de consciência timento ficou ainda mais forte”. 

Cagece 35
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
ARTIGO

Sustentabilidade:
um desafio
constante
por WALESKA GURGEL
waleska.gurgel@cagece.com.br

A
crise hídrica que assola o nosso estado, o país e o planeta e ambiental”, fazendo parte dos seus valores “compromisso
como um todo, tem impacto direto na sustentabilidade com o desempenho e a sustentabilidade, inovação e ética e
da nossa empresa, afetando todos os públicos com os transparência”.
quais nos relacionamos, que impactamos e que nos impactam A Cagece foi além e associou-se ao Instituto Ethos, que é uma
de forma direta ou indireta. organização sem fins lucrativos, com a missão de mobilizar,
Nesse cenário, com o uso das termoelétricas, em detrimento sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma
das usinas hidroelétricas, o custo com energia elétrica para socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção
produzir água de qualidade aumenta, bem como quando é de uma sociedade sustentável e justa.
utilizado maior quantidade de produto químico para tratar a Desde então, para desenvolver sua área de Responsabilidade
água de um manancial já em exaustão. Do ponto de vista finan- Social Corporativa, utiliza para nortear ações nesta área os
ceiro, o foco é a economia de custos, mas, do ponto de vista Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis,
da sustentabilidade, envolve a consciência coletiva em relação ferramenta de autodiagnóstico, planejamento e gestão que visa
à preservação e uso racional dos recursos naturais. Pessoas e apoiar as empresas na incorporação da sustentabilidade e da
empresas agindo em prol da sustentabilidade. responsabilidade social empresarial (RSE) em suas estratégias de
Etimologicamente, a palavra sustentável tem origem no latim negócio, de modo que esse venha a ser sustentável e responsável.
"sustentare", que significa sustentar, apoiar e conservar. Para Essa conscientização iniciada pela liderança com sua força
o “ser”, enquanto indivíduo, ser sustentável é pensar e agir de multiplicadora, não é suficiente da porta para dentro, precisa
forma sustentável sua sobrevivência e de futuras gerações aqui ir além dos muros da companhia, e engajar todas as partes
no planeta. Já para as empresas, o desafio é ainda maior, pois interessadas. O objetivo maior é ter como aliados a Susten-
o negócio sustentável envolve a sustentabilidade econômico- tabilidade e a Inovação para o desenvolvimento de soluções
financeira, ambiental e social. concretas que atendam à sociedade, de modo a promover
O que é então um negócio sustentável e responsável? Segundo resultados duradouros e transformadores, e, consequentemente,
o Instituto Ethos “é uma atividade econômica orientada para a o desenvolvimento sustentável. Essa transformação é para a
geração de valor econômico-financeiro, ético, social e ambiental, sociedade, mas começa em cada um de nós, não basta parecer
cujos resultados são compartilhados com os públicos afetados. sustentável, é preciso SER.
Sua produção e comercialização são organizadas de modo a
reduzir continuamente o consumo de bens naturais e de serviços
ecossistêmicos, a conferir competitividade e continuidade à
própria atividade, a promover e a manter o desenvolvimento
sustentável da sociedade”.
Como então enfrentar o desafio da sustentabilidade na
empresa? O primeiro passo é consolidar o conceito de susten-
tabilidade no ambiente de trabalho, declarando em sua estra-
tégia de negócio e seus valores. A companhia incorpora em sua
estratégia, como pilar do negócio, a responsabilidade social e a
sustentabilidade na declaração de sua missão “contribuir para  WALESKA GURGEL é graduada em Engenharia Civil
a melhoria da saúde e da qualidade de vida, provendo soluções – UFC; Mestre em Administração de Empresas – UECE;
em saneamento básico, com sustentabilidade econômica, social Coordenadora de Responsabilidade Social – Cagece.

36 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
FONTES
ALTERNATIVAS DE

energia
LIMPA

Projeto desenvolvido pela


Cagece, em parceira com a
Universidade Federal do Ceará,
vai produzir energia renovável
a partir de subprodutos do
esgoto gerado na Estação
de Tratamento de Esgoto do
município de Quixadá.

por Jilwesley de Almeida


fotos DEIVYSON TEIXEIRA
ilustração SILVELENA GOMES
Cagece 37
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
A
Companhia de Água e Por meio do monitoramento feito naquela foi escolhida para ser a primeira
Esgoto do Ceará (Cagece) estação, a companhia conseguiu identi- estação a receber os sistemas,
e a Universidade Federal ficar o potencial e a viabilidade do uso de pois, dentre as outras estações,
do Ceará (UFC), por biogás para a geração de energia”, afirma. ela é quem apresenta melhor
meio do departamento  Uma vez que inexiste no mercado bra- capacidade para comportar o
de engenharia mecânica, iniciarão um sileiro equipamentos de pequeno porte projeto, considerando seu porte.
projeto que visa desenvolver tecnologias para aproveitamento destes subprodutos Os equipamentos serão ca-
para geração de energia renovável com e que a importação dos mesmos são eco- pazes de tratar, armazenar e pos-
uso de dois subprodutos provenientes nomicamente inviáveis para sistemas que sibilitar o uso de biogás como
do processo de tratamento de esgoto: o tratem menos de 50 mil habitantes, foi combustível para pequenos ge-
biogás, resultante da digestão anaeróbia elaborado e submetido ao Banco Nacional radores modificados para utili-
nos reatores do tipo UASB, e o lodo, pro- de Desenvolvimento Econômico e Social zação do biogás. Atualmente, o
veniente destes e de outros sistemas de (BNDES) um projeto que pretende desen- biogás produzido pelos reatores
tratamento de esgoto. volver tecnologias, produtos e novos da ETE de Quixadá é liberado
 O projeto possui duas etapas. Uma negócios na Cagece. A ETE de Quixadá para a atmosfera. Visto que o
delas acontece em laboratório na UFC e a
outra consiste na implantação dos resul-
tados obtidos na Estação de Tratamento
de Esgoto (ETE) da Cagece em Quixadá,
que servirá como unidade modelo para
Com os sistemas de
outras no futuro. reaproveitamento do biogás  e do
 De acordo com o biólogo e coordenador
da Gerência de Pesquisa, Desenvolvi-
lodo, teremos menos materiais
mento e Inovação Tecnológica (Geped) da descartados no meio ambiente e
Cagece, Silvano Porto, a busca pelo apro- menos gases poluentes liberados
veitamento dos resíduos da Cagece teve
início há cerca de cinco anos. “Começou para a atmosfera.
com algumas avaliações na ETE Aracapé.

38 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
Unidade Modelo de Tratamento de Esgoto
e Aproveitamento de Biogás e Lodo

GRADE CX. DE AREIA

LAGOA DE POLIMENTO
BIOGÁS
DECANTADOR
AREIA UASB LAMELAR
FAS

LODO
LEITO DE SECAGEM
ÁGUA AQUECIDA

N2

MOTOR
CO BIOGÁS
2 TURBINA
LEITO DE SECAGEM
GERADOR GERADOR
CICLO
RANKINI
MOTOR GERADOR
SIS. SEQ. TRAT. GASES SIS. PURIF. BIOGÁS
CO2 COMBUSTÃO BIOGÁS
AREIA
GASES FRIOS LEIT. FLUID.
GERADOR

Aproveitamento de Biogás Aproveitamento de Lodo e Areia

gás metano (CH4), maior componente do mercado. “A partir de kits de conversão interno, por concentrar a pro-
biogás e um dos principais gases de efeito de motores automotivos a gás natural e dução de energia nos horários
estufa, possui um poder de aquecimento de tecnologias usadas para secagem e de ponta onde a tarifa de energia
até 21 vezes maior que o gás carbônico queima de sólidos, serão produzidos equi- é significativamente maior que
(CO2), “com os sistemas de reaproveita- pamentos para usos destes subprodutos nos demais horários.
mento do biogás e do lodo, teremos menos para geração de energia”, diz Silvano. Embora focado na ETE men-
materiais descartados no meio ambiente  Para a exploração das tecnologias que cionada, o mercado alvo das
e menos gases poluentes liberados para irão compor os sistemas de reaproveita- tecnologias será o atendimento
a atmosfera”, ressalta o biólogo. mento, existem duas possibilidades. De a pequenos municípios de até 50
Para gerar energia por meio do biogás, é acordo com Silvano, a companhia pode mil habitantes, que possuam sis-
necessário realizar a queima dessa subs- optar por vender o conhecimento para que temas anaeróbios de tratamento
tância. “Os resíduos dessa queima também outra empresa fabrique esses mecanismos de esgoto, podendo, também, ser
serão tratados por meio de um sistema de ou poderá estabelecer parcerias para fabri- utilizado por pequenos aterros
tratamento de gases de combustão, redu- cação e venda dos equipamentos. sanitários e por agroindústrias
zindo, assim, ainda mais seus impactos”,  O projeto já foi aprovado pelo Banco que tratam seus efluentes de
explica a gerência da companhia. Nacional de Desenvolvimento Econômico igual modo, a exemplo da suino-
No que se refere à parte de apro- e Social (BNDES), sendo captados recursos cultura, bovinocultura, laticínios,
veitamento dos resíduos sólidos (lodo não-onerosos de R$ 3.392.195,46, com con- avícolas, dentre outros.
e também areia), serão desenvolvidos trapartida própria de R$ 961.612,47. Parte As duas etapas do projeto estão
equipamentos para melhorar os sistemas da contrapartida será usada para corre- previstas para serem iniciadas no
tradicionais de secagem do lodo e areia, ções e adequações da ETE para receber os começo de 2017. Ao todo, serão
com ganhos na qualidade e tempo de equipamentos que serão desenvolvidos. três anos de duração para desen-
secagem destes materiais. A energia gerada a partir do sistema volvimento dos equipamentos,
Conforme o coordenador da Geped, de aproveitamento dos subprodutos será montagem e instalação neces-
todos os equipamentos necessários para utilizada para abater a conta da Cagece sária na Estação de Tratamento de
o tratamento e armazenagem dos subpro- junto à Coelce, o que, para a gerência, é Esgoto (ETE) de Quixadá, que tor-
dutos serão desenvolvidos a partir de bem mais vantajoso economicamente do nará possível a geração de energia
materiais e equipamentos já existentes no que a companhia utilizá-la para consumo por meio dos subprodutos. 

Cagece 39
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
saneamento

mais saneamento,
menos mosquito
por EVA SILVA

E
ntre os municípios operados transmissor da dengue, zika e chikun- conscientizando os moradores
pela Cagece, dez reúnem o gunya, o MP reforça a necessidade de e orientando-os para, aonde
maior índice de ociosidade avanços no setor e alerta para a utilização existir rede coletora, que façam a
à rede coletora de esgoto (ver do serviço de esgotamento sanitário por interligação", destacou Jaqueline.
quadro abaixo). Mesmo con- parte da população. De acordo com o coordenador
tando com estrutura sanitária, os muni- A campanha é uma ação conjunta do de Saneamento da Secretaria
cípios contabilizam 135.266 ligações de MP e do Governo do Estado, por meio das Cidades, Alceu Galvão, a
esgoto ociosas. Juntos, representam cerca da Secretaria das Cidades e da Cagece. ação é de fundamental impor-
de 71,45% do universo da não utilização Segundo a coordenadora do Centro tância, e tem como principal
do serviço no estado. de Apoio Operacional de Proteção à meta reduzir a quantidade de
Conscientizar os moradores sobre Ecologia, Meio Ambiente e Urbanismo ligações ociosas de esgoto e,
a importância da utilização da rede (Caomace) do MP, Jaqueline Faustino, em com isso, eliminar possíveis
coletora de esgoto e da contribuição do menos de dois meses, após o lançamento focos do mosquito que possam
saneamento no combate a doenças, além da campanha, já foram visitados cinco se formar nas ruas. “A estra-
da preservação do meio ambiente, tem municípios na região do Cariri. tégia tem várias ações, que vão
sido uma batalha constante da Cagece. "A campanha será expandida para desde questões pertinentes à
Esse empenho ganhou um relevante as demais regiões. Nossa grande pre- educação, discussão com a
reforço do Ministério Público do Ceará ocupação são os municípios onde têm sociedade, cobranças junto aos
(MPCE), que lançou, no último mês de maior ociosidade de interligação à rede órgãos fiscalizadores, e até ações
45.190

março, a campanha “Mais saneamento, de esgotamento sanitário. O Ceará está mais extremas, por meio das
menos mosquito”. Por entender que o sofrendo com a incidência de doenças comarcas e pelas promotorias,
saneamento contribui para a melhoria transmitidas pelo Aedes aegypti, e temos que são as punições àqueles que
do meio ambiente, evitando, também, a que atacar o problema na raiz. Essa raiz não se interligarem à rede cole-
proliferação do Aedes aegypti, principal passa pelo saneamento básico. Estamos tora de esgoto”, pontuou Alceu. 

10 municípios com maior número de ligações ociosas


21.024

Factível Ligado sem interligação Tamponado


Rede disponível sem existência Caixa instalada mas sem Interligadas mas
de caixa para interligação. interligação. bloqueadas.
10.625

7.629
7.621

6.743

5.164
4.444

4.404

4.164
3.156

2.562
2.442

2.121
1.876

1.754
963

944
834

907
477

42

99
27

35
7
6

Fortaleza Juazeiro Caucaia Maranguape Crateús Barbalha Tianguá Quixadá Aracati Itapipoca
do Norte
Fonte: Cagece, 2016

40 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
ENTREVISTA
Henrique Javi


A palavra
de ordem é
O Ceará tem travado uma
importante batalha contra
o mosquito Aedes aegypti.
A aposta maior está na

constância
mobilização da sociedade,
além de ações desenvolvidas
em órgãos e empresas

no combate
do governo, como é o caso
da Cagece. A Revista Cagece
conversou com o secretário

e prevenção
de Saúde do Ceará, Henrique
Javi, sobre o enfrentamento
ao mosquito. Confira!

por DALVIANE PIRES foto DEIVYSON TEIXEIRA

Cagece 41
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
Henrique Jorge Javi de Sousa formada por 22 policlínicas
nasceu em Morada Nova, regionais, 18 novos Centros de
no Ceará, em 5 de junho de Especialidades Odontológicas
1972. É licenciado em Física regionais e três hospitais
pela Universidade Estadual do regionais. Ainda na vivência
Ceará (UECE). da gestão da saúde, assumiu
Possui vivência profissional a presidência do Instituto de
na gestão da saúde; primeiro Saúde e Gestão Hospitalar
coordenador do Programa de 2010 a 2014.
de Expansão e Melhoria da Em janeiro de 2015, retorna
Atenção Especializada à Saúde à Secretaria da Saúde
da Secretaria da Saúde do do Estado na função de
Estado no período de 2008/ Secretário Adjunto. Em agosto
2009. Implantou a nova rede de 2015, assume o cargo de
de assistência do Ceará, Secretário da Saúde do Estado.

Revista Cagece – O Ceará, assim e, simultaneamente, o governador Chikungunya. Se não podemos


como todo o país, tem enfrentado instituiu o Comitê aqui no Ceará, garantir só mecanismos técnicos,
o desafio do combate ao mosquito logo após reunião com a presi- como estamos posicionados hoje:
Aedes aegypti. Como o senhor denta Dilma. A principal ação do combater ou controlar?
avalia a atuação do Ceará – que comitê foi fazer uma mobilização HJ – Na realidade, por muito
a gente percebe que chegou a ser não apenas intra-governamental: tempo a gente perdeu a noção
pioneiro em algumas ações estra- além dos organismos de governo de que promoção e prevenção de
tégicas como o cuidado com as – diretos ou indiretos –, a ideia saúde não acontece dentro de uma
repartições públicas? era conclamar a sociedade para instituição pública exatamente.
Henrique Javi – Bem peculiar a o combate ao mosquito. Apos- Promoção e prevenção de saúde é
ação do Ceará em termos de mobili- tamos na sensibilização por com- algo que a gente tem que abraçar
zação, especificamente no enfren- preender que o enfrentamento como uma obrigação de cada cida-
tamento ao Aedes aegypti. Mais ao mosquito não dava para ser dão. Obviamente, nós, enquanto
ou menos em torno de setembro, feito apenas do ponto de vista poder público, temos uma obriga-
outubro de 2015, já havia uma pre- de mecanismos técnicos, já que ção anterior. Nesse papel fazendo
ocupação aumentada. O Ceará já o país está há três décadas nesse todo esclarecimento e financia-
tinha um momento diferenciado enfrentamento. Então, preci- mento dessas estratégias de pro-
para essa discussão. Foi quando o samos mudar a estratégia, e o foco moção e prevenção. Porém, sem a
governador Camilo Santana teve a principal dessa mudança está na participação de toda a sociedade,
ideia de formular um comitê inter- mobilização social. Considero que isso não é possível. Fez uma grande
setorial na modelagem do que ele foi a maior mobilização sanitária diferença o impacto do Zika Vírus
vem fazendo nos “Sete Cearás” que o Ceará viveu nas últimas e Chikungunya na preocupação da
(Ceará da Gestão Democrática por três décadas. Com esse objetivo, população. Passamos todos a ter
Resultado, Ceará Receptivo, Ceará você percebe essa mobilização uma preocupação ainda maior com
de Oportunidades, Ceará Susten- em todos os lugares, em todas as o Aedes aegypti. Mas sabemos que
tável, Ceará do Conhecimento, classes sociais. a dengue, por si só, já merecia todo
Ceará Saudável e Ceará Pacífico). o trabalho que está sendo feito.
Portanto, o enfrentamento ao RC – O senhor falou em três Veja que a dengue, além de provo-
Aedes aegypti ficou transversal décadas de enfrentamento ao car sérios danos à saúde, podendo
aos Sete Cearás, pela ideia de uma mosquito, mas a gente acabou até levar à morte, é responsável
integração maior, afinal de contas, se acostumando a falar de Aedes por um impacto socioeconômico
todos nós sofreríamos com o pro- aegypti sempre relacionado gigantesco. Anualmente, milhares
blema do mosquito. Em paralelo, à dengue, mas aí apareceram de pessoas se afastam do trabalho,
o Governo Federal se organizava essas novas doenças: Zika e de suas atividades. Dessa maneira,

42 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
essa mobilização se destaca não chuvosos e acredita que nos nossa história, de fato tivemos
por conta de grandes investimen- outros meses está “tranquilo”... um período de ruptura desse pro-
tos, mas mostra um fator impor- HJ – A palavra de ordem é cons- cesso de reprodução, mas não é
tante que, para promover e pre- tância no combate e prevenção. que não havia circulação de Aedes
venir, nós gastamos muito menos Se nós descuidarmos um minuto aegypti. Ele sempre esteve aí, não
do que para remediar, tratar ou sequer, temos uma condição de foi extinto. Na realidade, os níveis
fazer qualquer ação assistencial. novos agravos, e fica mais difícil de manifestação eram baixos. Se
No caso do Aedes aegypti, para ser ainda. Então, a gente não pode eu tenho um grau de contami-
enfrentado com firmeza, nós pre- perder essa constância. Estamos nação baixa ou quase nulo, se isso
cisamos estar atentos aos criadou- em mobilizações envolvendo está controlado no meio urbano,
ros, por ser um mosquito que nós as escolas e as universidades obviamente eu posso dizer que
podemos denominar de “mosquito porque realmente esse grupo tem eu rompi a cadeia de transmissão
doméstico”. A priori, o mosquito um impacto muito grande, muito do mosquito dentro da nossa
está dentro das residências, locais forte no lado motivacional em suas sociedade, dentro desse processo
de trabalho. Então, é mais fácil de casas. Crianças e jovens, muitas vetorial que ele provoca. É obvio
enfrentar, em tese, se a gente ficar vezes, têm uma facilidade maior que a realidade agora é outra. Em
atento a essa condição. Estima- de compreender que o futuro termos populacionais, se você só
se que algo em torno de 70 a 80% dessa geração fica comprometido observar o incremento da popu-
dos focos são encontrados nes- se não tiver essa condição, e aí não lação urbana nos últimos 50 anos,
ses ambientes domésticos, e isso pode descuidar, apesar de parecer isso faz uma diferença enorme na


já seria muito significativo nessa
estratégia doméstica de enfrenta-
mento. Quando eu digo “domés-
tico” não pense só na sua residên-
cia. É no local de trabalho também. Precisamos mudar a
Podemos, inclusive, destacar um
trabalho muito interessante que
estratégia, e o foco
a Cagece fez de mobilização, ao principal dessa mudança
envolver todos os seus colabora- está na mobilização social.
dores por meio da formação, bri-
gada de combate e de conscienti-
zação cotidiana do que tem que ser que, midiaticamente, a coisa capacidade da doença se propagar.
feito também nas nossas próprias possa esmorecer. Não podemos Obviamente, em algum momento,
casas. Então, são esses exemplos esquecer de, pelo menos uma vez quando esse mosquito começou a
que fazem com que a gente com- por semana, dar atenção a esses apresentar uma capacidade repro-
preenda que está valendo à pena. É possíveis focos. dutiva de adaptação maior do que
importante destacar que nenhuma todas as formas de enfrentamento,
dessas ações podem ser transitó- RC – E por que é tão difícil falar talvez tenha sido o grande fator de
rias. Essas ações precisam ter con- em erradicação do mosquito? explosão da contaminação.
tinuidade, já que o ovo do mosquito HJ – Originalmente, a presença
pode sobreviver por cerca de um desse mosquito está em áreas flo- RC – A microcefalia teria sido
ano até entrar em contato com a restais. As concentrações florestais o impacto crucial para que as
água. Então, estrategicamente, a que garantiam o mecanismo dessa pessoas passassem a enxergar o
fêmea do mosquito pode pôr um cadeia de transmissão com os pri- mosquito como um alerta?
ovo em determinado local e esse matas eram os macacos. Mas, na HJ – Eu acho que a sociedade
ovo aguardar por um período muito hora em que as florestas deixaram mobilizou-se devido à visibili-
longo. Sendo assim, nossa estra- de existir, o mosquito encontrou dade que foi dada aos casos de
tégia precisa durar para sermos um local ainda mais interessante: microcefalia. Nenhuma outra
efetivos nessa batalha. as cidades. Nas cidades, o mosquito manifestação das doenças pro-
identificou uma facilidade maior vocadas pelo mosquito teve uma
RC – Mas tem que ser permanente para fazer a extração do sangue relevância tão grande. Realmente,
mesmo porque a gente, às vezes, nos seres humanos, então ele se as consequências desta doença
se preocupa mais em períodos adaptou à condição humana. Na sensibilizam fortemente as pessoas

Cagece 43
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
e assusta a área da saúde. Sem pesquisadores, imagino que os RC – Temos acompanhado repor-
dúvida, apesar de sabermos da profissionais de saúde na ponta tagens e pesquisas que relacio-
ocorrência da microcefalia inde- também ficaram cheios de dúvi- nam a condição do Brasil hoje em
pendente do vírus do zika, a rele- das. Como foi essa captação? relação ao mosquito a uma polí-
vância desse processo social, com Podemos dizer que a rede de tica ainda frágil de saneamento
alertas da Organização Mundial de saúde do estado está preparada? básico. Como a saúde enxerga
Saúde (OMS) fez sim, de fato, com HJ – Podemos sim. O mais impor- essa relação?
que a sociedade abraçasse mais tante nesse momento é um fazer HJ – Sem dúvida, saneamento é
fortemente a estratégia de combate em conjunto. É um fazer igual, um fator importante para qualquer
ao mosquito. Algumas mulheres baseado nos protocolos do Minis- repercussão de doenças em geral,
estão evitando engravidar o que, tério da Saúde. É importante, por não especificamente aquelas rela-
consequentemente, pode provocar exemplo, que uma criança em cionadas ao mosquito. Apesar de
um impacto na natalidade. Além Sobral tenha a mesma atenção observarmos a presença do mos-
disso, o fato de algumas crianças que uma criança em Juazeiro do quito em água não tão limpa, dentro
nascerem com esse agravo também Norte. Não podemos visualizar desse contexto, porém, a tendência
pode causar uma ruptura no pro- uma atenção diferenciada quando maior é que o mosquito busque
cesso de desenvolvimento social. a gente fala de uma condição dessa facilidade. Vou destacar uma coisa
Não é à toa que o mundo inteiro magnitude. Então, a capacitação, importante: o mosquito não suga
está atento, pois o vírus já é encon- na realidade, é uma maneira de o sangue para se alimentar, mas
trado em mais de 50 países. Então, equalizar a forma. Assim, hospitais para fazer a maturação dos ovos,
isso é muito preocupante, porque como o Albert Sabin, o Cesar Cals, então é uma questão de perpetu-
vai ficando mais difícil se não o Hospital Universitário Walter ação da espécie. Assim sendo, o
houver uma atenção social e uma Cantídio têm um papel importante mosquito sabe que na água mais
compreensão de que nós podemos também porque, como existem limpa vai ter mais sucesso de per-
vencer, sim. Mas não significa que graus diferentes dessa condição da petuar a espécie e vai procurar
seja fácil. Realmente é um combate microcefalia, é obvio que algumas esse mecanismo primeiro. Quando
que precisa ser habitual, não pode situações precisam de uma atenção fazemos bem o exercício no con-
ser algo ocasional. mais especializada. Contamos texto doméstico, é obvio que o
então com uma rede hospitalar mosquito vai buscar sobreviver
RC – Como a microcefalia que dá uma atenção mais especia- e vai encontrar outras condições
associada ao vírus da Zika lizada tanto para as mães quanto do sistema, e isso, de fato, eleva a
pegou de surpresa até mesmo para as crianças. preocupação com o saneamento.
O que deve ser destacado é que
a Secretaria da Saúde sabe que
há uma relação intersetorial com


todo segmento que trabalha com
essa infraestrutura de cidade e é
fundamental um trabalho voltado
também para esse aspecto e na
Quando fazemos bem atenção de mais investimentos
o exercício no contexto em saneamento. Precisamos,
sem dúvida, de um avanço signi-
doméstico, é obvio que ficativo, e aí destaco um trabalho
o mosquito vai buscar interessante do Ministério Público
sobreviver e vai encontrar Estadual de associar a questão do
saneamento ao enfrentamento
outras condições do ao mosquito. São essas e outras
sistema e isso, de fato, condições sanitárias assumindo o
protagonismo na defesa de todos os
eleva a preocupação mecanismos legais para se garantir
com o saneamento. o direito à saúde. 

44 Cagece ABR-JUN 2016


R E V I S T A
CRÔNICA

Exercício ou novo
de paciência estilo de vida?
por LIANA OLIVEIRA

A
ndar de carro ou transporte público o que fazer para amenizar esse caos?
em Fortaleza, como na maioria das Enquanto não há maiores investimentos
grandes metrópoles brasileiras, virou na melhoria da mobilidade urbana, com a
um verdadeiro exercício de paciência. Se conclusão das obras do tão esperado metrô
antes se levava 30 minutos para chegar a de Fortaleza, maior qualidade do transporte
um determinado lugar, nos tempos de hoje público e total atenção com a segurança, o
se leva, pelo menos, o dobro do tempo. que resta é usar a criatividade para gastar o
Essa realidade não existia há bem pouco tempo de forma menos estressante em meio
tempo. Parece que, de repente, as ruas resol- a esse engarrafamento nosso de cada dia.
veram ficar de “cabeça para baixo”. Antes, No ônibus, ler um livro/jornal/revista,
era possível prever os horários de trânsito ouvir músicas – com um fone de ouvido, por
intensos, os famosos “horários de rush”, favor – ou passar o tempo com os adventos
geralmente no início da manhã e no final dos smartphones é uma ótima forma de
da tarde. Atualmente, os engarrafamentos aliviar o tempo no trânsito e exercitar a
acontecem em todos os horários, todos os paciência. Já no carro, sintonizar a rádio
dias. Tem fila para todos os lados. Parecemos numa boa trilha sonora – de preferência
aquelas que favoreçam o relaxamento –
soltar a voz ou se atualizar nas notícias é
Parecemos um o melhor para manter a calma. O que não
grande formigueiro. vale é começar o dia à beira de um ataque
de nervos com o trânsito a passos de tar-
Todos indo para taruga e com os apressadinhos de plantão,
o mesmo lugar. que saem “cortando” os carros sem nenhum
cuidado, descontando na pobre da buzina.
O que houve? Por outro lado, a bicicleta está, finalmente,
sendo vista como um ícone (potencialmente)
um grande formigueiro. Todos indo para o global dos grandes centros urbanos para uma
mesmo lugar. O que houve? vida sustentável. Isto porque as pessoas estão
Alguns fatores, como a redução de saturadas dos carros e mais carentes de boa
impostos sobre produtos industrializados, saúde. Deixar o carro em casa e andar de
a concessão de mais crédito, o maior poder bicicleta passa a ser visto com um novo
de compra por parte do consumidor, a baixa olhar, uma nova perspectiva do “bom estilo
qualidade do transporte público e a falta de de vida”. Essa tendência, que tornou-se “cool”,
segurança nos coletivos, muito contribuíram “fashion”, só precisa de uma maior interesse
para o aumento do uso de transportes indivi- da sociedade e do poder público para se tornar
duais – individuais mesmo! Só vemos carros algo duradouro e transformador.
com o motorista – em vez de transportes Enquanto isso, podemos decidir o que que-
coletivos. Em outras palavras, o número de remos exercitar: nosso nível de paciência e
veículos aumentou, mas a nossa cidade não serenidade ou um estilo de vida mais sau-
expandiu suas vias de locomoção. E então, dável, indo de bike? 

Cagece 45
R E V I S T A

ABR-JUN 2016
Acesse o Site Curta no Facebook Siga no Twitter
www.cagece.com.br /cageceoficial @cageceoficial

Fraudes no sistema de abastecimento de água é crime passível de


multa. Uma única fraude é suficiente para comprometer o
abastecimento de um setor inteiro. As ligações clandestinas, por
exemplo, provocam vazamentos, perda de pressão na rede e,
consequentemente, falta de água para a população. Os “gatos”
também podem ser a origem de infiltrações, que comprometem a
estrutura dos imóveis, causando, inclusive, desabamentos.

Denuncie. Utilize o Cagece Mobile e ajude a combater esse vilão.


TODOSCONTRA
O MOSQUITO
O

Ministério do
Desenvolvimento Social
e Combate à Fome

Você também pode gostar