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Relatos do Cotidiano

Ativaçao do espaço públicos por meio das pessoas

Escalas de aproximação 4

De dentro para fora 10


Aproximação pelo espaço coletivo
Largo do Arouche 12
Praça Rotary 18
Praça Franklin Roosevelt 24
Praça da República 28
Parque Minhocão 32
Síntese 36
Aproximação no espaço privado 38

De fora para dentro - interseccao


entre entorno e espaco 43
Análise física 45
Ativação do espaço 51

Conclusão 54
A seguinte publicação se insere dentro de
uma pesquisa mais ampla realizada pela
Plataforma PLUS São Paulo. O projeto teve
início em Paris, onde os arquitetos Fréderic
Druot, Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal
se propuseram a encontrar soluções que
resolvessem questões de carência de moradia.
A Plataforma PLUS, portanto, procura entender
o espaço de análise, de forma a encontrar
potenciais transformações, adensamentos
e possíveis projetos futuros, que levem em
conta o tecido urbano existente.O perímetro foi
escolhido de forma que a pesquisa se voltasse
para um local consolidado,já que a intervenção
deverá levar em conta as pré-existências.
Além disso é uma área onde a intervenção do
Minhocão fica muito clara na conformação do
espaço. O PLUS analisa física e espacialmente
a região delimitada através da coleta de dados
sintetizados em fotos, mapas, gráficos e textos.
Além disso, visando como objetivo do projeto
a definição de territórios capazes, a Plataforma
PLUS procura compreender a vida local, o dia-
a-dia da região.

A partir da proposta “O Espaço Cotidiano”


do Estúdio Vertical, que procura instigar à
transfor-mação em espaços pré-existentes,
o grupo decidiu unir esta pesquisa à
investigação proposta pela Plataforma PLUS.
Os dados já coletados da região do recorte
foram usados para que se estabelecesse
um objeto comum ao Estúdio Vertical e à A praça foi projetada de forma que os fluxos forma priorizados e as áreas de permanência
Plataforma. A aproximação de pessoas se foram deixadas de lado. De dia as pessoas brigam por acentos nos canteiros, e de noite a
mostrou necessária para ambas as propostas região se torna um ponto de prostituição. Sempre cheia de gente, os dias de final de semana
de trabalho. Para a Plataforma, e conse- são mais úteis na caça à moradores, que visitam a feirinha da Republica em busca de comida,
quentemente para o grupo, que se interessou ou roupas ou antiquarias.
pela pesquisa, não é valida apenas a análise e
síntese de dados quantitativos, mas é também Por fim o Minhocão se apresentou como desafio da pesquisa, que o compreendeu como
necessário entender de que forma o espaço um espaço público, mesmo que periódico, de grande impacto na região, e que portanto,
é vivido, qual sua dinâmica e quais relações ajudaria na análise do perímetro estabelecido. Seu uso aos finais de semana para passeio
afetivas, emocionais e de vivencia as pessoas de pedestres e ciclistas passou a ser um atrativo à região da Vila Buarque. Os moradores
esta-belecem como perímetro. Para a proposta do entorno ganharam uma área de passeio, que apesar de contribuir com o fim do barulho
do Estúdio Vertical a aproximação de usuários de carros, ainda incomoda alguns devido aos eventos e encontros que ocorrem. Algumas
permite uma compreensão dos diferentes das pessoas com quem falamos não frequentam outro espaço publico que não o Minhocão,
cotidianos dentro deste recorte. mesmo com outros 4 espaços públicos próximos.

A pesquisa atua em duas escalas diferentes A pesquisa teve como intuito se aproximar das pessoas e a partir dessa aproximação
e complementares, uma “de dentro pra reunir informações de uso aproveitamento da região da Vila Buarque, dentro do perímetro
fora” e outra “de fora pra dentro”. A primeira delimitado pela Plataforma PLUS. Os mapas elaborados a partir das falas dos moradores
escala faz referência à primeira aproximação encontrados nos espaços públicos tem a intenção de servir como material para a localização
das pessoas, momento no qual as falas são de um espaço ótimo que venha à acolher uma intervenção. O uso de pessoas como fonte de
usadas como meio de compreender o espaço informação permitiu que usos teóricos e usos práticos fossem comparados. As abordagens
do perímetro. Através do mapeamento de permitiram analisar as situações em que era mais fácil se aproximar e as situações em que
locais ativados pelas pessoas com as quais se isso gerou maiores problemas, e porque. Levando em conta o pré-existente, sua importância,
conversou, torna-se mais fácil localizar fluxos sua praticidade e sua qualidade como espaço para que se possa pensar em transformações
de moradores da região e consequentemente que se adotem a esse tecido existente e concretizado.
áreas propensas a in-tervenções. É o momento
no qual se utiliza das falas dentro pra praça
para entender o seu lado de fora, o entorno, o
recorte. A segunda escala “de fora pra dentro”
procura, após o momento das primeiras
aproximações, utilizar das falas das pessoas
para também entender o espaço de conversa.
É nesta escala que se analisa fisicamente
o espaço complementando as informações
obtidas nos diálogos e possibilitando
entender de forma mais completa como
se deu essa aproximação, de que forma o
entorno, a iluminação, a vegetação, os fluxos
e as aglomerações auxiliaram ou dificultaram a
abordagem das pessoas.

Estabeleceu-se de antemão que a aproximação


seria feita utilizando os espaços públicos como
meio. O grupo compreendeu que, para que
fosse possível ter uma conversa calma, onde
a pessoa tivesse tempo pra pensar sobre a
Vila Buarque, o dialogo deveria ser feito em um
espaço de permanência, e não de transição
como a rua. A primeira visita foi ao Largo do
Arouche, espaço público nos arredores do
recorte. A aproximação se deu sem roteiros
ou questionários pré-estabelecidos, de forma
que a conversa não fosse previamente guiada,
mas sim que fosse sendo construída à medida
que surgissem respostas. O início da conversa
sempre levava a pessoa a falar sobre o espaço,
suas qualidades, seus deméritos, mudanças
desejadas, memórias atreladas ao lugar e
etc. Neste primeiro momento de diálogos
número, quase sempre ocupam a área da quadra ou das mesas. Diferente do Arouche que se percebeu-se que as respostas mais profundas,
abre pra rua, a praça se limita através de grades, e cria uma avenida principal onde o fluxo de que davam mais informação sobre o espaço,
transeuntes é grande. A quantidade de pessoas que passa excede a quantidade de pessoas vinham de moradores do entorno imediato ou
que permanece, diferente do Largo do Arouche. Com a grade, e a biblioteca criando fundos próximo. Estes, . A pesquisa, então, fez um
a Rotary se volta para seu interior, criando espaços vazios e inutilizados nas bordas, e um recorte nas informações colhidas, de forma
centro onde ocorrem as principais aglomerações. que se escolheu os moradores da região como
fonte de pesquisa.
A Praça Roosevelt já apresenta uma situação completamente diferente. Rodeada por bares,
próximo à augusta e concretizada como um local do skate e do teatro, o espaço é dominado As perguntas, feitas na hora e de acordo com
pela juventude. O local possui teatros antigos e consolidados, que atraem o público artístico o caminho que a conversa levava, procuravam
para as proximidades. Da mesma forma que o Largo do Arouche possui, como praça, o peso entender de que forma os moradores da
politico de ser centro de questões LGBT, a Roosevelt se tornou um ponto de manifestações. região se relacionavam com o recorte
Muitos atos tem seu fim na Roosevelt, com discursos e proclamações. A Praça ganha vida estabelecido. Como era seu cotidiano, que
nas noites e aos finais de semana, mas é sempre frequentada e nunca se vê vazia, mesmo espaços freqüentava, que espaços evitavam,
com a falta de arborização que dificulta a permanência. Mesmo com os barulhos do skate, quais seus grandes deslocamentos, onde se
os moradores incomodados frequentam a praça, levam seus cachorros, sentam e desfrutam destinava á procura de lazer ou serviços, o que
do espaço. Os universos voltam a se misturar neste local público, com senhores, skatistas, faltava na região e o que os atraia, ou tinha em
ativistas, e boêmios coexistem. algum momento atraído e estimulado á morar
na Vila Buarque.
Outra situação completamente diferente é percebida se olharmos para a Praça da República,
que se apresenta como um espaço quase sem moradores do entorno. A óbvia presença do Em um segundo momento surgiu a escolha
Metro criou um grande espaço de espera, onde mesmo com a arborização as pessoas se sentam entre manter a pesquisa apenas no Largo do
sob o sol, em saídas de ventilação do metro, voltadas para o centro da praça. É também local Arouche ou expandi-la. O grupo entendeu
de cunho politico que sempre reune manifestações, principalmente de professores, devido como necessária uma compreensão mais
a presença da Escola Estadual Caetano de Campos. Nesse local o universo vislumbrado abrangente da área de recorte da Plataforma
tem uma amostragem ainda maior, ele reune todos os perfis encontrados nas praças sem PLUS, e, para tanto, selecionou mais quatro
segregação espacial, principalmente devido a presença do metro e da circulação de ônibus. espaços públicos que deveriam também
ser visitados em busca de moradores do
perimetro. A pesquisa estabeleceu que as
idas aos espaços públicos ocorreriam de
forma espiralar, ou seja, todos os espaços
seriam visitados em ordem, um de cada vez,
e só depois de completo um ciclo de visitas
se sucederia outro.Foi estabelecido que as
Praças Rotary, República, Roosevelt e o
Minhocão seriam também locais da pesquisa,
de forma que as informações coletadas através
dos mora-dores tivessem alcance em todo o
recorte. A decisão de incluir o Minhocão foi
tomada levando-se em conta não só seu forte
e constante impacto na região, mas também a
recente decisão de fechar o elevado para os
carros ao final de semana, criando um novo
uso público e uma nova relação com a cidade.
A pesquisa passou então por um revezamento
dos espaços públicos escolhidos, de forma
que todos fossem visitados em três momentos
do dia e aos finais de semana. Devido ao bom
resul-tado dos primeiros diálogos, o grupo
entendeu como mais vantajoso manter as
conversas sem roteiro, de forma que a pessoa
pudesse expandir sua fala até onde quisesse,
falar de qualquer aspecto relevante do espaço,
trazer a tona memórias e sentimentos ligados
ao local.

Como material de conclusão de uma etapa


de analise do Largo do Arouche e da Praça
Rotary, a pesquisa apresentou um vídeo que
procurava analisar e comparar esses locais. A situações e experiências. A pesquisa percebeu que a analogia de Dani entre o Largo do
filmagem mostrava simultaneamente diferentes Arouche e o aleph de Borges poderia ser transferida para as outras formas, de maneira que
cenas dentro desses espaços públicos, em a analise de cada praça de mostrasse uma visão de uma humanidade diversa e existindo ao
um período diurno e outro noturno. As imagens mesmo tempo, em um mesmo espaço. Dentro de suas limitações e diferenças, que em alguns
tinham como função estabelecer paralelos casos como o do Minhocão são demasiado perceptíveis, todos os locais escolhidos para o
entre o Largo do Arouche e a Praça Rotary, estudo contemplam situações conflitantes, que se negam, mas não tem outra opção além de
como o uso do espaço, os grupos de pessoas coexistir.
encontrados, áreas mais aglomeradas,
áreas de passagem, fluxos e etc. O áudio do No Largo do Arouche, por exemplo, sua importância histórica para a região e sua concretização
vídeo era composto por gra-vações de sons como um ponto do centro de São Paulo a tornaram um local de aglomeração de senhores
escutados em cada um dos locais e de partes e senhoras. Ao mesmo tempo, com o passar dos anos e a ressignificação de espaços, o
mais relevantes de conversas gravadas. Arouche se tornou um local reconhecidamente LGBT, atraindo muitos casais jovens que
se sentem seguros e pertencentes. Os mais velhos enxergam a mudança do Arouche e se
Com a aproximação acontecendo e as visitas lastimam pela suposta deteriorização do lugar, ao mesmo tempo em que os jovens LGBT
se tornando freqüentes, a pesquisa se viu clamam por um espaço para chamarem de seu. Dentro desse cenário conflituoso, esses dois
direci-onada a realizar, além das analises grupos distintos se vêm lado a lado.O diferente não fica longe, ele fica à porta de casa e é
das conversas, um estudo físico de cada preciso conviver e coexistir . Os idosos se sentam nos bancos que ficam nas bordas do eixo
local público. A cada visita de campo surgia principal do Largo do Arouche, e os jovens se sentam nos bancos enfileirados no meio. E
uma nova compreensão espacial do lugar, invariavelmente esses grupos se esbarram, se notam e até conversam. Aos dias de semana
e, portanto, era preciso sintetizar essas o Arouche conforma uma praça bairrista, que ao cair da noite e principalmente nos finais de
informações espaciais. Através de mapas, semana é tomada pelos jovens, pela musica, por baladas e bares e se descaracteriza do perfil
o grupo passou a levantar dados como: de praça acolhedora.
projeção de copas de árvores, iluminação
artificial e natural, entornos significativos, ba- Ao olharmos pra Praça Rotary novos universos são revelados. Aos dias de semana no horário
rulhos, cheiros, e outras informações que do almoço a praça se torna ponto de descanso para os que trabalham nas proximidades.
caracterizavam não somente a praça, mas Ao final do dia, os latidos enchem o local e algumas crianças aparecem, mas é aos finais
também o modo como a praça é utilizada. Foi de semana que as mais mães levam seus filhos pra brincar. Os jovens,presentes em menor
um momento em que a procura de respostas
nas conversas se voltava para a compreensão
do próprio espaço publico, em paralelo com a
análise de sua configuração física e espacial.

Em todo momento, a pessoa foi usada como


fonte de pesquisa e material de análise. A
curadoria de falas foi um processo importante
para que se filtrassem as informações mais
relevantes sobre o espaço ou a Vila Buarque.
O desenho, além do dialogo, também foi
usado como outra ferramenta de aproximação.
Estes foram feitos de forma a capturar, além de
sua aparência, o modo como falava, seu olhar
ou sua postura diante da proposta de contar
um pouco sobre sua vida na Vila Buarque e
no espaço público onde se encontrava. O
uso de desenhos foi primordial de forma a
analisarmos locais, situações ou momentos
onde a abordagem era mais, ou menos, difícil
e como o abordado se mostrava no momento
da conversa.

Além disso, fotos foram coletadas durante


cada visita, de forma a estabelecer um registro
visual e instantâneo das diferentes relações
com o espaço encontradas em diferentes
momentos do dia e da semana.

Através de mapas, falas transcritas e fotos


a pesquisa procurou entender o recorte de
analise da Plataforma PLUS utilizando as
pessoas como fonte de informação. O objetivo
No momento de aproximação do espaço privado de Daniele, quando entramos em sua casa
foi compreender de que forma pessoal
para uma conversa, ela comentou que a Vila Buarque era como o “Aleph” do conto de Jorge
os espaços públicos se inseriam na vida
Luis Borges. No conto “O Aleph” que da nome ao livro, o escritor argentino conta sobre
das pessoas, de que forma as pessoas se
como viu, no porão de um casarão em Buenos Aires, um ponto do espaço que abarca toda a
inseriam no espaço publico e como ambos
realidade. “O Aleph”, nome dado à primeira letra do alfabeto hebraico, era, segundo Borges,
se inserem no contexto de analise da Vila
um ponto de 3 centímetros de diâmetro que revelava todo o universo.
Buarque. Diferentes escalas foram usadas no
trabalho, para que o resultado tivesse a maior
“Nesse instante gigantesco, vi milhões de atos prazerosos ou atrozes;
abrangência possível, e disponibiliza-se mais
nenhum me assombrou tanto como o fato de que todos ocupassem o mesmo ponto,
informações sobre o bairro.
sem superposição e sem transparência.
O que viram meus olhos foi simultâneo;
o que transcreverei, sucessivo, pois a linguagem o é.”
Jorge Luis Borges, O Aleph, 1949

De acordo com Dani, a Vila Buarque constitui um Aleph de Borges por abrigar dentro de
um mesmo espaço uma variedade infinita de pessoas, que simultaneamente existem e
conseqüentemente coexistem. Para ela, o Largo do Arouche é um ponto no espaço de onde
é possível ver de tudo: senhores e senhoras que construíram sua vida inteira na região, jovens
LGBTs, imigrantes, pessoas das mais vastas classes e condições sociais. Essa variedade
pode ser justificada por uma série de fatores apresentados sobre o Largo do Arouche: seu
entorno, sua história, seus fatores físicos e as transformações que o moldam.

A pesquisa propõe, levando em conta o conceito de Aleph de Borges, e a adaptação deste


por Dani na caracterização do Largo do Arouche, na reflexão dos diferentes espaços públicos
analisados como pontos onde é possível vislumbrar o universo, ou no caso, um universo de
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ATIVAÇÃO DAS PRAÇAS | SERVIÇO


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ATIVAÇÃO DAS PRAÇAS | COMÉRCIO


A pesquisa entende a arquitetura como um campo onde o contato com a pessoa ainda é
restrito e pouco usado como forma de coleta de informação. Diagnosticou-se portanto a
necessidade de se aproximar do da pessoa de forma a tornar mais completa e real a análise
do perímetro delimitado em busca de localizações ótimas, que reservam possibilidade para
uma intervenção na pré-existência.

A abordagem deste capítulo procura mostrar, através de dados obtidos nas conversas com as
pessoas, a escala “de dentro para fora” da pesquisa. Neste primeiro momento de aproximação
os diálogos ocorreram sem roteiro ou questionário previamente estabelecido. A intenção foi
permitir a liberdade da fala, ao passo que as perguntas eram feitas em cima das respostas
obtidas. Dentre as perguntas realizadas para que fosse possível entender o espaço através
das pessoas, o questionamento do uso da região da Vila Buarque foi uma das ferramentas
mais importantes. No decorrer da conversa, a pessoa era levada à comentar os locais que usa
e frequenta no bairro, o que tem de se deslocar mais pra encontrar e seus percursos diários.
Com essas informações foi possível compreender, na escala da área de recorte da Plataforma
PLUS, espaços mais ou menos ativados, de maior ou menor aglomeração. Pensando em
cheios e vazios, os mapas revelam áreas mais frequentadas e mais úteis as pessoas em
contraste com as áreas não pintadas, os vazios, os locais de menor uso e pouco ativados.

As aproximações ocorreram em todas as praças e em diferentes dias e horários. De forma que


a amostragem da pesquisa fosse mais completa, as visitas durante a semana foram feitas em
três períodos do dia: de manha, de tarde e de noite. Além disso, entendendo-se a diferente
de uso que os espaços públicos recebem aos finais de semana, as visitas também ocorreram
aos sábados e domingos, de tarde e de noite. A maioria das conversas se estendia de 15 a
20 minutos, e em alguns casos, duravam ate uma hora. A aproximação ocorria primeiramente
através de uma breve explicação sobre a pesquisa, onde o grupo apresentava a área
analisada e o intuito de entende-la através de conversas com moradores. ATIVAÇÃO DAS PRAÇAS | CULTURA
O Largo do Arouche e a Praça Rotary foram os locais onde a aproximação se deu de forma
mais fácil, pois sempre havia algumas aglomerações de pessoas, muitos dos quais moradores,
que frequentavam a praça com bastante frequência. Idosos, mães e pessoas com cachorro
foram os mais abordados e os que mais se mostraram dispostos à conversar. Na Praça
Roosevelt a falta de arborização que torna a permanência de pessoas menor foi um empecilho
no momento de aproximação. Além disso, sua concretização como um espaço de jovens,
rodeado de bares e de usuários de skate o torna um lugar com menos moradores e mais
visitantes. Na Praça a Republica este perfil foi ainda mais acentuado. A Presença da estação
MAIOR FLUXO
de Metro que comporta as linhas quatro amarela e três vermelha torna a Praça da Republica
MENOR FLUXO
em um espaço maioritariamente destinado à passagem, a transição de usos, a espera, e
menos ao lazer. Mesmo com sua importância histórica para a região da Vila Buarque e sua
clara influencia nos prédios habitacionais do entorno, a praça se mostra pouco convidativa
aos moradores da região. Diferente deste espaço público, o Minhocão, fechado para carros
aos sábados e domingos, se mostrou um grane atrativo para a região. Nas aproximações foi
possível encontrar tanto o perfil do morador da Vila Buarque que se beneficia deste novo e
periódico espaço publico, quanto dos moradores de áreas pouco próximas do centro que
desejam vivenciar e experienciar esse espaço linear.

Ao passo que as visitas aos espaços públicos ocorriam surgiu a necessidade de definir uma
forma de apresentar as informações escolhidas. Entre as produções cartográficas imaginadas,
a foi o “mapa de ativações”. Por meio de uma localização indicada dos espaços analisados
e da identificação de espaços frequentados que foram mencionados nas conversas o mapa
procura situar espaços de fluxo e uso que se mostram úteis para a cidade e para a pessoa.
Quando vistos juntos, os lotes demarcados apontam para lotes do entorno que alimentam a
praça e que criam aglomerações. É possível ainda, compreender quais são os locais de maior,
e consequentemente também de menor, presença de pessoas que auxiliam à vislumbrar
MAPEAMENTO FLUXOS espaços ótimos no perímetro da Plataforma PLUS São Paulo.
Roberto não perde o sotaque alagoano
por nada. É orgulho, raiz. Mora em São
Paulo desde os 17 anos e volta todo
ano, pelo menos uma vez, pra sua terra.
Sente saudades de casa, São Paulo não
foi uma escolha. “O jeito do nordeste todo
mundo conhece. Se você nasce com
dinheiro da pra se manter lá se não, tem JOVENS
SKATE
que se mudar.” Aqui constituiu família, TEATRO/BAR
LGBT
com quem mora no centro há 9 anos. WIFI
CACHORRO
“Mora na Avenida Duque de Caxias e MORADORES DE RUA
USUÁRIOS DE DROGA/PROSTITUIÇÃO
trabalha aonde?”. Ele ri. Roberto é ator TRABALHO
CRIANÇAS
e a profissão é difícil, o trabalho nunca IDOSOS

é garantido. Agora está desempregado,


mas já trabalhou pela região. Gosta do
centro. Conta que frequenta os bares Rua
Vieira de Carvalho e o Largo do Arouche
é um lugar do seu dia a dia. Diz que
aos finais de semana alguns jovens se
reúnem e tocam musica na praça. “Tem
bastante gente aqui e isso deixa o lugar
mais seguro. De final de semana então,
fica cheio. Vocês precisam vir aqui de
domingo.” MAPEAMENTO AGLOMERAÇÕES
10 50 100

Aziz Bijur, 73 anos, morador do Arouche


há 30 anos, sempre morou no centro. “Eu
gosto de abrir a janela e ver aquele monte
de gente andando. A loucura do centro
EQUIPAMENTOS me faz bem.” Ele gosta da proximidade
com tudo oferecida pelo centro. “É isso
que eu quero. É tudo pertinho, bem em
frente.” Pra morar no centro tem que ter
afinidade com o centro, segundo ele.
Conta que cada rua do centro tinha sua
própria associação de moradores e
todas se articulavam por meio de seus
representantes, mas diz que hoje em dia
elas não vem dando muito certo. “Eu já fiz
parte da associação Viva o Centro e eles
não faziam absolutamente nada. “.
Para ele mesmo as pequenas
mudanças deveriam vir acompanhadas de
vigilância. “Já colocaram pelo menos umas
20 vezes coisa na praça... Grama, flor. Em
uma semana já não tinha. Qualquer evento
que tiver eles vão passar por cima.”

MAPEAMENTO PRÉ -EXISTENCIAS


10 50 100

Daniele de 38 anos é cientista politica


e mora há um ano e meio no Largo do
Arouche. Estudou na Fundação Escola de
Sociologia e Política e utiliza do Largo do
Arouche e da biblioteca da Academia Pau- SOMBREAMENTO AS 09H
lista de Letras. Frequenta constantemente SOMBREAMENTO ÀS 16H

a Biblioteca Mario de Andrade e chegou a


palestrar no local. No tempo livre, vai aos
bares da Rua Cesário Motta onde, segun-
do ela “acontece muita história”. Todo dia
passeia com seu cachorro, Theo, na pra-
ça, onde aproveita para se encontrar com
seus amigos e conversar.

MAPEAMENTO DE SOMBRAS
O administrador do Teatro Cultura
Artística Paulo Claux de 68 anos mora
no largo do Arouche e trabalha nos
arredores da praça Roosevelt. Passeia
COPAS DAS ÁRVORES pelo parque com frequência, apesar de
não gostar de como as coisas andam
ultimamente. Todo dia de manhã, ele se
encontra com os amigos no largo e toma
cerveja, comprada na banca de revistas
da praça. “As mudanças vieram com a
decadência desse lugar”. Segundo ele
a praça precisa de cuidado e incentivo.
Existe muito descaso com o Arouche. “O
que a gente não tem que tem nos Estados
Unidos é um voluntariado muito forte. Você
se voluntaria e ganha um kit da prefeitura
pra tomar conta de um pedaço da praça.”

MAPEAMENTO DE MASSAS ARBÓREAS


Paulo Sperandio é dono de um cinema
pornô na Avenida Duque de Caxias e
se mudou pro Arouche, junto com seu
negócio, 15 anos atrás. Aos 63 anos
de idade ele utiliza da região pra tudo:
compras, lazer, trabalho e moradia. FONTE DE ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL

Gosta muito da praça, passeia com sua


cachorra e frequenta os bares próximos.
Mas reclama dos dias cheios de gente.
“Eu moro aqui na porta. É uma bagunça
dia e noite na porta do meu prédio. O
pessoal de fora faz muita baderna aqui
de final de semana. Durante a semana é
outra frequência. Pra quem vem de fora
é bom mas pra quem é daqui é ruim.”
Paulo acredita que o Largo do Arouche
devera acomodar melhor os que querem
descansar. “A rua é o lugar pra circulação.
A praça é pra ficar sentado. Pra parar e
conversar.”

MAPEAMENTO DE FONTES DE LUZ ARTIFICIAL


durante a pausa para o almoço procuram
lugares vazios nos bancos ou se acomodam na
beirada das muretas dos canteiros. Os lugares
que faltam nos bancos são recompensados
pelos canteiros, onde muitos sentam durante
a pausa para o almoço.

Ao analisarmos a Praça Roosevelt e a Praça


da República, a percepção de espaços vazios
se torna mais difícil. A primeira constitui um
espaço de lazer que horas se vê ocupado por
skatistas, ora por pessoas que frequentam
os bares ao redor, ora por aqueles que
compõem o fluxo vindo da augusta, todos
sob pouco sombreamento. Enquanto a Praça
da República é que sempre ocupada devido
a presença do Metrô. Este, apesar de sua
vasta arborização, concentra maior atividade
nos espaços não sombreados, mais perto
do Metrô, onde as pessoas se dispõem ou
em muretas ou em saídas de ventilação do
sistema do Metrô.
Por fim, o Minhocão entra este capítulo como
um caso à parte, de forma que levemos em
conta suas particularidades físicas que o
diferencia tanto dos outros quatro espaços
públicos analisados. Primeiro sua freqüência
de abertura ao publico é reduzida e permite
acesso, aos finais de semana, feriados e dias
de semana após as 21 horas. Em segundo,
sua conformação física de ligação na cidade,
o torna quando aberto aos pedestres, um
espaço público linear. Isto afasta o Minhocão
do perfil traçado sobre as outras praças onde
os aglomerados de pessoas são muito bem
definidos. As sombras encontradas no local “Sábado meio dia a gente já vinha
são escassas durante o dia e aumentam com o pra praça. A gente vinha de sábado
passar da tarde graças aos prédios. A análise de manhã e domingo de manhã. Ai já
de cheiros e barulhos também é diferenciada engatava no samba. O Arouche pra gente é
no caso pois estas experiências ocorrem linear história” conta Soelly Jimenes de 72 anos e
e não pontualmente. moradora do Arouche. Toda manhã, as 11
horas, ela se encontra com os amigos na
Estas análises foram reunidas graficamente praça pra conversar. Ela frequentou muito
em mapas que mostram de que forma o Pingão, um bar no Largo do Arouche
estas relações físicas de conectam. E que oferecia caipirinhas baratas, que
principalmente, de que forma estas relações segundo ela, todo mundo comprava e ia
definem a maneira como as pessoas utilizam beber na praça aos finais de semana. Vai
e se relacionam dentro da praça. Esta escala nos restaurantes da região e frequentava o
de aproximação “de fora pra dentro” procura La Caçarola, restaurante bem tradicional,
utilizar das pessoas, e das experiências presente no Largo desde 1954.
sensoriais vividas, para que seja possível
entender melhor o espaço analisado
Em um segundo momento de análise a
pesquisa se deparou com a necessidade de
sintetizar os dados referentes a análise física
do espaço público. As visitas em diferentes
momentos do dia e da semana proporcionavam
diferentes experiências do mesmo espaço
publico visitado. Com a intenção de fornecer
uma melhor compreensão da análise da praça,
de seus aglomerados e seus fluxos, a pesquisa
decidiu que era necessário reunir todas as
informações coletadas a cerca da organização
espacial de cada espaço público De forma
que fosse possível entender de que maneira
o entorno, a iluminação artificial e natural,
os cheiros, e os barulhos reconhecidos se
relacionavam com os pontos onde a aproximar
das pessoas foi mais fácil.

A análise física levou em conta os diferentes


momentos em que as praças foram visitadas.
Foram avaliadas principalmente questões
que influenciam diretamente na organização
social das pessoas que frequentam a praça.
Analisou-se o entorno, sendo este convidativo
ou não, e levando em conta seu poder de criar
permanências em certos espaços públicos. A
sombra projetada da vegetação e a presença
de iluminação artificial também foram
examinadas de forma a se mapear espaços
mais iluminados e que, portanto reúnem uma
maior aglomeração de pessoas. A dinâmica
dos fluxos, a área de maior permanecia, os
cheiros e barulhos encontrados também
foram examinados. Os dados foram coletados
durante as conversas e a partir de fotos e
Thais tem 53 anos e esta desempregada. visões de satélite.
Morava perto da Rodovia Raposo Tavares
mas se mudou para o centro na primeira No espaço principal do Largo do Arouche
oportunidade.Sempre gostou da região e a presença de um eixo central de fluxo, de
a proximidade de tudo ajuda à economizar uma floricultura virada de costas para a
com transporte. Mora no Anhangabaú e praça, e dos bancos pré-existentes conforma
faz tudo pelo centro, menos as compras. uma ocupação linear, onde os aglomerados
“Eu tenho três crianças que comem bem. ainda se misturam de certa forma. Em suas
Os supermercados daqui são pequenos extensões mais próximas ao Minhocão, o
e caros”. A família vai à praça Rotary de entorno é menos atrativo, a iluminação é
três a quatro vezes por semana, quase menos intensa e o barulho é mais intenso o
sempre vai andando e demora por volta espaço configurado resulta em uma praça
de 15 minutos, as vezes vai de bicicleta. pouco visitada, usada majoritariamente por
Segundo ela, é um bom ligar para levar moradores de rua. No caso da Praça Rotary a
crianças, principalmente agora depois segmentação do uso da praça fica mais clara.
da reforma. “Não sei nem porque existe Os jovens ficam próximos à área de mesas e
praça sem cerca. Ninguém leva criança da quadra, os dois parques de crianças, um
em praça sem cerca”. A guarita da policia para mais velhos e outro para os menores,
que fica na esquina, do lado de fora da abriga não só as mães como os idosos. Os
praça também deixa Thais mais tranquila. donos de cães ou se direcionam ao parque
Para ela, por exemplo, levar os filhos no gradeado em uma das extremidades da
Largo do Arouche não é uma opção. “O Praça ou passeiam rapidamente ao longo do
Arouche ta muito mal cuidado. Tem muitas eixo principal, que liga a entrada e saída do
drogas lá. É perigoso”. lugar. Aqueles que procuram descanso rápido
Aos 60 anos de idade, José Carlos,
passeia com sua cachorra Julie na Praça
Rotary pelo menos 3 vezes por semana,
e aos domingos as 7h da manhã.”De
sábado à noite fica bem cheio aqui” Sua
casa fica próxima à Santa Casa, onde
mora à 20 anos e todas as suas atividades
são realizadas nas proximidades. Seu
maior deslocamento é para a região do
Campo Belo, onde ele trabalha. José
mora no centro à mais de 40 anos, e
antes de seu endereço atual ele ficava
na Rua Vieira de Carvalho, próximo ao
Largo do Arouche. “O Largo do Arouche
está destruído hoje em dia. Na época
que eu morei lá era bonito.Hoje não é
seguro, não é higiênico”. Ele faz tudo a
pé pelo centro e se descola de ônibus até
o trabalho. Ele sempre gostou do centro
pela proximidade com tudo, nunca teve
vontade de morar em outro lugar.
“O Largo do Arouche é um dos lugares
mais incríveis que eu ja visitei. Tem
um conto do Borges que chama O
Aleph, que seria uma esfera de onde
ele conseguia ver toda a humanidade
ao mesmo tempo. E eu acho que o
Arouche tem essa coisa porque cada
hora que você vai, cada dia que você
frequenta, tem diferentes pessoas.
Tem muito aposentado, mas a noite
é dos jovens. Tem dia que você vê
preferência de namoro feminino,
outro dia de namoro masculino, outro
dia tem predominância dos trans. E o
bicho pega domingo a noite, a praça
fecha. É isso que eu gosto do centro,
esse aleph, que eu vejo desde o
imigrante africano, ao árabe e ao
judeu. E tem de tudo, tem gente com
transtorno mental, tem usuário de
drogas, tem gente do asilo”

“E ao mesmo tempo que tem uma coisa "Tem uma coisa na Vila Buarque
cosmopolita no centro,tem uma relação entre que me atrai que são os velhos
as pessoas e tem uma diversidade que não tem sentados na calçada. Eu queria
nos bairros. Porque os bairros são muito mais me aposentar pra me juntar
segmentados e normalmente mais conservadores. à eles. Aqui é um lugar muito
E aqui tem de tudo. As pessoas tem que coexistir da comunicação.O Arouche é
porque o outro não ta longe, ele ta aqui. Quem é centro mas tem essa estrutura
mais mente fechada tem que se adaptar. Aqui tem comunicativa de bairro.”
um restaurante chique super caro com um ponto
de prostituição do lado.”Jair, companheiro de
Dani.
Stephano de 46 anos é jornalista de uma
editora francesa e trabalha em casa, na
rua Rego Freitas. Voluntário de uma ONG "Fora a programação
de cães na Rua General Jardim e passeia cultural que a gente
com os cachorros todos os dias na praça não da conta.
Buenos Aires ou praça Rotary, ambas As opções são
com parques cercados onde é possível incríveis e a gente
soltar os cães. Ele também passeia com aproveita muito.
os cachorros no Largo do Arouche, mas lá Aqui no Arouche
não é possível solta-los. “Gosto de lá, é um sempre tem coisa
lugar agradável, com árvores. O problema mais voltada pro
é que é sujo”. Gosta do centro e da sua clube LGBT e pros
energia, principalmente o viaduto do chá e jovens. Na virada
o Anhangabaú, que segundo ele mostram aqui tem o palco
o “espirito de São Paulo”. Reclama da Vila brega, que toca
Mariana, onde morou de 2002 até 2005. Sidney Magal. A
“ë um bairro da classe alta. O centro é virada aqui é incrível
mais diverso, mais popular”. Além disso tudo fica aberto, até
o centro é cheio de opções e tudo é o mercado de flores,
perto, e para ele que não se desloca de que eu amo.” Victor,
carro isso é essencial. Compras, cinema, sobrinho de Dani.
restaurantes, ele encontra tudo próximo à
sua casa. “Não posso dirigir em São Paulo
se não fico louco”.
“Eu to nesse apartamento faz pouco tempo, um ano e meio, mas hà 17 anos eu morei ali
na Rua Marquês de Itú, na frente da santa casa, porque eu fiz a Escola de Sociologia e
Politica(…) Meu primeira estágio foi na Ação Educativa, na Rua General Jardim. E ai todos os
outros estágios que eu fiz foram na Rua Doutor Vila Nova, onde tem o SESC Consolação. Isso
foi me ligando à essa região sobremaneira.”

"O meu marido tinha pavor de mora aqui "Eu sempre vim do bairro e a visão que eu
no centro.Quando a gente precisou se tinha do centro era bastante outra, por sempre
mudar e começou a ver apartamento falarem que o centro é cheio, agitado. E tem
eu comentei sobre a Vila Buarque. E ai uma diversidade que apesar de muito bacana
a gente foi ver apartamento e quando eu não imaginei que pudesse ser tão legal
a gente passou no Largo do Arouche de morar. Quando a gente mudou teve um
eu percebi que ele tinha uma relação processo de adaptação e hoje meu acostumei.
afetiva com o Arouche. Ai eu falei: é ai O centro tem uma diversidade que eu aprendi
que eu vou fisgar esse homem para vir a gostar. O centro tem essa fixidez do pessoal
para o centro.” que mora e tem todo esse contingente de
pessoas que passam. Eu nunca tinha pensado
no centro como um lugar onde as pessoas Luciane tem 38 anos e trabalha no SENAC.
estavam. Mas na verdade também tem Morava no Jardim São Nicolau, na Zona
algumas coisas de bairro.” Leste, mas mudou-se recentemente
para perto do Largo do Arouche. Ela já
trabalhou 5 anos na Rua Marquês de
Itú. Diz que gosta da Praça Rotary e seu
entorno. “Pro lado de cá é melhor. Aqui é
"Fora a programação
mais gostoso do que lá no centro onde eu
cultural que a gente
trabalhava. A praça parece ser tranquila.
não da conta. As
O bairro parece ser bem tranquilo”.
opções são incríveis
Desde que começou a trabalhar no
e a gente aproveita
SENAC frequenta a praça todos os dias
muito. Aqui no Arouche
por volta as 18 horas. Comenta que nunca
sempre tem coisa mais
viu usuários de drogas na praça e que o
voltada pro clube
bairro é bem familiar. Acha o entorno da
LGBT e pros jovens.
Rotary mais seguro que o resto do centro,
Na virada aqui tem o
mas comenta mesmo assim que onde
palco brega, que toca
morava a segurança é pior. Segundo ela,
Sidney Magal. A virada
por falta de tempo trouxe os filhos para
aqui é incrível tudo fica
a praça mas tem vontade. ”Eu trabalho
aberto, até o mercado
de sabado, e um dia desses eu tava até
de flores, que eu amo.”
pensando em pedir pro meu marido vir
me buscar e trazer as minhas crianças pra
ficar me esperando”.
mais que à ligava a região, comentava.
Ela falou sobre sua trajetória pelo centro: estudou na Escola de Sociologia e Politica e logo
quis se mudar pra perto. Foi para a Rua Marquês de Itu e lá ficou até sair da faculdade. Depois
passou a morar em bairros, se casou e com o marido Jair foi morar no Tatuapé. Ela conta que
sempre quis voltar para o centro, mas o marido tinha muito receio de morar na região. Quando
precisaram se mudar ela o convenceu de morar no Arouche, onde estão à um ano e meio. Ela
faz tudo a pé, por questões ecológicas e políticas ela e o marido não dirigem, um estilo de vida
que o centro não só permite como incentiva. Em seus passeios conta que sempre observa o
que abre e fecha no centro. Comenta que o centro é cheio de bancos e telemarketings, e por
O casal Andre, de 32, e Paula de 33 moram causa do publico que trabalha nesses locais, tem muitas lojas de doces também. Mas sente
proximos da Praça Rotary. Ela trabalha na falta de mercados, que segundo ela, são muito melhores nos bairros.
Rua Angélica e ele, na Zona Sul. Todos os
dias utilizam a praça pra dar uma volta com Conta ainda que sempre gostou do centro pela sua pluralidade. Segundo Dani os centros
o cachorro, mas não usam muito o espaço são os locais que atraem todo tipo de gente, principalmente os excluídos, que não se
para permanecer. Não usam como lazer, encaixaram nos bairros. O Largo do Arouche, pra ela, é um lugar muito diverso, por onde as
dão preferencia para programas culturais, vidas atravessam. Comenta que “Arouche” era um militar, e que a praça era utilizada para
shoppings e cinemas. Reclamam da falta exercícios militares, e hoje é uma praça de público LGBT, o que ela acha incrível. Cita Jorge
de iluminação da Rotary e da quantidade Luis Borges e diz que em um de seus contos chamado “O Aleph”o autor descreve um ponto
de lixo no chão. Fazem tudo pelo bairro e circular de três centímetros de diâmetro de onde é possível ver toda a humanidade, todo
a pé, apesar de terem carro, já que é tudo o universo ao mesmo tempo. Para ela o Largo do Arouche constitui um ‘“Aleph”, onde tem
muito próximo. É essa proximidade que horários de predominância masculina ou de feminina, maior numero de aposentados, e maior
os atraiu. “A gente já pensou em morar numero de jovens etc. Para ela a praça constitui esse espaço onde se vê de tudo, onde os
em condomínio fechado mas você pega diferentes estão ao mesmo tempo no mesmo lugar e assim coexistem. Após 45 minutos de
a conveniência de ter tudo perto aqui e lá entrevista, seu sobrinho Vitor se junta na conversa e conta que para ele cada rua do centro
não vale a pena. Você pega um busão e constitui um universo próprio.
já ta perto de um museu. Aqui tem tudo.”
Ao final da entrevista, Jair, o marido de Dani se senta à nossa frente, à pedido da esposa,
para contar um pouco sobre seu medo de morar no centro. Ele diz que a questão principal
que sempre o deixou receoso foi a segurança, e a da agitação. Segundo ele os centros e a
periferia são as regiões com maiores problemas de segurança. Mas com o passar do tempo
ele foi se acostumando e o carinho pelo Largo do Arouche foi crescendo.
Em uma das primeiras visitas ao Largo do Arouche conhecemos um grupo de amigos que
se encontrava na praça todos os dias, as 10 horas da manhã, e se sentavam para conversar.
O grupo nos chamou a atenção e resolvemos nos aproximar. Conhecemos Aziz Bijur, Paulo
Sperandio, Paulo Claux, Soelly Jimenes, e Daniele Kowalewski. Dani, foi uma das mais
entusiasmadas com a pesquisa. Declarou seu amor pelo centro e pelo Largo do Arouche
e disse que morava no Edifício Arouche, muito próximo à praça .Após quase uma hora de
conversa começávamos a nos despedir de todos. Foi então que Dani passou seu e-mail e
se ofereceu para ajudar como pudesse. Logo entramos em contato, perguntando se seria
possível que ela concedesse uma visita até a sua casa, onde pudéssemos conversar e filma-
la. As amigas Milena, Yasmin e Sinfira tem
respectivamente 13, 14 e 13 anos. Usam
A experiência de realizar uma segunda conversa com Dani em seu espaço privado se mostrou a praça nas quartas e sextas. “Não tem
muito diferente da aproximação até então feita. Construiu-se além de um complemento, uma nada pra fazer de tarde então a gente
continuidade: a primeira conversa ocorre no espaço publico, e procura entender como a vem aqui pra conversar.”. Elas estudam
pessoa se relaciona com a região onde esse espaço publico se encontra e o espaço em si, na Escola Estadual Marina Cintra, na
enquanto a segunda ocorro no espaço privado, mostrando não só a relação casa e perímetro Bela Vista, mas todas moram próximas
do recorte mas também a relação casa e espaço publico. Como este tarefa na vivência do ao Minhocão. Sempre que procuram lazer
espaço privado das pessoas. O aprofundamento da pesquisa, portanto, foi possível pelo uso é pelo bairro. Fazem tudo a pé e é raro
de uma nova escala de informações obtidas através desse contato ainda mais pessoal. A usarem ônibus.
pesquisa pretendia que essa segunda aproximação ocorresse em cada praça pesquisada,
de forma que as informações se completassem, porém o tempo de pesquisa não se mostrou
viável para tal aprofundamento.

No dia da visita, que aconteceu em um sábado, fomos recebidos por Dani e seu sobrinho
Vitor, que mora com os tios para ficar mais perto da faculdade onde estuda, o Mackenzie. Ela
nos mostrou a casa e a janela do quarto do sobrinho que tem visão para o minhocão. Contou
que fora a janela da sala, que tem vista para o outro bloco do Edificio Arouche, a janela de
Vitor era a única da casa, e comentou que seu único ressentimento com o lugar era a falta de
luz. Logo nos sentamos, montamos a câmera e começamos a conversar. Essa aproximação
se deu da mesma maneira, sem entrevista previamente escrita e permitindo que o dialogo
fosse sendo construído. Logo percebemos a diferença na fala de Dani em comparação a
conversa que tivemos na praça. Em sua casa ela estava visivelmente mais a vontade, se
permitia ficar pensando no centro antes de expor suas ideias, e sempre que lembrava de algo
Luís tem 33 anos, é publicitário e mora
sozinho no Copan. Ele explica que morava
na Vila Mariana, mas sempre quis morar
no centro, “onde as coisas acontecem.”
Além disso, ele acrescenta “Nunca
gostei muito de carro. Agora gosto ainda
menos”. A bicicleta é o principal meio de
transporte para Luís.
Joana tem 24 anos, estuda direito no
Mackenzie e mora próxima à Praça
Roosevelt. “Desde cedo queria sair da
casa dos meus pais. Hoje eles ainda
ajudam com uma parte do preço da
faculdade, mas trabalhando consegui
dividir um apê com umas amigas”. Joana
explica que o centro é ótimo pra jovens
atraídos pela facilidade de acesso e
infraestrutura proporcionados pela região
central e por preços relativamente baixos
oferecidos no mercado imobiliário.

ATIVAÇÃO DOS LOTES


André tem 27 anos, fez teatro e ainda atua, Cláudia e Andrea moram na Rua
mas explica que também trabalha como Dona Veridiana há mais de 20 anos.
garçom num restaurante para conseguir Frequentam o Minhocão tanto de final
bancar os gastos do aluguel. “Gosto de semana quanto de dias de semana
bastante aqui da Roosevelt, venho desde a noite para caminharem. Elas divergem
que tinha 16 anos por causa dos teatros, em relação a concepção do futuro do
fiz vários amigos. É agitado mas bem elevado: enquanto uma apoia da ideia da
tranquilo ao mesmo tempo. Ai quando renovação do espaço, a outra é a favor
comecei a ganhar meu próprio dinheiro, da demolição. “Eu não moraria de frente
resolvi me mudar pra cá.” para o Minhocão. Imagina o barulho, a
sujeira na casa dessas pessoas. Você
deve chegar e não tem aquele conforto de
casa.” Diz Andrea que também fala sobre
sua ideia de parque. “Um parque deve ter
árvores. Aqui, as sombras são projetadas
pelos prédios tirando que as pessoas que
moram aqui de frente não tem privacidade,
se bobear conseguimos ver o que eles
estão assistindo na televisão.” Enquanto
Claudia fica animada com a ideia de
um parque tão próximo de casa e que
possibilite sua caminhada pois comenta
que moram perto da praça Buenos Aires
mas ela fecha.
Paulo tem 25 anos e é Rio Claro, interior Patrick tem 53 anos, é separado e mora
de São Paulo. Mudou-se para a capital sozinho quitinete na rua Avanhandava.
por conta de seu trabalho. Primeiro morou “Quando me separei resolvi sair de São
na pompeia mas veio para o centro faz 4 Caetano e vim pra esse meu apartamento
meses por conta de questões financeiras. que estava alugado.” Conta que a região
Gostou da mudança principalmente por possui vários studios e quitinetes para
conta do transporte. Comenta que agora familias pequenas ou pessoas solteiras
anda pra todos os lados de transporte e por isso os mercados da região se
publico seja metro, trem ou onibus. especializaram em serviços como
Também conta agora costuma sair muito comidas prontas, kits de cozinha para
pela região e gosta muito de frequentar esse público.Ele é escritor, trabalha em
os bares da Praça Roosevelt e voltar a pé casa e vai a praça Roosevelt não só para
para casa. passear com seu cachorro, como também
Gosta de praticar esportes e costumava para lazer. “Venho sempre aqui nos bares,
ir ao Ibirapuera e Parque da Água as vezes nos teatros. Sei que tem muita
Branca para correr, mas atualmente, pela gente que se incomoda com o barulho
praticidade, frequenta o Minhocão a noite. que fica até tarde, mas eu moro no alto e
meu apartamento é virado pro outro lado,
então não me incomodo.”
Antonio, 57 anos, trabalhava como Rosimeire mora na Av. Amaral Gurgel à
pedreiro no interior mas depois de sofrer quase 7 anos. Vive com o marido e filha
um infarto passou a morar com a filha na no 11º andar de um prédio voltado para o
Rua Santa Isabel. Conta que faz tudo no Minhocão. Ela explica que era complicado
bairro... mercado, farmacia e adora ir fazer ter que cuidar da filha ainda pequena e
compras na rua Baraõa de Itapetininga. trabalhar longe. “Pra gente é muito bom
Frequenta a praça da República todos os morar aqui. É bem melhor que no Campo
dias pois busca sua neta na creche mas Limpo, onde a gente morava antes. Sobra
quando questionado a respeito da praça, mais tempo. É centro né, ai as vezes a
relata: “Não gosto daqui não. Nessa hora gente vê umas coisas estranhas, mas
[do almoço] até passa, mas tem sempre acostuma.”
esse movimento estranho. É muito travesti,
gente com droga. As pessoas não tem
respeito”. Aos domingos, com os netos,
Antonio costuma visitar o Parque da Luz
“Lá é mais seguro”.
Ivane mora na região central há quinze Com 28 anos, Daniela mora na Rua
anos e Jaqueline há três, atualmente tia Coronel Xavier de Toledo e trabalha como
e sobrinha moram juntas na Rua Maria doméstica num apartamento na Rua Dona
Antônia. Segundo Jaqueline, gostam de Veridiana. Seu filho, Eduardo, tem 5 anos e
morar na área “É tudo perto, a Paulista tá estuda na creche da Praça da República.
logo ali. Vou sempre a pé pra faculdade “Aqui eu não solto ele [referindo-se ao
que é na Rua Augusta”. Elas vão ao filho], tenho medo. Acho que eu sou de
Minhocão toda semana levar os cachorros outro tempo, não pego nem o celular.”
para passear, mas costumam leva-los no Além disso, ela acrescenta “Já fui na
cachorrodormo da praça Rotary também. Rotary, acho que duas vezes. Vou mais ali
“É uma reta só. A gente fica passeando na praça que tem a igreja amarela, sabe?
quase 1:30h. É mais gostoso no final [Largo do Paissandu]. Mas não tenho
da tarde, quando tá mais fresco e bate muito tempo pra isso não, trabalho muito.
menos sol”. Ainda mais agora com o bucho cheio. ”
10 50

Hosler mora na São João e trabalha no Francisca tem 63 anos e hoje é


mesmo endereço como cozinheiro de aposentada. Morava no Tremembé e
um restaurante especializado em comida trabalhava no centro, mas por gostar
peruana. A prostituição o incomoda mas muito da praticidade da região central,
assegura adorar o centro e entende a principalmente pela proximidade do
praça da República como o coração da metrõ, mudou-se pra Avenida São João.
cidade de São Paulo. Ainda assim tem Frequenta a Praça da República para
medo: foi assaltado no local as 19h. “Aqui passear com seu cachorro. “Eu venho
tem tudo pra ser bonito, mas é muito durante o horário comercial. Depois disso
mal cuidado. A polícia taí mas não ajuda não, é muito perigoso. Fico vulnerável.
muito.” Acontece muitos programas e tem
bastante gente que usa drogas.”

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