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NÓTULAS DA COMUNICAÇÃO

A acção executiva no novo Código de Processo Civil

JOEL TIMÓTEO RAMOS PEREIRA

1. Introdução

Enquadramento geral

1) Embora o processo declarativo continue a ser dividido em comum e especial (art.º


546.º), o processo comum passa a seguir uma forma única, deixando de ser dividido
em acções sob a forma de processo ordinário, sumário ou sumaríssimo. O valor do
processo deixa, assim, de ter relevância na forma de processo comum declarativo.

2) Já o processo executivo, que mantém a clássica divisão de pagamento de quantia certa,


prestação de facto e entrega de coisa certa, passa em relação à primeira, a seguir a
forma de processo ordinário ou sumário, conforme a natureza do título executivo.

2.1. Assim, emprega-se a forma de processo sumário (art.º 550.º, n.º 2)

a) Em decisão arbitral ou judicial nos casos em que esta não deva ser
executada no próprio processo;

b) Em requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta fórmula


executória;

c) Em título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida, garantida por


hipoteca ou penhor;

d) Em título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida — cheques,


livranças, acta de condomínio, etc. — cujo valor não exceda o dobro da alçada
do tribunal de 1.ª instância (portanto, até € 10.000,00).

2.2. Mesmo assim, ainda que fosse aplicável a forma de processo sumário, esta não será
aplicável — sendo aplicável a forma ordinária — nos seguintes casos (art.º 550.º, n.º 3)

a) Quando seja necessária a escolha de obrigação alternativa (art.º 714.º)

b) Quando a obrigação seja condicional ou dependente de prestação (art.º 715.º)

c) Quando a obrigação exequenda careça de ser liquidada na fase executiva e


a liquidação não dependa de simples cálculo aritmético;

d) Quando, havendo título executivo diverso de sentença apenas contra um


dos cônjuges, o exequente alegue a comunicabilidade da dívida no
requerimento executivo;

e) Nas execuções movidas apenas contra o devedor subsidiário que não haja
renunciado ao benefício da excussão prévia.

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2.3. Apesar do disposto na al. a), do n.º 2, do art.º 550.º, do NCPC, quando se trate de
execução de sentença para pagamento de quantia certa, o art.º 626.º, n.º 2 estatui
que segue a tramitação prevista para a forma sumária (havendo lugar à notificação
do executado após a realização da penhora), só excepcionando os casos referidos
supra em 2.2.

Formalismo da execução de sentença (pagamento de quantia certa)

 Simples requerimento do exequente (preenchendo o formulário de


requerimento executivo) – art.º 626.º, n.º 1, correndo a execução como
incidente do processo declarativo

 O processo corre termos na Secção Cível (v.g., Secção Cível da


Instância Central — processos com valor superior a € 50.000,00 ou
Secção Cível da Instância Local — processos com valor até €
50.000,00) e não na Secção de Execução.

o Permite libertar a Secção de Execução de processos de


execução de sentença;

o Porém, apesar de estatisticamente o processo declarativo estar


terminado, continua a ter de ser tramitado (pelo Juiz, pela
secretaria e pelo agente de execução).

 Não é possível cumular a execução de sentença (correndo esta nos


próprios autos declarativos) com a execução fundada em título
diverso [art.º 709.º, n.º 1, al. d)].

 De qualquer modo, quando o título executivo seja uma sentença, é


permitido cumular a execução de todos os pedidos julgados
procedentes (quer seja de pagamento de quantia certa, prestação de
facto ou entrega de coisa certa) – art.º 710.º

 Enquanto a sentença estiver pendente de recurso (por este ter


efeito meramente devolutivo), se o bem penhorado for a casa de
habitação efetiva do executado, o juiz pode, a requerimento daquele,
determinar que a venda aguarde a decisão definitiva, quando aquela
seja suscetível de causar prejuízo grave e dificilmente reparável – art.º
704.º, n.º 4.

2.4. Nos demais casos aplicar-se-á a forma de processo ordinário.

 Neste âmbito, também quando ocorra cumulação de execuções que


devam seguir forma de processo comum distinta, a execução segue
a forma ordinária (art.º 709.º, n.º 5).

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3) As diferenças fundamentais entre o processo sumário e ordinário prende-se com:

a. A competência para a sua tramitação inicial. Na forma de processo sumário,


o processo é tramitado pelo agente de execução, enquanto que na forma de
processo ordinário passa a ser a secretaria a fazê-lo, na sua fase inicial
(liminar, antes da penhora)

b. A tramitação inicial: na forma de processo sumário, a penhora antecede a


citação do executado para deduzir oposição.

4) O processo de execução corre em tribunal quando seja requerida ou decorra da lei a


prática de ato da competência da secretaria ou do juiz mas só até à prática do mesmo
(art.º 551.º, n.º 5).

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2. Títulos executivos
Novo elenco de títulos executivos

De acordo com o art.º 703.º, do NCPC passam a ser títulos executivos apenas:

a) As sentenças condenatórias;

b) Os documentos exarados ou autenticados, por notário ou por outras entidades ou


profissionais com competência para tal, que importem constituição ou
reconhecimento de qualquer obrigação;

c) NOVO — Os títulos de crédito,

ainda que meros quirógrafos, DESDE QUE, neste caso,

 os factos constitutivos da relação subjacente constam do próprio


documento

 OU sejam alegados no requerimento executivo;

d) Os documentos a que, por disposição especial, seja atribuída força executiva.

Atenção: Quando a execução se funda em título de crédito e o


requerimento executivo tiver sido entregue por via electrónica, o
exequente deve sempre enviar o original para o tribunal, dentro dos 10
dias subsequentes à distribuição; na falta de envio, o juiz, oficiosamente
ou a requerimento do executado, determina a notificação do exequente
para, em 10 dias, proceder a esse envio, sob pena de extinção da
execução

Ficam assim excluídos (em relação ao elenco actual)

Actual art.º 46.º, n.º 1, al. c) — Os documentos particulares, assinados pelo devedor,
que importem constituição ou reconhecimento de obrigações pecuniárias, cujo
montante seja determinado ou determinável por simples cálculo aritmético de acordo
com as cláusulas dele constantes, ou de obrigação de entrega de coisa ou de prestação
de facto.

 Deste modo, quem for detentor de documentos particulares que actualmente se


encontram abrangidos pela art.º 46.º, n.º 1, al. c) como títulos executivos devem
instaurar as respectivas execuções até à entrada em vigor do NCPC.
Posteriormente tais documentos deixam de ter força executiva, sendo
necessário instaurar uma acção declarativa ou injunção para serem executados.

 A forma de ultrapassar a exclusão consiste em reforçar os documentos


particulares em que haja constituição ou reconhecimento de obrigações
pecuniárias com a autenticação por notário, advogado ou solicitador ou fazer
acompanhar esses documentos com títulos de crédito, ainda que estes sejam
emitidos como meros quirógrafos.

Mantêm-se os demais títulos executivos (v.g., acta de assembleia de condóminos,


abrangida pela al. d) do art.º 703.º).

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3. Repartição de competências
3.1. Juiz

Embora se faça referência ao retorno de um poder geral de controlo do processo pelo


Juiz, os casos de competência do Juiz expressamente previstos são precisamente os mesmos
dos elencados no actual art.º 809.º.
Cfr. art.º 723.º NCPC:
1 - Sem prejuízo de outras intervenções que a lei especificamente lhe atribui, compete
ao juiz:
a) Proferir despacho liminar, quando deva ter lugar;
b) Julgar a oposição à execução e à penhora, bem como verificar e graduar os créditos,
no prazo máximo de três meses contados da oposição ou reclamação;
c) Julgar, sem possibilidade de recurso, as reclamações de atos e impugnações de
decisões do agente de execução, no prazo de 10 dias;
d) Decidir outras questões suscitadas pelo agente de execução, pelas partes ou por
terceiros intervenientes, no prazo de cinco dias.
2 - Nos casos das alíneas c) e d) do número anterior, pode o juiz aplicar multa ao
requerente, de valor a fixar entre 0,5 e 5 UC, quando a pretensão for manifestamente
injustificada.

3.2. Desempenho das funções de agente de execução

3.2.1. Alargamento dos casos de desempenho das funções por oficial de justiça
Cfr. art.º 722.º:
Incumbe ao oficial de justiça, a realização das diligências próprias da competência
do agente de execução:

a) Nas execuções em que o Estado seja o exequente;

b) Nas execuções em que o Ministério Público represente o exequente;

c) Quando o juiz o determine, com fundamento em requerimento do exequente


fundado na inexistência de agente de execução inscrito na comarca onde pende a
execução e na desproporção manifesta dos custos que decorreriam da atuação de agente
de execução de outra comarca;

d) Quando o juiz o determine a requerimento do agente de execução, se as


diligências executivas implicarem deslocações cujos custos se mostrem
desproporcionados e não houver agente de execução no local onde deva ter lugar a
sua realização;

e) Nas execuções de valor não superior ao dobro da alçada do tribunal de 1ª


instância [€ 10.000] em que sejam exequentes pessoas singulares, e que tenham
como objeto créditos não resultantes de uma atividade comercial ou industrial, (v.g.,
decorrente de um mútuo, responsabilidade civil contratual ou extracontratual) desde
que o solicitem no requerimento executivo e paguem a taxa de justiça devida;

f) Nas execuções de valor não superior à alçada da Relação, se o crédito


exequendo for de natureza laboral e se o exequente o solicitar no requerimento
executivo e pagar a taxa de justiça devida.

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3.2.2. Âmbito dos actos a serem executados pelo agente de execução

Artigo 719
1 - Cabe ao agente de execução efetuar todas as diligências do processo
executivo que não estejam atribuídas à secretaria ou sejam da competência do
juiz, incluindo, nomeadamente, citações, notificações, publicações, consultas
de bases de dados, penhoras e seus registos, liquidações e pagamentos.
2 - Mesmo após a extinção da instância, o agente de execução deve
assegurar a realização dos atos emergentes do processo que careçam da sua
intervenção.

Contudo cfr. n.º 3:

Estão excluídos dos actos do AE os que estão atribuídos à secretaria do


Tribunal, a saber:

o As previstas no art.º 725.º de recusa do requerimento e conclusão ao Juiz


para despacho liminar

o Funções do art.º 157.º CPC na fase liminar e nos procedimentos e


incidentes de natureza declarativa (regra geral que prevê):
o Asseguram o expediente, autuação e regular tramitação dos
processos pendentes, nos termos estabelecidos na respetiva lei de
organização judiciária, em conformidade com a lei de processo e na
dependência funcional do magistrado competente.
o Incumbe à secretaria a execução dos despachos judiciais e o
cumprimento das orientações de serviço emitidas pelo juiz, bem
como a prática dos actos que lhe sejam por este delegados

o Atenção: em qualquer caso, as citações, mesmo quando o processo corra


termos na sua fase inicial na secretaria (execução sob a forma de processo
ordinário), são da competência do AE (art.º 719.º, n.º 3 in fine) – cfr.
art.º 726.º, n.º 8.

3.2.3. Nomeação e substituição

1) Mantém-se a mesma regra quanto à nomeação

2) Mantém-se a possibilidade de substituição pelo exequente, porém passa a impor-


se a este o ónus de expor o motivo da substituição – 720.º, n.º 4.

a. É certo que a norma não estabelece qualquer consequência, designadamente


se o motivo for infundado.

b. Parece contudo que a norma impõe que o exequente exponha de forma


expressa o motivo da substituição — se o não fizer, a substituição não deve
produzir efeitos, ainda que o Exequente tenha comunicado ao AE (requisito
da norma para início da produção de efeitos).

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c. Considerando, contudo, que a norma não exige que o motivo seja
justificado, não é possível concluir que desse acto de substituição seja
possível deduzir impugnação para o Juiz.

i. O art.º 723.º, n.º 1, d) permite que o Juiz decida “outras questões


suscitadas pelo AE”, mas nessas “outras questões” não estará
incluída a limitação do direito de substituição do AE.

ii. Quanto muito, se o motivo invocado for inidóneo, atentatório da


boa fé ou bons costumes ou constituir um manifesto abuso de
direito, poderá o AE suscitar a questão ao Juiz para efeitos de
apreciação da litigância de má fé na prática dessa conduta
processual.

3) Foi excluída da versão final da Proposta de Lei a previsão constante do


Anteprojecto que atribuía ao Juiz o poder de destituir o agente de execução,
oficiosamente ou a requerimento do exequente.
Esta seria a mais adequada por consentânea com o poder geral de controlo
do processo e por permitir uma intervenção mais pronta e imediata
relativamente à nova Comissão que irá ser criada (Comissão para o
Acompanhamento e Controlo dos Auxiliares de Justiça)

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4. Processo Comum Ordinário – Fase Inicial

4.1. QUANDO É APLICÁVEL

Título executivo:

a) Título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida com valor superior ao dobro


da alçada do Tribunal de 1.ª Instância (> € 10.000,00) desde que não esteja
garantida por hipoteca ou penhor

Qualquer que seja o título executivo:

E em particular quando sendo o título sentença não deva a execução correr como
incidente da acção declarativa por:

a) Quando seja necessária a escolha de obrigação alternativa (art.º 714.º)

b) Quando a obrigação seja condicional ou dependente de prestação (art.º 715.º)

c) Quando a obrigação exequenda careça de ser liquidada na fase executiva e


a liquidação não dependa de simples cálculo aritmético;

d) Quando, havendo título executivo diverso de sentença apenas contra um


dos cônjuges, o exequente alegue a comunicabilidade da dívida no
requerimento execu tivo;

e) Nas acções apenas contra o devedor subsidiário que não haja renunciado ao
benefício

4.2. REQUERIMENTO EXECUTIVO

1. O requerimento executivo segue, genericamente, as mesmas regras actualmente


em vigor. Apenas é acrescentado que no requerimento executivo o exequente deve
indicar um número de identificação bancária, ou outro número equivalente, para
efeito de pagamento dos valores que lhe sejam devidos (art.º 724.º, n.º 1, al. k)).

— A falta de indicação deste elemento constitui fundamento de recusa


pela secretaria – art.º 725.º, n.º 1, al. c).

2. Quando a execução se funde em título de crédito e o requerimento executivo


tiver sido entregue por via eletrónica, o exequente deve sempre enviar o
original para o tribunal, dentro dos 10 dias subsequentes à distribuição; na
falta de envio, o juiz, oficiosamente ou a requerimento do executado,
determina a notificação do exequente para, em 10 dias, proceder a esse envio,
sob pena de extinção da execução (art.º 724.º, n.º 5).
— Evita-se o risco de haver mais de uma acção executiva sobre o bem
título executivo, quando a execução se funde num título de crédito
(cheque, letra ou livrança).

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4.3. REQUISITO PARA PROSSEGUIMENTO

1) O requerimento executivo só se considera apresentado após a comprovação do


pagamento da quantia inicialmente devida ao agente de execução a título de
honorários e despesas ou da concessão do benefício de apoio judiciário, na
modalidade de atribuição de agente de execução, bem como, quando aplicável,
após a comprovação do pagamento da retribuição prevista no n.º 8 do artigo 749.º
(sociedades comerciais com mais de 200 acções).

 Observação: A norma do art.º 724.º, n.º 6 deve ser conjugada com o disposto
no n.º 3 do art.º 721.º: a instância extingue-se logo que decorrido o prazo
de 30 dias após a notificação do exequente para pagamento das quantias em
dívida, sem que este o tenha efetuado.

 Isto significa que tendo a execução sido instaurada, o primeiro acto a ser
praticado é do agente de execução, notificando o exequente para proceder a
tal pagamento.

2) Mas como harmonizar esta norma com a intervenção da secretaria, que no


prazo de dez dias a contar da distribuição deve analisar o RE e recusá-lo caso
se verifiquem as circunstâncias do art-º 725.º ?

 Com efeito, a distribuição é diária e automática (art.º 208.º), só estando


restringida a submissão à distribuição quando o acto processual não
contenha todos os requisitos externos exigidos por lei. (art.º 207.º, n.º 1).

 Ora, a comprovação do pagamento da quantia inicialmente devida ao agente


de execução não pode considerar-se um requisito externo, razão por que o
RE, desde que preencha os elementos formais de submissão electrónica, é
apresentado à distribuição.

 Pode assim suceder a coincidência temporal de dois actos processuais:

o A comprovação do pagamento / sua ausência dos honorários e


despesas devidos ao AE;

o A recusa do RE pela secretaria, sendo certo que desta recusa há


reclamação para o Juiz (725.º, n.º 2), assistindo ao exequente a
faculdade de apresentar novo RE com os elementos em falta
considerando-se o novo requerimento apresentado na data da
primeira apresentação (725.º, n.º 3)

 De q ualquer modo, o art.º 725.º constitui uma mudança de paradigma: a


recusa do RE deixa de pertencer ao AE para passar a ser uma
competência exclusiva da secretaria.

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4.4. DESPACHO LIMINAR

4.4.1. Ocorrência

1) O despacho liminar é a regra na forma ordinária do processo de execução, devendo


a secretaria abrir conclusão ao Juiz para o efeito se porventura não ocorrer nenhuma
circunstância que motive a recusa do RE (art.º 726.º, n.º 1 ex vi 725.º a contrario).

2) Não há excepções. Deixou de haver dispensa de despacho liminar na forma de


processo ordinário.

Apesar do trabalho acrescido que esta alteração implica para o Juiz, acrescenta
segurança na verificação liminar do preenchimento dos requisitos e da inexistência
de excepções ou nulidades que só mais tarde, em fase avançada do processo,
poderiam ser objecto de apreciação, com prejuízo para as partes.

4.4.2. Âmbito

1) O despacho liminar tem o mesmo âmbito previsto actualmente.

2) É também nesse despacho que o juiz, em vez de ordenar a citação do executado,


pode deferir o pedido de dispensa de citação prévia, na sequência de pedido nesse
sentido pelo exequente no RE (art.º 724.º, al. j) e 727.º CPC)

4.4.3. Possibilidade de rejeição e aperfeiçoamento em momento posterior

Nos termos do art.º 734.º, O juiz pode conhecer oficiosamente, até ao primeiro ato de
transmissão dos bens penhorados, das questões que poderiam ter determinado, se
apreciadas nos termos do artigo 726.º, o indeferimento liminar ou o aperfeiçoamento
do requerimento executivo

— ESTA NORMA É MAIS PROPÍCIA DE APLICAÇÃO NO PROCESSO SUMÁRIO.

— MAS TAMBÉM PERMITE A SUA APRECIAÇÃO NA SEQUÊNCIA DE ARGUIÇÃO DE


EXCEPÇÕES PELO EXECUTADO NOS EMBARGOS DE EXECUTADO E QUE O JUIZ
NÃO TENHA CONSIDERADO AQUANDO DA PROLAÇÃO DO DESPACHO LIMINAR.

4.5. CITAÇÃO DO EXECUTADO

Independente da forma de processo, a citação do executado é sempre efectuada pelo AE.


Assim, a secretaria remete ao agente de execução, por via eletrónica, o requerimento executivo
e os documentos que o acompanhem, notificando aquele de que deve proceder à citação (726.º,
n.º 8).

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4.6. A POSIÇÃO DO CÔNJUGE DO EXECUTADO

4.6.1. INVOCAÇÃO DA COMUNICABILIDADE DA DÍVIDA PELO EXEQUENTE

A. Momento para dedução do incidente de comunicabilidade da dívida

• No requerimento executivo (art.º 726.º, n.º 6 NCPC e 741.º, n.º 1);

• Ou até ao início das diligências para venda ou adjudicação, devendo, neste caso,
constar de requerimento autónomo, o qual é autuado por apenso (art.º 741.º, n.º 1).

• Diferença: Actualmente, o momento para esse exercício é apenas o


requerimento inicial (art.º 825.º, n.º 2)

• Consequência: A dedução deste incidente nessa altura, determina a


suspensão da venda, quer dos bens próprios do cônjuge executado que já se
mostrem penhorados, quer dos bens comuns do casal, a qual aguarda a
decisão a proferir, mantendo-se entretanto a penhora já realizada (art.º
741.º,n.º 4)

B. Prolação de despacho de citação

• Se deduzido no requerimento executivo, o Juiz, no despacho liminar, ordena a


citação do cônjuge do executado (726.º, n.º 7) para os mesmos efeitos actualmente
previstos (requerer a separação de bens ou juntar certidão comprovativa da
pendência de acção em que a separação já tenha sido requerida).

• O art.º 741.º, n.º 2, prevê que (qualquer que seja o momento da dedução), o cônjuge
do executado é citado-.

C. Termos da citação do cônjuge

• O cônjuge é citado para, no prazo de vinte dias, declarar se aceita a


comunicabilidade da dívida, baseada no fundamento alegado

• Cominação: se nada disser, a dívida será considerada comum, sem prejuízo da


oposição que contra ela deduza (art.º 741.º, n.º 2, in fine).

• Diferença: Embora a cominação seja a mesma, não há a alternativa hoje


prevista no n.º 2, do art.º 825.º (alternativa entre pedir a separação de bens
ou declarar se aceita a comunicabilidade), pois a faculdade de pedir a
separação de bens decorre apenas após a penhora de bens comuns (art.º
740.º, n.º 1)

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D. Impugnação da Comunicabilidade (incidente a ser deduzido pelo cônjuge do
executado)

D.1. Se comunicabilidade tiver sido alegada no requerimento executivo [741.º, n.º 3,


al. a)]

• Cônjuge pretende opor-se à execução: a impugnação deve ser deduzida


nesse articulado. Neste caso, se o recebimento da oposição não suspender
a execução, apenas podem ser penhorados bens comuns do casal, mas a sua
venda aguarda a decisão a proferir sobre a questão da comunicabilidade.

• Cônjuge não pretende opor-se à execução: impugnação deduzida em


articulado próprio.

D.2. Se comunicabilidade tiver sido alegada em requerimento autónomo[741.º, n.º 3,


al. b)]

• A impugnação só pode ser efectivada na respectiva oposição (ao


requerimento)

E. Consequências

E.1. Dívida é julgada comum

• A execução prossegue também contra o cônjuge não executado, cujos bens


próprios podem ser nela subsidiariamente penhorados (art.º 741.º, n.º 5).

• Regime idêntico ao actual art.º 825.º, n.º 3, do CPC

E.2. Dívida não é considerada comum

• Se tiverem sido penhorados bens comuns do casal, o cônjuge do executado


deve, no prazo de 20 dias após o trânsito em julgado da decisão, requerer a
separação de bens ou juntar certidão comprovativa da pendência da acção em
que a separação já tenha sido requerida, sob pena de a execução prosseguir
sobre os bens comuns.

• Regime só em parte idêntico ao art.º 825.º, n.º 1 (diverge porque nesta


fase já há decisão sobre a natureza da dívida, enquanto que no actual
art.º 825.º, n.º 1, o único acto praticado nesta índole é o da penhora
de bens comuns).

• Consequência: aplica-se regime do art.º 740.º, n.º 2 - apensado o requerimento


de separação ou junta a certidão, a execução fica suspensa até à partilha (ex vi
742.º, n.º 6)

4.6.2. INVOCAÇÃO DA COMUNICABILIDADE DA DÍVIDA PELO EXECUTADO

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1. Requisitos para invocação

• Execução movida apenas contra um dos cônjuges

• Penhora de bens próprios do executado

2. Momento para arguição

• Apenas na oposição à penhora

3. Ónus acrescido à alegação

O executado deve especificar imediatamente quais os bens comuns que


podem ser penhorados (cfr. art.º 742.º, n.º 1). Deve entender-se que a falta
desta indicação é fundamento para o incidente não ser admitido pelo Juiz, por
falta de um dos seus elementos essenciais

4. Citação do cônjuge

• O cônjuge do executado é citado para, no prazo de 20 dias, declarar se aceita


a comunicabilidade da dívida, baseada no fundamento alegado, com a
cominação de que, se nada disser, a dívida será considerada comum (art.º
741.º, n.º 2, ex vi art.º 744.º, n.º 1, in fine).

5. Oposição do exequente ou impugnação pelo cônjuge

• A questão é resolvida pelo juiz no âmbito do incidente de oposição à


penhora, suspendendo-se a venda dos bens próprios do executado (art.º
742.º, n.º 2).

6. Consequências sobre o julgamento (se a dívida é ou não comum)

• As mesmas supra referidas quanto a invocação da comunicabilidade da


dívida seja feita pelo exequente (art.º 741.º, n.os 5 e 6 ex vi art.º 742.º, n.º 2,
in fine).

4.6.3. POSIÇÃO DO CÔNJUGE DO EXECUTADO

O art.º 787.º do NCPC mantém o mesmo estatuto do cônjuge, actualmente


previsto no art.º 864.º-A, com excepção do direito de deduzir oposição à
execução. Contudo, na dedução da oposição à penhora, pode cumular eventuais
fundamentos de oposição à execução.

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5. Processo Comum Ordinário – Oposição

EMBARGOS

A oposição à execução efectiva-se por meio de embargos (regresso desta nomenclatura


processual).

1. FUNDAMENTOS:

Os fundamentos de oposição são os mesmos, com supressão da referência às execuções


baseadas em requerimentos de injunção a que foi aposta a fórmula executória, pois a
regulação destas transita para a parte do código relativa às execuções sumárias.

2. TERMOS DOS EMBARGOS

Inovação no n.º 5 do art.º 732.º: Para além dos efeitos sobre a instância executiva, a
decisão de mérito proferida nos embargos à execução constitui, nos termos gerais, caso
julgado quanto à existência, validade e exigibilidade da obrigação exequenda.

Desta forma o legislador regula a força de caso julgado da decisão, que tem merecido
controvérsia e jurisprudência discordante, na medida em que o que se visa com a
oposição à execução pode não corresponder necessariamente à aferição da existência,
validade e exigibilidade da obrigação exequenda.

3. EFEITO DO RECEBIMENTO DOS EMBARGOS.

1) No regime actual, o recebimento dos embargos (oposição) diverge conforme tenha


havido ou não citação prévia.

2) No NCPC, unifica-se o regime e a suspensão da execução passa a ser a excepção


apenas nos três casos aí assinalados (733.º, n.º 1):

a. O embargante prestar caução;


b. Tratando-se de execução fundada em documento particular, o
embargante tiver impugnado a genuinidade da respectiva assinatura,
apresentando documento que constitua princípio de prova, e o juiz
entender, ouvido o embargado, que se justifica a suspensão sem
prestação de caução;
c. Tiver sido impugnada, no âmbito da oposição deduzida, a exigibilidade
ou a liquidação da obrigação exequenda e o juiz considerar, ouvido o
embargado, que se justifica a suspensão sem prestação de caução.
3) Por outro lado, no n.º 5, introduz-se uma previsão de protecção da habitação do
executado: Se o bem penhorado for a casa de habitação efectiva do embargante,
o juiz pode, a requerimento daquele, determinar que a venda aguarde a decisão
proferida em 1.ª instância sobre os embargos, quando tal venda seja suscetível de
causar prejuízo grave e dificilmente reparável.

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6. Processo Comum Ordinário – Penhora

6.1. Melhor sistematização dos bens essenciais à economia doméstica

1) Deixam de constar do elenco dos bens absoluta ou totalmente impenhoráveis os


«bens imprescindíveis a qualquer economia doméstica que se encontrem na
residência permanente do executado, salvo se se tratar de execução destinada ao
pagamento do preço da respectiva aquisição ou do custo da sua reparação». 736

2) Passam a constar do elenco dos bens relativamente impenhoráveis os «bens


imprescindíveis a qualquer economia doméstica que se encontrem na casa de
habitação efectiva do executado, salvo quando se trate de execução destinada ao
pagamento do preço da respectiva aquisição ou do custo da sua reparação». (art.º
737.º, n.º 3).

»» Em termos práticos não haverá significativa alteração, mas a sistematização é


relevante na hierarquia dos bens absolutamente/relativamente impenhoráveis

6.2. Bens parcialmente penhoráveis

1) No art.º 738.º passa a ficar consignado de forma expressa que:

a. A impenhorabilidade de 2/3 se reporta ao rendimento líquido

b. Substitui-se a expressão “prestações de natureza semelhante” pela


expressão “prestações de qualquer natureza que assegurem a sua
subsistência”. Estão incluídas nestas prestações os “falsos recibos verdes”,
as rendas, os juros, os frutos civis ou quaisquer outros rendimentos, que
ficam igualmente sujeitos ao mesmo limite de impenhorabilidade

2) Nova norma, n.º 4, do art.º 738.º - regula especificamente a impenhorabilidade


quando o crédito exequendo é de alimentos, indexando-a à totalidade da pensão
social do regime não contributivo.

3) No mesmo sentido, no n.º 5, mantém-se o regime da impenhorabilidade parcial


de saldos bancários de contas à ordem, correspondente ao salário mínimo nacional,
mas acrescenta-se que o valor impenhorável corresponde à totalidade da pensão
social do regime não contributivo quando o crédito exequendo é de alimentos.

4) A decisão de redução ou isenção de penhora, de carácter excepcional (n.º 6) passa


a ser da exclusiva competência do Juiz e não do AE.

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6.3. Bens a penhorar na execução contra herdeiro

No art.º 744.º é introduzida uma precisão, ficando esclarecido que a decisão sobre o
levantamento da penhora cabe ao Juiz e não ao AE. A alegação e prova faz-se “perante o
Juiz” (é este o segmento novo):
Artigo 744.º
Bens a penhorar na execução contra o herdeiro
1 - Na execução movida contra o herdeiro só podem penhorar-se os bens que ele tenha
recebido do autor da herança.
2 - Quando a penhora recaia sobre outros bens, o executado, indicando os bens da herança
que tem em seu poder, pode requerer ao agente de execução o levantamento daquela, sendo o
pedido atendido se, ouvido o exequente, este não se opuser.
3 - Opondo-se o exequente ao levantamento da penhora, o executado só pode obtê-lo,
tendo a herança sido aceite pura e simplesmente, desde que alegue e prove perante o juiz:
a) Que os bens penhorados não provieram da herança;
b) Que não recebeu da herança mais bens do que aqueles que indicou ou, se recebeu mais,
que os outros foram todos aplicados em solver encargos dela.

6.4. Penhora de bens imóveis

1) No art.º 755.º, n.º 4 atribui-se novamente uma competência ao Juiz que actualmente
incumbe ao AE. «O registo provisório da penhora não obsta a que a execução
prossiga, não se fazendo a adjudicação dos bens penhorados, a consignação judicial
dos seus rendimentos ou a respectiva venda sem que o registo se haja convertido
em definitivo, podendo o juiz da execução, ponderados os motivos da
provisoriedade, decidir que a execução não prossiga, se perante ele a questão for
suscitada»

2) Por outro lado, no âmbito da divisão de prédio penhorado, o art.º 759.º, n.º 2 volta
a consignar ser da competência do Juiz (e não do AE) a decisão de autorização
«que se proceda ao fraccionamento do imóvel e ao levantamento da penhora sobre
algum dos imóveis resultantes da divisão, quando se verifique manifesta suficiência
do valor dos restantes para a satisfação do crédito do exequente e dos credores
reclamantes e das custas da execução».

6.5. Penhora de direitos

1) Execução do terceiro devedor. No art.º 777.º, n.º 3, verifica-se uma alteração


relativamente ao processamento da execução referente ao depósito ou entrega da
prestação devida: a execução da prestação incumprida pelo terceiro devedor passa
a ter lugar nos próprios autos, sem necessidade de correr por apenso outra execução
contra o terceiro devedor.

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2) Adjudicação de prestação vincendas. De acordo com o art.º 779.º, n.os 3 e 4, na
penhora de rendas, abonos, vencimentos ou salários,

Situações em que a penhora pode subsistir durante muito tempo (meses,


anos):

HAVENDO OUTROS BENS PENHORÁVEIS (N.º 3)

Findo o prazo de oposição, se esta não tiver sido deduzida, ou julgada a


oposição improcedente, o agente de execução, depois de descontado o
montante relativo a despesas de execução referido no n.º 3 do artigo 735.º:
a) Entrega ao exequente as quantias já depositadas, que não garantam crédito
reclamado;
b) ADJUDICA as quantias vincendas, notificando a entidade pagadora
para as entregar diretamente ao exequente —> Neste caso a execução não
se extingue, continuando para a penhora e venda de outros bens.

NÃO HAVENDO OUTROS BENS PENHORÁVEIS (N.º 4)

Depois de assegurado o pagamento das quantias que lhe sejam devidas a título
de honorários e despesas:
a) Entrega ao exequente as quantias já depositadas que não garantam crédito
reclamado;
b) ADJUDICA as quantias vincendas, notificando a entidade pagadora
para as entregar diretamente ao exequente, extinguindo-se a execução.

— Se porventura, depois da extinção da execução, a prestação vincenda


deixar de ser paga (v.g., insolvência da entidade empregadora, despedimento
do trabalhador, etc.), o exequente pode requerer a renovação da instância
executiva – cfr. art.º 779.º, n.º 5 NCPC.

6.6. Penhora de estabelecimento comercial

Mais uma vez, o legislador estabelece (art.º 782.º) que cabem ao juiz, e não ao agente
de execução:

 Designação de administrador com poderes de para proceder à


respetiva gestão ordinária, quando o exequente fundadamente se
oponha a que o executado prossiga na gestão do estabelecimento;

 Se estiver paralisada ou dever ser suspensa a atividade do


estabelecimento penhorado, o juiz nomeia depositário para a mera
administração dos bens nele compreendidos;

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6.7. Pluralidade de execuções sobre os mesmos bens

A nova redacção do art.º 794.º estatui que a sustação integral da execução equivale à
extinção da execução, sem prejuízo de o exequente poder requerer a renovação da
execução, indicando outros bens à penhora.

LEGISLADOR NÃO PONDEROU TODAS AS CONSEQUÊNCIAS --------------------------------

Mas este preceito é perigoso: Se a sustação integral determina a extinção da execução


(sem prejuízo da sua renovação), com tal extinção devem ser canceladas as penhoras
que conduziram à referida sustação. Por essa razão, o efeito extintivo não deveria ser
imediato, devendo, pelo menos, aguardar-se que o crédito reclamado na execução da
qual proveio a primeira penhora seja julgado verificado.

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7. Processo Comum Ordinário – Pagamento

7.1. Pagamento em prestações


Artigo 808.º
Consequência da falta de pagamento

1 - A falta de pagamento de qualquer das prestações, nos termos acordados, importa o


vencimento imediato das seguintes, podendo o exequente requerer a renovação da execução
para satisfação do remanescente do seu crédito, aplicando-se o disposto n.º 4 do artigo 850.º.

2 - Na execução renovada, a penhora inicia-se pelos bens sobre os quais tenha sido
constituída hipoteca ou penhor, nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 807.º, só podendo
recair noutros quando se reconheça a insuficiência deles para conseguir o fim da execução.

3 - Se os bens referidos no número anterior tiverem sido entretanto transmitidos, a execução


renovada seguirá directamente contra o adquirente, se o exequente pretender fazer valer a
garantia

1) N.º 1 — Acrescenta o segmento « importa o vencimento imediato das seguintes»…


Este aditamento já resulta do art.º 781.º do Código Civil.

2) O n.º 2 é novo -

 a norma é importante, pois a hipoteca e o penhor constituídos nos termos


previstos no número anterior regem-se pelas regras próprias destas garantias
substantivas, pelo que, renovada a execução, valem como tal – exigindo-se
nova penhora do bem e não uma mera nova conversão da garantia.

 Considere-se a situação em que durante o período de


extinção, um outro credor instaura uma execução contra o
mesmo executado. Considerando que não há penhora
anterior ou execução pendente, a nova execução não é
suspensa (artºs. 871.º do CPC e 794.º do NCPC), seguindo
os seus termos subsequentes para o concurso de credores e
venda.

 Nessas circunstâncias, o primitivo exequente é convocado


para reclamar o seu crédito, uma vez que já detém uma
garantia real (artºs. 864.º do CPC e 786.º NCPC).

 No entanto, se o acordo de pagamentos não for cumprido e


o primitivo credor requerer a renovação da instância
executiva, sendo nesta realizada a penhora dos bens
garantidos, de acordo com o novo regime do NCPC, esta
penhora fica com prioridade posterior (ou seja, à data em
que é realizada) aplicando-se tão só as regras gerais da
garantia real do primitivo exequente (este já beneficia da
data da penhora anterior).

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7.2. Possibilidade de “Acordo Global”

Além da possibilidade de exequente e executado acordarem no pagamento em prestações


(art.º 806.º), é introduzida uma nova forma de resolução global de todas as questões, fazendo
nela incluir também os credores.
Artigo 810.º
Acordo global
1 - O executado, o exequente e os credores reclamantes podem acordar
num plano de pagamentos, que pode consistir nomeadamente numa simples
moratória, num perdão, total ou parcial, de créditos, na substituição, total ou
parcial, de garantias ou na constituição de novas garantias.
2 - Ao acordo global aplica-se, com as necessárias adaptações, o disposto no
artigo 806.º e no n.º 1 do artigo 807.º.
3 - O incumprimento dos termos do acordo, no prazo de 10 dias após
interpelação escrita do exequente ou de credor reclamante, implica, na falta de
convenção expressa em contrário, a caducidade do acordo global, podendo o
exequente ou o credor reclamante requerer a renovação da execução para
pagamento do remanescente do crédito exequendo e dos créditos reclamados,
aplicando-se, com as necessárias adaptações, o disposto no n.º 2 e no n.º 3 do artigo
807.º e no n.º 2 e no n.º 3 do artigo 808.º.
4 - A caducidade do acordo global prevista no número anterior não prejudica
os efeitos entretanto produzidos.
5 - O exequente e os credores reclamantes conservam sempre todos os seus
direitos contra os coobrigados ou garantes do executado.

7.2. Venda antecipada de bens

No art.º 814.º volta a reconhecer-se que a competência para autorizar a venda antecipada
de bens é do Juiz e não do AE.
Artigo 814.º
Venda antecipada de bens
1 - Pode o juiz autorizar a venda antecipada de bens, quando estes não possam ou não
devam conservar-se, por estarem sujeitos a deterioração ou depreciação, ou quando haja
manifesta vantagem na antecipação da venda.
2 - A autorização pode ser requerida, tanto pelo exequente ou executado, como pelo
depositário; sobre o requerimento são ouvidas ambas as partes ou aquela que não for o
requerente, exceto se a urgência da venda impuser uma decisão imediata.
3 - Salvo o disposto nos artigos 830.º e 831.º, a venda é efetuada pelo depositário, nos
termos da venda por negociação particular, ou pelo agente de execução, nos casos em que o
executado tenha assumido as funções de depositário.

7.3. Venda por negociação particular

Além de todos os demais casos já actualmente previstos, é aditada mais uma circunstância
em que a venda é feita por negociação particular - Quando o bem em causa tenha um valor
inferior a 4 UC (€ 408) – art.º 832.º, al. g).

De notar: O BEM e não o CONJUNTO dos bens a vender. O que significa poder passar a
ser possível a venda individualizada de bens por negociação particular desde que cada um deles
não ultrapasse o valor de 4 UC.

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8. Processo Comum Sumário

ESPECIALIDADES:

1) Não há autuação — processo segue de imediato para o AE

2) Cabe ao AE recusar o RE nos termos em que o faz a secretaria judicial para os


termos do processo ordinário – art.º 855.º, n.º 2, al. a)

3) ou suscitar a intervenção do Juiz para despacho liminar, ainda circunscrito a:

a. Quando se lhe afigure provável a ocorrência de alguma das situações


previstas no n.º 2 e no n.º 4 do artigo 726.º - ou seja, quando haja
fundamento para indeferimento liminar ou para convite ao
aperfeiçoamento
b. Ou quando duvide da verificação dos pressupostos de aplicação da forma
sumária
4) AE faz diligências para penhora

5) Decorridos três meses sobre as diligências previstas no número anterior, observa-


se o disposto no n.º 1 do artigo 750.º, sendo o executado citado; no caso de o
exequente não indicar bens penhoráveis, tendo-se frustrado a citação pessoal do
executado, não há lugar à citação edital deste e extingue-se a execução nos termos
previstos no n.º 2 do artigo 750.º

6) Nas execuções fundadas em título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida


cujo valor não exceda o dobro da alçada do tribunal de 1.ª instância (até €
10.000,00), a penhora de bens imóveis, de estabelecimento comercial, de direito
real menor que sobre eles incida ou de quinhão em património que os inclua só
pode realizar-se depois da citação do executado, mediante despacho judicial
(art.º 726.º) – 855.º, n.º 5

7) Feita a penhora, o executado é citado para deduzir Embargos à Execução e


Oposição à penhora (em conjunto) - 856.º

OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO FUNDADA EM INJUNÇÃO

Artigo 857.º
2 - Verificando-se justo impedimento à dedução de oposição ao requerimento
de injunção, tempestivamente declarado perante a secretaria de injunção, nos
termos previstos no artigo 140.º, podem ainda ser alegados os fundamentos
previstos no artigo 731.º; nesse caso, o juiz receberá os embargos, se julgar
verificado o impedimento e tempestiva a sua declaração.
3 - Independentemente de justo impedimento, o executado é ainda admitido
a deduzir oposição à execução com fundamento:
a) Em questão de conhecimento oficioso que determine a improcedência, total
ou parcial, do requerimento de injunção;
b) Na ocorrência, de forma evidente, no procedimento de injunção de exceções
dilatórias de conhecimento oficioso.

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9. Repercussão das novas regras nos processos pendentes

9.1. Regra geral

a) Títulos executivos, formas de processo, requerimento e tramitação da fase


introdutória: só se aplicam às execuções iniciadas após entradas em vigor NCPC.
(art.º 6.º, n.º 3)

b) Repartição de competências (juiz, AE, secretaria), substituição do AE e


consequências da falta de pagamento ao AE: aplica-se a todas as execuções
iniciadas a partir da reforma de 2003.

c) Procedimentos de natureza declarativa, actos de penhora, diligências destinadas


ao pagamento realizadas depois da entrada do NCPC: aplica-se a todas as
execuções a partir da reforma de 2003.

d) Extinção: Quando contra o executado tiver sido movida execução, terminada nos
últimos três anos, sem integral pagamento e o exequente não haja indicado bens
penhoráveis no requerimento executivo, o agente de execução deve iniciar
imediatamente as diligências tendentes a identificar bens penhoráveis nos termos do
artigo seguinte; caso aquelas se frustrem, é o seu resultado comunicado ao exequente,
extinguindo-se a execução se este não indicar, em 10 dias, quais os concretos bens
que pretende ver penhorados – 748.º, n.º 3. Também se aplica a todas as execuções
a partir de Reforma 2003.

e) Extinção por diligências subsequentes: art.º 750.º e 797.º (3meses após pagamento
parcial): IDEM.

f) Novas regras não são aplicáveis às execuções antes da reforma de 2003. Essas
acções devem ser julgadas extintas quando, não existindo bens penhorados, o
processo estiver parado mais de 15 dias, por falta de indicação do exequente de
concretos bens a penhorar. Nesse caso extinção da execução não implica o pagamento
de custas pelo exequente, não havendo lugar à devolução das quantias pagas e à
elaboração da conta final salvo quando esta última for indispensável.

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10. Incidentes de natureza declarativa

10.1. Possibilidade de suspensão da instância


´

O novo n.º 272.º, n.º 4 (correspondente em parte ao actual 279.º, n.º 4) prevê que «as partes
podem acordar na suspensão da instância por períodos que, na sua totalidade, não excedam
três meses, desde que dela não resulte o adiamento da audiência final»

 A norma não é contudo clara, pois se a intenção do legislador é que não possa ser
desmarcada ou alterada a data anteriormente designada para audiência de julgamento,
deveria dizê-lo expressamente.

10.2. Adiamento da audiência

 Embora tenha diminuído os fundamentos de adiamento da audiência, continua a ser


possível o adiamento:

o Por impedimento do Tribunal (deve ficar a constar em acta o fundamento ou o


n.º de processo que conduziu ao impedimento) – art.º 603.º, n.º 1 e 2

o Por falta de mandatário, quando a marcação da audiência não tenha sido


efectuada mediante acordo prévio;

o Por motivo que constitua justo impedimento – art.º 603.º, n.º 1.

 Acresce que embora não seja causa de adiamento da audiência, é possível o


adiamento da inquirição de testemunha.

o É certo que o art.º 445.º, n.º 3 prevê que “a produção de prova oferecida depois
de designado dia para a audiência final não suspende as diligências para ela
nem determina o seu adiamento; se não houver tempo para notificar as
testemunhas oferecidas, ficam as partes obrigadas a apresentá-las”;

o Mas o art.º 509.º prevê a possibilidade de por acordo das partes haver segundo
adiamento da inquirição de testemunha faltosa.

 Continua a ser possível a interrupção da audiência para análise de documento quando


“não podendo a parte contrária examiná-los no próprio ato, mesmo com suspensão
dos trabalhos pelo tempo necessário, o tribunal considerar o documento relevante e
declarar que existe grave inconveniente no prosseguimento da audiência”. (o que
pode corresponder, na prática, ao adiamento das inquirições) – art.º 424.º, NCPC.

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10.3. Realização do julgamento e elaboração da sentença

a) Se o juiz que iniciar o julgamento de qualquer incidente declarativo, for transferido,


promovido ou aposentado conclui o julgamento, exceto se a aposentação tiver por
fundamento a incapacidade física, moral ou profissional para o exercício do cargo ou
se for preferível a repetição dos atos já praticados em julgamento (art.º 605.º, n.º 3).

b) Por outro lado, nos casos de transferência ou mesmo promoção o juiz que tiver
concluído a sentença, fica também obrigado a elaborar a sentença (art.º 605.º, n.º 4).

— Nota: o NCPC não ressalva as situações de transferência por motivos


disciplinares ou casos de elevada pendência em que é necessária a afectação
de juízes em acumulação ou substituição de funções.

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Joel Timóteo Ramos Pereira


correio@joelpereira.pt

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