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INSPETOR DE

FABRICAÇÃO –
PERFURAÇÃO E
PRODUÇÃO DE
PETRÓLEO
FUNDAMENTOS DA INSPEÇÃO

1- 1 -
INSPETOR DE FABRICAÇÃO – PERFURAÇÃO E
PRODUÇÃO DE PETRÓLEO

FUNDAMENTOS DA INSPEÇÃO
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Ficha Catalográfica

SENAI. DN
Perfuração e produção de petróleo fundamentos da inspeção / organizado por Laércio Ferreira,
Plinio Marcos dos Santos. – Brasília, DF : PETROBRAS, 2007.
45 p. : il. ; 30 cm. – (Curso para Inspetor de Fabricação. Módulo Básico).

Inclui bibliografias.

1. Inspeção de fabricação 2. Inspeção por amostragem I. Ferreira, Laércio II. Santos, Plinio
Marcos dos III. Título IV. Série.

CDD 658.568 (22. ed.)


CDU 653
SENAI-SP

Elaboração/organização do conteúdo técnico da apostila


Laércio Ferreira
Plinio Marcos dos Santos
ÍNDICE

1. PRINCÍPIOS ....................................................................................................................... 10
1.1. Atividades e Responsabilidades Do Inspetor ................................................................. 14
1.1.1. Execução da Inspeção ............................................................................................ 15
1.1.2. Rotinas de Inspeção................................................................................................ 17
1.2. Tipos de Inspeção ......................................................................................................... 17
1.2.1. Visual ...................................................................................................................... 18
1.2.2. Dimensional ............................................................................................................ 18
1.2.3. Funcionamento........................................................................................................ 22
1.3. Atividades Mínimas Por Tipo De Inspeção..................................................................... 23
1.3.1. Indicação do tipo de inspeção de fabricação ........................................................... 23
1.4. Princípios básicos de segurança, meio ambiente e saúde ............................................. 26
1.4.1. O inimigo invisível ................................................................................................... 27
1.4.2. Os riscos que nos rodeiam ...................................................................................... 27
1.4.3. Riscos físicos .......................................................................................................... 28
1.4.4. Ruído ...................................................................................................................... 28
1.4.5. Temperatura............................................................................................................ 29
1.4.6. Radiações perigosas ............................................................................................... 29
1.4.7. Raios infravermelhos............................................................................................... 30
1.4.8. Raio ultravioleta ...................................................................................................... 30
1.4.9. Microondas.............................................................................................................. 30
1.4.10. Laser ....................................................................................................................... 31
1.4.11. Radiações ionizantes .............................................................................................. 31
1.4.12. Agentes químicos .................................................................................................... 33
1.4.13. Agentes biológicos .................................................................................................. 35
1.4.14. Os riscos ergonômicos ............................................................................................ 35
1.4.15. Riscos de acidentes ................................................................................................ 36
2. INSPEÇÃO POR AMOSTRAGEM ....................................................................................... 37
2.1. Normas NQA e QL......................................................................................................... 38
2.2. Plano Com Base No NQA.............................................................................................. 38
2.3. Plano Com Base Na QL................................................................................................. 40
2.4. Amostragens Simples, Dupla e Múltipla......................................................................... 40
2.4.1. Amostragem Simples............................................................................................... 41
2.4.2. Amostragem Dupla .................................................................................................. 41
2.4.3. Amostragem Múltipla ............................................................................................... 42
2.5. Formação de Lotes ........................................................................................................ 43
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................... 45
LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Diagrama – Principais intervenções da Inspeção de Fabricação................................. 11


Figura 1.2 – Exemplo – Medição Direta............................................................................................ 21
Figura 1.3 – Calibrador de Boca Fixa ............................................................................................... 21
Figura 1.4 – Calibrador tipo Passa Não Passa ................................................................................. 21
Figura 1.5 – Relógio Comparador ..................................................................................................... 21
Figura 1.6 – Exemplo – Atividade Geradora de Ruído ..................................................................... 28
Figura 1.7 – Gráfico – Onda eletromagnética ................................................................................... 29
Figura 1.8 – Sala de Comando – Sistema RX .................................................................................. 32
Figura 1.9 – Símbolo indicativo de material radioativo ..................................................................... 32
Figura 1.10 – Ilustração - Aparelho Respiratório .............................................................................. 33
Figura 1.11 – Ilustração – Aparelho Digestivo .................................................................................. 34
Figura 1.12 – Ilustração – Mão Humana........................................................................................... 34
Figura 1.13 – Ilustração – Globo Ocular ........................................................................................... 34
Figura 1.14 – Posições Ergonômicas ............................................................................................... 36
Figura 2.1 - Critérios e esquema de passagem de níveis de severidade do plano de NQA............ 39
Figura 2.2 - Esquema geral de amostragem simples ....................................................................... 41
Figura 2.3 - Esquema geral de amostragem dupla........................................................................... 42
LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 - Atividades mínimas por tipo de inspeção de fábrica .................................................... 24


Tabela 2.1 - Etapas genéricas de uma amostragem múltipla........................................................... 43
1. PRINCÍPIOS

Durante a inspeção de fabricação o inspetor exercerá várias atividades simultaneamente,


entre as quais acompanhar o teste de funcionamento de um determinado equipamento com utilização
de vários instrumentos de medição, aferição e, em seguida, estar capacitado para acompanhar a
desmontagem do mesmo para uma inspeção visual, com o objetivo de verificar eventuais desgastes
internos, instante em que deverá estar preparado para executar um teste, por exemplo, de inspeção
dimensional e verificar as dimensões conforme o projeto, suas tolerâncias de forma e posição para
avaliar determinados componentes da máquina.
Para o preparo do futuro inspetor, além dos conhecimentos técnicos, faz-se necessário
conhecimentos relativos à análise de normas, desenhos e documentos de uma maneira geral, pois a
atividade de inspeção de fabricação não se resume apenas na sua execução nas instalações fabris
do fornecedor.
O objetivo deste capitulo é informar, de uma maneira bem sucinta, a terminologia básica e o
conjunto de documentos que o futuro inspetor encontrará durante sua vida profissional, considerando
que existem atividades anteriores e posteriores à execução da inspeção que complementam as
funções do inspetor e que possibilitam tomadas de decisão pelos órgãos de inspeção e ainda poderão
servir como instrumento de informações para as companhias. São eles:
a) O Tipo de Inspeção necessário para cada conjunto material x fornecedor, que está
disponível num Cadastro de Fornecedores aptos a fornecerem para os órgãos de
contratação.
b) O Grau de Inspeção de cada fornecedor de material sujeito à qualificação técnica que
deverá ser monitorado em função do seu desempenho técnico, para manter atualizado o
tipo de inspeção dos materiais de sua linha de fornecimento.
c) Os Requisitos de Inspeção que, constando dos editais de licitação, estabelecerão as
regras de inspeção a serem seguidas pelos licitantes vencedores durante o processo de
fabricação e de entrega do material.
d) As Rotinas de Inspeção, que orientam os órgãos inspetores no seu planejamento e
execução da inspeção.
O diagrama a seguir mostra as principais intervenções da Inspeção de Fabricação nas
atividades de cadastro de fornecedores, aquisição e fabricação de material.

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Figura 1.1 – Diagrama – Principais intervenções da Inspeção de Fabricação

Inspeção de Fabricação – é a atividade desenvolvida com o objetivo de verificar, nos


fabricantes de equipamentos, a conformidade dos produtos fabricados com os documentos
contratuais.
Pedido de Compras e Serviços – contrato assinado entre comprador e fornecedor, para
aquisição e fornecimento de materiais diversos.
Certificado de Registro e Classificação Cadastral – documento que comprova que a
empresa cadastrada, está apta a fornecer determinados materiais.
Comunicado de Liberação de Material – documento gerado pela empresa inspetora que
comprova a conformidade do material com a documentação contratual, e permite a liberação do
mesmo, caso estejam cumpridas todas as etapas previstas no Plano da Qualidade.
Comunicado de Rejeição de Material – documento gerado pela empresa inspetora que
comprova a não conformidade do material com a documentação contratual, e desta forma não permite
a liberação do mesmo, por não ter sido cumprida alguma ou todas as etapas previstas no Plano da
Qualidade. Esse documento deverá conter uma descrição detalhada do motivo da rejeição, com as
devidas justificativas calcadas na documentação contratual.
Distribuidor – é qualquer fornecedor de material, que atua no mercado. Não necessita ter
cadastro, porém deverá comprovar sua qualificação técnica.

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Fornecimento – é cada par fornecedor x material que possua cadastro e tenha certificado de
registro.
Gerente do Contrato – é a denominação do órgão da empresa responsável pelo
acompanhamento do pedido de compra ou serviço junto ao fornecedor.
Índice de Rejeição – é a razão entre os eventos de inspeção rejeitados e os eventos de
inspeção analisados, que irá avaliar a confiabilidade do Sistema da Qualidade do fabricante em
conformidade com o contrato, independente de qualquer outra inspeção.
Lista de Verificação – é um questionário relacionado com a rotina de inspeção, que deverá
ser preenchido pelo inspetor, sempre que necessário, para cada grupo de itens inspecionados,
visando atender exigências da documentação de aquisição de qualquer item ou conjunto.
Material Sujeito à Qualificação Técnica – são todos os materiais ou acessórios que, caso
venham a falhar ou ter um mau funcionamento, afetem de forma significativa a segurança e o
desempenho dos equipamentos, a segurança pessoal ou o meio ambiente.

Como exigência, os fabricantes desses itens devem atender os seguintes requisitos:


• Certificação do Sistema da Qualidade de segunda ou terceira parte, segundo as normas
ISO série 9000;
• Avaliação do Sistema da Qualidade pela contratante, segundo as normas ISO série 9000;
• Histórico de fornecimentos anteriores;
• Apresentar documentação da Qualificação de pessoal de inspeção de solda e dos ensaios
não destrutivos;
• Marca de conformidade;
• Teste de protótipo ou homologação do produto;
• Teste de desempenho operacional;
• Assistência técnica.

Órgão Requisitante – é o órgão da empresa que emite todos os pedidos de compra de


material.
Plano da Qualidade – é elaborado pelos fornecedores de equipamentos, material e ou
qualquer outro acessório, dentro de padrões de exigência das Normas ISO. Em seu texto deverá
constar, no mínimo:
• Garantia da compatibilidade do projeto;
• Procedimentos e documentação interna aplicável e de acordo com o pedido de compra;
• Indicação dos dispositivos/máquinas que serão utilizados na fabricação do equipamento;
• Valores das dimensões, tolerâncias, testes adequados ao desempenho do equipamento,
para aceitação do material e destinados a garantir sua adequação ao uso;
• Documento que comprove a qualificação do pessoal que executa as atividades de
inspeção e verificação;

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• Cronograma dos estágios de todo o ciclo de produção do equipamento/material, para
informar as fases da construção ou fabricação em que serão realizadas as verificações ou
inspeções, tanto no fabricante como nos subfornecedores dos fabricantes. Devem indicar
os tipos de exames, ensaios ou verificações a serem efetuados;
• Devem estar indicados todos os padrões de aceite do produto, em todos os níveis, para
atender aos requisitos de qualidade;
• Registros da qualidade, onde devem estar indicados os relatórios, tipo de registro,
certificados e qualquer documento citado no Plano da Qualidade.
Ponto de Espera – é o evento de inspeção, no ciclo fabril do fornecedor, que requer análise,
verificação ou testemunho do órgão inspetor e sem o qual o processo de fabricação não pode
continuar.
Ponto de Observação – é o evento de inspeção, no ciclo fabril do fornecedor, em que este
notificará o órgão ou empresa inspetora, dentro dos prazos contratuais, visando a análise, verificação
ou testemunho de eventos acordados no Plano da Qualidade, sem que o processo fabril seja
interrompido.
Relatório de Inspeção – documento emitido pelo órgão ou empresa inspetora, sempre que
houver necessidade de relatar ou emitir parecer sobre não-conformidades apresentadas durante o
processo de fabricação, rejeições de eventos intermediários não cobertos por CRM ou registro de
qualquer fato relevante ocorrido durante a inspeção. Seu conteúdo deverá incluir todos os detalhes da
inspeção e os resultados encontrados.
Requisitos de Inspeção – documento elaborado pelo órgão de inspeção ligado
organizacionalmente ao órgão licitante, sendo parte integrante dos Editais de Licitação. Os Requisitos
de Inspeção são específicos em cada Edital e definem previamente as exigências contratuais relativas
à inspeção de fabricação.
Revendedor – é o fornecedor de material reconhecido pelo fabricante dos mesmos, no caso
de materiais sujeitos à qualificação técnica, desde que cadastrados.
Rotina de Inspeção – é uma ferramenta de apoio ao órgão inspetor para indicar quais itens
ou etapas da fabricação deverão ser inspecionadas, quais as ações no caso e instruí-lo sobre os
critérios de aceitação do material, e ainda ressaltar detalhes a serem observados durante a inspeção.
Tipo de Inspeção – estabelece o grau de participação do comprador no processo de compra,
e compreende que:
• Inspeções dos tipos A, B e E são para a inspeção final com ênfase no produto acabado;
• Inspeção do tipo C, aplicada em eventos finais, verifica o processo do fornecedor e atua na
definição dos pontos de espera, que são obrigatórios ao longo da fabricação.

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1.1. Atividades e responsabilidades do inspetor

a. Cronograma da inspeção de fabricação dos pedidos de compra entregues a


fornecedores nacionais ou internacionais
Para os nacionais, o órgão inspetor da empresa contratada, deve cumprir as seguintes
etapas:
• Reuniões com o fornecedor, para definir todos os procedimentos que deverão ser seguidos
pela inspeção;
• Verificar a compatibilidade entre a documentação técnica do contrato, em relação aos
integrantes do pedido de compra;
• Esclarecer em reuniões entre a empresa contratante e o órgão requisitante sobre os
detalhes do pedido de compra, para fazer acertos de eventuais divergências na
documentação técnica contratual;
• Acordos entre as empresas para definir eventuais acompanhamentos, bem como as
necessidades das etapas da inspeção;
• Compatibilizar a Rotina de Inspeção e Lista de Verificação referentes aos materiais;
• Deverão ser verificadas a compatibilidade do Plano de Qualidade do fabricante com o
exigido nos Requisitos de Inspeção;
• Verificar no Plano de Qualidade os pontos de espera em que é obrigatória a presença do
inspetor para o testemunho ou verificação de uma etapa do processo de fabricação.
Para os pedidos de compra entregues no exterior, todo o planejamento acima descrito é
realizado por órgão da empresa compradora que, em etapa posterior, deverá informar ao fornecedor o
nome das empresas contratadas que acompanharão os eventos alocados no Plano da Qualidade.
Deve ser fornecido um cadastro, e informado pelo gerente do contrato o nome e o endereço
da pessoa de contato e demais dados do fornecedor no exterior.
b. Cronograma da inspeção de fabricação para pedidos de compras entregues em
revendedores ou distribuidores
Quando a inspeção for executada por uma empresa de inspeção independente, contratada
diretamente pelo fornecedor, o órgão inspetor ligado organizacionalmente ao órgão licitante deve
cumprir as seguintes etapas:
• Análise e aprovação do Plano da Qualidade do fornecedor para o material referente ao
pedido de compras, que deverá ser seguido pela empresa de inspeção independente.
Nessa análise, é verificada a compatibilidade do Plano da Qualidade do fabricante com o
exigido nos documentos contratuais, e a indicação dos pontos de espera, onde é
obrigatória a presença da empresa inspetora mencionada, para testemunho ou verificação
de uma etapa do processo de fabricação/ controle de qualidade interno relativa ao
fornecimento.

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1.1.1. Execução da Inspeção

a. Execução da inspeção de fabricação para pedidos de compras entregues em


fornecedores nacionais ou estrangeiros, por órgão inspetor do comprador ou por
empresa de inspeção contratada
Etapas a serem cumpridas:
• Para materiais com inspeção tipos A, B ou E, o fornecedor nacional deve comunicar ao
órgão ou empresa inspetora, com antecedência mínima de dois dias úteis, a data prevista
no Plano da Qualidade como ponto de espera. Para os fornecedores estrangeiros essa
antecedência mínima deve ser de sete dias úteis;
• Para materiais com inspeção tipo C, o fornecedor nacional deve encaminhar ao órgão
inspetor, até a quinta-feira da semana anterior em relação à programação do Plano da
Qualidade, como pontos de espera. São aceitos desvios de, no máximo, 20% da
programação, se forem informados com até 24 horas de antecedência. Esses desvios
devem ser reprogramados.
• Para os fornecedores estrangeiros vale a mesma regra, com exceção da primeira
programação semanal, que deve ser informada com dez dias úteis de antecedência;
• O órgão inspetor deve iniciar, no prazo máximo de quatro dias úteis, as inspeções dos
pontos de espera, contados a partir da data indicada como disponível para inspeção.
O prazo determinado para a disponibilidade do material para inspeção, quando de sua
realização pela empresa inspetora, são importantes e necessários, visto que os recursos dependem
de remanejamento do pessoal e isso demanda custos e prazos;
• O fornecedor deve agilizar todas as condições para facilitar o trabalho do inspetor que
realizará as inspeções, tais como:
- Disponibilizar pessoal do seu controle de qualidade para prestar todas as informações
necessárias das quais o inspetor possa necessitar;
- Deixar a instrumentação devidamente calibrada e os equipamentos necessários para a
realização da inspeção;
- Providenciar qualquer documentação que se faça necessária, como desenhos de
fabricação com revisões atualizadas e aprovadas, procedimentos internos, certificações,
especificações, normas técnicas ou qualquer outra documentação técnica relacionada ao
material e processo sob inspeção;
- Deixar equipamento ou material já preparado para a realização da inspeção;
- nas inspeções do tipo C, mediante acordo prévio, o fornecedor deverá manter à
disposição do órgão ou empresa inspetora uma sala devidamente arejada, contendo no
mínimo mesas, cadeiras, armário e extensão telefônica, para seu uso.

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• O inspetor deve manter conduta condizente com sua atividade, e possíveis desvios devem
ser imediatamente comunicados à gerência do órgão responsável pela atividade de
inspeção;
• Se os prazos acertados para a realização da inspeção não forem cumpridos, o fornecedor
terá o direito de pleitear junto ao órgão da contratante, através do gerenciador, a
prorrogação do contrato, conforme acordo anterior;
• O fabricante deve apresentar ao inspetor, para análise, todos os registros de não-
conformidades que tenham ocorrido durante a fabricação. Aqueles registros que envolvam
a engenharia e possam alterar o projeto original ou não atendam as especificações de
materiais, deverão ser submetidos a uma nova aprovação conforme contrato.
Os seguintes documentos, em função das inspeções, deverão obrigatoriamente ser
apresentados, sendo o original entregue ao fornecedor, uma cópia para o órgão gerenciador do
contrato, uma para o órgão requisitante do material e uma para o órgão inspetor ou empresa
inspetora:

– Comunicado de Liberação de Material;

– Comunicado de Rejeição de Material;

– Lista de Verificação;

– Relatório de Inspeção;

– Planilha do Índice de Rejeição.


Mensalmente, essas planilhas devem ser encaminhadas para a gerência do Índice de
Rejeição dos fornecedores, para que os órgãos financeiros, responsáveis pelos pagamentos dos
pedidos de compras, tenham conhecimento dos custos extras decorrentes de serviços não previstos,
e os contabilize, descontando-os do fornecedor.
b. Acompanhamento da inspeção de fabricação para pedidos de compras colocados
em fornecedores estrangeiros, ou por empresa de inspeção ou diretamente pelo
fabricante.
Este acompanhamento:
• Esclarecimentos de dúvidas do fabricante ou da inspeção relacionadas com as atividades
de inspeção de fabricação;
• Intermediação em eventuais pareceres sobre soluções de engenharia, para os casos onde
houver a necessidade de alterações do projeto ou das requisições de compras,
principalmente quando forem frutos dos registros das não-conformidades;
• Aprovação do relatório final de inspeção, emitido pela empresa inspetora.

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1.1.2. Rotinas de Inspeção

A empresa compradora deverá manter rotinas de Inspeção, variadas para fonte de consulta,
com o objetivo de orientar os envolvidos.
Para cada pedido de compras, a Rotina de Inspeção e sua respectiva Lista de Verificação
devem ser analisadas em conjunto com a documentação técnica contratual e adaptadas às condições
especificas do fornecimento.
Partes da Rotina de Inspeção:
1. O conjunto composto de: Índice de Normas Técnicas, Padrões de Materiais e
Especificações Técnicas, para itens nacionais e internacionais, que servem de documento
de referência para a Rotina.
2. A Rotina de Inspeção propriamente dita.
3. A Lista de Verificação, que é um documento em forma de questionário, onde estão
descritas todas as etapas a serem observadas pelo inspetor. Serão utilizadas pelo
inspetor, quando necessário, para cada item ou grupo de itens inspecionados.
Como exemplo, existem hoje na Petrobrás, cerca de 130 Rotinas elaboradas, assim divididas:
I. Mecânica.
II. Exploração, Perfuração e Produção.
III.Instrumentação e Automação.
IV. Elétrica.
V. Química.
VI. Caldeiraria.
VII. Válvulas.
VIII. Geral.

1.2. Tipos de Inspeção

Todos os fabricantes deverão ser monitorados quanto ao "Grau de Inspeção", classificação


que está relacionada com sua qualificação técnica.
Cada fornecedor possui seu Grau de Inspeção, sendo alguns de grau abrandado, outros de
grau normal e outros de grau rigoroso, e isso possibilita a definição do tipo de inspeção.
Um fornecedor classificado com Grau de Inspeção rigoroso demonstra que todos os materiais
de sua linha de fornecimento serão inspecionados sob uma condição rigorosa.
O Grau de Inspeção do fornecedor considera os seguintes fatores:
• Qualificação Técnica − que indica se o fornecedor atende satisfatoriamente aos requisitos
necessários à sua qualificação. Consideraremos a Qualificação Técnica como adequada.

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O principal requisito de Qualificação Técnica é a sua adequação às Normas ISO série
9000, constatada através da apresentação de certificação da terceira parte, emitida por
entidade certificadora reconhecida no país de origem, ou por avaliação efetuada pelo
comprador. Caso necessário, poderão ser exigidos requisitos complementares, tais como
testes de desempenho operacional, certificados de homologação do produto e outras
características do projeto.
• Comunicado de Ocorrência de Divergência − verifica se o fornecedor possui materiais
com divergências técnicas, detectadas no seu recebimento, instalação ou operação.
• Índice de Rejeição do Fornecedor quanto à inspeção de fabricação − afere a
confiabilidade do Sistema de Qualidade do fornecedor.
Caso as situações do Fornecedor estejam em situação concordatária a Qualificação Técnica
do fornecedor não seja adequada, o Índice de Rejeição esteja alto e caso seja comunicado de
ocorrência de divergências em análise, o grau de inspeção a ser utilizado deverá ser o rigoroso.

1.2.1. Visual

Trata-se de um ensaio não destrutivo, normalmente antecede a outros ensaios de materiais.


Considerado como o mais antigo e popular ensaio, aplicado para qualquer tipo de atividade. Na
aviação é a principal ferramenta para inspeção de componentes para verificação da sua condição de
operação.
O ensaio visual pode ser aplicado através de uma simples inspeção de reconhecimento do
produto, ou utilizando uma avançada tecnologia. Hoje é um recurso muito utilizado na verificação
dimensional e até mesmo em padrão de acabamento superficial.
Pode ser aplicada ainda para análise de trincas superficiais, deformações por desgaste ou
plásticas sofridas pelos componentes de equipamentos e tem baixo custo.
A inspeção de peças ou componentes que não permitem o acesso direto para sua verificação
por estarem dentro de blocos de motores, turbinas, bombas e tubulações, pode ser executada com a
utilização de simples espelhos fixados em extremidades de hastes, que são dobradas de acordo com
a forma da abertura ou o uso de fibras óticas conectadas a espelhos ou microcâmeras de TV com alta
resolução.

1.2.2. Dimensional

Todas as organizações comerciais, industriais ou de prestação de serviços têm sua


sobrevivência ligada à qualidade de seus produtos. Esta dependência é cada vez maior devido ao

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crescente número de concorrentes e nível de exigência dos consumidores (consumidor mal atendido
pode dirigir-se a outro fornecedor).
Como toda empresa, além de sua sobrevivência, quer garantir uma posição de destaque no
mercado, ela terá que investir em tecnologia e no envolvimento dos trabalhadores no aperfeiçoamento
do processo produtivo.
De acordo com a norma DIN 55350/11, “qualidade é caracterizada pelas condições de uma
unidade, com relação à sua aptidão para satisfazer necessidades definidas e pressupostas”.
A qualidade manifesta-se em características que podem ser:
• Propriedades físicas;
• Propriedades químicas;
• Dimensões;
• Composição ou textura, ou qualquer outro requisito utilizado para definir a natureza do
produto ou serviço.
O controle de medidas, parte integrante do controle da inspeção, é responsável pelos
instrumentos de medida e pelos processos de medição; está presente desde a recepção da matéria-
prima e etapas de fabricação até os ensaios e verificação final.
Tanto os equipamentos de fabricação como os instrumentos de medição são imperfeitos. Por
esse motivo, é impossível produzir peças com dimensões exatas, pois elas sempre apresentarão um
desvio em relação às dimensões preestabelecidas.
O controle de medidas consiste na aplicação de processos que permitam manter os erros de
fabricação dentro de limites aceitáveis, previamente estabelecidos e que recebem o nome de
tolerância.
Portanto, no controle de medidas torna-se necessário conhecer: o que é medir por
comparação direta (com instrumentos de medida), ou indireta (com instrumentos de verificação);
instrumentos de medida e seu uso; conceito de tolerância e sua aplicação no projeto e na fabricação;
instrumentos de verificação.

1.2.2.1. Medição
Toda medição é feita comparando-se uma grandeza com outra de mesma espécie,
considerada como unidade.
Se o comprimento de um corredor é igual a três metros, é porque nele a unidade de
comprimento metro cabe três vezes.
Seguindo o mesmo procedimento, para medir uma superfície temos de usar unidades de área
(cm , m2); por sua vez, o volume de um corpo é determinado pelas unidades de volume (m3, cm3,
2

litros) e assim por diante. Cada grandeza é medida com unidades apropriadas dessa mesma
grandeza. Não é possível medir comprimento em litros.

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1.2.2.2. Unidades
As unidades estabelecidas para medir uma determinada grandeza são fixadas por definição.
Não dependem de quaisquer condições físicas, como temperatura, pressão ou grau de umidade.
Oficialmente, devido a normas brasileiras e internacionais, prevalecem as unidades do S.I.
(Sistema Internacional): metro, quilograma, newton, segundo.

1.2.2.3. Padrão
As unidades de medida têm uma definição absoluta. Entretanto, na prática apresentam-se
materializadas em objetos que estão sujeitos a variações provocadas pelas mudanças de condições
físicas.
Por isso, os padrões só expressam, com rigor, a unidade que representam se estiverem
dentro de condições específicas.
Até 1960, o metro padrão era uma barra de platina e irídio, que sofria uma dilatação muito
pequena com a variação da temperatura. Nesse protótipo, conservado em Sèvres, na França, o metro
é determinado pela distância entre dois traços nessa barra, na temperatura de zero grau Celsius.
No Brasil vigora outro padrão para o metro, estabelecido pelo INMETRO (Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), órgão brasileiro de normalização. Esse padrão está
baseado na velocidade da luz.

1.2.2.4. Princípios básicos de controle


O sucessivo aumento de produção e a melhoria da qualidade requerem um desenvolvimento
e um aperfeiçoamento contínuo da técnica de medição. Quanto maiores as exigências de qualidade e
rendimento, maiores serão as necessidades de aparatos, instrumentos de medição e profissionais
habilitados.
Quando efetuamos uma medida qualquer, é preciso considerar três elementos fundamentais:
o método, o instrumento de medição e o operador.

1.2.2.5. Método
A medição pode ser direta ou indireta por comparação.
A medição direta é feita mediante instrumentos, aparelhos e máquinas de medir.

20
Figura 1.2 – Exemplo – Medição Direta

Emprega-se a medição direta na confecção de peças-protótipo, isto é, peças originais que são
utilizadas como referência ou ainda em produção de pequena quantidade de peças.
A medida indireta por comparação consiste em confrontar a peça que se quer medir com
aquela de padrão ou dimensão aproximada. Assim, um eixo pode ser controlado, por medidas
indiretas, utilizando-se um calibrador para eixos, tipo “boca fixa” ou "passa não passa".

Figura 1.3 – Calibrador de Boca Fixa Figura 1.4 – Calibrador tipo Passa Não Passa

O relógio comparador é um instrumento comum de medição por comparação. As diferenças


percebidas nele pelo apalpador são amplificadas mecanicamente e movimentarão o ponteiro rotativo
dianteiro da escala.

Figura 1.5 – Relógio Comparador

21
1.2.2.6. Instrumento de medição
Para se ter uma medida precisa é indispensável que o instrumento corresponda ao padrão
adotado. É necessário, também, que ele possibilite executar a medida com a tolerância exigida. Em
suma, a medição correta depende da qualidade do instrumento empregado.

1.2.2.7. Operador
É o operador quem deve apreciar as medidas e executá-las com habilidade. Daí a sua
importância em relação ao método e ao instrumento.
É mais provável que um operador habilidoso consiga melhores resultados com instrumentos
limitados do que um operador inábil, com instrumentos excelentes.
É necessário, portanto, que o operador conheça perfeitamente os instrumentos que utiliza.
Deve, também, tomar a iniciativa de escolher o método de medição mais adequado e saber interpretar
corretamente os resultados obtidos.

1.2.3. Funcionamento

A inspeção de funcionamento tem como objetivo avaliar o equipamento como um todo, já que
os componentes, em etapa anterior, foram examinados quanto ao dimensionamento, características
mecânicas e demais características, conforme projeto.
Os equipamentos serão, nesta etapa, vistoriados quanto aos requisitos de atenderem as
especificações de projeto, a norma adotada para sua confecção e principalmente ser aprovado nos
testes que comprovem suas características de funcionamento.
Alguns equipamentos, após toda a etapa de ensaios e testes, poderão ser desmontados e
parte de seus componentes deverá ser novamente submetida a uma inspeção visual e dimensional,
para verificar se não sofreram deformações nos testes.

22
1.3. Atividades mínimas por tipo de Inspeção

1.3.1. Indicação do tipo de inspeção de fabricação

A definição do "Tipo de Inspeção de Fabricação" para os materiais sujeitos à qualificação


técnica, constantes do Certificado de Registro e Classificação Cadastral, segue critérios que procuram
assegurar a conformidade do material fornecido com as condições contratuais. Por outro lado, é de
significativa importância para o fornecedor, visto que interfere na sua elaboração de custos, no
planejamento e controle da fabricação.
A indicação do tipo de inspeção de fabricação segue a seguinte sistemática:
a. A definição dos tipos de inspeção, para a condição abrandada, normal e rigorosa, ocorre
em função dos seguintes fatores:
• Complexidade ou ineditismo do projeto;
• Complexidade ou ineditismo do processo de fabricação e do controle de qualidade;
• Complexidade operacional do material;
• Materiais críticos, resultantes de falhas em serviço, que envolvam aspectos de segurança
operacional, humana ou ambiental.
Os tipos de inspeção de fabricação podem ser: Liberado (L), A, B, E ou C. O quadro a seguir
mostra as atividades mínimas a serem seguidas para cada tipo de inspeção de fabricação.

23
Tabela 1.1 - Atividades mínimas por tipo de inspeção de fábrica

Atividades Mínimas Tipo de Inspeção


A B E ou C
Inspeção final sem Inspeção final com Acompanhamento
testes testes de fabricação

Apresentação do Plano da Qualidade


** 1 ** 1 ** 2
antes do início da fabricação.

Verificação da certificação de matéria-


** ** **
prima e/ou registros da qualidade.

Verificação durante a fabricação (mão-de-


** 3
obra, métodos e processos de fabricação,
controle e ensaios intermediários).

Testemunho de ensaios hidrostáticos e/ou


** **
pneumáticos, quando aplicável.

Verificação visual e dimensional final. ** ** **

Testemunho de ensaios funcionais e/ou de


** **
desempenhos finais.

Verificação do "data book" (quando


** ** **
aplicável) e da documentação técnica.

Identificação e embalagem. ** 4 ** 4 ** 4
1. O Tipo de Inspeção E é aplicado somente para materiais de uso específico na área de
explosivos.
2. ** - Atividade obrigatória.
3. **1 - A critério do órgão inspetor, o Plano da Qualidade (incluindo o Plano de Inspeção e Teste)
deverá ser apresentado antes do início da fabricação, para sua apreciação.
4. **2 - O Plano da Qualidade (incluindo o Plano de Inspeção e Teste) deverá ser apresentado ao
órgão inspetor antes do início da fabricação, para sua análise e aprovação.
5. **3 - Conforme definido no Plano da Qualidade (que inclui o Plano de Inspeção e Teste).
6. **4 - Para verificação pelo órgão inspetor, quando expresso claramente no documento contratual
ou definido no Plano da Qualidade.
7. As inspeções tipo A, B ou E dão ênfase ao produto, enquanto a inspeção tipo C dá ênfase ao
processo. Os fornecedores tomam conhecimento dos tipos de inspeção de sua linha de
fornecimento.

Como exemplo, são mostrados no quadro a seguir os tipos de inspeção para alguns
materiais, na condições de abrandada, normal ou rigorosa.

24
Material Tipo de Inspeção
Condição abrandada Condição normal Condição rigorosa

Bomba Centrífuga para


L B C
combate a incêndio

Válvula esfera aço liga L B B

Árvore de Natal Seca L B C

Transformador de
Distribuição, Imerso em L B B
Óleo

Sistema de Cabeça de
B C C
Poço Submarino

b. Para cada fornecedor e cada material da sua linha de fornecimento, terá indicação dos
possíveis graus previamente definidos.
c. De posse da informação sobre o Grau de Inspeção do Fornecedor, determina-se o tipo de
inspeção correspondente.
O quadro abaixo exemplifica a indicação do tipo de inspeção, tomando como base o quadro
do item a.

Grau de
Fabricante Material
Inspeção
Bomba
Válvula
Centrífuga
Sistema de Cabeça Esfera
para
de Poço Submarino Aço
Combate a
Liga
Incêndio

"X" Abrandado B L L

Rigoroso para o
material com COD
(Válvula Esfera
"Y" C B B
Aço Liga) e
Normal para o
restante da linha

"Z" Rigoroso C B C

• Como se observa neste exemplo, o tipo de inspeção para um mesmo material pode variar
de um fornecedor para outro, em função do seu Grau de Inspeção.

25
• A atualização dos tipos de inspeção para cada par "fornecedor x material" é efetuada
permanentemente, a cada modificação no Grau de Inspeção dos Fornecedores.
• Os órgãos da companhia deverão ter conhecimento do tipo de inspeção para os materiais
constantes do Cadastro de Fornecedores.
• Os materiais não sujeitos à qualificação técnica estão isentos de inspeção de fabricação
mas, a critério do órgão requisitante, poderão sofrer inspeção no seu recebimento.
• Pode-se aumentar o rigor no tipo de inspeção de um material ou equipamento, para uma
determinada licitação, em função do aumento da criticidade de um ou mais dos fatores que
são avaliados de acordo com o item (a).
• Os distribuidores ou revendedores de materiais sujeitos à qualificação técnica têm de
garantir, por seus meios e custos, a realização de todas as etapas de inspeção, de acordo
com o tipo de inspeção definido para o fabricante, no Cadastro de Fornecedores.

1.4. Princípios básicos de segurança, meio ambiente


e saúde
O conjunto de elementos que temos à nossa volta, tais como as edificações, os
equipamentos, os móveis, as condições de temperatura, de pressão, a umidade do ar, a iluminação, a
ordem (segurança), a limpeza (saúde) e as próprias pessoas, constituem o nosso ambiente. Nos
locais de trabalho, a combinação de alguns desses elementos gera produtos e serviços. A todo esse
conjunto de elementos e ações denominamos condições ambientais.
É possível imaginar que, num futuro próximo, os trabalhadores fiquem livres de
desenvolverem atividades em ambientes que coloquem em risco sua integridade física e saúde.
Entretanto, apesar de todo o avanço científico e tecnológico, ainda há situações em que o
homem é obrigado a enfrentar condições desfavoráveis em seu ambiente de trabalho, expondo-se ao
risco de contrair doenças ou sofrer lesões.
E o que é pior, há casos em que o homem desenvolve seu trabalho em condições ambientais
aparentemente inofensivas, sem ter consciência dos riscos invisíveis que está enfrentando.
Estudaremos agora as condições ambientais e o impacto que elas provocam no homem e em
seu trabalho. Nos preocuparemos em identificar as condições ambientais que representam riscos à
saúde do trabalhador. Essas atividades são também chamadas de Higiene do Trabalho, que é a
ciência que se dedica à prevenção e ao controle das causas das doenças profissionais e do
trabalho. Dá para avaliar a importância desse assunto tomando como base o fato de que o homem
passa, em média, pelo menos um terço de sua vida adulta no trabalho. Portanto, é preciso haver
muito cuidado nessa área.

26
1.4.1. O inimigo invisível

Qualquer um de nós já se submeteu a um exame de raio x por indicação médica. Nada


sentimos ou vemos sair do aparelho de raio x ao realizarmos esse exame.
Porém, para executar a radiografia, o equipamento libera uma grande carga de energia
eletromagnética não percebida por nós. Essa radiação, em dosagens elevadas, é prejudicial ao
organismo humano, pois provoca alterações no sistema de reprodução das células, ocasionando
doenças e, em alguns casos, a morte.
Essa é uma das razões pelas quais consideramos certos riscos ambientais como inimigos
invisíveis: alguns deles não são captados pelos órgãos dos sentidos (audição, visão, olfato, paladar e
tato), fazendo com que o trabalhador não se sinta ameaçado. Inconsciente do perigo, a tendência é ele
não dar importância à prevenção.
Relatórios médicos falam de pessoas que adquiriram doença pulmonar depois de trabalhar
anos a fio, sem nenhuma proteção, com algum tipo de produto químico. Esse tipo de doença avança
vagarosamente, tornando difícil seu diagnóstico no início. Quando a pessoa se dá conta, a doença já
está em fase avançada e a cura fica difícil, ou o dano é irreversível. Essa é outra razão que torna os
riscos ambientais traiçoeiros.
Em resumo, o desconhecimento de como os fatores ambientais geram riscos à saúde é um
dos mais sérios problemas enfrentados pelo trabalhador.

1.4.2. Os riscos que nos rodeiam

Há vários fatores de risco que afetam o trabalhador no desenvolvimento de suas tarefas


diárias. Alguns atingem grupos específicos de profissionais. É o caso, por exemplo, dos
mergulhadores, que trabalham submetidos a altas pressões e a baixas temperaturas. Por isso, são
obrigados a usar roupas especiais, para conservar a temperatura do corpo, e passam por cabines de
compressão e descompressão, cada vez que mergulham ou sobem à superfície.
Outros fatores de risco não escolhem profissão, agridem trabalhadores de diferentes áreas e
níveis ocupacionais, de maneira sutil, praticamente imperceptível.
Os principais tipos de riscos ambientais que afetam os trabalhadores de um modo geral são
os agentes físicos, químicos e biológicos, pois são os mais ignorados. Sobre os quais fala a

Norma Regulamentadora − NR 9, do Ministério do Trabalho, e as conseqüências para o organismo


humano quando há uma exposição exagerada a um ou mais desses elementos. Há também os
riscos ergonômicos e os principais fatores de riscos ocupacionais, previstos no Anexo IV da

Norma Regulamentadora − NR 5.

27
1.4.3. Riscos físicos

Todos nós, ao desenvolvermos nossos trabalhos, gastamos uma certa quantidade de energia
para produzir um determinado resultado.
Quando as condições físicas do ambiente, como, por exemplo, o nível de ruído e a
temperatura são agradáveis, produzimos mais com menor esforço. Mas, quando essas condições
fogem muito dos limites de tolerância, vem o cansaço, a queda de produção, a falta de motivação
para o trabalho, as doenças profissionais e os acidentes do trabalho.
Em outras palavras, os fatores físicos do ambiente de trabalho interferem diretamente no
desempenho do trabalhador e na produção e, por isso, merecem ser analisados com o maior
cuidado.

1.4.4. Ruído

Quando você se encontra em um ambiente de trabalho e não consegue ouvir perfeitamente a


fala das pessoas, isso é uma indicação de que o local é barulhento ou ruidoso.
Os especialistas no assunto definem o ruído como todo som que causa sensação
desagradável ao homem.
Mede-se o ruído utilizando um instrumento denominado medidor de pressão sonora,
conhecido por decibelímetro. A unidade usada como medida é o decibel ou, abreviadamente, dB.

Figura 1.6 – Exemplo – Atividade Geradora de Ruído

O som e o ruído, penetrando pelos ouvidos, atingem o cérebro. Se medidas de controle não
forem tomadas, graves conseqüências podem ocorrer. Agindo no aparelho auditivo, o ruído pode
causar surdez profissional, cuja cura é impossível, deixando o trabalhador com deficiências auditivas.

28
1.4.5. Temperatura

Frio ou calor em excesso, ou a brusca mudança de um ambiente quente para um ambiente


frio ou vice-versa, também são prejudiciais à saúde.
Nos ambientes onde há a necessidade do uso de fornos ou maçaricos, ou pelo tipo de
material utilizado e características das construções (insuficiência de janelas, portas ou outras
aberturas necessárias a uma boa ventilação), toda essa combinação pode gerar alta temperatura,
prejudicial à saúde do trabalhador.
A sensação de calor que sentimos é proveniente da temperatura resultante existente no
local e do esforço físico que fazemos para executar um trabalho. A temperatura resultante é função
dos seguintes fatores: umidade relativa do ar, velocidade e temperatura do ar e calor radiante, isto é,
produzido por fontes de calor do ambiente, como fornos e maçaricos.
A unidade de medida da temperatura adotada no Brasil é o grau Celsius, abreviadamente ºC.
De modo geral, a temperatura ideal situa-se entre 21ºC e 26ºC; a umidade relativa do ar deve estar
entre 55% a 65%, e a velocidade do ar deve ser adequada, em torno de 0,12 m/s.

1.4.6. Radiações perigosas

As radiações são uma forma de energia que se transmite da fonte ao receptor através do
espaço, em ondas eletromagnéticas.
As radiações se movimentam no espaço em forma de ondas. É dessa forma, em ondas, que o
som chega até o rádio de pilhas.
Um dos elementos da onda é o seu comprimento, identificado pela letra grega λ (lambda). O
comprimento de onda l tem grandes variações, de acordo com o tipo de energia.

Figura 1.7 – Gráfico – Onda eletromagnética

Existem diferentes tipos de radiações que se propagam no espaço, em diferentes


comprimentos de onda. As radiações são tanto mais perigosas quanto menor for o comprimento de
onda.
Veja, a seguir, quais os tipos de radiação que mais atingem o trabalhador.

29
1.4.7. Raios infravermelhos

Solda elétrica, solda oxiacetilênica, trabalhos com metais e vidros incandescentes, isto é, que
ficam da cor laranja e emitem luz quando superaquecidos, e também nos fornos, fornalhas e
processos de secagem de tinta e material úmido, são atividades que produzem raios infravermelhos.
Em trabalhos a céu aberto, o trabalhador fica exposto ao Sol, que é uma fonte natural emissora de
raios infravermelhos. Em doses bem controladas, os raios infravermelhos são usados para fins
medicinais. Mas, quando a intensidade dessa radiação ultrapassa os limites de tolerância, atingindo o
trabalhador sem nenhuma proteção adequada, os raios infravermelhos podem causar sérios danos à
saúde.

1.4.8. Raio ultravioleta

Atividades com solda elétrica, processos de foto-reprodução, esterilização do ar e da água,


produção de luz fluorescente, trabalhos com arco-voltaico, dispositivos usados pelos dentistas,
processos de aluminotermia (atividade química com o emprego de alumínio em pó), lâmpadas
especiais e o Sol emitem raios ultravioleta.
Em pequenas doses (mais ou menos 15 minutos diários de exposição ao Sol), o ultravioleta é
necessário ao homem porque é o responsável pela produção da vitamina D no organismo humano.
Mas, em quantidades excessivas, pode causar graves prejuízos à saúde.
Tanto os raios infravermelhos como os ultravioletas normalmente não são medidos nos
ambientes de trabalho, mas quando ocorrem atividades que emitem esses raios, como as citadas
anteriormente, medidas de proteção devem ser tomadas para garantir a saúde dos trabalhadores.

1.4.9. Microondas

As microondas são encontradas em formas domésticas ou industriais: fornos de microondas,


aparelhos de radar em aeroportos, aparelhos de radiocomunicação, equipamentos de diatermia para
obter calor e processos de aquecimento em produção de plásticos e cerâmica. A medição ou
avaliação das microondas pode ser por sistema elétrico ou térmico, mas não é costumeira e não
existem limites nacionais de tolerância definidos.

30
1.4.10. Laser

Esta sigla, em inglês, vem de “Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation”, que
em português pode ser traduzido por: amplificação da luz por emissão estimulada de radiação.
O laser é um feixe de luz direcional convergente, isto é, que se concentra em um só ponto. É
muito utilizado em indústrias metalúrgicas para cortar metais, para soldar e também em equipamentos
para medições a grandes distâncias. Tem também aplicações em medicina, para modernos
processos cirúrgicos.
Os perigos que os raios laser podem representar têm sido motivo de estudos e de
experiências, até agora não conclusivos. Daí as recomendações se limitarem mais aos aspectos
preventivos. O seu maior efeito no homem é sobre os olhos, podendo causar grandes estragos na
retina, que é a membrana sensível do olho, em alguns casos irreversíveis, causando até mesmo a
cegueira.
Todas essas radiações estudadas: o infravermelho, o ultravioleta, a microonda e o laser são
classificados como radiações não ionizantes. Porém, as mais perigosas são as ionizantes, cuja
energia é tão grande que, atingindo o corpo humano, produzem alterações das células, provocando o
câncer.

1.4.11. Radiações ionizantes

Do ponto de vista do estudo das condições ambientais, as radiações ionizantes de maior


interesse de uso industrial são os raios X, gama e beta, e de uso não industrial são os raios alfa e
nêutrons, cada uma com uma faixa de comprimento de onda l.
Essas radiações podem ser encontradas de forma natural nos elementos radioativos, tais
como Urânio 238 e Potássio 40, além das radiações cósmicas vindas do espaço celeste.
Artificialmente, são originadas pela tecnologia moderna, como o raio x, usado em metalurgia
para detectar falhas em estruturas metálicas e verificar se há soldas defeituosas. Outros tipos de
radiações são usados para determinar espessuras de lâminas metálicas, de vidro ou plásticos, bem
como para indicar níveis de líquidos em reservatórios.

31
Figura 1.8 – Sala de Comando – Sistema RX

Os raios gama servem para analisar soldagem em tubos metálicos, cujo processo chama-se
gamagrafia.
As radiações são ainda usadas em tintas luminosas, nas usinas de produção de energia
elétrica (como a usina atômica de Angra dos Reis) e nos processos de verificação de desgaste de
cera para piso, desgaste de ferramentas de tornos e de anéis de motores de automóveis. São
também usadas em laboratórios de pesquisa e na medicina, no combate ao câncer e em muitas
outras aplicações.
A absorção de radiação no organismo humano é indiretamente avaliada pela unidade
chamada REM, em inglês “Relative Efect Man”, que em português quer dizer "efeito relativo no
homem". A detecção das radiações ionizantes é feita por vários tipos de aparelhos, como detectores
pessoais e de cintilação, dosímetros, e similares.
Os limites máximos de exposição são indicados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear
e por norma do Ministério do Trabalho.

Figura 1.9 – Símbolo indicativo de material radioativo

Cuidado! Este símbolo indica material radioativo. Não se aproxime, não mexa. Vendo este
símbolo em materiais abandonados ou mal acondicionados, informe aos órgãos especializados.

32
1.4.12. Agentes químicos

Certas substâncias químicas, utilizadas nos processos de produção industrial, são lançadas
no ambiente de trabalho, intencional ou acidentalmente. Essas substâncias podem apresentar-se nos
estados sólido, líquido e gasoso.
No estado sólido, temos poeiras de origem animal, mineral e vegetal, como a poeira mineral
de sílica encontrada nas areias para moldes de fundição. No estado gasoso, como exemplo temos o
GLP (gás liqüefeito de petróleo), usado como combustível nos fogões residenciais. No estado líquido,
temos os ácidos, os solventes, as tintas e os inseticidas domésticos.
Esses agentes químicos ficam em suspensão no ar e podem penetrar no organismo do
trabalhador por:
Via respiratória – essa é a principal porta de entrada dos agentes químicos, porque
espiramos continuadamente, e tudo o que está no ar vai direto aos nossos pulmões. Se o produto
químico estiver sob forma sólida ou líquida, normalmente fica retido nos pulmões e provoca, a curto
ou longo prazo, sérias doenças chamadas pneumoconioses, como o edema pulmonar e o câncer dos
pulmões. Se estiver no ar sob forma gasosa, causa maiores problemas de saúde, pois a substância
atravessa os pulmões, entra na corrente sangüínea e aloja-se em diferentes partes do corpo humano,
como no sangue, fígado, rins, medula óssea, cérebro, causando anemias, leucemias, alergias,
irritação das vias respiratórias, asfixia, anestesia, convulsões, paralisias, dores de cabeça, dores
abdominais e sonolência.

Figura 1.10 – Ilustração - Aparelho Respiratório

Via digestiva – se o trabalhador comer ou beber algo com as mãos sujas, ou mãos que
ficaram muito tempo expostas a produtos químicos, parte das substâncias químicas será ingerida
junto com o alimento, atingindo o estômago e provocando sérios riscos à saúde.

33
Figura 1.11 – Ilustração – Aparelho Digestivo

Epiderme – essa via de penetração é a mais difícil, mas se o trabalhador estiver desprotegido
e tiver contato com substâncias químicas, havendo deposição no corpo, serão absorvidas pela pele. A
maneira mais comum da penetração pela pele é o manuseio e o contato direto com os produtos
perigosos, como arsênico, álcool, cimento e derivados de petróleo, que causam câncer e doenças de
pele conhecidas como dermatoses.

Figura 1.12 – Ilustração – Mão Humana

Via ocular – alguns produtos químicos que permanecem no ar causam irritação nos olhos e
conjuntivite, o que mostra que a penetração dos agentes químicos pode ocorrer também pela vista.

Figura 1.13 – Ilustração – Globo Ocular

34
É importante tomar cuidado com os diferentes produtos químicos empregados nas indústrias
e até em casa. É preciso fazer um levantamento dos produtos químicos que se utiliza, a leitura dos
rótulos das embalagens e informar-se sobre os efeitos que podem provocar no organismo humano.

1.4.13. Agentes biológicos

São microrganismos, ou seja, reduzidíssimos seres vivos não vistos a olho nu, presentes em
alguns ambientes de trabalho, como hospitais, laboratórios de análises clínicas, coleta de lixo, indústria
do couro e fossas. Nessa categoria incluem-se os vírus, as bactérias, os protozoários, os fungos, os
parasitas e os bacilos. Penetrando no organismo do homem por via digestiva, respiratória, olhos e pele,
são responsáveis por algumas doenças profissionais.
Como esses microrganismos se adaptam melhor e se reproduzem mais em ambientes sujos, as
medidas preventivas a tomar são: rigorosa higiene dos locais de trabalho, do corpo e das roupas;
destruição por processos de elevação da temperatura (esterilização) ou uso de cloro; uso de
equipamentos individuais para evitar contato direto com os microrganismos; ventilação permanente e
adequada; controle médico constante, e vacinação, sempre que possível.
A verificação da presença de agentes biológicos em ambientes de trabalho é feita por meio de
retirada de amostras de ar e de água, que serão analisadas em laboratórios especializados. Em
virtude das grandes dificuldades para a realização dessas análises, não existem limites de tolerância
definidos.

1.4.14. Os riscos ergonômicos

Ergonomia é a ciência que busca alcançar o ajustamento mútuo ideal entre o homem e o seu
ambiente de trabalho. Entretanto, se não existir esse ajuste, teremos a presença de agentes

ergonômicos que causam doenças e lesões no trabalhador. A Norma Regulamentadora − NR 17, do


Ministério do Trabalho, trata desse assunto.
Os agentes ergonômicos presentes nos ambientes de trabalho estão relacionados à exigência
de esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, postura inadequada no exercício
das atividades, exigências rigorosas de produtividade, jornadas de trabalho prolongadas ou em
turnos, atividades monótonas ou repetitivas, e outras.
Movimentos repetitivos dos dedos, das mãos, dos pés, da cabeça e do tronco produzem
monotonia muscular e levam ao desenvolvimento de doenças inflamatórias, curáveis em estágios
iniciais, mas complicadas quando não tratadas a tempo, chamadas genericamente de LER/DORT

35
(Lesões por esforços repetitivos – LER), e (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao
Trabalho - DORT.).
As doenças que se enquadram neste grupo caracterizam-se por causar fadiga muscular, que
gera fortes dores e dificuldade de movimentar os músculos atingidos.
São exemplos de doenças causadas por esforços repetitivos: bursite (inflamação da bursa,
que é uma cápsula contendo líquido lubrificante em seu interior, que reveste algumas articulações);
miosite (inflamação de músculo); tendinite (inflamação dos tendões, que são fibras que unem os
músculos) e tenossinovite (inflamação dos tendões e das articulações).
Há registros de que essas doenças já atacavam os escribas e notários há séculos. Hoje
afetam diversas categorias de profissionais: bancários, metalúrgicos, costureiros, pianistas,
telefonistas, digitadores, empacotadores, enfim, todos os profissionais que realizam movimentos
automáticos e repetitivos.
Contra os males provocados pelos agentes ergonômicos, a melhor arma, como sempre, é a
prevenção: rodízios e descansos constantes; exercícios compensatórios freqüentes para trabalhos
repetitivos; exames médicos periódicos; evitar esforços superiores a 25kg para homens e 12kg para
mulheres; postura correta sentado, em pé, carregando ou levantando peso, como mostra a ilustração
a seguir.

Figura 1.14 – Posições Ergonômicas

1.4.15. Riscos de acidentes

Outros fatores de risco que podem ser encontrados e devem ser eliminados nos ambientes de
trabalho são decorrentes de: falhas de projeto de máquinas, equipamentos, ferramentas, veículos e
prédios; deficiências de layout; iluminação excessiva ou deficiente; uso inadequado de cores;
probabilidade de incêndio ou explosão; armazenamento inadequado de produtos, presença de
animais peçonhentos, e outros.

36
2. INSPEÇÃO POR AMOSTRAGEM

A inspeção por amostragem tem aceitação pelas empresas de uma maneira geral, por estar
baseada em normas que são utilizadas para definição de critérios de inspeção.
Aspectos importantes sobre a inspeção por amostragem:
a. O propósito dela não é estimar a qualidade de um lote, mas sim julgá-la.
b. Seu julgamento é o de aceitar ou rejeitar o lote, não preocupando-se em estabelecer
qualquer controle de qualidade.
c. A inspeção por amostragem é como uma ferramenta de auditoria que assegura que a
saída de um processo está conforme os seus requisitos.
Por outro lado, para inspeção 100% o custo é extremamente alto, tecnicamente executável,
porém requer muito tempo para ser feita e nos casos onde existem muitos itens ou produtos a serem
inspecionados a fadiga humana ou variáveis da máquina podem incorrer em erros.
Vantagens da inspeção por amostragem em relação à inspeção 100%:
• pode ter custos menores;
• manipula-se uma menor quantidade de produtos, o que reduz danos;
• utiliza menos inspetores;
• permite a utilização de testes destrutivos;
• diminui os erros de inspeção;
• incentiva ou pressiona o fornecedor a melhorar a qualidade do produto.
Desvantagens da inspeção por amostragem em relação à inspeção 100%:
• risco de aceitar lotes “ruins” e rejeitar lotes “bons”;
• menos informação é gerada sobre os itens ou produtos produzidos;
• menos informação sobre o processo de produção;
• é necessário mais planejamento e documentação que a inspeção 100%.
A inspeção por amostragem é executada a partir de um plano de amostragem previamente
estabelecido.
Nos planos de amostragem para atributos uma amostra é coletada, segundo um critério, e
cada item é avaliado e classificado em conforme e não-conforme. O número de não-conformidades
encontrado na amostra é comparado com o máximo aceitável estabelecido no plano de amostragem,
decidindo-se aceitar ou não o lote.
Nos planos de amostragem para variáveis, a característica de qualidade de cada item da
amostra coletada é medida e ela é expressa por uma estatística e comparada a um valor permissível
pelo plano de amostragem, o que define a aceitação ou não do lote.

37
2.1. Normas NQA e QL

As Normas NQA e QL estabelecem planos de amostragem e procedimentos para inspeção


por atributos. Quando especificada pelo responsável, devem ser citados nos contratos, instruções ou
outros documentos, e as determinações estabelecidas devem ser obedecidas. Os planos de
amostragem podem ser utilizados, além de outros, para inspeção de produtos terminados,
componentes e matéria-prima, operações, materiais em processamento, materiais estocados,
operações de manutenção, procedimentos administrativos e relatórios e dados.

2.2. Plano com base no NQA

O plano de NQA para inspeção por atributos é amplamente adotado no mundo, tornando-se
quase que um padrão de inspeção por amostragem por atributos.
Ele é, na realidade, um sistema de amostragem por aceitação porque tem uma variedade de
sistemas de inspeção por amostragem. A norma estabelece três tipos de amostragens com base no
NQA:
• Amostragem simples;
• Amostragem dupla; e
• Amostragem múltipla.
Para cada um desses tipos de amostragem existem três níveis de severidade:
• Normal;
• Severa; e
• Atenuada.
Inicialmente, adota-se nível de severidade normal. Dependendo do histórico de qualidade do
fornecedor ou processo, o nível pode ser mudado para severa (quando há uma deterioração no
histórico de qualidade) e atenuada (quando o histórico de qualidade vem sendo excepcionalmente
bom).
Existem critérios para julgar o histórico de qualidade com vistas à troca de nível.
A figura a seguir traz essas regras e ilustra como a passagem de nível pode acontecer.

38
Figura 2.1 - Critérios e esquema de passagem de níveis de severidade do plano de NQA

Se mais de dez lotes consecutivos ficam no regime de inspeção severa, para-se de utilizar a
Inspeção por Amostragem com base na norma de NQA e analisa-se o processo visando melhoria do
nível de qualidade ou, então, passa-se a utilizar Inspeção 100%, dentro das possibilidades.
Deve-se observar que o valor de NQA pode ser designado em contrato e podem ser adotados
diferentes NQAs, dependendo dos tipos de defeitos.
De acordo com as normas NQA, o tamanho da amostra é determinado pelo tamanho do lote a
ser inspecionado e pela escolha do nível geral de inspeção.
Existem três níveis gerais de inspeção, sendo que o Nível II é designado como normal, o
Nível I requer a metade da quantidade de inspeção do Nível II e é utilizado quando se deseja menos
discriminação, e o Nível III requer duas vezes mais inspeção que o Nível II e, portanto, deve ser
utilizado quando se requer maior discriminação possível.
Existem também outros quatro níveis especiais, denominados S1, S2, S3 e S4. Os níveis
especiais devem ser utilizados somente quando as amostras “inspeção por amostragem por atributos”
forem pequenas e se altos riscos puderem ser tolerados. Esses valores podem ser encontrados nas
tabelas da Norma ABNT 5426. Com o valor de NQA e o tamanho da amostra, os parâmetros a e r do
plano de amostragem são determinados pela norma. As tabelas de NQA são para amostragem
simples, dupla e múltipla e para os níveis de severidade.
O procedimento para utilizar a norma de NQA é o seguinte:
a. Estabelecer o NQA;
b. Determinar o tamanho do lote;
c. Escolher o nível geral de inspeção (I, II, III ou especial);

39
d. Determinar a letra na Tabela I;
e. Determinar o tipo de inspeção e o nível de severidade para escolher a tabela
correspondente a eles;
f. De posse da letra e do NQA, encontrar o tamanho do lote (n) e depois os números de
aceitação (a) e rejeição (r);
g. Caso haja mudança no nível de severidade, retornar ao passo c.
Por exemplo, para um lote de dez mil itens foram escolhidos NQA 0,25 e nível geral de
inspeção II. A partir do tamanho do lote, a letra correspondente na Tabela I é L. Adotando inspeção
normal, já que o início da operação plano é inspeção simples, na Tabela II-A com a letra L o tamanho
da amostra (n) é 200 itens. No encontro da coluna de NQA 0,25 e linha da letra L, encontram-se os
valores de a, igual a um item, e r igual dois itens, ou seja, tomando-se uma amostra aleatória de 200
itens de um lote de dez mil, o lote será aceito se o número de não-conformidades for menor ou igual a
um item na amostra.
Caso seja necessário passar para inspeção atenuada, deverá utilizar a Tabela II-C e com a
letra L o tamanho da amostra passa a ser 80 itens, a é zero e r é dois. Quando for encontrado nos
local dos valores de a e r uma seta, adote os valores de a e r indicados ao final da seta.
Os planos de NQA são de diversos tipos como se pode observar, sendo assim, aplicáveis em
inúmeras situações.

2.3. Plano com base na QL

As normas que apresentam o quesito QL – Qualidade Limite, são principalmente as da NBR


5427, tabelas 1 e 6.
De maneira geral, a QL adotada para um determinado lote de itens isolados irá indicar o nível
de confiança de que o lote em referência venha apresentar um determinado percentual de peças
defeituosas.
Um lote é considerado isolado quando seus itens são exclusivos e são fabricados em série, e
a possibilidade de aparecer um novo lote igual é quase impossível.

2.4. Amostragens simples, dupla e múltipla

Dos vários tipos de inspeção por amostragem disponíveis, os mais comuns são:
• Amostragem simples;
• Amostragem dupla;
• Amostragem múltipla.

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2.4.1. Amostragem simples

Por meio de uma amostragem simples, a decisão sobre aceitar ou rejeitar um lote de itens ou
produtos é tomada após a execução das atividades ilustradas no esquema abaixo:

Figura 2.2 - Esquema geral de amostragem simples

A amostragem simples permite, de forma bem rápida, um julgamento sobre a qualidade do


lote de itens a serem inspecionados. Geralmente, esse procedimento requer um número de amostras
maior que as outras formas de execução da amostragem. Em compensação, a quantidade de
informação é maior e o custo de implementação e administração do plano é menor.

2.4.2. Amostragem dupla

Na amostragem dupla, a decisão de aceitar ou rejeitar um lote não é tomada após a primeira
amostragem, como ilustrado no fluxograma a seguir. Caso o lote apresente um número de defeitos
maior que a aceitação, uma nova amostra é retirada do lote e uma nova avaliação é feita, somando-
se os números de defeitos encontrados. Após análise, a decisão é tomada para aceitar ou não o lote.

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Figura 2.3 - Esquema geral de amostragem dupla

Como exceção, e caso o histórico do fornecedor apresente uma baixa taxa de defeitos, existe
grandes probabilidades do lote ser aceito após a retirada da primeira amostra. Isso faz com que o
número de itens inspecionados seja menor e, consequentemente, o custo seja menor e a atividade
seja mais rápida. Neste caso, o volume de informação é menor em relação à amostragem simples.
Se o fornecedor apresentar uma alta taxa de defeitos, apesar de encarecer os ensaios, o lote
será rejeitado.

2.4.3. Amostragem múltipla

A amostragem múltipla é uma extensão da amostragem dupla vista anteriormente, na qual


mais de duas amostras podem ser retiradas de um lote para o julgamento. O plano de inspeção por

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amostragem múltipla é constituído por três parâmetros: número de aceitação (a), número de
retificação (r) e número de rejeição (d).
O quadro a seguir ilustra o progresso deste tipo de amostragem caso o número no estágio
não supere o número de rejeição (d), ou seja maior que o número de aceitação (a). Neste caso, a
retirada de amostras pode chegar a 100% do lote.

Tabela 2.1 - Etapas genéricas de uma amostragem múltipla

Etapa Tamanho da amostra Número de aceitação de Número de reflexão


acumulativo (ni) cada etapa (ai) (ri)
1 n1 a1 r1
2 n2 a2 r2
k-ésima N ak rk

A vantagem da amostragem múltipla é que as amostras de tamanho nk necessárias em cada


etapa do processo de amostragem é menor que nas amostragens simples e duplas. Esse
procedimento é muito difícil e caro de administrar, sendo que o conteúdo de informação poderá ser
menor que nas duas formas anteriores de amostragens.
Os planos de amostragem simples, dupla e múltipla, dependendo da forma como foram
concebidos, podem atingir resultados equivalentes.
Fatores que podem ser considerados na escolha de um desses planos.
• Eficiência administrativa;
• Tipo de informação produzida;
• Quantidade média de inspeção requerida;
• Impacto que o procedimento pode ter no fluxo de materiais, tanto no processo de produção
quanto no recebimento de materiais.
Dependendo do tipo de informação que se deseja acumular para o conhecimento do
fabricante ou processo de produção, pode ser interessante num primeiro momento a adoção de um
procedimento de inspeção simples.
Para um processo de produção cujo volume é alto e a taxa de defeitos é baixa, talvez seja
interessante chegar rapidamente a uma decisão por meio de procedimento de amostragem
seqüencial.

2.5. Formação de lotes

A forma como um lote de inspeção é obtido poderá influenciar na eficiência e eficácia de um


plano de amostragem. Ao se obter um lote de produção, deverão ser respeitados os dias, turnos,
pessoal envolvido e tudo o que possa influenciar esse lote. Um lote de itens que foi produzido por
pessoas diferentes pode ter unidades com diferenças, por exemplo.
Portanto, algumas diretrizes para a formação de lotes se fazem necessárias:

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a. Os lotes devem ser homogêneos: as unidades, que compõem o lote de onde será extraída
a amostra, deverão sempre que possível vir da inspeção por amostragem por atributos de
uma mesma máquina, operada pelo mesmo operador, sob as mesmas condições e
utilizando sempre a mesma matéria-prima.
b. Não deve se acumular produtos ou itens por grandes períodos de tempo, pois poderão
ocorrer variações e a homogeneidade ficará impossível de ser atingida.
c. Grandes lotes são preferíveis a pequenos lotes, devido à economia de custos.
d. Deve-se utilizar informações secundárias, como as cartas de controle do fabricante, a
capacidade do processo e históricos de inspeção, os quais ajudam, principalmente se
forem utilizados de forma constante.
e. Os sistemas de manuseio de materiais devem ser similares tanto no fornecedor quanto no
cliente.
As amostras que formarão os lotes de inspeção devem ser escolhidas de forma aleatória e
representativas do lote. O inspetor que escolhe as amostras dentro de um conjunto deve ser inovador
para evitar possíveis vícios e com isso mascarar a amostra.
Pode se utilizar até um gerador de números aleatórios, ou outro meio qualquer que evite
tendências.
Tendências típicas que podem ser introduzidas na constituição de uma amostra são:
• Amostras retiradas sempre do mesmo local do contenedor;
• Pré-seleção do lote, de forma a retirar aqueles itens que aparentarem estar conformes ou
não-conformes;
• Ignorar partes do lote que sejam inconvenientes ou difíceis de retirar itens;
• Decidir por uma forma de estratificar sem conhecimento suficiente do lote.
A fim de evitar tais vícios e garantir a aleatoriedade na constituição da amostra,
procedimentos devem ser escritos e auditados de forma a garantir o bom andamento da atividade de
inspeção.

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BIBLIOGRAFIA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5426: Planos de Amostragem e Procedimento na


inspeção por atributos. Rio de Janeiro, 1985. 63p.

______. NBR 5427: Guia para utilização da Norma NBR 5426. Rio de Janeiro, 1985. 26p.

______. NBR 5428: Procedimentos estáticos para determinação da validade de inspeção por atributos feita pelos
fornecedores. Rio de Janeiro, 1985. 23p.

FIESP; FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO. Qualidade, Qualidade Ambiental, Higiene e Segurança no Trabalho.
Por Cesar Corradi et al. São Paulo: Globo, 1996. 128p. (Telecurso 2000. Curso Profissionalizante. Mecânica).

PETROBRÁS. ABC da Inspeção de Fabricação. Disponível em:


http://www2.petrobras.com.br/canalFornecedor/portugues/RequisitosContratação/Abcinspecao/abc01.asp.
Acesso em: 27 dez 2006.

MARTINS, Roberto Antonio. Inspeção por Amostragem. São Carlos: UFSCar, 2002. 30p.

SENAI. SP. Metrologia. Disponível em:


https://intranet.sp.senai.br/downloadusuario/ensino/matdid/47/4767144482A03_metrologia.prof. Acesso em: 27
dez 2006.

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