Você está na página 1de 56

Expediente / Índice

imprensa@sieeesp.com.br

DIRETORIA

Presidente
Matéria de Capa
4
Benjamin Ribeiro da Silva
Colégio Albert Einstein

1º Vice-presidente Mudança de rumo para os planejamentos


José Augusto de Mattos Lourenço
Colégio São João Gualberto

2º Vice-presidente
Waldman Biolcati
Curso Cidade de Araçatuba

1º Tesoureiro
José Antonio Figueiredo Antiório
Colégio Padre Anchieta
Comportamento Motivação
2º Tesoureiro
Antonio Batista Grosso
Colégio Átomo
10 Transtornos 36 Ah, que saudade!
1º Secretário alimentares
Itamar Heráclio Góes Silva
Educ Empreendimentos Educacionais
Educação Sexual
38
2º Secretário
Aniversário
14
Antonio Francisco dos Santos
Colégio Novo Acadêmico
Deficiência física e
DIRETORES DE REGIONAIS
Colégio Múltiplus sexualidade
ABCDMR
comemora 40 anos
Oswana M. F. Fameli - (11) 4437-1008
Mensalidade Escolar
40
Araçatuba
Waldman Biolcati - (18) 3623-1168 Jornada Regional
Bauru
Gerson Trevizani - (14) 3227-8503
16 Jornada pelo interior
Custo da
mensalidade escolar
Campinas
Antonio F. dos Santos - (19) 3236-6333

Guarulhos
Reflexão Educação Digital
44
Wilson José Lourenço Júnior - (11) 4963-6842

Marília
Luiz Carlos Lopes - (14) 3413-2437 20 Ciência e Escola: O Tendências
Ribeirão Preto que está por trás de tecnológicas para
João A. A. Velloso - (16) 3610-0217
tanta contradição a Educação:
Osasco
José Antonio F. Antiório - (11) 3681-4327 É possível prever?
Presidente Prudente
Saúde
22
Antonio Batista Grosso - (18) 3223-2510

Santos
Competência Cotidiano
48
Ermenegildo P. Miranda - (13) 3234-4349

São José dos Campos emocional da infância A violência: Ação e


Maria Helena Baeza - (12) 3931-0086
reação da sociedade
São José do Rio Preto
Cenira Blanco Fernandes Lujan - (17) 3222-6545 Sociedade brasileira
Sorocaba
Edgar Delbem - (15) 3231-8459 26 Sucesso: O que é isso
para você? Social
ABRIL DE 2014
Editor
Adhemar Oricchio - MTB 8.171
50 Juliana Notari, Fábio
Entrevista Supérbi e o Teatro de
30
Repórteres
Gisele Carmona
Bonecos
Ygor Jegorow (estagiário)
Assessoria de Imprensa e
Celso Fernandes,
Produção Editorial
Editor-chefe: Adhemar Oricchio
presidente da
empresa Meira
52
Editor gráfico: Balduino Ferreira Leite
Site: Gisele Carmona
Redes Sociais: Ygor Jegorow
Impressão: Companygraf
Fernandes Obrigações
Colaboradores
• Ana Paula Saab • Antonio Higa
• Carlos Alberto Nonino Social
• Clemente de Sousa Lemes
• Ivaci de Oliveira • Jocelin de Oliveira
• José Maria Tomazela • José Rodrigues
• Ulisses de Souza
34 Pedofilia: Fique 54
www.sieeesp.org.br atento e denuncie Cursos
Av. das Carinás, 525 - São Paulo - SP
CEP 04086-011 - (11) 5583-5500

2 Escola Particular
Editorial

Benjamin
Ribeiro da Silva

O crescimento da Presidente do Sieeesp


Sindicato dos Estabelacimentos de
Ensino no Estado de São Paulo

escola particular
benjamin@einstein24h.com.br

Muito se discute
O Sieeesp – Sindicato dos
Estabelecimentos de
Ensino no Estado de São Paulo
que São Paulo, ao contrário
dos números nacionais, tem
conseguido aumentar, ainda que
e se promete
elaborou um minucioso estudo, pouco, a matrícula no ensino em termos de
analisando os dados do censo
de 2012, que está disponível com
médio. Entre 2010 e 2013 foram
quase 3% estudantes a mais,
melhoria da
todas informações checadas. enquanto no ensino fundamental, educação brasileira,
Os números demonstram a a queda nas matrículas foi
importância da escola particular grande: menos 350,7 mil alunos,
mas temos um
do Estado de São Paulo no cenário maioria nos anos finais (5º ao 9º imenso caminho a
educacional paulista e brasileiro. ano). Em 2013, 2,73 milhões de
São perto de 10 mil escolas (35% crianças estavam em creches no percorrer
do total), com 2 milhões e 100 mi país, um salto de 72,8% em relação
alunos (20%), que empregam mais a 2007. Na pré-escola, o aumento
de 612 mil professores (25% dos foi de 2,2%.
docentes paulistas). Enquanto aqui no Brasil
Esses dados foram reafirmados divulgamos o resultado do censo
no final do mês de fevereiro escolar, em Sidney, na Austrália, a do Programa Internacional
quando o MEC (Ministério da Organização para a Cooperação de Avaliação de Alunos (Pisa),
Educação) divulgou parte dos e Desenvolvimento Econômico ficando na frente só de dez
dados do censo de 2013 da (OCDE) apresentou o estudo países. Somente metade da
Educação Básica. No Brasil, “Avançando rumo ao crescimento população brasileira tem o
enquanto a rede pública de ensino 2014”, recomendando que hábito de ler livros e, entre essas
básico perdeu 2,5 mi lhões de o Brasil, o México e o Chile pessoas, a média de leitura é
alunos nos últimos três anos, as melhorem o acesso à educação de duas obras inteiras por ano.
escolas particulares ganharam de qualidade, resolvam os A nossa taxa de analfabetismo
mais de 1,05 milhão de matriculas. gargalos no desenvolvimento de entre jovens e adultos é de 8,7%, e
A migração é o resultado do maior infraestrutura e na formação dos chega a 18,3% quando se trata de
poder aquisitivo da população trabalhadores, a fim de melhorar analfabetos funcionais.
que, apesar de alguma melhoria a produtividade. O documento Muito se discute e se promete
na qualidade do ensino público, ressalta a necessidade de em termos de melhoria da
ainda opta por escolas particulares elevar os padrões de vida e educação brasileira, mas temos
quando a mensalidade cabe no corrigir os desequilíbrios na um imenso caminho a percorrer
orçamento. No Estado de São produtividade para alcançar para atingir o patamar compatível
Paulo, entre os anos de 2010 os países de renda mais alta. com o desenvolvimento que o
e 2013, enquanto as escolas Enfocando especialmente o Brasil país necessita e pode alcançar. Os
estaduais e municipais tiveram e o México, a OCDE reivindicou números mostram que a escola
uma queda de 422.482 matriculas, melhorias na universalização do particular cresce ano a ano e
a educação privada ganhou 240,5 ensino, apesar de considerar as esperamos que esse segmento
mil alunos. medidas já realizadas. tão importante possa contribuir
Outro dado apresentado O Brasil ainda amarga o ainda mais para elevar o nível
pelo Censo 2013 revela também 55º lugar no ranking de leitura de ensino.

Escola Particular 3
Matéria de Capa

Gisele Carmona

4 Escola Particular
C ontinuando a nossa busca por infor-
mações e destrinchando o tema que
dá nome à nossa série desde outubro - Os
Anualmente capacita 75 mil educado-
res e seus programas beneficiam direta-
mente cerca de 2 milhões de alunos em
Por outro lado temos também o Indica-
dor de Alfabetismo Funcional (Inaf), que vai
além dos muros das escolas, e a Pesquisa
Rumos da Educação Brasileira - a revista Es- mais de 1.300 municípios nas diversas Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad),
cola Particular entrou em contato com Inês regiões do Brasil. que trabalha com autodeclaração, ou seja,
Miskalo, coordenadora de educação do Além disso, o Instituto Ayrton Senna o registro de autopercepção e autocons-
Instituto Ayrton Senna, uma organização integra, desde 2004, a rede de Cátedras ciência do cidadão sobre seus próprios
sem fins lucrativos que pesquisa e produz UNESCO* no mundo, e colabora direta- limites.
conhecimento para melhorar a qualidade mente para que o Brasil possa atingir as “Não se trata, portanto, de um quadro
da educação em nosso país. metas propostas pela ONU para prover que nos coloca mal perante outros países,
Segundo informações do site da educação básica de qualidade a todas as mas sim perante os próprios brasileiros.
organização, esta foi fundada em 1994 crianças e a todos os jovens até 2015. Uma triste realidade que atinge a todos,
por desejo do tricampeão de Fórmula 1, Inês diz que o problema em nosso país independentemente da origem social, clas-
Ayrton Senna, e trabalha para desenvolver começa pela alfabetização, que dá início a sificação financeira, estrutura familiar, rede
o potencial das novas gerações, ajudando um efeito dominó que se estende por toda de ensino e localização geográfica. Embora
estudantes a ter sucesso na escola e a se a Educação Básica. São várias as fontes que seja claro que alguns segmentos registram
transformarem em cidadãos capazes de explicitam essa realidade, tanto nacional, piores resultados e são mais afetados pelo
responder às exigências profissionais, como o Sistema de Avaliação da Educação fato de morarem numa e não em outra
econômicas, culturais e políticas. Básica (Saeb) e a Prova Brasil, quanto inter- região, ou serem de determinados níveis
nacional, como o Programa Internacional socioeconômicos”, comenta ela.
de Avaliação de Alunos (PISA), que avaliam Para a coordenadora, ao se buscar as
alunos regularmente matriculados nas variáveis com maior impacto para o su-
instituições oficiais. cesso ou fracasso dos estudantes, a socio-

*O Programa de Cátedras tem como objetivo a capacitação através da troca de conhecimentos e do espírito de solidariedade
estabelecido entre os países em desenvolvimento. No Brasil, a UNESCO é responsável por 25 cátedras implementadas em
conjunto com entidades de ensino superior de prestígio. Envolve treinamentos, pesquisas e outras atividades de produção de
conhecimento, em consonância com os objetivos e diretrizes dos programas e áreas de maior prioridade da UNESCO. Para saber
mais, acesse: www.unesco.org

sxc.hu

Escola Particular 5
Matéria de Capa

econômica é, invariavelmente, apontada temos a nosso favor um cenário que nos


como aquela que faz toda a diferença nos dá perspectivas bem favoráveis, com um
resultados. Inclusive, ela comenta que há arcabouço legal e políticas instaladas na
um debate sobre o avanço do Brasil no PISA última década do século XX que vem se
Ampliar a ser atribuído não à melhora na aprendiza-
gem dos alunos, mas sim ao progresso das
aprimorando, seja no quesito do finan-
ciamento, seja na questão da formação
escolarização famílias no campo econômico.
“Há uma relação direta entre economia
de professores e educadores em geral,
com uma sociedade que incorporou em
significa desenvolver e educação formal, numa espécie de ciclo sua agenda a questão da qualidade da
contínuo, já que pessoas com boa forma- educação, e atentou para o quanto isso
consumidores ção acadêmica e técnica impulsionam o significa para sua vida presente e futura.
desenvolvimento econômico, e este, por Apesar disso, os avanços acontecem muito
conscientes e sua vez, amplia o acesso da população à lentamente”.
cultura. Ampliar a escolarização significa A coordenadora acredita que estamos
cidadãos críticos, desenvolver consumidores conscientes em um caminho sem volta em direção a

cuja demanda, por e cidadãos críticos, cuja demanda, por


sua vez, provoca melhoria na oferta e
um projeto de Estado, deixando para trás
os tradicionais projetos de governo sem
sua vez, provoca nos serviços. Não existe sociedade com-
petitiva no mercado internacional sem um
continuidade. “Sou otimista a ponto de
pensar que vivenciamos um período de
melhoria na oferta e bom sistema educacional. Isso também é
válido para o respeito aos direitos civis, à
substituição dos projetos pontuais por pro-
jetos processuais”. Ela explica que existem
nos serviços convivência democrática e à participação
do cidadão nas decisões do país”.
alguns exemplos de ações que sofreram
grandes alterações em seus modelos,
Segundo ela, propostas não seriam mas nem por isso foram descartadas. Pelo
difíceis de serem dadas, afinal, existe uma contrário, fortaleceram o banco de infor-
boa quantidade de programas e projetos mações com mais credibilidade, passível
educacionais que são apresentados para de uso para o financiamento da educação.
as redes de ensino, muitas vezes, até, Entre os exemplos de mudanças para
alardeados como “A solução”. melhor, segundo ela, estão:
“Somos um país que ainda acredita • O Fundo de Manutenção e Desen-
em ‘salvadores da Pátria’, e continuamos volvimento do Ensino Fundamental e
esperando, e atribuindo a essas soluções de Valorização do Magistério (Fundef),
mágicas que nos alavanque. Mas isto não voltado para o Ensino Fundamental,
existe. Precisamos nos conscientizar de ampliado para o Fundo de Manutenção e
que a solução está em nossas mãos, e que Desenvolvimento da Educação Básica e de
mudanças são frutos de processos que Valorização dos Profissionais da Educação
devem ter começo, meio e fim, ou seja, (Fundeb), com cobertura para Educação
precisam ser planejadas, acompanhadas Infantil e Ensino Médio;
durante sua execução, de forma a garantir • O Saeb para a Prova Brasil;
que as escolhas foram adequadas e que os • O Censo Escolar otimizado para a
acidentes de percurso foram enfrentados e composição do Índice de Desenvolvimento
superados, e finalmente que os resultados da Educação Básica (Ideb), juntamente com
esperados foram atingidos e satisfatórios”. os resultados do Saeb e da Prova Brasil;
Educação precisa de processos, ges- • A ampliação do sistema de avaliação
tores e ferramentas gerenciais, o que não é nacional, iniciada nos anos 90, século XX,
comum nas redes de ensino. Segundo Inês, para a alfabetização, com a Avaliação Na-
boa parte dos educadores teme que isso cional de Alfabetização (ANA).
reduza sua autonomia e sua criatividade, Em relação ao PNE - Plano Nacional
e transformará o aluno em instrumento de Educação - a especialista comenta que
de outras forças sociais que não as da edu- esta ainda é uma estrada com obstáculos
cação. Educação é um campo altamente a serem superados, já que não somos
ideológico, pois é nele que se pensa e uma nação totalmente comprometida
decide o tipo de cidadão que a sociedade com nossas crianças e jovens. Ainda não
deseja formar. sabemos administrar a convivência entre
“Isso torna a educação complexa e os diferentes e a negociar e endereçar
polêmica, onde não há o certo ou o errado, interesses diversos para o bem-comum.
pois tudo é uma questão de princípio. Mas “Falta-nos ampliar nossa consciência social,
sxc.hu

6 Escola Particular
de forma a colocar o sucesso dos alunos, O compromisso para com o desen- do ano, de forma a evitar fracassos que,
seu presente e futuro, acima de lucros e volvimento integral dos futuros adultos geralmente, são descobertos somente ao
vantagens políticas e comerciais”. precisa conviver, ainda, com a superação final de anos ou ciclos.
das consequências do descaso do Brasil “A questão curricular, por outro lado,
O caminho do pré-sal para com a educação, tais como o analfa- precisa avançar para outras dimensões
Questionada sobre a forma como a betismo de crianças, jovens e adultos, a além da acadêmica, e se comprometer com
verba do pré-sal será utilizada, Inês nos distorção idade/série, o abandono escolar, a integralidade do ser humano, tão frag-
responde que a questão deva ser direcio- a má formação de professores, diretores mentado e fragilizado em nosso país, como
nada não ao “o quê” será feito com essa de escola, equipes técnicas de secretarias, decorrência de nossa maior preocupação
verba, mas sim ao “como” ela será gerida. a precariedade da rede física, entre outras com aparência do que com essência, com o
“Vivemos uma situação contraditória, faltas graves. Ela comenta que não teme ter e não com o ser, com o individual e não
pois ao mesmo tempo em que se reivin- pela falta de projetos, mas sim pelo des- com o coletivo, que desvalorizou a própria
dica ampliação das verbas que financiam perdício em projetos sem efetividade, sem vida, passada a ser tratada de forma banal
a educação, com dirigentes alegando falta eficácia e totalmente ineficientes. e insensível”.
de recursos para cumprir determinações “Antes de qualquer questão pedagó- Segundo ela, a educação é um direito
legais ou oferecer infraestrutura decente gica, acho fundamental que o setor tenha subjetivo e um dever do Estado, ampara-
em suas escolas, somos constantemente objetividade e profissionalismo em seu fazer, dos constitucionalmente. Ao Estado
impactados por denúncias de improbi- comprometido com ações que resultem na impõe-se a oferta pública e gratuita para
dade administrativa e afastamento de permanência do aluno na escola, na sua todos, à sociedade abre-se a possibilidade
responsáveis, ou irresponsáveis até, de aprendizagem e na ampliação de sua es- da oferta na forma privada, e ao cidadão o
seus cargos devido ao desvio ou ao mau colaridade. Que nenhum aluno fique para direito da escolha segundo suas crenças e
uso das verbas”. trás, esquecido ou invisível. E isso se con- possibilidades.
Educação é um projeto de longo pra- segue através do gerenciamento de cada “Não conseguimos, no Brasil, ao
zo que leva, no mínimo, 14 anos para ser aluno, de cada turma, de cada escola e de longo de sua história, aliar quantidade com
concluído, se considerarmos somente a cada rede. Não há mágica, nem milagre”. qualidade, no quesito educação. Enquanto
básica obrigatória dos 4 aos 17 anos, mas Para Inês, esse é um trabalho árduo e o acesso não era universal, a educação
que precisa responder às demandas que incessante em prol da melhoria constante pública apresentava qualidade; a partir
nosso século nos traz, caracterizada pela dos alunos e, principalmente, da qualidade da ampliação das matrículas houve pre-
velocidade das transformações tecnológi- dos educadores, apoiado pela tecnologia valência da quantidade. É um movimento
cas que impactam diretamente nosso dia a da informação. Os dados devem ser cons- pendular, ou seja, saímos de um extremo
dia, em todas as dimensões do ser humano: tantemente atualizados para embasar para outro, e agora buscamos o centro,
pessoal, social, produtiva e cognitiva. tomadas de decisões preventivas, ao longo ou melhor, a quantidade com qualidade”.

Escola Particular 7
Matéria de Capa

Por outro lado, ela menciona que a par- e dupla preocupação, ou seja, crianças e
tir das duas últimas décadas do século XX, jovens não só não aprendem como também
sindicatos assumiram posições de batalha ficam à deriva, enquanto os responsáveis
também no campo educacional, levando estão no trabalho.
a greves que, independente de qualquer Inês diz que, nesse processo, a escola
juízo de valor, desestabilizam os processos privada, então, dá a segurança de que
de aprendizagem e ensino, e comprome- o ano letivo não será interrompido, o
tem os anos escolares e o desenvolvimento que significa melhor oportunidade de
dos alunos. aprendizagem, e garantia de que o filho
Ao mesmo tempo, as famílias clássicas, estará em local seguro. “Ser público ou
constituídas por pai, mãe e filhos, também ser privado não significa necessariamente
foram se transformando ao longo dos anos ser bom ou ser mau, pois há escolas e
e as mulheres entraram definitivamente escolas. O importante é o compromisso e
no mercado de trabalho. Escolas em greve a responsabilidade de suas equipes para
constituem-se, então, em duplo problema com os alunos e as famílias”. •

Cláudio de Moura Cas- de registrar como é ruim


tro é doutor em Economia nosso ensino. Como essa é
e mestre em grandes fa- a maioria, é difícil convencer
culdades, como PUC/Rio, os políticos de que é pre-
Fundação Getúlio Vargas, ciso cortar na carne e fazer
Universidade de Chicago, as maldades necessárias
Universidade de Brasília, para melhorar a qualidade.
Universidade de Genebra e Portanto, tudo começa
Universidade da Borgonha, com um vigoroso esforço
comenta um pouco sobre o de conscientização. No dia
assunto e nos expõe a sua que houver realmente uma
opinião. demanda por qualidade,
“Diante de todos os o resto vai ser fácil, já que,
países do mundo, nosso en- segundo o especialista, em
sino está no topo do terceiro outras áreas estamos com
quartil. Ou seja, dentre 200
países, três quartos estão
“Sem educação, níveis bem razoáveis de
avanço e modernidade.
piores do que nós. Como in- nada feito. Mas “Sem educação, nada
terpretamos esse resultado? feito. Mas a educação não
Os pessimistas ficam horro- a educação vai muito longe sem um
rizados. Afinal, há 50 países
em melhores condições.
não vai muito clima político e econômico
bem resolvido. Se azeda a
Os otimistas notam que o longe sem um economia ou a política, não
progresso nas últimas duas é possível fazer com que
décadas foi espetacular, clima político e a educação conduza aos
dentre os mais amplos do econômico bem aumentos de produtividade

resolvido.”
mundo, seja em cobertura e, requeridos para o progres-
nos últimos cinco anos, em so. Temos, por exemplo, os
qualidade. Se é um consolo, casos da Rússia e Argentina,
estamos iguais a Argentina, que começou bem dotados de capital humano, mas en-
a levar a educação a sério em meados do guiçados na política e economia. Portanto,
século 19. De fato, tínhamos cerca de 90% educação é condição necessária, mas não
de analfabetismo, lá por 1900. Faz um par suficiente”.
de décadas, Bolívia e Paraguai tinham Moura Castro comenta que a ideia
matrículas superiores às nossas. A cada de mudar o plano de governo para um
um fica a disposição de olhar para o lado plano de estado está na moda, mas
positivo e para o lado negativo e emitir o que, na prática, acaba não passando de
seu julgamento, influenciado pelos seus mais um slogan que ocupa o tempo das
humores. Acordou feliz, a educação não pessoas. Ele concorda que os estados
está tão ruim. Bate a azia, estamos pés- e municípios que deram grandes saltos
simos”. tiveram, pelo menos, duas gestões com
Ele diz que, inevitavelmente, em um o mesmo dirigente, ou, no mínimo, com o
país sem tradições na área, não é surpresa mesmo partido, contudo, esclarece que
que os menos educados sejam incapazes essa estabilidade de governo não tem seu

8 Escola Particular
centro de gravidade na educação, mas na será esse valor. Cláudio de Moura Castro não mentas para manejar sua escola, incluindo
política. Portanto, quem está cuidando de se mostra tão otimista nesse quesito, já que os assuntos de indisciplina. E por aí afora”.
educação precisa fazer o que é possível não se sabe se a finalidade para qual será Quanto à diferença entre os modelos
dentro do setor e confiar menos na loteria utilizado trará alguma mudança de fato aos de escolas públicas e privadas, ele explica
da eleição e reeleição. meios educacionais. “Gastar mais dinheiro que, no mundo real, existem as escolas
Quanto ao atraso na aprovação do com a folha de salários é sempre fácil e traz públicas, manejadas pelos governos locais.
PNE (Plano Nacional de Educação), ele votos. Mas não há qualquer indicação de que Eles possuem problemas inevitáveis como,
comenta que os planos não foram dis- isso melhore o ensino. De fato, há uma pilha por exemplo, o mandato de receber e
cutidos amplamente e que, portanto, a de pesquisas sérias mostrando que isso não manter os alunos mais fracos e mais pro-
premissa de demora está incorreta. “O acontece. Melhora se houver um uso Inteli- blemáticos. Apesar desse peso, poderiam
primeiro foi feito na gestão do Paulo gente e judicioso dos recursos. Mas não há fazer muito mais se as regras fossem boas
Renato e ficou para os seus sucessores qualquer indício de que haja apetência política e a gestão correta. Mas na maioria dos ca-
promoverem a sua discussão. Não era para tal linha de ação”. sos, estão submetidos a uma administra-
um plano ruim, mas ficou no esqueci- Comentando sobre o rumo que o Brasil ção, segundo ele, ao estilo “mãe Joana”.
mento, pois não foi discutido. O segundo deveria adotar para ter uma educação de Enquanto isso, as privadas tem um
foi feito com a receita errada. Sindicatos qualidade e que sirva a toda sua população, dono que manda nelas. Sua primeira
de professores e grupos de interesse ele acredita que estamos precisando do prioridade é sobreviver, fazendo seus
foram convidados a fazer sugestões, básico. “Como venho repetindo, precisamos custos inferiores às suas receitas. Em
antes que sequer houvesse um esboço do feijão com arroz bem feito. Nada de planos, outras épocas isso era fácil, pela escas-
de plano. O resultado foi uma avalanche ideias ou soluções mirabolantes e compli- sez de oferta de escolas. Hoje, quem não
de revindicações (cerca de duas mil). cadas. Nos países de boa educação, tudo é administra bem a sua escola periga de não
Umas duzentas imigraram e entupiram simples, mas bem feito. Precisamos de uma sobreviver. Para o especialista, essa é uma
o documento preliminar. Apesar dos revolução nas faculdades de educação. Nelas gestão amadorística e desastrada.
esforços dos técnicos, o que resultou não se ensina nem o conteúdo que os seus alu- “Cada escola tem os alunos que pode
é uma caricatura de plano. Não tenho nos ministrarão, quando formados, e nem se ter, com seu nível acadêmico e poder de
adjetivos para descrever a sua ruindade. ensina a dar aula. Precisamos currículos mais compra. Diante deles, tem que fazer o
Desde então, as cabeças mais compe- curtos, mais fáceis e melhor especificados. melhor. Se a qualidade é alta ou baixa, isso
tentes não tiveram interesse em discutir Cada professor precisa saber exatamente o não é uma decisão altiva e sobranceira do
uma peça insalvável. Na verdade, debate que seus alunos devem saber. A gestão das dono. É uma solução dentro do possível.
inteligente não houve”. escolas não foi concebida para gerar bons Na prática, as escolas privadas se mostram
Muito têm-se discutido a respeito resultados. Antes eram as escolhas políticas muito melhores do que as públicas. Mas,
da destinação de verbas do pré-sal para de diretores. Como conserto, aparecem as como mostra o PISA, seus resultados são
a educação, sem que se saiba ao certo eleições pelos pares, um sistema quase tão muito medíocres, comparados com o que
quando esse dinheiro virá e de quanto ruim. O diretor precisa de autonomia e ferra- acontece em outros países”, finaliza ele.

Escola Particular 9
Comportamento

O s transtornos alimentares são pro-


blemas comportamentais frequen- Os transtornos alimentares apresentam
tes na adolescência, principalmente entre
as meninas.
uma incidência de cerca de 1% da
Culturalmente somos ensinados que
a magreza é fundamental, é bela, e não
população infanto-juvenil e, embora
é difícil conhecer mulheres, adolescentes
e até mesmo crianças realizando dietas
possam estar presentes no sexo
para emagrecer.
Essas condições médicas são graves e
masculino, em até noventa por cento dos
potencialmente fatais quando não diag- casos afetam meninas e mulheres
nosticadas e tratadas adequadamente.
Para se ter uma ideia da gravidade, cerca
de 10% dos pacientes morrem em decor-

sxc.hu
rência de complicações do distúrbio ou
por suicídio.
Os transtornos alimentares apresen-
tam uma incidência de cerca de 1% da
população infanto-juvenil e, embora pos-
sam estar presentes no sexo masculino,
em até noventa por cento dos casos afe-
tam meninas e mulheres. Normalmente
estão relacionados a fatores biológicos,
psicológicos e ambientais.
Existem casos em que os fatores so-
ciais estão relacionados com a origem do
problema e alguns grupos populacionais
merecem atenção especial, pois muitas
vezes valorizam em excesso o culto à
magreza e aparência estética, como baila-
rinas, modelos e atrizes.
O tratamento é realizado por uma
equipe multidisciplinar, incluindo médico
psiquiatra, clínico geral, psicólogo e
nutricionista, e deve ser iniciado com
uma orientação psicoeducacional aos
familiares e paciente, esclarecendo as ca-
racterísticas do problema e a necessidade
de tratamento médico. Normalmente a
intervenção não requer internação hos-
pitalar, entretanto, em casos graves, esta
pode ser utilizada.
Um próximo passo é estabelecer
metas para melhoria nutricional, assim
como reorganizar hábitos alimentares

10 Escola Particular
Escola Particular 11
Comportamento

saudáveis, livres de comportamentos evi-


tativos, compulsivos, por esse motivo, o
trabalho de uma nutricionista será funda-
mental para o sucesso terapêutico.
Alguns medicamentos podem ser
utilizados também com o objetivo de di-
minuição da ansiedade ou dos sintomas
depressivos, comumente presentes. A te-
rapia cognitivo-comportamental, a terapia
familiar e intervenções escolares também
devem ser utilizadas para que tenhamos
sucesso no tratamento.
Darei ênfase nesse capítulo à descri-
ção dos dois transtornos alimentares mais
prevalentes na adolescência: anorexia
nervosa e bulimia nervosa.

ANOREXIA NERVOSA distúrbios hormonais e hidroeletrolíticos


A anorexia nervosa pode ser definida (desequilíbrio dos sais minerais do or-
como um transtorno alimentar em que o ganismo).
paciente se recusa a manter o peso corpo-
ral na faixa normal mínima. Existe o medo BULIMIA NERVOSA
de engordar e a chamada dismorfofobia, A bulimia nervosa é definida como um
uma alteração da percepção da imagem transtorno alimentar em que o paciente
corporal. Nesses casos, o paciente, mesmo realiza compulsões alimentares, uma ver-
magro, se enxerga gordo e acima do peso. dadeira orgia alimentar, em que é capaz
Outra característica presente nos jovens é de consumir uma grande quantidade de
a amenorréia, a interrupção da menstrua- comida em um curto espaço de tempo e há
ção por mais de três meses. uma sensação de falta de controle sobre
Em crianças e adolescentes, devido à esse comportamento.
fase de crescimento, a perda de peso pode Associado à compulsão alimentar
não ser evidente, entretanto, podemos existe a utilização de métodos compen-
observar uma dificuldade muito grande satórios para se evitar o ganho de peso,
no ganho de peso esperado para a idade. como vômitos, uso de laxantes e realiza-
Um dos critérios utilizados para se ção de exercícios físicos vigorosos com a
determinar o peso mínimo normal de intenção de não engordar.
cada pessoa é a utilização de uma fórmula Desta forma, o que observamos são
matemática denominada Índice de Massa adolescentes que fazem esses rituais de
Corporal (IMC). O IMC é calculado da consumo exagerado de alimentos, sempre
seguinte forma: Peso corporal em quilo- relacionados com uma ansiedade intensa
gramas dividido pelo quadrado da altura e desejo incontrolável por comida. Após
em metros. Valores inferiores a 17,5 kg/m2 esse comportamento compulsivo, há
são considerados abaixo do peso corporal sentimento de culpa, tristeza, vergonha,
mínimo. medo de engordar, ocorre o arrepen-
Algumas pacientes podem utilizar dimento e ainda mais ansiedade. Como
técnicas purgativas, como provocação mecanismo de alívio de todos esses sen-
de vômitos após a alimentação, o uso de timentos, existe um ato compensatório
laxantes e diuréticos e exercícios físicos para evitar o ganho de peso através da
vigorosos. Todos esses métodos são utilização de métodos purgativos e da
utilizados com o objetivo de perder peso. realização dos muitos exercícios físicos.
Esses pacientes comumente apresen- Normalmente, as pacientes estão
tam preocupações excessivas com o valor dentro da faixa normal de peso e co-
calórico dos alimentos, recusam-se a ali- morbidades, como transtornos ansiosos
mentar-se, pois justificam que estão acima e depressivos, estão presentes. Muitos
do peso, e engordar seria inaceitável. Não portadores de bulimia nervosa podem
há percepção do problema, a baixa estima apresentar transtornos de personalidade
é frequente, assim como sentimentos de associado com o transtorno de persona-
desvalia e tristeza. A presença de transtor- lidade borderline. •
nos comportamentais associados, como
depressão e transtornos ansiosos podem
piorar o prognóstico. Dr. Gustavo Teixeira
Médico psiquiatra da
Alguns problemas clínicos graves e infância e adolescência.
potencialmente fatais relacionados com Professor visitante
da Bridgewater State
a anorexia nervosa são: alterações ele- University. Mestre em
Educação, Framingham
trocardiográficas, perdas ósseas e mus- State University.
comportamentoinfantil.com
culares, carências vitamínicas, anemias,

12 Escola Particular
Escola Particular 13
Aniversário

Colégio Multiplus comemora 40 anos


Luana Nogueira

Os professores que

Colégio Multiplus
fazem parte do
quadro da escola
possuem pós-
graduação na área
em que atuam
O nome Multiplus tem, como sig-
nificado, muito mais, muito além.
Neste sentido, de oferecer muito mais, a
escola tem como missão um compromisso
com seus alunos de, através do conhe-
cimento cons truído e significativo,
formar cidadãos para viver num mundo
em constante transformação. Pautado
neste compromisso, o colégio fundado em
1974, com o nome inicial de Esqueminha, pedagógicas e culturais. Entre as apre- conhecimento adquirido e ainda permitia
atendia a Educação Infantil na cidade de sentações que marcaram esta época trabalhar com os alunos, valores tão im-
Presidente Prudente, SP. Seu slogan era estavam os musicais, trabalhados a partir portantes como respeito, solidariedade,
“escola de gente feliz”, e as atividades de conteúdos pedagógicos, os quais eram generosidade e amizade. Atividades que
realizadas estavam relacionadas ao desen- apresentados para toda a cidade. os alunos não esquecem.
volvimento das crianças, de forma lúdica. A escola, para oferecer um aprendiza- Em 1998, atendendo a alunos do En-
Com o tempo, o Esqueminha pas- do sólido, também realizava excursões sino Fundamental II, o colégio mudou seu
sou a atender também alunos do Ensino relacionadas aos conteúdos estudados nome para Pluri, cujo significado é plural, e
Fundamental I, e ampliar suas atividades e acampamentos, o que consolidava o por isso, amplo, como o conhecimento. Já

Colégio Multiplus

14 Escola Particular
O colégio, que é

Colégio Multiplus
uma referência no
processo de ensino-
aprendizagem

Colégio Multiplus

em 2008, uma fusão com o Colégio Domus Os professores que fazem parte do
ampliou a quantidade de alunos e colocou quadro da escola, além da graduação,
a escola entre as maiores de Presidente possuem pós- graduação na área em que
Prudente. Por conta desta fusão, a escola atuam, alguns inclusive com mestrado,
passou a se chamar Multiplus. e participam, sempre, de cursos de for-
O colégio, que é uma referência no mação contínua, oferecidos pela escola
processo de ensino-aprendizagem, conta e pelo Sistema Positivo de Ensino. Com
com uma estrutura completa de atendi- essas atualizações, estão sempre à frente
mento para desenvolvimento dos alunos, das mudanças, inclusive tecnológicas, tão
com núcleo de informática, lego zoom, evidentes nas novas gerações.
mesas pedagógicas de alfabetização, salas Neste mês de abril, por conta do Ju-
multimídia com lousa digital, laboratório bileu de Berilo, o colégio conta com uma
de Ciências (Física, Química e Biologia), vasta programação como atividades
biblioteca, salas de balé e caratê, entre culturais, festivas e educacionais que vão
outros. marcar a história do Multiplus. •

Escola Particular 15
Jornada Regional

JORNADA PELO INTERIOR


Copa do Mundo e eleições presidenciais devem afetar a economia,
mas cenário para escola particular ainda é positivo
Ana Paula Saab

A pesar de ser um ano difícil, em que


Copa do Mundo e eleições presi-
denciais podem interferir diretamente
o principal sonho de consumo da classe
média, antes mesmo da casa própria,
segundo o presidente do Sieeesp.
federais, estaduais e municipais, por sua
vez, teve queda de 1,9% nas matrículas.
Se o país continuar crescendo entre 2%
na economia do país, a escola particular O Censo mais recente, de 2012, aponta e 3% ao ano, a escola particular também
deve manter a posição de destaque al- o território paulista como carro-chefe da crescerá, na opinião do presidente.
cançada nos últimos anos, inclusive com educação do país, com seus mais de 10 A estabilidade econômica do país
crescimento no número de alunos. A milhões de alunos distribuídos em mais nos últimos dez anos contribuiu muito
opinião é do presidente do Sindicato dos de 28 mil escolas. O principal crescimento para essa situação, pois muitas famílias,
Estabelecimentos de Ensino no Estado se dá na educação infantil e no Ensino quando melhoram a renda, tendem a
de São Paulo (Sieeesp), Benjamin Ribeiro Fundamental I, o que significa que ainda colocar os filhos nas escolas particulares.
da Silva, durante a primeira jornada da há muito a crescer. “No mínimo mais dez Mas não é apenas isso. As escolas
diretoria de 2014 pelo interior do Estado, anos, porque temos hoje cerca de 600 mil particulares buscam cada vez mais a ex-
litoral e ABC. alunos no Ensino Infantil; mais de 530 mil celência no atendimento e a qualidade de
Nos últimos dez anos a escola particu- no Fundamental I; 430 mil no Fundamental ensino, com investimentos em tecnologia,
lar cresceu em 1 milhão de alunos e, a cada II; e 250 mil no Ensino Médio, ou seja, es- bibliotecas, segurança e corpo docente.
ano, mais estudantes da educação básica ses alunos vão crescer dentro da própria Prova de que o mercado está cada vez
migram para as entidades privadas, de escola”, explicou. mais exigente é que o número de alunos na
acordo com o Censo da Escola Particular, O censo de 2103, cujos dados ainda rede particular de ensino aumentou, mas a
feito pelo Ministério da Educação. estão sendo coletados, já aponta que quantidade das escolas caiu. “Não há mais
Itens como segurança e qualidade do entre 2012 e 2013 a rede particular cresceu espaço para aventureiros. Só se mantém
ensino colocam a escola particular como 3,5%. A rede pública, que inclui os colégios no mercado quem tem qualidade”, afirma.

16 Escola Particular
TRATATIVAS SALARIAIS

VIAGEM INTERNACIONAL
A diretoria do Sieeesp aproveitou a primeira
jornada de 2014 para convidar educadores de todo o
Brasil a se juntarem à delegação brasileira que irá co-
nhecer o sistema educacional da Rússia e da Finlândia, Uma das dúvidas mais pertinentes
no próximo mês de maio. dos mantenedores nas reuniões pelas
Esta será a 17ª missão internacional do sindi- regionais diz respeito ao dissídio dos pro-
cato, quando os educadores poderão participar de fessores e auxiliares administrativos para
seminários técnicos organizados por especialistas, 2014-2015, mas ainda não há uma posição
conhecendo as inovações e os principais processos acerca do assunto.
pedagógicos desses países. O presidente do Sieeesp acredita
O roteiro deste ano inclui Moscou – St. Peters- que haverá resultado das negociações
burgo e Finlândia, de 12 a 25 de maio; e Croácia, de somente no mês de abril. “Ainda não há
25 a 31 de maio. consenso porque há itens que as escolas
Esta é a segunda vez que o Sieeesp leva educado- não têm condições de atender. Por isso,
res à Finlândia. “Estamos voltando a esse país porque orientamos os mantenedores a não ceder
lá foi criado um tipo de capacitação fantástico para o e não negociar fora do sindicato. É melhor
professor, que está dando certo no mundo inteiro”, aguardar para não ter prejuízo depois”,
comenta Benjamin. finalizou.
Na assembleia realizada em São Paulo,
José Antônio Figueiredo Antiório, diretor
do Sieeesp e presidente da Feeesp, deu
detalhes das negociações, mostrando as
reivindicações e as tratativas em curso.

Escola Particular 17
Jornada Regional

INADIMPLÊNCIA

office.microsoft.com
A média de inadimplência do Estado em 4,49% e Campinas, com 5,64%. O histórico
janeiro deste ano se mantém no mesmo dessas escolas mostra que quem tem
patamar que no ano passado: 6,31% (2014) uma cobrança efetiva consegue baixar a
contra 6,53% (2013). Na avaliação do Sin- inadimplência.
dicato, o índice não é dos melhores, mas A partir do segundo ou terceiro mês, a
também não é dos piores. No acumulado inadimplência já é preocupante, por isso,
do ano todo de 2013, o índice ficou em 7%. uma das principais orientações do sindi-
As regionais de São José do Rio Preto, cato continua sendo a de não matricular
Bauru e Araçatuba obtiveram as médias aluno cujo nome está negativado na praça.
mais altas de 2013, fechando o acumulado “Quando a escola faz uma matrícula, ela
de 12 meses com 9,62%; 8,42% e 8,07%, está dando um crédito de 12 meses para
respectivamente. esta pessoa, e quem está acostumado a
Já as regionais com melhor desem- ser inadimplente vai ser inadimplente na
penho em 2013 foram as do ABC, com escola também”, finaliza.

SEMINÁRIOS
O Sieeesp, que promove o Congresso e Feira de Educação Saber há 17 anos, resolveu
inovar neste ano, para ficar mais próximo dos mantenedores das escolas particulares.
Deixaremos de promover o congresso da forma tradicional e, em seu lugar, viabilizaremos
a realização de seminários regionalizados, com duração de um dia, nas várias regionais
do Estado de São Paulo, com palestras pela manhã e à tarde. Já estamos em busca de
grandes nomes do cenário brasileiro. •

18 Escola Particular
Escola Particular 19
Reflexão

CIÊNCIA E ESCOLA:
O QUE ESTÁ POR TRÁS DE TANTA CONTRADIÇÃO?
A verificação da
aprendizagem
C om o objetivo de provocar uma re-
flexão sobre a incongruência entre
não pode ficar história da educação escolar. Os próprios
professores, quando levados a refletir
o que se pratica nas escolas, de fato, e o
que é produzido pela Ciência no campo
concentrada numa sobre sua prática, reportam-se esse tipo
de conduta.” (PARO, 2003, pág. 89)
da Educação e, provavelmente, compõe o
corpo teórico de muitos Projetos Políticos
só prova, mas sim “Os alunos não discutem o que estão
aprendendo, se estão aprendendo, o sen-
Pedagógicos, inicio o texto deste mês. numa variedade tido do que estão aprendendo, mas que
A ideia é trazer algumas citações de nota tiraram e em que disciplina estão com
obras de renomados pesquisadores, de observações ou sem ‘média’.” (SOUZA, 1995, pág. 17)
portanto cientistas da Educação, em sua “Promover todos os alunos tira o es-
maioria, professores titulares de univer- e durante toda a tímulo dos mais estudiosos e favorece o
sidades públicas, para provocar um incô- desinteresse dos menos estudiosos. Não
modo, pressuposto básico para qualquer trajetória escolar é verdade que esta afirmação se baseia no
transformação. fato de que os alunos estão acostumados
Entretanto, é fundamental destacar a ‘estudar para a prova’. Se os professores
que as citações estão soltas e descon- res, não é difícil imaginar as marcas impres- se conscientizaram e conscientizarem
textualizadas, fora dos seus originais, e sas em suas personalidades que tiveram os alunos para o valor da aprendizagem
não foram postas como argumento de influência em suas atuais condutas docen- de tal modo que eles estudem para sua
um texto único. Reiterando, a proposta tes. Um dos mais importantes aspectos a formação e não para ‘passar de ano’, o
é agregar valor ao trabalho de reflexão serem destacados consiste precisamente estímulo por aprender supera ‘o da prova’.
de profissionais da educação e não le- na reprovacão como recurso didático que, E o desejo de crescer cada vez mais e de
vantar polêmica. A partir dos parágrafos, por seu uso constante no decorrer dos buscar a própria realização é o que deve
fazer-nos pensar a nossa prática sobre o tempos, acaba legitimando-se como práti- ser apoiado na escola, como processo
processo de escolarização. ca didática inquestionável. Esse caráter de contínuo. Além disso, a verificação da
Começo com Vitor Henrique Paro, validade, aliado a condutas socialmente aprendizagem não pode ficar concentrada
dando sequência com Sandra Zaquia, adquiridas relacionadas à punicão e à numa só prova, mas sim numa variedade
Thereza Pena Firme, Miguel Arroio e fina- desconsideracão da subjetividade alheia, de observações e durante toda a trajetória
lizo com o extraordinário Paulo Freire (in parece levar os professores de hoje a re- escolar.” (PENA FIRME, 1994, pág. 2).
memorian). É uma pena o limite de espaço produzirem, com os seus alunos, a forma “Possivelmente a reprovação chega
restringir os citados, certamente, se o como foram tratados quando estudantes a incomodar-nos tanto porque nossas
texto em questão fosse dedicado apenas por seus mestres. Por um lado, reprova-se sensibilidades humanas foram reeducadas
ao registro dos nomes de reconhecidos por mero costume, por outro, utiliza-se o nas lutas por nossos direitos, nas lutas
educadores que contribuíram para os recurso como forma de punição porque o contra tantas formas de exclusão como as
avanços da educação, principalmente, no mesmo nunca recebe um questionamento relativas aos negros, aos trabalhadores, às
Brasil, ainda assim o espaço seria mínimo. radical no sistema de ensino no qual os mulheres, aos indígenas... Como não ser-
“Quando se atenta para o caráter professores exercem sua prática docente. mos, também, sensíveis para com as per-
reiteradamente autoritário e punitivo da O resultado é a repetição permanente versas formas de seleção e exclusão que
escola frequentada pelos atuais professo- da mesma prática exercida há séculos na acontecem na escola e em nossa própria

20 Escola Particular
prática docente? Nas últimas décadas nua ele “gosto de ser gente porque, ina- problemático e não inexorável.” (FREIRE,
mudamos como categoria. Estamos em cabado, sei que sou um ser condicionado, 2004, pág. 19)
condições de perceber melhor que quando mas consciente do inacabamento, sei que A rigorosidade ética, a consciência do
reprovamos e retemos um aluno nos re- posso ir mais além. A diferença entre o inacabamento e a responsabilidade com
provamos como humanos. Em cada ação, inacabado que não se sabe como tal e o a nossa profissão nos farão caminhar
escolha ou prática escolar nos colocamos inacabado que histórica e socialmente em direção à superação dos paradigmas
em jogo, percebemos que ainda estamos alcançou a possibilidade de saber-se ina- impostos e, com isso, contribuir, de fato,
julgando seres humanos com as mesmas cabado.” (FREIRE, 2014, pág. 16) com uma educação de qualidade que
lógicas seletivas e excludentes com que “Como presença consciente no mundo possa garantir a formação integral do
nos descobrimos julgados e excluídos. não posso escapar à responsabilidade ser humano.
Descobrimos que reprovamos mais que ética no meu mover-me no mundo. Se sou No próximo número trarei mais au-
um aluno em nossa materia. Reprovamos puro produto da determinação genética tores para, com os seus argumentos,
um ser humano homem, mulher, criança, ou cultural ou de classe, sou irresponsável fazer-nos pensar. •
adolescente, jovem ou adulto trabalhador pelo que faço no mover-me no mundo e
ou trabalhadora em seu percurso social e se careço de responsabilidade não posso
cultural: sua auto imagem, sensibilidades, falar em ética. Isso não significa negar os
Lucy Duró
identidades, projetos de vida, emoções, condicionamentos genéticos, culturais, so- Pedagoga, Psicopedagoga
afetividades. Mexemos em sua identidade ciais a que estamos submetidos. Significa e membro do Laboratório
Interinstitucional de
social, coletiva, em seus processos de reconhecer que somos seres condiciona- Pesquisa em Psicologia
Escolar do Instituto de
formação. Como reprovar e reter esses dos mas não determinados. Reconhecer Psicologia da Universidade
de São Paulo.
delicados percursos humanos em que cada que a História é tempo de possibilidade evoluireducacional.com.br
criança e adolescente se formam e dormir e não de determinismo, que o futuro é
tranquilos?” Brilhante citação de Arroio em
prefácio dedicado à obra de Paro (2003,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
pág. 7). FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2004.
Formar sujeito de direitos exige rigo- PARO, Vitor Henrique. Reprovação Escolar. 2. ed. São Paulo: Editora Xamã, 2003.
rosidade ética, a ética que Freire diz ser SOUSA, Sandra Záquia Lia. O caráter discriminatório da avaliação do rendimento escolar. Revista Adusp,
inseparável da prática educativa, aquela São Paulo, n. 2, abr. 1995.
que “se sabe afrontada na manifestação PENNA FIRME, Thereza. Adaptado do artigo publicado na Revista Ensaio – Avaliação e Políticas Públicas
discriminatória de raça, de gênero, de em educação, vol. 2. out/ DEZ. 1994. Disponível em:
classe”, e, digo eu, de modos diferentes http://crv.educacao.mg.gov.br/SISTEMA_CRV/index.aspx?id_projeto=27&id_objeto=29154&tipo=ob.
Acesso em: 02.mar.2014.
de ser gente. E por falar em gente, conti-

Escola Particular 21
Saúde
sxc.hu

S omos seres dotados de cérebro, cons-


ciência e emoções.
Desde que somos um embrião, já
aparelhada de um lobo occipital (parte
posterior do cérebro responsável pelo
processamento da visão), não aprenderá
O que são competências emocionais?
Goleman (2001) ressalta que a Competência
Emocional é uma capacidade adquirida,
começamos a nos diferenciar e, apesar a ver (de modo geral). baseada na inteligência emocional, que é
do aspecto filogenético - que nos iguala -, O cérebro aprende desde sempre, a capacidade de criar motivações para si
somos diferentes. Uma criança precisa de o que nos coloca a importância de o es- próprio e de persistir num objetivo apesar
mais estímulos para atividades físicas, outra timular, para sua melhor competência e das dificuldades; de controlar impulsos
precisa de mais estímulos para desenvolver bem-estar. Neste sentido contamos com e saber aguardar pela satisfação de seus
seu raciocínio lógico - matemático - e ainda as janelas de oportunidade e os períodos desejos; de se manter em bom estado
outra uma ajudinha no desenvolvimento sensíveis do cérebro para os aprendizados. de espírito e de impedir que a ansiedade
da linguagem. Uma criança pode ser mais Este mesmo cérebro plástico, ávido e interfira na capacidade de raciocinar; ser
afetiva, outra mais independente. Essas preparado para o desenvolvimento das empático e autoconfiante.
diferenças é que nos enriquecem e que traz competências neurocognitivas precisa Paul Ekman, considerado o maior es-
aos educadores, desafios. com a mesma notoriedade cuidar das com- pecialista mundial na análise das emoções
Desafios estes, por exemplo, de como petências emocionais.
dar conta das diferenças em um grupo E falando de desenvolvimento emo-
de 20 ou 30 crianças? Como promover o cional, estaremos em uma seara bastante
desenvolvimento cognitivo e emocional a complexa das neurociências, mas que tem
partir das diferenças? pistas para poder nortear a conduta do
Se começarmos a entender os aspectos educador nos aspectos acima.
e “regras” do cérebro, teremos muitas
pistas.
Nascemos com quase 100 bilhões de
neurônios e vamos perdendo estas células
Nascemos com
ao longo de nosso processo de nos tornar- quase 100 bilhões
mos inteligentes. Trocamos células, recon-
figuramos o relacionamento entre elas e de neurônios e
temos um dispositivo natural de capacida-
de de autorregeneração. Esta faculdade vamos perdendo
é denominada plasticidade cerebral. Em
estas células ao
sxc.hu

outras palavras, a plasticidade cerebral é


uma característica inerente do cérebro que
permite que o mesmo se reorganize, modi- longo de nosso
fique e reconfigure. O cérebro é imbuído de
possibilidades, se modifica o tempo todo, processo de
mas conta com “regras”. Entendendo,
como regras, as janelas de oportunidade,
nos tornarmos
ou seja, os períodos onde uma determinada
habilidade ou competência é desenvolvida.
inteligentes
Por exemplo, uma criança que não
seja estimulada visualmente, que seja
privada de estímulos visuais, mesmo sendo

22 Escola Particular
Escola Particular 23
Saúde

sxc.hu
Trabalhar e
capacitar as
crianças para a
competência
emocional é
fundamental

e expressões das mesmas, e autor de Segundo estudos neurocientíficos, o


diversos livros sobre o assunto, pontua a período sensível para o desenvolvimento
importância do controle emocional para a das emoções situa-se na faixa etária entre
qualidade de vida do indivíduo e trabalha 3 e 10 anos. O sistema Límbico, respon-
em prol da identificação e manejo desta. sável pelas emoções, é bastante ativado
Segundo Ekman, existem pelo menos neste período, mas já pode ser “cuidado”
quatro competências que podem ser es- pela região pré-frontal, responsável pelo
timuladas para a melhor compreensão e controle de impulsos, flexibilidade mental,
manejo das emoções: planejamento, dentre outros.
• tornar-se mais consciente de suas Goleman (1996) enfatiza que a In-
ações e antes delas; teligência Emocional (IE) irá determinar o
• escolher como se comportar para potencial de um indivíduo para aprender
não se magoar, nem magoar os outros; as habilidades práticas que estão baseadas
• tornar-se mais sensível às emoções nos seguintes aspectos: autoconhecimen-
dos outros; to; controle emocional; automotivação;
• usar de forma cuidadosa as informa- empatia. O que nos explicita a importância
ções e ações. de estimular e trabalhar as emoções das
Para tanto é importante conhecer as crianças para um desenvolvimento mais
sete emoções básicas estudadas por Ekman: saudável e proativo. Logo, trabalhar e
• tristeza, raiva, surpresa, medo, nojo, capacitar as crianças para a competência
desprezo e alegria. emocional é fundamental. •

Adriana Fóz
Educadora (USP) - Psicopedagoga (Sedes Sapientae), Especialista em Neuropsicologia (CDN/
UNIFESP), Coordenadora do Proj. Cuca Legal - Psiquiatria - UNIFESP, Consultora para Projetos
em Educação e Saúde da Mente e Membro do INS.
Fone: 55 11 30342560 - adriana@adrianafoz.com.br - fozadriana@gmail.com
Facebook: Adriana Fóz

24 Escola Particular
Escola Particular 25
Sociedade
sxc.hu

O QUE É ISSO PARA VOCÊ?

“S ucesso”. Temos repetido muitas


vezes essa palavra ao longo da vida.
Mas o que é sucesso, afinal de contas?
nossas ações. Isso está ligado com o prazer
e a felicidade.
Filósofos e pensadores renomados
Quando pergunto sobre seu signifi- investiram grande esforço na tentativa de
cado durante minhas aulas e palestras, definir a relação entre o sucesso, o prazer
recebo todos os tipos de respostas, das
mais filosóficas até as mais objetivas. Na Muitas pessoas e a felicidade. Como resultado, existem
extensos trabalhos que definem todos
verdade, nenhuma delas está completa-
mente “incorreta”, é apenas uma questão passam a vida os aspectos desses termos a partir de
diversos pontos de vista. Para o propósito
de interpretação.
Todos nós temos uma “intuição” sobre tentando fazer deste artigo, necessitamos apenas de uma
definição prática que nos aponte um norte.
o que significa “sucesso”. Porém, como
meu objetivo aqui é ajudá-lo a “ter suces-
“alguma coisa” Algo simples que indique que o nosso tra-
balho está bem direcionado. Começare-
so”, e sabendo da importância de definir
claramente nossas metas em qualquer
para atingir “algo” mos pedindo ajuda ao dicionário.
A palavra “sucesso” vem do latim
campanha, precisamos nos aprofundar um
pouco mais nesse tema.
que parece sempre “successu” e significa “bom resultado”,
“aproximação”, “êxito na campanha”.
Muitas pessoas passam a vida tentan-
do fazer “alguma coisa” para atingir “algo”
estar fora Então, para cada um de nós, na prática, o
sucesso realmente é associado a alguma
que parece sempre estar fora do alcance. do alcance. coisa diferente.
Vivem frustradas e infelizes. Por quê? Todos temos nossas campanhas, nos-
Basicamente porque não sabem, real- Vivem frustradas sas prioridades, nossos sonhos e expecta-
mente, o que querem. tivas. Assim, é natural que a representação
É importante saber o que se busca, e infelizes concreta do sucesso seja diferente para
isto é, saber o que significa o “verdadeiro cada indivíduo. Isso explica a diversidade
sucesso” e como reconhecê-lo quando de respostas que recebo em minhas pa-
“chegar lá”. lestras.
Para isso, é preciso compreender um E quanto à motivação e ao significado
pouco a dinâmica que motiva todas as emocional do sucesso?

26 Escola Particular
A sensação
do sucesso
corresponde
à soma do
sentimento
de propósito
com todos os
momentos
de prazer e
felicidade que
temos durante
o processo

sxc.hu
Nossa verdadeira motivação não é
sustentada apenas por títulos ou resulta-
dos materiais da campanha. Nossa recom-
pensa real não é ter “aquele” automóvel, A sensação do sucesso corresponde • ter crescimento profissional;
ou atingir “aquele” determinado posto. Na à soma do sentimento de propósito com • ter mais recursos financeiros; e
realidade, buscamos satisfação emocional. todos os momentos de prazer e felicidade • ter maior reconhecimento pessoal
Sentir prazer e felicidade! que temos durante o processo”. e profissional.
O sentido material do sucesso é im- Nesse contexto, alguns ainda pode- No meu livro É Possível! Como transfor-
portante, mas buscamos, principalmente, riam considerar como objetivo concreto mar seus sonhos em realidade utilizo esses
sentir o prazer de vencer todos os obstácu- e definido ter uma vida despojada de objetivos para nortear a caminhada por
los e chegar ao objetivo planejado. Além qualquer meio material e dedicada à onde trago meus leitores, junto comigo,
disso, queremos desfrutar o sentimento de meditação no topo da montanha. Isso seria através de uma maravilhosa jornada pelas
propósito e a felicidade de viver cada etapa plenamente satisfatório. fases de um projeto de vida.
do processo de realização de um sonho. Contudo, embora seja muito válido e Seja com o meu livro, ou por outro mé-
Portanto, vemos claramente que o louvável, esse não é o tipo de objetivo que todo também eficiente, minha meta é que
sucesso é composto de duas partes: uma gostaria que nossos jovens tivessem na você tenha sucesso na vida e que aprenda
material e outra emocional. vida. Nosso país precisa de sua participação a cada passo da sua jornada.
Considerando todos os fatores mencio- mais ativa e cidadã em todos os níveis e Não se preocupe. Não tenha pressa.
nados acima e utilizando elementos mais atividades! Tudo virá a seu tempo. Um passo de ca-
específicos para descrever suas partes, Assim, pense nos seguintes objetivos da vez. Paciência e determinação. No
chegamos à definição de sucesso mais concretos para o seu sucesso: momento, é importante que você saiba
“completa”: • ter mais saúde; o que quer. E é nisso que eu espero que
“Sucesso é o êxito obtido na execução • melhorar seus relacionamentos; você tenha começado a pensar com este
das atividades e na superação dos desa- • atingir maior nível de desenvolvimen- artigo.
fios encontrados durante uma campanha to pessoal, com caráter, honestidade e ética; Até o artigo do mês que vem! •
planejada para a conquista de um objetivo
definido. O sucesso é composto por cinco
elementos: Marcos Pontes
• a conquista de um objetivo concreto www.marcospontes.com.br
Nascido em Bauru, SP, em 1963, desde 1998 é o único Astronauta à disposição do Brasil, e
e definido; aguarda a escalação pelo governo para seu segundo voo espacial. Além das suas funções da
carreira civil de astronauta, é Palestrante Motivacional, Coach Especialista em Desempenho
• um plano de ação executado; Pessoal e Desenvolvimento Profissional, Mestre em Engenharia de Sistemas, Engenheiro
Aeronáutico pelo ITA, Diretor Técnico do Instituto Nacional para o Desenvolvimento Espacial
• desafios vencidos; e Aeronáutico, Empresário, Consultor Técnico, Embaixador das Nações Unidas para o
• o prazer da conquista; e Desenvolvimento Industrial, Presidente da Fundação Astronauta Marcos Pontes e Autor
de três livros: Missão Cumprida. A história completa da primeira missão espacial brasileira, É
• a felicidade durante a execução do Possível! Como transformar seus sonhos em realidade e O Menino do Espaço, todos publicados
pela editora Chris McHilliard do Brasil.
plano.

Escola Particular 27
28 Escola Particular
Escola Particular 29
Entrevista

Balduino Ferreira Leite


Celso
Fernandes
PRESIDENTE DA MEIRA FERNANDES

C elso Fernandes, presidente da empresa Meira Fernandes, atual vice-presidente de registro do CRC SP (Conselho
Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo), conselheiro fundador do Conselho Municipal de Tributos da
cidade de São Paulo, consultor jurídico do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior no Estado de São
Paulo (Semesp), concedeu uma entrevista à revista Escola Particular para mostrar a importância da contabilidade nas
instituições educacionais. Acompanhe e saiba como trazer essa realidade para a gestão do seu estabelecimento:

Escola Particular – Qual o papel da contabilidade para tornar Um ponto importante a ser mencionado são as aquisições
mais eficiente a gestão das escolas? de várias escolas do país feitas por fundos internacionais ou
grupos nacionais. Isso só foi possível para aquelas que utilizam
Celso Fernandes – A contabilidade é fundamental para a a contabilidade voltada para a gestão do negócio e não para
gestão das escolas ou qualquer tipo de empresa. Ela é o norte atender apenas as demandas da área fiscal. A contabilidade
verdadeiro no caminhar do bom gestor. Assim como as tecnolo- deve apoiar a tomada de decisão e ampliar a visão de futuro
gias e os negócios vêm evoluindo com muita rapidez no mundo, do Gestor, atendendo de forma eficiente e dentro do padrão
a contabilidade também tem acompanhado essa evolução. internacional de contabilidade.
A contabilidade não deve ser reconhecida somente quando
há uma necessidade emergencial, como no caso de fiscalização,
dissolução societária, compra ou venda, empréstimo para cons-
A contabilidade deve trução de uma sede própria, ampliação das atividades ou para
qualquer outro tipo de negócio.
apoiar a tomada de Ao ser utilizada de forma correta na gestão da escola, alguns
processos como financiamento ou investimento para uma sede
decisão e ampliar a visão própria que dependa da alavancagem de terceiros, se tornam
simples e rápidos. Além disso, o uso correto da contabilidade
de futuro do Gestor fornece dados reais a respeito dos custos da escola. No caso,
cito a planilha de custos para evidenciar o valor real da men-

30 Escola Particular
salidade e atender à lei específica nº 8.870. Ao mesmo tempo, A sociedade e o governo passaram a ver que a escola
a contabilidade é imprescindível para saber se a gestão está particular possui um custo que não é composto apenas de giz
obtendo resultados positivos ou negativos, determinar a es- e professores. E neste ponto a contabilidade voltada para a
colha do regime tributário mais adequado para a atividade da gestão do negócio teve um papel importante, pois demonstra
escola, de forma a reduzir os gastos com impostos, verificar a que sobre as escolas incide uma alta carga tributária e que
lucratividade, retorno do investimento, capacidade de paga- possui outros custos, como qualquer empresa. A sociedade e o
mento a curto e longo prazos, suporte para discussão judicial governo hoje reconhecem que a escola particular é uma opção
ou prestação de contas entre sócios, defesa junto aos órgãos e não complemento da escola pública.
fiscalizadores, entre outros. Isto, sem falar que a contabilidade Essa transformação só foi possível devido a uma visão dife-
voltada para a gestão minimiza, e muito, possíveis desvios. renciada dos representantes das escolas, de grandes lideranças
Escola Particular – Por que optou por atuar neste segmento? e dos principais sindicatos do segmento, como o Sieeesp, o
Semesp e outros, que trabalharam com determinação para
Celso Fernandes – Nós fizemos a opção, e eu falo nós, em demonstrar o quanto a escola particular é essencial para o
razão da Meira Fernandes ter sido fundada pelo meu irmão e desenvolvimento do país e que há a necessidade de se cobrar
por mim, dois sócios e amigos, pelo fato de acreditarmos que é um preço justo por isso. Claro que aconteceram outras grandes
através da educação que podemos transformar o mundo. Com conquistas, tais como: o enquadramento das escolas no Simples
a nossa especialização no segmento, estamos indiretamente Nacional, a possibilidade de uma escola sem fins lucrativos pas-
contribuindo para o ensino no país. sar a ter fins lucrativos, entre outras. E o fruto de todas essas
No início tínhamos um escritório convencional de contabi- conquistas é o reconhecimento, dentro e fora do país, de que
lidade e, por destino, adquirimos uma pequena escola na Zona a escola particular está entre os melhores investimentos da
Norte de São Paulo. A partir dessa aquisição, percebemos que atualidade.
as escolas tinham necessidade de um serviço contábil espe-
cializado. Foi neste momento que vislumbramos uma grande Escola Particular – Como vê a concorrência entre as escolas
oportunidade de negócio e, em meados de 1982, nos tornamos neste mercado?
o primeiro escritório contábil do país a atuar em um segmento
específico, inclusive obtendo certificações nesse sentido. Depois Celso Fernandes – A concorrência ainda não atingiu sua
de enfatizarmos a nossa especialização na área educacional, maturidade. Está saindo do “canibalismo”, baseada muito
outros escritórios perceberam a importância dessa estraté- mais no preço do que na qualidade do ensino ou na rentabi-
gia e iniciaram a especialização de seus serviços em diversos lidade. As escolas estão tão preocupadas em captar alunos,
segmentos. usando o fator desconto, que não se atentam em verificar
a sua rentabilidade, ou seja, em muitos casos o fato de se
Escola Particular – Quais foram as maiores conquistas alcan- ter muitos alunos não significa que a escola esteja gerando
çadas ao longo dos anos? resultados positivos.
Há alguns anos, escrevemos um artigo na revista Quali-
Celso Fernandes – O segmento educacional era muito metria, da Editora Bannes, baseado em pesquisa do jornal Le
mal interpretado pelo governo e sociedade. No entanto, em Monde (o maior jornal de repercussão econômica na França),
razão da forte atuação dos representantes da categoria, a onde, naquela oportunidade, já dizíamos que quem está fun-
profissionalização na gestão e uma melhor divulgação do que damentado na qualidade atravessa qualquer crise. Treme, mas
a escola particular representa para o país, essa interpretação atravessa. No entanto, quem está fundamentado só no preço
melhorou muito. não consegue passar por uma crise e vai à ruína.

Balduino Ferreira Leite


A sociedade e
o governo hoje
reconhecem que a
escola particular é
uma opção e não
complemento da
escola pública

Escola Particular 31
Entrevista

Após muitos anos no mercado podemos afirmar o seguinte: No que se refere às escolas, realizar parcerias com o governo
quem não tiver qualidade e preço justo não fica no mercado. para abatimento de encargos, como, por exemplo, oferecer bol-
Na concorrência, não aconteceram muitos avanços, justa- sas de estudo, cujos valores seriam abatidos na base de cálculo
mente por ser o preço a ferramenta de conquista de alunos. dos tributos. Além disso, existem algumas escolas particulares
Desta forma, outras ferramentas essenciais para a captação que têm estrutura física capaz de atender à demanda de vagas
e fidelização de alunos, bem como para associar a imagem da do município e suprir essa necessidade. Atualmente, alguns
escola à qualidade, foram subutilizadas. municípios já trabalham nesse formato de parceria.

Escola Particular – Quais são as principais metas e desafios Escola Particular – Como atua na área educacional há muito
que o segmento educacional tem para 2014? Podemos falar tempo, tem uma relação com o Sieeesp. Fale um pouco sobre
um pouco a respeito da alta carga tributária incidente sobre as essa troca de experiências e colaboração.
escolas particulares?
Celso Fernandes – Acredito que é importante manter, não
Celso Fernandes – Um dos maiores desafios de qualquer em- só com o Sieeesp, mas com todos os órgãos, um excelente
presa, principalmente das escolas, é prever possíveis incertezas relacionamento profissional. No entanto, com o Sieeesp, onde
econômicas que o país pode enfrentar. A partir daí é necessário atuei por alguns anos como consultor jurídico, é natural que
elaborar um excelente planejamento econômico-financeiro, esse relacionamento se torne ainda mais próximo.
que demonstre a situação atual, visando apoiar a tomada de Com as transformações ao longo dos anos e com o seu
decisões que irão garantir o sucesso do negócio, dentre elas, crescimento contínuo, o Sieeesp passou a adotar políticas de
saber o valor adequado da mensalidade e ter a noção real de conscientização junto à sociedade e aos órgãos públicos da real
sua rentabilidade. necessidade da escola particular para o desenvolvimento do
Com relação à carga tributária, o maior desafio para as país. Essa fórmula vem dando certo e o Sieeesp está com uma
escolas particulares é fazer a opção correta de regime tribu- política de atuação forte, sem alarde e sem confronto, além de
tário, porque na verdade as escolas devem elaborar um bom estar sendo contundente em defender os interesses das escolas
planejamento econômico-financeiro, com a mais elevada carga particulares. Em resumo, considero ótimo o relacionamento
tributária possível. Depois, sim, fazer um estudo societário e com o Sieeesp. Em alguns assuntos temos pontos de vista dife-
tributário para que haja redução dessa carga tributária. Até rentes, mas a boa intenção sempre está em primeiro lugar e,
porque a prestação de serviços educacionais é uma das ativi- quando isso acontece com um simples dialogo, tudo se resolve.
dades mais oneradas no Brasil em relação a tributos, podendo
chegar a 35% do faturamento. Escola Particular – Como vê a atuação do sindicato junto
as escolas?
Escola Particular – Quais questões considera que devem ser
melhoradas no segmento? E por quê? Celso Fernandes – Como dito na resposta anterior, vejo uma
forte atuação por parte do Sieeesp em favor dos interesses
Celso Fernandes – O que deve ser melhorado no segmento, das escolas, através de políticas de conscientização junto à
sem sombra de dúvida, é a forma de gestão. Atualmente em sociedade e aos órgãos públicos da sua real contribuição para
grande parte das escolas particulares a direção é familiar, o o crescimento do país. •
que afeta diretamente a gestão do negócio e faz com que, em
muitos casos, a rentabilidade das escolas seja comprometida.

Balduino Ferreira Leite


Deixo claro que não tenho nada contra a gestão familiar, até
porque há no Brasil grandes empresas familiares de sucesso,
fruto da gestão profissional.
Além da gestão, outros pontos a serem melhorados são:
• Desoneração da folha: A desoneração das contribuições
previdenciárias incidentes sobre a folha, uma vez que o maior
custo de uma escola é a folha de pagamento.
• Legislação: Ter uma legislação que apoie tanto o dono
da escola quanto pais e alunos. Por parte do governo, o pai
poderia abater até 100% do que é gasto na educação dos filhos
diretamente no imposto de renda.

Atualmente em grande parte


das escolas particulares a
direção é familiar, o que
afeta diretamente a gestão
do negócio e faz com que a
rentabilidade das escolas
seja comprometida

32 Escola Particular
Escola Particular 33
Social

Andrea Freitas / Silvana Meneses

A pedofilia é um transtorno do com-


portamento sexual que se carac-
teriza pela preferência em realizar, ati-
vamente ou na fantasia, práticas sexuais
com crianças.
Além dos impactos físicos imediatos
que podem incluir distúrbios do sono,
doenças sexualmente transmissíveis e
gravidez, há também os impactos psi-
cológicos que podem atingir as vítimas
de pedofilia. Estes compreendem o medo,
o sentimento de culpa, a depressão, a

sxc.hu
baixa autoestima, a hostilidade frente
ao sexo do agressor, a conduta sexual
anormal (masturbação compulsiva e exi-
bicionismo), a angústia, a agressividade, as
condutas antissociais, além de sentimen-
tos de estigmatização. Em longo prazo, as
vítimas podem desenvolver fobias, pânico,
personalidade antissocial, depressão
com ideias de suicídio, isolamento, ansie- Estes impactos podem
dade, tensão e dificuldades alimentares,
reedição da violência, distúrbios sexuais, desencadear dificuldades escolares,
envolvimento com drogas e alcoolismo.
Estes impactos podem desencadear discussões familiares frequentes, fuga
dificuldades escolares, discussões familia-
res frequentes, fuga do lar, delinquência do lar, delinquência e prostituição
e prostituição.
Visando focar a repressão à pedofilia,
em dezembro de 2011, um decreto esta- Caso você conheça algum caso de pedofilia, denuncie através dos canais abaixo:
dual reestruturou o DHPP – Departamento
de Homicídios e Proteção à Pessoa. Nessa São Paulo
restruturação foi criada a 4ª Delegacia • DHPP – Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa
de Polícia de Repressão à Pedofilia, cujos Rua Brigadeiro Tobias, 527 – 3º Andar – 4ª Delegacia de Polícia de Repressão à
principais objetivos são: Pedofilia
• Apurar e reprimir os crimes contra a • dhpp.pedofilia@policiacivil.sp.gov.br
dignidade sexual de vulneráveis; • Disque:3311-3535 / 3311-3536
• Criar banco de dados com fotos de
estupradores e pedófilos; e Polícia Federal
• Criar banco de DNA e controle de • denuncia.ddh@dpf.gov.br
entrada e saída desses indivíduos junto • Disque 100
aos estabelecimentos penitenciários. •

34 Escola Particular
Escola Particular 35
Motivação

Ah, que saudade!


U ma árvore sem raízes não subsiste
diante dos ventos fortes e tam-
pouco pode produzir frutos abundantes,
que enxergar além não dependia propria-
mente dos meus olhos. Era do coração que
surgia a visão de um futuro. O que poderia
Ah, hoje continuo sonhando! Almejo
por dias em que essa geração não se
contente mais com as distrações de uma
permanentes e capazes de alimentar a ser a minha, então, realidade diante de um moda passageira e volte ao verdadeiro
muitos. Assim, o homem que não se lem- universo inteiro a ser explorado? foco. Tempos em que o “eu” não será mais
bra de onde veio nunca saberá para onde Não há limites ou barreiras que sejam importante do que o “nós”. Precisamos
vai. Então, como esquecer aquilo que é intransponíveis para uma semente deter- de mais que de uma massa crítica, an-
inesquecível? minada a brotar. Entretanto, o crescimen- siamos por uma atitude de massa. Neces-
A minha primeira escola me ensinou to é fruto de um trabalho conjunto. Uns sitamos reaprender a valorizar o milagre
muito mais do que português, matemáti- plantam, outros regam, alguns podam, que está perto e dar honra primeiro aos
ca, história ou geografia. Entre os degraus até que a colheita venha. da própria casa.
que me levavam todos os dias à sala do Cada professor teve um papel impor- Assim, finalmente, todos entendere-
conhecimento, aprendi a sonhar. Entendi tante nesse processo. Educar é cultivar, mos que não é a escola que ficou ruim,
é acreditar, é investir tempo. E foi exa- talvez nós que tenhamos deixado de ser
tamente isso que recebi nesta escola. bons. Felizes seremos quando descobrir-
Quanta saudade desses mestres, hoje tão mos que não é o ambiente que nos trans-
pouco valorizados. Reconhecê-los é mais forma, mas nós que transformamos o
Entre os degraus do que uma necessidade, trata-se de uma ambiente. Assim, não dependeremos mais
obrigação eterna. São como uma pista de
que me levavam decolagem. Sem ela o avião não anda, não
de condições para voltar a sonhar.
Por fim, pais, alunos, educadores e

todos os dias à sala corre e não voa. Grato sou por aqueles que
me deram condições de chegar ao alto
toda a comunidade juntos. Uma união
perfeita para uma sociedade realmente
do conhecimento, com a mesma consciência de alguém que
saiu do baixo.
justa. Utopia? Pode até ser. Mas já dizia
um sábio, precisamos de uma utopia para
aprendi a sonhar sair da cama e de fato caminhar. O que não
dá é para ficar numa zona de conforto,
observando as dores do parto e atirando
pedras na vidraça da maternidade só
porque ainda estamos estéreis.
sxc.hu

Minha querida escola, pra mim, sem-


pre mais que uma escola, um eterno
pomar. •

Juliano Matos
Jornalista e palestrante
julianomatos.com.br
palestrante@julianomatos.com.br
Balduino Ferreira Leite

sxc.hu
sxc.hu

36 Escola Particular
Escola Particular 37
Educação Sexual

DEFICIÊNCIA FÍSICA E SEXUALIDADE


H á alguns dias fiz uma palestra sobre
prevenção de gravidez na adolescên-
cia e fui surpreendida positivamente pelo
que vi na escola. No grupo de alunos havia
cinco que eram deficientes auditivos e a
escola teve todo o cuidado de trazer um
tradutor para que estes alunos entendes-
sem e participassem da palestra, uma vez
que eu não sei a linguagem de sinais.
Fiquei muito feliz com essa atitude da es-
cola! É muito comum alunos que têm alguma
deficiência física, como a auditiva, a cegueira

sxc.hu
ou mesmo aqueles que são cadeirantes,
serem excluídos deste tipo de atividade, seja
pela dificuldade de acesso ao local ou porque
o tema tem relação com sexo. No entanto,
é muito importante para eles participar de
atividades de educação sexual.

A sexualidade
está associada ao
desenvolvimento
da afetividade descompasso entre a sua idade cognitiva e a
sexual. Desejam e podem viver a sexualidade
• Fique atendo à autoestima e nunca
deixe passar uma chance de fazer um elogio
como qualquer outro adolescente. Pois, uma merecido.
pessoa que possui uma deficiência física, • Abra um espaço nas suas aulas,
Onde está a dificuldade? geralmente, não tem o caráter físico como sempre que achar oportuno, para falar
Mito para uns, dramática realidade grande impeditivo para que viva bem sua sobre algum tema ligado à sexualidade.
para outros, a sexualidade nas pessoas sexualidade e tenha relações íntimas, mas É muito importante que eles tenham um
com deficiência é um fato, ainda pouco sim os fatores de natureza psicológica, as espaço onde compartilhar suas dúvidas
estudado, que gera grandes conflitos, emoções e sentimentos ligados à própria sexuais. Isso os ajuda a lidar com a sexuali-
tanto para a família quanto para a escola, deficiência, à autoimagem e à identidade. dade e no desenvolvimento do senso de
mas principalmente para o aluno que tem responsabilidade de cuidados pessoais e
a deficiência física. Sugestões para ajudar de relacionamento com os outros.
A sexualidade está associada ao desen- A escola é um dos ambientes de sociali- Se você tem interesse em compreender
volvimento da afetividade, dos papéis de zação de seus alunos e, para alguns deles melhor o potencial sexual e afetivo que
gênero e sexuais, à capacidade de entrar que têm uma deficiência, pode ser o único, uma pessoa com deficiência física pode
em contato com o seu corpo, cuidar dele ou o principal, espaço para conhecer pes- desenvolver, assista aos filmes Meu pé es-
e ao mesmo tempo conseguir lidar com o soas e criar vínculos afetivos. Portanto, é querdo, Gabby e As sessões que retratam a
outro, de atrair e se sentir desejado, ele- muito importante que o professor esteja experiência sexual de jovens com deficiên-
mentos fundamentais para a construção atento à inserção social de seus alunos. Se cia física. Nesses filmes a gente consegue
da autoestima e o bem-estar. você perceber que este aluno está sempre compreender a importância de uma relacio-
Agora, imaginem esses alunos em sozinho, seja no pátio da escola, nos inter- namento sexual/amoroso em todas as suas
plena adolescência, vivendo num contexto valos entre as aulas ou até mesmo na sala dimensões: psíquica, emocional, afetiva e
social como ainda é o nosso, que incorpora de aula, porque ninguém quer fazer par social. É um rico material para nos ajudar
a deficiência e não o sujeito em si mesmo. É com ele numa atividade, fique atento e a lidar com a sexualidade de pessoas com
o cego, o surdo, o mudo... se esquecem de faça alguma coisa para mudar essa história. deficiência física. •
levar em conta que, antes de tudo, trata-se • Trabalhe com seus alunos desde o
de um ser humano. E como tal, tem uma início do ano a importância de se conviver
história, valores, expectativas, desejos e e respeitar as diferenças, ressaltando as
necessidades, inclusive sexuais. habilidades pessoais e o potencial intelec- Maria Helena Vilela é
educadora sexual e diretora
É uma situação difícil para eles en- tual, esportista ou artístico dos alunos do instituto Kaplan
kaplan.com.br
tenderem e administrar o que está acon- sempre que tiver oportunidade. Isso pode
tecendo com seu corpo e seu coração. Pois, ajudar na socialização, abrindo espaço
diferentemente das pessoas que têm uma para que eles se insiram nos grupos de
deficiência intelectual, eles não têm um seus colegas.

38 Escola Particular
Escola Particular 39
Mensalidade Escolar

Custo da A adoção de
boas práticas
Mensalidade Escolar no processo de
gestão econômico-
A realidade do segmento, quando
se trata de determinação do valor
sos que se apresentam com lucro devem
absorver aqueles com prejuízo.
financeiro
da anuidade ou mensalidade escolar, se Ninguém busca uma autorização com é a medida
apresenta, em muitas instituições, de o intuito de ter prejuízo, para que o lucro
forma pré-histórica, em descompasso e de outro o absorva. Na verdade, o que não aconselhável para
descaso com as boas práticas de Gestão se consegue é acreditar na possibilidade
Empresarial. de desenvolver uma solução gerencial sair de estados
Quando o assunto é reajuste do preços
iniciam-se e encerram-se os períodos, que
para transformação do resultado.
É bem aceito o fato de que toda em- desconfortáveis
denominamos oportunos, e o procedi- presa necessita de lucro. até mesmo as
mento quase sempre é o mesmo: deter- filantrópicas. Sem ele não há como manter específicos apenas um realinhamento.
mina-se a aplicação de um porcentual de qualquer atividade comercial. Ninguém Insta lembrar que a medida do sucesso e
reajuste sem conhecimento do custo real planeja ter prejuízo “ad eterno” por do fracasso guarda relação com decisões
de cada curso. questões estratégicas e tampouco nave- e ações diferenciadas de uns e de outros, e
Tal medida revela condutas de co- gar nas profundezas do endividamento. que o sucesso está intrinsecamente ligado
modismo e de desconhecimento que se Cabe rapidamente registrar que o à qualidade de nossas decisões.
fundam amadoramente em pretextos con- cenário aqui exposto não se aplica a todas A captação de alunos ocupa grande
correnciais e sobrevivência no mercado. as instituições de ensino, já que há, ainda parte do mapa mental de muitos gestores,
Há aqueles que justificam os prejuízos que poucas, exceções que conferem trata- remanescendo pouco espaço para se preo-
de determinados cursos como sendo mento adequado aos custos de cada curso cupar a que preço e por quanto tempo o
necessários de manutenção, por questão e à margem de lucro desejada, instituindo negócio resistirá sem sucumbir, e no final
estratégica ou exigência legal vinculada, e a partir de premissas concretas, sob o impossibilitado de antever resultados in-
que, ao final, serão absorvidos pelo lucro ponto de vista econômico-financeiro, o desejáveis. Ante as situações equivalentes,
de outros. preço dos serviços oferecidos. a que se perguntar: De que adianta 5.000
Na junção desses resultados, ao Há um ditado popular que diz: “falar (cinco mil) alunos e a rentabilidade do negó-
que nos parece, estamos diante de uma é fácil, o difícil é fazer”. Porém, aqueles cio não ser satisfatória, ou pior, frustrante?
mistura de lucro com utopia, podendo que construíram um patrimônio do porte A adoção de boas práticas no processo
resultar no que chamamos popularmente de uma instituição de ensino, e aqui estão de gestão econômico-financeiro é a me-
de “Lucrotopia”, resumindo-se na crença até hoje, mesmo que a duras penas, já dida aconselhável para sair de estados
incongruente de que o resultado dos cur- fizeram o mais difícil, cabendo nos casos desconfortáveis. A elaboração da planilha

40 Escola Particular
Escola Particular 41
Mensalidade Escolar

Se não bastasse a
real importância,
a planilha
de custos é
obrigatória e vem
sendo exigida
pelo Procon e
pela Procuradoria
de custo dos serviços prestados é parte Se não bastasse a real importância, de alguns
integrante das boas práticas de gestão.
Com efeito, a planilha de custo tem
a planilha de custos é obrigatória e vem
sendo exigida pelo Procon e pela Procu-
municípios
a finalidade de evidenciar informações radoria de alguns municípios. Cumpre
de natureza econômico-financeira para ressaltar que essa obrigatoriedade não é
que os gestores determinem o valor da recente, tendo sido instituída pela Lei nº
mensalidade com base na sua estrutura 9.870/99 e regulamentada pelo Decreto Vale lembrar que transformar resul-
real de custos e, por conseguinte, avaliem nº 3.724/99, trazendo em anexo um dito tados indesejáveis em satisfatórios, ou
os resultados de cada curso. modelo: muito satisfatórios, requer do gestor a
aplicação de medidas naturais da fun-
COMPONENTES DE CUSTOS ANO-BASE ANO DE APLICAÇÃO ção; coragem, atitude, planejamento e
(Despesas) R$ R$ decisões com qualidade alinhadas com
sua base estrutural, não podendo jamais
1.0 Pessoal
ser de forma isolada, sem o comprometi-
1.1 Pessoal Docente mento dessa base.
1.2 Encargos Sociais É evidente que há casos em que a
1.3 Pessoal Técnico e Administrativo elaboração da planilha e a evidenciação
de resultados não resultarão tão somente
1.4 Encargos Sociais no reajuste do preço, demandarão com
2.0 Despesas Gerais e Administrativas certeza reflexão e desenvolvimento de
2.1 Despesas com Material possíveis soluções para alguns casos.
Nesse prisma, pode-se entender que
2.2 Conservação e Manutenção o gestor deve evitar, ou melhor, extinguir
2.3 Serviços de Terceiros a prática de reajustes de natureza vulgar
2.4 Serviços Públicos pelo qual se determina um porcentual de 5
(cinco), 10 (dez) ou 15 (quinze) por cento de
2.5 Imposto Sobre Serviços (ISS)
reajuste, sem que se tenha conhecimento
2.6 Outras Despesas Tributárias da realidade factual de cada curso.
2.7 Aluguéis É certo que cada instituição tem suas
peculiaridades e a formatação dos custos
2.8 Depreciação
exige extremo rigor no levantamento
2.9 Outras Despesas de dados. No entanto, ao final, e com
3.0 Subtotal - (1+2) as informações produzidas, o gestor
terá segurança na aplicação do reajuste
4.0 Pró-Labore
necessário a cada curso, assegurando o
5.0 Valor Locativo equilíbrio econômico-financeiro para o
6.0 Subtotal - (4+5) processo de perpetuidade da instituição.
7.0 Contribuições Sociais
Por fim, Napoleão Bonaparte dizia que
“a capacidade pouco vale sem a oportuni-
7.1 PIS/PASEP dade”, todavia, enxergar oportunidades
7.2 COFINS também é uma capacidade. •
8.0 Total Geral - (3+6+7)
Número de alunos pagantes
Vanderlei Ferreira Machado
Número de alunos não pagantes Advogado, Pós Graduado
em Direito Educacional,
Contador, Pós Graduado
em Administração
Valor da última mensalidade do ano-base R$ Financeira, Especialista em
Planejamento Tributário,
Valor da mensalidade após o reajuste proposto R$ , em / /20xx. Diretor Executivo da Meira
Fernandes Consultoria
Local: Data: / / Educacional.

42 Escola Particular
Escola Particular 43
Educação Digital

• • • Parte I •••

V ocê consegue se lembrar como era sua


vida há 25 anos, quando o computador
mais badalado (e caro!) da época era o ‘PC
ções é, também, um ‘telefone inteligente’),
num tablet ou em seu notebook? A resposta
parece óbvia, mas o fato relevante reside
ver com a informação, produzindo-a, trans-
portando-a, armazenando-a, recuperando-
a, alterando-a, retransmitindo-a etc. Mídia
– AT1’? Como as tecnologias da informação na razão de “poder fazer muito mais e de é coisa (tangível/intangível), tecnologia,
e comunicação alteraram o seu cotidiano modo mais econômico do que antes”. pensamento e processo e as duas juntas
até o presente? “Muito mais”, porque um texto escrito são expressões de nossa humanidade,
num editor digital pode ser editado em um desde que pela primeira vez o homem se
Sobre nosso jeito de fazer as coisas, nível de sofisticação e detalhamento que, fez homem pela cultura.
contando com tecnologia e mídia para fazer o mesmo, no passado, seria Se estivéssemos buscando responder
Enquanto a memória dos computado- preciso ser proprietário ou usuário de uma às possibilidades auferidas pela pergunta
res cresce exponencialmente, em média editora completa. E “mais econômico”, que abriu nosso diálogo (Tendências para
a cada 3 anos, nossa lembrança de como porque depois de aprender a lidar com o a educação: é possível prever?), há 25 anos,
vivíamos há 25 anos acaba por nos trair. Per- programa (software) não é preciso reapren- o que responderíamos? O que você teria
demos com isso a oportunidade de refletir der tudo a partir do zero, a produção cresce respondido? Teria se aproximado do que
acerca de como as mudanças tecnológicas em qualidade e em quantidade, para cada ocorre na atualidade?
e de mídias afetaram diretamente a forma centavo investido.
como produzimos informação, nos comu- O exemplo da máquina de escrever x
nicamos, tomamos decisões, enfim, nosso computador é próximo de todos nós que
modo de viver. não nascemos pós-revolução digital, mas
Reflita: por que você não utiliza mais antes dela, e a vamos experimentando dia-
uma máquina de escrever mecânica ou riamente, com novidades surpreendentes,
elétrica, mas opta “naturalmente” por de lá para cá.
escrever um texto em seu telefone (nome À medida que a tecnologia (pensamen-
impróprio para o que realmente é hoje o to criativo-racional que busca soluções
equipamento que, dentre centenas de fun- para problemas práticos) avança, altera
padrões de comportamento social e se
insere em nosso cotidiano tornando-se
Tecnologia não se cada vez mais “nossa maneira de fazer as
coisas”, ou seja, vai se tornando “invisível”.
confunde com mídia, Tecnologia não se confunde com mídia,
ainda que inspire sua concepção de modo
ainda que inspire sua
sxc.hu

inseparável. Mídia é tudo aquilo que tem a

concepção de modo
inseparável

44 Escola Particular
Escola Particular 45
Educação Digital

O PNLD tornou
obrigatória a
inserção das mídias
digitais associadas
às obras impressas

Realmente não é fácil fazer conjecturas Fim do material impresso5 em modalidades de mídia que abrangem
a respeito do futuro! No entanto, podemos Com a universalização dos dispositivos simuladores, jogos digitais, infográficos, au-
lançar mão do conceito ‘tendências’ e reali- móveis, a democratização do acesso a diovisuais e animações. Já em 2013, o PNLD
zar uma pesquisa para buscar antever para internet e o crescimento da disponibiliza- – 2016 (voltado ao Ensino Médio) tornou
onde aponta a flecha do tempo. É sobre isso ção de conteúdos digitais, a tendência de obrigatória a inserção das mídias digitais as-
que conversaremos a seguir. haver uma completa migração da mídia sociadas às obras impressas. Seguindo por
impressa para a mídia digital é marcante, esta tendência, a curva esperada é que em
A pesquisa da rede de cooperação ainda que não se possa considerar que algum lugar do futuro predomine a mídia
universitária Universia2 obras disponibilizadas em papel não digital, em detrimento da impressa, até que
A pesquisa realizada pelo Universia3 venham a ser produzidas, como produtos as vantagens x desvantagens de manter o
aponta para o ano 2028. Segundo a ma- Premium. Desde 2012, a título de elemento modelo híbrido sejam tão expressivas que
téria veiculada4, cinco serão as principais reflexivo, o Programa Nacional do Livro predomine a tecnologia (solução) edito-
tendências para a educação do futuro. Didático (PNLD – 2014), coordenado pelo rial por via digital. Respeitadas as devidas
Acompanhe a seguir cada uma delas e em Ministério da Educação e um dos maiores diferenças, vale aqui o mesmo raciocínio
que nos desafiam a refletir, desde agora. do planeta em volume, fomentou junto às utilizado no início desse diálogo, quando
editoras a produção (facultativa) de mídia você deixou, em algum lugar e momento
NOTAS:
digital articulada aos conteúdos disponibi- do passado, sua saudosa máquina de es-
1 - PC – AT: Personal Computer, Advanced Technologie. Este lizados nos livros. São os chamados objetos crever e passou a utilizar um computador
computador contava com discos rígidos com capacidade de
armazenamento de informações de 40 megabytes, algo que
educacionais digitais, também conhecidos para produzir e compartilhar seus textos e
comparado aos dias atuais equivaleria comparar a produção de por objetos de aprendizagem, concebidos documentos em geral. •
20 mil contra 1 bilhão de folhas de papel escritas (somente texto),
para um disco de 2 terabytes. (Continua no próximo número)
2 - Disponível em: http://exame.abril.com.br/tecnologia/
noticias/cinco-tendencias-de-tecnologia-para-educacao-
ate-2028. Acesso em 27/03/2014.
3 - Disponível em: http://www.universia.com.br/. Acesso em Cassiano Zeferino de Carvalho Neto é pós-doutorado em educação digital pelo ITA e
27/03/2014. doutorado em engenharia e gestão do conhecimento pela UFSC; é mestre em educação
4 - Os tópicos gerais são da pesquisa, mas as considerações científica e tecnológica (UFSC) e especialista em qualidade na educação básica (INEAM/OEA/
comentadas são de responsabilidade do autor. USA). Tem licenciaturas em Física e Pedagogia (PUCSP). É fundador e atual presidente do
5 - Para conhecer um exemplo brasileiro de um ambiente Instituto Galileo Galilei para a Educação (IGGE), e também fundador e diretor executivo da
de mídia, voltado à Física totalmente concebido por Laborciencia editora. www.carvalhonetocz.com. Contato: carvalhonetocz@gmail.com.
via tecnologia para educação digital, acesse: www.
fisicavivencial.pro.br. Projeto Condigital, MEC/MCT/FNDE/ Esta coluna conta com o apoio do Instituto Galileo Galilei para a Educação (www.igge.org.br)
IGGE: Física, uma aventura do conhecimento. Brasília, 2010.

46 Escola Particular
Escola Particular 47
Cotidiano

Ação e reação da sociedade brasileira


N um fim de semana, ao passear
numa das ruas movimentadas de
São Paulo, vi um homem em altos brados
evitando os olhares dos que estavam na
rua, imaginando o que estariam pensando
dela, por ter sido alvo das ofensas. Levou
gritar palavrões em direção a uma mulher. do episódio apenas um sentimento de
Ela, sozinha, assustou-se e apressou seus impotência.
passos, afastando-se do local. Esse relato é de um dos milhares de
Distante e como observador, imaginei casos que acontecem no dia a dia. Não che-
o que se passava com cada um e o que gam a ser considerados atos de violência
os levara a essa situação. O homem, pro- frente a ocorrências muito mais graves –
vavelmente, procurava alguém em quem como roubos, homicídios e estupros – que
descarregar sua raiva, seus delírios ou suas se multiplicam.
frustrações. Mas ela era o personagem Nesse mundo de violência, jovens
principal. Demonstrava a reação típica começam a se achar no direito de fazer
de quem hoje vive acuado pela violência. justiça com suas próprias mãos. O alvo da
A mulher se sentiu certamente ultra- atenção é o desencadeador da violência e
jada e ofendida, mas sem direito à reação, não a vítima. Nem mesmo o poder público
já que reagir poderia levar ao risco maior, se preocupa em implantar políticas de
até mesmo à violência física. Saiu de cena apoio às pessoas que sofrem agressões.

Nesse mundo de
violência, jovens
começam a se achar
no direito de fazer
justiça com suas
próprias mãos

48 Escola Particular
Diariamente, registram-se manifestações
com as mais diversas reivindicações e, no
final delas, saldo de veículos destruídos,
instalações quebradas e, até mesmo,
pessoas feridas

Lamentavelmente, principalmente nas Esses fatores, e tantos outros que


grandes cidades, as pessoas agradecem caracterizam a atual sociedade brasileira,
por mais um dia que passam em paz e mostram que há falta de comunicação
sem nada atingir sua dignidade e sua au- entre pessoas e grupos sociais, além de
toestima. Lamentavelmente porque o que falta de canais eficientes para que os
deveria ser a rotina passou a ser a exceção. diversos segmentos da população se ex-
O aumento da violência é uma das pressem. Em consequência, diariamente,
facetas da nova ordem social vigente. registram-se manifestações com as mais
A sociedade brasileira, refletindo o que diversas reivindicações e, no final delas,
ocorre na maior parte dos países, é palco saldo de veículos destruídos, instalações
de grandes e profundas mudanças. Os quebradas e, até mesmo, pessoas feridas.
modos de produção, os costumes, as for- A truculência e a falta de diálogo têm sido
mas de lazer e tantas outras dimensões a marca dos dias de hoje.
da sociedade sofreram grande impacto A resposta que vem sendo dada à
da introdução da informática e fatores violência fica muito mais no âmbito dos
decorrentes, como a internet. O país e órgãos de segurança. Em especial, a Polícia
seus cidadãos não são os mesmos. Militar é chamada a cada manifestação ou
O impacto no mundo do trabalho é ato de violência e sua atuação é acompa-
imenso. Na indústria, busca-se a competi- nhada pela rádio, tv e imprensa em geral.
tividade com a automação dos processos No âmbito social, ganha cada vez
de fabricação, com reorganização de mais destaque a cultura do mau exemplo.
atividades, com mudanças nos perfis dos Exaltam-se casos cada vez mais extremos
profissionais, com redução do quadro de de reação violenta e atitudes antiéticas.
pessoal e, em decorrência, com aumento Parte desses problemas, porém, são
da competição entre os trabalhadores. ainda localizados, mas, se não tratados
No mercado de trabalho, de modo como devem, podem se alastrar e refor-
geral, há ampliação da participação das çar a sensação de falta de um Estado que
mulheres, que passam a ocupar postos tenha controle e, principalmente, esteja
de trabalho em um grande leque de pro- fazendo gestão dos rumos do país. Mais
fissões, o que traz reflexo na família e na que isso, a falta de um Estado que tenha
interação entre pais e filhos. visão global e estabeleça prioridades para
No contexto social, cada vez mais as cuidar de cada problema que atinge as
pessoas se isolam. É frequente o encontro diferentes regiões ou os setores heterogê-
de jovens e adultos que andam pela rua neos, que formam o todo da sociedade
ouvindo música com fones nos ouvidos, brasileira.
para não prestar atenção no que ocorre Estamos no tempo de analisar ações,
à sua volta. A palavra que pode definir a avaliar reações e incentivar a criação de
postura da pessoa na multidão é a solidão. caminhos seguros para solucionar proble-
A necessidade de cuidar, dedicar mas cruciais da população brasileira. •
carinho e atenção é transferida a animais
de estimação. Podem ser comprados e
escolhidos ao gosto das pessoas: raça,
tamanho, cor. Dão trabalho e preenchem
a vida do dono com preocupações como Walter Vicioni Gonçalves
Diretor Regional do SENAI-
alimentar, levar para passear e tratar de sua SP, Superintendente do
SESI-SP e membro do Con-
saúde. Dão também retorno, tornando-se selho Estadual de Educação
dependentes da atenção da pessoa e, prin- de São Paulo

cipalmente, passando a ser companheiros


inseparáveis.

Escola Particular 49
Entrevista

Juliana Notari,
Fábio Supérbi e o
Teatro de Bonecos

Ygor Jegorow

T ão antiga quanto a própria história do


teatro, o teatro de bonecos originou-
se no oriente, em países como a China,
que nos uniria para fazer a pesquisa seria
o teatro de bonecos. E assim começou. A
Juliana já tinha uma paixão pelo teatro. Eu
privilégio do teatro de animação. A arte
como um todo faz o ser humano despertar.
Eu acredito que a arte é fundamental para
Índia e Indonésia. É uma antiga forma de já fazia teatro quando fui apresentado ao a criança. Por menos que o nosso país se
expressão artística. Desde aquela época, os teatro de bonecos. No primeiro contato aplique para isso.
bonecos são usados para animar e comuni- decidi que queria fazer aquilo. JN - E isso é uma discussão que temos
car ideias ou necessidades das sociedades JN - Eu já tinha um interesse no teatro, há anos. Desde 2001. Que quando você
humanas. Alguns historiadores acreditam mas sempre com foco nas artes plásticas. produz uma arte pra criança, acredita que
que o uso de bonecos nos espetáculos Aconteceu que cada um se aprofundou a criança é uma apreciadora de arte, que
antecipou os atores no teatro, chegando à em alguma coisa. Eu me aprofundo até não necessariamente essa arte tem de ser
Europa e depois ao continente Americano hoje no teatro de bonecos. Fui morar na didática. Nós, pelo menos, acreditamos
devido às colonizações. Atualmente, os França e fiquei vários anos por lá, fazendo que não. Discutimos muito o quão inerente
bonecos são usados em espetáculos volta- pesquisa. é a arte no ser humano. Eu acredito nisso.
dos ao público infantil. FS - Me aprofundei em teatro aqui no Tanto que existem artes e espetáculos de
Brasil mesmo. Fiz o mestrado e continuei bonecos voltados ao público com menos
Escola Particular: Como surgiu a ideia com o grupo. Aqui são dois grupos: o de um ano de idade. Para bebês mesmo.
de criar o espetáculo “Teatro de Bonecos”? Anfibius e o Grupo Vendaval. Enquanto EP - Falta ainda o estímulo das escolas
Juliana Notari - São duas respostas, a Juliana estava no exterior pesquisando, para o contato dos alunos com a arte?
porque são dois artistas diferentes. Nós eu estava aqui no Brasil trabalhando com FS – Nesse ponto a rede pública ainda
nos unimos muitas vezes para criar juntos, outras pessoas no grupo, até que nos reen- é muito defasada. É preocupante o modo
mas no meu caso o interesse veio desde contramos. Trabalhávamos desde 2001. como a política brasileira de educação trata
criança. Eu tinha essa necessidade de ani- Ficamos um tempo trabalhando separados a arte. E a arte dentro disso ocupa um lugar
mar objetos. E aí era bem claro pra mim e agora estamos juntos novamente. muito pequeno. É como eu te disse, ela é
que eu queria fazer teatro, escrever, pintar, EP - O teatro de bonecos poderia servir mais que um elemento formativo didático.
fazer música. Então, o teatro de bonecos foi como um gancho para estimular as crianças Ela é um elemento formativo humano es-
uma forma de começar tudo isso. Depois, a ter contato com a arte? sencial.
começaram as pesquisas. Minha primeira FS - O teatro de animação e o teatro Mais do que o aluno ter de estar na
formação é teatral. Depois veio a formação comum, sem animação, sem bonecos, são escola como elemento orgânico. Assim
em artes plásticas, oficinas, workshops necessários. Esse gancho que você men- como as outras disciplinas. Aquilo tem de
que eu participei. Também fiz música. É um ciona eu considero o inverso. A arte como fazer sentido na vida da criança.
compensado de coisas. Mas se consolidou um todo é o impulso que traz a criança para JN - E o modo é retrógado. É só ver o
na faculdade quando montamos um grupo a vida. Para entender que ela é mais do que jeito como são ensinadas as músicas nas
pra pesquisar o teatro de bonecos. uma executora de funções. Que a gente escolas. Parece que parou no tempo.
Fábio Supérbi - Nesse momento da pode sentir, que a gente tem de se relacio- EP – Qual é a faixa etária do público do
vida nos encontramos e decidimos que o nar, tem de se apaixonar etc. Isso não é um espetáculo?

50 Escola Particular
FS - A gente determina o mínimo. Como
tem teatros pra bebês, costumamos dizer
que os nossos espetáculos são voltados
a crianças a partir de três anos. Trabalha-
mos o espetáculo com camadas. Então
há camadas visuais, sonoras dos bonecos
ou cenário. E crianças de diferentes faixas
etárias podem absorver. Por isso trabalha-
mos com uma faixa etária inicial a partir de
três anos, pois abaixo de três anos é bem
específico mesmo.
EP - E como é a reação das crianças
enquanto assistem ao teatro?
FS - Tem umas que ficam muito anima-
das. Elas trazem as cadeiras pra frente,
e fica parecendo um show. Elas ficam na
frente do palco e dançam, vibram, pulam e
participam como se fosse uma brincadeira
de quintal.
JN - E tem essa especificidade também
que tem mais a ver com o Fábio. Ele real-
mente se aprofunda com arte feita para na criança. A primeira coisa diferente é é maior do que antigamente. Mas como
crianças. É muito legal quando vemos uma que no exterior é cultural, a arte é do co- qualquer mercado, acredito que ele se es-
criança se divertindo com o espetáculo. tidiano das pessoas. E não estou fazendo tagnou. No teatro a gente vê umas marés. Já
FS - Nós não sabemos como a criança propaganda de lá, estou apenas dizendo teve uma maré de clowns (palhaços), então
vai fazer a lapidação desse conhecimento como é realmente. O Brasil é um país com seriam teatros caindo pela tangente até se
em sua cabeça. Mas você sabe pelo olhar, muitos problemas, com muita diferença estagnar. O teatro de bonecos sofreu com
pela reação, pela participação que ele está social. E lá essa diferença existe, mas isso. Grupos que vinham pesquisando há
mostrando. não é tão gritante. Não existe da mesma dez, quinze anos se viram dividindo espaço
JN - E mesmo porque a gente esquece forma que estamos acostumados por com uma galera que estava chegando. Mas
como tudo é muito engavetado, muito aqui. A segunda coisa é que as pessoas o problema não é chegar novo. O problema é
pronto, a apreciação artística é muito estão acostumadas a ir a museus. Elas chegar sem uma pesquisa, sem um cuidado
íntima. Cada um aprecia do seu jeito. Por separam um tempo da vida pra isso. ao adentrar uma nova área. E aí eu acho que
exemplo, uma pessoa que vai apreciar um Voltando ao espetáculo e arte feita para a gente chegou num momento de depura-
quadro do Van Gogh, vai apreciar intima- crianças, eu vi espetáculos ruins também, ção. Depois de uns dez anos de crescimento,
mente antes de saber toda a história social, em vários lugares. Tive a oportunidade deu uma parada e está depurando. Vai ficar
contexto político. Cada criança apreciará de de ver espetáculos na Coreia do Sul, na quem tem pesquisa e preparo. O mercado
um jeito. É íntimo. Itália, e lá também vi espetáculos ruins. é o mercado do teatro, na verdade. Que é
EP - Juliana, você já morou na França e Até conversei sobre isso com o Fábio. difícil num país onde a arte é vista como
na Espanha. Como é a arte voltada para as Lá experimentação é mais aceita, mais supérflua. Num exemplo de corte de cus-
crianças na Europa? natural. Aqui é tudo padronizado. tos o que eu corto primeiro? A arte. Como
JN - No Brasil temos o pensamento de EP – Como anda o mercado de teatro diversão eu posso ir a um shopping center
colonizado. As pessoas não se envolvem. de bonecos? e ficar lá. Também tem os preços que são
É muito difícil. O cotidiano das pessoas é FS – Nos últimos dez anos o teatro de cobrados pelo teatro no Brasil. Enfim, há
muito duro. Então, os pais sofrem com bonecos ganhou muita força. O mercado, um mercado que está parado e que está
a dureza do sobreviver que se reflete hoje, pra quem trabalha com bonecos, descobrindo o que vem pela frente. •

Escola Particular 51
Classsiesp

AGENDA DE OBRIGAÇÕES • MAIO DE 2014 •


• 07/05/2014 SALÁRIOS - ref. 04/2014 • 23/05/2014 COFINS – Faturamento - ref. 04/2014
• 07/05/2014 FGTS - ref. 04/2014 PIS – Faturamento - ref. 04/2014
PIS – Folha de Pagamentos - ref. 04/2014
• 09/05/2014 ISS (Capital) - ref. 04/2014
• 30/05/2014 IRPJ – (Mensal) - ref. 04/2014
• 15/05/2014 INSS (Individual) - ref. 04/2014
CSLL – (Mensal) - ref. 04/2014
• 20/05/2014 INSS (Empresa) - ref. 04/2014
Dados fornecidos pela HELP – Administração e Contabilidade
SIMPLES NACIONAL - ref. 04/2014 helpescola@helpescola.com.br • (11) 3399-5546 / 3399-4385

52 Escola Particular
Escola Particular 53
Cursos

54 Escola Particular
Escola Particular 55
56 Escola Particular

Você também pode gostar