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Análise do encontro de Bolsonaro com Trump

O comunicado oficial da Casa Branca deixa claro que, em troca do apoio dos Estados
Unidos para ingressar na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico), o Brasil terá de começar a renunciar ao tratamento especial e diferente
que obtém na OMC (Organização Mundial do Comércio) e isso pode ser visto como uma
mau negócio para o Brasil já que o apoio americano não garante a entrada na OCDE,
sendo que o Brasil terá que abrir mão de um status na OMC que lhe dá vantagens no
comércio global, ou seja, é uma troca melhor para as pretensões de Donald Trump.
A OCDE, com sede em Paris, foi criada em 1961 e reúne 35 países-membros, a maioria
economias desenvolvidas, como Estados Unidos, Japão e países da União Europeia. A
organização é vista como um "clube dos ricos", apesar do ingresso de vários
emergentes. Chile e México são os únicos representantes da América Latina.
Os defensores da iniciativa brasileira argumentam que a adesão à OCDE pode
favorecer investimentos internacionais e as exportações, aumentar a confiança dos
investidores e das empresas e ainda melhorar a imagem do país no exterior,
favorecendo o diálogo com economias desenvolvidas.
Na visão do governo brasileiro, a adesão à OCDE significa "entrar no clube das
melhores práticas internacionais", argumentando que isso favorece o ambiente de
negócios aos investidores, promoveria ajustes em relação à transparência e ajudaria
a impulsionar as reformas no país.
Especificamente na parte de economia, fazer parte da OCDE significa ganhar
credibilidade; melhorar a percepção dos investidores sobre o Brasil; facilitar
acordos bilaterais ou multilaterais; reduzir os riscos de perda do grau de
investimento; diminuir o custo de captação de empréstimos; alinhar o sistema
regulatório às práticas internacionais; e melhorar sua gestão interna, com maior
controle dos gastos públicos.
Ao virar membro, o Brasil também sairia do papel de observador e passaria a ter voz
na construção das regras e normas internacionais adotadas por diversos países.
Ao acatar a proposta dos Estados Unidos, o Brasil terá de negociar em condições
iguais com países ricos, abrindo mão de vantagens como prazos mais longos para a
implementação de acordos e compromissos ou medidas para aumentar as oportunidades
comerciais.
Isso porque os membros da OMC em desenvolvimento não precisam oferecer
reciprocidade da liberalização de seu mercado interno em relação aos desenvolvidos.
Ou seja, quando países desenvolvidos fazem concessões comerciais a países em
desenvolvimento, eles não devem esperar que os países em desenvolvimento façam
ofertas correspondentes em troca.
Segundo as disposições da Organização, os tratamentos especiais que o Brasil passa
a abrir mão incluem disposições que obrigam todos os membros da OMC a salvaguardar
os interesses comerciais dos países em desenvolvimento, apoio para ajudar os países
pobres a desenvolver a capacidade de realizar o trabalho da OMC, lidar com disputas
e implementar normas técnicas, e disposições relativas à organização.
A contrapartida aceita pelo Brasil faz parte de uma posição consolidada dos Estados
Unidos, que é contrária ao favorecimento na OMC. O país comandado por Trump já vem
comprando uma briga com a organização para extinguir esses benefícios aos países
que se declaram em desenvolvimento.
Se o Brasil vier a ser aceito como membro da OCDE — apesar dos EUA criarem
dificuldades para o ingresso do Brasil, eles são apenas um dos países da
organização — isso pode gerar um efeito positivo para o país aos olhos dos
investidores, que podem se interessar mais no Brasil.
Como os Estados Unidos há muito tempo questiona a OMC, defendendo uma reforma na
organização, não é possível saber o quanto o governo de Jair Bolsonaro se atenta às
pressões que existem sobre o papel das nações pobres nos acordos comerciais.
Parte do governo brasileiro argumenta que abrir mão do tratamento diferenciado na
OMC não afeta de forma significativa o País e destaca que o acordo com os
americanos foi para “começar a abrir mão” do benefício, o que não implicará uma
mudança brusca ou desproporcional, e só se aplica a acordos futuros. Qualquer
mudança levaria de dois a três anos para a entrada na OCDE se concretizar.

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