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Resenha: Os Donos do Poder - O Estamento Burocrático no Brasil

Não há como negar que em toda sociedade organizada, seja em qualquer época, sempre existiu uma minoria dominante, que
nem sempre conseguiu representar a maioria. O estamento burocrático se assemelha a essa definição, possui sua própria
estrutura, condicionada pelas forças econômicas e sociais, mas está acima da nação que representa.
Não deve-se confundir o estamento burocrático com a burguesia, ela é apenas um arranjo da organização governamental,
enquanto que o estamento é uma estratificação social mais fechadas do que classes sociais, que funciona como árbitro da
nação, regulando todas as atividades do Estado, que seria um produto da sociedade em desenvolvimento. Para Max, o
estamento funciona como uma teia de relacionamentos que constitui um determinado poder e influi em determinado campo de
atividade.
O estamento burocrático funcionou por um bom tempo de forma aristocrática, porém, com a vitória das ideias democráticas
vindas das revoluções burguesas e da influência ibérica no Brasil, o modelo se modificou e se configurou com um quadro de
funcionários públicos composto por agentes que são preparados e educados pelo estamento para ingressarem no seu serviço,
transformando-se em letrados, militares e bacharéis, por exemplo, que se apoiam numa ética de honra da classe.
Porém a fórmula política democrática não foi instaurada no modelo do estamento, que continuou com a soberania dominada
pelo poder minoritário, que não representa a maioria que o formou e não age como delegação do povo. Com isso, a nação
dominada procura emancipar-se exigindo 3 fatores: 1, nacionalização das instituições governamentais e do pessoal político e
governamental; 2, participação das forças sociais dominadas nas operações do poder minoritário; e 3, organização da confiança,
dada ao poder minoritário pela maioria. Mas, para que isso funcione é necessário que o povo esteja preparado para a
complexidade do governo e consiga entender os negócios públicos, fatos que são difíceis de serem alcançados, pois o povo
brasileiro se mostrava desinteressado pela coisa pública.
O estado patrimonial e estamental burocrático se manteve ativo no Estado pois havia a real necessidade de integrar a pobre
economia nacional no ritmo da economia mundial, que começou desde a expansão marítima, quando Portugal começou a
comercializar suas especiarias com Brasil e Índia.
Ao contrário do modelo feudal, o estado patrimonial e estamental burocrático não é dirigido por órgãos colegiados, que
funcionavam como intermediários do governo, e possui direitos e deveres comuns à todos.
O Estado Providência, ou de Bem Estar Social, desperta a esperança da nação de ver no governante uma espécie de
taumaturgo, já que age como agente da promoção (protetor e defensor) social e organizador da economia. Enquanto que o
estamento burocrático continua sua política expandindo-se diante de crises, golpes e revoluções. Com isso, duas sociedades
distintas se formam: uma a espera de revoluções salvadoras e outra que luta pela permanência da ordem burocrática.
A principal consequência disto é a formação de uma sociedade frustrada pela minoria que deveria representar a nação e não o
fez, uma sociedade que encontra-se impedida de expandir devido à resistência de instituições anacrônicas, que tendem a não
adaptarem-se ao Estado Moderno.

Os Donos do Poder de Raymundo Faoro.


Capítulo XIV – O Estamento Burocrático no Brasil: Consequências e Esperanças.

O capítulo retrata a distinção de elite e minoria dominante e a causa de sua permanência na Lei do Desenvolvimento
combinado, a coexistência de duas sociedades distintas, formadas pelo estamento burocrático e pelo povo e o estado da
civilização.
O domínio das minorias é algo que sempre houve em todas as sociedades organizadas e em todas as épocas. Esse grupo
estabelece um domínio político mesmo sendo uma minoria demográfica. A minoria dirigente, a elite, nunca é verdadeiramente
fiel à maioria que ela representa, somente exprime e representa as forças que atuam na sociedade, racionalizando-as e
assinalando-lhes a direção, definindo-lhes os fins políticos, a ideologia, a fórmula política, ou o mito. Seu conteúdo,
substancialmente, é dependente da sociedade que representa, perecendo quando dela se desvia.
Realidade diferente, do estamento burocrático, que possui uma estrutura própria que, embora condicionada pelas forças
sociais e econômicas, eleva-se acima da nação. O ideal das classes que integram a nação é absorver o estamento burocrático,
apropriando-o, nacionalizando-o, para diluí-lo na elite.
O estamento burocrático, por muitos séculos, assumiu a forma aristocrática, composta da nobreza togada e titulada. Com a
vitória das idéias democráticas, ele continuou a imperar sob outro molde, constituído de militares, bacharéis, médicos, enfim,
altos funcionários públicos ou agentes do Estado em todos os seus poderes. O patronato político sobre a nação persistiu, com
alterações puramente formais, sem haver nunca se diluído no poder majoritário. O exercício da tutela administrativa é exercido
mais pelos funcionários (inclusive os militares) do que pelo pessoal político, eleito e renovável pelo voto universal.
No Brasil, o Estado logrou elevar-se, com estamento burocrático, sobre os produtores e comerciantes, transformando em
árbitro das classes, que existiram como que oficializadas. O desenvolvimento combinado ao ritmo da economia mundial
proporcionou, além dos aspectos políticos e econômicos, incongruências culturais marcantes.

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