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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Campus Poços de Caldas


Pós-graduação em Neuropsicologia
Disciplina: Neuroanatomia e Neurofisiologia

Epilepsia e a sua História:

Por Beatriz Monteiro Longo e Marcela Blanco


Laboratório de Neurofisiologia – Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

A história da epilepsia é, provavelmente, tão antiga quanto a da espécie humana (Penfield


e Jasper, 1954). Os povos antigos acreditavam que os epilépticos eram tomados, possuidos,
por maus espíritos e demônios, o que explica a etimologia do nome epilepsia, do grego
epilambanein, que significa tomar, capturar, possuir (Niedermeyer, 1990). Tem-se notícia que,
entre 400 aC. e 200 dC., Hipócrates, acompanhado por Arateus, Celsus e Plínius, centraram
seus estudos na identificação da epilepsia como uma doença do cérebro. Data, portanto, dessa
época a definição da condição epiléptica como de natureza clínica (Niedermeyer, 1990).
Avanços significativos nessa direção se seguiram ao longo do tempo até a segunda metade do
século XVIII, quando o médico suiço Samuel Auguste Tissot apontou a epilepsia como
fenômeno decorrente de lesões cerebrais, como tumores, AVCs e traumatismos, e que o
estudo destas lesões seria fundamental para a compreensão da doença (Karbowiski, 1984
apud Niedermeyer, 1990). No século XIX, Bouchet e Cazauvieilh (1825), através da análises de
autópsias, observaram diversos tipos de lesão no cérebro de pacientes epilépticos (citado por
Babb e Brown, 1984). Tais observações influenciaram Sommer (1880), que num primeiro
estudo microscópico, descreveu algumas alterações patológicas no hipocampo de seus
pacientes (citado por Menncke e Veith, 1992). Sommer chamou tais alterações de esclerose
hipocampal que identificou como possível causa da epilepsia (McNamara, 1994).

A epilepsia é uma síndrome caracterizada por crises espontâneas e recorrentes, podendo


ser o resultado de descargas paroxísticas, excessivas e sincrônicas de uma população neuronal.
Muitos fatores podem estar envolvidos nestas descargas anormais, e as manifestações clínicas
dependem do tipo e da localização do grupo neuronal envolvido. Além disso, estas crises
podem ser observadas em muitas doenças que, direta ou indiretamente envolvem o sistema
nervoso, incluindo os desequilíbrios iônicos e eletrolíticos, as desordens no metabolismo dos
carboidratos, dos aminoácidos e lipídios, de infecções, intoxicações, tumores ou traumas
encefálicos e da elevação da temperatura corporal (Wasterlain,1989).

Apesar de não ser definida como uma doença específica, a epilepsia representa um grupo
complexo de desordens cuja principal característica é a manifestação de crises epilépticas
espontâneas e recorrentes (CER) que se desenvolvem a partir de certas áreas do sistema
nervoso central (SNC) (Guerreiro et al., 2000; Dichter, 1997). As expressões “desordem
epiléptica”, “desordem convulsiva”, “síndrome epiléptica” e “desordem de crise” têm o
mesmo significado. Todas se referem a episódios de disfunção cerebral manifestados por
alterações estereotipadas do comportamento (Engel e Pedley, 1997). Segundo Guerreiro
(2000), “crises epilépticas são eventos clínicos que refletem disfunção temporária de um
conjunto de neurônios de parte do encéfalo (crises focais), ou de área mais extensa,
envolvendo simultaneamente os dois hemisférios cerebrais (crises generalizadas)”.

Profa. Dra. Luciana Auxiliadora de Paula Vasconcelos


Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Campus Poços de Caldas
Pós-graduação em Neuropsicologia
Disciplina: Neuroanatomia e Neurofisiologia

Padrões sincrônicos e excessivos de disparos anormais de uma população neuronal são as


principais causas das crises epilépticas (McNamara, 1999) que são classificadas em mais de 40
tipos distintos. Esta classificação é definida não só pelo tipo de manifestação mas também por
características clínicas, como padrão de recorrência das crises, causa, idade de início dos
eventos epilépticos, presença ou ausência de ocorrência na família, padrões
eletroencefalográficos, e prognóstico da doença (Engel e Pedley, 1997). Um destes tipos, a
epilepsia do lobo temporal (ELT), é alvo de intensa investigação, por sua alta prevalência e por
ser, em geral, refratária ao tratamento medicamentoso (Guerreiro et al., 2000). Segundo a
tabela de classificação internacional das síndromes epilépticas (ver Guerreiro et al., 2000), a
ELT é caracterizada por crises parciais recorrentes, simples e complexas, e corresponde à cerca
de 50% das epilepsias.

Profa. Dra. Luciana Auxiliadora de Paula Vasconcelos

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