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FERNANDO D. M. ALMEIDA, FLORIANO A. MARQUES NETO, LUIZ F. H. MIGUEL, VITOR R. SCHIRATO (coord.

)
203 DIREITO PÚBLICO EM EVOLUÇÃO – ESTUDOS EM HOMENAGEM À PROFESSORA ODETE MEDAUAR

POR UMA ADMINISTRAÇÃO RESPONSÁVEL OU DA


INVIABILIDADE DE A ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA
IMPOR AO PARTICULAR O REGIME DE PRECATÓRIOS

BERNARDO STROBEL GUIMARÃES

1 Uma pequena homenagem


Numa pujante metáfora, Rogério Ehrhardt Soares anota que as transformações
do direito público exigem que o jurista abandone um arsenal obsoleto e trabalhe com as
categorias exigidas pelo tempo em que vive, pois tentar enfrentar os desafios derivados da
complexidade da sociedade moderna com as velhas categorias seria tão eficiente quanto
um cavaleiro munido de espada atacar um tanque de guerra.1
Esta imagem tem a virtude de lembrar a todos que uma constante e crítica avaliação
dos instrumentos de que dispomos é condição para trabalhar hoje com o direito do Estado,
em especial o Direito Administrativo. As velhas formulações que visavam a explicar a
atuação jurídica do Estado em conceitos atemporais e lógicos esfacelam-se diante dos fatos
atuais e sua complexidade. E, ao contrário do que se pensa, é melhor abraçar a mudança
do que insistir no apelo a mantras que já não aderem à realidade, e só fazem alienar o
jurista para as questões graves que a realidade nos coloca. Isto porque, não raro, o apelo
a um direito administrativo atemporal representa uma renúncia em tentar compreender
a realidade que nos cerca. Assim, o Direito Administrativo deixa de ser um instrumento
apto a explicar a atuação do Estado na implementação de direitos fundamentais, para se
tornar um fim em si mesmo. Perde com isso a nota dinâmica que lhe caracteriza na qua-
lidade de instrumental a serviço da implementação dos objetivos do Estado, em prejuízo
à missão institucional que se reserva à função administrativa.
No convívio com a Professora Odete Medauar (do qual tive e tenho o privilégio de
privar), testemunha-se um compromisso firme com as exigências de reavaliar o passado
para entender o presente e, por que não, planejar o futuro. Não há tabu. Não há definição

1
Direito público e sociedade técnica. Coimbra: Tenacitas, 2008. p. 23.

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