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Universidade Federal da Bahia

Especialização em Estado e Direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais

Pólo Paulo Afonso

Disciplina Direito Civil dos Povos e Comunidades Tradicionais

Estudante: Christiane Rocha Ciovana Falcão

Ilê Axé Omin Mafé

O terreiro Ilê Axé Omin Mafé está localizado no município de Riachuelo, no Vale do
Cotinguiba, em Sergipe. O município tem uma população de 15 mil habitantes e tem
aproximadamente 30 terreiros, além de pessoas com peji em sua residência. Os rituais fazem parte
do cotidiano do município, e inúmeros espaços públicos são utilizados pelo MAF para realização de
trabalhos. A casa se autodenomina como de ketu, embora cultive entidades de caboclos, marujos,
pretos velhos, e entidades de tradições como: angola, gege e nagô. Possui 30 anos de existência e
mais de 25 barcos.

O terreiro funciona nas dependências da residência da família da Yalorixá, que possui


propriedade de todo o seu território. É comum ver roupas de crianças, netas e bisnetas da dirigente,
secando no varal com d´avôs e outras roupas utilizadas nos rituais e no dia a dia do terreiro.
Diferente de parte dos terreiros em cidades como Salvador, que possuem muito tempo de
funcionamento ou obtêm prestígio por serem singulares em suas tradições, o Omin Mafé não possui
nenhum atributo que o coloque como candidato ao tombamento. É um terreiro relativamente novo;
não é singular em sua tradição; e é dirigido por uma mulher simples, sem contatos políticos. Omin
Mafé também não possui árvores sagradas antigas, ou área de mata, ou cachoeiras, fontes ou olhos
d´água. Não descende de nenhum terreiro “de prestígio”, conforme atualização da ideia de pureza
nagô. Percebendo esses aspectos, considero que o tombamento como ferramenta para legalização de
terreiros é um mecanismo que exclui terreiros dessa conformação, e que mesmo assim precisam de
segurança física e jurídica.

Existe um conflito invisível ainda no que concerne à sucessão. A Yalaxé da casa é uma das
poucas pessoas do terreiro que não pertença à família de sangue da dirigente. Sendo Yalaxé, ela
deve ser a sucessora da dirigente. Um fator interessante é que a ekedi e os ogãs suspensos e
confirmados do orixá da Yalaxé são da família de sangue da dirigente. Como se diz que o orixá é
um aspecto do cavalo e vice-versa, pode-se entender que o orixá da dirigente também fez suas
escolhas.
Não foi possível levantar nenhum documento que comprove posse, posto que esse é assunto
delicado e de íntimo da família de sangue da dirigente.

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