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CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO NO CEARÁ: UMA REVISÃO DO LIVRO

“ISOLAMENTO E PODER: FORTALEZA E OS CAMPOS DE


CONCETRAÇÃO NA SECA DE 1932”.

Aliny Lima de Albuquerque, Carla Vieira Cardoso, Clara Morgana Januário


Sousa, Izadora Zara Araújo Farias, Marinara Nobre Paiva.
Palavras chaves: Ceará. Campos de concentração. Seca. Psicologia dos
desastres e das emergências.

RESUMO

O trabalho em questão traz uma revisão de literatura a partir do livro


“Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de concentração na seca de
1932”, onde relata o movimento dos sertanejos que vivenciaram a seca na
época atravessados por mazelas e sofrimentos. Deste modo, foi e é um fato
importante que não tem lugar nos livros de história e que precisa ser tratado
nos dias atuais, pois trata sobre a historicidade tanto do lugar, dos sertanejos e
quanto desse desastre ambiental que é a seca. Retrata experiências que eles
vivenciaram dentro desses campos de concentração, das condições em que
eles viviam e de como seus rituais colaboravam para a sobrevivência nos
currais. Aponta-se também o trabalho da psicologia dos desastres e das
emergências para com esse fenômeno ambiental.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho faz um recorte do que foi chamado de campos de


concentração do Ceará, que se remete ao período de seca vivido pelos
nordestinos na década de 30. Este é um assunto que não é discutido dos livros
de história do Ceará, nem do Brasil, mas que se trata de uma realidade que
durou cerca de um ano com mais de sete campos de concentração espalhados
em todo o Estado.
A pesquisa tem como objetivo discutir o confinamento dos retirantes nos
campos de concentração como uma forma de controlar o fluxo de pessoas que
chegavam a Capital do Estado. Com a intensificação da seca os sertanejos
buscavam meios de sobreviver e solução era escapar da falta de chuva do
sertão. Desta forma houve um grande numero de pessoas partindo em retirada
para a Capital do Estado, o que gerou na época muito tumulto, desordem e
inquietação da classe dominante que ali vivia, que logo exigiram providencias
por parte do governo.
Em busca de amenizar o caos e atender ao pedido da população o
governo criou o uma política de obra contra a seca, onde o objetivo era prestar
assistência e salvar o que chamavam de flagelados. Contudo a realidade não
condizia muito com os discursos pregados em prol dos sertanejos.
Os campos de concentração transformaram-se em lugares de
aprisionamento para as pessoas que fugiam da seca. Eram localizados em
lugares estratégicos para garantir o encurralamento do maior número de
retirantes, para que estes não chegassem a Capital.
Estes locais eram chamados de currais do governo, estes acabaram
matando mais pessoas do que a própria seca, pois não havia estrutura
adequada nem comida suficiente para a quantidade de pessoas que ali
estavam, sem contar com as epidemias que se alastravam por falta de
saneamento e cuidados médicos.
Os campos de concentração tiveram seu fim logo que começaram as
primeiras chuvas no Sertão, mas não foi capaz de cumprir com seu objetivo
fato que as autoridades do governo preverem deixar esquecido em um
passado que não traz orgulho.

METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão de literatura. Segundo Vosgerau e
Romanowski, “as revisões de literatura podem apresentar uma revisão para
fornecer um panorama histórico sobre um tema ou assunto considerando as
publicações em um campo” (2014, p. 167).
A estratégia de coleta de dados foi realizada por meio da base virtual
Google Acadêmico, encontrando o artigo que trata sobre psicologia dos
desastres e das emergências e a seca, e pela leitura de um único livro,
denominado “Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de concentração na
seca de 1932”, da autora Kênia Sousa Rios.

A justificativa para utilizar apenas uma obra se dá pela escassez de


materiais envolto da temática, já que é um tema onde não há muita produção
científica e pela temática ser muito específico e delimitado, pois se refere a
seca de 1932.

As referências bibliográficas do livro citado são diversas, mas a


impossibilidade de ter acesso as mesmas foi mais um fator para não embasar o
presente trabalho, pois datam das décadas de 50 a 90. Desde modo, não se
tem essas referências de forma on-line, de maneira virtual, e nem material,
onde muitas não tiveram edições e nem houveram novos lançamentos.
Os critérios de inclusão utilizados foram os materiais que abordavam
sobre a seca na década de 30 no Ceará, sobre os campos de concentração no
Ceará e a relação entre seca e psicologia dos desastres e das emergências.
Os critérios de exclusão utilizados foram artigos que tratavam sobre psicologia
e outras áreas, a seca em outros estados e sobre campos de concentração em
outros países.
Os descritores utilizados foram “seca”, “nordeste”, “campos de
concentração”, “Ceará”, “psicologia das emergências e dos desastres”.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
O inverno de 1932 foi esperado com ansiedade pelos sertanejos. Caso
as chuvas não aparecessem, eles iam passar fome, sede, sem trabalho e sem
condições para sobreviver. E elas não surgiram. A única saída que tinha era
migrar à capital em busca de melhores meios de vida. Deste modo, em janeiro
do mesmo ano os primeiros retirantes começaram a chegar à cidade de
Fortaleza. Os trens e estradas de ferros facilitavam que os flagelados
chegassem à Capital, já que essas linhas ferroviárias atravessavam as cidades
de Ipu, Quixeramobim, Buriti, Senador Pompeu, Carius e Fortaleza.
Com o grande movimento de flagelados pelas ruas de Fortaleza, os
burgueses sentiram a necessidade de higienizar a cidade e com isso surgiram
os Campos de Concentrações. Esses Campos de Concentrações do Sertão
foram construídos de modo estratégico, pois foram erguidos nas proximidades
de Estações Ferroviárias. A proposta divulgada sobre os campos de
concentração, segundo Rios (2014), dizia respeito a um projeto de caráter
humanitário, onde o discurso de que seria “um benefício para os famintos da
seca, uma forma de salvar o pobre sertanejo da fome e da miséria” operava.
Um dos principais espaços do aprisionamento de flagelados se dava
nos arredores das estações ferroviárias, ou melhor, nos territórios onde o
sertanejo procurava trocar a poeira das estradas pelas estradas de ferro.
Quando aprisionados nesses campos eles não tinham mais o direito sobre as
suas próprias vontades, eram vigiados e controlados pelo governo. Os
flagelados nomearam esses locais de “currais do governo”, já que existia uma
espécie de comparação entre o gado que era engordado e posteriormente
levado para o abate com a situação dos flagelados, também encurralados e
inseridos em um contexto onde haviam mortes recorrentes.
Entretanto, é possível apontar a partir do arranjo literário de Rios (2014)
que a má alimentação e as condições precárias que existiam nesses locais,
não cessava a fé que os sertanejos tinham. Em cada curral era comum existir
uma capela para as datas comemorativas como batizados, casamentos. Além
disso, ainda na dimensão religiosa, a rezadeira era uma figura importante
nesses espaços e por muitas vezes suas “curas” iam contra o saber científico,
o que evidentemente gerava desacordo com os médicos sanitaristas.
Percebe-se que através da migração dos campos até as cidades os
sertanejos ficaram enclausurados em currais, onde foram violados tanto no que
tange as suas vidas quanto as suas mortes. Em relação a esta última
houveram, segundo o obituário oficial da seca de 1932, 23.000 mortos.
Entretanto não se tinha o controle dos óbitos, onde a maioria foi enterrada
como indigente.
Saber sobre a historicidade do lugar, da época, dos sertanejos e da seca
é de extrema importância para que possamos criar estratégias de
enfrentamento com esse desastre, pois este fenômeno está sujeito a acontecer
muitas outras vezes.
Nesse sentido, segundo Melo (2016), pode-se afirmar que a seca produz
percas reais e simbólicas aos sujeitos que a vivenciam, para além dos fatores
físicos, econômicos e sociais, pois há uma vivência do luto devido aos
impactos psíquicos que ela provoca. Portanto, a psicologia dos desastres e das
emergências pode atuar em “assessoria junto a outros profissionais na criação
de estratégias e projetos [...] em combate à seca [...] e na garantia de direitos
sociais e psicológicos para a convivência com esse desastre” (MELO, 2016, p.
7).
CONCLUSÃO
Dessa forma, conclui-se que os campos de concentração embora não
sejam explícitos em nossa história, existiram e de forma ativa marcaram a
história dos povos sertanejos do Nordeste, em especial os Cearenses na seca
de 1932, como relatado na nossa pesquisa. Assim, é importante que haja mais
produções acerca desse movimento, pois produziria informações necessárias
para o entendimento do fenômeno se tornando possível traçar intervenções em
vários campos de atuação, como na psicologia, mais especificamente na
psicologia das emergências e desastres, pois esse fenômeno sem dúvida
marcou a geração dos povos do sertão e de seus descendentes, onde ficaram
restritos a viver sob vigilância, presos como fossem animais, apenas para ficar
a margem do olhar da burguesia, onde mesmo naquelas condições e naquele
lugar conseguiram construir uma comunidade vivendo em sociedade, assim,
passiveis a sofrimentos não só físicos mas psíquicos, dessa forma a psicologia
poderia por meio desses estudos estar preparada para desenvolver formas de
enfrentamento nessas situações especificas de crise.

REFERÊNCIAS
MELO, Hedyane de Andrade. Impactos da seca: contribuições a
partir da psicologia das emergências e dos desastres. I Congresso
Internacional da Diversidade do Semiárido. Diversidade: aprender o semiárido,
no semiárido, com o semiárido. 2016.

RIOS, Kênia Sousa. Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de


concentração na seca de 1932. Imprensa Universitária. Fortaleza, 2014.

VOSGERAU, Dilmeire Sant’Anna Ramos; ROMANOWSKI, Joana Paulin.


Estudos de revisão: implicações conceituais e metodológicas. Rev.
Diálogo Educ., Curitiba, v. 14, n. 41, p. 165-189, jan./abr. 2014.

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