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Análise Psicológica (1996), 4 (XIV): 589-599

Psicologia clínica da saúde

JOSÉ PAIS RIBEIRO (*)


ISABEL PEREIRA LEAL (**)

1. INTRODUÇÃO 2. A PSICOLOGIA CLÍNICA

A importância crescente da actividade dos A divisão de Psicologia Clínica da American


psicólogos e o esclarecimento através de legisla- Psychological Association (APA), em 1935, de-
ção das práticas das diversas psicologias implica, clarava que «a Psicologia Clínica tem por
uma reflexão aprofundada sobre o que é hoje a finalidade definir as capacidades comportamen-
Psicologia Clínica, que papel cumpre na socie- tais e as características do comportamento de um
dade e na relação com outros saberes e outros indivíduo através dos métodos de medição aná-
lise e observação e, na base duma integração
profissionais.
desses resultados com os provenientes dos exa-
Se nunca é fácil estabelecer conceitos, noções,
mes físicos e história social, fornecer recomen-
ideias, sobre actividades simultaneamente cientí-
dações com vista ao apropriado ajustamento do
ficas e profissionais que emergem e se desenvol- indivíduo» (MacKay, 1975, p. 75).
vem rapidamente, a Psicologia Clínica parece Pierón (1968) esclarecia que a Psicologia Clí-
comportar dificuldades acrescidas já que nunca nica refere-se à ciência da conduta humana ba-
foi una, nem mereceu consensos, e se estabele- seada, principalmente, na observação e análise
ceu de acordo com escolas de pensamento que aprofundada dos casos individuais, tanto normais
cada um aceita, e a partir da qual propõe a como patológicos, podendo estender-se aos gru-
«sua» Psicologia Clínica. pos.
Nesta nossa reflexão propômo-nos, a partir da Garfield (1965), na mesma época, define Psi-
emergência da Psicologia Clínica em geral e em cologia Clínica como o ramo da Psicologia que
particular em Portugal, reconhecer percursos, se interessa pelos problemas de ajustamento e de
traçar linhas de parentesco, mostrar continuida- modificação da personalidade.
des, descontinuidades e rupturas e, sobretudo, Temos assim uma primeira definição de Psi-
propor aquilo que, do nosso ponto de vista, de- cologia Clínica que, temporalmente, se estende
dos seus primórdios até aos anos setenta.
verá ser a Psicologia Clínica para os próximos
Nela a tónica é colocada na análise, observa-
anos.
ção e medição dos comportamentos dos indiví-
duos tendo como pano de fundo e objectivo «o
ajustamento».
(*) Faculdade de Psicologia e de Ciências da Edu-
cação, Universidade do Porto. Hospital Geral de Santo
Esta questão do «ajustamento», que nós diría-
António, Porto. mos discutível e necessitando de referenciações
(**) Professora Auxiliar, ISPA. claras, decorre das próprias condições de emer-

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gência da Psicologia Clínica, nomeadamente a defender o interesse e prevalência de um Método
do trabalho com deficientes. Clínico, alternativo a um método experimental.
A tradição médica assentou nele e relevou-o
2.1. Origens de uma Psicologia Clínica como «O Método» a utilizar nas ciências aplica-
das ao comportamento humano.
A criação da expressão «Psicologia Clínica» é Etimologicamente, «Clínico» tem origem no
atribuída a Lightner Witmer doutorado pela Uni- latim clinicus, emprestado do grego klinicos e
versidade de Leipzig em 1892, que sucedeu a que significa «o que visita o doente na cama»,
Cattell como director do laboratório de psicolo- por sua vez com origem na palavra klinein que
gia na Universidade da Pensilvânia. significa «estar deitado». Segundo Mucchielli e
Em 1896, Witmer apresentou na reunião anual Mucchielli, (1969) o termo tem origem na medi-
da APA, um novo método de investigação e cina onde significa estar à cabeceira do doente, e
instrução que intitulou «the clinical method in salienta, simultaneamente, um atendimento per-
psychology and the diagnostic method of tea- sonalizado e prático.
ching» (Garfield, 1965). A expressão «Clínico» «O Método Clínico tem seu objectivo na co-
sublinha, em oposição ao laboratório, a função lheita de dados precisos a respeito de todas as
prática do psicólogo e o seu empenhamento nu- doenças que afectam os seres humanos, a saber,
ma função social útil. todas as afecções que limitam a vida em seus po-
Esta estabelecia-se na prática nos procedimen- deres, satisfações e duração (...). O Método Clí-
tos de avaliação que eram utilizados com crian- nico prossegue sempre numa série de etapas ló-
ças com debilidades mentais e físicas. gicas. O estudante observador notará algumas
Na época, de resto, a preocupação dos pionei- semelhanças entre o Método Clínico e o Método
ros da Psicologia Clínica com as crianças defi- Científico. Cada um deles começa com dados de
cientes era grande. Disso mesmo dá testemunho observação que sugerem uma série de hipóteses.
a criação, em 1906, do Vineland Institute para a Estas são depois examinadas à luz de novas
investigação do atraso mental, e do Chicago observações, algumas das quais são feitas na
Child Guidance Clinic, em 1909. clínica e outras no laboratório. Finalmente, che-
Em 1916, Poppelreuther, inaugura aquilo que ga-se a uma conclusão que, em ciência, denomi-
se poderia chamar de «readaptação psicológica» na-se teoria e em medicina, diagnóstico opera-
de indivíduos com ferimentos cerebrais. A partir cional» (Isselbacher et al., 1980, p. 4).
do exame das funções mentais, ele estudou as Mas, se o Método Clínico se encontrava ra-
possibilidades de retorno ao mundo laboral des- zoavelmente estabelecido na Medicina, na Psico-
tes doentes, e promoveu-a efectivamente. logia precisava ainda de fazer e ganhar escola.
Se a extensão desta proposta não se pode con- Na Europa, Lagache e Piaget, são dois dos no-
siderar típica da época é, no entanto, relevante mes maiores de um esforço de dotação de crité-
como exemplo daquilo que se pretendia que fosse rios para a constituição daquilo que deveria ser
a Psicologia Clínica: uma actividade prática e útil. uma Psicologia Clínica (Schraml, 1973).
Mas, para lá desta relevância social, sem dúvi- Em particular Piaget, foi um dos arquitectos
da meritória, a Psicologia Clínica precisava de da proposta de uma psicologia assente num Mé-
encontrar o seu estatuto epistemológico que a todo Clínico.
comprometesse como ciência e a alicerçasse No sentido de Piaget, o termo «Clínico» surge
para expressar um método de investigação. Pia-
teoricamente.
get fala de Método Clínico para se referir a um
É nesse sentido que recorre à formalização de
tipo de experimentação que faz emergir o facto
dois conceitos que acabam por ser centrais:
psicológico em que o sujeito observado participa
- o Método Clínico na medida mais ou menos idêntica à do investi-
- o Raciocínio Clínico gador, se bem que essa participação seja uma
participação natural (CERI, 1977).
2.2. O Método Clínico Neste sentido, o Método Clínico acaba por ser
uma interacção participada igualmente por in-
Pode-se remontar à Antiguidade Clássica para vestigador e investigado, na qual o primeiro

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precisa de ir construindo estrategicamente a di- de, validade e fidelidade, que serão umas em
nâmica interactiva, suportada teoricamente mas à Medicina e outras em Psicologia. Em terceiro lu-
medida do segundo. gar integra os dados recolhidos nas duas fases
É ainda neste sentido que vai a definição de anteriores de modo a conhecer adequadamente o
Método Clínico em Psicologia proposto por Thi- estado do cliente ou do doente. Em quarto lugar
nés e Lempereur, em 1984, no Dicionário Geral estima os custos e benefícios da necessidade de
das Ciências Humanas «conjunto de métodos realizar mais testes ou de iniciar o processo de
que visam a aquisição de conhecimentos pela ajuda. Finalmente as várias opções são discuti-
observação de fenómenos, mórbidos ou não, das com o cliente (ou doente) e dá-se início ao
apresentados pelo indivíduo no quadro da sua si- plano terapêutico.
tuação, sem o recurso às técnicas de laboratório
ou de psicometria (testes)».
Mas, lado a lado com esta defesa de um Mé- 3. HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO
todo Clínico surge uma outra bem prefigurada
pela afirmação de Schraml: «O termo Método A Psicologia Clínica desenvolveu-se e adqui-
Clínico cobre todos os procedimentos de obser- riu notoriedade após a Segunda Guerra Mundial
vação directa minuciosa, quer na entrevista, quer
na contribuição para a resolução dos problemas
nas situações experimentais definidas» (situação
das vítimas da guerra, tanto na Europa (Zazzo,
de teste) (1973, p. 9 ).
1968), como nos Estados Unidos da América
Neste outro sentido, o Método Clínico em Psi-
(Garfield, 1965) focando primariamente as per-
cologia, passa a ter uma enorme semelhança ao
Método Clínico que vem da Medicina. turbações mentais (Belar, Deardorff, & Kelly,
Integra eventualmente uma parte do que Pia- 1987; Fox, 1994). Mas, como sempre, podemos
get propunha como «Método Clínico» mas recuar um pouco e referir a utilização de méto-
recorre igualmente às tais situações experimen- dos psicológicos no domínio Clínico já no perío-
tais, que se pretendem tão objectivas quanto do da Primeira Guerra Mundial.
possível. É entretanto importante constatar que nessa
época, a Psicologia Clínica se alicerçava, como
2.3. O Raciocínio Clínico actividade, em torno da medição.
De facto, no período entre as duas guerras a
Igualmente comum à Prática Clínica no Siste- Psicologia Clínica foi, essencialmente, um acan-
ma de Saúde em geral, e comum às disciplinas tonamento de «medidores de funções» ao serviço
que recorrem ao procedimento Clínico, existe o das psiquiatrias e neurologias da época.
Raciocínio Clínico. Daqui decorrem, dois eixos de análise que ha-
Goldman (1991) explica que o Raciocínio bitualmente se constituem, hoje como ontem, co-
Clínico é pouco conhecido mas que se baseia em mo grandes definidores da Psicologia Clínica:
aspectos tais como a experiência e a aprendiza-
gem, raciocínio indutivo e dedutivo, interpreta- - a objectivação e a medida, traduzida nos
ção da evidência que, ela própria varia em aspe- testes
ctos tais como reprodutibilidade e validade, e in- - proximidade e serviço em relação á psiquia-
tuição que, frequentemente, é difícil de definir. A tria.
investigação sobre o Raciocínio Clínico forneceu
alguns dados sobre a forma como este processo 3.1. Objectivação e medida
ocorre.
Este autor, numa abordagem compreensiva, É interessante verificar que a psicotecnia co-
sugere um fluxograma das diversas fases do Ra- mo profissão acaba por ser anterior à da Psicolo-
ciocínio Clínico. Primeiro consiste numa inves- gia. Grace Artur na Enciclopédia de Harriman
tigação das queixas através da análise da história escrevia que: o Psicólogo Clínico observa o
e da observação; num segundo momento recolhe mesmo fenómeno que o Psiquiatra mas o seu fim
dados a partir de técnicas de diagnóstico apro- é de «substituir as normas subjectivas por nor-
priadas ou seja, adequadas em termos de utilida- mas objectivas para acumulação de dados quan-

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titativos obtidos sob o controlo de condições ex- A confusão ao nível do senso comum e, muito
perimentais». mais grave, ao nível dos próprios Serviços de
Nomes maiores da psicotecnia como Binet, Saúde que regularmente relacionam Psicologia
Simon, Zazzo, Thorndike ou Spearman propu- Clínica e Psiquiatria assenta, por um lado, naqui-
seram instrumentos de medida para conceitos lo que são as raízes históricas e condições de
que entretanto construíram, como fundamentais emergência da Psicologia e por outro à própria
ou definidores do funcionamento psicológico. A característica da medicina psiquiátrica que se
inteligência, a memória, a atenção, a percepção apropriou num dado momento do seu percurso
mas também a personalidade passaram a ser de teorias e modelos psicopatológicos.
avaliados em praticamente todos os contextos. A Psicologia Clínica aparece associada ao
É curioso verificar que muitos desses instru- modelo médico a que num primeiro momento
mentos de medida revistos e reinterpretados recorre para se afirmar como ciência. O uso da
exaustivamente, anexados a modelos teóricos ou expressão na sua forma mais populista tende a
reformulados á sua luz são ainda hoje utilizados. qualificar a psicologia que se faz com a pessoas
Embora a psicotecnia não seja pertença da com perturbações mentais (Fox, 1994) e a con-
Clínica, no seu crescimento e desenvolvimento fundir-se com uma psicologia patológica.
entendeu-se frequentemente que o sucesso do Mas se isso é verdade para a Psicologia Clíni-
desenvolvimento científico dos testes psicológi- ca, também é verdade que as respostas encontra-
cos contribuiu para o entendimento que a Psico- das adentro do saber psiquiátrico eram insufi-
logia Clínica se baseava na aplicação destes cientes para compreender os desafios que o sécu-
(Fox, 1982; Garfield, 1965; Shakow, 1975; Shi- lo XX colocavam na ordem do dia. Daí que Psi-
llitoe, Bhagat, & Lewis, 1986; Zazzo, 1968). cologia Clínica e Psiquiatria tomassem em co-
Mesmo que o entendimento actual seja o de mum teorias de personalidade e de comporta-
que a utilização de testes não passa de um mo- mento que autores nas franjas destes saberes,
mento breve na intervenção do psicólogo ou, co- mas também da neurologia, da filosofia e da psi-
mo explica Zazzo (1968), «a estatística rigorosa copatologia, propunham.
implícita na noção de um teste não passa de um O destaque relativo e a importância maior do
controlo, de uma verificação da estatística im- estatuto médico em relação ao psicólogo alimen-
plícita das nossas observações clínicas» (p. 139) tou a confusão ao longo de décadas entre saberes
a Psicologia Clínica foi, durante muito tempo partilhados e práticas profissionais. Ainda hoje,
uma Psicologia Diagnóstica no interior do domí- algumas vezes, parece destacar-se a importância
nio Clínico. da formação em Medicina Psiquiátrica em rela-
Segundo Heiss em 1948 (citado por Schraml, ção à Psicologia Clínica quando o que efectiva-
1973), o termo de Psicologia Diagnóstica foi mente está em jogo é uma formação complemen-
criado pela Escola de Fribourg-en-Brisgau (e de- tar em psicanálise, teorias cognitivas, comporta-
signava uma combinação de Psicologia da Perso- mentais ou sistémicas que nada têm que ver com
nalidade e de tentativa diagnóstica de exploração a formação de base destes médicos.
da personalidade). A indiscutível importância e contributo de
alguns indivíduos de outras formações para a
3.2. Proximidade à psiquiatria Psicologia em geral e a Psicologia Clínica em
particular, nunca teve de ver com o facto de se-
A expressão Psicologia Clínica tem sido utili- rem médicos ou psiquiatras mas com o facto de
zada pelos profissionais de psicologia desde os serem psicopatologistas, investigadores, filóso-
finais do século passado, conferindo à expressão fos das ciências ou psicoterapeutas.
Clínico um sentido próximo do que lhe é dado Mas, é inegável que aquilo que a Psicologia
na medicina, tal como vimos. Esta similaridade Clínica designou como o seu domínio, acabou
de sentido derivou do facto do psicólogo pro- por englobar todas as instituições e consultas nas
fissional tender a trabalhar fisicamente próximo quais se trabalha a título terapêutico ou profilá-
dos psiquiatras, em actividades semelhantes ou ctico com sujeitos doentes, frágeis ou inadapta-
complementares, e pressupunha a adopção, por dos (Wolman, 1965).
parte da Psicologia, do modelo biomédico. Desta forma, a Psicologia Clínica acabou por

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ser a aplicação ao domínio Clínico – pré-estabe- por uma abordagem desenvolvimental no ciclo
lecido e pré-existente – dos resultados e métodos de vida (Bibace & Walsh, 1979); Psicologia
de todas as disciplinas psicológicas fundamen- Clínica da Criança, que qualifica a Psicologia
tais. Disciplinas que, por seu turno, se oferece- Clínica que se dedica às crianças (Bibace &
ram como resultados de trabalhos experimentais Walsh, 1979); Psicologia da Reabilitação que
ou, mais amiúde, como teorias de autor ou de es- qualifica actividades orientadas para a restaura-
cola, sobre o indivíduo, os comportamentos, o ção funcional subsequente a traumatismos ou a
funcionamento psicológico ou a dinâmica deficiência física (Millon, 1982); Neuropsicolo-
interrelacional, a partir da própria experiência gia Clínica (Belar, Deardorff & Kelly, 1987); ou
Clínica ou decorrente da própria teoria. Psicologia da Saúde da Criança (Maddux et al.,
Desai em 1967 num artigo intitulado The 1986).
concept of Clinical Psychology referia que, a Outras expressões tendem a confundir-se com
Psicologia Clínica «em termos de um corpo de a Psicologia Clínica como é o caso, por exemplo,
conhecimentos e habilidades será respondida de de Psicologia Médica, que é um termo geral
acordo com a escola ou escolas de pensamento abrangendo o uso de procedimentos e princípios
psicológico que cada um aceite. Com efeito seria psicológicos no diagnóstico e avaliação da doen-
difícil dizer se a Psicologia Clínica é uma ciência ça física e na avaliação do tratamento (Alcorn,
uma tentativa de ciência ou ainda qualquer outra 1991) e que, em Portugal, tende a ser exercida,
coisa» (p. 38). MacKay (1975), numa obra fun- quase exclusivamente por médicos; Psicossomá-
damental, comentando a afirmação de Desai di- tica, que se interessa pela relação entre variáveis
zia «o quadro não está certamente mais claro ho- fisiológicas e psicossociais na doença, conceito
je em dia» (p. 78) e acrescentava com humor «o que se baseia na ligação entre explicações psi-
que tanto pode ser um inconveniente como uma canalíticas da personalidade e o desenvolvimen-
benção disfarçada» (p. 78 ). to subsequente de certas doenças (Alcorn, 1991),
etc.
Todas estas expressões passíveis de qualificar
4. O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DA práticas profissionais dos psicólogos no Sistema
PSICOLOGIA CLÍNICA de Cuidados de Saúde ou no Sistema de Saúde
em geral podem ser, genericamente, substituídas
O primeiro comité de certificação em Psico- por Psicologia Clínica.
logia Clínica foi estabelecido na APA em 1920, e
interrompido em 1927 devido ao pouco interesse 4.1. A Psicologia Clínica em Portugal
que pareceu despertar (Shakow, 1975). Shakow,
presidente do Committee on Training in Clinical A Psicologia Clínica em Portugal merece esse
Psychology da APA, que em 1947 recomendou o nome de uma forma mais generalizada a partir
primeiro programa significativo de formação dos anos 60 por via das congregações religiosas
em Psicologia Clínica (Garfield, 1965), define que no ano de 1963 criaram o Instituto Superior
esta expressão como «área de conhecimento, e de Psicologia Aplicada (ISPA).
de habilidades (Skills) que visa ajudar pessoas A origem da Psicologia Científica é localizada
com desajustamentos comportamentais ou per- por Abreu (1990) no início do século com a
turbações mentais a alcançar modos mais satisfa- criação dos primeiros laboratórios de psicologia
tórios de ajustamento pessoal ou de auto-expres- experimental nas Faculdades de Letras das
são» (Shakow, 1975, p. 2376). Universidades de Coimbra em 1912-14 e, poste-
A partir de década de 70 ocorreram alterações riormente, na de Lisboa em 1930. Na mesma
importantes na concepção de saúde, por um lado, época refere a criação do Instituto de Orientação
e no papel da Psicologia no Sistema de Saúde. Profissional.
Estas alterações conduziram a uma proliferação Deve ainda ser salientado nos primórdios da
de expressões que pretendiam intitular o profis- Psicologia em geral e de algumas preocupações
sional de Psicologia que trabalhava no Sistema clínicas em particular, a Fundação Calouste Gul-
de Saúde como, por exemplo: Psicologia Clínica benkian através do seu Centro de Investigação
do Desenvolvimento que expressa o interesse Pedagógico que, durante muitos anos foi um pó-

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lo de suporte da investigação aplicada à educa- prestação de cuidados de saúde que se inscrevia
ção e ao desenvolvimento e onde inúmeros psi- no domínio que, então, se intitulava de «psiquiá-
cólogos estagiaram e se formaram profissional- trico»: fora dele a relação entre psicólogos e mé-
mente (Jesuíno, 1994). dicos era inexistente. Shillitoe, Bhagat e Lewis
Nos anos seguintes indivíduos formados em (1986) confirmavam que na década de 70, no
diferentes universidades europeias e americanas, cenário europeu, a relação entre os Psicólogos
e indivíduos provenientes dos cursos de filosofia Clínicos e os Médicos que actuavam fora do
com uma especialização em Psicologia esboçam contexto psiquiátrico era inexistente. A mesma
os primeiros programas de intervenção na área constatação era feita pela APA Task Force on
da Psicologia Clínica. Health Research (1976) para a América do Nor-
A década de 70 vê nascer os cursos de Psico- te.
logia nas universidades estatais, com os primei- Mas a década de 70 marcou uma mudança na
ros licenciados a aparecerem no final da década. maneira de conceptualizar o Sistema de Saúde
Com efeito, nesta década foram inauguradas em em geral e o de Cuidados de Saúde em particu-
Lisboa, Porto e Coimbra as três Faculdades de lar. No cerne dessa mudança estiveram as críti-
Psicologia e de Ciências da Educação que ini- cas ao modelo biomédico (Engel, 1977) que
ciam, simultaneamente, a criação do ensino su- vieram a dar origem àquilo que ficou conhecido
perior oficial em Psicologia e a segunda geração por «Segunda Revolução da Saúde» (Michael,
de psicólogos portugueses. Surge, entretanto, 1982; Ribeiro, 1994). Marcos históricos, for-
uma quinta escola de Psicologia, deste feita, na mais, desta perspectiva são o Relatório Lalonde
Universidade do Minho, e logo a seguir, na déca- (Lalonde, 1974) o Programa Saúde para Todos
da de 80 multiplicam-se os cursos de psicologia no Ano 2000 definido em 1977 (OMS, 1986) e o
em inúmeras escolas privadas. Relatório Richmond (Richmond, 1979).
A diversidade de formações dos professores Simultaneamente reconhecia-se que uma parte
destas escolas implica que, cada uma delas acabe importante dos problemas com que lidava o mé-
por privilegiar áreas bem específicas, teóricas ou dico não-psiquiatra eram de índole psicológica.
metodológicas, que se transformam no cerne Por exemplo, Shillitoe, Bhagat e Lewis (1986)
dos conhecimentos transmitidos na geração se- citam um comentário publicado no Journal of
guinte. the Royal College of General Practiccioners, em
Decorre deste facto, currículos académicos que se diz que «compreendiam claramente que
com diferenças sensíveis de escola para escola. muitos dos problemas que se lhes deparavam
No caso específico do ensino da Psicologia Clí- eram de origem comportamental tratando-os
nica, verifica-se que apenas é comum o tempo de com aquilo que na época era o único tratamento
especialidade: dois anos. Algumas escolas pro- comportamental à sua disposição – drogas psico-
movem o ensino da clínica sem destaque espe- trópicas» (p. 303).
cial para o referencial teórico enquanto outras se O aumento da compreensão de que a acção
repartem por modelos teóricos que se constituem em contexto de cuidados de saúde é uma prática
como áreas ou departamentos relativamente au- cada vez mais multidisciplinar tem conduzido,
tónomos. Assim, e neste último caso, os Psicólo- nomeadamente, a mudanças de terminologia.
gos Clínicos são-no desde logo de acordo com Por exemplo, Enright et al., (1990) referem a
uma teoria. tendência dos serviços públicos para alterarem o
nome de departamentos de «psiquiátrico» para
4.2. A prática da Psicologia Clínica «saúde mental». Também em Portugal, em 1985,
os Institutos de Assistência Psiquiátrica foram
Mercê da sua própria história a Psicologia Clí- substituídos pelas Direcções dos Serviços de
nica exerceu-se tradicional e dominantemente Saúde Mental e os ainda existentes hospitais psi-
em dois contextos específicos e bem diferencia- quiátricos são «a extinguir quando vagarem».
dos entre si: em clínica privada e no contexto Toda esta mudança genérica de pensar a Saú-
hospitalar dos hospitais psiquiátricos. Apesar de deu origem a uma nova área de interesse na
de todas as diferenças que estas situações com- Psicologia que se passou a chamar Psicologia da
portam, ambas se inscrevem num quadro de Saúde (APA Task Force on Health Research,

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1976) e deu origem, em 1978 à Divisão 38 da hospitais psiquiátricos e subordinada aos saberes
APA, que passou a editar, em 1982 o periódico e aos informes psicopatológicos.
Health Psychology. Verificou-se na prática que a mera transposi-
Em Portugal, só em 1995 foi criada a Socie- ção de técnicas de avaliação, investigação e in-
dade Portuguesa de Psicologia da Saúde, embora tervenção subsidiárias da psicopatologia resul-
há pelo menos dez anos já se desenvolvessem tava, quando transpostas para outros serviços de
entre nós actividades académicas e profissionais saúde, descontextualizada, inoperante, e ineficaz.
que se reclamavam da Psicologia da Saúde.
Na sua origem, a Psicologia da Saúde aponta-
va para uma separação entre esta área epistemo- 5. PSICOLOGIA CLÍNICA DA SAÚDE
lógica e a de Psicologia Clínica. No relatório da
APA Task Force on Health Research já referido, O Decreto Lei que institucionalizou a activi-
afirmava-se «The focus of the task force has been dade profissional dos psicólogos no sistema de
on research contribuitions by psychologists who saúde em Portugal intitula-os de Psicólogos Clí-
are working on health and illness problems lying nicos (Dec.-Lei n.º 241/94 de 22 de Setembro),
outside the traditional concerns with mental passando a constituir um dos «ramos» da carrei-
health and mental illness» (p. 269). A palavra ra dos técnicos superiores. Da análise das fun-
«outside» é sublinhada no original. Ou seja, en- ções que lhes são adstritas, tal como podem ser
tendia-se que a intervenção da Psicologia Clínica lidas no articulado do Artº 2.º, na realidade o De-
tendia a centrar-se na saúde mental e nas doen- creto-Lei promove aquilo que poderíamos desi-
ças mentais enquanto o foco da Psicologia da gnar como Psicologia Clínica da Saúde (Belar,
Saúde centrar-se-ia em todas as outras doenças. Deardorff, & Kelly, 1987; Millon, 1982 ).
A evolução da concepção do Sistema de Saú- Ou seja, depois de um primeiro momento em
de em geral, acabando com os hospitais psiquiá- que a Psicologia da Saúde aparecia como um
tricos, passando a área da saúde mental a ser conjunto de práticas do Psicólogo com as popu-
mais um dos departamentos dos hospitais gerais lações sem doença mental, surgiu um outro, de-
contribuíu, significativamente, para diluir esta corrente e natural, em que a tónica era colocada
diferença. De facto, quer na prática quer na filo- na Psicologia realizada em contexto do Sistema
sofia, parece cada vez menos eficaz manter esta de Saúde em geral, e no de Cuidados de Saúde.
divisão conceptual entre Saúde Mental e Saúde A Psicologia Clínica da Saúde foi, assim, de-
Física. finida como a aplicação dos conhecimentos e
Não tanto porque o próprio Sistema de Saúde métodos de todos os campos práticos da Psico-
se encarregou de esbater fronteiras mas porque logia, na promoção e manutenção da saúde física
resultaria bizarro a continuação da manutenção e mental do indivíduo e na prevenção, avaliação
de categorias que são, ou necessariamente inter- e tratamento de todas as formas de perturbação
penetradas ou abusivamente utilizadas. mental e física, nas quais as influências psicoló-
Parece hoje consensual que qualquer alteração gicas podem ser usadas ou podem contribuir pa-
ou perturbação na saúde comporta necessaria- ra aliviar o mau funcionamento ou «distress».
mente respostas concomitantes num registo psi- Considerou-se que a expressão «Psicologia
cológico que, nem por isso, são enquadráveis em Clínica da Saúde, representava uma fusão da Psi-
categorias psicopatológicas e que não podem por cologia Clínica, com o seu foco na avaliação e
isso ser tomadas por objecto de intervenção «à tratamento de indivíduos em distress, com o
parte». Bem pelo contrário, respostas depressi- conteúdo da Psicologia da Saúde» (Millon, 1982,
vas ou de ansiedade, inscrevem-se num quadro p. 1). Como acrescentam Belar, Deardorff e
adaptativo fundamental à situação posterior do Kelly (1987), «obviously, clinical health psy-
indivíduo e à maximização da intervenção dos chologists engage in the same broad range of
Clínicos, sejam Médicos ou Psicólogos. functions as more traditional clinical psycholo-
A emergência e rápida implementação da Psi- gist» (p. 8).
cologia da Saúde é de resto e em si mesmo um Promoveu-se assim a ideia de que estas duas
testemunho óbvio da falência dos modelos tradi- áreas – Psicologia Clínica e Psicologia da Saúde
cionais de uma Psicologia Clínica ligada aos – pudessem ser consideradas como apenas uma

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dado que, «Clinical psychology was misguided e simultâneos que dão conta, antes de mais, da
in its evolution when it followed a dualistic vitalidade da Psicologia. Por um lado temos
mind-body model and there by limited itself to ainda, psicologias metodológicas, que se instala-
ministerig to the “mentally” disordered. Health ram ao longo dos anos como verdadeiras psico-
psychology came into being in great measure as logias profissionais. Lado a lado com a Clínica,
an antidote to the deficits and imbalance this existem psicologias ministradas no ensino regu-
created» (Millon, 1982, p. 9 ). lar que se dizem educacionais, sociais ou organi-
A designação «Psicologia Clínica da Saúde» zacionais de acordo com o objecto o objectivo e
implica, na nossa opinião, a síntese e o compro- o método que escolhem. Por outro lado, temos,
misso entre duas gerações de perspectivas sobre campos de intervenção, cada vez mais extensos e
a Psicologia. específicos em que se exige uma formação espe-
A Psicologia Clínica, como vimos, enuncia no cífica e não só a mera transposição de metodolo-
essencial, uma metodologia. É discutível se um gias gerais. Está neste caso a Psicologia da Saú-
campo aplicado da Psicologia deve designar-se de, mas também a Psicologia Legal, a Psicologia
pela metodologia que promove. Já Schraml Desportiva, a Psicologia Comunitária e muitas,
(1973) afirmava a sua convicção de que não era muitas outras.
feliz escolher um método como critério, tanto A designação de Psicologia Clínica da Saúde
mais que nas ciências aplicadas se utilizam habi- prefigura assim, a aplicação ao campo da Saúde,
tualmente diferentes métodos, e considerava que e ao universo dos Serviços e Sistemas de Saúde
a única opção racional era a de definir em função existentes, de uma tradição de privilégio de uma
do seu campo de aplicação. metodologia: a Clínica.
Mas, como sabemos, foi essa a opção que vi- Convém entretanto esclarecer, que outras fi-
gorou durante décadas, sem nenhum problema liações metodológicas têm seguramente cabi-
grave decorrente até porque toda a Psicologia mento e lugar no extenso campo coberto pela
Clínica se esgotava num campo pré-estabelecido Psicologia da Saúde. O Decreto Lei que entre-
pela psiquiatria. tanto regulamentou a actividade dos psicólogos
As mudanças de que temos vindo a falar e que no Sistema de Saúde, destina-se, sem sombra de
se exprimem em diferentes registos, devem en- dúvida a esta prática profissional.
tretanto ser capazes de implicar uma reconcep-
tualização das nossas categorias. 5.1. Psicologia Clínica versus Psicologia da
De facto, não foram só os sistemas de saúde Saúde
que mudaram. Mudou igualmente a realidade so-
cial em que os psicólogos se movem. Mudaram Nos Países onde a Psicologia Clínica está, for-
os saberes, os discursos e até, muitas zonas dis- malmente, institucionalizada há muito, caso dos
ciplinares. Estados Unidos da América ou da Inglaterra, há
Os anos 80, promoveram e desenvolveram a tendência para defender uma formação específi-
ideia de que era necessário definir as psicologias, ca em Psicologia da Saúde em oposição às exis-
aplicadas a campos de intervenção específicos, tentes para a Psicologia Clínica: é o caso, por
aquilo que nós designamos como psicologias te- exemplo, de Belar, Deardorff, e Kelly (1987) e
máticas, ideia partilhada, aliás, por outros auto- de Matarazzo (1987). Sherr (1996) refere figura-
res (Fox, 1994; Fox et al., 1982; Matarazzo, tivamente uma relação entre problemas e inter-
1987). Como defende este último num texto cu- venções feitas no Sistema de Saúde, do modo
jo título é sugestivo – There is only one psycho- apresentado na Figura 1.
logy, no specialities, but many applications –, e Nesta matriz, a área A refere-se a problemas
utilizando como exemplo o campo da Saúde, psicológicos com intervenção psicológica. A
«the term health is an adjective that defines the área B refere-se a problemas médicos necessi-
arena in which the core knowledge in the science tando de tratamento psicológico. A área C cobre
and profession of psychology is applied and, cuidados médicos para problemas psicológicos.
thus, there is not today a health psychology that A área D abrange problemas médicos com inter-
differes from psychology proper» (p. 899). venção médica. Nesta matriz, a área A é tradicio-
Assiste-se assim a dois movimentos paralelos nalmente concebida como a área pertencente à

596
FIGURA 1
problemas

psicológicos médicos

psicológica A B
intervenção
médica C D

Psicologia Clínica e a D como pertencente à me- uma Psicologia da Saúde dirigida ao sofrimento
dicina. A área C pertenceria à psiquiatria. A área (distress) associado ou concomitante às doenças
B seria, segundo a autora, a área privilegiada pe- físicas.
la Psicologia da Saúde. Diferentes gerações de conceitos, de uma e
Compreende-se a posição destes autores que outra origem, e mesmo externos em relação a
lutam pela institucionalização da Psicologia da estas Psicologias relativizaram os radicalismos
Saúde em contextos onde a Psicologia Clínica destas noções.
está instalada há muito e é difícil introduzir alte- A Psicologia Clínica, mais do que referida a
rações nos programas de formação nessa área. uma população ou a uma nosologia, descreve
Ora em Portugal, talvez infelizmente, a Psicolo- uma metodologia de intervenção que privilegia o
gia Clínica foi institucionalmente definida pelo relacional, quer dizer a qualidade de relação en-
Decreto Lei já referido, em 1994, e são-lhe atri- tre o Psicólogo e o seu utente. Neste sentido, o
buídas funções claramente no âmbito do que é, Psicólogo Clínico, seja qual for o quadro teórico
hoje, coberto pela Psicologia no Sistema de que utilize e que lhe permite referenciar e desco-
Saúde, ou seja, do que temos vindo a designar dificar o que lhe é trazido como sofrimento, mal
por Psicologia Clínica da Saúde. estar ou desadaptação, persegue delineamentos
de intervenção capazes de implicar uma diminui-
ção, desvalorização ou reequacionação dos pro-
6. CONCLUSÕES
blemas que lhe são apresentados.
A característica definidora da Clínica reside
Os percursos e trajectos dos saberes e das dis-
na possibilidade de utilização de todos os infor-
ciplinas que se vão constituindo na Psicologia
como em todas as ciências humanas, acabam por mes psicológicos na resolução de uma problemá-
também ser fruto do seu tempo. tica colocada por um indivíduo, um grupo, ou
Fruto deste tempo, o nosso tempo de partici- uma população, tomado como objecto de análise
pação e intervenção numa Psicologia Clínica que e Intervenção Clínica.
se exerce em contextos de saúde, é a reflexão A Psicologia da Saúde, tal como a pensamos e
aqui apresentada. a praticamos, tem rigorosamente os mesmos ob-
Mais do que fazer um historial, tomar posição jectivos dentro dos limites e das propostas que os
sobre questões de moda ou afirmar a nossa visão contextos de saúde lhe propiciam e oferecem.
do que é ou devia ser a Psicologia Clínica, pre- Falar de uma Psicologia Clínica da Saúde, é
tendemos clarificar o estatuto epistemológico da assim, do nosso ponto de vista, exprimir num
nossa prática. único enunciado uma perspectiva metodológica e
Do ponto de vista que aqui defendemos a dis- uma perspectiva contextual, que eventualmente
cussão de uma Psicologia Clínica versus uma em anos vindouros se tornará redundante ou
Psicologia da Saúde é uma discussão encerrada. obsoleto.
Já não faz (se é que alguma vez fez) sentido, Não o é entretanto, e ainda, neste final de sé-
opor uma Psicologia Clínica dirigida a quadros culo em que se assiste, simultaneamente, a uma
psicopatológicos e centrada na doença mental, a implementação notável da Psicologia Clínica da

597
Saúde e a uma confusa mixogenização de Psico- Fox, R., Barclay, A., & Rodgers, D. (1982). The foun-
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No primeiro caso temos um processo de cres-
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cimento e adaptação que pressupõe vitalidades, Wolman (Ed.), Handbook of clinical psychology
maturidade e, por isso mesmo, rupturas com (pp. 125-140). New York: McGraw-Hill Book
propostas inúteis ou anquilozadas em territórios Company.
restritos. Goldman, L. (1991). Quantitative aspects of clinical
No segundo caso temos uma mera transposi- reasoning. In J. Wilson, E. Braunwald, K. Issel-
bacher, K. R. Petersdorf, J. Martin, A. Fauci, & R.
ção de teorias, técnicas e instrumentos pensados Root (Eds.), Harrison’s principls of internal medi-
num contexto especifico para outro radicalmente cine (12th Edition). New York: McGraw-Hill, Inc.
diferente. Isselbacher, K., Adams, R., Braunwald, E., Petersdorf,
Inevitavelmente que consideramos que esta R., & Wilson, J. (1980). Harrison’s principls of
segunda perspectiva, que alguns pretenderam internal medicine (9th Edition). New York:
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lachaux et Niestlé. Health Psychology instead of Clinical Psychology,
because this one was misguided in its evolution when
it followed a dualistic mind-body model and there by
RESUMO limited itself to ministering to the mentally disordered.
The recent Portuguese Law defining the functions of
No presente artigo, após explicarmos a evolução da Clinical Psychologist surpass the dualistic mind body
Psicologia Clínica das suas origens até ao presente, de- model and came into being in great measure as an
fendemos que a Psicologia da Saúde e a Psicologia antidote to the deficits and imbalances created by the
Clínica atingiram um ponto de fusão que é fruto das biomedical model. Then, when we call «Clinical Psy-
mudanças sociais e políticas e, principalmente das mu- chologist» we, really are calling «Clinical Health Psy-
danças ocorridas no campo específico da saúde. As- chologist».
sim, embora o título profissional do psicólogo que Key words: Clinical Psychology, Health.

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