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Análise do sujeito segundo Gesell (A criança em crescimento)

Segundo esse autor, uma criança de dez anos, devido aos seus numerosos contatos com
o ambiente adulto, essa mais se parece com um adulto em formação. Sua individualidade
está tão bem definida e seu discernimento de tal modo amadurecido que pode-se considerá-
la uma pré-adolescente. As diferenças sexuais são bem pronunciadas e a psicologia da
menina difere-se significativamente da do menino.
A criança de dez anos é calma e despreocupada, embora atenta. Tem perfeito domínio
sobre si e suas técnicas; age sem dificuldade, trabalha com rapidez e o exercício do cálculo
mental estimula-a agradavelmente. Revela talento para dividir seu tempo e sua energia. Seu
comportamento no geral e sua orientação em relação à família são mais apurados.
A criança nessa idade, tendo já consolidadas certas técnicas visuais, manuais e
laríngeas, é capaz de atender tarefas visuais e sustentar, ao mesmo tempo, uma conversa.
Isso a torna receptiva à informação social, a um alargamento de idéias e preconceitos, tanto
bons quanto maus. Sua capacidade de compreensão dos problemas sociais, às vezes, é
passada despercebida. Seu senso de justiça é razoavelmente crítico. É capaz de comparar o
comportamento dos pais com o dos pais dos amigos. Freqüentemente, suas observações são
sensatas.
Aceita, calmamente, obedecer ordens dos pais sobre seu comportamento. E tem
consciência do outro tanto quanto de si.
A criança de dez anos já nos indica razoavelmente que homem ou mulher será. As
aptidões ficam mais claras, em especial nas artes criativas. O comportamento sociopessoal
se revela como finura de caráter, elegância de conduta, capacidade diretiva, percepções de
relações interpessoais e um grande número de características da personalidade que
interessam ao diagnóstico de seu potencial e sua carreira futura. Apresenta também,
capacidade de comando.
A criança de dez anos é capaz de dedicar-se a uma causa e ao culto de um herói. É
capaz de inspirar-se por lealdade de grupo. Aprecia o sentimento de solidariedade e sabe
guardar um segredo do grupo. Tem atração pelos mistérios, conspirações, práticas de magia
e o culto ao herói. O romantismo e o amor são desdenhosamente rejeitados pelos meninos.
Os meninos exprimem os seus sentimentos de camaradagem para com outros meninos,
lutando, empurrando-se e trocando socos uns com os outros. Agradam-lhe os jogos de
grupo.

Conclusão: O sujeito apresenta diversas características da descrição da idade de dez


anos, tais quais gosto por jogos de grupo (o jogo de taco observado, possuía dois jogadores
e uma extensa platéia); percepção das relações interpessoais (o sujeito observado
reconhecia que era adversário do outro participante do jogo, e que este era o seu
adversário); domínio das técnicas ( o sujeito manejava o taco com precisão de movimentos
e sempre acertava a bolinha); atender a tarefas enquanto, ao mesmo tempo, entabula uma
conversa ( o sujeito conversava o tempo todo com o adversário e a platéia enquanto fazia os
movimentos de acertar a bolinha com o taco); capacidade de comando ( o sujeito manda
que outra criança lhe traga a bolinha que correu para longe); expressão dos sentimentos e
de camaradagem (o sujeito simula um choro e xinga quando erra a garrafa do adversário,
toca-lhe a mão quando do reinício do jogo, logo após o adversário ter feito um ponto e
agradece à criança que lhe trouxe a bolinha extraviada. Ao término do jogo, o sujeito e o
adversário saem abraçados).
Análise do sujeito segundo a Psicologia do Desenvolvimento de Jean Piaget (John H.
Flavell)

Segundo Piaget esse é o subperíodo das operações concretas. A criança nesse período
parece ter sob seu controle um sistema cognitivo coerente e integrado. Dá a impressão de
possuir uma base cognitiva sólida, flexível e plástica, além de consistente e duradoura, com
a qual pode estruturar o presente em termos do passado, sem a tendência constante de cair
na perplexidade e na contradição que caracterizam o pré-escolar. A criança operacional
concreta “se comporta, diante de uma variedade de tarefas, como se uma organização
assimilativa rica e integrada estivesse funcionando em equilíbrio com o mecanismo
acomodativo precisamente ajustado e discriminativo.”
Piaget define cognição como a aplicação, pelo sujeito, de ações reais, quer a algo
presente no ambiente, quer a outras ações do sujeito. Essas ações, no pensamento
operatório concreto são representações internas que, gradualmente se conectam e formam
sistemas de ações cada vez mais complexos e bem integrados. Os sistemas têm
propriedades estruturais definidas. Os modelos adeqüados de cognição são chamados por
Piaget de agrupamentos.
As operações cognitivas abrangem as operações lógicas de soma, subtração,
multiplicação, divisão, pareamento etc; aquilo que Piaget chama de operações infralógicas
relativas à quantidade, mensuração, tempo, espaço etc; e até mesmo operações que se
referem a sistemas de valores e relações interpessoais.
As crianças no período operacional concreto, apresentam certas qualidades cognitivas
generalizadas e mais ou menos intangíveis que sugerem a presença de uma estrutura do tipo
agrupamento. Elas agem sistematicamente, como se suas ações cognitivas tivessem origem
num sistema de ações coerentes e intercoordenado. Suas cognições parecem impregnadas
de uma reversabilidade.
A criança nesse período é mais livre e flexível na composição e decomposição das
classes numa hierarquia. Ela parece disposta a procurar uma hierarquia de classe num
conjunto de objetos. Ela parece possuir uma noção da relação entre as subclasses e a classe
superior que as contém como algo reversível.
Com relação aos componentes pessoais-sociais-afetivos, que abrangem interações e
valores, o caráter sistemático e organizado que a estrutura de agrupamento produz nas
atividades intelectuais, também atinge as ações adaptativas que a criança realiza. Com o
desenvolvimento dos valores morais, normas de conduta moral e a noção de obrigação
moral passam a fazer parte do pensamento da criança, paralelamente às normas lógicas e à
noção de necessidade lógica; o dever começa a se configurar como algo “a priori” e
obrigatório.
Através de intercâmbios repetidos e muitas vezes frustradores com seus colegas, a
criança é obrigada a enfrentar cognitivamente outros pontos de vista e outras perspectivas
que diferem dos seus. A partir desses encontros, ela passa gradualmente de um
egocentrismo estático e centrado para a reversabilidade de perspectivas múltiplas.
“... de um modo geral o agrupamento operacional pressupõe a vida social... O
agrupamento é uma forma de equilíbrio das ações interpessoais e também das ações
individuais...”
Conclusão: A criança operacional concreta “se comporta, diante de uma variedade de
tarefas, como se uma organização assimilativa rica e integrada estivesse funcionando em
equilíbrio com o mecanismo acomodativo precisamente ajustado e discriminativo” (o
sujeito observado demonstrou conhecer as regras do jogo e respeitá-las); operações
infralógicas ( o sujeito tem noção de que possui um adversário e que precisa derrubar a
garrafa do campo deste para ganhar o jogo); estrutura do tipo agrupamento (o sujeito parece
usar a capacidade de medir a distância a que bolinha está da garrafa do adversário com a
força com que bate nela com o taco.)

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