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DENEGRINDO A ARQUEOLOGIA
Alunos:
Beatriz Dias da Silva
Lucas Renan Lobato Lima da Silva
DENEGRINDO A ARQUEOLOGIA
Todavia, no interior das senzalas, onde Alves não conseguia monitorar todas as
ações de seus escravos, a limpeza possivelmente fugia ao seu controle. A norma
estabelecida era subvertida e os escravos viviam de acordo com as normas de suas
próprias culturas, na medida do possível. Souza (2011) infere que essa “sujeira” presente
nas habitações poderia tratar-se de uma “desordem positiva” (Douny 2005 apud Souza
2011), o entendimento de que a sujeira, a desordem, seria um sinal de vida.
Talvez o que falte para a arqueologia ser de fato denegrida, para que se torne uma
ferramenta política, seja sua apropriação por movimentos negros, ou ao menos o
desenvolvimento de trabalhos colaborativos junto às comunidades afrodescendentes, e
não apenas de intelectuais e líderes religiosos. E que tais indivíduos não façam parte
somente nas fases de análise e interpretação dos resultados, mas que seja realizado um
trabalho de fato multivocal, onde tanto os pesquisadores quanto os membros da
população, religiosos e estudiosos façam parte de todas as etapas do projeto, inclusive do
planejamento de estratégias de apropriação do patrimônio.
CONCLUSÃO
Austin (1970 apud Marcondes 2004) diz que quando examinamos que palavras
devem ser utilizadas, em que situação, não estamos apenas analisando as palavras e seus
significados, mas sim a realidade sobre a qual falamos ao utilizar tais palavras. Dessa
forma, pode-se dizer o termo escravo reduz o ser humano a um ser que não decide e não
tem consciência sobre sua própria vida, sendo totalmente passivo e submisso, “SER
escravo”. Já o termo escravizado “modifica a carga semântica e denuncia o processo de
violência” (Harkot-de-la-taille e Santos, 2012), evocando as relações de poder entre duas
ou mais pessoas e principalmente expondo a arbitrariedade dessa condição, “Se ESTÁ
escravizado”.
De acordo com Latour (2012) toda ciência é também um projeto político, sendo
assim, a arqueologia da diáspora africana no Brasil enquanto projeto político busca a
compreensão dos impactos e inter-relações do deslocamento forçado dos africanos para
o território nacional, para que aqueles que pesquisam e se interessam pelo assunto
possam olhar com mais atenção para a escravidão, seu legado e implicações no tempo
atual (Souza, 2011).
REFERÊNCIAS
DE SOUZA, Marcos André Torres. 2011. A vida escrava portas adentro: uma
incursão as senzalas o Engenho de São Joaquim, Goiás, Século XIX. In: Revista
Maracanan, v. 7, n. 7, p. 83-109.