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RESUMO
Um estudo de possíveis fugas sob o maciço de concreto da barragem de Tapacurá (PE) foi realizado por meio
de técnicas isotópicas baseadas em isótopos estáveis ambientais. Para isso, é feita a comparação entre as concentrações
de isótopos estáveis (deutério, 18O e 13C) nas amostras de água coletadas a montante e a jusante da barragem. A análi-
se dos resultados encontrados mostrou que a água a montante da barragem tinha uma origem diferente daquela cole-
tada a jusante, indicando dessa forma a inexistência de fuga através da formação geológica da fundação da barragem.
Palavras-chave: fuga; barragem; isótopos.
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A Aplicação de Técnicas Isotópicas ao Estudo de Fugas na Barragem de Tapacurá, Pernambuco
Característica Valor
Comprimento total da barragem de 252 m
concreto;
Comprimento total do dique fusível 128 m
BARRAGEM AUXILIAR 2 em terra;
Altura máxima da barragem de 35 m
concreto;
JUSANTE
Largura do coroamento da barragem 4,5 m
de concreto (trecho não-vertedor);
BARRAGEM AUXILIAR 1
Volume de concreto; 105 m3
RIACHO Volume armazenado na cota máxima 170´106 m3
BARRAGEM
PRINCIPAL (110 m acima do nível do mar);
FONTE
Volume armazenado na cota do 95´106 m3
vertedor central (cota 103 m);
Área máxima do reservatório; 1300 ha
Área do reservatório na cota 103 m; 970 ha
RESERVATÓRIO
DE TAPACURÁ Descarga máxima regularizada; 2,3 m 3/s
Capacidade máxima de fornecimento 20´106 m3/d
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RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 6 n.3 Jul/Set 2001, 143-147
C amostra - C SMOW
d= ´ 1000 (1) Figura 2. Força magnética atuante sobre uma carga
C SMOW positiva móvel, provocada pela aplicação de um campo
magnético perpendicular à direção do deslocamento.
Na Equação (1), C amostra e CSMOW são, res-
pectivamente, a concentração do isótopo escolhido onde q é a magnitude da carga, v sua velocidade e B
na amostra e no padrão médio da água do mar. A a magnitude do campo magnético atuante, cujas
análise por espectrometria de massa apresenta uma linhas de força formam um ângulo q com a direção
exatidão de ± 2 ‰ para o deutério e de ± 0,2 ‰ do deslocamento da carga. A força Fm é perpendicu-
para o 18O. lar tanto ao campo magnético quanto à direção do
deslocamento. Dessa forma, caso o campo magnético
seja dirigido perpendicularmente ao deslocamento
A espectrometria de massa da carga, esta executará uma trajetória circular, com
a força magnética fazendo o papel de força centrípe-
O emprego da análise isotópica em hidro- ta. Logo, o raio dessa trajetória circular é calculado
logia e outras aplicações está condicionado à identi- segundo (Kaplan, 1956; Tipler, 1995):
ficação e quantificação dos isótopos componentes
de um certo elemento químico. Como o comporta- p v2 mv
Fm = qvB sen =m \r = (3)
mento químico dos isótopos de um mesmo elemen- 2 r qB
to é virtualmente idêntico (posto que esse
comportamento está condicionado à estrutura da Fica evidenciado, a partir da Equação (3),
última camada de eléctrons, que é a mesma para que o raio de curvatura de diversas cargas de igual
todos os isótopos de cada elemento), investigações magnitude e velocidade, sujeitas ao mesmo campo
acerca da presença e quantidade desses isótopos magnético, irá variar linearmente com cada massa.
não podem ser feitas pelas técnicas químicas con- O espectrômetro de massa é um aparelho no qual
vencionais, como a espectrofotometria de absorção átomos são ionizados (adquirem carga elétrica posi-
atômica ou a cromatografia. tiva por meio de processos físicos que extraem des-
A grande diferença entre dois isótopos de ses átomos um eléctron), são acelerados em um
um mesmo elemento está em suas massas atômicas. campo elétrico até que atinjam uma certa velocida-
Assim sendo, o processo óbvio para separação de de, entrando finalmente em uma câmara evacuada
isótopos deve levar em conta essa diferença de onde atua um campo magnético perpendicular ao
massa. O diferente comportamento de átomos de seu deslocamento. As trajetórias dos íons são en-
massas diferentes é enfatizado num instrumento curvadas segundo suas massas e eles são a seguir
idealizado há mais de três quartos de século, o es- coletados por detectores de íons. A posição em que
pectrômetro de massa (Kaplan, 1956; Oldenberg e um íon é detectado é função de sua massa. A quan-
Holladay, 1971). tificação dos íons de um elemento permite então
O funcionamento do espectrômetro de que se estabeleça sua composição isotópica.
massa se baseia no princípio da força magnética
que é exercida sobre uma carga em movimento, Coleta e tratamento das amostras
indicada na Figura 2 (Romer, 1964).
Essa força Fm tem módulo dado por: Os pontos de coleta de amostras estão indi-
cados na Figura 1. A Tabela 2 descreve sumaria-
Fm = qvB sen q (2) mente as características desses pontos.
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A Aplicação de Técnicas Isotópicas ao Estudo de Fugas na Barragem de Tapacurá, Pernambuco
Tabela 2. Características dos pontos de coleta de Tabela 3. Análise isotópica – Valor d (em ‰) para
amostras. deutério e oxigênio-18.
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-4
O presente trabalho foi realizado dentro do Pro-
-6
P4 grama ARCAL (Arreglos Regionales Cooperativos
-8
Linha meteórica para la Promoción de la Ciencia y la Tecnologia
-10
Nucleares en America Latina) XVIII da Agência
-12
P3 Internacional de Energia Atômica, ao qual os auto-
-14
-3,5 -3 -2,5 -2 -1,5 -1 -0,5 0 0,5
res agradecem o importante apoio recebido.
d 18O( 0/00)
REFERÊNCIAS
Figura 3. Comparação entre as relações dD/d18O para
diversas amostras e a linha meteórica.
BOWEN, R. (1994). Isotopes in the Earth Sciences, Chapman
& Hall, Londres, 647 p.
Tabela 4. Análise isotópica – Valor d (em ‰) para 13C.
DOMENICO, P. A. e SCHWARTZ, F. W. (1990). Physical
and Chemical Hydrogeology, Wiley, New York, 842 p.
Amostra d13C FAURE, G. (1986). Principles of Isotope Geology, Wiley,
A -8,94 New York, 589 p.
A1 -18,18 KAPLAN, I. (1956). Nuclear Physics, Addison-Wesley,
Reading, 770 p.
G -9,59
OLDENBERG, O. e HOLLADAY, W. (1971). Introdução à
P1 -17,30
Física Atômica e Nuclear, Edgard Blücher, São Paulo,
P2 -14,02 371 p.
P3 -15,16 ROMER, A. (1964). The Restless Atom, Dover, New York,
198 p.
HCO3- dissolvido é biogênico e não devido ao equi- TIPLER, P. (1995). Física – volume 3, Guanabara Koogan,
líbrio com o gás carbônico presente na atmosfera, Rio de Janeiro, 340 p.
como aparentemente é o caso para as outras duas
amostras. Fica, assim, confirmada a hipótese pela The Application of Isotopic Techniques to the
qual a água dos córregos, fontes e piezômetros a Investigation of Leaks at the Tapacurá Dam,
jusante da barragem principal não é a mesma do
Pernambuco
reservatório.
ABSTRACT
CONCLUSÕES
An investigation of the possible leaks under Ta-
· A origem da água a montante da barragem pacurá Dam’s main concrete body was carried out using
foi diferente daquela coletada a jusante, in- isotopic techniques based on environmental isotopes. For
dicando dessa forma a inexistência de fuga this purpose, concentrations of stable isotopes (deute-
através da formação geológica da fundação rium, 18O and 13C) in samples collected upstream and
da barragem. downstream from the dam were compared. The analysis
· Embora tenha essa sido a primeira aplica- of results showed that water upstream and downstream
ção da análise de isótopos estáveis em hi- from the dam came from different sources. This fact sug-
drologia na Região Nordeste do Brasil, gested that there were no leaks through the geological
parece evidenciada a viabilidade de seu formation under the dam’s foundations.
emprego em estudos de fugas de barra- Key-words: leaks; dam; isotopes.
gens.
· A técnica se mostrou suficientemente preci-
sa para permitir também a determinação da
origem de águas subterrâneas; numa região
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