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A eterna finitude do imortal

Júlio Miguel de Aquino C.C


Era outono. Um velho chorava em baixo de uma árvore. E pra ser sincero
havia realmente motivos para chorar: ele tinha acabado de descobri que a
morte existe. A ideia é repugnante - Pensava ele, soluçando. – Como tudo pode
terminar, se eu nunca comecei? É injusto! Brinquei tanto, dancei e me diverti e
nada disso é importante pra mim, estou alheio a tudo isso, parece que não era
eu! Parece um estranho que morreu a muito tempo, sobrando apenas
lembranças vagas e desconexas. e por que diabos vou descobrir isso agora? .
Se ao menos eu lembrasse daquelas sensações prazerosas, nada ! No fundo
eu lembro que gozei, mas são lembranças distantes, parece memórias de
outras pessoas, parece que tudo quanto eu vivi, de repente sumisse perante o
mistério da vida.

Tudo bem. - disse o velho, respirando fundo. - Não me custou nada para
nascer, logo morrer depois de algum tempo é lucro, não! Mas isso não me
conforta, eu queria algo mais, uma explicação bonita, uma palavra amiga,
porém, os homens também já morreram, essas árvores não falam comigo,
imóvel deve se sentir a soberana, fria, sem sentimentos - Miséria! Estou
arengando com uma árvore!- disse em meio a um sobressalto. - Tenho que
manter a calma, afinal, todos morrem, mas o que isso melhora na situação?
todos fazem muitas coisas em comum, e mesmo assim tudo que fazem não se
toca, vivi entre milhares de pessoas, e não conheci profundamente nenhuma! A
pessoa que mais amei e que julgava conhecer, depois de muito tempo, com
uma simples frase, me surpreendeu, eu também não a conhecia
profundamente, pra ser sincero, eu tentei tanto conhecer os outros que não
tentei me conhecer, não fui apresentado pra mim mesmo! Os homens não
conhecem uns aos outros, são indiferentes, no entanto, ensaiam uma
solidariedade consigo mesmo ofertando ternura a o próximo. Não! Estou muito
pessimista, afinal, eu ainda sou novo, mas acho que isso não me conforta,
quantas vezes ouvi falar, fulano morreu novo, cicrano tinha a vida toda e etc, eu
me pergunto que vida toda é essa? Quanto mais os homens vivem mias vazios
ficam, a acumulação de experiências parece um balão daqueles de festa,
crescem por fora, mas não guardam nada de exclusivo dentro, apenas ar, ar
esse que logo se mistura ao ar exterior e não sobra nada: A bola murcha. Então
na verdade eu nem nasci ainda, foi tudo um ensaio! Eu apenas estava me
preparando para o grande espetáculo da vida: Viagens, contemplações,
leituras, conversas, flores, montanhas, pensamentos e tudo mais.

O velho então levantou com dificuldades e começou a dançar. Dançou e


riu, girando em torno da árvore, dava altas gargalhadas e gritava palavras sem
sentido. Ali mesmo em meio aqueles passos desordenados, em meio a
sorrisos, aquele velho morreu. Ninguém nunca mais ouviu falar naquele velho.
Mas que isso importa? Ele descobriu a sua eternidade antes de morrer, e não
importa quantos minutos durou essa eternidade, eternidade é sempre
eternidade, quando a encontramos ela sempre se fará presente. Ela é o eterno
no presente, o eterno presente é o maior dos presentes.

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