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O Plano de Ensino PDF
O Plano de Ensino PDF
O PLANO DE ENSINO: PONTE ENTRE O IDEAL E O REAL1
É comum hoje entre os educadores o desejo de, através da ação docente, contribuir
para a construção de uma sociedade democrática, justa e solidária. No entanto, muitos ainda
não se deram conta do tipo de opção teórico‐pedagógica que os levará à efetivação deste
propósito. Na maioria das vezes, o modelo pedagógico assumido, no planejamento e na sala
de aula, valoriza, sobretudo os conteúdos e conhecimentos a ser transmitido, o que caracteriza
ainda entre nós a educação tradicional. Nestes moldes, o ato de planejar tem sido restrito à
organização do ensino para que o aluno adquira conhecimentos, bastando para isso que sejam
determinados de maneira específica, os objetivos, as condições do ensino e os critérios de
avaliação.
Sob a influência de um planejamento normativo, onde os objetivos e estratégias são
formulados a partir de um quadro teórico desvinculado do contexto, a ação docente vai se
desenvolvendo sem que o professor se dê conta dos diferentes tipos de influência que sofre,
de ordem pedagógica técnica, filosófica e política.
O PLANO DE ENSINO ARTICULADO COM O PLANO GLOBAL DA ESCOLA
Para uma ação docente pautada na reflexão‐ação‐reflexão, o plano de ensino não se
esgota nele mesmo, mas apoia‐se numa opção de sociedade, de pessoa e de educação
articulado com o plano global da escola. Nessa perspectiva o que fazer na sala de aula não é
uma questão meramente didática, pois se aprofunda na reflexão sobre o próprio papel da
escola, sobre a relevância dos conteúdos e sobre a atuação do professor. Assim o plano de
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Texto extraído do livro Dialogando com a Escola de autoria de Ana Maria Bezerra de Almeida (et. al.),
Fortaleza, Edições Demócrito Rocha, 2002.
ensino pode ser encarado como elemento concretizador do que é definido no plano global da
escola.
Para tanto é imprescindível a compreensão de que isso só será possível a partir das
mudanças de caráter amplo, envolvendo toda a realidade escolar. Nesse sentido é necessário
aclarar uma teoria educacional para a constituição de um referencial teórico comum, capaz de
manter a organização e a coerência entre os elementos de mudança a ser realizada. Isso não
pode ser feito sem que sejam considerados os componentes socioculturais e as preocupações
práticas e normativas que apontem para intervenções na realidade. Esses componentes
apresentam‐se como parte integrante do plano global, em que, de forma coletiva e em
primeiro lugar, é construído um marco referencial que explicita a visão da comunidade
educativa a respeito da realidade (marco situacional); a realidade que se pretende com o
trabalho desenvolvido na escola (marco doutrinal) e a opção que se faz da educação e de
escola, capaz de viabilizar a realidade pretendida (marco operativo). (Gandin, 1985).
Toda a prática tem um componente ideológico, em
conseqüência, as decisões, a execução e planejamento do fazer
pedagógico estarão comprometidos com os pressupostos que
dinamizam e sustentam essas ações. (SILVA e BOHN, 1986:43)
Na descrição do modelo de elaboração do planejamento participativo, feita
anteriormente, percebe‐se o caráter político do projeto pedagógico, em especial no marco
referencial, onde, com os olhos na realidade, é elaborado um marco doutrinal, no qual se
projeta a sociedade pretendida com o trabalho que se desenvolve na escola, e, mais ainda, são
feitas opções com relação à educação e a escola capazes de viabilizar a referida sociedade,
como utopia, no marco doutrinal. Percebe‐se nesse tipo de proposta pedagógica, uma
projeção do que se pretende com o trabalho escolar. Aí está a dimensão política, aliada À
pedagógica, tendo em vista a intervenção na realidade.
ELABORAR PLANO NUMA DIMENSÃO COLETIVA
A elaboração coletiva de planos supõe a existência de um grupo, num processo de
construção de idéias e de práticas, supõe ainda que cada pessoa realize tarefas concretizando
os valores e princípios propostos coletivamente. Trata‐se, pois, do engajamento dos setores
inerentes à escola e dos professores articularem seus planos de trabalho com o plano global da
escola.
No caso da escola onde não há um plano global torna‐se necessário os professores e
demais servidores que a compõem (supervisão, orientação educacional, secretaria) definirem
um referencial de apoio, contendo em sua estrutura uma visão de sociedade e de pessoa
humana, valores e princípios que se desejam com o trabalho pedagógico a ser desenvolvido.
Por isso, uma das dificuldades a se considerar no redimensionamento da ação docente é essa
falta de planos globais nas escolas, já que sem uma âncora, as relações educativas passam a
ser exercidas num vazio conceitual que atribui ao papel do professor um caráter reducionista.
Assim, conclui‐se que o plano de ensino, que dimensiona a ação docente, não pode ser
tratado de forma isolada dos demais elementos curriculares e do plano global da instituição, o
que comprometeria o processo educacional escolar. A prática docente deve, pois, estar
ancorada na proposta pedagógica do estabelecimento de ensino, no paradigma de educação
assumido pela instituição, no regimento escolar, na filosofia da escola e nos demais elementos
de caráter teórico e metodológico que caracterizam o plano global.
Ancorar o plano de ensino no plano global da escola é ressignificar o ato de ensinar
atribuindo‐lhe o caráter transformador. Nessa perspectiva, também os elementos do plano
assumem um novo significado: os objetivos delimitados para a disciplina ultrapassarão o
âmbito instrucional e servirão como meio para que os macro objetivos, definidos no plano
global escolar, sejam alcançados; as metodologias serão dimensionadas de modo a favorecer
o desenvolvimento de pessoas críticas e participativas, priorizando o envolvimento dos alunos
e a livre expressão de idéias; a ênfase sobre os conteúdos será substituída pela relevância
desses no sentido de propiciar a leitura da própria realidade na qual os educandos estão
inseridos; a avaliação será somente dirigida para que o aluno obtenha uma nota, mas assumirá
um caráter diagnóstico, revelador de como os alunos estão interagindo com os conteúdos
propostos, no sentido de fazê‐los avançar no próprio processo educacional, como sujeito e
parte de um grupo.
Trata‐se, pois, de assumir com convicção as opções do plano global, vivenciando no
cotidiano da sala de aula estratégias e atitudes capazes de aproximar o real do ideal. Para isto,
torna‐se imprescindível que se trabalhe de forma planejada, coletivamente, ampliando‐se a
participação, também dos educandos, na definição dos objetivos, das metodologias, dos
recursos didáticos e das formas de avaliação. É assim que, através do ato de planejar, os
professores adquirem instrumentos para reinventarem a escola.
O PLANO DE ENSINO
É necessária a compressão de que o plano de ensino só se concretiza considerando‐se
a realidade da sala de aula e as possibilidades dos alunos. É no plano que se pensa em formas
de motivar os alunos, aproveitando temas de relevância social e assuntos que fazem parte do
seu cotidiano.
É essencial também desmitificar o planejamento como um documento que só serve
para a gaveta, colocando‐se em evidência o seu papel em se tratando de preparar o trabalho
docente. É nessa perspectiva que planejar deixa de ser um ato chato, burocrático e
desvinculado do chão da sala de aula. Por isso, o primeiro é sempre a definição de objetivos
coerentes com interesses e possibilidades dos alunos, em seguida são definidos os meios para
alcançá‐los, as metodologias, técnicas, recursos didáticos, tempo e formas de avaliação. São
esses elementos que também vão dar suporte para que o professor realize a reflexão sobre a
sua prática, daí a importância de se fazer registros sobre as experiências bem‐sucedidas, sobre
as dificuldades encontradas sobre o nível do envolvimento dos alunos. É essa reflexão que irá
permitir o planejamento ser reelaborado, atribuindo‐lhe um caráter dinâmico e aberto a novas
possibilidades. O plano de ensino elaborado no início das aulas pode servir como um
documento pronto a ser apresentado à escola, no entanto, o planejamento é um ato contínuo,
sempre pensado e elaborado de acordo com o interesse e a dinâmica da turma. O plano de
ensino é, pois, a base para o planejamento de aulas, daquilo que será realizado
cotidianamente.
Planejar, no entanto, não é um ato isolado, e preciso que o professor se perceba como
alguém que integra um grupo que tem em comum o próprio contexto escolar e os objetivos
educacionais a ele pertinentes. Daí a importância das reuniões para planejamento, da
conversa com o coordenador pedagógico, que tem como função ajudar o professor a tornar o
seu plano coerente com a proposta político‐pedagógica da escola. Aproveitar as reuniões para
discutir com colegas, para definir atividades também é muito útil.
Na realidade, em nosso país, muito professores precisam trabalhar em várias escolas
para garantir a sobrevivência, por isso nem sempre um plano detalhado é possível. No
entanto, planejar é necessário. Um professor sem um plano de aula é como um navegador
sem uma carta náutica, à deriva, sem saber aonde ir nem em qual porto ancorar.
Muitos professores já perceberam que planejar não significa empregar tempo
detalhando aspectos do plano, e conseguem realizar seu planejamento em poucos minutos, já
que o plano de ensino tem uma vinculação efetiva com o que irá ser vivenciado no decorrer do
ano escolar.
Com um plano de ensino bem definido, restará ao professor planejar diariamente,
considerando apenas os ajustes em termos de material didático, procedimento metodológico,
textos e outros, de acordo com o que a dinâmica da sala de aula for manifestando. É essa
flexibilidade do planejamento que permite à avaliação cumprir o seu papel como reguladora
do processo de aprendizagem, já que as dificuldades manifestadas pelos alunos nas avaliações
retomar os conteúdos ou variar a metodologia. A avaliação passa a ser concebida como um
instrumento a serviço de quem ensina e de quem aprende, fornecendo subsídios para o
planejamento do professor e para a orientação dos estudos dos alunos.
É interessante também reservar tempo para pesquisa, para a busca de informações em
várias fontes, em especial em periódicos destinados aos profissionais da educação. A partir das
pesquisas e leituras, o professor poderá ampliar as possibilidades didáticas e o seu material de
apoio, bem como terá acesso a novos conhecimentos que irão enriquecer o seu referencial
teórico‐metodológico e a compressão de seu papel como educador.
Enfim, reforçar a convicção de que o ato de ensinar inicia‐se bem antes do início da
aula, através do planejamento, e continua depois, através do movimento de reflexão sobre a
ação e da redefinição de novos caminhos.
Referência Bibliográfica
GANDIN, Danilo. Escola e transformação social. Petrópolis, Vozes, 1991.
GANDIN, Danilo. Planejamento como prática educativa. São Paulo, Edições Loyola,
1985.
DALMAS, Angelo. Planejamento participativo na escola. Petropólis, Vozes, 1994.
DEMO, Pedro. Particpação e conquista. São Paulo, Cortez, 1988.
VIANNA, Ilca Oliveira de Almeida. Planejamento participativo na escola. São Paulo,
EPE, 1986.
Interagindo com a prática
1. Em que aspectos do seu plano de ensino o projeto político pedagógico de sua escola
é considerado?
2. Para você, qual o significado do plano de ensino?
3. O seu plano de ensino tem relação efetiva com o seu trabalho em sala de aula.
4. Como você realiza o planejamento diário? Que dificuldades encontra? Que aspectos
do planejamento considera positivo?
5. Em que medida o seu plano de ensino colabora para a qualificação dos processos de
ensino e aprendizagem?
Diferença entre planejamento e plano
Este é apenas um detalhe. Mas ele pode ter algumas implicações importantes no
desenvolvimento do nosso trabalho. Por isso é bom clarear a diferença.
Chamamos de planejamento o processo de tomada de decisões sobre a ação.
Processo que num planejamento coletivo envolve busca de informações, elaboração de
propostas, encontros de discussão, reuniões de decisão, avaliação permanente.
Chamamos de plano o documento onde se registra por escrito, segundo um
determinado roteiro, as decisões tomadas no processo de planejamento. É feito para ajudar
a memória do processo. Passa a ser papel que se consulta durante a realização da ação.