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FUNDAMENTAL I
2014
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Trabalhar o Patrimônio Cultural dentro das escolas é extremamente necessário para o
fortalecimento das relações dos cidadãos com suas heranças culturais, e assim estabelecer um
vínculo com estes bens, com a responsabilidade pela valorização e preservação do Patrimônio, e
desta forma também fortalecer sua prática para a cidadania.
No Brasil é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN que cuida
do Patrimônio Cultural, tendo ele surgido como secretaria durante o governo Vargas. Um órgão
que tem uma atuação em concretizar o reconhecimento pela sociedade de seu Patrimônio Cultural
e tem como instrumento para esse fim as ações educacionais para que isso se efetive. Desta
forma, elaboraram um Guia Básico de Educação Patrimonial, contendo diversas propostas para o
desenvolvimento de ações que auxiliem e contribuam para o reconhecimento das pessoas no
referente às questões do Patrimônio cultural.
Assim, no presente trabalho, pretende-se discutir o conceito de Educação Patrimonial e
observar subsídios para a implementação de ações de reconhecimento do Patrimônio Cultural nos
anos iniciais da educação básica.
E para o debate sobre o tema é de extrema importância definir conceitos relacionados aos
espaços e sua relevância como lugares de memória, sendo eles de importante significado ao fazer
parte da memória coletiva de um determinado grupo. A memória de um passado comum e de
uma identidade, que faz com que um grupo se sinta pertencente a aquele lugar. Segundo Sandra J.
Pesavento, memória é a “presentificação de uma ausência no tempo, que só se dá pela força do
pensamento – capaz de trazer de volta aquilo que teve lugar no passado” (PESAVENTO, 2002).
Ao se contemplar um determinado espaço, ele evoca lembranças de um passado que,
mesmo distante, tem o poder de produzir sensações e sentimentos que funcionam em um reviver
de momentos e fatos ali vividos que tendem a explicar e fundamentar uma realidade atual.
Memória que se desperta através de monumentos, lugares, pessoas, entre diversos outros fatores,
que são capazes de fazer observar e sentir a forma de vida de uma época. Cada fator traz em si,
algo muito além do material de que é composto, mas também, e principalmente toda uma carga
de experimentos e significados que ali foram vivenciados.
E na busca pela coesão, pelo passado comum e pelo sentimento de pertencimento, ao se
basear em uma trajetória comum, o lugar pode diversas vezes reescrever seu passado, em uma
constante junção de fragmentos e de sua reorganização. Desse modo, “cada geração reconstrói
aquele passado e o sistematiza em uma narrativa”, como salienta Sandra Pesavento:
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[...] uma cidade inventa seu passado, construindo um mito das origens, descobre pais
ancestrais, elege seus heróis fundadores, identifica um patrimônio, cataloga monumentos,
transforma espaços em lugares com significados. Mais do que isso, tal processo
imaginário de invenção da cidade é capaz de construir utopias, regressivas ou
progressivas, através das quais a urbs sonha a si mesma. (PESAVENTO, 2002).
Essa história comum que passa a pertencer às gerações futuras. E as memórias dos
integrantes de uma sociedade são e estão ligadas diretamente às construções que sinalizam um
passado comum.
Deste modo, todos os estudos que se referem ao patrimônio cultural devem valorizar o
comum a um determinado grupo social, em certo tempo e espaço. Patrimônio que compreende
três importantes categorias: uma que engloba os elementos naturais e o meio ambiente; outra
referente ao conhecimento, o saber e ao saber-fazer; e por último uma categoria que trata mais
objetivamente do patrimônio histórico, que reúne um grande conjunto de elementos de artefatos e
construções referentes de uma relação do homem com seu meio como fruto da transformação de
elementos da natureza. Françoise Choay, referindo-se ao patrimônio histórico, afirma:
Para a autora, a noção de patrimônio necessita ir além de uma mera concepção de ser
apenas uma coleção estática de objetos.
Um bem que se denomina de valor patrimonial vem acompanhado de uma atribuição de
sentidos ou significados adquiridos para certo grupo social. É necessário compreender que os
múltiplos bens possuem significados diferentes, dependendo do seu contexto histórico, do tempo
e momento em que estejam inseridos. Significados que também sofrem variações conforme os
mais diversos grupos sociais, econômicos e culturais, mesmo que em muitos aspectos o contexto
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possa ser o mesmo, pois, conforme assevera Roger Chartier, todo receptor é, na verdade, um
produtor de sentido, e toda leitura é um ato de apropriação. (CHARTIER, 1990)
O IPHAN trabalha na proteção dos bens patrimoniais do País, por meio de uma legislação
específica, preparando técnicos e realizando tombamentos e restaurações que garantem a
permanência da maior parte do acervo arquitetônico e urbanístico brasileiro, bem como do acervo
documental, etnográfico, das obras de arte integradas e dos bens móveis. Em sua luta pela
proteção do patrimônio cultural, estendeu sua ação à proteção dos acidentes geográficos notáveis
e das paisagens agenciadas pelo homem (IPHAN, 1999).
Quando, porém se trata sobre o tema referente à Educação Patrimonial, percebe-se que
sua discussão está distante ou até mesmo ausente da sociedade, e mais ainda do cotidiano escolar.
Só em 1983 que se iniciam efetivamente as ações de Educação Patrimonial por ocasião do 1º
Seminário sobre o “Uso Educacional de Museus e Monumentos”, no Museu Imperial de
Petrópolis, RJ. O princípio básico da Educação Patrimonial:
Uma relação importante na prática pedagógica, pois os temas transversais promovem uma
compreensão abrangente dos diferentes objetos de conhecimento, bem como a percepção da
implicação do sujeito de conhecimento na sua produção. “Por essa mesma via, a transversalidade
abre o espaço para a inclusão de saberes extraescolares, possibilitando a referência a sistemas de
significado construídos na realidade dos alunos” (MEC/SEF, 1997, p. 40).
(...) a educação ou ação cultural para a libertação, em lugar de ser aquela alienante
transferência de conhecimento, é autentico ato de conhecer, em que os educandos –
também educadores – como consciências ‘intencionadas’ao mundo, ou como corpos
conscientes, se inserem com os educadores – educandos também – na busca de novos
conhecimentos, como conseqüência do ato de reconhecer o conhecimento existente.
(FREIRE , 1984, p. 99).
Nesse sentido, o trabalho transversal e interdisciplinar deve ser muito mais difundido nas
práticas pedagógicas. Para se desenvolver um trabalho referente à Educação Patrimonial é
imprescindível estes dois temas sejam aproveitados, resultando assim em um debate
enriquecedor, numa ação integradora das mais diversas áreas do conhecimento, e também de
permitir o desenvolvimento de ações tanto na escola como na comunidade em que se insere.
Referências bibliográficas
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CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990, p.
24.
FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. Rio de janeiro: Paz e terra, 1984.