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Palmas – Paraná
2017
KEYLA SABRINA MOREIRA
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Dra. Laila Maia Galvão
Presidente da Banca
________________________________________
Prof. Ma. Gislaine de Paula
________________________________________
Prof. Dr. Samuel Mânica Radaelli
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar aos meus pais, que mesmo sem entenderem, talvez
uma linha deste escrito, não diminuíram a importância, e com muito carinho e apoio,
não mediram esforços para que eu pudesse chegar nessa etapa.
Aos meus irmãos e toda minha família, que sempre fielmente confiaram em
minha capacidade e estiveram ao meu lado.
Aos meus amigos que me deram muita motivação e sempre entenderam minha
ausência, em especial Joana, Chico, Eduarda, Cíntia, por todo apoio e amizade.
Á professora Laila, pela orientação, por sua grande disposição em ajudar, e todo
seu incentivo e paciência.
Ao corpo docente do curso de direito do Instituto Federal do Paraná, por todo o
caminho acadêmico proporcionado, em especial ao professor Samuel Mânica
Radaelli, que desde o início da graduação foi o grande propulsor e incentivador para
o caminho da pesquisa.
“Nem sempre houve proletários,
sempre houve mulheres.”
(Simone Beauvoir, 1970).
RESUMO
This research offers some links between feminism and criminology, and
perhaps take some steps within feminist criminology within the feminist criminology.
The reason for this is that the topic of punitivism and the expansion of criminal law
has to be tackled. In a specific chapter elucidate the theme of feminism from the
gender point of view, and will present the rupture that this concept provides in
criminolgy and feminism. And finally, taking into account the map of violence and the
whole plot of the Law of Feminicide, we will try to raise theoretical hypotheses in the
confrontation of violence against the feminine gender. He mentioned law will be
examined, considering its positive and negative aspects, as well as its symbolic
effect and the treatment given to the concept of gender.
SUMÁRIO
Introdução .................................................................................................................. 9
INTRODUÇÃO
Capítulo 1. CRIMINOLOGIA
1 CARVALHO, Salo de. Antimanual de Criminologia / 5.ed – São Paulo: Saraiva, 2013, p 46.
2 CARVALHO, 2013, p.23 et seq.
3 BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. [ed.] Instituto Carioca de
Criminologia. [trad.] Juarez Cirino dos Santos. 6ª. Rio de Janeiro : Revan, 2011.
4 BARATTA, idem, 2002, p.9.
10
6 ANDRADE, 1995, p. 28, apud MENDES, Soraia da Rosa. (Re) pensando a criminologia:
reflexões sobre um novo paradigma desde a epistemologia feminista. Tese Dissertação de
Doutorado - Faculdade de Direito, Universidade de Brasília. Brasília, 2012. p. 59
7 “(...) os critérios desiguais de incidência das agências de controle sobre as populações vulneráveis
embora fundamentais para o estudo sobre o crime, não enfrentam questões relativas
ao crime e gênero.
(...) tem início nos anos sessenta do século XX com um dos produtos da
segunda vaga feminista. É nessa altura que surgem os estudos feministas
que Heidensohn (1997) designa por iniciais ou pioneiros e que consistem
essencialmente na crítica aos objectos e métodos da criminologia tradicional
ou ‘malestream’ e na definição de um programa de trabalhos para os
estudos de género na disciplina. 18
Hein de e Carvalho, Salo de. 2011. Tensões entre Criminologia feminista e Criminologia;
Campos, Carmen Hein. 2013. Teoria crítica feminista e crítica à(s) crimonologia(s):estudo para
uma perspectiva feminista;
20 GARCÍA, Carmen Antony. Op., cit., p. 450.
15
21
ANDRADE, Vera Regina de. A soberania patriarcal: O sistema de justiça criminal no
tratamento da violência sexual contra a mulher. Revista Seqüência, nº 50, jul. 2005, p. 71
22 CAMPOS; CARVALHO, 2011, p.146
16
Assim, “ao trazer a perspectiva das mulheres para o centro dos estudos
criminológicos, os estudos feministas denunciaram as violências produzidas pela
forma mentis masculina de interpretação e aplicação do direito penal”.25 Ao
possibilitar que o alvo da análise criminológica fosse ampliado para o próprio
sistema de punitividade, várias correntes se desenvolveram no campo político sob o
manto da criminologia crítica, direcionadas a contenção da criminalização e
superação dos moldes carcerários das penas26.
Ao tomar a complexidade como pressuposto, os alvos de análises também
precisam mudar a direção, mais do que da relação entre vítima e agressor, incidindo
sobre toda a complexidade que existe nestas relações de poder que se estruturam
entre homens e mulheres:
feminista e a criminologia crítica: a experiência brasileira. [ed.] Carmem Hein Campos. LEI
MARIA DA PENHA comentada em uma perspectiva jurídico-feminista. Rio de Janeiro : Lumen Juris,
2011, p. 152.
26 Ibidem, p. 150.
17
27
GARCÍA, 1995, idem.
28 CAMPOS, Carmen Hein. Teoria crítica feminista e crítica à(s) crimonologia(s): estudo para
uma perspectiva feminista, Porto Alegre, 2013, p. 14.
29 MENDES, Ibidem, p.188.
30 Idem, op. Cit.
31 Idem, et seq.
18
com outras ciências, como direito, filosofia, sociologia, psicanálise 32, entre outras,
mas principalmente com as teorias feministas, ou seja, uma construção pelo
caminho da interdisciplinaridade, para assim, poder dar conta da complexidade na
investigação dos fenômenos que originariamente são estudados pelas ciências
criminais. Sobre o assunto no plano epistemológico, Campos e Carvalho afirmam
que:
As consequências dos saberes críticos e feministas são para o pensamento
criminológico arrasadoras e irreversíveis. No entanto é possível dizer que no
plano epistemológico são saberes complementares na desconstrução da
racionalidade etiológica que fundamenta a criminologia ortodoxa e na
ampliação dos horizontes de investigação (objeto) e das formas de
abordagem (método).33
36ZAFFARONI, E.R. Derecho penal humano y poder en el siglo XXI. Conferencias de Guatemala.
Jun, 2016., p.1
20
37LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal. 9. ed. Revista e Atualizada – São Paulo: Saraiva,
2012, p.82
21
Capítulo 2. FEMINISMO
2015, p. 18 et seq.
43 Cf.: Mary Wollstonecraft, A vindication of the rights of woman: with strictures on political and moral
subjects (Nova York, The Modern Library, 2001). Edição brasileira: Reivindicação dos direitos da
mulher: um grito feminista do século XVIII, Editora Boitempo. Edição original é de 1792.
23
44 PINTO, Célia Regina Jardim. Feminismo, História e Poder. Rev.Sociol. Polít. Curitiba, v.8, n.36,
jun. 2010. p.15-23
45
MENDES, Soraia da Rosa, 2012. p. 96.
24
(...) a desconstrução das categorias não significa a sua morte política, mas
sua reconstrução em outras bases. O sujeito feminista que emerge desse
deslocamento não é mais fixo ou rígido, mas contingente. Esse debate tem
importância central na abordagem esboçada nesta tese para uma
perspectiva feminista em criminologia. Esta possibilidade rejeita a
centralidade de um sujeito vitimizado e fundamentalmente marcado pelo
gênero. Ao contrário, requer uma perspectiva multidimensional. 47
O movimento feminista tem uma característica muito particular que deve ser
tomada em consideração pelos interessados em entender sua história e
seus processos: é um movimento que produz sua própria reflexão crítica,
sua própria teoria. (...). Pode se conhecer o movimento feminista a partir de
duas vertentes: da história do feminismo, ou seja, da ação do movimento
feminista, e da produção teórica feminista nas áreas da História, Ciências
Sociais, Crítica Literária e Psicanálise. Por esta sua dupla característica,
tanto o movimento feminista quanto a sua teoria transbordaram seus limites,
provocando um interessante embate e reordenamento de diversas
naturezas na história dos movimentos sociais e nas próprias teorias das
Ciências Humanas em geral.48
49 DAHL, Tove Stang. O direito das mulheres: uma introdução à teoria geral do direito feminista.
Tradução de Teres Pizarro Beleza. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. p.14
50 PINTO, 2010, p.16.
51 ALVES, Branca Moreira & Pitanguy, Jacqueline, 2007, apud LUCENA, Mariana Barrêto Nóbrega
Joan Scott acaba por aparecer mais tarde, com suas contribuições pioneiras
nos anos 80, ao editar a história das mulheres na perspectiva do gênero, porquanto
no contexto do pós-guerra, surge Simone de Beauvoir, uma das mais importantes
teóricas e feministas do século XX, reconhecida mundialmente pela frase “Uma
mulher não nasce, torna-se (faz-se) ”56, a qual inaugura os chamados “estudos de
gênero”.
55
SCOTT, 1990 apud MENDES, 2012, p. 192.
56 Cf: BEAVOUIR, Simone. O Segundo Sexo (1949).
57 NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Aurora / Friedrich Wilhelm Nietzsche; com prólogo de Ciro
Mioranza; tradução de Antonio Carlos Braga. São Paulo: Escala, 2013, p.32.
27
Assim, gender, uma palavra até então usada principalmente para nomear as
formas masculinas e femininas na linguagem, foi apropriada como um termo
contrastante com sexo, designando o que era socialmente codificado como
masculino ou como feminino.60
elaborada pela OIT: “Identidade de gênero é a experiência individual do gênero de cada pessoa, que
pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento. Inclui o sentimento em relação ao seu
corpo, que pode, por livre escolha, envolver a modificação da sua aparência ou função corporal por
meios médicos, cirúrgicos ou outros. Além disso, pode envolver também outras expressões de
gênero, como vestimenta, modo de falar e maneirismos” (2015, p.25).
28
(...) gênero tem sido cada vez mais usado para referir-se a toda construção
social relacionada à distinção e hierarquia masculino/feminino, incluindo
também aquelas construções que separam os corpos em machos e fêmeas,
mas indo muito além. As diferenças ou semelhanças entre os sexos e as
interações e relações de poder entre homens e mulheres são apenas parte
do que é abrangido pelo conceito de gênero assim definido. E, por outro
lado, elas mesmas não podem ser inteiramente explicadas apenas nesse
âmbito, pois estão sempre articuladas a outras hierarquias e desigualdades
de classe, raça/etnia, idade etc.64
62
MENDES, ibidem, p.96.
63 Ibidem, p.94.
64 CARVALHO, Marília. 2012, p. 403.
65 SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004,
p. 136.
66 JESUS, Jaqueline Gomes de. Orientações sobre a população transgênero: conceitos e termos
67
Observa-se que o termo “cis” trata-se de um prefixo em latim que significa “deste lado” (e não do
outro), destinado a pessoas “alinhadas” dentro de seu corpo e de seu gênero, que possuem uma
posição de privilégio em relação as pessoas trans. A nomeação tem um caráter político que visibiliza
um status natural, em resposta ao discurso científico que criou identidades trans, mas não criou
identidades naturais. Cf: KAAS, Hailey. O que são pessoas cis e cissexismo? – Blog Ensaios de
Gênero. Disponível em: https://ensaiosdegenero.wordpress.com/2012/09/17/o-que-sao-pessoas-cis-
e-cissexismo/. Acesso em 11/08/2017.
68 JESUS, Ibidem, p. 14.
69 SAFA, Helen. Women’s Social Movements in Latin America. Gender and Society, v. 4, n. 3,
1990, p. 354-369.
30
Para Pinto (2003) a criação desses espaços institucionais nunca foi uma
questão consensual no interior do movimento feminista. Houve resistências
à incorporação do tema à pauta oficial dos governos e, mais do que isso, a
própria condição de radicalidade de parte do movimento feminista, que
70 SARTI, Cynthia. O feminismo brasileiro desde os anos 1970: revisitando uma trajetória.
Estudos Feministas, v. 12, n. 2, 2004, p. 35-50.
71 MARIANO, Silvana Aparecia. Feminismo e Estado: Desafiando a democracia liberal. Revista
lutava por transformações nas relações de poder, que não poderiam advir
de uma relação de colaboração entre o movimento e o Estado. 76
80 ANDRADE, Vera Regina Pereira. Violência sexual e sistema penal: proteção ou duplicação da
vitimação feminina. Revista Sequência, Florianópolis, nº 33, dez. 1996. p.88
81 ANDRADE, 1996, loc. cit.
33
82 SANTOS, Cecília MacDowell. Direitos humanos das mulheres e violência contra as mulheres:
avanços e limites da Lei “Maria da Penha”. Disponível em:
http://www.londrina.pr.gov.br/dados/images/stories/Storage/sec_mulher/legislacao/texto_direitoshuma
nos_violencia.pdf. Acesso em: 15 ago. 2017.
83
CF: Lei Complementar nº 80, de 12/01/1994
84 Trecho informativo sobre a Secretaria de Políticas para as Mulheres retirado do site
87 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Sistema penal máximo X cidadania mínima: códigos da
violência na era da globalização. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p.112.
88 CAMPOS, Carmen. Op., cit ., p. 18.
89 ANDRADE, 2003, p.110.
36
e nisto percebe-se: ao relacionar somente entre estas duas correntes, que ainda
eram as primeiras à época, não seria possível atribuir uma única vertente política,
tão menos, com propriedade tentar encaixa-las no que se entende hoje por
esquerda e direita.
Exemplarmente, talvez por raiz ideológica se atribuiria o feminismo marxista
com os movimentos de esquerda, pois, os movimentos de ruptura, considerados
revolucionários, de qualquer modo, dificilmente seriam atribuídos à direta ou ao
conservadorismo, porém, como demonstrado, o próprio desenvolvimento do
movimento é complexo e se deu abalizado por vertentes distintas, desde termos
históricos, percebe-se esta confusão em tentar diferenciar ou delimitar, visto que o
próprio movimento das sufragistas (ou sufragettes), caracterizava-se por mulheres
brancas e burguesas oriundas de países capitalistas, e por outro lado, o feminismo
marxista era marcado pelo movimento das trabalhadoras e da tradição socialista, em
que possuía como expoentes nomes como o de Rosa Luxemburgo, Clara Zétkin e
Alexandra Kollontai.
Explica-se: o movimento ainda numa primeira guinada, desenvolvia-se em
ambas perspectivas, tanto das sufragistas como na tradição socialista. Na América
Latina, quando ele começa a se desenvolver, no que quase viria a ser chamado de
“Segunda Onda”, ele já chega com esta perspectiva à esquerda, pois, como elucida
Marília Moschkovich:
LOPES JR, Aury. Fundamentos do Processo Penal / Introdução Crítica. 2ª Ed. – São Paulo:
92
Nítido se faz notar que a Lei Maria da Penha (2006) foi a grande responsável
por trazer ao espaço público o debate e a visibilidade do problema da violência
doméstica e familiar, entretanto, mesmo com o reconhecimento social a nível
internacional do problema:
Brasil. Rev. Saúde Pública, São Paulo , v. 45, n. 3, p. 564-574, Jun. 2011. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
89102011000300015&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 23/08/2017.
40
Neste trajeto a autora sugere que o direito pode ser um lugar arriscado como
arena de disputas, porém também pode ser “mais que um instrumento, um terreno
de conflito, de modo a ser visto não somente como instância que proíbe e censura,
mas também como um discurso produtor de lugares e posições de gênero”100.
Entretanto, quando se analisa a situação em que se encontra o poder instituído no
direito, considerando ser um sistema fechado que se concretizou pelo
97 MENDES, S. R. Feminicídio não é motivo fútil, tampouco populismo penal. Consulex: Revista
jurídica, Brasília, v. 19, n. 439, maio 2015., p. 26-28.
98 SMART, 1999., apud MENDES, 2012, p.203.
99 Idem, ibidem.
100 MENDES, 2012, p.206.
41
105 Cf: GOMES, Luiz F. Feminicídio: O Que Não Tem Nome Nem Identidade Não Existe. Rio de
Janeiro, v. 19, n. 72, p. 191 - 202, jan. -mar. 2016.
106 GOMES, 2016, p. 193.
43
107 CAMPOS, Carmem Hein de; CARVALHO, Salo de. Tensões atuais entre a criminologia
feminista e a criminologia crítica: a experiência brasileira. [ed.] Carmem Hein Campos. LEI
MARIA DA PENHA comentada em uma perspectiva jurídico-feminista. Rio de Janeiro : Lumen Juris,
2011, p. 152
108 MENDES, 2012, p.204.
109 GOMES, ibidem, p. 193.
110 CAMPOS, 2013, p.17
44
Com base no relatório final de 2013 produzido pela CPMI do Senado Federal,
constatou-se que a forma mais grave de violência contra mulheres, até então
alcançado apenas como homicídio, aumentou nos últimos 30 anos, segundo os
dados, “foram assassinadas no país perto de 91 mil mulheres, sendo que 43,5 mil só
na última década. O número de mortes nesses trinta anos passou de 1.353 para
4.297, o que representa um aumento de 217,6%, mais que triplicando”116.
111 MELLO, Adriana Ramos de. Feminicídio: uma análise socio-jurídica do fenômeno no
Brasil. Revista da EMERJ, v. 19, n. 72, p. 140-167, jan./mar. 2016. p. 149.
112 CAMPOS, Carmen Hein de. Feminicídio No Brasil: Uma Análise Crítico-Feminista. Sistema
definições sobre o tema encontradas em Diana Russell y Jill Radford em 1992, Cf: Diana Russel in
RADFORD, Joan. RUSSEL, Diana. Femicide: the politics of woman killing. Preface. New York, 1992.
116 BRASIL, 2013, p. 31.
45
2013.
120
Brasil, 2013, p. 1003 apud CAMPOS, ibidem.
46
Desta forma, os projetos de lei (da CPMI e seus dois substitutivos) e a lei
aprovada objetivaram dar um nome jurídico - feminicídio – a uma conduta
que expressa a morte violenta com características ou contextos especiais,
que em geral, não são observadas em mortes masculinas. Assim sendo,
nominar juridicamente o feminicídio como a morte por razões de gênero foi
uma demanda feminista de reconhecimento da especificidade dessas
mortes. Portanto, o nomen juris através da tipificação penal reflete o
reconhecimento político-jurídico de uma violência específica que é também
uma violação dos direitos humanos das mulheres.136
133 MEDEIROS, Étore; FONSECA, Bruno. As bancadas da Câmara. 18 fev. 2016. Disponível em <
http://apublica.org/2016/02/truco-as-bancadas-da-camara/>. Acesso em 24/08/2017.
134 MILLET, Kate. Política Sexual. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1974., apud MENDES, 2012,
p.202.
135 DE LIMA, Amanda Gabriela Gomes. Uma breve análise do feminicídio como qualificadora
A lei do feminicídio e o nomen juris, bem como, com suas conjunturas citadas
acima, produz uma consequência direta em termos de legislação penal, que é o
efeito simbólico, segundo Carmen Campos:
138 CAMPOS, Carmen Hein de. O discurso feminista criminalizante no Brasil: limites e
possibilidades. 141 f. (Mestrado em Direito) - Curso de Pós-Graduação em Direito, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1998.
139 KARAM, Maria Lucia. Os paradoxais desejos punitivistas e movimentos feministas, 2015, p.
5.
52
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não me peça que eu lhe faça/ Uma canção como se
deve/ Correta, branca, suave/ Muito limpa, muito leve/
Sons, palavras, são navalhas/ E eu não posso cantar
como convém/ Sem querer ferir ninguém.
- A. C. Belchior143
143
BELCHIOR, A. C. Apenas Um Rapaz Latino-americano. Álbum: Alucinação, 1999.
55
própria colocar nome num crime que significa um ponto final num ciclo de violência,
temos de vê-la como um ponto de partida, de vitória, por significar mais uma
conquista dos direitos das mulheres, ainda que tenha seus aspectos negativos, que
por sua vez, também podem ser mutáveis. Pois, diante do cenário exposto, sem
esquecer, que a lei por si só não basta e não acabará com a violência, o que se
apresenta, e se aposta, é num retorno positivo desta, ao se caracterizar como mais
um marco no enfrentamento da violência, que poderá auxiliar na localização do
problema, entendê-lo melhor, e promover mecanismos de combate.
57
10. REFERÊNCIAS
ANDRADE, Vera Regina de. Sistema penal máximo X cidadania mínima: códigos
da violência na era da globalização. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003,
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. [trad.] Maria Helena Kuhner. 2ª. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
CAMPOS, Carmem Hein de. Teoria crítica feminista e crítica à(s) criminologia(s):
estudo para uma perspectiva feminista. Porto Alegre : s.n., 2013.
CAMPOS, Carmem Hein de; CARVALHO, Salo de. Tensões atuais entre a
criminologia feminista e a criminologia crítica: a experiência brasileira. In:
CAMPOS, Carmem Hein. Lei Maria da Penha: comentada em uma perspectiva
jurídico-feminista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 143-169.
DAHL, Tove Stang. O direito das mulheres: uma introdução à teoria geral do
direito feminista. Tradução de Teres Pizarro Beleza. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1993.
HEIDENSOHN, Frances; SILVESTRI, Maria. Gender and Crime. [A. do livro] Rod
Morgan, Robert Reiner Mike Maguire. The Oxford Handbook of Criminology. s.l. :
OXFORD, 1997.
KAAS, Hailey. O que são pessoas cis e cissexismo? – Blog Ensaios de Gênero.
Disponível em: https://ensaiosdegenero.wordpress.com/2012/09/17/o-que-sao-
pessoas-cis-e-cissexismo/. Acesso em 11/08/2017.
MUNIZ, Mariana. Lei Maria da Penha protege mulher trans alvo de violência.
Jun, 2017. Disponível em: <https://jota.info/justica/lei-maria-da-penha-protege-
mulher-trans-alvo-de-violencia-06062017> Acesso em 24/08/2017.
SAFA, Helen. Women’s Social Movements in Latin America. Gender and Society,
v. 4, n. 3, 1990, p. 354-369.
http://www.londrina.pr.gov.br/dados/images/stories/Storage/sec_mulher/legislacao/te
xto_direitoshumanos_violencia.pdf. Acesso em: 15 ago. 2017