Você está na página 1de 10

1

I - Quadro geral da Rússia do final do XIX a 1917:

 Quadro social rural expandido: proprietários de terras e camponeses (80% da população)


– baixos níveis de produtividade, altas taxas de exploração, miséria, fome periódica. Largo
uso do arado e da mão nua do camponês como instrumentos principais do trabalho.
 Presença de antigas tradições religiosas - (Igreja Ortodoxa) mesclando estruturas
hierárquicas com costumes animistas e mágicos da religiosidade popular.
 Presença da Monarquia - Czar – venerado como representante de Deus na terra,
considerado pelos camponeses como chefe todo poderoso e ao mesmo tempo como
bondoso paizinho a quem se devia filial obediência, representado em toda parte, em retratos,
santinhos, quadros, medalhas e estátuas.
 Bolsões de desenvolvimento: modernização capitalista, impulsionado s pela construção de
uma rede de estradas de ferro, sob iniciativa estatal (economia com crescimento médio anula
de 5% entre 1888 e 1913, puxado pela metalurgia, siderurgia, o petróleo e o carvão, fazia
com o aparentemente o império tivesse ganhado dinamismo.
 Progresso e atraso combinando-se mutuamente num processo de desenvolvimento
desigual e de assimetrias sociais.

II - As propostas revolucionárias: Marxistas versus utópicos

 Populistas - Utópicos: julgavam possível uma passagem direta ao socialismo para isso
apostavam nos camponeses – Partido Socialista Revolucionário. A ideia básica era fazer
com que a Comuna Rural, instituição ancestral e igualitária se constituísse como organismo
de base de uma sociedade nova e revolucionária. Assim o Estado seria formado por uma
federação de comunas agrárias, controladas e dirigidas pelos próprios camponeses,
convertidos em senhores da terra, da sociedade e do próprio destino.
 Marxistas – filiados a Internacional Socialista , fundada em 1889 - Partido Social
Democrata: apostavam nos operários e não mais nos camponeses como principal classe
revolucionária. Pensavam que a Rússia devia inelutavelmente passar por uma fase de
desenvolvimento capitalista, e que, portanto, o futuro da revolução repousava na classe
operária em formação. Entendiam que na revolução, primeiro a burguesia realizaria as
tarefas do tempo histórico burguês: república democrática, reforma agrária e soberania
nacional criando melhores condições para que as lutas proletárias pudessem colocar na
ordem do dia a proposta da revolução socialista.–

III - Revolta de 1905

 Revolução que foi um ensaio geral para uma futura sublevação (1917) que teve como meta
fundar uma sociedade nova.

 Grandes movimentos sociais que apareceram de forma imprevista


o Conflito militar no nordeste chinês (Manchuria) com os japoneses, iniciou-se
com o ataque deste a esquadra russa em 1904 levando a adoção da contra ofensiva
czarista que acumulou derrotas e desastres.
o Mortes, medo das mortes, desabastecimento, desorganização dos circuitos
econômicos se somavam ao descontentamento crescente da população que não
sabia seque o que na verdade estava em jogo.
o Num cenário de insatisfação e de protestos foi organizado na capital São
Petersburgo uma grande passeata, pacifica, com a finalidade de reivindicar e
propor o diálogo às autoridades. Em vez de conversa receberam bala, foram
2

massacrados – domingo sangrento. Provocando pavor, surpresa, indignação e


revolta.
o A partir dai, ao longo de 1905, o império foi estremecido por 03 grande ondas de
greves operárias: a de janeiro, em protesto contra a brutal repressão a passeata, a
de maia e de junho, centra em reivindicações sindicais e políticas, e finalmente, a
de setembro e outubro, quanto organizações populares pretenderam, sem êxito,
confrontar-se com o governo.
 As inovações mais radicais desses movimentos vieram das formas de
lutas adotadas, em especial, a greve política de massas e das formas de
organização, os soviets (Conselho) de representantes.
 As camadas médias urbanas constituíram as suas associações formulando
seus interesses específicos e um programa liberal democrático.
 Os camponeses, também começaram a entrar em ebulição formando
associações e invadindo terras, inclusive, organizando em julho de 1905 o
seu Primeiro Congresso com representantes de 22 províncias no qual
exigiram a nacionalização da terra e a eleição de uma Assembleia
Constituinte.

 Acuado o regime czarista começou a negociar: estabeleceu um armistício com os


japoneses e, em outubro de 1905, editou um manifesto em que prometeu concessões,
entre as quais a convocação de eleições para um Parlamento (Duma).
 Os movimentos e organizações mais radicais, como os soviets de São
Petersburgo ainda tentaram continuar a luta em ritmo ofensivo. Foi em vão.
A convocação de uma greve geral, em outubro, resultou em fracasso,
ensejando uma contra ofensiva que desmantelou o soviet e prendeu
suas lideranças.
 Em todas as partes, as lutas começaram a refluir, registrando o impacto
das promessas do Czar e, principalmente, o alívio suscitado pela suspensão
da guerra.

 Contudo, apesar do fracasso, novas questões vieram para o campo do movimento


revolucionário: a greve política das massas, o papel e a função os soviets, o programa
de nacionalização da terra, a revolta dos soldados e marinheiro, os movimentos
nacionais no interior do império, as ambiguidades dos liberais, a questão das relações entre
guerra e revolução.

 Desdobramentos: o leninismo
o Aos desafios da unificação dos revolucionários Lenin propunha o aumento do
efetivo para conquistar a maioria e assim tomar o poder ou compor um partido
de “revolucionários profissionais”, manejável como um exército de campanha e
que o Estado Maior Militar conduziria a insurreição. O que levou na prática, na
divisão entre os partidários de uma organização democrática (Mencheviques) e os
defensores de um partido centralizado (bolcheviques), o que implicou em severas
divisões quanto as fases, objetivos, táticas e estratégias revolucionárias.

 O fracasso da revolução de 1905 mostrou tanto a uns quanto a outros que, entregue a si
mesma a classe operária não podia ser bem sucedida e que o campesinato não estava
ainda maduro para uma ação política de envergadura.

IV – O movimento revolucionário de 1917


3

4.1 – As jornadas de fevereiro

4.1.1 – A entrada da Rússia na I Primeira Guerra Mundial


 Às vésperas da guerra via-se que os trabalhadores do campo e da cidade animados
por um fervor revolucionário, contudo a ausência de laços comuns os mantinha
divididos.
 Efeitos econômicos danosos: desabastecimento, as carências, a inflação, a escassez, a
desorganização geral da vida econômica, provações sem fim, submetendo o patriotismo
e a paciência a duras provas, fazendo aumentar as hostilidades do povo russo ao czar.
 Diante o alongamento da guerra evidenciou-se que a Rússia não dispunha de meios
para fazer face a uma guerra longa: não tinha um corpo suficiente de reservas, o exército
não podia substituir seus quadros dizimados em 1914, a inferioridade da artilharia russa
mostrou-se catastrófica, pois as fábricas podia satisfazer apenas um terço das necessidades.
 Os camponeses diminuíram o fornecimento de alimentos as cidades, fazendo os
preços aumentarem, os salários não aumentaram e o número de grevista aumentou, o frágil
sistema econômico emperrou.
 Divisão no campo revolucionário: um lado entendia que os russos tinham o dever de
defender seu país, mesmo que ao preço da aproximação provisória do czarismo, outros
pretendiam repelir a invasão estrangeira, mas se recusavam a cessar a lutar contra o csarismo.

4.1..2 – A deterioração do poder político do czar


 A partir de 1914 inicia-se uma moderada oposição ao rei pela Duma e, a partir de 1915,
as greves recomeçam como uma amplitude extraordinária, haja vista que a penúria, a
diminuição do poder de compra, a repressão suscitavam um descontentamento cada
vez mais profundo. Se conflitos dilaceravam o movimento operário, unânimes
estavam no tocante ao ódio ao regime.
 A partir de 1916 a situação começou a se decompor de forma acelerada: reapareceu o
movimento grevista. Entre a elite acentuava-se a desconfiança em relação ao governo,
suspeito de abrigar em seu seio traidores da pátria e na população, e os trabalhadores, em
particular estavam cada vez mais descontentes.
 Realeza (Nicolau II) insensível, burocrata, devassa, impopular e inoperante que não
respondeu aos desafios políticos, sociais e econômicos do conflito só fez aumentar as
hostilidades a si mesma, sendo impotente para frear o movimento revolucionário.
 A responsabilidade pelo fracasso na guerra foi lançada sobre o governo, as
instituições, o regime.
 Em face da hostilidade da classe operária, das dificuldades da vida, da fadiga da guerra, dos
descontentamentos dos soldados, o governo quis enfrentar a situação prendendo os chefes
do movimento operário.
 Em dado momento, todos viram-se irmanados contra um inimigo comum, o Czar. A
crucificação do chefe todo poderoso e do condutor generoso (paizinho) na antiga tradição
do bode expiatório. Assim a sociedade pode se re-encontrar pacificada: do alto comando ao
soldado, do grande capitalista ao humilde operário, do proprietário de terra ao camponês,
poucos exprimiram alguma desacordo com a deposição da dinastia centenária dos Romanov.

4.1.3 - A explosão do movimento revolucionário


 Em meados de fevereiro de 1917as autoridades de Petrogrado instituíram cartões de
racionamento, provocando enormes filas em padarias, mercearias e açougues, ocasionando
aglomerações e incidentes violentos, quebra-quebra.
4

 Seguiram-se manifestações mediante greves e passeatas, de caráter inicialmente


pacíficos, que foram progressivamente aumentando com a participação e organização dos
bolcheviques (3º dia) e ao que aos ímpetos revolucionários dos trabalhadores coincidiu o
movimento dos soldados (noite de 26/27 de fevereiro) que se amotinaram contra os
oficiais.
 Na manhã do dia 27 de fevereiro operários e soldados confraternizaram-se e juntos
formaram um cortejo e avançaram por toda a cidade. Apoderaram-se de armas
depositadas no Arsenal e tocaram fogo no Tribunal Civil, ingressaram no Palácio de
Inverno, saudados pelos sentinelas e o pavilhão imperial foi substituído por uma bandeira
vermelha. Em 05 dias colocou-se um fim ao reino dos Romanov. Iniciando-se o desafio da
composição de um governo provisório a partir da formação dos Soviets.

4.2 – O Governo Provisório


 A dubiedade do poder:
o O governo que pretendia manter as estruturas do Estado e comandar a
administração. Ocupado por homens que pretendia instaurar na Rússia, não
pretendiam subverter a ordem econômica e social, apenas renovar o Estado e ganhar
a Guerra deixando a uma Assembleia Constituinte o cuidado de proceder as
reformas estruturais.

 As expectativas
o O soviet de Petrogrado: poder de contestação, ao qual se aliavam os soviets das
províncias, quase todos dirigidos por mencheviques, socialistas revolucionários ou
socialistas populistas. Consideravam, que por hora, a revolução era por natureza,
burguesa. Tinham por função fiscalizar a ação governamental a fim de que
cumprisse efetivamente as reformas democráticas que permitissem mais tarde a
instauração de um regime socialista.
o Trabalhadores: ansiava por melhoras nas condições de vida, liberdade de
organização e manifestação, jornada de oito horas, salário minimamente
decente, descanso semanal, garantias previdenciárias com proteção contra
desemprego, invalidez e doenças, desejava que os comitês de operários exercessem o
controle sobre a gestão das empresas. No plano politico desejavam a reunião
rápida da Assembleia constituinte e a instituição de uma república democrática.
o Camponeses: Desejavam que se tomasse medidas contra o czar e a antiga
administração e no plano político defendiam uma ampla descentralização,
queriam que fosse assegurada a propriedade privada, segundo o princípio de que a
terra deve pertencer aquele que nela trabalha e os camponeses pobres, a
distribuição gratuita e igualitária de terras devolutas e de parte das grandes
propriedades, feitas por suas próprias organizações que estavam sendo formadas
em cada aldeia, os comitês agrários.
o Soldados: visavam a instituição de abonos às famílias dos combatentes e a
concessão de uma indenização aos feridos e mutilados, além de mudanças no
regulamento interno do exército e da Marinha. O estabelecimento da paz justa e
sem indenizações.
o Estrangeiros (alógenos): fosse reconhecida a sua qualidade de cidadãos da
república nova e o seu direito de pertencerem a uma pátria, mediante a outorga
de direitos culturais, políticos e coletivos.
o Burguesia: Desejava a continuidade da guerra até a sua vitória final e/ou o fim da
revolução, concordava em deixar as reformas estruturais a uma futura
Assembleia constituinte a ser eleita ao final da guerra, cuidava em defender para si
o domínio da economia e o papel de regenerá-la, continuidade do esforço de
guerra e oposição as reivindicações dos operários.
5

 4.3 – O esgotamento

 Atuação limitada
o O Governo preocupado em fazer a vida voltar ao normal, confiando a comissões
(gabinetes) os desafios de preparar a Rússia do futuro;
o Lançava proclamação sobre proclamação para atestar a abolição da antiga ordem
política e jurídica. Contudo, não demitia os antigos funcionários, mas transformava-
os em seus novos comissários.

 Persistência dos problemas econômicos e sociais


o Retorno do aumento dos preços e as filas em estabelecimentos em locais de
venda de alimentos.
o Sob a pressão dos soviets o governo institui o monopólio do trigo e anunciou o
aumento das taxas, aumentou aos produtores em 60% o preços dos cereais e
garantindo-lhes que o monopólio terminaria com a cessação das hostilidades
o Não instituiu nenhuma lei social, deixando os operários o cuidado de negociá-
las com os patrões. Os operários exigiam melhor salários e garantias e as greves
continuavam;

 A questão da permanência na guerra.


o Decisão difícil entre fazer o jogo da burguesia, continuando a guerra
(reconhecimento de sua hegemonia sob o poder doméstico – ignorando os
problemas da revolução) ou concluir a paz (para a adoção de medidas
revolucionárias no país – investindo nas possibilidades da revolução), o que poderia
provocar uma contra revolução (guerra civil).
o Crise de abril (nota de Miliukov – indicando a continuidade da Rússia na guerra,
sem qualquer menção a busca por uma paz, sem anexações ou contribuições – o que
gerou violenta reação dos bolcheviques e dos soviets) que a uma nova coalizão
que se propôs:
 Lutar pela abertura de negociações e pela conclusão de uma paz sem
anexações, nem contribuições, com base no direito de
autodeterminação dos povos;
 Fortalecimento do exército, através de sua democratização, para
prevenir o esmagamento da Rússia e de seus aliados que seria danoso
à causa dos povos e da paz.

4.4 – As jornadas de maio de 2017 a outubro de 1917

 Persistência das crises política com o fracasso da coalização e da politica de paz


(saída sem anexações ou contribuição) diante do apetite das potências imperialistas.
 Acirramento dos conflitos sociais: operários (melhorias do salário de miséria e das
condições de vida, seguro desemprego) versus patrões (protelava e nada concedia),
levando ao recrudescimento das greves, feitas a partir de maio em grande escala, a
qual os patrões respondia com o lock-out, organizando até mesmo a interrupção do
fornecimento de alimentos, matérias primas e salário.
 Ampliação do conflito entre camponeses e proprietários, relativos a posse e a
propriedade da terra, os quais não tendo recebido em partilha, imediatamente e por
decreto, a partir de março passaram a apropriarem-se das terras sem cultura e a
apoderem-se de material agrícola e de gado arrendado, fazendo com que os
proprietários pressionassem, sem sucesso pelo envio de tropas ao campo.
6

 Embates políticos entre bolcheviques, menchevique e soviets e o insucesso do


governo de Kerenski em combater a anarquia da esquerda e a contrarrevolução da direita.
 Um quadro de extrema desagregação, vizinho ao caos, que se realizou a insurreição de
outro e somente a percepção desse processo múltiplo é que permite compreender a rapidez
fulminante que se tornou vitoriosa.

4.5 – A revolução de outro de 1917

 A influência de Lenin:
o Com mandado de prisão desde a jornada de julho, fugiu para Finlândia e de lá
escrevia ao Comitê Central do Partido, estimulando os bolcheviques a tomarem o
poder.
o Sustentava a sua proposta na visão de que a maioria dos soviets e dos elementos
revolucionários dos povos das suas capitais bastava para arrastar as massas e vencer
os adversários, aniquilá-los, para conquistar o poder e conservá-lo. Propunha uma
paz democrática dando imediatamente a terra aos camponeses,
restabelecendo as instituições e as liberdade democráticas espezinhadas por
Kerenski.
o Desde começo de outubro insistia no sentido de que o partido bolchevique,
majoritário em vários soviets, cujo congresso estava programado para ocorrer no
final do mês, formasse um governo revolucionário, responsável apenas perante os
soviets, o qual teria condições de, através de uma legislação adequada,
reconhecer as principais reinvindicações dos movimentos sociais em luta e dar
uma saída revolucionária para a crise que assolara o país.

 Diferentemente das jornadas de fevereiro que se desdobraram numa sucessão de


manifestações, em vários dias, sem uma direção política visível, uma revolução anônima, a
insurreição de outubro foi previamente decidida por um partido - o partido
bolchevique – organizado por instituições sobre o seu controle – principalmente o Soviet
de Petrogrado e seu comitê militar e desencadeada sob a chefa de seu dirigente maior –
Lenin.
o Após as jornadas de outubro, no Congresso do Soviets os bolcheviques assumem o
poder e Lenin, Trotski e Lunacarski surgem como os novos chefes da Revolução.

 O governo bolchevique: formou-se um governo revolucionário formado exclusivamente


composto por bolcheviques, aprovado pelo Plenário, responsável apenas perante a
organização soviética – Conselho de Comissário do Povo, um governo operário e camponês.
 Decreto sobre a PAZ: estabeleceu um armistício imediato e propôs a
abertura de negociações com as potencias centrais que pudesse levar uma paz
justa, sem indenizações ou anexações.
 Decreto sobre a TERRA: aboliu a grande propriedade, sem indenização e
entregou a terra aos comitês agrários.
 Decretos sobre o Controle operário: incorporou as reivindicações dos
comitês de fábricas.
 Declaração dos povos da Rússia: proclamou a igualdade das nações e o
direito de cada uma delas de constituir um Estado nacional próprio.

 A revolução tornou-se politicamente vitoriosa na medida em que soube sintonizar-se


com as aspirações dos grandes movimentos sociais, em especial dos camponeses, que
constituíam a maioria esmagadora da população. Um golpe de sucesso porque soube se
comprometer com uma revolução social em andamento.
7

 A paz de Brest´Litovsk: para salvar o poder e a revolução era preciso concluir a paz
exigida pelos soldados, pelos operários e pelos camponeses. Contudo, os aliados não
aceitavam a ideia de uma negociação, combatiam-na. Assim a 23 de novembro assinaram
um armistício com os alemães.

 Em fevereiro partidos políticos, sindicatos, etc desempenharam um papel secundário.


Organizaram soviets e estabeleceram um regime conforme o ideal de uma parte do
mundo revolucionário. Em outubro, Lenin e seus amigos forçaram os bolcheviques e o
soviets a agir, contudo convêm não esquecer que as massas tinham movimentado antes.
Elas já exerciam uma parte do poder do Estado, tinham confiscado a terra, exercido
controle sobre as fábricas, em resumo, tinham realizado em parte a revolução social e
substituíra uma violência por outra, bem antes de Lenin derrubasse o governo de Kerenski.

 Os revolucionários imaginaram que com outubro a democracia dos soviets instauraria o


socialismo, ao passo que Lenin instituiu a ditadura de seu partido. Contudo, os
vencedores de outubro aprovaram a ação dos operários, dos soldados e dos camponeses que
realizavam a verdadeira revolução social.

V – A Guerra Civil

 Contraposições sociais e econômicas: às mudanças revolucionárias agregou-se a


expropriação dos capitais estrangeiros, abolição das dívidas contraídas pelo regime czarista,
retirada das propriedades da igreja, entre outras medidas o que fez recrudescer os interesses
contrariados.

 Brancos versus Vermelhos: De um lado, os exércitos branco, com o apoio de capitais e


assessores estrangeiros versus o exército vermelho, organizado pelos bolcheviques e
chefiados por Trotski.

 Caos econômico e social: retrocesso econômico


o A guerra civil levou a queda na indústria, na produção elétrica e na produção
agrícola. Epidemias, mortes inúteis e brutalização das relações sociais.

 Comunismo de Guerra: num quadro de miséria sem fim, ocorreu a nacionalização de


todas as indústrias, interditou-se qualquer empreendimento privado e expropriou-se os
camponeses de qualquer excedente – (Comunismo de guerra).

 Finalmente, os bolcheviques ganharam a guerra civil, venceram os contra revolucionários e


as tropas estrangeiras que haviam desembarcado no país foram obrigadas a retornar.
o Fim do comunismo de guerra: Após a conflagração de mais um embate interno,
marcado por revoltas camponesas e greves operárias, os bolcheviques suspenderam
a política de requisição, restabelecendo as relações mercantis no campo e,
num plano mais geral, abandonaram as utopias sinistras do comunismo de guerra
e da militarização do trabalho.
 Era evidente que o Comunismo de Guerra, por mais necessário que tenha
sido, não podia continuar, em parte porque os camponeses se rebelaram
contra as requisições militar de seus grãos, que tinha sido a base dessa
economia de guerra e os operários contra as privações, em parte porque
8

esse regime não oferecia meios eficazes de restaurar uma economia


praticamente destruída.

 Houve uma distensão geral na economia e, gradativamente, foi tomando corpo a


chamada Nova Política Econômica, a NEP (1921)
 Reintroduziu o mercado e recuou do socialismo de guerra para o
capitalismo de estado.
 A necessidade de industrializar maciçamente por intermédio do
planejamento estatal tornou-se tarefa básica para o governo soviético,
mediante uma economia de propriedade e administração socializada.
 Sucesso limitado: dificuldades de investimentos (falta de poupança interna)
e das restrições de fluxos comerciais entre o campo e a cidade.

 Desdobramentos da revolução de outubro de 1917


o Estado único gigante e empobrecido: emergiu um Estado único,
desesperadamente empobrecido e atrasado, mas de enormes dimensões, um sexto da
superfície do mundo, gabavam-se os bolcheviques.
o Isolamento político e econômico: Após a revolução de outubro, a Rússia Soviética
via o capitalismo mundial como um inimigo a ser derrubado pela revolução mundial
assim que possível. Ela viu-se isolada, cercada por um mundo capitalista, do qual
a maioria dos poderosos governos queria impedir o estabelecimento desse
centro de subversão global.

 A busca pelo desenvolvimento autossuficiente: Em um real isolamento do resto da


economia mundial restava a Rússia buscar o desenvolvimento autossuficiente, com o firme
objetivo, adotado pelos bolcheviques de transformar a sua economia e sociedade atrasadas
em avançadas o mais breve possível.

 Desenvolvimento econômico via modernização tecnológica e estímulo a revolução


industrial:
 A maneira mais óbvia de fazer isso era combinar uma ofensiva contra o
atraso cultural das massas, ignorantes, analfabetas e supersticiosas
com uma corrida total para a modernização tecnológica e a Revolução
Industrial.
 Receita para o desenvolvimento econômica – planejamento econômico
estatal centralizado, voltado para a construção ultra rápida das
indústrias básica e infraestrutura essencial a uma sociedade industrial
moderna.

VI – O governo de Stalin

 A defesa da construção do socialismo: Na luta pelo poder, Stalin, com habilidade e


capacidade de perceber as aspirações e dos desejos dos militantes bolcheviques, defendeu a
construção do socialismo – associado por ele à industrialização pesada e a
coletivização do campo.

 Tendo sido vitorioso no Partido, Stalin substituiu a NEP pelos planos quinquenais,
colocados em execução a partir de janeiro de 1930, verdadeira operação militar que um
empreendimento econômico.

 Coletivização forçada do campo:


9

o Verdadeira guerra de Estado contra a população rural, cuja oposição


desesperada dos camponeses para conservar suas terras serviu de pretexto para
Stalin mobilizar milhares de agentes para liquidar os Kulaks (camponeses
proprietários, de no máximo 10 hectares de terra e duas ou três vacas, com mão de
obra familiar, acrescida de um ou dois trabalhadores assaliariados) como como
classe. Oprimidos pelas brigadas de operários (militante do Partido, jovens da
Konsomol – juventude comunista e a GPU – a polícia política, os camponeses
capitularam.
o Sem alternativas diante da brutal repressão os camponeses tiveram que aderir as
fazendas coletivas (kolkhozes) com grande perdas materiais. Embora se
denominassem cooperativas autônomas, eles tornaram-se, na prática,
assalariados do Estado, todos os seus bens passaram para a fazenda, a direção era
indicada pelo partido e os produtos deviam ser entregues ao governo a preços
baixos.

 Industrialização a força imposta de cima pelo Estado, sob o lema do “sangue, esforço,
lágrimas e suor”;
o Política de rápida modernização, implacável e imposta contra o grosso do povo
submetido a sérios sacrifícios, coercitiva.
o Objetivo: criar novas indústrias dando-se prioridades aos setores básicos da
indústria pesada e da produção de energia, com prioridade para os setores de
ferro, aço, carvão e petróleo, construção e grande unidades metalúrgicas, imensas
fábricas de tratos e automóveis, usinas hidrelétricas, ferrovias e canais, além de obras
imponentes como o metrô de Moscou.

 Sacrifícios, crescimento econômico e mínimo social


o Os operários, sem dúvidas, foram os grandes sacrificados com a industrialização
acelerada. Para cumprir as metas dos planos quinquenais, impunha-se aos
trabalhadores índices drásticos de produção e prazos curtos para executá-los.
o Em um país atrasado e isolado de ajuda estrangeira, tal industrialização sob
ordem, apesar de seus desperdícios e ineficiências, funcionou de modo
impressionante. Transformou-se a Rússia numa grande economia industrial
em poucos anos.
o Embora tal sistema tenha mantido o consumo da população em níveis baixos,
assegurou-lhe um mínimo social.
 Deu-lhe trabalho, comida, roupa e habitação a preços controlados (ou seja, subsidiados),
alugueis, pensões, assistência médica e uma certa igualdade e generosamente deu educação.
 A industrialização acelerada, a mecanização do campo, os milhões de
oportunidades na forma de empregos oferecidos aos trabalhadores, o
aumento da qualidade de vida, traduzidos nos índices de saúde e
educação e os novos valores sociais estimulados pelo Estado sustentavam
o mito da “construção do socialismo” e o reconhecimento popular à
liderança de Stalin.

 O preço da construção do socialismo: alegava-se que as dificuldades com o


abastecimento, a falta de bens de consumo e a qualidade sofrível das mercadorias
eram questão de tempo, obstáculos inevitáveis no caminho para o socialismo. O terror
policial e as perseguições políticas tinham por objetivo somente desmascarar e aniquilar os
inimigos do povo e do socialismo, justificava-se.

 A ditadura do Partido
10

o O grande terror sustentou-se na lógica de um partido político organizado nos


moldes leninistas (lógica bolchevique – vontade da maioria – em que o Partido era
tudo, organização que detinha o único saber verdadeiro no qual o indivíduo
nada representa diante da direção coletiva – tradição autoritária) e pela própria
sociedade que participou das perseguições, mobilizando-se para eliminar
sabotadores, espiões e traidores.
o Em contraposição a democracia dentro do partido, a liberdade de expressão, as
liberdades e a tolerância civil os bolcheviques impuseram, pouco a pouco, um
modo cada vez mais autoritário de governo. A própria decisão de lançar a
revolução industrial de cima para baixo, deu-se mediante uma imposição de
autoridade, a liderança política única do partido concentrou em si um poder
absoluto, subordinando tudo mais.

 A autocracia de Stalin:
o O sistema tornou-se uma autocracia, com Stalin buscando impor controle sobre
todos os aspectos da vida e pensamentos de seus cidadãos, ficando toda a
existência destes, subordinada à consecução dos objetivos do partido, definidos e
especificados pela autoridade suprema.
o Para os cidadãos da União Soviética e os comunistas de diversos países Stalin foi o
símbolo da transformação social e do desenvolvimento econômico de um país
que parecia condenado ao atraso, apesar de ter sido o principal responsável pelo
maior massacre político e social visto pelos soviéticos.

VII – Um modelo para o mundo

 Os sistemas políticos do mundo socialista, essencialmente modelados no sistema soviético,


baseavam-se num partido único fortemente hierarquizado e autoritário que
monopolizava o poder do Estado, operando uma economia centralmente planejada e
(pelo menos em teoria) impondo uma ideologia marxista leninista aos habitantes do
país.
 Plano econômico: planificação e centralização das atividades produtivas,
com estímulo a estatização dos meios de produção como forma de garantir o
socialismo.
 Plano político: Existência do Partido único, monopolizando todos os
postos da administração estatal e controlando as diversas instâncias da
sociedade civil, em nome dos interesses históricos do proletariado fez
sucumbir qualquer vestígio de democracia;
 Plano Social: reordenação social com a subjulgação dos camponeses ao
Estado e um processo de mobilidade, promovendo a ascensão social nas
cidades;
 Plano ideológico: Imposição do Marxismo leninismo como única maneira
de pensar, crer e se comportar.

Você também pode gostar