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24/06/2019 ::..O Notícias de Almeirim..

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Edição online semanal

Segunda-feira 24 de Junho de 2019 Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo

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News Letter
NOTÍCIAS CAPITÃO PÁRA-QUEDISTA GEP DR. LUÍS CONTACTOS
FERNANDES
OPINIÃO in memoria COLABORADORES
EUROPA E MUNDO 25-01-2019 - Francisco Garcia do Santos Eduardo Milheiro
Cordenador
ARTE E CULTURA As palavras que se seguem foram escritas sob grande
emoção e comoção, já que tenho o orgulho e tive o João Torres
PALOPS privilégio de, ao longo de quase 40 anos, ter Eurico Henriques
construído, consolidado e mantido uma enorme
Histórias do Marta Milheiro
camaradagem e profunda amizade pessoal com o Luís
Quotidiano Matos Serra
Fernandes.
Questões Oportunas Francisco Pereira
Aliás, devo ao Luís grande parte da minha formação
filosófico-política, mediante livros que me ofereceu, João Chamiço
outros cuja leitura me aconselhou (todos lidos Armindo Bento
DOSSIERS “sofregamente”), inúmeras conversas sobre os valores do patriotismo e do nacionalismo,
bem como formas de os pôr em prática em termos sócio-políticos, e ainda relativamente Eduardo Costa
Autárquicas 2013 ao intrínseco e necessário inter-relacionamento entre “pensamento e acção”. Henrique Pratas

Por outro lado, o que não é (ou foi) de somenos importância, devo-lhe ter-me introduzido Neto Simões
História de Almeirim
e integrado no restricto grupo/tertúlia de grandes intelectuais da “direita nacional” (ante e Alexandre Zagalo
Economia post 25/Abr/1974), do qual sobressaíram: o meu saudoso amigo, camarada e mestre de
Filosofia do Direito e do Estado, Prof. Doutor António José de Brito (um dos mais insignes Pedro Pereira
Ambiente filósofos políticos portugueses do Séc. XX); o destemido jornalista Manuel Maria Múrias Maria do Carmo
(pai), director do primeiro jornal assumida e manifestamente de direita post 25/Abr/1974, Vieira
“A RUA”; o grande poeta Goulart Nogueira (sem menosprezo de outros).
M.Azancot de
Portanto, peço ao leitor releve eventuais excessos de adjectivação, bem como possíveis, Menezes
mas involuntárias, imprecisões históricas, sendo que, caso ocorram, não serão susceptíveis José Janeiro
de adulterar o texto e de distorcer a respectiva “mensagem”.
Francisco Garcia dos
Corria o ano-lectivo de 1981-82 quando Santos
frequentava o 12º ano de escolaridade José António
na Escola Secundária da Cidade Marques
Universitária, em Lisboa. Por ocasião de
eleições para a respectiva associação de Pedro Barroso
estudantes, durante a campanha Jorge Duarte
eleitoral, uma lista nacionalista (a Lista
Patricia Cinfuentes
N) concorrente às mesmas, convidou o
Cap. Pq. Dr. Luís Fernandes para Joaquim Jorge
efectuar uma conferência, aliás muito Manelinho de
concorrida, bem como de grande Portugal
interesse, sobre o nacionalismo, à qual
assisti. No final da mesma troquei Armando Alves
algumas interessantes e simpáticas
palavras com o orador, tendo-se logo
revelado uma empatia espontânea e
natural entre ambos -até porque o Luís
Fernandes tinha uma personalidade
carismática e cativante. A partir de
então começámos a construir e
consolidar uma amizade e camaradagem
para a “Vida”, as quais só se
suspenderam, i. e., ficaram entre
“parêntesis”, com a sua “partida” da
Terra para o Céu -amizade e
camaradagem essas que peço ao
Senhor, que quando decidir “chamar-
me” à Sua presença, me permita reatar
em espírito com o Luís.

O Capitão Pára-quedista miliciano "Cap. Pq. GEP Luís Fernandes"


(graduado) GEP (Grupos Especiais Pára-
quedistas de Moçambique) Luís Fernandes, de seu nome completo Luís Manuel Farinha
Fernandes Caraço, nasceu em Lisboa a 13/Jan/1947 e, por coincidência, faleceu na mesma
cidade a 13/Jan/2019, precisamente no dia em que fez 72 anos.

O Luís foi membro “graduado” da Mocidade Portuguesa e “oficial” da Legião Portuguesa,


ambas à data, e respectivamente, instituições que, embora integradas na estrutura
administrativo-política do Estado Novo e estrutural/hierarquicamente “pseudo”-
militarizadas, na prática eram “apolíticas”. A primeira era mais uma instituição promotora
de actividades desportivas, de acampamentos e marchas ecológicas e histórico-culturai; a
segunda desempenhava essencialmente as funções hoje atribuídas à Autoridade Nacional
de Protecção Civil. Contudo, as mesmas transmitiam aos seus membros valores
patrióticos, de solidariedade nacional e social, bem como de camaradagem pessoal, pelo
que em ambas o Luís, em parte, formou a sua personalidade e, mediante aturado estudo,
adoptou a ideologia política nacional-revolucionária, espírito de serviço à Pátria, à Nação e
ao Povo Português. Mas não se julgue que tal formação resultou de “lavagem ao cérebro”,
típica dos sistemas totalitários (mormente stalinistas) pois, embora talvez a maioria dos
portugueses de hoje ignorem, essas organizações salazaristas eram, por própria vontade
do Ditador, “despolitizadas”. Portanto, o Luís auto-doutrinou-se pela leitura de grandes
autores estrangeiros e nacionais “reaccionários” e “nacional-revolucionários”, e convívio
com grandes intelectuais e artistas da “direita nacional” -até mais à direita do que o
próprio Salazar- como o movimento Integralista Lusitano, no qual pontificaram os
monárquicos nacionalistas e tradicionalistas António Sardinha e Pequito Rebelo, entre
outros.

Em Outubro de 1971, com 24 anos de idade, frequentando o 5º ano da licenciatura em


Ciências Sociais e Política Ultramarina no ex-ISCSPU (Instituto Superior de Ciências Sociais
e Política Ultramarina), hoje ISCS (Instituto Superior de Ciências Sociais), decidiu

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suspender os estudos e oferecer-se como voluntário para o serviço militar obrigatório, e
mais do que provável mobilização para uma das 3 frentes de guerra então travadas nas
ex-Províncias Ultramarinas de Angola, Guiné e Moçambique, o que ocorreu em Julho de
1972.

Se não se tivesse voluntariado para a “guerra”, mediante “adiamentos”, muito


provavelmente, ainda que tendo de cumprir o serviço militar obrigatório, talvez nunca
tivesse sido mobilizado para o Ultramar, pois quando chegasse a sua vez, por certo, já se
estaria em vésperas do “25/Abr/1974”, ou até ocorrido o mesmo.

Assim, contrariamente a muitos (vivos ou mortos) hoje considerados “lídimos defensores


da Democracia e da Liberdade”, e que cobardemente se furtaram ao serviço militar e
eventual mobilização para uma das 3 frentes de guerra (Angola, Guiné e Moçambique)
como refractários, desertores e traidores, e que post 25/Abr/1974, mercê de filiações
partidárias ou oportunisticamente “encostados” ao “poder”, retiraram do Estado grandes
proventos económico-financeiros, o Luís combateu de “armas na mão” pelos seus ideais de
Pátria, de Nação e de Povo Português multi-cultural e multi-racial, nos quais convictamente
acreditava -“Portugal do Minho a Timor”. Daí, não obstante ter sido um herói de guerra, foi
traído pelos militares do MFA (Movimento das Forças Armadas) e votado ao ostracismo
pelo próprio Estado democrático (?) português até à morte.

Uma vez incorporado nas fileiras do Exército em Outubro de 1971, fez o Curso de Oficiais
Milicianos na então Escola Prática de Infantaria em Mafra; depois frequentou o Curso de
Acção Psicológica na então Escola Prática de Administração Militar em Lisboa; em Abril de
1972 foi promovido a aspirante-a-oficial miliciano, tendo sido destacado para o Estado-
Maior do Exército para frequentar o Curso de Especialidade em “acção psicológica”; em
Julho desse mesmo ano, como acima se referiu, foi mobilizado para servir em
Moçambique, tendo-se voluntariado para frequentar o Curso de Instrução de Grupos
Especiais no Dondo (CIGE-Dondo), ingressando a seguir nos Grupos Especiais Pára-
quedistas (GEPs).

Em Setembro de 1972 assumiu o comando do GEP Nº 5, e em Julho de 1973, já como


capitão graduado, comandou o Destacamento dos GEPs em Mangui; em Agosto do mesmo
ano foi para Guro, na qualidade de coordenador das actividades especiais dos GEPs.

O Luís, verdadeiro Soldado (com “S” grande), sempre preferiu o “mato” ao “ar
condicionado”, a sua AK-47 Kalashnicov à “caneta”, o confronto directo com o inimigo às
messes de oficiais (e suas “damas”) nas cidades onde não havia qualquer perigo,
comandando no terreno diversas operações de assalto e de contra-guerrilha de forma
vitoriosa.

Definindo-se a si próprio como “soldado político”, i. e., alguém que não combate
contrariado ou a mando de terceiros, mas fazendo-o voluntariamente e imbuído de um
ideal em que filosófico-politicamente acreditava, auto-confiante e pleno de entusiasmo
guerreiro que “contagiava” os seu “homens”, o Luís tornou-se um verdadeiro “Cabo de
Guerra”, querido pelos seus soldados e temido pelos seus inimigos.

Em Fevereiro de 1974 foi mandado regressar ao CIGE-Dondo, pelo seu novo oficial
superior afecto ao MFA, e em Março regressar à Metrópole para gozar uma licença
disciplinar.

Porém, na noite de 25/Abr/1974, regressou a Lourenço Marques, Moçambique. No entanto,


na Metrópole, i. e., Lisboa, já tinha sido emitido um mandado de captura em seu nome por
ter pertencido à Legião Portuguesa, pelo que cumpriu 5 dias de prisão disciplinar em
Nampula por não ter aderido ao MFA. De seguida, em Julho de 1974, foi dada por finda a
sua comissão de serviço no Ultramar, e regressou a Lisboa para, no seguinte mês de
Setembro, ser “passado” à disponibilidade.

Nesse mesmo mês de Setembro, em vôo comercial da TAP, e fazendo escala em diversas
cidades de países africanos, regressou a Moçambique com vista a, uma vez chegado a
Lourenço Marques (Maputo), contactar vários camaradas dos Grupos Especiais e oficiais
“Comandos” para organizarem e efectuarem um assalto à Prisão da Machava, onde se
encontravam vários presos políticos portugueses, libertá-los, e, de seguida, fugirem todos
para a República da África do Sul.

Contudo, tal não chegou a acontecer, pois traiçoeiramente, em 18/Out/1974 o Luís foi
preso pela Polícia Militar portuguesa e posteriormente entregue aos ”turras” da FRELIMO,
seus inimigos “figadais”, sendo ainda Moçambique parte do território português e
administrado civil e militarmente pelo Governo de Portugal, chefiado pelo então Ten-Cor.
Vasco Gonçalves e sua “guarda pretoriana” revolucionária do MFA, o COPCON (Comando
Operacional do Continente) comandado pelo então Maj. Otelo Saraiva de Carvalho.
Moçambique só se tornou um Estado independente em 25/Jun/1975.

Traído pelos seus supostos camaradas, liderados em Moçambique pelo então Cap. Camilo
do MFA, o Luís foi entregue ao inimigo “turra” da FRELIMO. Passou por vários “campos de
reeducação” (leia-se de “concentração”), tendo assistido a inúmeros fuzilamentos de
militares autóctones portugueses que tinham servido sob o seu comando, e apenas foi
poupado a ser “passado pelas armas” devido, segundo me disse, a não ter sido
reconhecido pelos seus ignorantes carcereiros.

Após a independência de Moçambique, a mundialmente conceituada revista francesa “L


´Express” publicou um artigo sobre os “capitães esquecidos de Moçambique”. Após o
contra-golpe militar de 25/Nov/1975 o Ministério dos Negócios Estrangeiros português
enviou um alto funcionário a Moçambique para libertar os 7 presos políticos militares
portugueses, entre os quais o Luís. No início de 1976 foi libertado com os outros 6
prisioneiros e repatriado para Lisboa. Estava finda a sua abnegada, brilhante e sofrida
carreira militar.

Contudo, como “herança” desses tempos de cativeiro, trouxe a doença que “surdamente” e
ao longo de décadas esteve na origem da sua morte.

Regressado à Metrópole, i. e., Lisboa e à “vida civil”, em termos cívicos, culturais e sócio-
políticos integrou e colaborou até à morte com várias organizações patrióticas e
nacionalistas, e profissionalmente foi solicitador, prof. universitário da “cadeira” de Ciências
Sociais na Universidade Autónoma de Lisboa e, por fim, ainda que sendo um docente e
intelectual muito válido e querido dos seus alunos, por mesquinhez e de novo traído pelos
supostos “seus”, reformou-se mui digna mas pobremente como empregado/porteiro de
uma empresa de segurança privada.

Não resisto a relatar que nas exéquias


fúnebres do Luís (religioso-políticas)
participaram mais de 100 amigos e
camaradas vindos do Minho ao Algarve,
bem como das Regiões Autónomas dos
Açores e Madeira, sendo inúmeras as
“boinas” amarelas dos Grupos Especiais,
castanhas dos Rangers/Operações

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Especiais, verdes dos Pára-quedistas,
vermelhas dos Comandos e dos GEPs, e
pretas dos Fuzileiros. A sua urna,
coberta com a Bandeira Nacional, foi
“carregada em ombros” por vários
amigos e camaradas de “velha” e “nova”
data até à tumba por si desejada, sita
no Talhão da Liga dos Combatentes do
Cemitério do Lumiar, em Lisboa.

O Luís, Capitão e herói de guerra, como


previsto, não chegou a ser agraciado
com uma “Cruz de Guerra” na
tradicional cerimónia de 10 de Junho de
1974, a qual não ocorreu devido à
“confusão” post 25/Abr. Depois, caso se
tivesse reformado como militar, ainda
que eventualmente como oficial mero
“escriba”, teria tido direito a honras
militares com salva de tiros por um
pelotão. Mas como se reformou como
civil, as “balas” foram economizadas
para um escriturário qualquer. Mas
também não fizeram falta, pois a
presença no seu funeral das Forças
"Dr. Luís Fernandes com boina GEP e "asas" Armadas portuguesas que o traíram
de pára-quedista" constituiria uma hipocrisia e um insulto
à sua memória de bravo combatente.

Os seu amigos e camaradas de sempre encarregaram-se de lhe prestar as honras que bem
mereceu e que, embora na sua proverbial modéstia, gostaria de ter.

O lema de vida do Luís Fernandes foi:

“A minha honra é a minha fidelidade”!

Tal lema, que escrupulosa e inquestionavelmente honrou e sempre praticou de forma


intensa e vivida até ao “último suspiro”, é um exemplo a guardar e a seguir por todos os
seus amigos e camaradas: fiel a Deus, à Pátria, à Nação, ao Povo Português, aos seus
ideais, aos seus camaradas e amigos.

Que todos quantos tiveram o privilégio de conhecer o Luís, com ele conviver, merecer a
sua indefectível e sentida amizade e camaradagem, saibam honrar a respectiva memória,
seguindo-lhe o exemplo.

Luís Fernandes: Presente!

Francisco Garcia dos Santos

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