Ao tratar-se desse tema, faz-se necessário, primeiramente, um entendimento do que
seria a nacionalidade, tanto de um estado para com um indivíduo que se encontra dentro deste, seja para com o nacional que se encontra em outro país. Nacionais são as pessoas submetidas à autoridade direta do estado, que lhes reconhece direitos e deveres e lhes deve proteção além das sias fronteiras. Nacionalidade é a qualidade inerente a essas pessoas e que lhes dá a situação capaz de localizá-las e identificá-las na coletividade. No exercício do direito de legislação cabe ao estado determinar quais os seus nacionais, as condições de sua aquisição e perda. Trata-se de direito de estado exerce soberanamente, em geral de conformidade com a sua Constituição. Artigo 5º CRCV(Cidadania) A nacionalidade pode ser originária ou adquirida, sendo a primeira a que resulta do nascimento e a segunda que provém de mudança da nacionalidade anterior. Em geral, todo indivíduo, ao nascer, adquire uma nacionalidade, que poderá ser a de seus pais (jus sanguinis) ou do estado de nascimento (jus soli). A Declaração Universal de 1948 reconhece ao indivíduo o direito de mudar de nacionalidade, em virtude da nacionalização. Além da aquisição da nacionalidade pela nacionalização, citam-se ainda como modo de aquisição o casamento e a nacionalização em virtude de formação de novo estado ou do desmembramento de território de outro estado. Todos os países reconhecem o direito de estrangeiros adquirirem por naturalização sua nacionalidade, preenchidas determinadas condições, que podem ser mais ou menos severas de conformidade com a política demográfica do país. A condição Jurídica do Estrangeiro A determinação da condição jurídica do estrangeiro faz surgir inicialmente o problema da distinção entre nacionais e estrangeiros, mediante a perfeita caracterização dessas duas categorias de indivíduos. Ao determinar quais são os seus nacionais, o estado automaticamente classifica como estrangeiro os demais indivíduos que se encontram em se território, quer a título permanente, quer a título temporário, os quais poderão possuir nacionalidade estrangeira ou ser apátridas, isto é, não possuir qualquer nacionalidade. A legislação relativa à condição jurídica do estrangeiro tem sua justificativa no direito de conservação e no de segurança do estado, mas deve, sempre, ter como base o respeito aos seus direitos humanos. Embora o estrangeiro seja obrigado a acatar a legislação do país de residência, pode em alguns casos excecionais recorrer à missão diplomática ou à repartição consular de seu país caso seus direitos não sejam respeitados. Tal direito é expressamente previsto na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961, que dá à missão diplomática a faculdade de proteger os seus nacionais “dentro dos limites permitidos pelo direito internacional”. O estrangeiro goza, no estado que o recebe, os mesmos direitos reconhecidos aos nacionais, excluídos apenas aqueles mencionados expressamente pela legislação daquele país, cabendo-lhe cumprir as mesmas obrigações dos nacionais. Artigo 24º CRCV (Estrangeiros e apátridas) Os direitos que devem serem reconhecidos aos estrangeiros são os direitos humanos, ou individuais, quais sejam, em exemplo, a liberdade individual e a inviolabilidade da pessoa; e os direitos civis e de família. A Constituição Cabo Verdiana dispõe, no seu art.23º, que todos são iguais perante a lei, garantindo-se ao cabo Verdiano e estrangeiro residente em Cabo Verde os direitos humanos fundamentais. O estado, contudo, tem o direito de negar o ingresso de estrangeiro em seu território, mas não pode fazer discriminação baseada em motivos raciais ou religiosos. O principal instrumento utilizado para controlar o ingresso de estrangeiros é o passaporte, que objetiva identificar o estrangeiro. Nele é colocado o visto de entrada. A legislação varia de país para outro, mas de modo geral se verifica que os vistos são de três categorias: permanente, temporária e de turista. Qual o regime constitucional/Civil dos estrangeiros? Princípio da igualdade. Nos termos do art. º23 da CRCV, ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social. Direitos e Deveres. Segundo o art.º 24.º da CRCV, os estrangeiros e os apátridas que se encontrem ou residam em Cabo Verde gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão cabo verdiano. Exceções. Excetuam-se, contudo, os direitos políticos, o exercício das funções públicas que não tenham carácter predominantemente técnico e os direitos e deveres reservados pela Constituição e pela lei exclusivamente aos cidadãos cabo verdianos, nomeadamente os titulares de órgão de soberania. Reciprocidade. A CRCV prevê (art.º 24.º, n.º 3) que aos cidadãos dos países de língua portuguesa podem ser atribuídos, mediante convenção internacional e em condições de reciprocidade, direitos não conferidos a estrangeiros, salvo o acesso à titularidade dos órgãos de soberania e dos órgãos de governo próprio das regiões autónomas, o serviço nas forças armadas e a carreira diplomática. Capacidade eleitoral. A lei pode atribuir a estrangeiros residentes no território nacional, em condições de reciprocidade, capacidade eleitoral activa e passiva para a eleição dos titulares de órgãos de autarquias locais. (n.º 4 do art.º 24.º CRCV). Extradição. Não são admitidas a extradição e a expulsão de cidadãos cabo verdianos do território nacional. Não é admitida a extradição por motivos políticos. Não há extradição por crimes a que corresponda pena de morte segundo o direito do Estado requisitante. A extradição só pode ser determinada pelos Tribunais. Expulsão. A expulsão de quem tenha entrado ou permaneça regularmente no território nacional, de quem tenha obtido autorização de residência ou de quem tenha apresentado pedido de asilo não recusado só pode ser determinada por autoridade judicial, assegurando a lei formas expeditas de decisão. Asilo. É garantido o direito de asilo aos estrangeiros e aos apátridas perseguidos ou gravemente ameaçados de perseguição, em consequência da sua atividade em favor da democracia, da libertação social e nacional, da paz entre os povos, da liberdade e dos direitos da pessoa humana. Relação do estado com seus nacionais no exterior Cabe ao direito público interno determinar os direitos e os deveres dos respetivos nacionais dentro dos limites de seu território; caso de nacionais domiciliados ou residentes no exterior, o estado tem a faculdade de determinar os seu direitos e deveres, mas dentro dos limites fixados pelo direito internacional. Os nacionais de qualquer estado devem obediência às suas leis onde quer que se encontrem, mas o estado, em princípio, não tem força coercitiva além do território nacional, nem exerce, nem deve pretender exercer, jurisdição em território estrangeiro. Mas nem por isso ele fica inteiramente desprovido de meios contra os nacionais que violem as suas leis ou que se recusem a acatá-las. O poder coercitivo do estado tem por limites as próprias fronteiras do território. Sua justificação normal reside no fato de convir que os crimes sejam julgados e punidos pelo estado cuja ordem social foi mais diretamente ofendida. Na prática o princípio geralmente adotado é o da competência territorial, ainda nos casos de infrações ou delitos cometidos por estrangeiros Extradição É a entrega por um Estado a outro, e a pedido deste, de pessoa que em seu território deva responder a processo penal ou cumprir pena. Cuida-se de uma relação executiva, com envolvimento judiciário de ambos os lados: o governo requerente da extradição só toma essa iniciativa em razão da existência do processo penal ante a Justiça; e o governo do estado requerido não goza, em geral, de prerrogativa de decidir sobre o atendimento do pedido senão depois de um pronunciamento da Justiça local. O fundamento jurídico de todo pedido de extradição há de ser um tratado entre os dois países envolvidos, no qual se estabeleça que, em presença de determinados pressupostos, dar-se-á a entrega da pessoa reclamada. Na falta de tratado o pedido de extradição só fará sentido se o estado de refúgio do indivíduo for recetivo a uma promessa de reciprocidade. Neste Caso, os pressupostos da extradição hão de encontrar-se alistados na lei doméstica, a cujo texto recorrera o Judiciário local para avaliar a legalidade e a procedência do pedido. Deportação e expulsão O direito do Estado de expulsar os estrangeiros que atentarem contra a segurança nacional ou contra a tranquilidade pública é admitido pacificamente pelo direito internacional, embora no passado a questão da legitimidade da expulsão tenha sido contestada pelos defensores da liberdade absoluta do homem. O direito de expulsão não pode ser exercido arbitrariamente, isto é, deve restringir-se às estritas necessidades da defesa e conservação do estado. Por isso, só deve ser aplicado aos estrangeiros que perturbem efetivamente a tranquilidade ou a ordem pública e constituam perigo ou ameaça para esta, ou se tornem seriamente inconvenientes aos interesses oficialmente declarados de estados. A deportação é a determinação de saída compulsória de estrangeiro que ingressou de modo irregular no território nacional ou que, apesar da entrada regular, sua estadia encontra-se irregular. O estrangeiro é notificado e lhe é dado o prazo para a saída de Cabo Verde, caso contrário poderá ser preso, para fim de deportação. Tal prisão se dá por ordem do juiz. A diferença entre a deportação e a expulsão existem quanto à causa, quanto ao processo e ainda quanto aos efeitos. Neste último caso, vê-se que, na deportação, o estrangeiro pode reingressar no país, bastando que cumpra os requisitos legais ou previsto em tratado específico. Quando ocorrer expulsão, para que seja possível a volta do indivíduo em questão ao território do estado, o decreto de expulsão deve ser revogado.
Bibliografia
REICHSTEINER, Beat Walter. Direito internacional privado: teoria e prática. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.