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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ

GABINETE DA 1ª VARA DA COMARCA DE PIRIPIRI


Rua Avelino Rezende 161, Fonte dos Matos, PIRIPIRI-PI

PROCESSO Nº: 0000537-55.2019.8.18.0033


CLASSE: Medidas Protetivas de urgência (Lei Maria da Penha) Criminal
Indiciante: DELEGADO DA DELEGACIA DE DEFESA DOS DIREITOS DA MULHER EM PIRIPIRI
Indiciado: FRANCISCO DE JESUS LIMA
Vítima: CRISTINA SANTOS FREITAS

DECISÃO

Vistos etc.

A Polícia Civil do Estado do Piauí encaminhou a este juízo a notícia de


Violência Doméstica praticada por Francisco de Jesus Lima em desfavor da vítima
Cristina Santos Freitas, ocasião em que se juntou requerimento desta com a finalidade de
aplicação das medidas protetivas de urgência previstas no art. 22, II e III, “a” e "b", ambos
da Lei nº 11.340/2006, em função de agressões verbais e ameaças por parte do requerido.

Brevíssimo relatório. Passo a decidir.

Preliminarmente, verifica-se que o requerido é Promotor de Justiça e, portanto,


detentor de foro por prerrogativa de função. Contudo, aludido foro não se aplica ao presente
caso, porquanto se trata de fato não relacionado à função e não exercido durante o
exercício do cargo, conforme recente julgado do STF (AP 937 QO, rel. min. Roberto
Barroso, P, j. 3-5-2018, DJE 265 de 11-12-2018, Informativo 900).

Cabe ressaltar, ainda, que as medidas protetivas de urgência requeridas pela


vítima de violência doméstica detêm índole penal e processual penal, daí porque a
competência para tais providências cautelares é do órgão competente para a futura ação
penal.

Nos autos consta informação da vítima prestada perante a autoridade policial,


imagens de conversas entre o suposto agressor e ofendida via celular, áudio de uma
ligação telefônica, bem como declarações de dois informantes que confirmam os fatos
descritos pela ofendida.

Num juízo apriorístico, denota-se indício da prática de violência psicológica,


praticada pelo requerido em desfavor da ora suplicante. Saliente-se que a situação noticiada
demonstra a relação de subordinação e a subjugação por conta da condição da mulher,
particularidade que atrai a incidência da norma.

No pleito, como visto, requereu-se a aplicação liminar das medidas protetivas


previstas no art. 22, II e alíneas a e b do inciso III, da Lei nº 11.340/2006, in verbis:
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos
desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente,
as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
( . . . )
II afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo
de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de
comunicação;

Quanto aos requisitos cautelares, avalia-se que a aparente relação e a notícia


apresentada possibilitam a formação da fumaça do bom direito. Ademais, vê-se presente o
requisito do perigo da demora em face da possibilidade de recrudescimento do
relacionamento entre os envolvidos, bem como a chance de aumento da agressividade e de
reiteração da conduta.

Insta consignar que, em crimes desta natureza, a palavra da vítima assume


especial relevância, pois normalmente são cometidos longe de testemunhas oculares,
aproveitando-se o agente do vínculo que mantém com a ofendida. A respeito, enveredam as
decisões do Superior Tribunal de Justiça:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. AMEAÇA E VIAS DE FATO PRATICADAS


EM AMBIENTE DOMÉSTICO OU FAMILIAR. FALTA DE JUSTA CAUSA. NECESSIDADE
DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. VIA INADEQUADA. ACÓRDÃO OBJURGADO EM
CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTE SODALÍCIO. DESPROVIMENTO DO
R E C L A M O .
1. Em sede de habeas corpus e de recurso ordinário em habeas corpus somente deve ser
obstada a ação penal se restar demonstrada, de forma indubitável, a atipicidade da conduta,
a ocorrência de circunstância extintiva da punibilidade e a ausência de indícios de autoria ou
de prova da materialidade do delito.
2. Estando a decisão impugnada em total consonância com o entendimento jurisprudencial
firmado por este Sodalício, não há que se falar em trancamento da ação penal, pois, de uma
superficial análise dos elementos probatórios contidos no reclamo, não se vislumbra estarem
presentes quaisquer das hipóteses que autorizam a interrupção prematura da persecução
criminal por esta via, já que seria necessário o profundo estudo das provas, as quais
deverão ser oportunamente valoradas pelo juízo competente.
3. Não há qualquer ilegalidade no fato de a acusação referente a delitos praticados em
ambiente doméstico ou familiar estar lastreada no depoimento prestado pela ofendida em
sede policial, já que tais ilícitos geralmente são praticados à clandestinidade, sem a
presença de testemunhas, e muitas vezes sem deixar rastros materiais, motivo pelo qual a
palavra da vítima possui especial relevância. Precedentes.
4. Recurso desprovido. (RHC 81.324/AM, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 04/04/2017, DJe 17/04/2017)

E ainda:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME DE


LESÃOCORPORAL OCORRIDO NO ÂMBITO DOMÉSTICO. OFENSA AO PRINCÍPIO DA
COLEGIALIDADE. INEXISTÊNCIA. EXAME DE CORPO DE DELITO. AUSÊNCIA.
DEMONSTRAÇÃO POR OUTROS MEIOS. POSSIBILIDADE. SÚMULA 568/STJ.
RECURSO IMPROVIDO.
1. Inexiste maltrato ao princípio da colegialidade, pois, consoante disposições do Código de
Processo Civil e do Regimento Interno desta Corte, o relator deve fazer um estudo prévio da
viabilidade do recurso especial, além de analisar se a tese encontra plausibilidade jurídica,
uma vez que a parte possui mecanismos processuais de submeter a controvérsia ao
colegiado por meio do competente agravo regimental. Ademais, o julgamento colegiado do
recurso pelo órgão competente supera eventual mácula da decisão monocrática do relator.
2. O exame de corpo de delito é prescindível para a configuração do delito de lesão corporal
ocorrido no âmbito doméstico, podendo a materialidade ser comprovada por outros meios.
3. "No que tange aos crimes de violência doméstica e familiar, entende esta Corte que a
palavra da vítima assume especial importância, pois normalmente são cometidos sem
testemunhas" (ut, AgRg no AREsp 213.796/DF, Rel. Ministro CAMPOS MARQUES -
Desembargador convocado do TJ/PR -, Quinta Turma, DJe 22/02/2013).
4. Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp 1009886/MS, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 21/02/2017, DJe 24/02/2017)

Faz-se mister destacar, ainda, que, consoante prevê o art. 19 da Lei n°


11.340/2006, as medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz a pedido
da ofendida, independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério
Público. Veja-se:

"Art. 19: As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§ 1° As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato,
independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério
Público, devendo este ser prontamente comunicado.
§ 2° As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e
poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os
direitos reconhecidos nesta lei forem ameaçados ou violados.
§ 3° Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder
novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender
necessário á proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvindo o
Ministério Público.

Ante o exposto, DEFIRO o pedido vindicado pela ofendida e determino,


nos termos do art. 22, II e alíneas a e b do inciso III, da Lei nº 11.340/2006, a aplicação de
imediato ao requerido das seguintes medidas protetivas:

1. Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

2. Proibição das seguintes condutas:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas,fixando o limite


mínimo de distância entre estes e o agressor em 500 (quinhentos)metros;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de


comunicação;

INTIME-SE o requerido a cumprir a liminar imediatamente, sob pena de


conversão das medidas protetivas em prisão. O requerido fica advertido, ainda, que o
descumprimento de quaisquer das medidas acima fixadas, poderá ensejar na
caracterização do crime previsto no art. 24-A da Lei Maria da Penha.
O cumprimento dessas determinações, deferidas em caráter de urgência ecom
escopo na Lei n°11.340/2006, tem como propósito salvaguardar a integridade física e moral
da ofendida, pelo que deve a autoridade encarregada de sua efetivação tudo promover,
assistindo a vítima, garantindo-lhe proteção, se for necessário, de tudo dando ciência ao
Ministério Público e a este Juízo.

Autorizo o auxílio de força policial para o cumprimento do mandado, devendo o


meirinho advertir o requerido de todas as sanções inerentes ao descumprimento desta
medida.

Dê-se ciência ao Ministério Público. Notifique-se a ofendida, a fim de que lhe


seja dado conhecimento das medidas protetivas adotadas por este Juízo.

Cumpra-se com urgência, devendo ser o mandado expedido e cumprido


imediatamente.

Por oportuno, ENCAMINHE-SE cópia desta decisão à autoridade policial,


aquem caberá cumprir e monitorar as determinações aqui deferidas.

Em sucessivo, nos termos do Provimento CGJ 14/2018, os autos


deverãoaguardar em secretaria pelo prazo de 90 (noventa) dias, ao fim dos quais o
processo deveser arquivado, com a devida baixa na distribuição, não sem antes seja a
vítimapessoalmente intimada de tal arquivamento, sem necessidade de nova conclusão e
semprejuízo de posterior desarquivamento, em caso de requerimento.

Cumpra-se com as cautelas necessárias, observando-se todas as


determinações do provimento acima referido.

Diligências necessárias.

Piripiri, 18 de junho de 2019.

ANTONIO OLIVEIRA
Juiz de Direito da 1ª Vara da Comarca de Piripiri/PI

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