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Estruturas Mistas de Mlc-Concreto Dimensionamento Das Vigas Com Almas Reforçadas Com Fibras de Vidro PDF
Estruturas Mistas de Mlc-Concreto Dimensionamento Das Vigas Com Almas Reforçadas Com Fibras de Vidro PDF
Resumo
No cenário da produção de edificações sustentáveis, a MLC ocupa lugar de destaque, sobretudo pela
possibilidade de emprego de madeiras provenientes de florestas plantadas. Com o propósito de amenizar os
problemas de durabilidade, quando expostas às intempéries, uma solução pressupõe a associação das vigas de
MLC com um tabuleiro de concreto armado, sendo as partes ligadas por meio de conexões flexíveis. No entanto,
em situações de elevados carregamentos ou de grandes vãos, a aplicação de reforços com fibras sintéticas, na
face tracionada das vigas de MLC, aprimora ainda mais essa técnica, refletindo-se em expressivos acréscimos
nas forças de ruptura. Este trabalho enfoca, inicialmente, as avaliações experimentais realizadas em modelos –
com dimensões estruturais – de vigas mistas de MLC-concreto com reforços de fibras de vidro, cujos elementos
de conexão foram pinos de aço com diâmetro de 8 mm. Ao serem comparadas as vigas de MLC com as vigas
mistas de MLC-concreto, ambas reforçadas com fibras de vidro, registrou-se acréscimo médio de 28% no MOR.
Ademais, o emprego do reforço com fibras sintéticas se justifica pela diminuição na variabilidade dos resultados.
Por fim, é proposto um algoritmo para o dimensionamento das vigas mistas de MLC-concreto com reforços de
fibras de vidro, o qual permite, por sua objetividade e adequação aos resultados experimentais, ampliar os
horizontes de aplicação das estruturas de madeira.
Palavras-chave: Estruturas mistas de MLC-concreto. Reforço com fibras de vidro. Avaliações experimentais.
Dimensionamento de vigas.
Abstract
Production of sustainable constructions forms a scenario where the glulam occupy a prominence place, because
wood that comes from planted forests can be used in its production. In order to reduce the durability problems,
when exposed to the weather effects, a solution presupposes the association of glulam beams with a reinforced
concrete slab, in which the components are linked by means of flexible connections. However, in situations where
high loads or great spans are found, the application of synthetic fibers reinforcements in the tension side of
glulam beams improves this technique, being reflected in significant increments in the rupture forces. This work
focuses, initially, the experimental evaluations accomplished in glulam-concrete composite beams – with
structural dimensions – in which the glulam was reinforced with fiberglass and steel hooks with 8 mm in diameter
were used as connection elements. When glulam beams were compared with glulam-concrete composite beams,
both reinforced with fiberglass, it was observed an average increment of 28% in modulus of rupture (MOR). In
addition, data obtained from tests show that using synthetic fibers as reinforcement induces the decrease in the
variability of the results. Finally, it is proposed an algorithm for the design of glulam-concrete composite beams
reinforced with fiberglass. The objectivity of this algorithm and the good agreement with experimental results
enlarge the horizons of application of wood in structures.
1
Professor do Departamento de Engenharia Civil da UEM, jlmiotto@uem.br
2
Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, dias@sc.usp.br
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, os produtos estruturais derivados de madeira – tal como a madeira
laminada colada (MLC) – têm propiciado novos campos de aplicação para a madeira, uma vez que
apresentam padrões compatíveis com as modernas exigências das construções. Embora seja um dos
produtos mais antigos que resultam da colagem de lâminas, a MLC ainda não é um material
plenamente justificável para o emprego nas construções brasileiras, resultado da pequena tradição no
seu uso, elevado custo de adesivos e reduzido número de empresas envolvidas em sua fabricação.
Em contraposição, suas vantagens em relação à madeira serrada são relevantes, especialmente
quanto à possibilidade de se produzir peças com dimensões praticamente ilimitadas, com aumentos de
resistência e rigidez.
Para se obter uma maior resistência à flexão, desejável em situações de grandes vãos ou de
elevadas solicitações, uma das soluções pressupõe a adoção de reforço com fibras sintéticas na face
tracionada das peças de MLC. No entanto, o baixo módulo de elasticidade longitudinal da madeira,
quando comparado a outros materiais estruturais, faz com que as deformações sejam fatores
limitantes no projeto das vigas de MLC. Além disso, o emprego de fibras sintéticas, como reforço na
zona tracionada, não resolve plenamente os problemas de deformabilidade dessas vigas, já que os
acréscimos conferidos à sua rigidez são modestos.
Assim, para assegurar um melhor desempenho à flexão, além de outras vantagens, propõe-se
nesta pesquisa a associação entre o concreto armado e a MLC reforçada com fibras sintéticas, na
forma de compósitos conhecidos como estruturas mistas. O estudo enfoca, particularmente, as
avaliações experimentais e o dimensionamento das vigas mistas com seção transversal em T, cuja
alma é de MLC reforçada com fibras de vidro e a mesa é de concreto armado, nas quais se utilizam
conectores metálicos como elementos de ligação entre as partes.
Módulo de deslizamento
Conectores
Kser (N/mm)
Pinos – ø 8 mm 142.936
Pinos – ø 10 mm 112.998
Chapas perfuradas – # 4,75 mm 339.406
Ceccotti (1995) apresenta os procedimentos para o cálculo das estruturas mistas de madeira-
concreto, que são baseados nos critérios do EUROCODE 5 (1993). Essa norma considera a influência
do deslizamento na interface do sistema pela adoção de um produto de rigidez efetivo, (EI)ef, calculado
conforme a Eq. (1) e cujo valor procede da forma da seção transversal, dos módulos de elasticidade
dos materiais constituintes, do espaçamento entre os conectores e do módulo de deslizamento da
ligação.
(EI) ef = E c I c + y c E c A c a c2 + E w I w + y w E w A w a 2w (1)
Nessa equação Ec, Ew, Ic, Iw, Ac e Aw representam os valores médios dos módulos de
elasticidade, dos momentos de inércia e das áreas da seção transversal do concreto e da madeira,
respectivamente; yc é o fator parcial da mesa, calculado conforme Eq. (2); yw= 1,0 é o fator parcial da
alma; aw e ac são as distâncias calculadas conforme as Eq. (3) e (4), respectivamente, e representadas
na Fig. 2.
−1
⎛ π 2 E c A cs ⎞
y c = ⎜⎜1 + 2 ⎟
⎟ (2)
⎝ K ⋅ A ⎠
y c E c A c (h c + h w )
aw = (3)
2( y c E c A c + y w E w A w )
(h c + h w )
ac = − aw (4)
2
Na Eq. (2), K indica o módulo de deslizamento da ligação, “s” representa o espaçamento dos
conectores e ℓ é o vão teórico da viga. Nas Eq. (3) e (4), hc e hw são as alturas representadas na Fig. 2.
Para efeito de cálculo do yc, no caso de vigas bi-apoiadas, o EUROCODE 5 (1993) recomenda que o
vão teórico seja igual ao próprio vão da viga.
ρ1m,5 ⋅ d
K ser = 2. (5)
23
Se as densidades dos materiais interligados são diferentes, deve-se adotar a densidade média
calculada pela expressão abaixo, em que ρ m,1 e ρ m, 2 são as densidades médias dos materiais 1 e 2,
respectivamente.
Nas análises dos Estados Limites Últimos, o valor do módulo de deslizamento a ser
considerado é calculado por:
2
Ku = K ser (7)
3
Para o cálculo das tensões normais na seção transversal, nas posições indicadas na Fig. 2,
são indicadas as equações:
M M
σc = y c E ca c e σ m ,c = 0,5E c h c (8a,b)
( EI ) ef ( EI ) ef
M M
σw = yw E wa w e σ m,w = 0,5E w h w (9a,b)
( EI ) ef ( EI ) ef
0,5E w h 2w
τ w ,max = ⋅V (10)
(EI) ef
y c E c A ca cs
R1 = ⋅V (11)
(EI) ef
Seguindo as proposições do trabalho de Van der Linden (1999), a mesa de concreto deveria
ter uma largura bc= 954 mm, para a altura hc= 70 mm. Por analogia ao trabalho de Brody et al. (2000),
a mesa de concreto deveria ter largura bc= 420 mm. Deste modo, também por conta do efeito do shear
lag, evitou-se a adoção de mesas com larguras exageradas, adotando-se bc= 350 mm e hc= 70 mm. A
Fig. 6 mostra a concretagem das vigas mistas, realizada em 14/01/2008.
Decorrido o tempo necessário à cura do concreto, em 03/03/2008 foram iniciados os ensaios
das vigas mistas de MLC-concreto, observando-se as prescrições da ASTM D198-05a (2005). O
carregamento F/2 foi aplicado nos terços das vigas, conforme arranjo de ensaio ilustrado na Fig. 7.
V3 e V5 66,6 ----
V4 e V6 85,3 28,1
Por envolver o uso de conexões flexíveis, a rigidez efetiva à flexão das vigas mistas de MLC-
concreto sofreu redução de aproximadamente 40%, conforme constatado por Miotto (2009). A Fig. 9
ilustra a redução na rigidez da viga V6, a partir da representação das flechas correspondentes em três
diferentes situações: (a) sob o efeito de composição total da seção transversal, ou seja, considerando
que não houve escorregamentos entre a mesa de concreto armado e a alma de MLC, sendo as flechas
calculadas a partir da rigidez obtida pelo Método da Seção Transformada; (b) sob o efeito de
composição parcial, cujos valores foram obtidos experimentalmente; (c) sem efeito de composição da
seção transversal, em que as flechas foram calculadas como se apenas as almas de MLC fossem
responsáveis pelo suporte do conjunto.
Com base no modelo de cálculo das estruturas mistas de madeira-concreto, proposto pelo
EUROCODE 5 (2002), e a partir dos resultados revelados na componente experimental deste trabalho,
em seguida se discute uma proposta de verificação das vigas mistas de MLC-concreto reforçadas com
fibras de vidro, focando, unicamente, na determinação da resistência do elemento estrutural.
Ao escolher um método de verificação das vigas mistas com mesa de concreto armado
e alma de MLC reforçada com fibras de vidro, uma das preocupações foi em proporcionar objetividade
e simplicidade, de modo que o procedimento possa ser prontamente absorvido pela comunidade
profissional. Com isto, pretende-se contribuir para a disseminação dessa tecnologia e possibilitar a
obtenção dos benefícios de sua utilização.
Ceccotti (2002) enfatiza que a validação de ensaios é muito delicada, pois os resultados são
altamente dependentes do nível de tensões e deformações dos elementos, durante as condições
específicas do ambiente e do ensaio.
Para a validade do método que adiante se propõe, as seguintes hipóteses devem ser
consideradas:
Numa mesma posição ao longo da viga, o deslocamento vertical é igual para ambos os
materiais e dado por uma função w(x), não ocorrendo separação entre o concreto e a
madeira.
Ao longo da altura de cada material, as seções transversais permanecem planas; as
deformações por cisalhamento dentro dos dois materiais não são consideradas.
As partes constituintes (madeira e concreto) são interligadas por meio de conectores
discretizados, com um módulo de deslizamento K.
As vigas são simplesmente apoiadas, com vãos L.
O concreto e a madeira têm comportamento elástico-linear.
Não se considera o atrito entre a madeira e o concreto, isto é, a força de cisalhamento na
interface é totalmente transmitida pelos conectores.
O espaçamento “s” entre os pinos é constante ou varia uniformemente conforme a variação
da força cortante entre smin e smax, com smax < 4smin.
As vigas de MLC possuem a qualidade requerida, sendo garantidas as resistências de
projeto; nas lâminas mais afastadas da linha neutra, particularmente naquelas solicitadas à
tração, o posicionamento das emendas dentadas deve ser cuidadosamente verificado.
A lâmina inferior (bumper) tem apenas o papel de proteção da camada de reforço, não
sendo considerada no dimensionamento do sistema.
O carregamento aplicado é do tipo estático e atua na direção das ações gravitacionais.
Para efeito de análise, as armaduras existentes no concreto foram desconsideradas.
Nenhum deslizamento é considerado entre as lâminas de MLC, bem como entre o reforço
com fibras de vidro e a viga de MLC, a exemplo do que também admitem Brody et al.
(2000), Davids (2001) e Weaver (2002).
O método que se propõe tem como objetivo o estabelecimento de uma relação íntima entre os
fundamentos teóricos, demonstrados na revisão bibliográfica, e o produto das avaliações
experimentais realizadas. Para tanto, inicialmente faz-se a aplicação do Método da Seção
Quando Weaver (2002) projetou a primeira e única ponte que se tem notícia em Fairfield,
Maine, empregando um tabuleiro de concreto apoiado sobre 6 vigas de MLC reforçadas com fibras de
vidro – com 21,34 m de vão –, foi utilizado apenas o Método da Seção Transformada nas análises,
com um fator de redução adotado de 30%, o qual foi aplicado ao momento de inércia transformado.
As etapas que compõem o modelo de dimensionamento são delineadas a seguir, bem como
são apresentados os resultados de sua aplicação na avaliação das vigas V4 e V6.
Figura 10 – Propriedades da seção transversal das vigas mistas de MLC-concreto com reforço
de fibras de vidro.
Propriedades
Unidade Viga V4 Viga V6
(símbolo)
bc mm 350 350
hc mm 75 73
Ac mm2 26.250 25.550
4
Ic mm 12.304.687,50 11.346.329,17
bw mm 80 84
hw mm 322 322
2
Aw mm 27.312,00 28.699,59
4
Iw mm 258.215.896,50 271.626.866,53
hFRP mm 10 10
L mm 5.000 5.000
smin mm 120 120
smax mm 240 240
sef mm 150 150
d mm 8 8
Propriedades
Unidade Viga V4 Viga V6
(símbolo)
Ec MPa 36.436 36.436
3
ρm,c Kg/m 2.500 2.500
Ew MPa 20.198 20.020
ρm,w Kg/m3 790 790
EFRP MPa 59.463 59.463
(123.900 / 4)
R 1,d = = 22.125 N (13)
1,4
A partir dos ensaios de tração realizados em corpos-de-prova de tecido de fibras de vidro, foi
possível a obtenção da resistência característica à tração, fFRP,k, considerando-se que os resultados
acompanham a distribuição normal. Como o material é produto de uma transformação em ambiente
industrial, com elevado controle de qualidade, sugere-se para o coeficiente de ponderação da
resistência o mesmo valor do aço, ou seja, γ FRP = 1,1 . Assim, o valor de projeto da resistência à tração
das fibras de vidro pode ser determinado por:
f FRP,k
f FRP,d = (14)
γ FRP
Por fim, a flecha limite, wlim, foi calculada a partir das recomendações da NBR 7190 (1997). Os
valores determinados para as resistências de projeto e flecha limite estão relacionados na Tab. 5.
Propriedades
Unidade Vigas V4 e V6
(símbolo)
Assim, no cálculo das flechas instantâneas, ou seja, aquelas que ocorrem logo após a
aplicação do carregamento, foram utilizados os valores médios do módulo de elasticidade, Ec0,m, como
indica o EUROCODE 5 (2002), somente para efeito de comparação com as flechas geradas pelo
carregamento de longa duração, designadas nessa tabela por wperm, e calculadas a partir do módulo de
elasticidade efetivo, Ec0,ef. Observam-se variações de 28% entre os valores das flechas winst e wperm.
Propriedades
Unidade Viga V4 Viga V6
(símbolo)
F – Verificações
Comparando-se, então, os valores das resistências de projeto com os valores das solicitações
de projeto, nota-se que as forças de projeto, Fd, foram alcançadas a partir da resistência ao
cisalhamento na lâmina de cola. Com efeito, foi exatamente por cisalhamento nas lâminas de cola que
se romperam as vigas mistas ensaiadas.
FL
ws = (16)
6KG w A
Flecha Flecha
Força calculada experimental [1]
Viga
(kN) [1] [2] [2]
(mm) (mm)
V4 90 15,01 14,96 1,003
V6 90 14,86 15,08 0,985
Da mesma forma, com boa concordância, o método é capaz de predizer as forças de ruptura
das vigas mistas de MLC-concreto com reforço de fibras de vidro, conforme se pode constatar pelos
valores contidos na Tab. 9. Os valores obtidos para as forças máximas admissíveis foram calculados a
partir da consideração das resistências médias dos materiais e não de seus valores de cálculo.
Convém ressaltar, ainda, que um método alternativo, para o dimensionamento das vigas
mistas de MLC-concreto reforçadas com fibras de vidro, consiste na adoção das solicitações
determinadas a partir de modelos numéricos. Miotto (2009) obteve, nas simulações numéricas das
vigas mistas de MLC-concreto, com e sem reforço com fibras de vidro, razoáveis concordâncias entre
os valores experimentais e numéricos.
5 CONCLUSÕES
6 AGRADECIMENTOS
7 REFERÊNCIAS
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM D198-05a: Standard tests methods
of static tests of lumber in structural sizes. Philadelphia, 2005.
BRODY, J. et al. FRP-wood-concrete composite bridge girders. In: STRUCTURES CONGRESS 2000 –
ADVANCED TECHNOOGY IN STRUCTURAL ENGINEERING, 2000, Philadelphia, USA.
Proceedings… Philadelphia: Mohamed Elgaaly, 2000. (Section 53, chapter 1).
CECCOTTI, A. et al. On the design of timber-concrete composite beams according to the new versions
of Eurocode 5. In: MEETING OF THE WORKING COMMISSION W18 – TIMBER STRUCTURES, 35.,
2002, Japan.
Engenharia de Estruturas) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São
Carlos, 2004.
VAN DER LINDEN, M. L. R. Timber-concrete composite floor systems. 1999. 364 f. These (PhD in
Mechanics and Constructions – Section Steel and Timber Structures) – Delft University of Technology,
Delft, The Netherlands, 1999.