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Comissão.
PROCESSO: 00830.005043/89
Advogado-Geral da União
PROCESSO N. 00830.005043/89
ASSUNTO: Apuração de irregularidades administrativas.
PARECER
II
3. Verificada a violação de normas internas da Administração, por parte do servidor
público submetido ao regime jurídico específico, por imperativo de lei, torna-se
imprescindível proceder-se à sua imediata apuração, mediante processo administrativo
disciplinar, sob pena de a autoridade competente, para tanto, incorrer no crime de
condescendência criminosa (art. 320 do Código Penal). Apurada a infração disciplinar,
através dos meios adequados, fica o servidor sujeito à aplicação de penalidade
administrativa prevista em lei: a responsabilização do servidor público implica punição
administrativa que, via de regra, pressupõe a permanência da vinculação dele ao Estado.
10. A atuação da comissão processante deve ser pautada pelo objetivo exclusivo de
determinar a verdade dos fatos, sem a preocupação de incriminar ou exculpar
indevidamente o servidor, motivo por que lhe é atribuído o poder-dever de promover a
tomada de depoimentos, acareações, investigações e diligências, com vistas à obtenção
de provas que demonstrem a inocência ou culpabilidade, podendo recorrer, se
necessário, a técnicos e peritos. Com esse desiderato, efetua a completa apuração das
irregularidades e, em conseqüência, indicia somente aqueles em relação aos quais são
comprovadas a existência da infração e sua autoria. A c.i. desenvolve suas funções de
apuração com independência e imparcialidade, podendo relacionar na indiciação, ou
dela excluir, os envolvidos em irregularidades, mesmo que, em razão dos mesmos fatos
infracionais, tenham sido, ou não, indiciados em processo precedente, inacabado em
decorrência do decurso do prazo assinalado para a conclusão dos trabalhos processuais.
É assertiva corroborada pelo art. 161 da Lei n. 8.112, de 1990, que se caracteriza como
de norma preceptiva da indiciação do servidor, mas em se determinando a ilicitude da
conduta funcional e respectiva autoria, verbis:
II
12. A instrução é fase do inquérito em que, em regra, se promove "a tomada de
depoimentos, acareações, investigações e diligências cabíveis, objetivando a coleta de
prova, recorrendo, quando necessário, a técnicos e peritos, de modo a permitir a
completa elucidação dos fatos" (art. 155 da Lei n. 8.112). Na conformidade das
expressões de Alberto Bonfim, a "instrução (do latim: "instruere" orientar) se realiza
quando a comissão, após haver colhido todos os elementos possíveis para formar juízo
completo sobre os fatos em apuração reúne-se para redigir um resumo fiel das
acusações oferecidas através dos depoimentos, documentos, perícias ou diligências
produzidas durante a fase de inquérito" (O Processo Administrativo, Livraria Freitas
Bastos S.A, 1956, 5ªed, p. 23).
"Somente depois de concluída a fase instrutória (na qual o servidor figura como
"acusado"), é que, se for o caso, será tipificada a infração disciplinar, formulando-se a
indiciação do servidor, com a especificação dos fatos a ele imputados e das respectivas
provas (artigo 161, "caput"), sendo, então, ele, já na condição de "indiciado", citado, por
mandado expedido pelo presidente da comissão, para apresentar defesa escrita, no prazo
de 10 (dez) dias (que poderá ser prorrogado pelo dobro, para diligências reputadas
indispensáveis), assegurando-se-lhe vista do processo na repartição (art. 161, "caput" e
parágrafo 1ºe 3º)." (O destaque não é do original).
14. Destarte, o fato de não terem sido indiciados superiores hierárquicos, envolvidos nas
irregularidades, atribuídas também a outros servidores, não é fator impeditivo da
apenação dos últimos, porquanto a participação de cada um, presumidamente, terá sido
objeto de apuração que dilucida, de forma individual, as responsabilidades
administrativas, tanto daqueles ainda puníveis, quanto dos que foram desvinculados dos
cargos, subtraindo-se das penalidades.
IV
15. As opiniões doutrinárias tendentes a reconhecer a necessidade de se indicarem, nos
atos de designação das comissões apuradoras, os fatos que possivelmente teriam sido
praticados pelos envolvidos, como condição de validade processual pertinente à ampla
defesa, não se adequa ao regramento do assunto em vigor, mormente em se
considerando os comandos dos arts. 5º, LV, da Carta Magna e 153 da Lei n. 8.112, de
1990, para que se observem o princípio do contraditório, e na fase processual de
inquérito.
16. Esta Instituição teve oportunidade de firmar o entendimento de que a "Constituição
impõe se observem o contraditório e a ampla "defesa no processo administrativo, sem
precisar a fase processual em que isto deve ocorrer (art. 5º,LV). É aspecto versado em
norma infra-constitucional. Assim é que a Lei n. 8.112 assegura a ampla defesa no curso
do processo disciplinar e, o contraditório, no inquérito administrativo (cfr. os arts. 143 e
153), que corresponde à 2ªfase do processo (art. 151, II).
A finalidade dos princípios do contraditório e da ampla defesa e o exposto nos dois itens
imediatamente anteriores indicam a desnecessidade de se consignarem, no ato de
designação da c.i, os ilícitos e correspondentes dispositivos legais, bem assim os
possíveis autores, o que se não recomenda inclusive para obstar, influências do trabalho
da comissão de inquérito ou alegação de presunção de culpabilidade. E assegurada à c.i.
a prerrogativa de desenvolver seus trabalhos com independência e imparcialidade.
V
17. A c.i. é integrada por três servidores estáveis, dela não participando cônjuge,
companheiro ou parente do provável responsável pela prática das infrações
disciplinares, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau. São
exigências insertas na Lei n. 8.112, de 1990, art. 149, a qual não autoriza qualquer
resultado interpretativo que conduza à nulidade do processo disciplinar na hipótese de
compor-se a comissão sem observar o princípio da hierarquia que se assere existente
nos quadros funcionais da Administração Federal.
VI
22. Face ao que se expendeu, torna-se jurídico e judicioso extrair as seguintes ilações:
e) não constitui nulidade do processo a falta de indicação dos fatos objeto do processo
no ato de designação da comissão de inquérito, ou a composição desta com servidores
de situação funcional inferior à dos envolvidos.
Sub censura.
Consultor da União