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Monica Rossato
Organizadoras
Projeto MEMÓRIA DO
PARLAMENTO
Porto Alegre
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul
2013
53ª LEGISLATURA
Presidente
Pedro Westphalen - PP
1º Vice-Presidente 2º Vice-Presidente
Paulo Odone - PPS Aldacir Oliboni - PT
1º Secretário 2º Secretário
Gilmar Sossella - PDT Márcio Biolchi - PMDB
3º Secretário 4ª Secretária
Marcelo Moraes - PTB Elisabete Felice - PSDB
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Superintendência Geral
Álvaro Panizza Salomon Abi Fakredin
G249 Gaspar Silveira Martins : perfil biográfico, discursos e atuação na Assembleia Provincial /
organizadoras Maria Medianeira Padoin, Monica Rossato. – Porto Alegre : Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul, 2013. (Série Perfis Parlamentares; n. 13.)
256 p. : il.
Modo de acesso: www.al.rs.gov.br/biblioteca
ISBN 978-85-66054-07-1
CDU 32(816.5)
Bibliotecária Responsável: Débora Dornsbach Soares CRB-10/1700
Classificação CDU – edição-padrão internacional em língua portuguesa
Referência:
PADOIN, Maria Medianeira; ROSSATO, Monica (Orgs.). Gaspar Silveira Martins: perfil
biográfico, discursos e atuação na Assembleia Provincial. Porto Alegre: Assembleia Legislativa do
Rio Grande do Sul, 2013. 256 p. (Série Perfis Parlamentares; n. 13). ISBN 978-85-66054-07-1.
Disponível em: <www.al.rs.gov.br/biblioteca>.
Vigoroso, voz de trovão, gesto largo, Gaspar Silveira Martins não era um
homem público de segredos, meias palavras ou ações vagas. Sua paixão pela política,
vasta cultura e inteligência superior, foram marcos de pedra na construção da história
contemporânea, e seu nome indissociável dos estudos e análises sobre a formação do
Rio Grande do Sul.
Ainda menino, perguntou-lhe o professor o que seria ao crescer: Ministro de
Estado, respondeu. E o foi. E também Presidente da Província de São Pedro, Deputado
e Senador. Segundo Joaquim Nabuco “um homem que revelava uma independência e
uma audácia como de certo ainda não se tinha visto, em nome de um direito até então
desconhecido: o povo”. Amado por muitos, odiado por outros, mas respeitado por
todos, construiu-se como se constroem, até a imortalidade, os grandes.
Gaspar Silveira Martins, líder do Liberalismo, homem de envergadura moral
inconteste, imprescindível à política de qualidade. Pela fibra e destemor com que
defendeu suas convicções nos dramáticos tempos da Revolução Federalista, há que ser
revisitado, sempre.
O presente trabalho, da série Perfis Parlamentares competentemente executado
pelo Memorial da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, vem reconstituindo
vida e obra de ilustres gaúchos sendo, pois, leitura fundamental àqueles que pretendem
aprofundar o conhecimento sobre nossa herança política e social, vale dizer, nossa
cultura.
Ferrenho adversário de Júlio de Castilhos, arrebatado parlamentarista, fundou o
Partido Federalista, fundou jornais, escreveu para vários deles, formou-se em direito e
foi juiz, mas, acima de tudo, desde jovem revelou-se incomparável tribuno, capaz de
abalar consciências e arrastar multidões pela palavra.
Euclides da Cunha assim o descreveu: “ouviu-se dentro da Câmara dos
Deputados uma palavra com tonalidade imponente, dessas vozes proféticas que
anunciam a ruína dos impérios. Não era a dialética vibrátil de Zacarias, a argumentação
fria, sulcada de súbitos lampejos de gênio, de Nabuco, nem a fluência cantante de José
Bonifácio... Mas uma eloquência quase selvagem na sua esplêndida rudeza, na energia
nunca vista com que reivindicava os direitos populares...”.
Pedro Westphalen
INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15
2 LIBERALISMO ................................................................................................... 43
Discurso proferido na Sessão em 22 de setembro de 1862 - apêndice ...........................................51
Discurso proferido na Sessão em 30 de setembro de 1862 - apêndice ...........................................58
Discurso proferido na Sessão em 2 de outubro de 1862 - apêndice ..............................................76
Discurso proferido na Sessão em 6 de abril de 1863 ...................................................................84
Discurso proferido na Sessão em 16 de novembro de 1866 ....................................................... 103
Discurso proferido na Sessão em 19 de novembro de 1866 ....................................................... 107
Discurso proferido na Sessão em 21 de abril de 1874 - apêndice .............................................. 110
REFERÊNCIAS....................................................................................................244
1 BIOGRAFIA HISTÓRICA
Figura 1 - Certidão de Batismo de Gaspar Silveira Martins. Paróquia de Nsa. Sra. del Pilar e São Rafael
de Serro Largo, 1835. (Documento encontrado na Câmara Municipal de Vereadores do Município de
Silveira Martins, RS, Brasil.)
19
Figura 5 - Mapa atual do Uruguai, em que destaca-se a zona de fronteira do Brasil/Bagé e a Serra de
Aceguá. (Retirado de http://www.geographicguide.com/america-maps/uruguay.htm)
8 Alvin (1985a) afirmou que a sequência dos sobrenomes Silveira Martins respeita o costume do Uruguai
(tradição espanhola), no qual o último sobrenome deve ser o da mãe. Já Contreiras Rodrigues (1945)
considerou que a ordem Silveira Martins foi adotada por uma pretensão estética.
21
Na Constituição do Estado Oriental do Uruguai de 1830 consta que “são
cidadãos naturais todos os homens livres, nascidos em qualquer parte do território
do Estado”9. Assim, conforme a Constituição uruguaia do período, Silveira Martins
foi considerado cidadão uruguaio, pois o mesmo nasceu em território uruguaio, em
região de zona de fronteira com o território brasileiro.
Ao mesmo tempo, a fronteira possibilitou que Gaspar Silveira Martins
também fosse brasileiro. Segundo a Constituição do Império brasileiro de 1824,
consideravam-se cidadãos brasileiros “Os filhos de pai brazileiro, e os illegitimos de
mãi Brazileira, nascidos em paiz estrangeiro, que vierem a estabelecer domicilio no
Império”10. Assim, a fronteira permitiu que Gaspar Silveira Martins, nascido em
região formada por territórios dos Estados uruguaio e brasileiro, fosse considerado
brasileiro e uruguaio, tendo por fundamento as questões legais, sociais e
econômicas. Portanto, a Constituição do Uruguai garantiu a cidadania uruguaia pelo
local de nascimento e a Constituição brasileira pela descendência, por ser filho de
pais brasileiros com residência no Brasil.
Gaspar Silveira Martins, segundo José Julio Silveira Martins (1929), realizou
os estudos primários em Serro Largo, e aos nove anos de idade foi à cidade de
Pelotas estudar no colégio dirigido por Antonio José Domingues 11. Em Pelotas,
morava o avô materno, João Antonio Martins, depois que sua esposa, D. Maria
Joaquina do Nascimento faleceu em 1840. De Pelotas, Silveira Martins foi para o
Maranhão, onde teria ficado por pouco tempo. Do Maranhão regressou ao Rio de
Janeiro onde realizou estudos no Colégio Victorio da Costa, dirigido por Adolfo
Manuel Victorio da Costa e Azevedo. Em anúncio do Colégio Victorio do ano de
1850, consta que Gaspar Silveira Martins foi aprovado em exames preparatórios 12.
Em 1852, Gaspar Silveira Martins matriculou-se na Academia Jurídica de
Olinda, Pernambuco, cursando-a até o 2º ano13, conforme registro de matrícula na
Figura 6.
9 URUGUAY. Constitución de la Republica Oriental del Uurguay de 1830. Sessión II, Capítulo I,
Artículo 8º. In: URUGUAY. Constitución de la Republica Oriental del Uruguay de 1830.
Disponível em: <hhtp://www.parlamento.gub.uy/constituciones/Const830.htm>. Acesso em: 12
abr. 2013 [tradução nossa].
10 Art. 6, parág. II em BRASIL. Constituição Política do Império do Brazil (de 25 de março de
1824). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%
A7ao24.htm>. Acesso em: 11 abr. 2013.
11 Antônio José Domingues era português e migrou para o Brasil em 1808, passando pela Bahia, Rio de
Janeiro e Rio Grande do Sul, onde se destacou como poeta, latinista e professor público (VAZ, Artur
Emilio Alarcon. A Lírica de Imigrantes Portugueses no Brasil Meridional (1832-1922). Tese
(Doutorado em Literatura Comparada) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2006).
12 ANNUNCIO Collegio Victorio. O Brasil. 5 mar. 1850, p. 4. Localização: Biblioteca Nacional do Rio
de Janeiro. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=709565&pasta=
ano%20185&pesq=gaspar%20silveira%20martins>. Acesso em: 2 set. 2013.
13 REGISTRO de matrícula de Gaspar Silveira Martins, Livro nº 42. In: Livro de Matriculas do 1°
anno (1841-1858). Faculdade de Direito do Recife, Universidade Federal de Pernambuco.
22
Figura 6 - Registro de matrícula de Gaspar Silveira Martins, Livro nº 42, Livro de Matrículas do 1° ano
(1841-1858). (Arquivo Geral da Faculdade de Direito do Recife, Universidade Federal de Pernambuco.)
14 VAMPRÉ, Espencer. Memórias para a História da Academia de São Paulo. Brasília: Conselho
Federal de Cultura, 1977.
15 LISTA das faltas dos estudantes da Faculdade de Direito da cidade de São Paulo até o último de
março de 1856. Correio Paulistano, São Paulo, p. 4, 16 maio 1856. Localização: Biblioteca Nacional
do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=
090972_01&pasta=ano%20185&pesq=gaspar%20silveira%20martins>. Acesso em: 5 jul. 2013.
16 REGISTRO de matrimônio de Adelaide Augusta de Freitas Coutinho e Gaspar Silveira Martins. 27 de
novembro de 1856. Rio de Janeiro. Registros da Igreja Católica 1616-1980. Rio de Janeiro, Paróquia
Sant‟Ana, Matrimônios, 1852, Jul-1861, Abr., imagem 128. Disponível em:
<https://familysearch.org/pal:/MM9.3.1/TH-1-14261-13538-55?cc=1719212&wc=M9W3-
KJ6:n631073193>. Acesso em: 30 jul. 2013.
17 INVENTÁRIO de Gaspar Silveira Martins, nº 289, maço 7, ano 1901, 1º Cartório Civil e Crime de
Bagé. Localização: Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS), Porto Alegre, RS.
23
Em 1859, Silveira Martins atuou como Juiz Municipal da 2ª Vara da Corte,
no Rio de Janeiro. Em 6 de maio de 1859, o jornal O Globo noticiou que Gaspar
Silveira Martins assumiu como Juiz Municipal, devido à demissão pedida pelo
bacharel Jose Carlos de Almeida Torres18. Silveira Martins exerceu o cargo até 1864,
quando, por um decreto, foi concedida a sua demissão do cargo de Juiz da segunda
Vara da Corte, sendo nomeado para seu lugar o Dr. Jose da Silva Costa 19. Entre
1862 a 1864 Silveira Martins exerceu o cargo de Juiz na Corte e de Deputado
Provincial na Província do Rio Grande do Sul.
O Gabinete da Conciliação20 que dirigiu o Império entre 1853 e 1858 foi
composto conjuntamente de liberais e conservadores, mas sua direção foi
Saquarema (conservadores)21. O Gabinete da Conciliação esteve inserido no período
de hegemonia saquarema na política imperial que teve início em 1848 e seu fim em
1862, quando os liberais emergiram no gabinete de 24 de maio, presidido por
Zacarias de Góis e Vasconcelos, um dos articuladores da Liga Progressista na
Câmara dos Deputados22.
Em 1852, na Província do Rio Grande do Sul uma reorganização partidária
resultou na formação da Liga e Contra-Liga: os saquaremas da Província do Rio
Grande do Sul passaram por uma forte cisão interna, em que a Liga foi composta
por facções desse partido e dissidentes moderados do Partido Luzia (liberal), que
depois se tornaria o Partido Conservador. Em 1852 surgiu também a Contra-Liga,
que se tornaria o Partido Liberal Progressista, agregando conservadores moderados
e liberais23.
Com a queda da Conciliação em 1859, os liberais da Contra-Liga da
Província do Rio Grande do Sul foram perseguidos e se reorganizaram em torno do
Partido Liberal Histórico. Como no centro do País, as eleições de 1860 registraram
a emergência do Partido Liberal Histórico no Rio Grande do Sul, entre 1860 e 1862.
Este partido lançou seu programa dirigido por Felix da Cunha em 1863, com
características reformistas, com posicionamentos críticos frente à política imperial 24.
Nas eleições de 1861 Silveira Martins foi indicado pelo General Osório, pelo
Partido Liberal Histórico, a concorrer a Deputado Provincial, sendo eleito como
18 O GLOBO. Rio de Janeiro, p. 1, 6 maio 1859. Localização: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/ ocreader.aspx?bib=749974&pasta=ano%
20185&pesq=gaspar%20silveira%20martins>. Acesso em: 5 jul. 2013.
19 A SITUAÇÃO. Maranhão, 23 mar. 1864, p. 2. Acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Disponível: <http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?ib=761338&pasta=ano%
20186&pesq=gaspar%20silveira%20martins>. Acesso em: 4 jul. 2013.
20 Período marcado por uma conciliação política, em que os partidos Liberal e Conservador se uniram
em um único Ministério, entre 1853 a 1858.
21 Segundo Helga Piccolo a partir da abdicação de D. Pedro I em 1831, se teve uma reorganização
partidária, em que o “partido português” que, no decorrer do Primeiro Reinado se identificou com D.
Pedro, formou o grupo dos restauradores; e o “partido brasileiro” que rompeu com o imperador,
integrou o grupo dos liberais, tanto monarquistas (moderados, chimangos, exaltados ou jurujudas ou
farroupilhas) como republicanos. (PICCOLO, Helga Iracema L. Vida política no século XIX: da
descolonização ao movimento republicano. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 1992).
22 BASILE, M. O. O Império Brasileiro: panorama político. In: LINHARES, M. Y. (org.). História
geral do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 1990.
23 CARNEIRO, Newton. Dissidência política e partidos: da crise com a regência ao declínio do II
Reinado. In: PICCOLO, Helga I; PADOIN, Maria Medianeira. História do RS – Império I. Passo
Fundo: Méritos, 2006.
24 PICCOLO, op cit., 1992.
24
representante do 2º Círculo Eleitoral25. Em 1862, ele assumiu o cargo de Deputado
Provincial na Assembleia do Rio Grande do Sul e o Partido Liberal Histórico
impôs-se como maioria na 12ª legislatura (1866 e 1867) desbancando o Partido
Liberal Progressista. Com a morte de Felix da Cunha em 1865 e a ida do Manuel
Luis Osório, o Marques de Herval à guerra do Paraguai, Gaspar Silveira Martins
passou a liderar a bancada liberal na Assembleia Provincial. Entretanto, por decreto
do governo imperial, no fim de 1866 as eleições no Rio Grande do Sul foram
suspensas devido à participação do Império na Guerra do Paraguai.
No fim da década de 1860, o contexto político-partidário imperial e
provincial foi marcado por algumas indefinições partidárias que emergiram com a
queda do Gabinete Zacarias e a subida do Gabinete conservador do Visconde de
Itaboraí, em 1868. Com a emergência do Gabinete conservador, o Partido
Conservador no Rio Grande do Sul foi reorganizado, e passou a abrigar a maioria
dos liberais progressistas. Já no Rio de Janeiro, a rearticulação partidária uniu
liberais históricos e progressistas no Partido Liberal, e um programa partidário foi
criado em 186926.
As discussões acerca desse programa aconteceram em conferências radicais,
reuniões, debates organizados em torno dos clubes radicais. Sendo assim, em 1868
formou-se o Clube Radical, núcleo do futuro Partido Republicano, formado por
uma ala mais radical dos liberais históricos que pertenceram à Liga Progressista a
nível imperial. Gaspar Silveira Martins foi membro do Clube Radical do Rio de
Janeiro no Império27. Em discussões e debates sobre reformas na Constituição
Imperial, em 16 de maio de 1869 Silveira Martins pronunciou o discurso sobre o
“Radicalismo”28 em uma conferência no Teatro Phenix Dramática, no Rio de
Janeiro, além de vários artigos publicados no jornal A Reforma do Rio de Janeiro no
ano de 1869. Esses discursos criticavam o sistema político do período, o Senado
vitalício, a eleição indireta, a forma do sistema representativo monárquico, e
defendiam o estado laico, a imigração europeia e a liberdade religiosa.
Em um dos artigos publicados no jornal A Reforma do Rio de Janeiro
Gaspar Silveira Martins declarou:
25 A lei eleitoral de 1860 dividia a Província do RS em dois círculos eleitorais. O 2º círculo eleitoral
constituía os municípios de Rio Grande, São José do Norte, Pelotas, Piratini, Canguçu, Jaguarão, Bagé,
Livramento, Alegrete, Uruguaiana, Itaqui, São Borja, Cruz Alta e Passo Fundo (TRINDADE, Hélgio;
NOLL, Maria. I. Rio Grande da América do Sul: partidos e eleições (1823-1990). Porto Alegre: Ed.
da UFRGS/Sulina, 1991).
26 PICCOLO, 1992.
27 CONFERÊNCIA Radical. Opinião Liberal. Rio de Janeiro, p. 3, 11 maio 1869. Localização:
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/
docreader.aspx?bib=359696&pasta=ano%20186&pesq=gaspar%20silveira%20martins>. Acesso em:
5 jul. 2013.
28 MARTINS, Gaspar Silveira. Discurso sobre o Radicalismo. 8ª Sessão. Rio de Janeiro: Tyipografia e
Lithographia Esperança, 1869. Localização: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
25
formula, é o meio de conseguirmos estes grandes fins, que nobilitam o
individuo, engrandecem a pátria, e honram a humanidade.” 29
29 QUEM não pode trapacêa III. A Reforma. Rio de Janeiro, p. 1, 25 jul. 1869. Localização: Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?
bib=226440&pasta=ano%20186&pesq=SILVEIRA%20MARTINS>. Acesso em: 16 maio 2013.
30 PICCOLO, 1992.
31 Em 1872, o Rio Grande do Sul era dividido em 6 Distritos eleitorais. O 2º Distrito eleitoral era
formado pela região norte da Província (TRINDADE; NOLL, 1991).
32 O periódico A Reforma do Rio de Janeiro publicou a manifestação de apoio do Clube Liberal de
Vassouras, o diretório liberal de Itaguahy, e do 1º distrito eleitoral do Rio Grande do Sul a Gaspar
Silveira Martins. (MANIFESTAÇÃO honrosa ao Dr. Silveira Martins. A Reforma, Rio de Janeiro, p.
1, 18 fev. 1873. Localização: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=226440&pasta=ano%20187&pesq=%20Va
ssouras>. Acesso em: 7 jul. 2013); (CORRESPONDÊNCIAS do Rio Grande do Sul. A Reforma, Rio
de Janeiro, p. 2, 27 fev. 1873. Localização: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=226440&pasta=ano%
20187&pesq=%20Vassouras>. Acesso em: 7 jul. 2013).
26
sob comando do Gabinete Conservador de Visconde de Rio Branco (1871-1875). A
“Questão Religiosa” já estava posta, pois em 1869, nos artigos denominados
“Recurso à Coroa”, Gaspar Silveira Martins denunciava o caso de alguns bispos
estarem infringindo as liberdades civis de vigários e clérigos em suas paróquias.
Foi o caso do bispo de Porto Alegre, Don Sebastião Laranjeiras, que
suspendeu das funções diversos cônegos e párocos e demonstrou ser contrário à
ordem maçônica33. E, em Pernambuco, frei Vital de Oliveira, bispo da Diocese de
Olinda, que declarou “guerra aos maçons” e D. Antonio de Macedo Costa, bispo
do Pará e outros bispos que se aliaram ao frei Vital. As atitudes dos bispos foram
consideradas um “despotismo clerical” por Gaspar Silveira Martins:
33 Um protesto da loja Maçônica Indivisível de Santa Victoria do Palmar, Rio Grande do Sul, foi publicado
pelo jornal Echo do Sul e republicado pelo O Liberal do Pará, em que a loja maçônica reclama dos
desmandos que a ordem maçônica estava sofrendo por parte do Bispo Don Sebastião Laranjeiras e
sua pastoral. (MAÇONARIA. O Liberal do Pará. Belém, p. 1, 18 abr. 1874. Localização: Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/
docreader.aspx?bib=704555&pasta=ano%20187&pesq=Echo%20do%20Sul>. Acesso em: 31 jul.
2013).
34 BRASIL. Câmara dos Deputados. Anais da ... Sessão de 31 jul. 1873, p. 352.
35 Percebe-se o contexto marcado pelo Padroado Régio, em que Igreja e Monarquia (Estado) estavam
unidas, sendo a Igreja mantida pela Monarquia, e o Imperador o responsável pela nomeação dos
bispos e vigários.
36 BRASIL. Câmara dos Deputados. Apêndice. Anais da ... Sessão de 31 jul. 1873, p. 350-353.
Disponível em: <http://imagem.camara.gov.br/ diarios.asp>. Acesso em: 27 jun. 2011.
37 O jornal A Reforma do Rio de Janeiro, em 24 de julho de 1874 traz uma reportagem que é uma
resposta a uma carta enviada pelo Diário de Pelotas a Gaspar Silveira Martins, pedindo informação sobre
o traçado da estrada de ferro. Na carta em resposta ao pedido, Gaspar diz que não prefere um lugar
específico para passar a estrada, mas que deve ser feito um estudo, a fim de que a estrada passe por
lugares mais industriosos e militares, pelos pontos mais ricos, para trazer desenvolvimento à Província
do RS. (ESTRADA de ferro. A Reforma, Rio de Janeiro, p. 1, 24 jul. 1874. Localização: Arquivo
Histórico de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil).
38 BRASIL. Câmara dos Deputados, op cit.
27
Na primeira página de O Amolador evidencia-se uma charge alusiva a
“oratória, sabedoria e civismo” de Gaspar Silveira Martins:
Figura 8 - Caricatura no “Diabrete”, de 3/11/1878, referente à dissensão liberal entre o General Osório
e o conselheiro Gaspar Silveira Martins, em disputa pelo traçado da ferrovia. (Acervo do Memorial da
Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.)
44 Segundo Helga Piccolo (1992, p. 63) os “gasparistas” constituiriam o Partido Federalista em 1892 e os
“osoristas” seriam a base do Partido Republicano Rio-grandense a partir de 1889.
45 Segundo os dados fornecidos pelo site do Senado Federal, Silveira Martins atuou como senador nas
17ª, 18ª, 19ª e 20ª legislaturas do período legislativo do Império (1829-1889). Fonte:
http://www.senado.gov.br/senadores/periodos/legisAnt.shtm
30
Província do Rio Grande do Sul, ao contrabando realizado na fronteira da Província
do Rio Grande do Sul e ao melhoramento da barra do Rio Grande 46.
No período em que atuava como Senador do Partido Liberal, Gaspar
Silveira Martins recebeu o título de Grão-mestre, demonstrando assim, sua
participação na maçonaria:
46 Em Sessão no Senado do dia 15 de setembro de 1882 Gaspar Silveira Martins defendeu a necessidade
de resolver a questão do problema da barra de Rio Grande: “Os trabalhos a executar na barra tem
duas partes: a sua desobstrucção para melhorar a navegação que cada vez se torna mais difícil,
collocando a província tributaria de Montevideo; e a construção do porto, que, segundo os planos de
vários engenheiros, não é só provável, mas certo poder construir-se” (BRASIL. Senado Federal. Anais
do ... Sessão de 15 set. 1882, p. 326. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/publicacoes/anais/
asp/PQ_P esquisar.asp>. Acesso em: 9 mar. 2011).
31
Figura 11 - Quadro em homenagem a Gaspar Silveira Martins em 1920, da Loja Amizade de Bagé, na
ocasião do traslado dos seus restos mortais. (Acervo do Museu Líbio Vinhas, da Loja Amizade, Bagé,
RS. Imagem gentilmente disponibilizada pelo Sr. Edegar Quintana.)
32
Figura 12 - Silveira Martins como Grão-mestre da Ordem. Grande Oriente Brasileiro, 1883.
(Acervo do Grande Oriente do Rio Grande do Sul (GORGS), Porto Alegre, RS.)
33
No momento em que Silveira Martins atuava como Senador, o mesmo era
Deputado Provincial no Rio Grande do Sul. Na Assembleia em 1887, Silveira
Martins foi relator da Comissão de Orçamento, e defendeu a necessidade de mais
estudos acerca de um projeto de construção de uma estrada entre São Martinho e
Santa Maria da Boca do Monte 47. E em 1889 assumiu a presidência da Província do
Rio Grande do Sul.
Figura 13 - Maioria Liberal da Assembleia Provincial em 1889. Da esquerda para a direita e primeiro
os sentados: 1. José Francisco Diana; 2. Severino de Freitas Prestes; 3. Joaquim Pedro Salgado; 4.
Gaspar Silveira Martins; 5. Joaquim Pedro Soares; 6. Francisco Carlos de Araújo Brusque; 7. Antônio
Eleutério de Camargo. De pé, da esquerda para a direita: 8. Joaquim Antônio Vasques; 9. Orlando
Carneiro da Fontoura; 10. Alfredo Pinheiro Machado; 11. Albino Pereira Pinto; 12. Antônio Ferreira
Prestes Guimarães; 13. Carlos Von Koseritz; 14. Luiz Henrique Moura de Azevedo; 15. José Manoel da
Silva Só; 16. Frederico Haensel; 17. Barão de Kalden; 18. Pedro Pereira Maciel; 19. João de Deus
Martins; 20. Pedro Baptista Corrêa da Câmara; 21. Bento Soares de Oliveira; 22. Diniz Dias Filho.
(Acervo Instituto Histórico e Geográfico do RS/IHGRS.)
47 PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL. Assemblea Provincial. Anais da ...
Sessão de 13 jan. 1887. Localização: Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do RS, Porto
Alegre.
48 SOUZA, 2008, p. 305-333.
34
as praças comerciais da Província e reduzir os impostos das repúblicas vizinhas 49.
Nesse mesmo momento, Silveira Martins reclamou do imposto cobrado sobre o sal
importado pela economia charqueadora da Província,
49 BRASIL. Senado Federal. Anais do ... Sessão do dia 13 nov. 1888. p. 554. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/publicacoes/anais/asp/ PQ_Pesquisar.asp>. Acesso em: 7 fev. 2011.
50 BRASIL. Senado Federal. Anais do... Sessão do dia 14 nov. 1888. p. 555. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/publicacoes/anais/ asp/PQ_Pesquisar.asp>. Acesso em: 7 fev. 2011.
51 BRASIL. Organizações e Programas Ministeriais: regime parlamentar no Império. Brasília:
Departamento de Documentação e Divulgação, 1979. A Lei de criação do Conselho de Estado,
decretou que ele seria composto de Membros Ordinários, além de até doze Conselheiros
extraordinários, ambos nomeados pelo Imperador. As competências dos Conselheiros de Estado
extraordinários são as de: servir no impedimento dos ordinários, sendo para esse fim designados; e ter
assento, e voto no Conselho de Estado, quando forem chamados para alguma consulta.(Fonte:
BRASIL. Senado Federal. Subsecretaria de Informações. Lei nº 234 - de 23 de novembro de 1841.
Creando um Conselho de Estado. Coleção de Leis do Brasil de 31/12/1841. Brasília, DF, 1841.
Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaNormas.action?numero=234&
tipo_norma=LEI&data=18411123&link>. Acesso em: 10 jun. 2013.)
52 MARTINS, Gaspar Silveira. A Reforma. Rio Grande do Sul, p. 1, 2 dez. 1891. Localização: Museu de
Comunicação Hipólito José da Costa, Porto Alegre, RS; MARTINS, Gaspar Silveira. A Reforma, Rio
Grande do Sul, p. 1, 17 dez. 1891. Localização: Museu de Comunicação Hipólito José da Costa, Porto
Alegre, RS.
35
As divergências de ideias, projetos e interesses entre o Partido Federalista e o
Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) levaram ao desenvolvimento da
Revolução Federalista de 1892 a 1895. Silveira Martins participou como um dos
chefes da Revolução Federalista contra o grupo dos republicanos, que tinham por
líder Julio de Castilhos. Os federalistas concentraram-se no norte Uruguai, pois os
mesmos mantinham boas relações tanto com o Partido Blanco, quanto com o
Partido Colorado.
Gaspar Silveira Martins, do Uruguai, onde tinha propriedades, comandou a
invasão ao Rio Grande do Sul. Em 1895, um pouco antes de terminar a guerra civil,
Gaspar Silveira Martins ficou exilado em Buenos Aires, Argentina.
Com o fim da Revolução Federalista, em 1896 foi organizado um novo
Congresso do Partido Federalista, presidido por Gaspar Silveira Martins. Nesse
Congresso defendeu-se a continuidade do Partido e a oposição a Constituição
Federal da República. Este programa teve característica centralizante, de formação
de um Estado unitário federal, para evitar o excesso de poder nas constituições e
poderes estaduais.
Silveira Martins estava estabelecido no Uruguai, no Departamento de
Tacuarembó, na estância do Rincão do Pereira, costa do Rio Negro. Em seu
inventário, consta que dois de seus filhos, Álvaro Silveira Martins e José Julio
Silveira Martins moravam em Tacuarembó. Já seu filho, Carlos Silveira Martins,
formado em Direito em São Paulo, foi secretário da Província do Rio de Janeiro 53 e
morava no Rio de Janeiro54. Gasparina Silveira Martins, filha de Silveira Martins e D.
Adelaide Coutinho, casou-se com Lafayette Coutinho Rodrigues Pereira, filho do
Conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira e de Francisca Coutinho Rodrigues Pereira,
natural do Rio de Janeiro55. Dona Adelaide Coutinho, esposa de Gaspar Silveira
Martins, morava no Rio de Janeiro, assim como suas filhas Francisca Martins
Ramos, casada com seu primo-irmão Eduardo Ferreira Ramos e Gasparina Silveira
Martins com seu esposo Lafayette Coutinho Rodrigues Pereira 56. Outra filha do
casal, D. Adelaide Silveira Martins, casou-se com o Dr. Olympio Baptista da Silva
Leão em 188557.
Gaspar Silveira Martins faleceu em 23 de julho de 1901, em Montevidéu,
Uruguai, conforme seu atestado de óbito:
53 JORNAL O MERCANTIL. Rio de Janeiro, p. 2, 4 fev. 1885. Localização: Biblioteca Nacional do Rio
de Janeiro. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=376493&pasta=
ano%20188&pesq=carlos%20silveira%20martins>. Acesso em: 22 maio 2013.
54 INVENTÁRIO de Gaspar Silveira Martins, 1901.
55 GASPARINA Silveira Martins. Brasil, Registro Civil, 1870-2012. Rio de Janeiro, 5ª Circunscrição,
Matrimônios 1899-1902, v. 2, imagem 138. Disponível em: <https://familysearch.org/pal:/MM9.3.1/
TH-266-11883-142973-55?cc=1582573&wc=M93J-9KC:n1182625687>. Acesso em: 9 maio 2013.
56 INVENTÁRIO ..., op cit.
57 NOTICIÁRIO. O Paiz. Rio de Janeiro, p. 1, 12 set. 1885. Localização: Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro. <http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_01&pasta=ano%20188&
pesq=silveira%20martins>. Acesso em: 29 maio 2013.
36
58 FRANCO, Sérgio da Costa. O Partido Federalista. In: RECKZIEGEL, Ana Luiza Setti; AXT, Gunter
(org.). História geral do Rio Grande do Sul - República Velha (1889 – 1930). Passo Fundo:
Méritos, 2007. v.3, tomo I.
59 RODRIGUES, Ricardo Vélez. O Castilhismo e as outras ideologias. In: RECKZIEGEL, Ana Luiza
Setti; AXT Gunter (org.). História do Rio Grande do Sul - República Velha (1889 – 1930). Passo
Fundo: Méritos, 2007. v.3, tomo I.
60 Ibid..
61 Testamento político de Gaspar Silveira Martins. (FRANCO, Sergio da Costa. O Partido Federalista
do Rio Grande do Sul (1892-1828). (Série Caderno de História, n.13). Disponível em:
<http://www.memorial.rs.gov.br/cadernos/maragatos.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2013).
38
10º - As Constituições dos Estados serão revistas pelo Senado Federal,
que lhes dará o tipo político uniforme da União.
62 Testamento político de Gaspar Silveira Martins. FRANCO, Sergio da Costa. O Partido Federalista do
Rio Grande do Sul (1892-1828). In: Caderno de História, nº 13. Memorial do Rio Grande do Sul. In:
http://www.memorial.rs.gov.br/cadernos/maragatos.pdf.
63 FRANCO, Sergio da Costa. O Partido Federalista. In: RECKZIEGEL, Ana Luiza Setti; AXT Gunter
(org.). República Velha (1889 – 1930). Passo Fundo: Méritos, 2007.
39
Gaspar Silveira Martins foi enterrado no panteão da família Suarez, em
Montevidéu, no Cemitério Central. O jornal La Nación comunicou o falecimento do
político64 e no mesmo jornal, foi publicado um telegrama assinado por amigos da
província de Salto, no Uruguai, no qual autorizavam a compra de uma coroa de
flores ao túmulo de Silveira Martins65. A notícia de seu falecimento também
repercutiu no Rio de Janeiro, onde Gaspar Silveira Martins morou por muitos anos.
O jornal Cidade do Rio exibiu em sua capa uma homenagem ao falecimento do
político.
64 O jornal “La Nación” de Montevidéu comunica o falecimento “del notable hombre publico brasileño
Conselheiro Gaspar Silveira Martins, que tanto actuó em la política del vecino país”. Fallecimiento de
Silveira Martins. La Nación, Montevidéu, 24 jul.1901. Rojo 321, pg. 1. Acervo da Biblioteca Nacional
do Uruguai.
65 A la memória de Silveyra Martins. La Nación, Montevideo, 28 jul. 1901, p. 1. Acervo da Biblioteca
Nacional do Uruguai, Montevidéu, Uruguai.
40
Rio Grande do Sul66. Dezenove anos depois, em 1920, os restos mortais de Gaspar
Silveira Martins foram trazidos ao Rio Grande do Sul, passando pelas cidades de
Rio Pardo, Santa Maria até serem depositados na Igreja Matriz de Bagé, Rio Grande
do Sul, onde permanecem até hoje67.
66 MARTINS, Gaspar Silveira. A Federação. Rio Grande do Sul, p. 2, 28 ago. 1907. Localização:
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/
docreader.aspx?bib=388653&pasta=ano%20190&pesq=silveira%20martins>. Acesso em: 19 ago.
2013.
67 MARTINS, Gaspar Silveira. Jornal Gaspar Martins. Santa Maria, 28 jun. 1920. Localização: Arquivo
Histórico Municipal de Santa Maria.
41
[...] em todas as posições, que se abateram diante d'elle para que elle
entrasse sem subir, em todos os papeis que desempenhou, Silveira
Martins foi sempre único, differente de todos os mais; possante e solido,
súbito e irresistível, natural e insensível, como uma tromba ou um
cyclone. Elle é o seu próprio auditório, sua própria claque;respira
no"espaço illimitado da sua individualidade, da sua satisfação intima,
dos seus triumphos decretados com justiça por elle mesmo e depois
homologados pela massa obediente,como o gaúcho, respira nos Pampas,
onde, no horizonte inteiro, nada vem interceptar, opprimir o seu largo
hausto. É em uma palavra, uma figura fundida no molde em que a
imaginação prophetica vasava as suas creações. É o Sansão do
Império68
68 NABUCO, Joaquim. Um estadista do Império: Nabuco de Araujo: sua vida, suas opiniões, sua
época. Rio de Janeiro: Garnier; Livreiro-Editor, 1918. p. 187-188. Tomo III. Disponível em:
<http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/ 1918/01206330#page/1/mode/1up>. Acesso em: 31
jul. 2013.
43
2 LIBERALISMO
14 No Brasil, pela Lei de 11 de agosto de 1827 foram criados dois cursos de Ciências Jurídicas e Sociais,
um na cidade de Olinda, sendo esse transferido para o Recife em 1854 e outro para São Paulo.
(PRESIDÊNCIA da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos. Lei de 11 de agosto de
1827. Crêa dous Cursos de sciencias Juridicas e Sociaes, um na cidade de S. Paulo e outro na de
Olinda. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LIM/LIM-11-08-1827.htm>.
Acesso em: 15 jun. 2013 às 20:35:15).
15 PICCOLO, Helga Iracema L. O Federalismo como Projeto Político no Rio Grande do Sul. In:
TARGA, Luis Roberto P. (org.). Breve inventário de temas do sul. Porto Alegre: UFRGS: FEE;
Lajeado: Univates, 1998.
16 PADOIN, Maria Medianeira. O federalismo gaúcho: fronteira platina, direito e revolução. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001.
17 PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL. Assemblea Provincial. Anais da ...
Sessão de 22 set. 1862, . p. 5-11. Localização: Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS.
47
governo central, acusou-os de violar as liberdades e direitos individuais. Essa
questão mereceu um longo discurso de Gaspar Silveira Martins na Assembleia
Provincial, ao considerar que muitas vezes o princípio da autoridade infringia o
princípio da liberdade individual:
um dos grandes mestres da política liberal, o illustre Sismondi, fallando
da discussão – diz – a discussão sempre refreia o poder, e os próprios
monarchas a temem, porque ella os faz descer de sua posição de
soberanos para trata-los como funcionários, que são.
Nunca, Sr. presidente, se dá demasiada importância à liberdade
individual; o poder tem sempre tendências para coartal-a, para destruil-
a mesmo, e nos animamos essas tendências com o nosso habitual
indifferentismo.
Decrescentes de tudo, fatigados da luta nos recolhemos ao nosso lar, e
deixamos à policia e a autoridade a liberdade dos nossos concidadãos. –
Cegos não vemos que a liberdade individual é um principio, e os
princípios uma vez quebrados desapparecem, e se extinguem; daí a
policia o direito de prender a seu arbítrio e todas as liberdades são
cadeas [...] na liberdade se encerram todas os direitos do homem; e foi
por isso que a nossa constituição no art. 179 chamou a base de nossos
direitos; sobre ella realmente se levantam em pyramide todas as
liberdades, todas s acham nesse único direito virtualmente contidas! 18
18 PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL. Assemblea Provincial. Anais da ...
Sessão de 22 set. 1862, p. 9. Localização: Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS.
19 MARTINS, Gaspar Silveira Martins. Discurso na Sessão de 6 de abril de 1863. Jornal O Mercantil,
20 abr. 1863, p. 1. Localização: Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, RS, Brasil.
20 BRASIL. Constituição Política do Império do Brazil (de 25 de março de 1824).
21 O Ato Adicional originou-se de um projeto de reforma constitucional aprovado na Câmara dos
Deputados em 1832, onde estabelecia, além de outras questões, a criação das Assembleias Legislativas
Provinciais com autonomia, limitação do Executivo e a substituição da Regência Trina pela Una, eleita
pelas Assembleias Provinciais. Às Assembleias cabia o direito de determinar as despesas municipais e
as provinciais e os impostos que deveriam ser cobrados para fazer frente a tais despesas. Eram
responsáveis pela fiscalização das rendas públicas provinciais e municipais, além do controle final das
contas. Cabia à Assembleia as divisões civil, judiciária e eclesiástica da província (DOLHNIKOFF,
2005, p. 99).
48
Silveira Martins. Assim, Silveira Martins considerou as Assembleias Provinciais
como símbolos da autonomia provincial e como umas das primeiras conquistas da
liberdade do Brasil22.
No Rio de Janeiro, no contexto de reorganização partidária de liberais e
conservadores na década de 1860, Gaspar Silveira Martins participou de uma
conferência radical, pronunciando discurso que ficou conhecido por “Radicalismo”.
Nesse discurso, que foi impresso, estão presentes as principais ideias liberais
defendidas pelo político, em que algumas delas se contrapõem à administração
imperial do período: a vitaliciedade do senado, segundo Silveira Martins, era fatal à
liberdade, assim como a união entre Estado e Igreja; ao falar sobre a
representatividade do Império, ele comentou “Mas, assim como nos queremos a
garantia dos cidadãos contra as violências do governo, também queremos garantias
das pequenas províncias contra as grandes e a das grandes contra o Império
23
todo” . Nesse mesmo discurso, Gaspar Silveira Martins falou sobre a situação da
Província do Rio Grande do Sul em relação à sua representatividade nacional:
Ultimamente ainda a minha província do Rio Grande, depois de tantos
sacrifícios foi excluída da representação nacional; (Muito Apoiados!)
10 províncias se reunirão, e nós fomos despojados do nosso direito;
decretarão que se levantasse no Rio Grande um terceiro exercito,
decretarão-se novos impostos, tudo sem sermos ouvidos. Por menos do
que isso a America do Norte fez a sua revolução e independência, e
nós, os rio-grandenses, que tantos serviços havemos prestado à pátria no
campo da batalha (numerosos apoiados!) ainda nos sujeitamos, não
digo ao sacrifício do imposto, senão ao de nossos direitos! (Muito bem!)24
22 PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL. Assemblea Provincial. Anais da ...
Sessão de 23 nov. 1867, p. 532. Localização: Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS.
23 MARTINS, Gaspar Silveira. Conferência Radical, oitava Sessão, 1869, p. 24 e 25. Discurso
proferido pelo Sr. Dr. Gaspar Silveira Martins sobre o Radicalismo. Rio de Janeiro: Typografia e
Lithographia Esperança, 1869. Localização: Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
24 Ibid., p. 25.
25 PICCOLO, Helga Iracema L. A política rio-grandense no Império. In: DACANAL, Jose Hidelbrando;
GONZAGA, Sergius (Orgs.). RS: economia e política. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. p. 105.
49
fundamental que rege o Império, dando uma certa autonomia as
províncias com a criação das assembléias provinciais.
Pela Lei das Reformas Constitucionais elegem-se, de dois em dois anos,
os mandatários da Província, como pela Constituição, de quatro em
quatro anos os mandatários da Naçao, para votarem as contribuições
que no ano se hão de pagar. Somos, pois, neste regime os cidadãos, que
a nos mesmos nos taxamos, determinando a contribuição de cada um,
como nas associações se marca a quota de entrada, ou a mensalidade de
cada associado26.
Sendo assim, observamos que Gaspar Silveira Martins teve uma atuação
política pautada em princípios do Liberalismo, vinculado ao contexto político do
período. Sua proposta de reforma constitucional do Estado Imperial tinha
fundamentação em seu Liberalismo, pois buscava descentralizar a administração
entre as províncias e municípios, atribuindo maior autonomia à periferia com a
criação de legislativos provinciais e municipais. Além disso, a questão dos impostos
e tarifas também procuraram ser descentralizadas por Gaspar Silveira Martins, assim
como o desenvolvimento das estradas de ferro à Província do Rio Grande do Sul.
Conforme Miriam Dolhnikoff (2005), Gaspar Silveira Martins se empenhou em
descentralizar a arrecadação dos impostos enquanto ministro da Fazenda em 1877.
A proposta de criação de uma tarifa especial para a Província do RS beneficiava as
principais praças comerciais da Província, prejudicadas pelo contrabando na
fronteira com o Uruguai e pela concorrência dos produtos platinos. Ela foi apoiada
por Gaspar Silveira Martins e decretada quando o mesmo exerceu o cargo de
Ministro da Fazenda do Império.
26 PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL. Assemblea Provincial. Anais da ...
Sessão de 21 abr. 1874. p. 421 e 422. Localização: Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.
27 MARTINS, Gaspar Silveira Martins. Discurso na Sessão de 20 dez. 1878. p. 108. Anais da Câmara
dos Deputados. Disponível em: <http://imagem.camara.gov.br/ diarios.asp>. Acesso em: 5 abr.
2011, 12:03:30.
50
Assim, a descentralização do poder (fortalecimento das províncias e
municípios) permitiria um melhoramento da vida política das províncias e da
liberdade dos cidadãos, e com isso, a atividade comercial da Província do Rio
Grande do Sul, que via-se prejudicada com a interferência monárquica e com a
prática do contrabando, gozaria de maior autonomia e espaço de atuação dos
potentados locais.
Já com a Proclamação da República em 1889, a concepção liberal
predominante no Império entrou em contraposição com a ideologia positivista do
governo estadual de Julio de Castilhos, e segundo Vélez Rodrigues “o combate foi
ganho, com inegável vantagem, pela visão positivista heterodoxa”28.
Gaspar Silveira Martins, representante do Liberalismo, fez duras críticas ao
positivismo castilhista, expressando essas diferenças ideológicas em seu Testamento
Político, de 1901. Nesse documento, Gaspar Silveira Martins defendeu o
fortalecimento do governo representativo dentro da República Presidencialista e o
fortalecimento da União sobre os estados, em uma centralização administrativa.
Segundo Vélez Rodrigues:
[...] Silveira Martins fortalece o papel do Congresso Nacional adotando
o regime parlamentar, atribuindo-lhe a função primordial de legislar,
bem como a de vigiar a vida política dos estados, especialmente no
relativo às Constituições, a de regular a marcha do Executivo, mediante
a eleição do presidente da República, a fiscalização das funções
ministeriais e a escolha dos presidentes dos estados29.
28 VÉLEZ RODRIGUES, Ricardo. O castilhismo e as outras ideologias. In: RECKZIEGEL, Ana Luiza
Setti; AXT Gunter (org.). História do Rio Grande do Sul - República Velha (1889 – 1930). Passo
Fundo: Méritos, 2007. v.3, tomo I, p.58.
29
Ibid., p. 58.
51
3 POSICIONAMENTO POLÍTICO
1 BRASIL, 1824.
2 CARVALHO, José Murilo de. A vida política. In: CARVALHO, José Murilo de (org.). A construção
nacional (1830-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. v.2.
3 DOLHNIKOFF, Miriam. O pacto imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São
Paulo: Globo, 2005.
4 CARVALHO, op cit..
5 DOLHNIKOFF, op cit., p.132.
145
nas decisões sobre os empregos gerais, enquanto ao governo provincial ficavam
reservadas as decisões sobre empregos provinciais e municipais”. Duas mudanças
foram feitas pelos conservadores, a reforma do Código do Processo Criminal de
1841 e a Interpretação do Ato Adicional em 1840. A primeira, retirou dos juízes de
paz as atribuições referentes ao processo criminal e criou os cargos de delegados e
subdelegados que passaram a ser responsáveis por tais funções. A Interpretação do
Ato Adicional também visou à centralização do aparato judicial, e a mudança
ocorrida foi em relação à natureza dos empregos gerais, de competência do governo
central, dos empregos provinciais, de competência do governo provincial.
A unidade da América portuguesa, sob o governo do Rio de Janeiro, foi
possível pelo estabelecimento de um arranjo institucional por meio do qual essas
elites se acomodaram ao contar com mais autonomia para administrar suas
províncias e obter garantias de participação no governo central através de suas
representações na Câmara dos Deputados 6. Assim, as elites provinciais participaram
na construção do Estado Nacional brasileiro seja a nível provincial ou nacional
através do arranjo institucional implantado pelas reformas liberais da década de
1830 e com o Ato Adicional de 1834, permanecendo após a revisão conservadora
da década de 18407.
Sendo assim, Gaspar Silveira Martins buscou as origens do seu partido no
movimento liberal de 1831, quando reformas liberais foram aprovadas, como o Ato
Adicional. Membro do Partido Liberal, defensor do Liberalismo e da
descentralização administrativa, Gaspar Silveira Martins defendeu as reformas
promulgadas pelo Ato Adicional de 1834. Na Assembleia Legislativa Provincial, em
sessão de 16 de novembro de 1866, ele discursou a respeito dos benefícios que o
Ato Adicional trouxe à Província e sobre o “Regresso” conservador:
6 DOLHNIKOFF, 2005.
7 Ibid.
146
que procura por todos os meios, contestar nossos direitos, e por peias as
leis provinciaes8.
15 BRASIL. Senado Federal. Anais do ... Sessão do dia 21 ago. 1882, p. 54.
16 Id. Anais do ... Sessão do dia 27 abr. 1882, p. 52.
17 MARTINS, Gaspar Silveira. A Reforma, 6 jul. 1886.
18 BRASIL. Senado Federal. Anais do ... Sessão do dia 5 set. 1888. p.554.
149
do Imperador. O parlamentarismo pensado pelo político seguia o modelo
parlamentarista da Inglaterra, Bélgica e Itália:
23 PICCOLO, 1992.
24 Ibid.
189
Partido Conservador. Frente à organização desse Gabinete Conservador, os liberais
fundaram o Partido Liberal em 1869 e com o jornal A Reforma, propuseram o
programa do Partido Liberal25.
No contexto da política da Conciliação a nível imperial26, no Rio Grande do
Sul em 1852, uma aliança entre saquaremas e liberais resultou na formação da Liga,
que constituiria a organização do Partido Conservador. Neste mesmo ano, liberais e
conservadores não identificados com a Liga, organizaram a Contra Liga, que foi a
matriz do Partido Liberal Progressista. Com a queda do Gabinete da Conciliação
em 1859, deu-se na Província do Rio Grande do Sul a organização do Partido
Liberal Histórico. Esse partido opôs-se ao Partido Liberal Progressista, liderado
pelo Conde de Porto Alegre. O Partido Liberal Histórico elegeu a maioria dos
representantes na Assembleia Provincial, ascendendo Felix da Cunha, Gaspar
Silveira Martins, Amaro da Silveira, Timóteo Pereira da Rosa, e Davi Canabarro
como líderes em oposição a Felipe Nery e Barão de Porto Alegre27.
O Partido Liberal Histórico, na Província do Rio Grande do Sul, impôs-se
como maioria na 12ª legislatura (1866 e 1867) desbancando o Partido Liberal
Progressista, na Assembleia Provincial. Com a morte de Felix da Cunha em 1865 e a
ida do General Osório à Guerra do Paraguai, Gaspar Silveira Martins passou a
liderar a bancada Liberal na Assembleia Provincial 28. Em 1868, o Partido
Progressista e o Partido Liberal Histórico uniram-se em um mesmo partido, o
Partido Liberal (histórico e progressista).
A entrada de liberais progressistas no Partido Conservador provocou a cisão
do Partido Conservador, favorecendo a vitória dos liberais nas eleições de 1872. A
partir de então, o Partido Liberal predominou na Província até o fim do Império. O
predomínio dos liberais expandiu-se à Câmara dos Deputados e Senado Federal. Já
na década de 1880 acentuou-se a divisão interna dentro do Partido Liberal entre
“gasparistas” e “osoristas”29.. Mais tarde, os gasparistas constituiriam o Partido
Federalista e a família de Osório participaria do Partido Republicano Rio-
Grandense, após 1889. Também na década de 1880, assistiu-se a organização do
Partido Republicano no Rio Grande do Sul, com base no manifesto republicano de
1870, no Rio de Janeiro, fundando em 1882 o Partido Republicano Rio-Grandense
(PRR)30.
Em sua atuação política, Gaspar Silveira Martins enquanto Deputado
Provincial do Partido Liberal, realizou críticas à administração dos Gabinetes que
estiveram sob comando do Partido Conservador, especialmente nas décadas de
1860 e 1870. Os Gabinetes Ministeriais que dirigiam o Império foram
conservadores até 1878, quando os liberais retomaram o poder com a formação do
25 BASILE, 1990.
26 Ministério composto conjuntamente por liberais e conservadores. A direção do Ministério foi
Saquarema (BASILE, 1990).
27 CARNEIRO, 2006.
28 PICCOLO, op cit.
29 A “aliança gasparista” era a ala do Partido Liberal que tinha como líder Gaspar Martins, na qual
estavam presentes as ideias mais radicais do período. A cisão interna do partido em dois grupos foi
decorrente da discussão da reforma eleitoral do império, em que Gaspar Silveira Martins defendia a
inclusão do item referente a elegibilidade dos acatólicos enquanto Osório e demais membros do PL
não aceitaram esse item proposto (PICCOLO, 1992).
30 Ibid.
190
Gabinete dirigido por João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, Gabinete no qual
Gaspar Silveira Martins ocupou o cargo de Ministro da Fazenda.
Sendo assim, a administração imperial sob comando do Partido
Conservador, foi criticada pelo Partido Liberal, e por Gaspar Silveira Martins. Em
1862, primeiro ano como Deputado Provincial, Gaspar Silveira Martins criticou o
fato de funcionários (e principalmente presidentes de província) serem nomeados
pelo governo central: “O governo central nos manda quase sempre empregados que
mais parecem inimigos do que autoridades; homens que nenhuma garantia
offerecem ao povo e que as mais das vezes são a inspiração do patronato do Rio de
Janeiro”31.
Na Assembleia Provincial, em Sessão de 6 de abril de 1863, Gaspar Silveira
Martins contrapôs-se às ideias do deputado Joaquim Jacinto de Mendonça, do
Partido Conservador. A primeira ideia que Gaspar Silveira Martins combateu foi a
afirmação do deputado Mendonça de que as Assembleias eram “corpos
administrativos e acidentalmente políticos”. Assim, Silveira Martins defendeu que as
atribuições das Assembleias são de caráter político, sugerindo ao deputado que esse
consultasse o Ato Adicional para ver as competências das Assembleias Legislativas.
Para Gaspar Silveira Martins, as Assembleias Provinciais e Geral são responsáveis
pela “guarda da Constituição e das leis, pelo que podem estabelecer os mais amplos
debates sobre os direitos individuaes dos cidadãos brasileiros, sobre os seus direitos
políticos violados pela autoridade” podendo ainda, “suspender as garantias dos
direitos individuaes do cidadão brasileiro em tempo de rebelião ou invasão de
território, assim o declara o acto addicional, e por ventura não é esta uma
attribuição inteiramente política?32.
Nessa mesma Sessão, Gaspar Silveira Martins explanou sua fundamentação
sobre progresso e conservação, para explicar a diferença entre liberais e
conservadores.
31 PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL. Assemblea Provincial. Anais da ....
Sessão de 2 out. 1862. Localização: Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do RS.
32 MARTINS, Gaspar Silveira. Discurso na Sessão de 6 de abril de 1863. Jornal O Mercantil, p. 1, 20
abr. 1863. Localização: Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.
33 MARTINS, Gaspar Silveira. Discurso na Sessão de 6 de abril de 1863. Jornal O Mercantil, p. 1, 20
abr. 1863.
191
Nesse sentido, Gaspar Silveira Martins se referiu que “tem sido até hoje os
conservadores os homens da centralisação, e do arrocho” considerando ainda, que
o Conselho de Estado e o Senado são “baluarte da doutrina conservadora” 34. Ao
atribuir ao Partido Conservador a construção e aprovação de Leis e projetos
centralizadores no Império, Gaspar Silveira Martins questionou o deputado
Joaquim Jacinto de Mendonça, explanando:
O Sr. Carvalho de Moraes, não sei se por ser creado no Paço Imperial,
não faz caso das leis provinciaes, e executa leis que estão em vigor,
realisa operações de créditos, sem respeito as leis que regem, e faz mais,
srs., decreta impostos sobrecarrega a exportação da província que já não
pode competir com o Estado Oriental. E para que? Para edificar no
Rio Grande um cães, porque alguns ricassos daquella cidade desejam
aformosear a rua onde tem seus prédios, dar-lhes mais valor; mas
querem isso a custa do próprio barqueiro, e não quererão, se for preciso,
que elles contribuam36.
34 Ibid.
35 PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL. Assemblea Provincial. Anais da ....
Apêndice. Sessão de 21 abr. 1874. p. 56. Localização: Memorial da Assembleia do Rio Grande do Sul.
36 MARTINS, Gaspar Silveira. Apêndice. Sessão do dia 21 de abril de 1874. Anais da Assembleia
Legislativa Provincial do RS, 1874, p. 69 e 70. Memorial da Assembleia do Rio Grande do Sul.
192
fato que aconteceu em Bagé, de um estrangeiro italiano que foi assassinado por
criminosos, sendo esses criminosos absolvidos e liberados, demonstrando a
incompetência do chefe de polícia, delegado escolhido pelo Gabinete do
momento37.
Nesse sentido, a trajetória política de Gaspar Silveira Martins apresentou
diferenças em seus posicionamentos políticos, especialmente nas duas primeiras
décadas em que atuou como político do Partido Liberal. A atuação de Gaspar
Silveira Martins na década de 1860 foi marcada por intensas críticas à organização
do Estado, à vitaliciedade do Senado, à união de Estado e Igreja, entre outras. Suas
ideias e projetos propostos neste período foram apresentados no seu discurso no
Teatro Phenix Dramática, no Rio de Janeiro em 1869, discurso que ficou conhecido
como o “Radicalismo”38.
Segundo Milena C. Costa39, na década de 1860 e 1870, a atuação política de
Gaspar Silveira Martins foi marcada por críticas ao poder pessoal do Imperador e
ao Partido Conservador, à centralização do Império, mencionando que o sistema
representativo era uma farsa, em que a vontade da coroa prevalecia. Posteriormente,
a partir da sua entrada no Ministério da Fazenda em 1878, percebeu-se em seus
discursos a conservação dos princípios da autoridade, do sistema representativo e da
unidade nacional em um momento de ameaça da instituição monárquica40.
Por fim, a partir da década de 1870 o republicanismo havia crescido muito
na Província do Rio Grande do Sul e os partidos imperiais receberam ataques
frequentes do Partido Republicano. O Partido Republicano criticava a forma de
governo imperial em si, ou seja, queria o fim dos partidos imperiais e por
consequência o fim da Monarquia.
37 MARTINS, Gaspar Silveira. Anais da Câmara dos Deputados. Sessão do dia 16 jan. 1873, p. 184.
38 MARTINS, Gaspar Silveira. Discurso sobre o Radicalismo. Rio de Janeiro: Typografia, 1869.
Documento encontrado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
39 COSTA, Milena Cardoso. Idéias Constitucionais de Gaspar Silveira Martins. 2001. 120 f.
Dissertação (Mestrado em Direito Público) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2001.
40 Ibid.
193
O Orador: – Mas se, segundo suas proprias palavras são calumniosas, em
que nos podem ellas prejudicar?
Por ventura, Sr. Presidente, nos devemos dirigir aqui por aquillo que de nos
possão inventar nossos adversarios?
O Sr. Bittencourt: – Apoiado.
O Orador: – Por ventura podemos esquivar-nos ás invenções dos outros?
quando cumprimos com o nosso dever, estaremos por isso livres da suas
accusações? podemos estar acima dellas, o paiz nos julgará, mas não poderemos
jamais embargar-lhes a voz, nem impedir as calumnias; podemos, sim, esmagal-as, e
com o favor de Deus o havemos de conseguir.
O Sr. Bittencourt: – Apoiado.
O Orador: – Não sou da opinião do nobre deputado quando entende que
nos estamos tomando o tempo de outros trabalhos e que as accusações á
presidencia tem lugar mais proprio na discussão da lei do orçamento ou na de lei
das forças.
Se estas accusações devem ter lugar, como reconhece e declara o nobre
deputado, que nos importa o dia? Se hão de fazer-se no dia em que se discutir a lei
do orçamento, porque não devemos antes preferir a hora do expediente, quando
por isso não nos privamos de discutir as questões importants designadas para a 2ª
parte da ordem do dia?
Sr. Presidente, esta assembléa deve exigir do Sr. vice-presidente o
cumprimento dos seus deveres; a lei ordena-lhe que nos apresente um relatorio de
todos os trabalhos da provincia e que nos preste exactas contas da sua
administração, e apezar do illustre sustentaculo da presidencia, o Sr. Moraes Junior,
dize-nos que na occasião em o Sr. Dr. Bittencourt se lhe apresentou perguntando
pelo adiamento, o Sr. vice-presidente mandara chamar um empregado da secretaria
e que este dissera que a secretaria estava occupada em copiar o relatorio, decorrerão
desse tempo para cá mais de 2 mezes, e o relatorio não appareceu; de maneira que a
propria defesa fornece a mais evidente prova de que o presidente da provincia foi
menos verdadeiro.
O Sr. M. Junior: – O relatorio veio.
O Orador: – O relatorio não existe na casa; o Sr. presidente trouxe um
papel manuscripto que daquelle assento (apontando para o lado direito do Sr.
Presidente) leu em meia folha de papel, e declarou-nos que não tendo tido tempo
para fazer o relatorio, nos offerecia o que tinha preparado para apresentar ao seu
substituto; ninguem dirá que foi-nos apresentado o relatorio que a lei manda que o
presidente apresente á asssembléa provincial; e se era de seu dever apresentar-nos
relatorio como chefe da administração, a quem a constituição ordena, e as leis
regulão em seus deveres; e se elle devia mandar para esta casa todos os contratos
que houvessem na secretaria da presidencia, não o fez: o requerimento desta
assembléa não importa a lembrança de um dever que elle deixou de cumprir?
(apoiados); e não estaremos na ordem lembrando-lhe que não è esta a sua única
falta? que tem deixado de cumprir outros deveres?
194
Eu não sou da opinião do meu illustre collega que nos pede que deixemos
para outros tempos essas censuras, porque não são só interesses materiaes que são
sacrificados nesta quadra de desventuras; sobretudo a liberdade dos cidadãos
padece, e não devemos transigir com a iniquidade um dia, uma hora, um momento;
se o innocente soffre é nossa obrigação protegel-o, como fiscaes da autoridade, que
somos; Sr. Presidente, eu sou apologista dos interesses materiaes; mas esses
interesses são secundarios comparados com outros; neste paiz de liberade o
primeiro interesse é o direito individual, é a liberdade do cidadão.
O Sr. vice-presidente tem abusado muito; que remedio senão fazer-lhe
censuras? a censura já é um castigo; para um homem collocado em tão alta posição,
não póde haver maior castigo que o desprestigio, que lhe provêm das accusações
feitas pelos representantes da provincia; isto só é sufficiente para fazer mudar a
marcha da administração, convencendo-a que ella não está acima da lei. (Apoiados.)
Outro esteio da administração nesta assemblèa aconselha-nos que não
demos em homem morto.
O Sr. M. Meirelles: – Para morrer, disse eu.
O Orador: – É justamente por isso que lhe devemos dar; quando o homem
está pra morrer é de ordinario que faz seus testamento e destribue legados aos
amigos, por quem não ha de ser acompanhado á borda da sepultura, mas a quem
constantemente vê em torno do leito para ser contemplado em parte da herança.
(Muito bem, hilaridade.)
Uma Voz: – Os desherdados reclamão com mais força. (Riso).
O Orador: – Os desherdados! parece-me, Sr. Presidente, que os nossos
illustres adversarios, ainda não estão satisfeitos que o governo lhes mande para aqui
um verdadeiro caixeiro para agenciar seus interesses!
O Sr. M. Meirelles: – Affianço que não comi no balcão.
O Orador: – Não comeria milho soccado, mas houve quem comesse milho
inteiro. (Hilaridade.)
O Sr. M. Meirelles: – Muito apoiado.
O Orador: – Neste momento os nossos concidadãos são estaqueados e
preseguidos, victimas de todas as violencias, por que o Sr. vice-presidente tem sido
um verdadeiro manequim ao serviço das paixões de nossos adversarios politicos.
(Apoiados.)
Pois se assim é, já que nos achamos aqui, não devemos trazer quanto antes á
discussão esta nefasta administração antes que morra? não devemos discutir a
ignominia a que temos chegado? Nesta epocha, em que se devião procurar não digo
os grandes homens, já que não os temos, mas pelo menos homens graves e de
criterio reconhecido, o governo do Sr. Marquez de Olinda, vai aos sertões de Goyaz
desenterrar o Sr. Pereira da Cunha, depois de 20 annos ter vivido nas mattas, para
ser no Rio Grande miseravel instrumento de uma facção!
E é nesta época, e é nesta quadra que devemos ter considerações para com
semelhante administrador? pois não basta este desastre tão infelizmente lembrado
pelo nobre deputado o Sr. Dr. Moraes, não basta o sangue generoso tão
195
ineptamente derramado em Curupayti para ensinar a este governo insensato que é
tempo de pôr de parte esta desgraçada politica que tem seguido, chamado para pôr
na frente dos negocios publicos estes homens que ineptos esperdição todos os
sacrificios que com tanta galhardia tem até hoje feito este generoso povo?
Vozes: – Muito bem.
O Orador: – Não ha duvida, Sr. Presidente, que a discussão tem estado na
ordem; as censuras forão cabidas e devem continuar.
E ainda mais, Sr. Presidente, o que importa este requerimento? O vice-
presidente não cumpriu o seu dever e quem nos disse a nós que existem propostas
naquella repartição?
O Sr. N. de Miranda: – Elle indica isso no seu relatorio, por isso se
pedem.
O Orador: – Se não vierão, se não forão presentes á commissão, a
commissão tem obrigação de dar parecer sobre propostas que lhe são presentes e
não sobre aquellas que estiverem na secretaria e não apparecerão.
(Trocão-se diversos apartos.)
Não existem para a assembléa outras propostas alem daquellas que a
assembléa conhece. Se a illustre commissão tem pressa de dar parecer, póde dal-o
sobre as propostas que tem em seu poder.
Sr. Presidente, não fui o motor das accusações; nem agora tencionava fazel-
as; não fiz mais do que imitar o meu illustre collega, que fez a sua defesa – pela
ordem.
O Sr. P. da Rosa: – Eu não fiz defesa a ninguem, não me faça injustiça.
O Orador: – O nobre deputado declarou francamente que era
opposicionista e que a administração da provincia era má: mas tomado de
compaixão tão natural ao meu espirito conciliador, e á generosidade do seu coração,
quiz poupar a inepcia, apresentando uma excepção dilatoria que importa uma
verdadeira defesa para uma má causa; o nobre deputado que é um advogado
distincto a todos os respeitos, sabe que um direito perdido obtem uma grande
vantagem, quando se consegue pelo menos espaçar a sentença de condemnação.
O Sr. P. da Rosa: – Não apoiado; muitas vezes as excepções dilatorias tem
grande vantagem: ensinão melhor caminho.
O Orador: – Mas as mais das vezes não fazem senão demorar o julgamento
e prejudicar a justiça; o nobre deputado o Sr. Meirelles, que como já disse é um dos
sustentaculos da administração nesta casa, implora perdão para o morimbundo;
amanhã quando elle tiver expirado hão de querer canonisal-o, e dirão áquelles que
não sentem o odor de santidade – parce sepultis. – (Apoiados.)
Mas eu não sigo esta doutrina como homem politico; os politicos, segundo
diz o nobre deputado, não tem direito de serem generosos com o prejuizo dos
interesses publicos; prefiro, Sr. Presidente, a doutrina egypcia, que trazia o cadaver
do rei defunto ao tribunal, instaurava-lhe processo, e julgava-o depois de morto!
procedimento filho da mais profunda philosophia, porque morria o individuo, mas
196
ficava o principio, ficava a realeza e era esse o meio de praticamente mostrar ao rei
que succedia, que tempo viria em que sobre seu governo a posteridade havia de
proferir um juizo com a maior severidade.
Não é só esta administração que eu estygmatiso: eu estygmatiso a todos os
caixeiros do governo; o que se dá na provincia do Rio Grande dá-se em quasi todas
as provincias ha muitos annos; envião-se caixeiros consignados a commissarios,
verdadeiros regulos de provincia e por isso nos achamos neste desgraçado estado!
(Apoiados.)
E quando o governo geral não envia caixeiros ao regulo é quando manda um
executor de alta justiça, porque o regulo tomou corpo, a papoula cresceo, e convém
decepal-a; era a pratica de Tarquinius.
Esta provincia não ha muitos annos, vio consecutivamente duas dessas
execuções; neste momento a provincia de Minas e a de Pernambuco contemplão
erguido o cadafalso; hoje no Rio Grande não ha mister execução, reinão os
caixeiros, e governão os consignatarios! Cumpre, Sr. Presidente, que a provincia do
Rio Grande representada nesta assembléa proteste contra esse escandalo a que até
hoje tem assistido impassivel. (Apoiados.)
Não posso portanto, Sr. Presidente, acceder ao pedido do meu illustre
amigo, ainda que com dôr de coração.
Vozes: – Muito bem.
A discussão fica adiada pela hora.
ORDEM DO DIA.
São approvados em 1a discussão os projectos ns. 91, 92, 93 e 94; em 2a os de
ns. 84, 86 e 87 deste anno; e em 3a os de ns. 72 de 1873, e 75, e 77 deste anno.
Entra em discussão o projecto n° 83, subtitutivo do de n° 33.
O Sr. Paula Soares: – Julgo, Sr. presidente, que deve ser posto em
discussão em primeiro lugar o subsitutivo e por isso eu requeiro a V. Ex. que
consulte á casa qual dos dois deve ser posto em discussão.
O Sr. Presidente: – Entendo que se deve fixar bem este ponto, e julgo que
deverá entrar em discussão o projecto n. 83.
204
A relação entre Estado e Igreja foi tema de discussão por Gaspar Silveira
Martins na Assembleia Legislativa da Província do Rio Grande do Sul e na Câmara
dos Deputados, entre o fim da década de 1860 e primeiros anos da década de 1870.
A monarquia brasileira, na sua Constituição Imperial de 1824, adotou a
religião católica como religião oficial do Estado, sendo competência do Executivo
“nomear Bispos e prover os benefícios eclesiásticos” 41. A “Questão Religiosa”, que
esteve em discussão no período em que Gaspar Silveira Martins atuou como
deputado, foi referente ao padroado régio, em que a Igreja era vinculada à
monarquia, sendo o governo responsável pela nomeação de bispos e vigários, e a
Igreja realizava o registro “civil” (o batismo e o casamento). Assim, Estado e Igreja
estavam vinculados, questão criticada por Gaspar Silveira Martins, por acreditar que
tal característica não pertencia a um Estado moderno e liberal. No período de crise
da monarquia a crítica ao padroado se soma fortemente ao que ficou conhecido
como a “Questão Religiosa”.
Em 1869, nos artigos do jornal A Reforma do Rio de Janeiro, intitulados
“Recurso à Coroa”, Gaspar Silveira Martins denunciou o caso de alguns bispos
estarem infringindo as liberdades civis de vigários e clérigos em suas paróquias,
suspendendo de suas funções vigários e clérigos que fossem críticos ao sistema ou
por divergências pessoais e políticas. Por exemplo, o bispo da Província do Rio
Grande do Sul, Don Sebastião Laranjeiras, também foi acusado por Gaspar Silveira
Martins, sendo aquele responsável pela demissão de párocos e vigários da Diocese.
Em artigos no jornal A Reforma do Rio de janeiro, Gaspar Silveira Martins
realizou críticas ao sistema político do Império e à administração conservadora a
nível imperial do Gabinete chefiado por Visconde de Itaboraí (1868-1871). Nessas
críticas ao Gabinete e nas discussões em torno das ideias e projetos do novo
Programa do Partido Liberal, a prerrogativa de um Estado Laico foi defendida. Em
artigos de 13 e 15 de junho de 1869, Gaspar Silveira Martins escreveu que conflitos
seriam evitados se os poderes civil e eclesiástico estivessem limitados às suas esferas
de ações42. Sendo assim, ele defendeu a separação entre Estado e Igreja como uma
das prerrogativas do Liberalismo.
Na Câmara dos Deputados, no Gabinete Rio Branco (1871-1875), os
debates em torno da “Questão Religiosa” foram intensos, a partir de denúncias de
que alguns bispos estavam demitindo de suas paróquias vigários e clérigos e
indispondo-se contra a maçonaria, desrespeitando, segundo Silveira Martins, as
41 Capítulo II. Do poder Executivo. Art. 102. Constituição política do Império do Brasil (25 de março de
1824). In: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm.
42 O RECURSO a Coroa I. A Reforma. Rio de Janeiro, p. 1, 13 jun. 1869. O RECURSO a Coroa II. A
Reforma. Rio de Janeiro, p.1, 15 jun 1869. Disponível em: http://memoria.bn.br/
DocReader/docreader.aspx?bib=226440&pasta=ano%20186&pesq=silveira%20martins>. Acesso
em: 16 maio 2013. Localização: Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
205
liberdades individuais e civis. Nestes, a relação entre Igreja e maçonaria43 esteve
presente nas discussões, pois dois bispos brasileiros, em conformidade com linhas
do Vaticano, proibiram maçons de participarem das irmandades religiosas 44.
Em 1873, Gaspar Silveira Martins se referiu a esses casos como um
“despotismo clerical”, pois “opprime a consciência restringe a liberdade civil e
cercea a liberdade política”45. Segundo Silveira Martins, os bispos estavam
exercendo “autoridade sem freio nas suas dioceses” 46, defendendo assim “uma igreja
livre em um estado livre”, ou seja, a liberdade para ambos a fim de evitar a
supremacia de um sobre o outro47.
Em Sessão da Câmara dos Deputados de 31 de julho de 1873, Gaspar
Silveira Martins interpelou o Presidente do Conselho, Visconde de Rio Branco, a
respeito dos acontecimentos religiosos que estavam ocorrendo no Império. Gaspar
Silveira Martins colocou como raiz da “Questão religiosa” a união entre Estado e
Igreja, que estava em discussão naquele momento:
Nos paizes onde a Igreja é livre e livre o Estado, não se tem estes
conflictos, que de momento pertubão a sociedade e abalão seus alicerces;
e se alguma religião tem interesse em condenar a protecçao do Estado
aos cultos e aceitar ampla discussão e livre concurrencia, é a catholica,
cuja doutrina pretende conseguir triumphos promettidos pelo próprio
Deus, contra quem não podem prevalecer as portas do inferno. Todo o
bom catholico deve, pois, pedir a neutralidade, e não a intervenção do
Estado nos cultos.48
43 Rio Branco, presidente do Conselho era Grão-mestre da Maçonaria, assim como Gaspar Silveira
Martins que se tornara Grão-mestre em 1883.
44 CARVALHO, 2012.
45 BRASIL. Câmara dos Deputados. Anais da ... Sessão de 31 jul. 1873. p. 352.
46 O RECURSO a Coroa III. A Reforma. Rio de Janeiro, p.1, 18 jun.1869. Localização: Fundação
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
47 Ibid.
48 BRASIL. Câmara dos Deputados. Anais da ... Sessão de 31 jul. 1873. p. 240.
49 Ibid., p. 240.
206
paiz, que não está preparado para tão radical reforma. Esta idéia pode
não fazer parte de um programma de governo, mas ninguém jamais se
atreverá a dizer, que não é um principio da escola liberal 50.
Segundo ele, naquele momento, a sua ideia de uma “igreja livre no estado
livre” não podia ser realizada, pois segundo alguns, “a realização dessa idéia pode
por em perigo a sociedade brasileira; e por isso affirmei que, sendo principio liberal,
não faz todavia parte do programma a executar immediantamente” 51.
No ano seguinte, em 1875, se organizou o novo Gabinete ministerial
chefiado por Duque de Caxias, em substituição ao Gabinete anterior, de Rio
Branco. Na Câmara dos Deputados, ao questionar o que o novo Ministério pensava
em relação à “Questão Religiosa”, Gaspar Silveira Martins discursou:
50 PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL. Assemblea Provincial. Anais da ...
Sessão de 21 abr. 1874, p. 58. Localização: Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS.
51 Ibid.
52 BRASIL. Câmara dos Deputados. Anais da ... Sessão de 28 jun. 1875; A REFORMA, Rio de Janeiro,
p. 1, 7 jul. 1875.
207
O SR. S. MARTINS: – Não tinha passado os limites da Judéa, e tanto é
isto verdade, que o nobre deputado ha de lembrar-se que S. Pedro algum tempo
depois da morte do Salvador vio descer uma multidão de animaes de muitas
especies e qualidades, e ouvio uma voz, que lhe dizia – Pedro comei – o que quer
dizer segundo a explicação e commentarios dos theologos catholicos, que era
chegado o tempo dos apostolos abandonarem a Judéa sua patria, e pregarem, e
espalharem a religião de Jesus Christo pelo Universo inteiro, cujas nações diferentes
em raças, em côres, em linguagens, em feições eram representadas por aquelles
animaes de tão variadas qualidades, e especies; assim ainda dos mesmos
Evangalhos, e das divinas palavras do memso Jesus Christo se vê a especialidade
judaica de sua missão; Christo tendo ido ás terras de Tyro e Sidonia entrou em uma
casa sem que ninguem o soubesse, mas foi conhecido por uma mukher na Cananéa
que tinha uma filha possessa, e lhe disse lançando-se aos pés, Senhor, filho de
David compadecei-te de mim, pois tenho uma filha atormentada do espirito
maligno. Christo não lhe respondeu, e os discipulos pediam-lhe que a despedisse; o
Salvador retorquio: Não fui enviado senão para as ovelhas que pereceram da casa
d‟Israel: mas a mulher adorou-o clamando: valei-me, Senhor! Jesus replicou: Deixa
que primeiro se saciem os filhos; porque não é justo pegar no pão, que é delles, e
deixal-o aos cães; por estas expressões alludia a nação, de que era a afflicta mãi,
pagã, e phenicia, emfim estrangeira a Judéa. A Cananéa redarguio: Assim é Senhor;
porém os cachorrinhso debaixo da mesa tambem apanham as migalhas que ficam
dos meninos, e Christo, deslumbrado, disse, mulher grande é a tua fé, e fez-lhe o
pedido. Ella creu, e entrando em casa, achou a menina deitada e livre.
D‟aqui vê o meu illustado collega que não tem razão de dizer que no tempo
de S. Pedro, quando elle fundou esses patriarchados estava espalhada pelo Universo
a religião, que apenas começava a ser prégada aos povos; Jesus não a espalhou, não
prégou senão na Judéa, porque fuel á sua missão, eel não sahio da sua patria; os seus
discipulos, depois da sua morte, é que a espalharam.
Só depois da morte de Jesus Cristo, e depois destas manifestações e
revelações divinas, como o nobre deputado deve saber, e sabe de certo, é que S.
Pedro baptisou o capitão romano Cornellio, o primeiro pagão que abraçou a religião
christã.
O Sr. Massa: – Dá um aparte.
O SR. S. MARTINS: – Isto não é mais do que uma ractificação de idéas, a
que obrigou-me o nobre deputado a fazer, e sem que eu garanta a phrase, garanto
todavia o espirito; o que supponho o nobre deputado me não constestará.
Depois de estar espalhada, e só depois seculos é que foi acceita a fé pelos
governos; mas antes disso, dizia Jesus: - O meu reino não é deste mundo, não se
referia á materia e só as espirito.
Mas com os tempos os imperadores adoptaram a religião catholica,
tornaram-se defensores, e protectores da fé; deram ás penas canonicas effeitos civis,
e grandes, e importantes direitos aos sacerdotes.
E aqui começam esses eternos embaraços oppostos mutua e reciprocamente
pelo dous poderes espiritual, e temporal um contra o outro: até ali não havia
questão; S. Pedro podia derramar a religião pelo Universo inteiro, podia crear
208
bispos, podia fazer o que quisesse, como S. Paulo fazia por toda a parte aonde
pregava; creava, se lhe convinha, bispados e nomeava bispos que sagrava logo;
como sagrou senão m‟engano Tito, e Thimoteo; mas depois de adoptada pelo poder
civil a religião catholica, depis que os imperadores fizeram leis, em que as decisões
ecclesiasticas e os meios do poder clerical tinham effeito immediato sobre o poder
civil, ahi tambem cessou esse arbitrio que tinha o clero.
O Sr. Massa: – Ficaram de acorod todos dous.
O SR. S. MARTINS: – Porque não era justo que o poder temporal dando
effeitos civis ás decisões ecclesiasticas, dando-lhes por meio de grandes
propriedades, e distincções maior força e explendor, porque por si o espiritual não
tem effeito nenhum real e material e é forçoso acreditar que este é sempre maior.
O Sr. Massa: – Não tem o effeito material.
O SR. S. MARTINS: – Elle tambem perdeu aquelle arbitrio que tinha e é
preciso harmonisar-se com o poder civil, assim não é livre a qualquer sacerdote
lançar excomunhão, muito embora o possa fazer, porque a excomunhão necessita
de accordo com o poder civil, pois traz sobre este muito directa influencia.
O Sr. Massa: – Não apoiado.
O SR. S. MARTINS: – É um favor, porque se nós temos direito de fazer a
divisão do Estado, que é toda temporal e material, e se o principio ecclesiastico é
inteiramente espiritual, é tão somente por attenção que lhe pedimos a sua
intervenção para marcharmos de accordo, o que é sempre apreciavel.
D‟ahi vem, Sr. Presidente, que a assembléa ouve com toda a defferencia o
parecer do Bispo Diocesano; mas não se mude, Sr. Presidente, a naturesa das
cousas; o Bispo Diocesano nesta materia não decide nada absolutamente e não está
superior a nós; ouvimol-o como um consultor (apoiados; não apoiados) e estamos
dispostos á atender ás suas razões quando forem justas, e dadas d‟um modo digno e
proprio de um verdadeiro pastor de Jezus Christo; d‟um successor dos apostolos;
mas um consultor não passa de conselheiro e não póde arrogar a si, direitos de
governo que não tem.
O Sr. Ávila: – É o que tem feito e o que faz. (Há mais apartes)
O SR. S. MARTINS: – Nós não estamos adestrictos a cingirmo-nos á
consulta que nos dá o consultor, podemos decidir como entendermos melhor,
porque em nós está a soberania.
Eu não ponho duvida em ouvir o Prelado sobre o artigo como está redigido;
desejo mesmo que seja ouvido; mas tomei a palavra para sustentar o direito que no
meu entender temos de deixar de ouvil-o, porque é disso que se trata, e eu vejo da
parte de alguns membros, tão grande exorbitancia, que tomam aquillo que é uma
simples cortezia, e attenção como um poder, como um direito; e eu pela parte que
me toca não o consinto nem o posso admittir; sou muito zeloso das nossas
attribuições temporaes, e não gosto de theocracias.
Demais, Sr. Presidente, os sacerdotes, é fóra de duvida, são empregados
publicos...
O Sr. Massa: – Infelizmente hoje assim acontece.
209
O SR. S. MARTINS: – ... e os empregados estipendiados pelo thesouro
não podem affectar para com a nação essa independencia e mesmo superioridade a
que se julgão com direito e que costumam arroga-se.
O Sr. Bittencourt: – Se confunde os sacerdotes com o Bispo, discordo.
O SR. S. MARTINS: – Com o Bispo e com todos que estão sujeitos ás
nossas leis, pois, ha quem ponha em duvida que póde o Bispo ser processado por
crime de responsabilidade pelo poder competente?
O Sr. Bittencourt: – Não ha duvida nenhuma, mas como cidadão, e é por
isso que elle não é empregado publico, porque tem esse privilegio.
O SR. S. MARTINS: – Está o nobre deputado enganado, o bispo é
cidadão como qualquer brasileiro, mas justamente como cidadão não podia ser
criminoso de crime de responsabilidade que sómente póde ser commettido por
empregados publicos.
E demais não é o padre, o vigario, tabellião em sua parochia? para tudo que
diz respeito á filiação, ao casamento, ao baptismo, os seus atteestados e certidões
não são escripturas publicas? Não tem por isso todo o valor e authenticidade em
juizo? Não ha duvida nenhuma. Por tanto não só não são tão independentes como
querem, mas até não são mesmo independentes, elles estão sujeitos á nossa lei civil,
e providencias materiaes e á conveniencia publica; e nós fazemos um favor
estabelecendo e creando condicções exteriores, e territoriaes para poderem
funcionar.
Não ha ninguem que possa por em duvida que o estado tem o direito de não
admittir outro estado dentro de si mesmo.
O Sr. Bittencourt: – Mas a questão é diversa.
O SR. S. MARTINS: – Não é diverso, é exactamente a mesma; elles são
elevados, distinguidosk, e respeitados pelas nossas leis civis, que elles a seu turno
devem respeitar; e lá está o texto de S. Paulo – é preciso respeitar as potestades superiores.
Um Sr. Deputado: – Mas não há superioridade.
O SR. S. MARTINS: – Não ha duvida que a China e o Japão tem direito de
não admittir dentro em si a igreja, ou de admittil-a sub-conditione; assim como
ainda niguem lhe contestou o direito que tem tido de cerrar seus portos a toda e
qualquer outra nação.
Um Sr. Deputado: – Actualmente não.
O SR. S. MARTINS: – Actualmente não, mas por tratado especial em que
se determina que taes e taes portos ficarão abertos, mas ainda absolutamente não é
livre entrar nesses paizes como o é entre os povos de raça europêa; é a mesma
cousa, não ha differença alguma, ninguem admitte em casa um estranho a dar
ordens. Quanto mais a rasão apresentada pelo meu nobre collega, prova de mais.
Nós não podemos crear parochias sem intervenção do Bispo, também não
devemos poder crear bispados sem ouvir o Papa; mas isso não dá, nem o Papa foi
ouvido quando a assembléa geral creou este; o Papa póde deixar de prover o
bispado, mas isso não annulla o direito que temos de crear bispados, sem previa
210
audiencia de sua Santidade porque é uma necessidade que nós melhor podemos
apreciar do que elle.
O que eu sinto é que quando se tratou de bispado para o Rio Grande não se
ouvesse o Papa, e este se não oppuzesse; nós iamos cá vivendo muitobem com o
nosso vigario geral, sem apparato, e sem questões; é assim que eu amo a religião;
modesta, caridosa, e sem controversia, que só geral duvida, e indifferença. Voto pela
emenda.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Sr. Presidente, não sei o que mais admire
no nobre deputado – se a volubilidade com que deixou a questão que se debate, se a
naturalidade com que, aggredindo-me, por uma fórma inesperada, declara em
minhas palavras ver uma aggressão.
Sr. presidente, se me fosse dado neste momento rever as notas do
tachigrapho, havia o nobre deputado ficar convencido que proferio as proposições
que lhe attribui, e que agora modifica no seu 2º discurso.
O Sr. Avila: – Pois eu peço ao Sr. Tachigrapho que transmitta ao nobre
deputado o meu discurso antes de mandar-m‟o á casa.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Disse o nobre deputado, que o ataquei
tomando a defesa dos bispos, quando em minhas palavras apenas procurei ser o
orgão da lei, e voz da justiça.
Por isso mesmo que tenho combatido as invasões do poder eclesiastico,
senti a necessidade de não applaudir a uma accusação fóra de proposito, para que as
minhas censuras, quando por ventura as renove, tenham por si o conceito que
merece o homem que respeita o direito em qualquer parte em que este se ache.
O Sr. Avila: – Não contesto isso.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Não foi a defesa dos bispos que tomei, o
que não quiz foi partilhar a responsabilidade das censuras pelo nobre deputado
feitas ao Sr. Bispo do Rio Grande, com quem não tenho relações, e a quem, posso
dizer, não conheço. E que tem que ver Srs., o projecto em discussão, com a
publicação da bulla papal sem placet?
Por ventura defendi esse acto? Ignora alguem, que principalmente ao
movimento popular da provincia de Pernambuco de Pernambuco que agitou a
opinião publica de todo o paiz foi devido ao facto extraordinario do processo e
223
condemnação do bispo D. Vital? E quem foi perante o parlamento órgão dessa
opinião, oque arrancou o governo da inercia para cumprir o seu dever?
O nobre deputado sabe que fui eu; como póde pois considerar-me defensor
dos bispos? Não sou defensor dos bispos que violaram as leis; eu, hoje, defendo os
cidadãos, que, por commetterem um delicto, não devem ser considerados fóra
dellas.
O nobre deputado, desnaturalisado os bispos, seus concidadãos, assume
grave responsabilidade, vai além, das nossas leis que não são sobre a materia muito
liberaes, e encontra diametralmente a doutrina do nosso partido.
O Sr. Avila: – Póde ser.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O nobre deputado, variando da lei para
os factos, atacou o bispo como jesuita porque limitou-se como o arcebispo da Bahia
a publicar a pastoral do summo Pontifice, e não tomou a espada de guerreiro
desembainhada por Frei Vidal, ontra a autoridade civil.
Srs., não me parece justo o nobre deputado, quando ataca o bispo guerreiro
por violento e usurpador, e aquelle por jesuita, que como este não procedeu.
O Sr. Avila – dá um aparte.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O bispo do Rio Grande publicando sem
o placet a pastoral do Papa, que invade a jurisdição civil, e dando-lhe força
obrigatoria contra as leis do paiz commetteu o mesmo delicto que os outros; ao
governo, portanto, cumpria, se fosse coherente, instaurar-lhe o processo de
responsabilidade.
Quem é, pois, que falta aos seus deveres? O governo ou o bispo? Quem foi
o jesuita, o bispo que publicou pela imprensa e mandou observar o acto apostolico
offensivo das leis civis, sem estrepito, sem alarde, ou o governo que deixou de
submettel-o a processo, fingindo ignorar um facto, que a imprensa unanime
apreguou? O governo, só o governo é o jesuita neste conflicto.
Nesse livro da nossa infancia, Sr. presidente, no Telemaco, se bem me
recordo, a imaginação grega do divino Fenelon nos apresenta o filho de Ulysses,
que ao passo que se affastava da patria suppunha, victima d‟uma miragem, aportar a
cada momento, em sua cara Ithaca e abraçar o velho pai; mas chegando, apenas
encontrava as nuvens do horisonte!
O nobre deputado, Sr. presidente, parece dominado por essa fatal miragem,
que lhe não consente fazer a distinção da dupla individualidade...
O Sr. Avila: – Não soube.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – … do papa, como soberano e como
chefe da christandade. Quem não sabe que o papa foi um rei? Todos o sabem; os
próprios meninos que cursão as escolas não ignoram que desde Carlos Magn até
ultimamente, o sucessor de S. Pedro tinha uma patrimonio que governava como rei!
Mas o que o nobre deputado não distingue é que o seu papel de rei se
limitava – aos antigos Estados Pontificios, e como papa, Srs., o summo pontifice
não é rei, é o chefe da orba catholico.
224
O Sr. Avila: – (Com ironia) isso não é filigrama.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Não é filigrana, é uma trivialidade que
admira possa ser posta em duvida, hoje, quando o papa até já nem rei é, ou se
quiserem, é rei destronado. Os catholicos, fies d‟uma religião cujo nome exprime
<<universalidade>>, conhecem outras crenças, mas não podem reconhecer nações
se não como entidades politicas. Os dogmas catholicos são os mesmos para todos
os fieis, e os sagrados mysterios celebram-se da mesma maneira em todos os
templos, abertos a todos os catholicos do mundo, sem distinção de raças, de
línguas, nem de nações.
O proprio nobre deputado, se é catholico...
O Sr. Avila: – Catholico como elle pensa, eu não sou.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – … não póde deixar de reconhecer no
pontifice o seu soberano espiritual, e, a própria constituição do Imperio reconhece
no papa residente em Roma, o chéfe da Igreja, e Summo Pontifice da religião do
Imperio; O papa como soberano temporal regia os seus Estados, promulgava
decretos, como papa transmitte bullas e pastoraes aos seus fieis.
Que o nobre deputado cahio em contradição, não é mister esforço para
proval-o, basta recordar-lhe as suas recentes palavras neste recinto: se Pio 9º fosse
um <<Bemvindo, de Victor Hugo>>, se fosse um verdadeiro apostolo de Jesus
Christo, se fosse um santo, ou um papa como o nobre deputado imagina, de sua
feitura e a seu gosto...
O Sr. Avila: – Porque não tinha supremacia, nem era infallivel.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – … esse seria o pontifice do orbe
catholico e aquelles que lhe prestassem obediencia não serião estrangeiros.
O Sr. Avila: – Sem duvida.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Veja V. Ex., Sr. Presidente, onde vai
parar o nobre deputado com este seu individualismo? Senhores, ou não se aceita a
igreja, ou aceita-se como ela é...
O Sr. Avila: – Eu acceito como é, e não como o papa a quer.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O nobre deputado <<quer ser
catholico>> d‟um lado, ao passo que do outro quer desconhecer a autoridade dos
bispos e do papa. Senhores, o competente para dizer o que a igreja é e o que a igreja
não é, não é o nobre deputado é o papa e os concilios.
Se o nobre deputado se declarasse livre pensador, eu não teria a oppor-lhe,
mas confessando-se catholico e reconhecendo a infallibilidade da igreja...
O Sr. Avila: – A igreja não é o papa; são cousas muito distinctas.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – E quem não sabe isso?
O Sr. Avila: – Porque está confundindo então?
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Não estou confundindo; o nobre
deputado é quem faz a confusão, ou em vez de attender ao que digo anda correndo
mundo.
225
O Sr. Avila: – Sou muito gordo para correr mundo. (Riso)
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Mas é lgero. Sr. Presidente, o nobre
deputado que acaba de reconhecer a infallibilidade da igreja diz – a igreja não é o
papa – como quem diz – a igreja é infallivel. O papa não. Pois bem; quaes são os
meios porque promulga a igreja seus infalliveis decretos? Os concilios ecumenicos.
Pois foi o concilio do Vaticano, o ultimo concilio ecumenico, que decretou o
dogma da infallibilidade do papa...
O Sr. Avila: – Não apoiado.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – e de uma – ou o papa pela doutrina do
nobre deputado que se confessa catholico romano, é infallivel, ou a igreja não o é.
O Sr. C. Flores: – É a questão dos velhos e novos catholicos.
O Sr. Avila: – É a questão velha.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Não é; os velhos catholicos separam-se
de Roma, sem se importarem se o Papa é Pio 9º, ou Bemvindo de Victor Hugo. A
minha doutrina não é religiosa, é politica; e por isso reclamo para a minha patria
liberdade ampla de cultos, para que cada um possa conquistar o céo pelo caminho
que escolher (apoiados). Todos os cadaveres humanos tem na sociedade direito
natural á cova...
O Sr. Avila: – Nem em todos os paizes.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – As municipalidades devem ter os seus
cemiterios para os homens, as congregações religiosas que os tenham para os seus
membros; porém, dizer-se catholico romano, professar o principio intolerante que
esta doutrina consagra nos seus codigos: que não ha salvação fóra do gremio da
igreja, e querer harmonisal-a com a doutrina ampla, liberal e philosophica do
racinalismo: que o verdadeiro culta é a pratica das boas obras, como fazem a maior
parte dos maçons brasileiros, é um contrasenso! O catholicismo deve ser acceito
como é, ou regeitado; a doutrina d‟um Deos é a verdade absoluta, e não admitte
transacções. Quando se diz: o verdadeiro culto é a pratica das boas obras, sagra-se a
moral, e a moral não tem patria nem crença, é humana e de todas as religiões.
Todos os bons tem por este principio direito ao reino dos céos, sem mais distincção
do que as virtudes.
Mas quando se diz catholico, significa-se um humam que professa o
principio contrario e intolerante, que ha pouco referi, e os que forem sinceros
devem prostrar-se aos pés dos minitros do catholicismo e não insubordinar-se
contra elles.
Os Estados Unidos desconhecem estas questões, porque lá não ha religião
de Estado: a luta em que vivemos nasce do art. 5 da constituição, que consagra a
alliança de dous poderes rivaes que não podem transigir: os civilistas, ou partidarios
do Estado, querem a subordinação da igreja ao Estado; os clericaes querem o estado
para instrumento da igreja.
A verdade não está nem n‟uma nem n‟outra, são duas associações
differentes; a sociedade humana nada tem que vêr com o reino dos céos, ella trata
somente da ralidade das cousas da terra (com ironia) trata até da barriga; (Risadas).
226
A sociedade religiosa trata das almas do outro mundo, (riso) trata do espirito
immortal.
O Sr. Avila: – E não da bariga? Pergunte a Antonelli se elle trata da barriga
(riso) ou ao Penedo.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – A minha doutrina é pois, hoje, a que foi
sempre – divorcio dos poderes civil e eclesiastico, a igreja livre do Estado livre.
Eis porque, Sr. Presidente, justificando o meu voto, reconheci o direito dos
bispos a cidadania do imperio, e combati a opinião do nobre deputado que leva ao
principio contrario – do Estado livre com igreja escrava.
Podia, o nobre deputado, com sinceridade enxergar aggressão nas poucas
palavras que proferi para salvar os principios liberaes que o nobre deputado
comprometteu?
O Sr. C. de Oliveira: – O nobre deputado fallou sem acrimonia.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Eu não disse que o nobre deputado não
era órgão de suas opiniões; não disse que fosse instrumento de interesse
inconfessaveis; em que o aggredi, portanto? Em dizer...
O Sr. Avila: – Que era injusto e illegal.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – ... em dizer que S. Ex. offendia a lei
reclamando o exilio, a expulsão da patria, para lalguns de nossos concidadãos, que
tem, como nós, os mesmos direitos, os mesmos deveres, e as mesmas garantias
constitucionaes?
O nobre deputado veio desta vez por demais melindroso; nunca o conheci
assim.
Pois nesta epocha, em que o nobre deputado brada por amplas reformas
liberaes; quando os próprios conservadores as vão fazendo, nesta epocha em que
queremos abrir os braços a todos os estrangeiros e dar-lhes os mesmos direitos que
temos de nacionalidade, é que o nobre deputado, liberal, quer expulsar os filhos do
paiz como estrangeiros!
O Sr. Avila: – Em virtude da mesma lei.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – De que lei falla o nobre deputado?
O Sr. Avila: – Da lei que os desnaturalisa.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Nenhuma lei os desnaturalisa, nem ha lei
que autorise o governo a deportar estrangeiros! O nobre deputado torna-se echo de
um erro fatal que tive a honra de exprobar ao illustre autor das cartas de
Ganganelli...
O Sr. C. de Oliveira: – É da mesma opinião.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – … o meu distincto amigo, o Sr.
Conselheiro Saldanha Marinho, dizendo-lhe: cuidado! Sois chefe de partido
republicano, e parece que, quando pedis a deportação para os bispos porque violam
o art 5ºda constituição esqueceis que reclamais para vós, que a quereis destruir pela
base, mudando a fórma do governo.
227
O Sr. Avila: – Mas como simples cidadão, não como empregado publico, e
não obedecendo a um soberano estrangeiro. Ha muita distincção, ahi é que ha
muita insjustiça.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Ha unicamente a distincção, que um
offende a todos. Já mostrei que o Papa não é soberano estrangeiro.
O Sr. Avila: – Isso é sua opinião.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Não é opinião individual minha, é
commum, e não póde haver duvida séria sobre este ponto.
O chefe da igreja do Estado, reconhecida pela constituição é o Papa, a quem
o poder executivo apresenta os bispos para serem sagrados, e quando os recusa,
como tem succedido por mais de uma vez, o governo apresenta outros.
Mesmo quando o Papa era soberano não sagrava bispos como tal, e sim
como Pontifice de Jesus Christo.
Quem póde duvidar que o próprio imperador, se é catholico, reconhece
espiritualmente a supremacia do Papa.
O Sr. C. de Oliveira: – Não ha hierarchia ahi.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Ha hierarchia, na ordem espiritual, tão
grande que debaixo deste ponto de vista o imperador é subdito de seus próprios
subditos, a cujos pés, se é verdadeiro catholico, prostra-se de joelhos, confessa suas
peccados, e implora em nome de Deus absolvição de suas culpas.
O Sr. P. da Rosa: – Ahi não é o imperador, é o christão (Apoiados e outros
apartes no mesmo sentido).
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Nem outra cousa digo eu, desde que não
há imperadores espiritaes.
Isto não é objecto de duvida, Srs.: os proprios principes catholicos quando
se dirigem ao Summo Pontifice subscrevem-se – subditos fieis, e imploram sua
benção apostolica.
O Sr. Avila: – Assim como nós tambem nos subscremos – creados – de
todos os amigos a quem escrevemos. (Riso)
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Mas os principaes não tem nesse ponto a
mesma liberdade que nós; seria ridículo e insensato que um soberano se assignasse
creado do seu subdito.
Duvidar disto é duvidar da luz do sol.
O Sr. Avila: – (rindo-se) Mas, meu Sr., eu não vejo o sol; declaro-lhe
positivamente.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – (Com ironia). Bem sei que não vê nada, e
nada poderá vêr, prque diz o Evangelho: os verdadeiros cegos são aquelles que não
querem vêr.
O Sr. Avila: – Pois seja.
228
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O nobre deputado, Sr. Presidente, que
vio ataque á sua pessoa, nas minhas inoffensivas palavras, deu-me direito a
desconfiar do seu procedimento, pois sempre ouvi dizer que quem anda aos cerdos
tudo lhe parece ronco. (risadas.)
O Sr. Avila: – E acha que não tenho rasão?
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O nobre deputado respondeu-me
alardeando franqueza, e appellando para a minha pessoa, agora pergunta-me se acho
que elle não tem rasão? Responder-lhe-hei, perguntando: e o nobre deputado não
acha que eu tambem terei rasão?
O Sr. Avila: – Entendo que não.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Não me admiro, porque o nobre
deputado é dedicado sectario do systhema das contradicções, agora mesmo, no
discurso que acaba de proferir, declara-se lutador de annos e logo diz que tem
pequeno tirocinio politico; affirma que não tem tanta experiencia como eu, e logo
que é muito mais antigo do que eu na vida publica. Ninguem mais do que eu
reconhece os esforços e sacrificios pelo nobre deputado feitos em favor da causa
commum; mas, por isso mesmo tanto amis de pasmar é o procedimento do
redactor, que n‟um bello dia quebra a penna, condemna o seu partido, declara-o
dissolvido, sem programma, sem chefe, abandona os seus amigos, e – declara-se
affastado da politica! Isto quando o partido manifesta-se unido, organisado, accorde
e pujante como nunca esteve no Brazil o partido liberal! E que se dirá, então,
considerando-se que o nobre deputado “affastado da politica” fica permanente na
imprensa, para sem o seu nome e responsabilidade moral, atacar a idéa liberal, e os
seus próprios correligionarios?
É isso que o nobre deputado chama de franqueza?
E depois disto terá o nobre deputado direito de perguntar-nos se
desconfiamos de sua pessoa?
O Sr. Avila: – Sem duvida que tenho.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O nobre deputado, fazendo proceder a
sua entrada nesta assembléa de rumores de opposição contra cada um e contra
todos os seus amigos; o nobre deputado, manifestando-se por toda a parte contra a
nossa politica, servindo assim os interesses de nossos adversarios, tem direito de
exigir de nós o reconhecimento dessa franqueza que alardêa?
O Sr. Avila: – Provarei que tenho mais que direito.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O nobre deputado contestará isto que
acabo de dizer?
O Sr. Avila: – Sem duvida nenhuma.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Pois eu invocarei o testemunho de seus
próprios amigos.
O Sr. Avila: – Não ha falta de franqueza; de toda a franqueza tenho usado
na minha vida.
229
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Eu appelarei para o nobre deputado, que
não faz hoje mysterio dos artigos que publicou...
O Sr. Avila: – Todos são meus, eu o digo, e hei de repetil-o aqui na tribuna:
fique certo disto.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Porque então se diz arredado da politica?
Que original correligionario não é esse, que exige plena confiança de seus amigos,
ao mesmo tempo que abandona as fileiras em que milita, e vai subterraneamente
lançar o facho da discordia n meio delles?
O Sr. Avila: – O que lamento é não poder responder-lhe já.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O nobre deputado pode responder
quando quiser.
O Sr. Avila: – Mas accusa-me quando já não posso fallar; não tenho mais a
palavra. Isso não é nobre; devia ter um pouco mais de cavalheirismo comigo.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O nobre deputado não tem o direito de
fallar desse modo.
O Sr. Avila: – Provar-lhe-hia que não havia nada desleal.
O Sr. Presidente: – Eu peço aos nobres deputados que não continuem
nesse dialogo, que póde irritar a discussão.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Sr. Presidente, o nobre deputado é que
não foi cavalheiro; eu dei a rasão do meu voto, e o nobre deputado vio logo uma
aggressão no facto de haver eu votado no mesmo sentido, mas por motivos
differentes dos do nobre deputado.
O Sr. Avila: – Deu a razão do seu voto tratando de mim exclusivamente.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Não tratei da pessoa do nobre deputado;
tratei do seu discurso; para discutir aqui estamos.
O Sr. Avila: – É verdade; tratou do discurso! E não discutio a questão de
que se trata.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Declarei que não o fazia, porque era
superfluo, desde que a materia era clara e se achava discutida, porém não
concordava com as doutrinas pelo nobre deputado prégadas contra os bispos, por
não me parecerem justas nem liberaes, e não queria que recahisse sobre uma
assembléa liberal a responsabilidade d‟um attentado contra as idéas.
O nobre deputado, senhores, com quem sempre entretive as mais intimas
relações de amizade, e em quem sempre reconheci muita liberdade de espirito,
sorprehendeu-me com a sua resposta.
A casa e o publico são testemunhas da maneira por que o nobre deputado
fallou, o tom aggressivo que deu á sua declamação, ora feroz e iracundo, ora
fazendo uso daquella arma que maneja sempre com primor, a ironia mordente,
confessando-se de ante-mão esmagado, quando aliás não discutiamos questão
alguma, e reconhecendo-me talentos extraordinarios que não possuo.
O Sr. Avila: – Quem os negou já?
230
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Nestas circumstancias, senhores, é justo
o nobre deputado quando me attribue falta de cavalheirismo por dar-lhe immediata
resposta? Eu não escolho voz nem dia para fallar: é quando me cabe a palavra.
Sr. Presidente, se de mim dependesse, eu daria ao nobre deputado a palavra
todas as vezes que pedisse.
O Sr. Avila: – Não vio a gravidade da accusação que me fez ha pouco?
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Não foi accusação ao nobre deputado; fiz
a minha defeza.
Ao nobre deputado não faltará occasião de fallar...
O Sr. Avila: – Sem duvida.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – … e será, Sr. Presidente, com verdadeiro
prazer q‟ verei S. Ex. arrancar de sobre hombros a responsabilidade que assumio
perante toda a provincia.
O Sr. Avila: – Não sei se esta – toda a provincia – está bem applicada; é
bom distinguirmos.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Pois distinga-se; e acho que tem o nobre
deputado razão; já vê que sou prompto em reconhecer a verdade, e dar satisfação á
justiça. A provincia não é toda liberal; a responsabilidade do nobre deputado é só
perante o nosso partido; o outro dar-lhe-ha parabéns, exultará, felicitará o nobre
deputado por pretender, entre nós, a gloria d ser pomo da discordia.
O Sr. Avila: – Eu mostrarei ao nobre deputado quem é o pomo da
discordia.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Provoco o nobre deputado para que o
faça.
O Sr. Avila: – E o farei, porque hoje ha necessidade de indeclinavel.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Sr. presidente, vaso de imperfeições,
como me considero e me confesso, ha uma cousa q‟presumo de mim, é a
coherencia; membro do partido liberal, homem politico, tenho procurado a ser
incarnação do principios da nossa generosa e patriotica doutrina, da mais dedicada
abnegação, despindo-me de pretenções individuaes de toda a sorte: de cargos, de
empregos, de posições. Só tenho disputado cargos de eleição popular por amor da
idéa liberal e do bem publico da minha patria, com especialidade da minha
provincia. É desagradavel, senhores, a um homem publico tratar de suas pessoa no
posto que lhe foi confiado para tratar da patria; mas não terei remedio, á vista da
ameaça do nobre deputado, senão dar-lhe resposta, tratar da minha vida politica, e
do meu procedimento em relação ao proprio nobre deputado, para mostrar a todos,
Sr.presidente, que, se tenho amigos dedicados que me acompanham e outros que
me sutentam, não os conquistei pela corrupção, nem os conservo por esperanças e
ambições, cuja satisfação acha-se fóra do meu poder; porque tenho convencido aos
meus desinteressados e patrioticos amigos, que a minh‟alma não conhece maior
amor do que o da provincia que nos vio nascer, nem maior ambição do que a do
seu progresso e prosperidade. (Apoiados.)
231
A minha vida politica é absolutamente extreme de miudezas, de despeitos,
de intrigas, que desnaturam o systema representativo, e acanham as proporções dos
homens; é frente a frente, que quero encontrar os meus detractores, que inventam
pretextos para disfarçar os seus desvios.
Desde o primeiro dia em que entre, pela primeira vez, na assembléa
provincial, travei a luta que até hoje sustento – a de fazer predominar a justiça sobre
a protecção, o bem geral sobre o interesse particular, que toma mil fórmas, e põe
em jogo os mais extraordinarios recursos.
V. Ex., Sr. Presidente, companheiro de nossos trabalhos, confidente de
nossas esperanças, tem pleno conhecimento dos sacrificios feitos por uma pleiade
de moços generosos, dominados pelo amor da terra natal. Quantas lutas! Quantas
espearanças decahidas! Quantos desalentos! Para podermos realisar aquillo q‟vamos
fazendo.
Se para mais não prestassem os meus serviços do q‟ para conservar firme e
energica no meu partido a certeza do triumpho, eu ainda assim animar-me-hia a
perguntar – quem já prestou maior! O nobre deputado foi nosso companheiro; hei
de rasgar o véo que lhe escurece a memoria, e relembrar-lhe o passado; então,
senhores, ver-se-ha claro o segredo dessa dictadura, inventada para correligionarios,
despeitados por não verem satisfeitas indebitas pretenções, e exploradas pelos
adversarios, que desejam nas nossas fileiras a desordem e desorganização que nas
suas existem; ver-se-ha que são verdadeiros benemeritos do partido liberal os que
tomam por norma a justiça e interesse publico.
O Sr. Avila: – E se não... terão os epithotos que tive ha pouco.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – … o que vale é que o nobre deputado diz
isso diante d‟aquelles que nos ouviram.
Jamáis contestarei o nobre deputado os serviços que prestou, os sacrificios
que tem feito; mas, senhores, todos nós os temos feito, e se não eu, muitos têm
prestado maiores do que o nobre deputado, e não allegam.
Dominado por uma idéa superior, e não por interesses de circumstancias, o
partido liberal, como se acha hoje, não póde desorganisar-se, não se desorganisará,
embora se levantem emanações do inferno para asphixiar a liberdade, que triumpha.
(Ha um aparte).
Havemos, Sr. Presidente, marchar unidos pela mesma estrada, inspirados
pelas mesmas idéas do patriotismo e do bem publico, sem deixar-nos avassallar pela
idéa de localidade ou de bairro...
O Sr. Avila: – dá um aparte.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – … que sacrifica o corpo aos membros;
todos queremos o bem esta nobre terra do Rio Grande do Sul e a mais humilde
localidade...
O Sr. Avila: – É parte da provincia do Rio Grande.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – … é creadora da attenção da assembléa,
comtanto que não sacrifiquemos os grandes interesses publicos a conveniencias
meramente locaes ou a pretenções injustificaveis.
232
O nobre deputado, Sr. Presidente, distinguio a politica da administração: S.
Ex. não inventou novidade alguma; e se tratei isso de filigrana, terminantemente o
disse – entre nós, onde as cousas estão confundidas, e em relação a administração
do Sr. Carvalho de Moraes a que se referia a distincção do nobre deputado; pois é
certo que nenhum administrador tem sido mais politico do que o actual. Por outro
lado, quem não conhece o insigne machinismo que faz funccionar a autocracia no
Brasil? O imperador chama 7 homens para o ministerio, noméa 20 presidentes para
as provincias e outros tantos chefes de policia, faz-se uma inversão parallela na
G.N. e na policia, desde commandante superior até os sargentos, desde o delegado
até o inspector de quarteirão, põe-se a machina em movimento, as resistencias são
quebradas, trituradas, pulverisadas, e as urnas dizem que os povos acceitam
unanimemente a obra do seu rei.
Nesta circumstancias, Srs., que administração não é politica no Brasil? E o
que demais affirmo, e hei de provar, é que Sr. Carvalho de Moraes tem sacrificado a
administração á politica mais do que qualquer outro.
Ninguem, que me conste, disse ao nobre deputado que devemos rejeitar os
actos bons dos governos adversarios. A doutrina que expuz, implica até o contrario:
quando tomei a palavra, comecei dizendo que não contestava ao poder executivo o
direito que lhe era confiado por lei, de não saccionar as leis manifestando os
motivos na forma do acto addicional? Pois, porque somos adversarios, havemos de
atacar o que é bom, justo e razoavel?
Os nossos adversarios praticam o bem? Nós não podemos censural-os; mas,
nem por isso se segue que tenham direito ao nosso apoio, nem que nos
convertamos em trombetas de suas glorias: o silencio da opposição é o elogio do
governo!
O Sr. Avila: – Não penso assim, nem desse modo tem procedido o nobre
deputado.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Não digo, Srs., que nunca elogiei
nenhum ministro contario, estabeleço uma regra, de politica, que nada tem de
absoluta, e que não repugna com o louvor contrario e espontaneo dirigido por um
cidadão a um ministro de opiniões contrarias por haver praticado um acto.
Na assembléa geral tive occasião de elogiar alguns actos do governo, sem
que por isso deixasse de apoial-o com a “minha opposição”.
O Sr. Avila: – E até mesmo o actual administrador da provincia.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Não me recordo de jamais havel-o feito;
peço ao nobre deputado que me desperte a memoria, citando-me um facto.
O Sr. Avila: – Até confeccionou com elle a lei do orçamento passado.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – (com força) Não é verdade! Apello para
os meus collegas que foram membros da commissão respectiva.
O Sr. Camargo: – Póde apellar para toda a assembléa.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O que fiz, foi significar-lhe a disposição
em que estavamos de facultar-lhe meios amplos de governo, e perguntar-lhe o valor
do credito que julgava necessario abrir, para satisfazer os grandes compromissos da
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provincia; se o Sr. Carvalho de Moraes outra cousa disse ao nobre deputado, faltou
á verdade.
O Sr. Avila: – Não tive conversa com elle a esse respeito.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Srs., ahi está a lei do orçamento, que é o
documento de prova cabal qu esta assembléa, sem mover opposição ao Sr. Carvalho
de Moraes, não depositava grande confiança na suas promessas.
O Sr. Avila: – Nesse orçamento ha disposições que não se votam a amigos
intimos.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Ha demonstração de desconfiança, que
de facto se não vota a amigo intimo.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Elogiei mais de uma vez, o Sr. Ministro
da guerra, e o Sr. Ministro da justiça, por actos que praticaram, porque estando tão
habituado a ver praticar só erros por outros, entendia que era conveniente louvar os
que acertavam, e com isso tirava dous proveitos: animava-os a que continuassem, e
dava força e autoridade ás minhas censuras aos outros ou a elles próprios dirigidas.
Eu espero, Sr. Presidente, que o nobre deputado analysando a administração
do Sr. Carvalho de Moraes, faça sobresahir os grandes actos administrativos de S.
Ex., que merecem a sua approvação porque não participam da natureza politica; se
o fizer terá o nobre deputado a prova que voto pelo bem publico, sem indagar do
seu autor.
Votei no parlamento nacional pelas estradas de ferro do Rio Grande, de que
fez o governo questão de gabinete.
O Sr. Avila: – E salvou-o até. (Não apoiado).
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Não o salvei.
O Sr. Barreto: – Então devia votar contra?
O Sr. Avila: – Ninguem diz isto.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Tratando-se dos adversarios como
homens politicos, e não podendo o meu partido subir ao poder naquelle momento,
eu tinha dever de distinguir entre governo e governo, (apoiados) não tinha sòmente de
considerar o gabinete que estava no poder, senão tambem aquelle que o devia
succeder.
O Sr. Avila: – Eu tenho bem presentes as palavras do Sr. Rio Branco: retiro-
me do poder se este projecto não passar –; e o nobre deputado deu o seu voto de
confiança. (Não apoiados)
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Voto de confiança contra um gabinete a
quem sempre fiz opposição? É ridículo! O projecto que se discutia era iniciado por
mim...
O Sr. F. Barreto: – Isso é que é; e havia de votar contra a sua idéa!
O SR. SILVEIRA MARTINS: – ….tratava-se da maior conquista, que
uma provincia podia alcançar no parlamento e que nenhuma antes do Rio Grande
do Sul havia alcançado: a decretação de duas grandes vias ferreas...
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Uma voz: – A grande accusação dos conservadores é esta.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Os meus amigos politicos todos, com
excepção do Sr. Pinheiro Guimarães, acompanharam-me na camara e no senado, e
o nobre deputado lança-me em rosto o facto que mais incomodou os nossos
advesarios: que eu não tivesse votado contra a minha propria idéa, para perder a
gloria que por ventura me podesse resultar de havel-a iniciado! (Apoiados. Muito
bem).
Quando o governo tornava-se o instrumento das nossas idéas, e tomava a si
o encargo de executar o que nós lhe pediamos, eu não podia votar conta o projecto.
(Apoiados).
O Sr. Arruda: – Contra um triumpho seu.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – E tanto é verdade, que o Sr. Rio Branco
disse sem rebuço ao illustre Sr. Conselheiro Zacharias: a idéa é da opposição, mas o
governo aceita o bom de qualquer parte que venha, sem fazer disso questão de
partido.
O Sr. Cândido Lopes: – Acima de tudo está a ideia.
O Sr. Avila: – Aceita o principio; acima de tudo está a idéa.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O Sr. Zacharias respondeu-lhe com a sua
reconhecida habilidade: isso seria verdade se se tratasse somente de um
melhoramento industrial e economico, nesse caso qualquer deputado póde ser o
orgão legitimo das aspirações de sua provincia.
O Sr. Avila e outros Srs. deputados: – Apoiado.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Mas quando se trata, como diz a Falla do
Throno, do caso presente de uma estada estrategica, que entende com a alta politica,
e reporta-se a defeza do Estado, ao governo principalmente competia a iniciativa.
Sr. Presidente, devo dizer ainda ao nobre deputado, que não basta que uma
medida seja util para ser decretada, cumpre que sejam primeiro analysadas,
discutidas, e que se cotejem os beneficios que produzem com os sacrificios que
custam á provincia.
O Sr. Avila: – Apoiado.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – … e se os sacrificios excedem, fóra de
proporção, ao bem que se consegue, a idéa de companario deve ceder a
conveniencia geral.
O Sr. Avila: – Se é allusão não é a mim.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O nobre deputado terá occasião de
apreciar a lealdade do nosso procedimento, desde que patentear o erro em que
estamos, e as conveniencias em nome das quaes exige um grande sacrificio para a
provincia.
O Sr. Avila: – Não sei que exigencia é essa. Realmente está fallando de um
modo que não o posso entender. Não lhe fiz exigencia, nem a ninguem
absolutamente.
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O SR. SILVEIRA MARTINS: – Não digo que o nobre deputado nos exija
com um punhar...
O Sr. Avila: – Nem com um pedido bem macio; manifestei-lhe uma opinião
minha. Dar-lhe um esclarecimento não é fazer-lhe exigencia alguma.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Decididamente, Sr. presidente, devo estar
esquecido do que o nobre deputado ainda ha muito poucos dias me disse: mas em
todo caso não podia pensar que offendia o nobre deputado com esta phrase.
O Sr. Avila: – É verdade, offendeu.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – … pois nenhum mal vae em reclamar-se
qualquer medida, uma vez que se faça com direito.
O Sr. Avila: – Mas eu não lhe exigi nada, nem pedi; apenas lhe dei
explicações, e muito succintamente, reservando-se para outra occasião.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O nobre deputado esforçando-se para
convencer-me...
O Sr. Avila: – Ah!
O SR. SILVEIRA MARTINS: – que devia ser attendido, fazia-me uma
reclamação.
O Sr. Avila: – Não, senhor: queria esclarecê-lo bem.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Eu acho-me sobre a questão mais
esclarecido que o nobre deputado, e os annuncios que o precederam.
O Sr. Avila: – Esses annuncios é que lhe estão fazendo mal. Se me tivesse
ouvido, e não só aos adversarios, não vinha com esses annuncios.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – Não me refiro a annuncios de
adversarios.
O Sr. Avila: – E de quem são elles? Pensa que só adversarios é que dão
annuncios? Não sabe que muitos companheiros são tambem trombetas?
O Sr. Presidente: – Os apartes interrompem o orador, que não escolheu
occasião para fallar, cabendo-lhe por ultimo a palavra. Eu peço ao nobre deputado
que deixe o orador continuar o seu discurso.
O Sr. Avila: – Garanto a V. Ex. Que não dou mais um aparte.
O SR. SILVEIRA MARTINS: – O nobre deputado póde dizer o que
quiser, mas não é menos verdade que veio fazer exigencias, para que aliás póde ter
muito bom direito, e que fez-se preceder de annuncios ameaçadores que não
assuntam a ninguém.
Ponho fim ao meu discurso, pedindo a V. Ex. E a casa desculpa de ter sido,
e minha defeza, obrigado a tratar de materia alheia ao debate, e dizendo ao nobre
deputado que não estou esquecido, que hypothecou a sua palavra – de mostrar
quem é o pomo da discordia no partido liberal.
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Eu o provoco a que o faça; e, se o não fizer, fica bem entendido que não me
fez uma allusão pessoal.
É oque tinha a dizer.
O Sr. Avila: – Fique certo de que cumprirei a minha palavra.
Portanto nos devemos ensinar a nossa língua aos allemães, digo mal,
aos brasileiros de raça allemã, porque senão a ensinarmos nunca
havemos de nacionalisá-los; elles serão sempre homens da lingua, e da
53 PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL. Assemblea Provincial. Anais da ...
Sessão de 17 out. 1867, p. 438. Localização: Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS.
54 PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL. Assemblea Provincial. Anais da ....
Sessão de 4 out. 1862, p. 177. Localização: Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS.
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nação de seus pais, e finalmente nós seremos por elles absorvidos;
porque, Sr. presidente, a fonte principal da emigração Européa para a
província do Rio Grande, para o Brasil, é Portugal e Allemanha; 55
55 PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL. Assemblea Provincial. Anais da ....
Sessão de 4 out. 1862, p. 177. Localização: Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS.
56 Em Sessão na Câmara dos Deputados do dia 10 de fevereiro de 1879, Gaspar Silveira Martins sugere
que na reforma constitucional do Império, sejam incluídos a eleição direta, a naturalização dos
estrangeiros e a igualdade política dos cidadãos brasileiros adeptos de todos os cultos. (BRASIL.
Câmara dos Deputados. Anais da ... Sessão de 10 fev. 1879).
57 BRASIL. Senado Federal. Anais do ... Sessão do dia 17 nov. 1880. p. 239.
58 BRASIL. Câmara dos Deputados, 1879.
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Sul, reclamando que o projeto de reforma constitucional não consagrou o item
referente a elegibilidade dos acatólicos, não atendendo assim os cidadãos brasileiros
que não professavam a religião católica apostólica romana. Na Sessão do dia 23 de
abril de 1879, Gaspar Silveira Martins leu um telegrama escrito pela comissão dos
brasileiros descendentes de alemães do Rio Grande do Sul. Essa comissão se
pronunciou a respeito do fato do Estado não ter reconhecido os direitos políticos
aos acatólicos:
REFERÊNCIAS