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Reflexões sobre o trabalho sistêmico

O trabalho sistémico requer um contexto, tem a ver com expandir o olhar, olhar de forma ampla,
desenvolver um pensamento múltiplo, sempre a perguntar: ‘Na realidade o que me estás a dizer?’

É um pensamento em espiral, sempre a fazer perguntas para estar em contato com o outro, no seu
contexto. Se eu olho para o meu parceiro fora do seu contexto familiar então não o vejo, devo olhar o
meu parceiro e todo o seu contexto familiar, devo desenvolver pensamento sistémico.

Nada do que fazemos está errado, não devemos arrepender-nos do passado porque tudo foi por algo.
Com pensamento linear, mecanicista, não podemos aprender física quântica, para isso temos de ter
pensamento sistémico.

A vida é quântica, com energia, e por isso precisamos de pensamento sistémico. Quando eu quero que a
minha vida seja como eu quero, não funciona porque é o meu ponto de vista, é um ponto, não tem
contexto, mas esse ponto de vista defendo-o com capa e espada porque creio que é a verdade. E depois
encontro alguém com o seu ponto de vista e argumentamos cada um com o seu ponto de vista, não
chegamos a lugar nenhum.

A visão sistémica trata de expandir o olhar, olhar de forma ampla, de contextualizar, de ver todo o mapa
do metrô! Sem olhar para a nossa família e seu contexto estamos perdidos.

Onde estou? Estou num ponto, num lugar e só posso evoluir de acordo com a minha história, com o que
está resolvido, e cremos que o que não está resolvido fica para a próxima ‘temporada’.

Ampliar o olhar significa olhar para tudo sobre a minha Mãe, olhar para tudo sobre o meu Pai. Quando
há dois Pais, um biológico e outro adotivo, que história devemos olhar? A que o sistema permite, por
vezes as duas, e dão-se milagres sistémicos.

Como desenvolver este pensamento sistémico? Não podemos ser consteladores e ter o nosso ponto de
vista pois um ponto de vista tira-nos o pensamento sistémico. O ponto de vista fecha a mente e o
coração e assim não há aprendizagem. Quanto mais defendo um ponto de vista mais estou em
depressão porque estou em luta.

Encontramos a serenidade quando respeitamos o contexto, pecado é fazer algo contra mim mesmo, é
fazer algo fora do lugar. Por exemplo um filho que ‘sustenta’ a Mãe à base de conflitos (por amor)
porque assim a mantem ‘viva’. Fá-lo por amor cego, o amor claro vê o contexto, vê o marco histórico,
requer soltar o ponto de vista e é um trabalho muito difícil, mas se o fazemos facilita-nos muito a vida.

No amor cego digo, ‘Mamã não te vejo a ti, vejo a mamã que eu quero que sejas’, e as mães com
frequência pagam um preço elevado para que os filhos sejam bem-sucedidos, tudo tem que ser visto no
seu contexto, caso contrário tudo é censurado, o mais fácil é criticar, dar sentenças.

Fazer tudo com o coração e reconhecer os meus limites, a arte de ajudar significa reconhecer os meus
limites, respeitar a 1ª ordem da ajuda, ou seja, não dar algo que não tenho pois quando o faço
ultrapasso os meus limites e ao mesmo tempo obrigo o outro a romper os seus limites. Quando respeito
os limites acontecem milagres sistémicos, para isso solto os meus pontos de vista e deixo de querer ser
herói. Não posso olhar para a vida dos outros sem olhar para a minha primeiro.

Os melhores no pensamento sistémico são os biólogos porque estão habituados a observar os


ecossistemas e a realidade já lhes diz tudo. Se um sistema tem margem de liberdade e pode mover-se, é
sustentável, mas se o sistema é restringido perde sustentabilidade. O que Bert Hellinger faz é dar graus
de liberdade ao sistema. Bert diz: ‘Reconhecer o que é!’

Quando quero restringir algo, o processo explode! Quando digo: ‘Vou fazer-te feliz’ e vivemos em
função disso, o processo não funciona, explode! Os sistemas adaptam-se, evoluem.

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Bert diz: todos atuamos por amor, quando culpamos paralisamos.

Sobre as ordens do amor ou princípios básicos de vida, temos o Pertencimento (que nos traz a noção de
tempo e de lugar), a Hierarquia (determina a função no sistema), e o Equilíbrio (entre dar e receber). A
alma é a informação interna que levamos connosco, é a essência. Porque estamos na vida sem noção
dos princípios básicos de vida precisamos de formação, de aprender e sobretudo de aplicar os princípios
básicos de vida. Bert diz: ‘qual o antidoto da tristeza? É aprender!’.

Conhecer os Pais é uma aventura única e quando não conhecemos um ou os dois, a informação deles
está presente em nós, na nossa alma. O melhor presente que as mães podem dar aos filhos é entrega-
los ao papá. O campo de informação está sempre connosco e atua ou sim ou… sim! A liberdade é
pequena (Bert Hellinger), mas quando a tomamos é grande.

Eu conheço a minha mãe e o meu pai! Não conheço o marido da minha mãe nem a mulher do meu pai.
A minha mãe como mãe é ótima e o meu pai como pai é ótimo. Também não conheço os filhos dos
meus pais, conheço os meus irmãos.

Ter alguém ao nosso lado é um presente da vida, e temo-lo sobretudo quando temos filhos. Neles o
casal está presente para sempre. Quando não há filhos o vínculo fortalece-se quando há respeito pelo
destino um do outro. O vínculo debilita-se com a exigência, a exigência é uma falta de respeito, falta de
respeito também ao sistema!

As relações necessitam de equilíbrio, cuidar as relações é a arte da vida.

Como ensinar as crianças a fortalecer os vínculos? O ponto mais importante é ensinar a fortalecer os
vínculos e cuidar as relações, sendo o vínculo mais importante a fortalecer, o que temos com a mãe pois
é o ponto de partida da vida.

Os filhos na adolescência têm de ‘reclamar’, é sua função para se encontrarem, e assim se vão
separando do seu sistema, nutrindo-se com a escola e com os amigos. Quando um filho diz aos pais que
os odeia a tradução é: ‘preciso de encontrar-me’. Mais tarde quando regressa a casa (o regresso do
herói), e ocupa o seu lugar, acontecem milagres sistémicos, porque o seu lugar é o menos visitado.

Ser sistémico é reconhecer os vínculos, reconhecer o que te fortalece a ti e a mim!

Separação não significa exclusão, às vezes tenho de me separar porque por exemplo o campo da mãe é
demasiado denso e tenho de ir para me desenvolver.

Num casal o homem não pode resolver as questões do sistema da mulher e vice-versa, o que podem
fazer é aprender com o que cada um mostra ao outro pois mostram o que falta no sistema de cada um.
Depois cada um volta-se para o seu sistema e diz: ‘ali mostram-me o que nos falta, por favor permitam-
me tomar, é para todos, é um presente, ali não há ameaça’.

Na relação um não pode ver o sistema do outro porque é o espaço do outro, então o que fazer? Dar
pequenos passos até que se encontrem e agora sim é o espaço dos dois. O grande presente de uma
relação é que o outro me mostra algo que me falta.

Os casais são cúmplices na vida: eu salvo-te e tu salvas-me. Às mulheres basta que façam a sua parte
para que os homens tomem a sua força. Os homens não precisam de ajuda para tomar a sua força,
basta que as mulheres façam a sua parte.

Na vida é importante fechar ciclos, assuntos, completar. Por vezes damos assuntos por completos mas
na alma não estão completos. Dizer sim, assim como foi é perfeito, e esquecer o que devia ter sido! O
que foi, como foi, está perfeito!

Confiar no movimento, não podemos fazer-nos responsáveis pela vida dos outros, senão soltamos a
nossa vida. Quando aceito o que foi e como foi e está completo, declaro: Está completo! E assim vou
adquirindo serenidade. Quando declaro algo completo, na minha alma logo algo novo se abre.

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Por vezes os casais ‘completam-se’ ou seja, as pessoas vêm com uma missão, cumprem-na e vão-se
embora e a relação termina. Nestes casos agradecemos. Em todos os lugares em que estivemos,
tivemos um lugar, e agradecemos.

A relação com a mãe, contudo, jamais está completa, é um trabalho para toda a vida, todos os dias,
todas as horas. Tomamos a mãe 3 vezes por dia, antes e depois de cada refeição 😊.

Se tenho uma relação difícil com a mãe tenho uma relação difícil com a vida. Quando alguém diz: ‘A vida
deve-me algo’, a tradução é: ‘A mãe deve-me algo’. O que surge com esta atitude? Dificuldade e doença.

A Alegria é Masculina!

As crianças ficam mais alegres quando estão com o seu pai! Sem Alegria instala-se a incerteza. A energia
que leva a vida adiante é masculina, quando o homem não está, não há vida, não há alegria! Podemos
contar muitas histórias, mas o essencial é isto e deve ser ensinado às crianças.

É esta dança de aproximação entre homens e mulheres (dos rituais que se estão a perder) que dá outra
alegria, outro sabor à união. O essencial é dar suporte, sustento à vida.

A alegria tem um potencial imenso, se por alguma razão a alegria esteve ausente do sistema, há sempre
oportunidade de que apareça novamente e quando aparece é uma alegria para todo o sistema. Neste
sentido a alegria é masculina, a saúde é essencialmente feminina.

Nós somos o produto criativo da união entre o masculino e o feminino, e é muito importante que os
homens possam conviver com os filhos. O primeiro passo é que as mulheres permitam que os homens
tenham conexão com os filhos. A falta de conexão com os filhos acontece mais por questões da relação
entre homem e mulher do que pelo contexto social. No final o essencial é que como filhos queremos
sempre mais contacto com o pai (alegria) e com a segurança e abundância da mãe.

Sejam como sejam, são sempre os pais que nos amparam!

Com gratidão,

Marco Almeida

DeOutroLugar – Soluções Sistémicas®

Assessoria Pessoal e Empresarial, Pedagogia Sistémica

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