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INTRODUÇÃO
A primeira vista, o sexo é questão privada, dotada de um componente biológico,
mas primordialmente íntimo. Mas, na atualidade, ele tem vindo cada vez mais ao público e
freqüentemente o faz sendo apresentado como revolucionário; reino potencial da liberdade.
Este tema liga-se a importantes pontos, que atravessam os sentimentos e os gêneros
sobretudo: relacionamento puro, amor romântico, sexualidade plástica, controle dos
homens sobre as mulheres.
EXPERIÊNCIAS DO COTIDIANO
Igualdade sexual: a possibilidade de variedade de amantes (não necessariamente
simultâneos) à mulher sem que ela seja considerada “perdida” (em oposição à “virtuosa”).
A variedade sexual antes era considerada uma necessidade masculina proibida a quase
todas mulheres, mas mudanças neste ponto de vista exigem mudanças de comportamento e
de relacionamento.
A vida pessoal tornou-se um projeto aberto, criando novas demandas e novas ansiedades.
Nossa existência interpessoal está sendo completamente transfigurada, envolvendo todos
nós naquilo que chamarei de experiências sociais do cotidiano, com as quais as mudanças
sociais mais amplas nos obrigam a nos engajar. (18)
Seguindo Lillian Rubin, a exigência de virgindade pré-nupcial tem declinado nas
ultimas gerações, mas ainda assim uma certa divisão entre garotas decentes e vadias
permanece, apesar de alterada. Como resultado disso, as pessoas em geral chegam ao
casamento com um grau mais elevado de experiência sexual, e a satisfação com o sexo
passa a ser considerada essencial para a satisfação com a relação.
A homossexualidade tem deixado de ser vista como patológica, ou mesmo
“perversa” – quase totalmente pela medicina, ainda que alguns heterossexuais insistam em
sua não-naturalidade e imoralidade. Há uma crescente emergência da homossexualidade e
da autodenominação gay, com suas imagens características. “[...] o termo gay também
trouxe com ele uma referência cada vez mais difundida à sexualidade como uma qualidade
ou propriedade do eu.” (24)
Ainda que haja uma grande diversidade entre os parceiros entre os gays a idéia de
“relacionamento” também está presente entre os homossexuais e de fato talvez tenha
surgido aí antes de atingir os heterossexuais.
A sexualidade deixou de ser considerada natural, preestabelecida. “[...] a
sexualidade funciona como um aspecto maleável do eu, um ponto de conexão primário
entre o corpo, a auto-identidade e as normas sociais.” (25)
FOUCALT E A SEXUALIDADE
Após uma apresentação satisfatória de História da Sexualidade I – A vontade de
saber, Giddens afirma que
A sexualidade é uma elaboração social que opera dentro dos campos do poder, e não
simplesmente um conjunto de estímulos biológicos que encontram u não uma liberação
direta. Mas não podemos aceitar a tese de Foucault de que há um caminho de
desenvolvimento mais ou menos direto, desde um “fascínio” vitoriano pela sexualidade até
os tempos mais recentes” (33)
Há contrastes na literatura médica vitoriana e a mesma com o fenômeno cotidiano
hoje em dia. Além disso, as repressões da era vitoriana forma bastante reais. Foucault põe
demasiada ênfase no poder, no corpo e no discurso (certos discursos, aliais), deixando de
lado o gênero e o amor romântico.
Sobre este último ponto é necessário frisar que ele remoldou o casamento, visto
agora como um “empreendimento emocional conjunto”, no qual a contração no tamanho da
família tornou mais maleável – e, porque não, interessante – a sexualidade, (sobretudo o
feminino). Mais que elemento de reprodução, a sexualidade agora é autônoma, maleável, e
uma propriedade do indivíduo. É isto que Giddens chama de sexualidade plástica, condição
para a famosa revolução sexual (autonomia sexual feminina e florescimento da
homossexualidade: livre arbítrio sexual).
Giddens também se preocupa com o discurso, mas, antes de relaciona-lo ao poder,
vai em busca da reflexividade institucional: “é institucional por ser elemento estrutural
básico da atividade social nos ambientes modernos. É reflexivo no sentido de que os termos
introduzidos para descrever a vida social habitualmente chegam e a transformam [...]” (39)
Característica distintiva das sociedades modernas, a reflexividade institucional, no caso da
sexualidade, se dá mais por discursos informativos do que por propagandas e manifestos.
Rejeitando a confissão foucaultiana, enquanto tecnologia predominante de
construção do eu, Giddens aponta para o caráter aberto da auto-identidade e a natureza
reflexiva do corpo em sociedades com alta reflexividade: o eu como uma interrogação
contínua que busca apoio em diversas mídias e discursos, ao rejeitar os modelos e
estereótipos existentes.
Nesse sentido ao revelar as conexões entre a sexualidade e a auto-identidade, Freud
e a psicanálise proporcionam “[...] um ambiente e uma base rica de recursos teóricos e
conceituais para a criação de uma narrativa reflexivamente ordenada do eu”.(41)
O corpo torna-se cada vez mais reflexivo e portador de auto-identidade, o que não
nega a ação do poder disciplinar mas vai além dele.
O declínio da perversão, tornado comum a todos ( não apenas aos “anormais”) por
Freud, e substituído por “desvio sexual” por Havelock Ellis, se espalhou para o mundo
cotidiano, através de movimentos pró-diversidade social ( movimentos políticos e
pessoais). Isso permite (e provem de) uma maior sexualidade plástica na medida em que a
heterossexualidade voltada à reprodução deixa de ser o padrão pelo qual tudo mais é
julgado.
Não apenas a própria vida social, mas também o que costumava ser “natureza” passam a ser
dominadas por sistemas socialmente organizados. A reprodução um dia foi parte da natureza
e a atividade heterossexual era inevitavelmente o seu ponto principal. Uma vez que a
sexualidade tornou-se um componente “integral” da relações sociais, como resultado de
mudanças já discutidas, a heterossexualidade já não é mais um padrão pelo qual tudo é
julgado (45)