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QUEIROZ, Edilene Freire. A Clínica das Perversões. São Paulo: Escuta, 2004.

Foucault, em “O Nascimento da Clínica”: recolhimento dos loucos aos hospícios no


séc. XVIII, a princípio sem projeto clínico, apenas afastando os anormais (ou impuros) da
sociedade normal. Apenas no séc. XIX, com Pinel, os loucos passam a ser vistos como
pessoas que necessitam de tratamento. Nasce a psicopatologia, baseada na psiquiatria
descritiva, cujos cientistas mais importantes são Kraepelin, Magnan e Charcot. Papel de
Freud: deixar as histéricas falarem, fazendo a psicopatologia alcançar o âmbito da
linguagem.
Freud: perversão está na desproporção de uma pulsão que é normal para todos. O
patológico está numa diferença quantitativa, e não qualitativa.
A perversão sempre esteve associada ao patológico, ao degenerativo e ao anormal. Freud
tentou minimizar o peso da conotação moralista e reprovadora que cercava o termo
perversão desde a etimologia, mostrando tratar-se de uma manifestação da pulsão, de caráter
universal, encontrada, também, em personalidades ditas normais. Mesmo assim, ele não
deixou de empregar o termo “patológico” quando se referiu a certas operações da pulsão
sexual. Frisamos que, para Freud, o caráter patológico da perversão não estava apenas no
conteúdo ou no desvio em relação à meta sexual ou ao objeto sexual, mas na desproporção
em relação ao normal, ou seja, quando a pulsão adquiria um caráter de desmesura, de
exclusividade e fixação (35)
Freud tomou Krafft-Ebing como referência para escrever os “Três Ensaios Sobre a
Sexualidade” (1905).
Perversão polimorfa é uma disposição natural da sexualidade infantil: antes da
organização sexual adulta, a pulsão sexual se distribui por vários objetos parciais.
Neurose é o negativo da perversão, e a afirma pela via do contrário (81-82)  uma
das interpretações disto, à qual Lacan se opõe é que a neurose seria algo ruim e a perversão
algo bom.
1915: “Pulsões e os destinos das pulsões”: há quatro formas de se lidar com a pulsão
sexual: recalcamento, sublimação, transformação em seu contrário e retorno sobre a própria
pessoa. As duas primeiras soluções são neuróticas, e as duas últimas são perversas, de
forma que a neurose e a perversão possuem naturezas distintas.
1919: “Uma criança é espancada”: o masoquismo é um resquício da perversão
polimorfa infantil. A perversão é uma fantasia na qual o indivíduo se coloca como sujeito e
objeto (e, assim., instrumento do gozo), ao passo que o neurótico se sustenta sozinho diante
do objeto (na interpretação de Lacan).
1927: “fetichismo”: o “desmentido” é o mecanismo de defesa do perverso, que
coloca um significante no lugar do falo feminino, conformando uma estrutura que nega a
falta insuportável na mulher. “Esse salto teórico desloca a perversão da predisposição
polimorfa da sexualidade infantil e a associa a uma atitude do sujeito frente à diferença
sexual, à castração. Ela passa a ser vista como uma das formas de tratar a lei edípica.” (84)
Lacan: “Kant com Sade”: estende a discussão da perversão para o plano ético (ainda
que o mantendo sobre a lógica fálica)
Em Kant tanto a lei quanto o bem não se confundem com o bem-estar. Segundo Karothy a
ética kantiana é de caráter sacrificial já que, para submeter-se aos imperativos da lei, o
sujeito terá que renunciar a todos os objetos do bem-estar, ficando submetido a um único
objeto, talvez o mais terrível – a voz do supereu. Ao imperativo kantiano Lacan faz
corresponder o imperativo sadiano. Esse desnudar-se de todo e qualquer objeto de satisfação
– ao prazer – propicia um certo estado de “ascese apática”, que produz uma certa
transposição do ser moral para o ser liberto, liberto de todas as normas e submetido a uma
única lei – a lei do gozo. A máxima sadiana se expressa no libelo que se encontra em A
Filosofia na alcova, dota o direito a qualquer gozo na qual todos, sem exceção, devem a ela
se submeter: “Tenho o direito de gozar de teu corpo, pode dizer-me qualquer um, e
exercerei esse direito, sem que nenhum limite me detenha no capricho das extorsões que me
dê gosto de nele saciar”. A lógica que governa o imperativo sadiano é contrária à lógica da
reciprocidade que preside os diretos humanos; ela ignora a piedade e a compaixão [...]” (87)

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